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que é encontrada apenas nos

Sistema Imune vertebrados. A Figura 43.2 resume esses


As primeiras linhas de defesa oferecidas dois tipos de imunidade, destacando as
pelos sistemas imunes ajudam a impedir semelhanças e diferenças fundamentais.
que os patógenos penetrem no corpo. Na imunidade inata, que abrange as
Por exemplo, uma cobertura externa, defesas de barreiras, o reconhecimento
como a pele ou uma carapaça, bloqueia molecular depende de um pequeno
a entrada de muitos patógenos. conjunto de proteínas receptoras que se
Contudo, a vedação completa da ligam a moléculas ou estruturas
superfície do corpo é impossível, pois as ausentes nos corpos animais, mas
trocas gasosas, a nutrição e a reprodução comuns a um grupo de vírus, bactérias
requerem aberturas para o ambiente. As ou outros micróbios. A ligação de um
secreções que retêm ou matam receptor da imunidade inata a uma
micróbios protegem as entradas e molécula estranha desencadeia defesas
saídas, enquanto os revestimentos do internas, permitindo respostas a uma
trato digestório, das rotas respiratórias e gama muito ampla de patógenos. Na
de outras superfícies de trocas imunidade adaptativa, o
proporcionam barreiras adicionais às reconhecimento molecular depende de
infecções. Se um patógeno rompe as um vasto arsenal de receptores, cada
barreiras de defesas e penetra no corpo, qual reconhecendo uma característica
o problema de como rechaçar o ataque encontrada geralmente apenas em uma
muda substancialmente. Uma vez parte específica de determinada
hospedado nos líquidos e nos tecidos molécula de um patógeno específico.
corporais, o invasor não é mais um Por isso, o reconhecimento e a resposta
estranho. Para combater infecções, o na imunidade adaptativa ocorrem com
sistema imune de um animal deve tremenda especificidade.
detectar partículas e células estranhas
dentro do corpo. Em outras palavras, um
sistema imune funcionando
adequadamente distingue o não próprio
do próprio. Como isso é alcançado? As
células do sistema imune produzem
moléculas receptoras que se ligam
especificamente às moléculas das
células estranhas ou dos vírus e ativam
as respostas de defesa. A ligação
específica de receptores do sistema
imune às moléculas estranhas é um tipo
de reconhecimento molecular e é um
evento central na identificação de
partículas e células não próprias. Dois
tipos de reconhecimento molecular
fornecem a base para os dois tipos de
defesa imune encontrados nos animais:
imunidade inata, que é comum a todos
os animais, e imunidade adaptativa,
Defesas de barreiras
Nos mamíferos, as defesas de barreiras bloqueiam a entrada de muitos patógenos. Essas
barreiras abrangem a pele e as membranas mucosas que revestem os tratos digestório,
respiratório, urinário e reprodutivo. As membranas mucosas produzem o muco, um
líquido viscoso que retém patógenos e outras partículas. Na traqueia, células epiteliais
ciliadas varrem para fora o muco e qualquer material retido, ajudando a impedir infecção
dos pulmões. A saliva, as lágrimas e as secreções mucosas que banham vários epitélios
expostos promovem uma ação de lavagem que também inibe a colonização por fungos e
bactérias. Os micróbios no alimento ou na água e os presentes no muco engolido também
precisam lidar com o ambiente ácido do estômago, que mata a maioria deles antes que
possam entrar no intestino. De maneira semelhante, as secreções de glândulas sebáceas
e sudoríparas conferem à pele humana um pH que varia de 3 a 5, suficientemente ácido
para impedir o crescimento de muitas bactérias.

Defesas celulares inatas


Como nos invertebrados, a detecção de patógenos invasores em mamíferos desencadeia
fagocitose e destruição. Os dois principais tipos de células fagocíticas dos mamíferos são
os neutrófilos e os macrófagos. Os neutrófilos, que circulam no sangue, são atraídos por
sinais de tecidos infectados e, após, engolfados e destruídos por patógenos infectantes.
Os macrófagos (“comedores grandes”), são células fagocíticas maiores. Algumas migram
pelo corpo, ao passo que outras residem permanentemente em órgãos e tecidos onde
talvez encontrem patógenos. Por exemplo, alguns macrófagos localizam-se no baço, onde
os patógenos do sangue são muitas vezes retidos. Dois outros tipos de células fagocíticas
– células dendríticas e eosinófilos – proporcionam funções adicionais na defesa inata.
As células dendríticas povoam principalmente tecidos, como a pele, que mantêm contato
com o ambiente. Elas estimulam a imunidade adaptativa contra os patógenos que
encontram e engolfam, como examinaremos com brevidade. Os eosinófilos, com
frequência encontrados debaixo de superfícies da mucosa, são importantes na defesa
contra invasores multicelulares, como os vermes parasitos. Ao encontrar esses parasitos,
os eosinófilos liberam enzimas destrutivas. As defesas celulares inatas dos vertebrados
também envolvem células assassinas naturais (células natural killer). Essas células
circulam pelo corpo e detectam a série anormal de proteínas superficiais característica de
algumas células cancerígenas e infectadas por vírus. As células assassinas naturais não
engolfam células abaladas. Em vez disso, elas liberam substâncias químicas que levam
as células doentes à morte, inibindo a propagação do vírus ou do câncer. Muitas defesas
celulares inatas nos vertebrados envolvem o sistema linfático, uma rede que distribui pelo
corpo o líquido denominado linfa (Figura 43.7). Alguns macrófagos residem nos
linfonodos, onde engolfam os patógenos que entraram na linfa a partir do líquido
intersticial. As células dendríticas residem fora do sistema linfático, mas migram para os
linfonodos após a interação com os patógenos. Dentro dos linfonodos, as células
dendríticas interagem com outras células do sistema imune, estimulando a imunidade
adaptativa.
Na imunidade adaptativa, os receptores proporcionam reconhecimento específico
dos patógenos
Os vertebrados são os únicos que têm imunidades inata e adaptativa. A resposta
adaptativa depende das células T e das células B, que são tipos de leucócitos chamados
de linfócitos. Como todos os leucócitos, os linfócitos se originam das células-tronco na
medula óssea. Alguns migram da medula óssea para o timo, órgão localizado na cavidade
torácica acima do coração (ver Figura 43.7). Esses linfócitos diferenciam-se nas células
T. Os linfócitos que permanecem e amadurecem na medula óssea desenvolvem-se como
células B. (Linfócitos de um terceiro tipo permanecem no sangue e tornam-se as células
assassinas naturais ativas na imunidade inata.) Qualquer substância que incita uma
resposta por parte das células B ou T é chamada de antígeno. Na imunidade adaptativa, o
reconhecimento ocorre quando uma célula B ou uma célula T se liga a um antígeno –
como uma proteína bacteriana ou viral – por meio de uma proteína denominada receptor
de antígeno. Cada receptor de antígeno se liga a apenas uma parte de uma molécula de
um patógeno específico, como uma espécie de bactéria ou uma linhagem de vírus.
Embora as células do sistema imune produzam milhões de diferentes receptores de
antígenos, todos os receptores feitos por uma única célula B ou T são idênticos. A infecção
por um vírus, bactéria ou outro patógeno desencadeia a ativação das células B ou T com
receptores de antígenos específicos para partes daquele patógeno. As células B e as
células T são apresentadas neste texto com apenas alguns receptores de antígenos, mas
existem de fato cerca de 100 mil deles sobre a superfície de uma única célula B ou célula
T. Em geral, os antígenos são moléculas estranhas e grandes, ou proteínas ou
polissacarídeos. Muitos antígenos destacam-se da superfície de células estranhas ou vírus.
Outros antígenos, como as toxinas, secretadas por bactérias, são liberadas no líquido
extracelular. Uma porção pequena acessível de um antígeno que se liga a um receptor de
antígeno é chamada de epítopo. Um exemplo é um grupo de aminoácidos em uma
proteína específica. Um único antígeno geralmente tem vários epítopos, cada qual se
ligando a um receptor com especificidade diferente. Como todos os receptores de
antígenos produzidos por uma única célula B ou célula T são idênticos, eles se ligam ao
mesmo epítopo. Portanto, cada célula B ou célula T exibe especificidade para um epítopo
específico, capacitando-o a responder a qualquer patógeno que produz moléculas
contendo tal epítopo. Os receptores de antígenos de células B e células T têm
componentes similares, mas encontram os antígenos de maneiras diferentes. Vamos
analisar os dois processos separadamente.
Reconhecimento de antígenos pelas epítopo e a superfície do sítio de ligação
células B e anticorpos. proporcionam uma interação estável e
específica. As diferenças nas sequências
Cada receptor de antígeno de células B é
de aminoácidos de regiões variáveis
uma molécula em forma de Y que
fornecem a variação nas superfícies de
consiste em quatro cadeias de
ligação que permite essa ligação
polipeptídeos. (Figura 43.9).
altamente específica. Os receptores de
antígenos de células B e os anticorpos se
ligam a antígenos intactos no sangue e na
linfa. Conforme ilustrado na Figura
43.10b para anticorpos, eles podem
ligar-se aos antígenos na superfície de
patógenos ou livres nos líquidos
corporais.

A ligação de um receptor de antígeno de


célula B a um antígeno é uma etapa
inicial na ativação da célula B, levando à
formação de células que secretam uma
forma solúvel do receptor (Figura
43.10). Essa proteína secretada é
chamada de anticorpo, também
conhecida como imunoglobulina (Ig).
Os anticorpos têm a mesma estrutura em
forma de Y dos receptores de antígenos
de células B, mas são secretados em vez
de ficarem ligados à membrana. São os
anticorpos, em vez de as próprias células
B, que de fato auxiliam na defesa contra
patógenos. O sítio de ligação ao antígeno
de um receptor ligado à membrana ou
anticorpo tem uma forma única que
proporciona um ajuste de chave e
fechadura para um epítopo específico.
Muitas ligações não covalentes entre um
Os receptores de antígenos de células T funcionam de maneira completamente diferente,
como veremos a seguir.
Reconhecimento de antígenos pelas um receptor de antígeno – é necessária
células T para uma célula T participar de uma
resposta imune adaptativa, como você
Enquanto os receptores de antígenos de
verá adiante.
células B se ligam a epítopos de
antígenos intactos nos patógenos ou
circulando livres nos líquidos corporais,
os de células T se ligam somente a
fragmentos de antígenos que estão
expostos, ou apresentados, na superfície
de células do hospedeiro. A proteína do
hospedeiro que expõe o fragmento de
antígeno na superfície celular é chamada
de molécula do complexo principal de
histocompatibilidade (MHC, major
histocompatibility complex). O
reconhecimento de antígenos proteicos
pelas células T começa quando um
patógeno ou parte de um patógeno
infecta ou é envolvido por uma célula do
hospedeiro (Figura 43.12a). No interior
da célula do hospedeiro, enzimas clivam
o antígeno em peptídeos menores. Cada
peptídeo, chamado de fragmento de
antígeno, liga-se a uma molécula de
MHC no interior da célula. O movimento
da molécula de MHC e o fragmento de
antígeno ligado à superfície da célula
resultam na apresentação do antígeno, a
exposição do fragmento de um antígeno
em uma reentrância exposta da proteína
de MHC.
A Figura 43.12b mostra uma vista em
primeiro plano da apresentação do
antígeno, processo que anuncia o fato de
que uma célula do hospedeiro contém
uma substância estranha. Se a célula
apresentadora de um fragmento de
antígeno encontra uma célula T com a
especificidade correta, o receptor de
antígeno na célula T pode ligar-se ao
fragmento de antígeno e à molécula de
MHC. Essa interação – de uma molécula
de MHC, um fragmento de antígeno e
Desenvolvimento das células B e das células T
Agora que você sabe como as células B e as células T reconhecem os antígenos, vamos
considerar quatro características principais da imunidade adaptativa. Primeiro, existe uma
imensa diversidade de linfócitos e receptores, permitindo que o sistema imune detecte
patógenos nunca antes encontrados. Segundo a imunidade adaptativa geralmente tem
autotolerância, a ausência de reatividade contra as próprias moléculas e células de um
animal. Terceiro, a proliferação celular desencadeada por ativação aumenta
consideravelmente o número de células B e T específicas para um antígeno. Quarto, existe
uma resposta mais intensa e mais rápida a um antígeno encontrado anteriormente, devido
a uma característica conhecida como memória imunológica, que discutiremos mais tarde
neste capítulo. A diversidade de receptores e a autotolerância surgem à medida que um
linfócito amadurece. A proliferação de células e a formação da memória imunológica
ocorrem depois, quando um linfócito maduro encontra e se liga a um antígeno específico.
Consideraremos essas quatro características na ordem em que elas se desenvolvem.

Proliferação de células B e de células T


Apesar da enorme variedade de receptores de antígenos, apenas uma diminuta fração é
específica para determinado epítopo. Como então pode desenvolver-se uma resposta
adaptativa eficaz? Primeiro, um antígeno é apresentado a uma corrente constante de
linfócitos nos linfonodos (ver Figura 43.7), até que a compatibilidade seja atingida. A
compatibilidade exitosa entre um receptor de antígeno e um epítopo inicia eventos que
ativam o linfócito que porta o receptor.
Uma vez ativada, uma célula B ou célula T passa por múltiplas divisões celulares. Para
cada célula ativada, o resultado dessa proliferação é um clone, uma população de células
idênticas à célula original. Algumas delas tornam-se células efetoras, células de vida
curta que imediatamente entram em ação contra o antígeno e quaisquer patógenos que
produzem tal antígeno. As formas efetoras de células B são plasmócitos, que secretam
anticorpos. As formas efetoras de células T são células T auxiliares e células T
citotóxicas. As células remanescentes no clone tornam-se células de memória, células de
vida longa que originam as células efetoras se o mesmo antígeno for encontrado mais
tarde na vida do animal.
A proliferação de uma célula B ou célula T em um clone de células ocorre em resposta a
um antígeno específico e a sinais celulares imunes. O processo é chamado de seleção
clonal porque um encontro com um antígeno seleciona quais linfócitos irão dividir-se
para produzir uma população clonal de milhares de células específicas para um
determinado epítopo.
As células com receptores de antígenos específicos para outros antígenos não respondem.
A Figura 43.14 resume o processo de seleção clonal, usando o exemplo de células B, que
geram células de memória e plasmócitos. Quando as células T passam por seleção clonal,
elas geram células T de memória e células T efetoras (células T citotóxicas e células T
auxiliares).
Memória imunológica
A memória imunológica é responsável pela proteção de longo prazo que uma infecção
prévia proporciona contra muitas doenças, como a catapora. Esse tipo de proteção fora
constatado há quase 2.400 anos pelo historiador grego Tucídides. Ele observou que
indivíduos recuperados da enfermidade podiam com segurança cuidar daqueles que
estavam doentes ou agonizantes, “pois o mesmo homem nunca fora atacado duas vezes –
pelo menos jamais fatalmente”.
A exposição prévia a um antígeno altera a velocidade, a intensidade e a duração de uma
resposta imune. A produção de células efetoras a partir de um clone de linfócitos, durante
a primeira exposição a um antígeno, é a base para a resposta imune primária. O pico da
resposta primária ocorre cerca de 10-17 dias após a exposição inicial. Durante esse
período, células B e células T selecionadas originam suas formas efetoras. Se um
indivíduo for exposto novamente ao mesmo antígeno, a resposta é mais rápida (com pico
em apenas 2-7 dias após a exposição), de maior magnitude e mais prolongada. Essa é a
resposta imune secundária, marca distintiva da imunidade adaptativa, ou adquirida. Como
as células B selecionadas produzem células efetoras que secretam anticorpos, a medição
da concentração de anticorpos específicos no sangue ao longo do tempo distingue as
respostas imunes primária e secundária.
A resposta imune secundária depende do reservatório de células T e B de memória geradas
após a exposição inicial a um antígeno. Por serem de vida longa, essas células fornecem
a base para a memória imunológica, que pode perdurar por muitas décadas. (As células
efetoras têm tempos de vida muito mais curtos, pois a resposta imune diminui após uma
infecção ser superada.) Se um antígeno for novamente encontrado, células de memória
específicas para ele permitem a rápida formação de clones de milhares de células efetoras,
também específicas para ele, gerando assim uma defesa imune consideravelmente
aumentada. Embora os processos de reconhecimento de antígenos, seleção clonal e
memória imunológica sejam semelhantes para as células B e as células T, essas duas
classes de linfócitos combatem a infecção de maneiras diferentes e em circunstâncias
diferentes.
A imunidade adaptativa defende contra infecções das células e dos líquidos
corporais
Tendo considerado como os clones de linfócitos surgem, vamos examinar agora como
essas células ajudam a combater infecções e minimizar danos causados por patógenos.
As defesas proporcionadas pelos linfócitos B e T podem ser divididas em resposta imune
humoral e resposta imune mediada por células. A resposta imune humoral ocorre no
sangue e na linfa, que antigamente eram chamados de humores (líquidos) corporais. Na
resposta humoral, os anticorpos ajudam a neutralizar ou eliminar toxinas e patógenos no
sangue e na linfa. Na resposta imune mediada por células, células T especializadas
destroem células do hospedeiro infectadas. As duas respostas podem incluir tanto uma
resposta imune primária quanto uma resposta imune secundária, com células de memória
capacitando a resposta secundária.
Células T auxiliares: resposta a quase todos os antígenos
Um tipo de célula T denominado célula T auxiliar desencadeia a resposta imune humoral
e a resposta imune mediada por células. As próprias células T auxiliares não executam
essas respostas. Em vez disso, sinais provenientes delas iniciam a produção de anticorpos
que neutralizam os patógenos e ativam as células T que matarão as células infectadas.
Duas exigências devem ser atendidas para uma célula T auxiliar ativar respostas imunes
adaptativas. Primeiro, a presença de uma molécula estranha que possa ligar-se
especificamente ao receptor de antígeno de célula T. Segundo, esse antígeno deve estar
exposto na superfície de uma célula apresentadora de antígeno. A célula apresentadora de
antígeno pode ser uma célula dendrítica, um macrófago ou uma célula B. Quando estão
infectadas, as células do hospedeiro igualmente expõem antígenos em sua superfície. O
que então distingue uma célula apresentadora de antígeno? A resposta está na existência
de duas classes de moléculas de MHC. A maioria das células do corpo tem apenas
moléculas de MHC de classe I, mas as células apresentadoras de antígenos têm moléculas
de MHC de classes I e II. As moléculas de classe II fornecem uma assinatura molecular
pela qual uma célula apresentadora de antígeno é reconhecida. Uma célula T auxiliar e a
célula apresentadora de antígeno expondo seu epítopo específico têm uma interação
complexa (Figura 43.16). Os receptores de antígenos na superfície da célula T auxiliar
ligam-se ao fragmento de antígeno e à molécula de MHC de classe II que expõe esse
fragmento na célula apresentadora de antígeno. Ao mesmo tempo, uma proteína acessória
denominada CD4 na superfície da célula T auxiliar se liga à molécula de MHC de classe
II, ajudando a manter as células juntas. À medida que as duas células interagem, são
trocados sinais em forma de citocinas. Por exemplo, as citocinas secretadas de uma célula
dendrítica atuam na combinação com o antígeno para estimular a célula T auxiliar,
levando-a a produzir seu próprio conjunto de citocinas. O extenso contato entre
superfícies celulares também permite mais troca de informações. As células
apresentadoras de antígenos interagem com células T auxiliares em vários contextos. A
apresentação de antígeno por uma célula dendrítica ou por um macrófago ativa uma célula
T auxiliar, que prolifera, formando um clone de células ativadas. Por outro lado, as células
B apresentam antígenos às células T auxiliares já ativadas, que, por sua vez, ativam as
próprias células B. As células T auxiliares ativadas também ajudam a estimular as células
T citotóxicas.
Células T citotóxicas: uma resposta às células infectadas
Na ausência de uma resposta imune, os patógenos podem reproduzir-se nas células
infectadas, matando-as. Na resposta imune mediada por células, as células T citotóxicas
utilizam proteínas tóxicas para matar células infectadas por vírus ou outros patógenos
intracelulares, antes que os patógenos amadureçam completamente. Para se tornarem
ativas, as células T citotóxicas necessitam de sinais das células T auxiliares e da interação
com uma célula apresentadora de antígeno. Os fragmentos de proteínas estranhas
produzidas nas células hospedeiras infectadas associam-se com moléculas de MHC de
classe I e são expostos na superfície celular, onde podem ser reconhecidos pelas células
T citotóxicas (Figura 43.17). Como acontece com as células T auxiliares, as células T
citotóxicas têm uma proteína acessória que se liga à molécula de MHC. Essa proteína
acessória, chamada de CD8, ajuda a manter as duas células em contato enquanto a célula
T citotóxica está ativada.
A destruição dirigida de uma célula hospedeira infectada por uma célula T citotóxica
envolve a secreção de proteínas que desfazem a integridade da membrana e desencadeiam
a morte celular (apoptose; ver Figura 43.17). A morte da célula infectada não só priva o
patógeno de um local para multiplicação, mas também expõe os conteúdos celulares aos
anticorpos circulantes, que marcam os antígenos liberados para descarte.
Células B e anticorpos: uma resposta aos patógenos extracelulares
A secreção de anticorpos pelas células B é uma marca distintiva da resposta imune
humoral. Ela começa com a ativação das células B.

Ativação das células B


Conforme ilustra a Figura 43.18, a ativação das células B envolve tanto as células T
auxiliares quanto as proteínas sobre a superfície dos patógenos. Estimulada por um
antígeno e por citocinas, a célula B prolifera e se diferencia em células B de memória e
plasmócitos secretores de anticorpos. A rota para o processamento e a exposição dos
antígenos nas células B difere daquela de outras células apresentadoras de antígenos. Um
macrófago ou uma célula dendrítica podem apresentar fragmentos de uma ampla
diversidade de antígenos proteicos, enquanto uma célula B apresenta apenas o antígeno
ao qual ela se liga especificamente. Quando um antígeno primeiro se liga a receptores
sobre a superfície de uma célula B, a célula capta algumas moléculas estranhas por
endocitose mediada por receptores. A proteína de MHC de classe II da célula B apresenta
então um fragmento de antígeno a uma célula T auxiliar. Esse contato direto célula a
célula é geralmente crítico para a ativação da célula B (ver etapa e na Figura 43.18). A
ativação da célula B leva a uma resposta imune humoral robusta: uma única célula B
ativada origina milhares de plasmócitos idênticos. Esses plasmócitos interrompem a
expressão de um antígeno ligado à membrana e começam a produzir e secretar anticorpos
(ver etapa 3 na Figura 43.18). Cada plasmócito secreta cerca de 2 mil anticorpos por
segundo durante seus 4 a 5 dias de vida, totalizando quase um trilhão de moléculas de
anticorpos. Além disso, a maioria dos antígenos reconhecidos pelas células B contém
epítopos múltiplos. Por isso, uma exposição a um único antígeno normalmente ativa uma
diversidade de células B, que originam diferentes plasmócitos produtores de anticorpos
dirigidos contra diferentes epítopos no antígeno comum.
Funcionamento dos anticorpos
Os anticorpos na verdade não matam os patógenos, mas, pela ligação aos antígenos, eles
interferem na atividade dos patógenos ou marcam-nos por diferentes mecanismos,
visando sua inativação ou destruição. Considere, por exemplo, a neutralização, um
processo em que os anticorpos se ligam a proteínas na superfície de um vírus (Figura
43.19a). Os anticorpos ligados impedem a infecção de uma célula hospedeira,
neutralizando, assim, o vírus. De modo semelhante, os anticorpos às vezes se ligam a
toxinas liberadas nos líquidos corporais, impedindo que elas penetrem nas células.
Na opsonização, os anticorpos ligados aos antígenos na superfície de bactérias não
bloqueiam a infecção, mas, em vez disso, apresentam uma estrutura prontamente
reconhecida pelos macrófagos ou neutrófilos, promovendo desse modo a fagocitose
(Figura 43.19b). Como cada anticorpo tem dois sítios de ligação ao antígeno, os
anticorpos também podem facilitar a fagocitose, ao se ligarem a células bacterianas, vírus
ou outras substâncias estranhas em agregados.
Quando os anticorpos facilitam a fagocitose, como na opsonização, eles também ajustam
a resposta imune humoral. Lembre-se de que a fagocitose permite que os macrófagos e
as células dendríticas apresentem os antígenos às células T auxiliares e estimulam-nas.
As células T auxiliares, por sua vez, estimulam muito as células B, cujos anticorpos
contribuem para a fagocitose. Essa retroalimentação positiva entre imunidades inata e
adaptativa contribui para uma resposta coordenada e eficaz contra a infecção. Os
anticorpos às vezes trabalham junto com as proteínas do sistema complemento. (O nome
complemento reflete o fato de que essas proteínas aumentam a eficácia dos ataques
direcionados pelos anticorpos sobre as bactérias.) A ligação de uma proteína do
complemento a um complexo antígeno-anticorpo na superfície de uma célula estranha
desencadeia a geração de um complexo de ataque à membrana que forma um poro na
membrana da célula. Íons e água entram na célula, que incha e se rompe (lise)
(Figura 43.19c). Se ativada como parte das defesas inata ou adaptativa, essa cascata de
atividades proteicas do complemento resulta na lise das células estranhas e produz fatores
que promovem a inflamação ou estimulam a fagocitose.

Embora os anticorpos sejam os fundamentos da resposta em líquidos corporais, existe


também um mecanismo pelo qual eles podem provocar a morte de células do corpo
infectadas. Quando um vírus utiliza uma maquinaria biossintética da célula para produzir
proteínas virais, esses produtos podem aparecer na superfície celular. Se anticorpos
específicos para epítopos nessas proteínas virais ligarem-se às proteínas expostas, a
presença de anticorpos na superfície celular pode recrutar uma célula assassina natural.
Em seguida, a célula assassina natural libera proteínas que levam a célula infectada a
sofrer apoptose. Desse modo, as atividades dos sistemas imunes inato e adaptativo outra
vez se vinculam intimamente.
As células B podem expressar cinco tipos, ou classes, de imunoglobulinas (IgA, IgD, IgE,
IgG e IgM). Para uma determinada célula B, cada classe tem uma idêntica especificidade
de ligação ao antígeno, mas uma região C de cadeia leve diferente. O receptor de antígeno
de célula B, conhecido como IgD, é ligado à membrana. As outras quatro classes
consistem em anticorpos solúveis, incluindo aqueles encontrados no sangue, nas
lágrimas, na saliva e no leite materno.
Resumo da resposta imune humoral e da resposta mediada por células
Conforme observado anteriormente, a resposta humoral e a resposta mediada por células
podem abranger as respostas imunes primária e secundária. As células de memória de
cada tipo – célula T auxiliar, célula B e célula T citotóxica – permitem a resposta
secundária. Por exemplo, quando os líquidos corporais são reinfectados por um patógeno
encontrado anteriormente, as células B de memória e as células T auxiliares de memória
iniciam uma resposta humoral secundária. A Figura 43.20 resume a imunidade adaptativa,
revisa os eventos que iniciam as respostas imunes humoral e mediada por células e
destaca o papel central da célula T auxiliar.

Imunidade ativa e passiva


Até aqui, nossa discussão sobre imunidade adaptativa concentrou-se na imunidade ativa,
as defesas que surgem quando o patógeno infecta o corpo e provoca uma resposta imune
primária ou secundária. Um tipo diferente de imunidade resulta quando os anticorpos IgG
no sangue de uma mulher grávida atravessam a placenta e chegam ao feto. Essa proteção
é chamada de imunidade passiva, porque os anticorpos no receptor (neste caso, o feto)
são produzidos por outro indivíduo (a mãe). Os anticorpos IgA presentes no leite materno
fornecem imunidade passiva adicional ao trato digestório do bebê enquanto seu sistema
imune se desenvolve. Como a imunidade passiva não envolve as células B e T do receptor,
ela persiste somente enquanto perdurar a transferência de anticorpos (algumas semanas
até alguns meses).
Tanto a imunidade ativa quanto a passiva podem ser induzidas artificialmente. A
imunidade ativa pode desenvolver-se a partir da introdução de antígeno no corpo por meio
de imunização. Em 1796, Edward Jenner observou que as pessoas que ordenhavam vacas
e que tinham varíola bovina, doença
branda geralmente encontrada apenas em
bovinos, não contraíam a varíola, doença
muito mais perigosa. Na primeira
imunização documentada (ou vacinação;
do latim vacca, vaca), Jenner usou o
vírus da varíola bovina para induzir a
imunidade adaptativa contra o parente
próximo: o vírus causador da varíola.
Hoje, as imunizações são realizadas com
preparações de antígenos (vacinas)
obtidas de muitas fontes, incluindo
toxinas bacterianas inativadas,
patógenos mortos ou atenuados e até
mesmo genes codificadores de proteínas
microbianas. Uma vez que todos esses
agentes induzem resposta imune
primária e memória imunológica, um
encontro com o patógeno do qual a
vacina foi derivada desencadeia uma
resposta imune secundária rápida e
intensa (ver Figura 43.15).
Os programas de vacinação têm sido exitosos contra muitas doenças infecciosas que já
mataram ou incapacitaram um grande número de pessoas. Uma campanha mundial de
vacinação levou à erradicação da varíola no final da década de 1970. Nos países
industrializados, a imunização rotineira de bebês e crianças reduziu drasticamente a
incidência de doenças às vezes devastadoras, como a poliomielite, o sarampo e a
coqueluche. Infelizmente, nem todos os patógenos são facilmente erradicados pela
vacinação. Além disso, algumas vacinas não estão prontamente disponíveis nas áreas
empobrecidas do mundo.
Informações equivocadas sobre a segurança das vacinas e o risco das doenças têm levado
a um problema de saúde pública substancial e crescente. Considere o sarampo, por
exemplo. Os efeitos colaterais da imunização são raríssimos, com menos de uma para um
milhão de crianças sofrendo uma significativa reação alérgica à vacina contra o sarampo.
No entanto, a doença é muito perigosa, matando mais de 200 mil pessoas por anos. Os
declínios das taxas de vacinação contra o sarampo em partes do Reino Unido, Rússia e
Estados Unidos têm resultado em vários surtos recentes da doença e muitos óbitos
evitáveis.
Na imunização passiva artificial, os anticorpos de um animal imune são injetados em um
animal não imune. Por exemplo, humanos mordidos por serpentes venenosas são às vezes
tratados com antivenina, soro de ovelhas ou de cavalos que foram imunizados contra o
veneno de uma serpente. Quando o soro é injetado imediatamente após a mordida, os
anticorpos da antivenina podem neutralizar toxinas do veneno, antes que causem uma
enorme lesão.
REFERÊNCIAS
Biologia de Campbell [recurso eletrônico] / Jane B. Reece ... [et al.]; [tradução: Anne
D. Villela ... et al.] ; revisão técnica : Denise Cantarelli Machado, Gaby Renard,
Paulo Luiz de Oliveira. – 10. ed. – Porto Alegre: Artmed, 2015. Páginas 947 a 963.

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