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124.
O saber histórico, e aqui também incluso o arqueológico, deve ser feito com
bastante cuidado. As evidências surgem ao acaso, sem o controle dos
pesquisadores. Muitas vezes recorrem-se a uma reinvenção do passado e não a
sua reconstrução. Admitir que não existem “verdades” é o primeiro passo para
que o historiador exerça sua profissão de maneira correta.
Essa nova espécie possuíam uma estrutura craniana grande e uma postura
quase humana. Logo, os pesquisadores começaram a pensar na hipótese de que
essas duas espécies sejam descendentes do Ramapithecus.
O historiador tem que ter cuidado no seu trabalho, em afirmar certas coisas. Se
há o abandono de evidências, pode criar uma aventura de ficção; por outro lado,
se não trabalha com hipóteses e suposições pode tornar a história uma narrativa
rígida e sistemática. Não se sabe ao certo que levou o Homo erectus a sair da
África há um milhão de anos atrás. Os riscos podem não ter sido calculados.
Pode-se supor que a vontade humana, o poder decisório desta espécie
prevaleceu, ou seja, o espírito de aventura pode ter levado o erectus a sair do
seu conforto.
2. Caçadores e coletores
A resposta veio no século XX: sim. A ideia de que a ciência tudo resolve e a da
sabedoria contemporânea foram caindo por terra, e buscou-se aproximar de
algumas tradições e descobertas do passado. Havia uma certeza que o
hominídeo originava-se na Europa, o que não é o caso. Isso levou pesquisadores
e cientistas a questionarem a si mesmos o que eram esses “primitivos”. Para
tanto, resolveram analisar algumas espécies de primatas e algumas tribos
humanas que sobrevivem da caça e da coleta. Os relatos surpreendem pelo alto
nível das sociedades encontradas.
A hipótese de que o Homo erectus saiu da África há 1 milhão de anos atrás por
questões de sobrevivência é posta em prova quando constata-se que o número
de indivíduos que saiu do continente é bastante pequeno. Há 100 mil anos
acredita-se que a população africana era dez vezes superior à de todo o globo. E
todos essas espécies eram caçadores-coletores.
A caça e coleta vingou até 10 mil anos atrás, e perdeu fôlego com a adoção
definitiva da agricultura, o chamado período da grande revolução. A partir daí a
relação homem e natureza mudou, a História da humanidade havia finalmente
começado. A revolução não ocorreu acidentalmente e nenhuma outra espécie
poderia ter feito isso. Os hominídeos são dotados de capacidades que nenhum
outro animal é, por exemplo, o de criar ferramentas para atender demandas
específicas e o domínio do fogo. A Revolução Agrícola estava surgindo.
3. Agricultores e criadores
Por sua vez, os grupos agrícolas tiveram que adotar a prática do sedentarismo,
mesmo que por um tempo, para poder obter lucro de suas plantações. E neste
período as crianças não eram mais um empecilho, agora elas poderiam trabalhar
na lavoura. A pouca mobilidade, trabalho infantil e reservas alimentares mais
abundantes o boom demográfico foi possível. Os grupos nem sempre ficavam
juntos, havia a reprodução mas também a subdivisão destes grupos. E esses
processos de divisões e deslocamentos propiciaram a difusão da agricultura e da
criação de animais. A difusão cultural é também característica essencial da
Revolução. A Revolução Agrícola era fácil de cooptar caçadores-coletores,
tornando-se praticamente irresistível e destrói todas as formas de existência que
a precedeu.
Acredita-se que a criação de animais é posterior ao surgimento da agricultura. O
historiador Gordon Childe pontua que a atividade pastoril deve ter surgido como
uma consequência de uma grande seca no Oriente Médio. A seca levou os
animais a procurar abrigo em algum oásis, e ali estava animais selvagens e
também o homem. O homem abriga esses animais e fornece alimento, afasta os
predadores e a história da domesticação começaria dessa forma. Os animai
confinados ora serviam como reserva de caça, ora eram expulsos pelos
agricultores quando chegava o período de plantação. Há também aqueles que
mantinham os animais em lugares-conforto para protege-los. O rebanho tornava-
se dependente do homem. O homem pode ter observado vantagens na criação
destes animais observando seu comportamento: a produção de esterco e de leite
e, mais tarde, o couro e a lã. No entanto, a atividade pastoril ainda era tida como
complementar, secundária à agricultura.
Com a agricultura haverá, pela primeira vez, a produção de excedente. Com isso,
os grãos produzidos devem ser guardados e consumidos lentamente para que
possa durar até a próxima colheita; além disso, parte desses grãos serão
utilizados como sementes. Começa a prática da poupança dos alimentos e
também da criação de locais para armazenar esses grãos. A produção de
excedente juntamente com a atividade pastoril produziria uma estabilidade
econômica e social para os grupos, que culminaria num posterior surgimento de
um pequeno comércio. É necessário atentar-se para o fato de que as trocas
entre grupos vizinhos eram comuns mesmo com a independência destes grupos.
A diversidade dos grupos não pode ser suplantada achando que todos os povos
do período compartilhavam de uma mesma cultura. Deve-se considerar o
ambiente em que vivem, a fauna e a flora, o tipo de matéria-prima disponível, etc.
Não existe uma cultura neolítica, mas sim culturas.