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EXERCÍCIO FÍSICO
Patrick Gonçalves
Utilização do substrato
durante o exercício —
intensidade e duração
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
Introdução
As rotas metabólicas mostram a sucessão de processos bioquímicos dos
quais nossos organismos se utilizam de determinados substratos para
gerar outros, de forma sucessiva até chegar a um produto final. No estudo
da fisiologia do exercício, nosso foco é o papel das rotas metabólicas que
usam dos carboidratos, das gorduras e das proteínas para chegar, como
produto final, à energia que realiza as contrações musculares.
Neste capítulo, você vai estudar as rotas metabólicas de produção
de energia, os principais processos químicos e, ao final, terá um breve e
interessante panorama sobre a predominância das vias energéticas em
diferentes esportes.
Enzimas
Para que estas rotas sejam percorridas, possibilitando a utilização dos substratos
na produção de energia, é fundamental a ação das enzimas. As enzimas são
moléculas grandes, formadas por proteínas e têm a função de regular a taxa ou
a velocidade do fornecimento dos substratos necessários às reações nas vias
metabólicas. Para cada substrato, há uma ação enzimática específica. Ou seja,
cada tipo de enzima possui um sulco e cristas específicas para o substrato sobre
o qual vai agir. Podemos fazer uma boa analogia, associando esses sulcos e
cristas aos desenhos de uma chave e de um cadeado. Assim como cada chave
só se encaixa em um cadeado, o substrato só se “encaixa” em sua enzima. A
Figura 1 demonstra como a enzima age em relação aos substratos. Note que
a enzima, após o processo, não se altera. Porém, os substratos utilizados dão
origem a outros novos substratos, diferentes dos iniciais.
A+B →
Enzima
C+D
(reagentes) (produtos)
Substrato A
Produto C
Sítios ativos
Enzima Produto D
Substrato B
Enzima e substratos Complexo enzima-substrato Produtos da reação e enzima (inalterada)
os carboidratos;
as gorduras;
as proteínas.
O corpo humano utiliza diversos tipos de substratos como fonte energética ao mesmo
tempo. Embora haja a predominância da utilização de um substrato em específico, os
outros continuam contribuindo na síntese de energia.
Nos dois primeiros casos – formação de ATP pelo ATP-CP ou pela glicólise
– não é necessário o O2. Por isso, as duas primeiras vias são chamadas de vias
anaeróbias. Na formação oxidativa de ATP, porém, a presença do O2 é indis-
pensável. Por isso, a chamamos de via aeróbia (POWERS; HOWLEY, 2017).
Apesar de ouvirmos falar bastante em exercícios aeróbios e exercícios
anaeróbios, quase toda atividade emprega as duas vias de produção de energia
ao mesmo tempo, além de uma ampla gama de substratos. Dessa forma, per-
cebemos durante o exercício a presença concomitante das rotas metabólicas,
mas com a predominância de algumas delas. Essa predominância é deter-
minada conforme as variáveis – em especial, o volume e a intensidade – de
cada atividade. As Figuras 2 e 3 mostram como a intensidade e o volume do
exercício físico recrutam os substratos energéticos conforme essas variáveis
se modificam.
100
Porcentagem de energia das
gorduras e dos carboidratos
80
60
Carboidratos
40 Gorduras
20
0
0 20 40 60 80 100
% do VO2 máx
Figura 2. Intensidade do exercício físico e utilização de substratos.
Fonte: Adaptada de Powers e Howley (2017, p. 79).
Utilização do substrato durante o exercício — intensidade e duração 7
70
% de metabolismo de gorduras ou carboidratos
65
% Gorduras
60
55
50
45
40
% Carboidratos
35
30
0 20 40 60 80 100 120
Tempo de exercício (minutos)
Figura 3. Volume do exercício físico e utilização de substratos.
Fonte: Adaptada de Powers e Howley (2017, p. 80).
Sistema ATP-CP
Essa é a fonte mais rápida de energia no metabolismo, pois requer poucas
reações químicas, envolvendo apenas uma enzima e os substratos necessários
– o difosfato de adenosina e a fosfocreatina – que já se encontram presentes
no músculo.
As reservas de fosfocreatina, porém, são muito limitadas e a sua ressín-
tese requer ATP, que ocorre apenas durante o repouso. Assim, esse sistema
predomina nos exercícios físicos intensos e de curta duração, como uma
série de 10 repetições a 90% de 1 RM, a exemplo da musculação, ou de uma
corrida rápida em uma partida de futebol. De modo geral, podemos dizer
que o sistema ATP-CP predomina nos primeiros segundos de exercício
físico intenso.
O processo químico presente no sistema ATP-CP consiste na ligação
entre a fosfocreatina e o ADP. Ao se ligarem quimicamente, a reação
catalisadora da enzima creatina quinase forma uma molécula de ATP
e uma de creatina, promovendo a produção de energia que promove a
contração muscular.
Utilização do substrato durante o exercício — intensidade e duração 9
Glicólise
A glicólise também é uma fonte rápida de produção de energia, que predomina
entre 30 a 120 segundos de exercício físico intenso. Contudo, resulta de um
número maior de reações, o que requer algum tempo a mais para o início de
sua ativação, em relação ao ATP-CP.
Assim como no sistema anterior, esta rota metabólica dispensa a utilização
de O2. A glicólise consiste na utilização da glicose ou do glicogênio, formando
duas moléculas de lactato ou piruvato. A velocidade da glicólise é regulada
por ações enzimáticas. A primeira transformação que ocorre é a passagem da
glicose em glicose-6-fosfato. Esta fosforilação acontece pela ação da enzima
hexoquinase, que impede a glicose de sair da célula novamente. A taxa de ação
desta enzima aumenta com a presença de glicose e diminui com a presença
de glicose-6-fosfato.
Quando o exercício começa, os níveis de ADP e fosfato inorgânico sobem
em decorrência do sistema ATP-CP, resultando na ativação e na ação da
enzima fosfofrutoquinase (PFK), que age no início dessa rota. Quando os
níveis de ATP celular se encontram elevados, a PFK é inibida, diminuindo a
taxa da glicólise. Essa inibição da PFK também ocorre quando se elevam os
níveis de hidrogênio e o citrato produzido no ciclo de Krebs. Dessa forma, a
glicose-6-fosfato é transformada em frutose-6-fosfato.
Junto à ação da hexoquinase e fosfofrutoquinase, outro fator que regula
a velocidade de glicólise é a ação da enzima piruvato quinase. Esta enzima
atua ao final da glicólise anaeróbica e é regulada negativamente pela presença
de ATP, acetil-CoA e ácidos graxos de cadeia longa ou ativada pela presença
de frutose-1,6-bisfosfato.
Assim, essa via metabólica ocorre no sarcoplasma da célula muscular em
duas fases, uma denominada fase de investimento de energia, onde moléculas
de ATP são necessárias para dar início à rota, e a outra chamada de fase de
geração de energia, quando as reações químicas geram novas moléculas de
ATP, em quantidade superior à primeira fase, havendo ganho no saldo final
(POWERS; HOWLEY, 2017).
Durante a fase de investimento de energia, ocorrem cinco reações que
consistem na adição de fosfato inorgânico (por isso a necessidade de molé-
culas de ATP) à glicose, gerando fosfatos de açúcar. A Figura 4 demonstra os
processos bioquímicos da glicólise.
10 Utilização do substrato durante o exercício — intensidade e duração
% Aeróbio % Anaeróbio
40 60
Corrida de 800 m Nado de 200 m
Boxe Patinação
50 50 (1.500 m)
Remo (2.000 m)
Corrida de 1,6 km 60 40
Nado de 400 m
70 30
Corrida
de 1.500 m
80 20
Corrida de 3,2 km Nado
de 800 m
Patinação de
90 10 Corrida
10.000 m
cross-country
Esqui
Maratona de cross-country
10.000 m 100 0 Corrida leve
https://goo.gl/zD87Gs
BARBANTI, V. J. Treinamento físico: bases científicas. 3. ed. São Paulo: CLR Balieiro,
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Utilização do substrato durante o exercício — intensidade e duração 19
Leituras recomendadas
HEYWARD, V. Avaliação física e prescrição de exercícios: técnicas avançadas. 6.ed. Porto
Alegre: Artmed, 2013. 486 p.
MARIEB, E; HOEHN, K. Anatomia e fisiologia. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2008. 1072 p.
SHARKEY, B. Aptidão física ilustrada: seu guia rápido para definir o corpo, ficar em forma
e alimentar-se corretamente. Porto Alegre: Artmed, 2012. 330 p.
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