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ASPECTOS GERAIS DA
GEOGRAFIA DA
ÁFRICA
Professor (a) :

Me. Carlos Eduardo Rodrigues

Objetivos de aprendizagem
• Relatar a expansão humana e a origem do homem.

• Descrever o espaço físico africano.

• Apontar o panorama geral sobre o relevo, vegetação e hidrografia.

• Descrever as macrorregiões africanas.

• Apresentar as características da economia, cultura e sociedade das regiões africanas.


Plano de estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:

• O nascimento do homem na África

• A geografia física da África

• A geografia humana e política da África

Introdução
Caro(a) aluno(a), seja bem-vindo(a). Durante a vida escolar, você já ouviu falar sobre história. Certamente estudou para o
vestibular, aprendeu uma série de datas, regimes políticos, modelos econômicos, nomes e revoluções. Passou pela graduação e,
agora, retorna para mais uma etapa da vida acadêmica e profissional.

Você, que optou por ampliar o seu leque de conhecimentos e oportunidades, escolheu o lugar certo. E é com grande satisfação que
eu, professor mestre Carlos Eduardo Rodrigues, apresento o estudo “Aspectos gerais da geografia da África”.

O conteúdo está dividido em três temas principais para facilitar o processo de ensino e aprendizagem em História e Cultura
Africana, que entrou no universo escolar com a promulgação da Lei 10.639/2003, que instituiu a obrigatoriedade desse ensino nas
escolas. O objetivo desta unidade é mostrar as contribuições do continente africano para a História do mundo, de modo a resgatar
uma África cheia de vida.

Começaremos com um panorama sobre o surgimento da humanidade na África. Aqui, você vai aprender sobre as correntes
teóricas que explicam o aparecimento do homem na Terra; a localização dos fósseis mais antigos; o processo de evolução e o
desenvolvimento dos materiais rudimentares e técnicas de adaptação à natureza.

Em seguida, observaremos a geografia física da África, haja vista que conhecer o ambiente onde acontece a história é fundamental
para compreensão das atividades humanas. Assim, apresento-lhes a geografia básica do continente africano com seu relevo, clima,
vegetação e hidrografia.

Por fim, vai descobrir o quanto são ricos, diferentes e dinâmicos os povos africanos quanto a sua cultura, sociedade e economia. A
geografia humana e política da África nos chama atenção para a maneira com que seus habitantes dialogam com a modernidade
sem abandonar as tradições.

Desde já, desejo a você bons estudos.


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UNICESUMAR | UNIVERSO EAD


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O Nascimento do Homem na África


A jornada da humanidade começa no continente africano. É na Era Terciária que surgiram as primeiras famílias hominídeas,
mamíferos da ordem dos Primatas, a qual também pertence o gênero humano. Segundo pesquisas recentes, os hominídeos são
divididos em dois gêneros: o mais antigo é o Australopithecus e o mais recente o Homo Esse último está subdividido em espécies:
.

Homo habilis Homo erectus Homo neanderthalensis e Homo sapiens (COPPENS, 2010).
, ,

Os primatas se diferenciam dos outros mamíferos placentários pelo desenvolvimento precoce do cérebro,
pelo aperfeiçoamento da visão, que se torna estereoscópica, pela redução da face, pela substituição das
garras por unhas chatas e pela oposição do polegar aos outros dedos.

Fonte: Coppens (2010, p. 447).

Foi em 1934, no sítio arqueológico de Laetoli, na Tanzânia, que um grupo de pesquisadores descobriu evidências concretas do
Australopithecus Esse primata bípede, semiereto, tinha, no máximo, 1,5 m e andou pela Terra por volta de 4 milhões de anos. A
.

análise da ossada sugere que ele apresentava o polegar invertido, adaptação biológica desenvolvida para a utilização de utensílios,
o que, para alguns estudiosos, trata-se de uma verdadeira revolução, visto que permitiu ao homem transformar o ambiente a sua
volta para ampliar as chances de sobrevivência.

Na Etiópia, no ano de 1974, a mais significativa personagem histórica foi encontrada por um grupo de pesquisadores
internacionais. Os 52 fragmentos de uma fêmea de Australopithecus afarensis, de 3,2 milhões de anos, é considerado o ancestral
comum do Australopithecus e Homo sapiens Foi batizada com o nome de Lucy por causa da canção “Lucy in the Sky with Diamonds”,
.

dos The Beatles, que tocava no momento da descoberta, em Lower Awash Valley, a 300 km a nordeste da capital Addis Abeba.

Contudo, caro(a) aluno(a), o mais antigo esqueleto recuperado data de 4,4 milhões de anos. Foi encontrado na mesma região que a
Lucy e recebeu o nome de Ardi, uma fêmea de Australopithecus que media, aproximadamente, 1,20 m e pesava cerca de 50 kg. O
Australopithecus se ramificou para outras espécies de hominídeo, alguns ficaram mais altos, desenvolveram o andar sob duas
pernas, deixando os membros superiores livres para agarrar objetos, passaram a controlar o fogo, a fabricar instrumentos de pedra
e madeira e a criar linguagens. Nesse trajeto da evolução humana, o último grande acontecimento ocorreu há 1 milhão de anos,
durante a Era Quaternária. Entre 200 a 100 mil anos, aparece o Homo sapiens cujos vestígios foram encontrados nas savanas da
,

África (KI-ZERBO, 2010; MURRAY, 2007).

Figura 1 - Reconstrução de Lucy “ Australopithecus afarensis ” (Capannoli, Itália) por Sailko

Fonte: Capannoli… (on-line).

O debate sobre a origem, evolução e expansão humana surge no século XIX e perpassa por duas correntes: a primeira é a vertente
criacionista, que procura explicar a formação do mundo e do homem por meio das narrativas bíblicas, mais precisamente no livro
do Gênesis, onde se encontram os detalhes da maneira como Deus criou o planeta. A segunda foi desenvolvida por intermédio da
crítica à primeira e é chamada de evolucionista. Trata-se da explicação elaborada pelo pensamento científico do período, sendo a
obra mais influente “A origem das espécies”, de 1859, escrito pelo cientista inglês Charles Darwin (1809-1882).

A tese evolucionista defende que o desenvolvimento das espécies aconteceu em um procedimento de longos milhões de anos,
sendo a seleção natural o fator chave. Os animais que melhor se adaptaram às mudanças do ambiente, por meio de mutações em
sua biologia, foram aqueles que conseguiram sobreviver.

Com base nessa tese, Darwin publicou, em 1871, o livro “A origem do homem”, teorizando, de maneira mais detalhada, a evolução
humana. Isso abalou a cultura e a sociedade do período, uma vez que colocava em cheque a explicação criacionista, o que acabou
gerando fortes críticas por parte da comunidade religiosa. Para Darwin e seu seguidores, o homem era apenas um animal que
evoluiu de outros primatas.

Seguindo as pegadas de Darwin, os estudiosos da evolução humana elaboraram novas pesquisas que contribuíram muito para o
avanço científico. Contudo, caro(a) aluno(a), para se chegar ao conhecimento que temos hoje, foi necessário um trabalho amplo
que envolveu diversos campos do conhecimento. Segundo o pesquisador Leakey (2010, p. 495),
o estudo da origem do homem baseia-se em grande parte numa abordagem pluridisciplinar, que não se
limita ao estudo de ossadas fósseis e vestígios arqueológicos; a geologia, a paleontologia, a paleoecologia, a
geofísica e a geoquímica desempenham papel preponderante, e, para os estágios mais recentes, quando os
hominídeos começaram a usar instrumentos, a arqueologia é fundamental.

Em quase toda a África, é possível encontrar vestígios de achelenses, termo que se refere à indústria lítica, ou seja, aos
instrumentos da idade da pedra. A maior parte dos achelenses é encontrada nas áreas de savanas e desértica, indicando, assim,
que o homem passou longos anos de sua jornada evitando as densas florestas tropicais úmidas. Os achelenses presentes no Saara
sugerem que a sua ocupação foi sazonal. Em contrapartida, nas áreas de Sahel, nas épocas em que o clima era menos árido e o
homem podia conseguir água e pequenos animais para a caça, os achelenses são relativamente mais abundantes (MURRAY, 2007).

Contudo você, aluno(a), deve estar se perguntando agora onde os arqueólogos acham os achelenses. Explico! São em locais
chamados de sítios arqueológicos, os mais antigos são classificados como Idade da Pedra. Alguns deles ficam no leste da África, no
desfiladeiro de Olduvai e no Lago Turkana, onde há registros de Homo habilis e do Homo erectus este teria se espalhado no sentido
,

norte e sul, povoando quase todo o continente africano, exceto as zonas de floresta tropical úmida. Nos sítios de períodos médios e
tardios da Idade da Pedra, que é quando começa o desenvolvimento da cultura humana, são encontrados vestígios de Homo
sapiens.

Figura 2 - Olduvai, um dos mais importantes sítios arqueológico do mundo (Tanzânia)

A Idade da Pedra é subdividida em:

• Paleolítico (pedra antiga) ou Idade da Pedra Lascada, cerca de 2 milhões de anos.

• Mesolítico (pedra intermediária), cerca de 10 mil anos.

• Neolítico ou Idade da Pedra Polida, cerca de 10.000 a.C e 4.000 a.C. (o autor).

A difusão da metalurgia e dos sistemas agrícolas data do final da Idade da Pedra. É por volta de 5.000 a.C. que a agricultura começa
a ser desenvolvida, trata-se de um fenômeno autóctone de domesticação de algumas plantas, como o trigo e a cevada no Oriente
Médio e o milhete e sorgo na África. Já os primeiros trabalhos em ferro aparecem no norte da África e são do último milênio antes
de cristo. Ao que tudo indica, a difusão ocorreu naturalmente de norte para o sul, e esta constatação levantou dúvidas a respeito
do desenvolvimento da tecnologia do ferro no Oriente Médio: ela é resultante do autodesenvolvimento, fruto da importação da
técnica africana ou o conjunto de ambos os fatores (COOK, 2005).
“A África é o único continente para o qual não temos que quebrar a cabeça com o problema da data da
chegada dos seres humanos modernos: foi lá que eles evoluíram” (Cook).

A Geografia Física da África


Olá, aluno(a)! Antes de começar este tópico, acesse o atlas geográfico do continente africano no link disponível em:
https://www.guiageografico.com/africa-mapa-continente.htm Você também pode consultar o Google Maps e digitar a palavra
.

África no buscador. Isso vai ajudá-lo(a) a reter melhor as informações.

A África se encontra praticamente isolada dos demais continentes. Na fronteira norte, o mar Mediterrâneo distancia a África da
Europa e, na fronteira nordeste, o Mar Vermelho afasta o continente da Península Arábica. Existia uma pequena ligação natural
por terra entre o Egito e a Península do Sinai, mas foi interrompido, em 17 de novembro 1869, com a inauguração do Canal de
Suez, projeto desenvolvido, entre 1859 e 1869, pela companhia francesa Suez, de Ferdinand de Lesseps, em parceria com o
governo egípcio.

O litoral africano é extenso e banhado pelo Oceano Atlântico a leste e o Oceano Índico a oeste, que cercam uma grande massa de
terra composta por relevos, clima, vegetação e hidrografia, temas que você vai estudar a partir de agora. Fique atento(a) aos
detalhes dos dados e à complexidade da geografia física do continente africano.

A África é o terceiro maior continente, atrás, apenas, da Ásia e das Américas. São 30.221.532 km², cerca de
25% da superfície do planeta, distribuídos entre as principais coordenadas geográficas: o Meridiano de
Greenwich na vertical e, na horizontal, a linha do Equador, o Trópico de Câncer ao norte e o Trópico de
Capricórnio ao sul.

Fonte: adaptado de Murray (2007) e Serrano (2010).


Relevo

Caro(a) aluno(a), você sabia que os relevos surgem por causa das ações das placas tectônica? Essas ações ocorrem na vertical ou na
horizontal e são responsáveis por significativas modificações no terreno. Nas zonas onde ocorreram os movimentos mais intensos,
surgiram falhas isoladas, em partes ou aglomeradas. Nas regiões norte e oeste, o relevo africano varia entre 200 m a 400 m acima
do nível do mar, e pequenas regiões alcançam a altitude média de 1.000 m, como as Montanhas do Tibesti, no noroeste do Chade, e
a Cordilheira do Atlas sobre o Marrocos, a Argélia e a Tunísia.

Nas regiões sul e leste, as altitudes variam entre 400 m e 1.000 m. É nessa área que se encontra o Maciço da Etiópia com uma
elevação média de 2.500 m. É provável que essa formação geológica seja a responsável por limitar o crescimento da floresta
tropical até o litoral do Oceano Índico e pelo clima seco e árido da Somália. Na mesma região, o Planalto dos Grande Lagos abriga
as montanhas mais altas da África, como o pico mais alto do continente, o Kilimanjaro, 5.895 metros entre o Quênia e a Tanzânia
(MURRAY, 2007).

Figura 3 - Montanhas do Tibesti a leste da cidade Bardai (Tchad)

Fonte: Tibesti… (on-line).

Associado às tensões nas fossas tectônicas, o vulcanismo é um dos fatores que contribuiu para a
modificação da paisagem africana. O ponto de maior atividade vulcânica da África está no Vale do Rift*,
sobretudo no Quênia e na Etiópia, local onde a Placa Africana choca-se com a Placa Arábica.

O lugar também é conhecido como Grande Fenda Oriental, e é umas das fossas tectônicas mais extensas do
planeta com cerca de 6.000 km de comprimento. A rachadura abriga uma sequência de acidentes
geográficos que começa no Mar Vermelho, percorre a terras altas da Etiópia e toda a África Oriental,
atingindo parte da África Meridional, resultando na formação do Vale de Luangwa na Zâmbia. Para saber
mais, assista ao vídeo disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=0_sLMU50BKU .

* Rift é um termo geológico para nomear tipos de vales nascidos por falhas geológicas.

Fonte: adaptado de Murray (2007) e Serrano (2010).

No extremo sul da África do Sul, o Monte Drakensberg é uma importante cadeia de montanhas. Com picos variando entre 1.800 m
a 2.250 m, o Drakensberg é uma região turística com trilhas, penhascos, piscinas naturais e animais (antílopes, zebras, girafas etc.).
O local abriga o Parque uKhahlamba-Drakensberg de 230.000 hectares que entrou na lista do Patrimônio Mundial da UNESCO,
em 2013. Em uma parte do parque, está a província de KwaZulu-Natal, em que um trecho de 200 km da cordilheira está reservado
à proteção ambiental de plantas endêmicas e animais em extinção. Em algumas cavernas preservam pinturas rupestres que
representam a vida espiritual do povo San, que viveu na região por um período de 4.000 anos (MILHORANCE, 2013; UNESCO, on-
line).

Figura 4 - Montes de Drakensberg (África do Sul)

Figura 5 - Pinturas rupestres feitas pelo povo San, isto é, pessoas na África do Sul

Clima e vegetação

A África tem uma variação de clima e vegetação superiores aos continentes europeu e asiático, pois quase 80% de suas terras
estão entre o Trópico de Câncer e o Trópico de Capricórnio. Nessa área, encontramos quatro tipos de clima e vegetação: deserto e
sua vegetação desértica, savanas e pastagens imersas em um clima tropical, um clima equatorial sobre a floresta equatorial úmida
e, nas extremidades norte e sul, um clima e vegetação mediterrânea.

O mais quente deserto do mundo é o Saara. Com 9.400.000 km, sua área engloba os desertos da Núbia e da Líbia, além das zonas
semidesérticas do Sahel. Correspondendo a cerca de 30% das terras africanas, a paisagem do Saara não é formada apenas por
areia, predomina-se uma formação rochosa de montanhas e planaltos, denominada de reg (em árabe). À noite, a temperatura é
extremamente fria, podendo ultrapassar 0 °C e o dia altamente quente, quase 45°. Na parte sul, está o deserto do Kalahari
(930.000 km²), o segundo maior da África, localizado, principalmente, sobre a Botswana, onde a paisagem predominante são as
amplas dunas vermelhas.

Diferentemente do que você está acostumado a ver no cinema, a vegetação predominante na África não é a densa floresta tropical
úmida e sim as savanas, um tipo de ecossistema caracterizado pela contínua vegetação herbácea e um dorsal interrompido por
arbustos e árvores. As estações climáticas se dividem em períodos secos e chuvosos e a quantidade de chuvas acaba por
determinar o tipo de vegetação e o nível de ocupação humana.

Cerca de 50% do território africano é coberto por savanas. Essa vegetação está subdividida em três regiões: abaixo do Saara, na
região oeste, onde vivem 13% da população do continente; no centro sul, no qual os habitantes do local chamam as savanas de
Miombo; e uma longa faixa que vai da Etiópia até a Tanzânia na região leste (GOEDERT; WAGNER; BARCELLOS, 2008).

Com um tamanho menor que as savanas e os desertos, a floresta equatorial úmida abrange sete países, quase todos da África
Ocidental e Central. Esse tipo de vegetação possui uma grande biodiversidade com uma fauna recheada de animais de médio e
pequeno porte, diversas aves, chimpanzés e gorilas (animal ameaçado de extinção) e uma flora riquíssima, com árvores gigantes,
cujas copas cobrem a entrada da luz solar. Serrano (2010) destaca que a floresta tropical não é habitat natural do leão, “o rei da
selva”, predadores adaptados a perseguir suas presas necessitam de territórios abertos com poucos obstáculos que só existe em
regiões de savanas.

Figura 6 - Zebras, gnus e flamingos ao fundo. Cratera de Ngorongoro, Tanzânia

A “ausência de civilização” representada na imagem de uma África tomada por uma grande floresta
equatorial, impenetrável, recheada de feras, insetos nocivos e povos primitivos é uma construção do
colonialismo do século XIX, que foi repetido a exaustão no século XX, por meio dos relatos de viajantes,
literatura de ficção, bibliografia acadêmica e pelo cinema (Serrano).

O clima mediterrâneo está presente em duas regiões: a primeira é no extremo noroeste sobre a Cordilheira do Atlas; a segunda é
no extremo sul, sobre Cabo da Boa Esperança, no litoral sul-africano. Esse clima é caracterizado por verões secos e a moderação da
temperatura é regulada pela influência do Mar Mediterrâneo ao norte e do Oceano Atlântico ao sul. Sua vegetação é composta por
coníferas e campos naturais.

Hidrografia
A imensa disponibilidade de água doce é outra característica do continente. A maior parte dos rios corre para o interior em direção
a zonas lacustres, como acontece no lago Chade (ou Tchad). Cascatas e cachoeiras também são comuns: no curso do Rio Zaire (ou
rio Congo), existe a Cachoeira Livingstone e as Cataratas Boyoma, antiga Stanley Falls. E, próximo da fronteira com o Zimbábue, as
Cataratas Vitória ou Vitória Falls na Zâmbia.

Figura 7 - Cataratas Victória ou Mosi-o-Tunya “fumaça que troveja” no idioma Tonga (Zâmbia, Zimbabwe)

Nos cursos fluviais, destacam-se, ao menos, quatro rios e suas bacias hidrográficas: Rio Nilo, Rio Zaire, Rio Níger e Rio Zambeze.
Esses compreendem, em ordem crescente, as quatro principais bacias hidrográficas da África.

A bacia hidrográfica do Rio Nilo (6.695 km de extensão) atinge dez países. O Rio Zaire ou Rio Congo (4.667 km de extensão) possui
a segunda maior bacia hidrográfica do mundo em volume d’água, mas seus rios não são acessíveis para embarcações de médio ou
grande porte. O Rio Níger (4.185 km de extensão) é um dos principais rios da África Ocidental e sua bacia hidrográfica se integra a
outros rios. O Rio Zambeze (2.650 km de extensão) é o quarto rio em importância na África e suas águas percorrem várias zonas de
planaltos, o que dá ao seu curso inúmeras cataratas e, consequentemente, dificulta a locomoção por barcos (PRADA, 1968).

Figura 8 - Rio Nilo no Cairo


Além dos rios, os lagos são de suma importância para a manutenção da vida no continente. Os principais são: o Lago Vitória, o Lago
Taganica e o Lago Malawi na África Oriental e o Lago Chade na África Ocidental.

O Lago Vitória ou Vitória Nyanza (68.100 km²) é o maior dos lagos africanos e está localizado em uma área de clima equatorial.
Fica sobre uma região de planalto a quase 1.134 m acima do nível do mar, suas águas são propícias para pesca e alimentam vários
rios da região, inclusive o rio Nilo.

O Lago Taganica (31.900 km²) é o segundo dos lagos africanos e está localizado sobre uma área de depressão na África Oriental. É
mais extenso que o lago Vitória no sentido norte sul e o segundo lago em profundidade do mundo. O setor sul do lago é rodeado
por altas escarpas, o que deixa a margem norte baixa, facilitando o processo de inundação durante os períodos de chuvas e,
consequentemente, contribuindo para o aumento do fluxo d’água dos rios que avançam sobre sua orla (PRADA, 1968).

O Lago Malawi ou lago Niassa (31.080 km²) é o terceiro entre os quatro grandes lagos africanos e seu formato se assemelha ao
lago Tanganica. Sua fauna é muito abundante e, por isso, o local abriga o Parque Nacional do Lago Malawi, Patrimônio Mundial da
UNESCO desde 1984. Com uma paisagem montanhosa, águas profundas e cristalinas, o parque conta com a maior variedade de
espécies dentro de um único lago, algo entre 500 e 1.000 espécies, o que dá ao lago uma grande importância para o estudo da
evolução comparável a dos tentilhões das Ilhas Galápagos estudado por Darwin (UNESCO, on-line).

O Lago Chade é, hoje, um grande pântano que está, aos poucos, enchendo-se de areia, do qual o volume de água avança e
retrocede de acordo com os rios que afluem em seu leito. Trata-se de um lago em processo de decomposição. Na década de 60, o
lago tinha cerca de 25.000 km², hoje, a área é de, aproximadamente, 500 km². A capacidade hídrica do lago vem diminuindo devido
a mudanças nos parâmetros climáticos e da exploração desenfreada em virtude do aumento populacional. Calcula-se que mais de
10% relativo ao seu tamanho original já se perdeu nas últimas décadas (A DIMINUIÇÃO…, on-line).
A Geografia Humana e Política da África
A divisão política do continente africano é caracterizada por cinco macros regiões, 59 países e diversas ilhas espalhadas pelo
Oceano Atlântico e o Oceano Índico. As fronteiras estão em constante modificação, de tempos em tempos, novas nações são
criadas e países ganham e perdem territórios. Essa constante reconfiguração do espaço político africano interfere diretamente na
economia e na sociedade, os países possuem fronteiras políticas frágeis e o fato de grupos e etnias serem vizinhas há séculos não
significa que ambos compartilhem da mesma cultura ou se identifiquem como iguais.

Figura 9 - A África hoje (mapa)


Problemas semelhantes acontecem na Europa, onde os catalães não se identificam como espanhóis e, constantemente, pedem a
separação de seu território. Contudo, desde os anos de 1990, muitas fronteiras estão se consolidando, o que nos permite traçar
um quadro geral das cinco macrorregiões africanas.

As cinco macrorregiões africanas

O Norte da África é o local que tem laços históricos com a Europa e o Oriente Médio. Por séculos, as embarcações gregas e
romanas comercializavam produtos vindos de Catargo ou do Egito, e israelenses e árabes trafegaram pela Península do Sinai muito
antes dos cruzados chegarem à região no século XIV (CHITTICK, 1983). Todos os países são banhados pelo mar Mediterrâneo e a
proximidade com o mundo europeu ficou registrada em diversas igrejas cristãs que foram desaparecendo com a chegada do Islã
que, hoje, é a religião predominante. Para quem vive sobre o Saara, a água é um problema constante.

Os recursos hídricos são adquiridos por fontes subterrâneas, pequenos rios e oásis, o que interfere diretamente na organização
social. O contraste entre campo e cidade é gritante, existem cidades em processo de modernização coexistindo com amplas zonas
rurais que transmitem, ao observador externo, a impressão de que a população local não evoluiu. Técnicas tradicionais de cultivo
dividem espaço com as tentativas de implantação de novas práticas, o que dificulta qualquer forma de análise da situação
econômica da região.

Devido ao clima seco e árido, as pessoas estão quase sempre fora de suas casas, espalhadas pelas ruelas estreitas da antiga
arquitetura urbana e histórica, por isso, vemos, nos filmes e novelas, grandes mercados de rua, como o Jemaa El Fnaa de
Marrakech, no Marrocos. A vida citadina é regra e não uma exceção apesar da vida nômade (grupo de pessoas que estão em
constante movimento pelo deserto) não ter desaparecido por completo.

A agricultura é limitada pela expansão do deserto do Saara que, em contrapartida, fornece petróleo. Poços foram escavados na
Argélia e na Líbia, onde a riqueza gerada atingiu o seu ápice, resultando diretamente na melhoria e vida da população. O maior IDH
(2013) do continente pertence à Líbia (0,784), número 55º no ranking mundial, 24 colocações a frente do Brasil (0,744 – nº 79º)
(RANKING…, on-line).

A segunda macrorregião é o Oeste da África. Formada por 15 países, a maioria pertencia à instituição colonial Federação Africana
Ocidental Francesa, que foi extinta em 1960. A extração de minérios e petróleo dita o tom do desenvolvimento econômico. A
Nigéria, o país mais populoso da África, também é um dos maiores exportadores de petróleo do continente, sendo a multinacional
Shell o maior grupo que atua na região.

Em Serra Leoa, a extração desenfreada de diamantes, desde a década de 50, trouxe ao país riqueza e desequilíbrios políticos e
econômicos que resultaram em uma longa guerra civil a partir dos anos de 1990, que só foi apaziguada, em 2002, com a
interferência da ONU.
Figura 10 - Jemaa El Fnaa de Marrakech, Marrocos

Um dado interessante que demonstra o quanto é problemática a situação política do continente aconteceu
no ano de 1975, quando quase 350 mil pessoas desarmadas se juntaram ao rei de Marrocos e realizaram a
“Marcha Verde”. A marcha tinha como objetivo solicitar junto a Espanha o direito de anexar ao seu território
a antiga colônia Saara Espanhol que, atualmente, recebe o nome de Saara ocidental. A região é considera
mais uma zona geografia do que uma nação-Estado e, por isso, é palco de disputa entre Marrocos, Argélia,
Mauritânia e pela Frente Polisário, que, desde 1976, luta para transforma a região em um país reconhecido
e independente com o nome de República Árabe Saaraui Democrática (RASD).

Fonte: Murray (2007).

O setor industrial é precário e a agricultura acaba por incorporar a maior parte da população que divide o seu tempo entre a
agricultura de subsistência e de exportação. Comércio e manufatura são realizados com produtos da região. Em Dakar e no
Senegal, são confeccionados e vendidos vários tipos de cestos e objetos diversos. Em Kano, na Nigéria, existe uma manufatura de
tingimento com índigo, substância que proporciona uma forte tonalidade de azul nos tecidos.

Com relação às moradias, cada região tem suas particularidades. Na curva do Rio Níger, no Mali, os dogons (habitantes locais)
vivem em aldeias de formato retangular. Na cidade de Oulata, na Mauritânia, as casas são feitas com gesso e tijolos de argila. Os
crioulos de Serra Leoa e os americano-liberianos, que vieram dos Estados Unidos para a Libéria com o fim da escravidão, em 1863,
mantiveram o estilo de indumentária e de construção civil ocidental. Em Benin, na cidade de Ganvie, as casas são erguidas dentro
dos lagos sobre longas estacas e os moradores, ao invés de utilizarem carros, locomovem-se por canoas.

O Centro da África é a terceira região. Durante o período colonial, o território esteve repartido entre várias nações europeias. Os
países ao norte pertenciam à África Equatorial Francesa, Angola estava sobre domínio português e a Guiné Equatorial era
controlada pelos espanhóis. Ao centro do continente, a Bélgica dominava uma grande área colonial, o Congo Belga. Entre 1971 a
1997, com o processo de independência, o território foi rebatizado como República do Zaire e, hoje, é chamado de República
Democrática do Congo.

Os povos que habitam as regiões centrais do continente não formam uma unidade cultural como testemunhamos nas nações
islâmicas do norte, muito pelo contrário, a diversidade predomina. Os pigmeus, que atualmente falam o idioma das populações
vizinhas, vivem em colônias espalhadas pelos bosques da floresta tropical úmida, dedicam-se à caça e à pesca e trocam o excedente
por vegetais e grãos com outros povos.

Os fulanis (ou fulbé) são numerosos, porém extremamente diferentes entre si, tanto em suas características físicas como no estilo
de vida. Alguns chegam a habitar o sudoeste do Chade, onde dividem espaço com os povos baduma, que se alimentam de peixes
oriundos do Lago Chade e se locomovem por meio de barcos leves confeccionados com fibras de papiro.
Figura 11 - Família Fulani do Mali (2008)

Cultura, tradição e economia caminham praticamente juntas. Técnicas tradicionais de agricultura, coleta de peixes e caça são
comuns entre as populações do interior. Contudo, nas últimas décadas, a mineração vem provocando mudanças no padrão de vida.
A extração e a exportação do manganês e do urânio têm contribuído para a modernização e industrialização de várias cidades
(MURRAY, 2007). Um exemplo é a mina de Moanda, que fica em Franceville, a terceira maior cidade do Gabão, localizada na região
sudoeste do país.

Preservar a cultura de seus antepassados não é sinônimo de atraso. Tradição e modernidade podem andar
juntas em prol do desenvolvimento social e econômico, haja vista o caminho trilhado pelo Japão (o autor).

A quarta região é o Leste da África. Acima da linha do Equador, está o Chifre da África, onde grande parcela da população
compartilha a fé islâmica e outra preserva o estilo de vida nômade. Apesar de serem de etnias distintas e estarem quase sempre
em conflitos, ambas dividem elementos culturais em comum, todas se dedicam ao pastoreio e tentam sobreviver ao ambiente
hostil do semiárido somaliano. Nas terras altas da Etiópia e da Eritreia, existe uma população cristã que conserva as antigas Igrejas
construídas por volta do século IV d.C., que serão apresentadas na Unidade 2.

Em termos culturais, as cerimônias religiosas fazem parte do cotidiano da população local. Agricultores e pastores que vivem nas
áreas altas resolvem os problemas e fazem seus rituais de forma democrática sob a presidência de um conselho de anciões e sem a
definição de um líder. No Quênia e na Tanzânia, existem diferentes grupos étnicos que preservam seus idiomas tradicionais e
compartilham traços culturais em comum, como as cerimônias de circuncisão que servem para demarcar a transição de grupo
etário. Os meninos deixam de ser crianças e tornam-se guerreiros e as meninas ficam prontas para o casamento.

A circuncisão em meninas se tornou um problema de saúde pública em muitos países e, hoje, é ativamente
contestada por movimentos feministas e organizações internacionais. A prática ocorre independentemente
da influência religiosa e é feita por cristãos, judeus, muçulmanos e animistas (aqueles que acreditam em
espíritos que dão a vida a todas as coisas) que a justificam com conceitos morais e culturais. É por isso que a
ativista Fardhosa Mohamed se questiona: “se a cultura fere o seu corpo, por que preservá-la?”. Leia mais
sobre esse costume e a opinião de Fardhosa Mohamed no link disponível em:
http://www.pordentrodaafrica.com/default/circuncisao-feminina-se-a-cultura-fere-o-seu-corpo-por-que-
manter-esse-costume-diz-ativista-fardhosa-mohamed .

Fonte: adaptado de Luz (2014, on-line) 1


.

A última macrorregião é o Sul da África. Você deve ter em mente que sua principal característica é o grande desequilíbrio
econômico entre os países. As precárias economias agrárias de Lesoto e Botsuana contrastam com a economia industrial de
extração de minérios da África do Sul, o país mais extenso e mais rico da região. A hegemonia dos sul-africanos frente aos demais
foi ampliada após o fim do Apartheid, em 1994, regime de segregação racial que deixou marcas sociais profundas na população.

A grande minoria branca da África do Sul e da Namíbia possui melhores condições de vida, acesso à educação e bens de consumo,
além de controlar a maior parte do setor produtivo e as melhores zonas agrícolas. Os descendentes de holandeses concentram um
grande poder político e econômico frente aos demais e se esforçaram para criar uma cultura e língua própria: o afrikaans
(MURRAY, 2007).
Figura 12 - Cidade do Cabo na África do Sul

Lesoto e Suazilândia são pequenos e representam muito pouco em termos econômicos para a região. A economia de Lesoto está
entre as menos desenvolvidas do mundo e quase toda a população se dedica à agricultura e à pecuária. Já a economia da
Suazilândia vem se diversificando, mas a maior parte da população ainda trabalha na agricultura de subsistência e no pastoreio. O
principal produto de exportação é o açúcar, seguido das frutas cítricas, do ferro, do carvão e do amianto.

Figura 13 - Escola em Malealea (Lesoto, 2015)

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ATIVIDADES
1. Sobre a origem, evolução e expansão humana, marque V para verdadeiro ou F para falso e assinale a alternativa correta.

( )Os primatas se diferenciam dos outros mamíferos placentários pelo desenvolvimento precoce do cérebro, pela substituição das
garras por unhas chatas e pela oposição do polegar aos outros dedos.

Foi em 1934, no sítio arqueológico de Laetoli, na Tanzânia, que se descobriu o mais antigo esqueleto humano batizado com o
( )

nome Lucy.

( ) O Homo neanderthalensis é o único hominídeo que não se originou em solo africano.

a) V, F, V.

b) V, V, V.

c) V, F, F.

d) F, F, F.

e) Nenhuma das alternativas anteriores está correta.

2.Os debates entre criacionistas e evolucionistas influenciaram os rumos das ciências no século XIX. Com base em seus
conhecimentos sobre o tema, complete as lacunas do excerto a seguir.

O debate sobre a origem, evolução e expansão humana surge no século XIX e perpassa por duas correntes: a primeira
é______________________________, que procura explicar a formação do mundo e do homem por meio das narrativas encontrada na
Bíblia, mais precisamente no______________________________em que se encontram os detalhes da maneira como Deus criou o planeta. A
segunda foi desenvolvida por intermédio da crítica à primeira e é chamada de______________________________. Trata-se da explicação
elaborada pelo_____________________________, sendo a obra mais influente “A origem das espécies”, de 1859, escrito pelo cientista
inglês Charles Darwin (1809-1882).

a) A vertente criacionista – Evangelho de São Mateus – determinista – pensamento critico teológico.

b) A vertente evolucionista – livro do Gênesis – criacionista – pensamento científico do período.

c) A vertente criacionista – livro do Gênesis – evolucionista – pensamento científico do período.

d) Nenhuma das alternativas anteriores está correta.

Resolução das atividades

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Considerações Finais
A expansão humana e a origem do homem ocorreram há milhares de anos em solo africano. A natureza percorreu um longo
caminho evolutivo, os hominídeos passaram por várias fases de adaptação genética, como o desenvolvimento do polegar opositor
e maior capacidade cerebral, até chegar ao Homo sapiens É importante destacar que existem duas correntes teóricas que explicam
.

a origem do homem: a primeira é a criacionista e se fundamenta na leitura da Bíblia; a segunda é a evolucionista e se baseia na
interpretação científica do mundo.

Para você compreender esse processo de evolução, no entanto, é necessário estudar o espaço físico africano. A grande massa de
terra que forma a África tem um clima predominantemente tropical e relevos de características diversas, com planícies,
montanhas, depressões e planaltos. Lembre-se que a hidrografia é marcada pela abundância de lagos, rios e cachoeiras, destaque
para os Grandes Lagos Equatoriais, o Lago Chade e as bacias dos Rios Nilo, Zaire, Níger e Zambeze. Chamo sua atenção para a
cobertura vegetal, a floresta tropical úmida está apenas no centro do continente e é a savana a vegetação predominante, seguida
das áreas desérticas e semiáridas.

A partir desse panorama geral sobre o relevo, vegetação e hidrografia, fica mais fácil a você, aluno(a), examinar a África Política e
Humana. As macrorregiões africanas são completamente diferentes entre si em termos socioculturais, políticos e econômicos.
Destaque para o contraste entre campo e cidade presente em todas as regiões, a conservação das antigas tradições, as tentativas
de modernização e os problemas do desenvolvimento. Importante: a diversidade cultural é o único fator predominante.

E, agora, caro(a) aluno(a), como passou a ver a África a partir desses conhecimentos? Pense e reflita sobre o que aprendeu com
este estudo.

Espero que tenha achado estas informações interessantes.

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RESUMO
A África é o terceiro maior continente do planeta e sua formação geológica está entre as mais antigas. Há um predomínio de
planalto seguido de áreas de depressões ao centro e montanhas ao norte, ao leste e ao sul. O potencial hidrográfico é alto devido à
abundância de rios e lagos, especialmente nas regiões de clima tropical, que contrastam com as grandes áreas desérticas e
semidesérticas. O clima predominante é o tropical, embora existam pequenas faixas de clima mediterrâneo no litoral da África do
Sul e na costa do Mediterrâneo.

Foi nesse espaço que a natureza gerou os primeiros primatas, entre 20 a 10 milhões de anos atrás no leste da África. No século XIX,
houve um intenso debate entre duas teorias que explicavam a origem do homem: a criacionista e a evolucionista. Os arqueólogos,
a fim de porem em prática ambas as teorias, realizaram várias escavações e descobriram que o processo de evolução da
humanidade passou por estágios: do primeiro primata, veio o Australopithecus e, posteriormente, Homo sapiens e, desse último, o
Homo habilis Homo erectus Homo neanderthalensis e Homo sapiens O ancestral comum entre todos é uma fêmea que se chama Lucy,
, , .

encontrada, em 1974, na Etiópia. Esse ancestral foi primogênito da diversidade cultural africana.

O continente está dividido em cinco macrorregiões: norte, oeste, centro, leste e sul. Cada uma possui suas particularidades e todas
enfrentam problemas semelhantes, como o contraste entre área urbana e rural, os desafios da modernização, economias frágeis
com pouca industrialização (talvez com exceção da África do Sul) e a dependência da exportação de minérios, petróleo e produtos
agrícolas.

As tradições antigas estão vivas e cada povo conserva a sua identidade cultural, por isso, é comum encontrarmos tradições
diferentes em um mesmo país. Vale destacar que muitas das fronteiras presente hoje foram impostas pelo colonialismo do século
XIX, e esse é um dos motivos que dificulta a reorganização política dos países.

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Material Complementar
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REFERÊNCIAS
A DIMINUIÇÃO do Lago Chade European Space Agency (ESA). Disponível em: < http://www.esa.int/SPECIALS/Eduspace_PT
.

/SEMJOC9W1NH_0.html >. Acesso em: 14 set. 2015.

CHITTICK, N. África del este y oriente: los puertos y el comercio antes de la llegada de las portugueses. In: Relaciones históricas a
través del océano Índico: informe y documentos de trabajo de la reunión de expertos sobre “Los contactos históricos entre
África Oriental por una parte y el sureste asiático por otra, a través del océano Índico”, Mauricio, 1974. Barcelona: SERBAL;
Paris: Unesco, 1983.

COOK, M. Uma breve História do Homem. Rio de Janeiro-RJ, Jorge Zahar Ed. 2005, p. 105.

COPPENS, Y. A hominização: problemas gerais-Parte 1. In: KI-ZERBO, Joseph. História geral da África Metodologia . e pré-história
da África. Brasília-DF: UNESCO, 2010.

FILE:CAPANNOLI, Centro di documentazione archeologica, ricostruzione di lucy, austraulopiteco afarense 02.JPG. Wikimedia
Commons. Disponível em: < https://commons.wikimedia.org
/wiki/File:Capannoli,_centro_di_documentazione_archeologica,_ricostruzione_di_lucy,_australopiteco_afarense_02.JPG?uselang=
pt-br >. Acesso em: 25 maio 2016.

FILE:MALI family.jpg. Wikimedia Commons. Disponível em: < https://commons.wikimedia.org


/wiki/File:Mali_family.jpg?uselang=pt-br >. Acesso em: 27 maio 2016.

FILE:TIBESTI east of bardai.jpg. Wikimedia Commons. Disponível em: < https://commons.wikimedia.org


/wiki/File:Tibesti_east_of_bardai.jpg >. Acesso em: 25 maio 2016.

GOEDERT, W. J.; WAGNER, E.; BARCELLOS, A. O. Savanas Tropicais: dimensão, histórico e perspectivas. In: FALEIRO, F. G.; FARIAS
,A. L. (Eds.). Savanas: desafios e estratégias para o equilíbrio entre sociedade, agronegócio e recursos naturais, p. 49–80. Embrapa
Cerrados, Planaltina, DF. 2008. Disponível em: < http://simposio.cpac.embrapa.br/simposio/projeto/palestras/capitulo_2.pdf >.
Acesso em: 5 out. 2015.

KI-ZERBO, J. Teorias relativas às “raças” e história da África-PARTE II. In: KI-ZERBO, J. História geral da África I: Metodologia e
pré-história da África. Brasília-DF: UNESCO, 2010.

LEAKEY, R. Os homens fósseis africanos. In: KI-ZERBO, J. História geral da África I: Metodologia e pré-história da África. Brasília-
DF: UNESCO, 2010.

LUZ, N. da. Circuncisão Feminina: “Se a cultura fere o seu corpo, por que preservá-la?”, diz ativista Fardhosa Mohamed. Por dentro
da África. 2014. Disponível em: < http://www.pordentrodaafrica.com/default/circuncisao-feminina-se-a-cultura-fere-o-seu-corpo-
por-que-manter-esse-costume--diz-ativista-fardhosa-mohamed >. Acesso em: 30 set. 2015.
MILHORANCE, F. Trilhas e tirolesas em Drakensberg, a maior cadeia de montanhas da África doSul. O Globo. 2013. Disponível em:
< http://oglobo.globo.com/boa-viagem/trilhas-tirolesas-em--drakensberg-maior-cadeia-de-montanhas-da-africa-do-
sul-8747018 >. Acesso em: 29 ago. 2015.

MUNANGA, K. Origens africanas do Brasil contemporâneo: história, línguas e civilizações. São Paulo-SP: Global Editora, 2009.

MURRAY, J. África: o despertar de um continente. Grandes civilizações do passado. Barcelona: Ed. Folio, 2007.

PRADA, V. V. Geografia Universal. Tomo IV África Oceania, 1968.

RANKING IDH Global 2013. Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). Disponível
em:< http://www.pnud.org.br/atlas/ranking/Ranking-IDH-Global-2013.aspx >. Acesso em: 29 ago. 2015.

SERRANO, Carlos. Memória D’África: a temática africana em sala de aula São Paulo: Ed. Cortez, 2010.
.

UNESCO. Lake Malawi National Park Disponível em: < http://whc.unesco.org/en/list/289


. >. Acesso em: 14 set. 2015.

UNESCO. Maloti-Drakensberg Park Disponível em: < http://whc.unesco.org/en/list/985


. >. Acesso em: 29 ago. 2015.

REFERÊNCIAS ON-LINE

1 Em: < http://www.pordentrodaafrica.com/default/circuncisao-feminina-se-a-cultura-fere-o-seu--corpo-por-que-manter-esse-


costume-diz-ativista-fardhosa-mohamed >. Acesso em: 18 jul. 2016.

2 Em: < http://www.mixcidade.com.br/noticias/mundo/1227/rachadura+gigante+com+56+km+-


na+etiopia+ira+criar+um+novo+oceano+na+africa >. Acesso em: 18 jul. 2016.

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APROFUNDANDO
O crescimento desordenado das cidades brasileiras a todo momento apresenta novos fenômenos sociais como consequência.

No entanto, o conflito existente entre o desenvolvimento urbano e a preservação do meio ambiente continua sendo um desafio de
longa data, mas que se renova diariamente e parece ganhar novos contornos.

Se é verdade que os níveis de poluição atmosférica vem apresentando quedas significativas nos últimos anos graças ao uso de
novas tecnologias (MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE), por outro lado desastres ambientais atingem diretamente a vida de
habitantes das cidades brasileiras.

Vejamos, por exemplo, o recente caso do rompimento da barragem de Mariana, Minas Gerais, a maior tragédia ambiental do Brasil.
É intrigante que um distrito inteiro (Bento Rodrigues) estivesse tão próximo da barragem que se rompeu em 05 de novembro de
2015, mas não surpreende o fato de que quem ali habitava eram pessoas de humildes condições econômicas (FAMÍLIAS, 2016).

A população pobre brasileira não apenas vive uma situação de vulnerabilidade social, mas também ambiental, uma vez que é a mais
exposta mais frequentemente aos riscos de desastres:

Os moradores dessas áreas precárias são os mais afetados pelas mudanças no regime de chuvas, por
exemplo. Essa vulnerabilidade pode decorrer tanto da variabilidade climática natural quanto do
crescimento da urbanização, que contribuiu para agravar os efeitos da “ilha de calor” – fenômeno climático
que ocorre principalmente nas cidades com elevado grau de urbanização, como São Paulo, onde o ar e as
temperaturas da superfície são mais quentes do que em áreas rurais no entorno –, apontaram
pesquisadores participantes do evento.

O desastre da barragem de Mariana, aliás, é um paradigma no que diz respeito às complexas consequências que a
irresponsabilidade ambiental causa nos espaços ocupados pelo homem.

Não apenas um distrito fora extinto, mas a onda de lama também tirou vidas, casas, empregos, atingiu outras cidades e outros
estados e chegou ao mar, bem como ao Rio Doce, um dos principais rios da região sudeste do país, que restou contaminado pela
tragédia (MPF. 2016).

Assim, nota-se que, paradoxalmente, ainda vivenciamos tragédias incompatíveis com uma sociedade que se vê desenvolvida
econômica e tecnologicamente. Vidas são perdidas pelo simples fato de conseguirmos, ainda, compatibilizar nosso crescimento
com o espaço que ocupamos. Portanto, a busca por um planejamento urbano que realmente tenha como alvo o bem-estar da
coletividade no futuro necessita olhar para o meio ambiente como local de vida humana e não como bem por ela consumida.

REFERÊNCIAS

AGÊNCIA FAPESP. Desastres Ambientais impactam diferentemente pequenas e grandes cidades 2016. Disponível em:,

http://agencia.fapesp.br/desastres_ambientais_impactam_diferentemente_pequenas_e_grandes_cidades/24412/. Acesso em 02
de abril de 2017.

FAMÍLIAS de Bento Rodrigues querem esquecer tragédia e recomeçar. O tempo Cidades, 01 jan. 2016. Disponível em:
,

http://www.otempo.com.br/cidades/fam%C3%ADlias-de-bento-rodrigues-querem-esquecer-trag%C3%A9dia-e-reco-
me%C3%A7ar-1.1202978 Acesso em 13 mar. 2017.
.

MPF ENTRA com ação para interditar pesca na Foz do Rio Doce (ES). Ministério Público Federal. Disponível em:
http://www.mpf.mp.br/mg/sala-de-imprensa/noticias-mg/forca-tarefa-do-mpf-entra-com-acao-para-interditar-pesca-na-foz-do-
rio-doce-es Acesso em: 13 mar. de 2016.
.

http://www.mma.gov.br/informma/item/7243-novas-tecnologias-diminuem-poluicao-do-ar .

PARABÉNS!

Você aprofundou ainda mais seus estudos!

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EDITORIAL

DIREÇÃO UNICESUMAR

Reitor Wilson de Matos Silva

Vice-Reitor Wilson de Matos Silva Filho

Pró-Reitor de Administração Wilson de Matos Silva Filho

Pró-Reitor Executivo de EAD William Victor Kendrick de Matos Silva

Pró-Reitor de Ensino de EAD Janes Fidélis Tomelin

Presidente da Mantenedora Cláudio Ferdinandi

C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ Núcleo de Educação .

a Distância; RODRIGUES Carlos Eduardo; ,

Historia e geografia africana: um panorama Carlos Eduardo .

Rodrigues;

Maringá-Pr.: UniCesumar, 2017. Reimpr. 2021.

38 p.

“Pós-graduação Universo - EaD”.

1. História. 2. Cultura. 3. EaD. I. Título.

CDD - 22 ed. 320

CIP - NBR 12899 - AACR/2

Pró Reitoria de Ensino EAD Unicesumar

Diretoria de Design Educacional

Equipe Produção de Materiais

Fotos Shutterstock
:

NEAD - Núcleo de Educação a Distância

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HISTÓRIA E
SOCIEDADES
AFRICANAS DA
ANTIGUIDADE E DA
IDADE MÉDIA
Professor (a) :

Me. Carlos Eduardo Rodrigues

Objetivos de aprendizagem
• Compreender a diversidade cultural das sociedades africanas.

• Estudar a organização das sociedades tradicionais na África (cenário geral).

• Explicar o desenvolvimento das antigas civilizações africanas.

• Descrever a formação de reinos, cidades e Estados na África Ocidental.

• Entender o começo do cristianismo e do islã na África.


Plano de estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:

• Sociedades africanas tradicionais

• Sociedades africanas da Antiguidade

• Sociedades africanas da Idade Média

Introdução
Olá, caro(a) aluno(a). É com satisfação que eu, Professor Mestre Carlos Eduardo Rodrigues, apresento a você a disciplina História e
sociedades africanas da Antiguidade e da Idade Média.

Dando visibilidade à História da África, tema que entrou no universo escolar com a Lei 10.639/2003, que instituiu a
obrigatoriedade do ensino de História e Cultura Africana nas escolas, mostraremos as contribuições do continente africano para a
História do mundo.

Começaremos explicando o significado básico de sociedades tradicionais. Esse conceito é fundamental para a compreensão da
organização social, política e econômica dos africanos, já que grande parte das nações preservam os costumes e as crenças de seus
ancestrais, mesclando-os com o mundo do século XXI. A diversidade é característica marcante entre os africano, e a tradição,
talvez, seja o único ponto em comum entre todas as sociedades.

Em seguida, nossa discussão será acerca das sociedades africanas que se desenvolveram na antiguidade. Você estudará a estrutura
social das civilizações do Egito, Meroé, Axum, Etiópia e do Império do Monomotapa. Destaque para a presença do cristianismo na
Etiópia e no Reino do Congo. Atenção também para o desenvolvimento natural dos habitantes africanos, especialmente nas
regiões que progrediram de aldeias para Estados.

Por fim, a ênfase é o Islã, religião que avançou sobre a África na Idade Média e exerceu forte influência nos habitantes do Norte da
África, da África Oriental e principalmente nas vilas e cidades do Sudão Ocidental. Você verá a influência do Islã nos reinos de
Gana, Mali e Songai. É importante compreender como os povos dessas áreas, com suas culturas e tradições, relacionaram-se com
esta nova crença.

Bons estudos!
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Sociedades Africanas Tradicionais


Quando pensamos nas sociedades africanas, logo vem à cabeça a imagem da miséria e de tribos “pitorescas”. Essa visão sobre o
continente não é culpa sua, já que, durante anos, a História da África lhe foi negada e a desinformação atuou como meio de
manutenção de estereótipos raciais desenvolvido por vários pensadores, como o filosofo iluminista Hegel (1770-1831), que, em
sua famosa obra “Filosofia da história” (o título original é Lições sobre a Filosofia da História - póstumo: 1937 ), escreveu:

África não é um continente histórico; ela não demonstra nem mudança nem desenvolvimento, e o negro
representa o homem natural em toda a sua barbárie e violência; para compreendê-lo devemos esquecer
todas as representações europeias (HEGEL, 1937 apud HERNANDEZ, 2008, p. 21).

O leitor deve estar se perguntando qual a ligação do pensamento de Hegel com o cotidiano. Explico! Segundo Santos (2012), essa
ideia se faz presente no pensamento hegemônico que se baseia no racismo, na naturalização das desigualdades sociais e na
,

criminalização da pobreza. A força do discurso hegemônico está presente nos debates referentes ao negro e sua história, por meio
de descrições que enfatizam situações de subserviência e exploração, sem a preocupação em demonstrar uma história da
população negra muito além da escravidão. Além disso, esse discurso atribui aos povos europeus a superioridade cultural, política
e econômica.
Figura 1 - Georg Wilhelm Friedrich Hegel

Devido à fragilidade desse discurso, é de suma importância ensinar aos alunos uma História da África que resgate as contribuições
sociais, culturais, políticas, religiosas e econômicas da população negra, e a sua importância para a formação histórica do Brasil e
do mundo. Só dessa maneira será possível criar, nos cidadãos, uma consciência crítica que atue contra a ideia hegemônica presente
em nossa sociedade (SANTOS, 2012). Dentro dessa perspectiva, a proposta deste momento é apresentar a você, leitor(a), um
panorama das sociedades africanas, para que tenha subsídios teóricos para navegar contra o pensamento hegemônico.

Sociedades tradicionais

Caro(a) aluno(a), ao ler a palavra tradicional, logo pensa em “coisa velha” ou algo que lembre um passado distante, também
relaciona a palavra com a cultura e a qualquer coisa que remeta à herança de um determinado povo. De fato, a definição da palavra
tradição é “ato ou efeito de transmitir ou entregar, relaciona-se com a transmissão via oral ou escrita, de fatos, lendas, usos e
costumes, de geração para geração” (HOUAISS, 2002). Assim, sociedades tradicionais são aquelas que, de alguma forma, conservam
suas tradições, mas isso não significa abandonar a modernidade.

Tradição não é sinônimo de atraso social e sim de identidade cultural. Esse conceito é importante para compreensão da África no
século XXI, já que a população preserva suas tradições fazendo delas a principal referência cultural e social. Para Serrano (2010, p.
129), “o mundo da tradição africano confunde-se com a chamada economia aldeã ”, que é um tipo de economia autárquica, ou seja,
um modelo de autogerência muito ligada ao ambiente natural de onde as pessoas retiram seu sustento.

Cabe salientar que o termo tradição contrasta com modernidade Se o primeiro faz o aluno lembrar-se do velho, o segundo o leva,
.

imediatamente, a pensar no novo. As ciências sociais interpretam o termo moderno como uma “sociedade geradora de um
enquadramento simultaneamente técnico e unificador, grafada via de regra como ocidental” (SERRANO, 2010, p. 127). Portanto, o
que julgamos como mundo moderno seria um estilo de vida e/ou de convívio social separado de qualquer tipo de tradição. De
imediato, atribuímos às sociedades diferentes da nossa o caráter tradicional, e a nossa (a ocidental) a característica de moderna,
em outras palavras, ser moderno é ser ocidental.

Nossa dicotomia em analisar o mundo entre moderno (o novo) e tradicional (o velho) é um reflexo da nossa formação educacional.
Veja bem, é provável que você conheça muito bem a história da Europa e bem pouco sobre outros lugares do mundo. Isso moldou
em sua mente um exemplo padrão de civilização como sendo o mais desenvolvido.

Essa postura interfere diretamente na maneira de interpretar as sociedades, pois, sem perceber, você utiliza a sociedade europeia
como modelo de desenvolvimento e todas aquelas diferentes são classificadas como atrasadas.
A civilização não é uma consequência predeterminada do progresso humano, como afirmavam os
“[...]

vitorianos, com os anglo-saxónicos brancos a liderar, o resto do mundo a seguir as suas pegadas e os
africanos a arrastarem-se, vários séculos atrás [...]” (Reader).

Posta essa introdução, você está pronto para começar a estudar a organização social dos povos africanos. O texto a seguir trata de
um cenário genérico, que, em maior ou menor medida, procura englobar todas as sociedades.

Simples ou complexas, quase todas as sociedades africanas se organizaram em aldeias em algum momento de sua história. As
famílias residentes nesses povoados eram dirigidas por um chefe de família (geralmente, o patriarca) e todas, sem exceção, deviam
obediência a um chefe da aldeia, responsável por gerenciar toda a comunidade aldeã, aplicando castigos físicos àqueles que fugiam
às normas sociais, distribuindo as terras entre as famílias e liderando os guerreiros em caso de conflito.

A função primordial do chefe de aldeia era zelar pelo bem-estar de todos os núcleos familiares. Essa responsabilidade era dividida
com um conselho constituído pelos chefes das famílias, que o ajudava nos assuntos terrenos e sobrenaturais. Esse último cumpria
um papel importante, pois a orientação para vida terrena vinha do mundo sobrenatural por meio do diálogo com os antepassados
mortos, espíritos da natureza e heróis míticos. Como forma de compensação pelos seus serviços, o chefe da aldeia era sustentado
pelos outros habitantes, que lhe enviavam parte da produção.

Figura 2 - Vilarejo africano na cidade de Matongo (Burundi 2013)

Fonte: African… (on-line).

Segundo Mello de Souza (2007, p. 31), as sociedades africanas estavam organizadas a partir da “fidelidade ao chefe e das relações
de parentesco”, as famílias compreendiam o núcleo principal de organização social e eram formadas pelo chefe de família e seus
agregados. Para o africano, a família é o centro da vida social e individual, pois a sua identidade está centrada no núcleo familiar.
Contudo, o modelo de família africana não é o mesmo que o nosso. Estamos organizados naquilo que os antropólogos chamam de
família nuclear composta por pai, mãe e filhos, ou seja, apenas os parentes próximos. O modelo de família para os africanos é
,

caracterizado como família extensa constituída pelos avós, tios, primos cunhados e os demais parentes distantes. Em grande parte
,

dos idiomas africanos, não há palavras para denominar o que é um “primo”, o que é “tio” ou termologias como “tio-avô”, todos são
considerados irmãos, pais e avós.
Nas sociedades africanas, a família nuclear – homem, mulher, filhos – é desconhecida como elemento
“[...]

autônomo; a família extensa, reunindo os descendentes de um ancestral comum soldados entre si por laços
de sangue e da terra, é o elemento de base, unido por uma grande solidariedade econômica [...]. O
importante é que essas comunidades, qual fosse o seu tamanho, consideram que os seus laços – mesmo os
fictícios – são religiosos e que dela participa a totalidade dos ancestrais, dos vivos e das futuras crianças,
segundo uma corrente contínua de gerações, em ligação sagrada com o solo, o mato, a floresta e as águas
que fornecem a alimentação, aos quais se devem oferecer os cultos [...]”. Consulte: https://periodicos.uem.br
/ojs/index.php/Dialogos/article/view/38026/19777 .

Fonte: Dramani‑Issifou (2010, p. 127).

Você já ouviu a palavra clã ? Como referência à África, ela é utilizada para designar um conjunto de linhagens que partilham um
ancestral comum, eventualmente mítico. Os africanos estabeleciam seus laços de pertencimento a um clã ou a uma linhagem por
meio de uma construção social que procurava fortalecer o sentimento de solidariedade entre as pessoas e que era aprofundada
por rituais de iniciação desde a idade infantil. Os clãs que constituíam as aldeias se articulavam com outros aldeamentos e
formavam confederações de aldeias ,

uma organização social e política mais ampla que as aldeias, que envolviam mais pessoas” e que tem como
líder um conselho composto pelos chefes de aldeias, que elegiam “um chefe com autoridade sobre todos”
(SOUZA, 2007, p. 32).

As aldeias se aproximavam uma das outras pela necessidade de estabelecerem trocas de produtos e aumento da linhagem via
casamentos. As estradas que interligavam uma aldeia à outra serviam como centro de intensivas trocas socioculturais e
econômicas. Em determinados pontos, especialmente nas encruzilhadas, formavam-se as feiras, que atuavam como núcleo da vida
comunitária, em que as notícias eram transmitidas por oralidade. Já a união por casamentos agia como meio para ampliar os laços
políticos e os braços disponíveis para o trabalho. Nesse contexto, a poligamia se tornou uma prática comum, possuir várias
mulheres significava poder e prestígio. Quanto maior o número de mulheres, melhor era a posição hierárquica do chefe na aldeia,
pois o poder político era medido pela quantidade de pessoas que lhes eram subordinadas.
Figura 3 - Registro de um chefe e suas esposas em viagem de caça e exploração pelo Lago Vitória (Uganda, 1910)

Fonte: In… (on-line).

Contudo, a coisa não era tão simples como você pensa. Para se casar, o homem era obrigado a dar à família da noiva um dote, um
valor expresso em algum bem material destinado a compensar aquela família pela perda de um membro, o que significava uma
pessoa a menos para ajudar nos trabalhos diários e menos uma mulher para reproduzir e dar continuidade à família. É claro que,
para um europeu, a poligamia era tida como modo de vida atrasada e que deveria ser combatida pela religião, entretanto, para os
africanos, a prática lhes garantia a ampliação do número de descendentes, além de laços de fidelidade e solidariedade com outras
linhagens ou clãs.

Mary Kingsley e a poligamia

Mary Kingsley viajou pela África no século XIX. Em 1897, publicou Travels in West Africa, no qual relatou
sua vida entre os Fang, povo de língua banta na África Ocidental.

Há outras razões para a poligamia, além da cozinha. A primeira é que é totalmente impossível para uma só
mulher fazer todo o trabalho de uma casa — cuidar das crianças, cozinhar a comida, preparar a borracha e
levá-la ao mercado, buscar num regato a água para o uso diário, cultivar a roça etc. etc. Quanto mais
esposas, menor o trabalho, diz a mulher africana; e conheci homens que prefeririam ter uma só e gastar o
dinheiro com si próprio, de modo civilizado, mas foram levados à poligamia por suas mulheres — e, como é
natural, isso é mais comum nas tribos que não possuem escravos, como os fans. […] Esse costume, pelo que
sei, prevalece em todos os povos africanos, […].

Fonte: Silva (2012, p. 483).

Além das confederações de aldeias, as cidades formavam outro núcleo de vida social. Maiores que as confederações, as cidades
eram cercadas por muros que a protegiam, haja vista que, geralmente, estavam localizadas em meio às rotas de comércio. Cada
chefe de família que morava na cidade exercia uma função especifica, mas devia obediência ao rei, o chefe máximo da cidade. Os
artesãos se agrupavam de acordo com a função que exerciam e, do lado de fora das cidades, habitavam os pastores e os
agricultores. Também havia os grupos nômades que transitavam por vários territórios desérticos e de florestas, e viviam da troca
de artigos da caça, da coleta e do pastoril.
Figura 4 -Representação de um Chefe Zulu na cidade de KwaZulu-Natal (África do Sul 2009)

Quando a autoridade de um chefe superava a dos outros, estava constituído um novo reino, uma forma de organização social com
uma capital em que todas as decisões eram tomadas, já que o número de aldeias juntas deixava muito mais complexa a
administração dos recursos e a organização da sociedade. As capitais concentravam poder, riqueza e pessoas. Em geral, os reinos
africanos possuíam tamanhos variados.

Sociedades Africanas da Antiguidade


“Não se trata de fabricar para a África um passado que ela não tem, e sim de pesquisar o passado que ela na
realidade teve, qualquer que seja ele.”

Fonte: R. Mauny. (LOPES, 2012).

Figura 5 - Afro-civilizações (mapa)

Fonte: File:African… (on-line).

As civilizações do Egito e do Meroé (Núbios)

Foi sobre o Rio Nilo que, nos anos 1960, os arqueólogos encontraram vestígios de antigas comunidades sedentárias. Os registros
datam de 15 mil anos e são a prova mais antiga da civilização egípcia. Por volta de 3.200 a.C., as comunidades sedentárias foram
sendo unificadas em torno de um Estado de caráter teocrático, ou seja, religioso, em que a figura do Faraó era a personificação viva
de Rá, deus-sol, e a fiel cópia de Osíris, senhor do mundo dos mortos. Esse Estado faraônico desenvolveu uma eficiente burocracia
composta por escribas, sacerdotes, chefes militares e escravizados. Com um sofisticado modelo de transmissão do poder via
dinastia, a civilização egípcia perdurou por séculos. Testemunhos de sua durabilidade estão materializados nas grandiosas
pirâmides, nas estátuas dos faraós, nos palácios e nos túmulos que representam o poder sagrado do Faraó.

O Nilo funcionava como um corredor por onde os povos de suas margens se conectavam. Foi por intermédio desse corredor que a
população negra da Núbia conheceu o Egito e, desse encontro, nasceu a civilização Meroé, cuja influência direta na organização da
civilização egípcia é comprovada pelas pinturas nas paredes das pirâmides e na rica arte em estátuas. Apesar da influência, os
núbios eram um problema à hegemonia dos faraós. Contra aqueles que viviam em Yam, Kerma e Kush, as guerras se tornaram
frequentes.

Em 1530 a.C., os faraós impuseram uma severa derrota aos núbios, que só conseguiram se reerguer no ano de 751 a.C., quando um
líder guerreiro de Kush, chamado Piankhy, conquistou o palácio real em Tebas e implantou a 25ª dinastia de faraós, que governou o
Egito até a guerra contra os assírios, no ano de 664 a.C.

A guerra devastou boa parte da sociedade núbia que administrava o Egito, forçando-os a recuarem para a parte sul do curso do Rio
Nilo. Lá, eles reconfiguraram o governo na cidade de Napata e, depois, em Meroé, perto de 500 a.C. a 350 d.C. Monumentos em
pequenas pirâmides, templos para deuses, sepulturas e sarcófagos de granito com quase 25 t somam-se aos testemunhos culturais
deixados pela civilização meroítica.

Um exemplo é o templo dedicado a Âmon-Râ, em Napata, onde as paredes preservam imagens em alto-relevo das divindades
cultuadas no Egito e que foram transmitidas aos povos da Núbia pelo legado de Meroé. Segundo Macedo (2013, p. 26), as
comunidades que se desenvolveram nestas cidades se tratavam de “organizações políticas tipicamente negras que traziam consigo
matriz civilizacional egípcia”.

Figura 6 - Pirâmides de Meroé no deserto de Saara (Sudão)

As civilizações de Axum e da Etiópia

Herdeira da maior parte das tradições da civilização Meroé, a civilização Axum se desenvolveu por volta do século IV, dentro do
Estado Núbio. Sua característica principal era a adoção do cristianismo como religião. Surgido na Palestina, no século I, o
cristianismo se espalhou por Roma e, no século II, chegou ao Egito e se estabeleceu em Alexandria. A cidade, que já era um centro
de difusão da filosofia grega, via-se, agora, como propagadora dos evangelhos cristãos, cuja interpretação bíblica divergia dos
propósitos oficiais do Império Romano e, por isso, foi considerada herege. Uma das doutrinas consideradas hereges dizia que a
natureza divina de Cristo prevalece sobre sua natureza humana e foi chamada de monofisismo condenada pelo Concílio de Éfeso,
,

em 431 d.C.

Figura 7 - Representação de Âmon-Râ por Jean-François Champollion (1790-1832)

Fonte: Amon-Ra… (on-line).


Figura 8 - Cúpula da Igreja de Nossa Senhora Maria de Zion da cidade de Axum (Etiópia)

A cidade de Axum era um grande centro urbano e estava localizada no planalto da Etiópia, possuía forte agricultura de cereais,
pastoreio e trocas mercantis. A organização política era hierarquizada, sendo o título negus dado ao representante máximo. Com a
expansão do Islã, nos séculos VIII e IX, a força de Axum diminuiu, e em seu lugar nasceu o Reino da Etiópia unificado em torno de
um único líder.

Nos séculos X e XI, a liderança desse novo reino mergulhou em uma série de disputas envolvendo os grupos regionais: as famílias
árabes-muçulmanas que haviam dominado o golfo de Aden e os povos pagãos da região sul, representada pelos reinos de Agau e
de Damot, localizados na grande curva do Rio Nilo.

No século XII, os cristãos coptas etíopes conseguiram solidificar sua hegemonia perante os demais grupos, graças às expedições
militares comandadas por Zagwe, da dinastia dos negus E, principalmente, após o ano de 1270, quando a dinastia Salomônida, que
.

reivindicava para si uma origem judaica cristã, subiu ao trono. Ao assumir o trono, essa dinastia se preocupou em criar um conjunto
de ideias para justificar sua ascensão, e as registrou em um conjunto de textos conhecido como Crônicas de Kebra Negast – “ Glória
dos Reis ” (MACEDO, 2013).

Nos séculos XIV e XV, as fronteiras religiosas e políticas do reino já havia incorporado diversas áreas da região sul, como as
províncias de Amhara, Damot, Gojja, e Lasta, fazendo do reino um espaço multicultural e étnico, em que os governantes souberam
aproveitar dessa diversidade para expandir suas fronteiras.

O Grande Zimbábue e o Império do Monomotapa

O Grande Zimbábue é uma imensa fortaleza de pedra construída na África Austral. O nome significa “grande casa de pedra” e foi
visto pelo primeiro europeu, em 1873. A organização política do Grande Zimbabué estava centralizada na figura dos chefes e dos
sacerdotes. A economia era mantida via comércio com os árabes-muçulmanos pelo litoral do Oceano Índico. Segundo fontes
históricas portuguesas do século XVI, os governantes eram chamados de Mwene Mutapa – “Senhor das Minas” –, devido à
quantidade de ouro que carregavam no corpo.
Figura 9 - Ruínas do Grande Zimbábue

Segundo Mello e Souza (2007), os relatos feitos pelos portugueses acerca do Monomotapa o descreviam como um império
poderoso e cheio de ouro, o que incentivou a coroa portuguesa a ampliar o número de expedições para a região durante o século
XVI. Assim, vários lusitanos se fixaram no local para conhecer melhor o império, mantendo boas relações com os chefes e, quando
necessário, casavam com nativas. Contudo, quando ficou evidente que o “Senhor das Minas” não era tão rico assim, a coroa
portuguesa parou de enviar recurso para os colonos. Dessa forma, os colonos passaram a viver a vida comum da África, e seus
filhos se tornaram cada vez mais africanos com o passar dos anos.

Quem construiu o Grande Zimbábue?

Os europeus têm registrado como acham atrasadas a tecnologia, a estética e a moral dos povos africanos
desde o início do século XVI. Sobre esse assunto, indico a leitura do artigo “Quem construiu o Grande
Zimbábue?”, de José Henrique Gonçalves (2004), que toma como ponto de partida a história das hipóteses
sobre as origens do complexo arquitetônico do Grande Zimbábue para discutir o tema. Acesse o artigo no
link disponível em: https://periodicos.uem.br/ojs/index.php/Dialogos/article/view/38026/19777 .

Fonte: o autor.

O Reino do Congo e o cristianismo


Figura 10 - Mapa do Reino do Congo em 1754

Fonte: Congo… (on-line).

O Reino do Congo nasceu no curso inferior do Rio Zaire entre os séculos XIV-XV. Liderados por Nimi a Lukeni, vários grupos de
pessoas ocuparam as terras da margem sul do rio e, por meio de alianças e casamentos, foram se misturando às populações do
local. Os grupos que nasceram dessa mistura eram os muchicongos que conservaram para si os cargos de autoridade. Com o
,

tempo, os muchicongos instituíram uma confederação de aldeias em Banza Congo e, posteriormente, criaram uma estrutura de
poder hierárquica.

Essa estrutura foi descrita por Mello e Sousa (2007, p. 38):

sob a liderança dos muchicongos radicados na capital (Banza Congo), se formou uma federação de
[...] ,

províncias às quais pertenciam conjuntos de aldeias. Nessas, continuaram em vigor os poderes tradicionais
das famílias, as condas que as haviam fundado. Nas aldeias, um chefe e seu conselho tratavam de todos os
,

assuntos referentes à vida da comunidade. Já um conjunto delas estava submetido à autoridade de um


chefe regional, que fazia a ligação delas com a capital, de onde o ntotila ou mani Congo governava todo o
, ,

reino.

Nas aldeias, foram mantidas as chefias existentes antes da chegada dos muchicongos Nas províncias, como
.

os europeus passaram a chamar os conjuntos de várias aldeias, elas foram divididas entre chefes das condas
tradicionais e chefes indicados pelo mani Congo entre os descendentes dos muchicongos .

Muchicongos: grupos de estrangeiros oriundos da margem noroeste do Rio Zaire que, sob a liderança de
Nimi a Lukeni, povoaram as terras onde se formou o Reino do Congo.

Mani Congo: título de nobreza concedido aos governantes do Reino do Congo entre os séculos XIV e XIX (o
autor).

A relação entre a capital e as confederações de aldeias se dava pela troca de favores. As aldeias pagavam tributos e forneciam
homens para o trabalho e para o exército, em troca, o mani Congo dava proteção e justiça. Ele se relacionava com a população por
meio de cerimônias públicas e era o responsável pela intermediação entre o mundo terreno e o mundo sobrenatural, uma vez que a
ligação entre ambos era considerada essencial para preservar a paz com os ancestrais e a prosperidade futura.

Essa harmonia do reino, porém, foi abalada, em 1491, quando uma expedição portuguesa invadiu a capital Banza Congo. O
soberano mani Congo recebeu o batismo cristão e o nome português de Dom João, mas nunca ficou comprovado se ele, de fato,
aceitou o batismo, visto que, quando os lusitanos foram embora, mani Congo voltou à vida normal, deixando de praticar os poucos
hábitos cristãos que tinha.
Figura 11- Ilustração do Rei do Congo em 1685

Fonte: Congoking… (on-line).

A conversão de mani Congo fez com que os portugueses vissem a oportunidade de ampliar suas forças na África. A ideia de ter um
“rei católico” entre os africanos foi interpretada como um meio de facilitar o comércio e barrar o avanço do Islã. A morte de mani
Congo pôs o trono em disputa entre seus filhos, um era adepto às tradições de matrizes africanas, o outro havia se convertido ao
cristianismo em 1491. A disputa política levou a um conflito armado, em que o filho cristão de mani Congo eliminou seu irmão e
adotou o nome de Afonso I. Sua política se aproximou dos portugueses, colocando o comércio de cobre e escravizados como eixo
da economia, além da adoção de alguns hábitos católicos e vestimentas ocidentais.

O catolicismo se tornou a religião oficial do Reino do Congo, e os dirigentes políticos passaram a utilizar títulos da nobreza
europeia. Sua capital recebeu o nome de São Salvador, onde foram erguidas várias igrejas.

Nos séculos XVIII e XIX, o Congo passou por diversos conflitos internos e ataques externos, resultando em sua fragmentação em
províncias autônomas. Os chefes ainda continuavam sendo cristãos, mas suas práticas de fé e rituais se aproximavam muito mais
das religiões africanas tradicionais.
Sociedades Africanas na Idade Média
O período da Idade Média na África é caracterizado pela chegada do Islã no continente. Essa religião é oriunda do Oriente Médio e
nasceu por volta do século VII, após a revelação do anjo Gabriel a Maomé, considerado o último profeta para os muçulmanos. A
crença em um único Deus, Alá foi difundida para outros lugares da Europa, da Ásia e da África, nessa última, o Islã chegou a quatro
,

regiões: litoral da África Oriental, Magreb, Sudão Oriental e Sudão Ocidental, em que o Islã passou a fazer parte integrante dos
reinos, das cidades e dos Impérios da região.

O Sudão Ocidental

Os povos do Sudão [...] foram os que mais forneceram escravos para as Américas. Entretanto, até o início do
tráfico Atlântico, as cidades nunca se constituíram em império propriamente dito. Permaneceram sob
domínio de outros reinos mais poderosos, em geral do norte, ou então se estabeleceram como cidades-
Estados autônomas (VAINFAS, 2011, p. 165).

Na região do Sudão Ocidental, formaram-se diversas cidades, reinos e Impérios. A seguir, destacamos três dessas regiões: Gana,
Mali e Songai.

Gana

Os muçulmanos chamavam os territórios abaixo do Saara de Bilad al Sudan “país dos negros”, o termo se refere a uma gama de
aspectos geográficos e históricos. Diz respeito aos habitantes do Sudão Ocidental, que são diferentes dos povos do Magreb e do
Egito em termos socioculturais e religiosos.

Esses povos viviam em cidades e Estados que estavam interligados às rotas comerciais do Saara. O mais antigo é o de Gana,
instituído pelos povos soninkê, durante o século IV, nas regiões ao sul da Mauritânia, Senegal e Mali. No princípio, a palavra Gana
era utilizada para destacar o soberano que possuía poder sobre outros. A legitimidade desse domínio era atribuída a quatro
fatores: 1) o soberano era o representante máximo dos costumes ancestrais e protetor dos rituais tradicionais; 2) a autoridade
individual do chefe; 3) o poder militar ao seu redor; 4) as relações de parentesco com os governantes das cidades sobre sua zona de
influência.

No ano 790, durante a dinastia instituída por Kaya Maghan Cissê – a dinastia Cissê Tumkana –, Gana vivenciou uma época de
esplendor, sobretudo com o controle das principais fontes de ouro da África Ocidental: Bambuk, Falemé, Galam. Dos séculos IX ao
XI, os Estados de Bagana, Berissa, Gumbou, Sala, Sokolo, Sosso, Tekrur, Ulata, e as pequenas chefaturas de Do, Dodugu e Melel
(que, no futuro, tornariam-se o Estado do Mali) reconheceram a autoridade de Gana. A capital do reino era a cidade de Kumbi
Saleh “Kumbi Santa”, localizada na região sul da Mauritânia.

Os vestígios arqueológicos sugerem que a cidade estava dividida em duas partes: na primeira, ficava o palácio real; na segunda, as
mesquitas nas quais os comerciantes muçulmanos oriundos do Saara se estabeleciam. Uma estrada ligava as duas partes
(MACEDO, 2013).
Em diferentes épocas e por todo o continente, surgiram grandes Estados na África. Alguns se tornaram
Reinos e outros chegaram à condição de Império. A seguir, em ordem cronológica, alguns Estados Africanos
com as datas estimadas da construção de seus reinos:

Fonte: o autor.

Muitas sociedades pelo mundo afora têm seus mitos fundadores. Os muçulmanos de Gana falam sobre uma
divindade-serpente de Wagadu (Wagadu-ida), antepassado-totem dos Cissê (MACEDO, 2013). Você
acredita que a crença nos mitos fundadores interfere na maneira com que enxergamos outras culturas? (o
autor).

Gana se mantinha por meio dos tributos pagos pelos povos conquistados. As atividades agrícolas, a pesca e a pecuária estavam
relacionadas com a subsistência, mas o comércio, com os mercadores árabes e a extração de ouro, eram as principais fontes de
riqueza. Das terras ao norte do reino provinham búzios ( cairus conchas, às vezes, utilizadas como moeda), cobre, figos, sal, seda e
:

tecidos de algodão. Quase tudo era trocado por escravizados, marfim e, principalmente, ouro, do qual as pepitas maiores ficavam
com o soberano.
Figura 12 - Mapa dos estados sucessores do Império Gana por volta de 1200

Fonte: Ghana… (on-line).

O Império de Gana estava em constante atrito com os berberes e os tuaregues pelo controle das rotas de comércio do eixo norte-
sul do Sudão Ocidental. Gana possuía um elevado poder militar, mas, no século XI, suas tropas sofrem uma forte derrota para os
muçulmanos oriundos do Marrocos, que, motivados pela luta contra os povos pagãos e infiéis, atacaram a cidade de Awdagost, em
1054, e desferiram o golpe final sobre a capital Kumbi Saleh, em 1076. A partir dessa data, Gana nunca mais se reergueu.

Mali

O Mali foi fundado por diversos povos, entre eles, os maliquês ou manden, conhecidos como mandingas. É provável que os
mandingas tenham entrado em contato com o Islã, uma vez que fontes históricas indicam que, no ano de 1150, algumas pessoas da
região peregrinaram à Meca. É o caso de Djigui Bilali (1175-1200), Mussa Keita e Naré Famaghan (1218-1230), o filho desse
último, Sundjata Keita (1230-1255), levou o Islã para o Mali e, posteriormente, para as unidades políticas menores. Por meio do
Islã, os governantes mandingas conseguiram estabelecer as bases de um Estado unificado, que permaneceu forte sobre todo o
Sudão Ocidental até o século XV (MACEDO, 2013).

A estrutura política do Estado unificado do Mali evoluiu para império. Integrando diversos povos sobre sua hegemonia (bozos,
dogons, fulas, mandingas e soninkês), os soberanos do Mali adquiriram força suficiente para expandir-se militarmente sobre
outros povos. Com o crescimento dos territórios, o Estado foi criando zonas administrativas com dois tipos de províncias: 1) as
aliadas, com os chefes locais preservando sua autoridade, como é o caso das províncias de Gana e Nina; 2) as conquistadas, em que
os chefes tradicionais dividiam o poder com algum líder indicado pelo soberano de Mali.

O soberano de Mali recebia o título de Mansa residia na cidade de Niani, localizada ao norte da atual República da Guiné. Além das
,

funções administrativas do reino, o Mansa tinha a obrigação de manter as tradições e os rituais em homenagem aos ancestrais. Na
corte do Mansa a cultura muçulmana estava presente, mas a população, em geral, preservava as religiões tradicionais. A corte se
,

apresentava como um lugar de tolerância religiosa, existia espaço para os eruditos muçulmanos e suas leituras do Alcorão, como
também ambiente para os djedi ou gritos responsáveis por propagar oralmente os costumes e as crenças tradicionais.
,
Figura 13 - Mansa Mussa (1375)

Fonte: Catalan… (on-line).

No século XIV, Kankan Mussa (1307-1332) levou a dinastia Keita ao apogeu, consolidou as bases administrativas das províncias e
expandiu a área de influência do Império com a ajuda de uma tropa militar. Dando continuidade à expansão, Mansa Mussa (ou
Mussa I), seguidor fiel do Alcorão, peregrinou a Meca entre 1324 a 1325. A viagem serviu para divulgar o reino aos árabes-
muçulmanos. Mussa I percebeu que seu Império se encontrava na marginalidade do mundo muçulmano e, por isso, preocupou-se
em reestruturar a cidade com edifícios inspirados na arquitetura islâmica.

Essas novas construções eram feitas em argila e inauguraram um estilo particular: a arquitetura sudanesa. Mussa I também
reorganizou a educação da população e trouxe do Oriente Médio eruditos muçulmanos conhecedores do Alcorão para lecionar
nas escolas corânicas do Mali, em especial nas cidades de Djenné e Tombuctu.

Contudo, a partir da segunda metade do século XIV, o Império do Mali começou a declinar. Primeiro, a área de controle estava
muito grande; segundo, os ataques dos povos mossis, nativos da atual Burkina Faso, ficaram mais intensos. No governo de Mansa
Maghan (1332-1336), a cidade de Tombuctu foi duramente atacada. Seu sucessor, Mansa Suleiman (1340-1360), restabeleceu o
prestígio do Mali, mas teve que enfrentar rebeliões nas províncias que dificultavam o fortalecimento do Estado.

A proximidade com o século XV acentuava a fraqueza do Estado. O Mansa Suleiman foi substituído por Mari Djata, que faleceu, em
1374, vítima da “doença do sono”, causada pela picada da mosca tsé-tsé. Seu substituto, Mansa Mussa II (1374-1387), perdeu o
controle do Império para seus ministros, que o mantinham preso no palácio enquanto administravam as províncias e lideravam as
tropas contra os tuaregues.

O enfraquecimento do Mali acontecia em paralelo com a ascensão de outros poderes. Entre os anos de 1480 e 1514, no norte do
Senegal, os povos fulas conseguiram várias vitórias no campo militar. Na mesma época, a cidade de Gao (futura capital do Império
Songai) dominava quase toda a bacia do Rio Níger e avançava em direção às cidades mandingas do Reino do Mali. Nos séculos XVI
e XVII, o Mali conservava um prestígio simbólico por parte dos outros Estados, mas já não exercia influência alguma na região.

Songai

Foi na curva do Rio Níger que a cidade de Goa cresceu e deu origem ao Império Songai. Apoiados em seu comandante, Sonni Ali
(1464-1493) ou Ali Ber, o Grande, os povos songais conquistaram, em 1468, a cidade Mali de Tombuctu, porta de entrada para o
comércio com o Saara. Experiente estrategista militar, Ali Ber conseguiu impor uma forte derrota sobre os fulas e os tuaregues, o
que lhe garantiu respeito e admiração de seu povo. Conservou, até o fim da vida, as tradições religiosas politeístas, características
das populações sudanesas, o que não era bem visto pelos letrados muçulmanos das cidades conquistadas, que o taxaram de líder
tirânico e sanguinário.
Ali Ber morreu em 1493, e seu sucessor, Muhhamad Torodo, assumiu o poder, com o auxílio dos letrados muçulmanos e adotou o
nome de Askiya Muhhamad. Em sua administração (de 1493 a 1538), o Islã se difundiu dentro do Estado na medida em que
avançava em conquistas militares. Em um primeiro momento, os chefes copiaram o modelo administrativo do Mali, depois, foram
incorporando elementos das cidades invadidas. Nesse processo, a força dos songais cresceu significativamente, e é durante o
reinado de Askiya Dawud (1549 a 1583) que o Estado Songai chega ao seu apogeu e a sua extensão máxima.

Para controlar esses territórios, os soberanos enviavam às cidades conquistadas pessoas de confianças: os askiyas. Junto às rotas
de comércio com o Saara, os askiyas policiavam a região e faziam o comércio funcionar, também eram encarregados da coleta de
tributos sobre as mercadorias em circulação, agricultura e pecuária. Contavam ainda com uma guarda particular e o auxilio dos koy
ou fari grupo de conselheiros pertencentes aos anciãos das cidades conquistadas.
,

A soberania do Império Songai era constantemente ameaçada pelos mossis e pelos sultões de Marrocos, que cobiçavam o controle
das rotas de comércio com o Saara e as salinas da mina de Tagaza.

Figura 14 - Mapa do Império Songai

Fonte: Mapa… (on-line).

No ano de 1591, nas proximidades de Tombuctu, acontece a Batalha de Tondibi, que põe fim à soberania dos songais. As tropas dos
sultões de Marrocos, equipadas com armas de fogo compradas dos europeus, lograram dura derrota aos songais, que abalou
gravemente a estrutura do Estado. A derrota representou não apenas o término do Estado Songai, mas também “o fim de um longo
período de florescimento social, político e econômico dos antigos estados da África Subsaariana, jamais recuperado em sua
dimensão original” (MACEDO, 2013, p. 61).

Dentro do Império Songai, a força do Islã dividia espaço com as tradições africanas presentes entre os
sacerdotes animistas e adivinhadores, em que muitos faziam parte do conselho geral do soberano. Suas
funções estavam divididas em: o horé-farina, o sacerdote que realizava o culto aos ancestrais e aos
espíritos; o hi-koy, controlador das atividades fluviais; o fari-monduo, cobrador e gerenciador dos impostos;
e o dendi-fari, conselheiro direto do soberano. Nas grandes cidades, como Tombuctu, Djenné, Goa e Ualata,
a organização social se dividia entre uma elite composta por ricos mercadores e letrados muçulmanos e a
população das áreas rurais que se mantinham fiéis à cultura de seus ancestrais.

Fonte: Macedo (2013).


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ATIVIDADES
1. A respeito das sociedades africanas, marque V para verdadeiro ou F para falso e assinale a alternativa correta.

( ) O conceito de sociedade tradicional é importante para compreender a África.

( ) As sociedades africanas eram desestruturadas, pois não havia chefes no comando.

( ) Hegel é um iluminista que ressalta a importância da África na construção do mundo.

a) V, V, V.

b) V, V, F.

c) V, F, V.

d) V, F, F.

e) Nenhuma das alternativas anteriores está correta.

2. Na África, encontramos inúmeras formas de organização social. A respeito do tema, marque V para verdadeiro ou F para falso
e assinale a alternativa correta.

As sociedades africanas se organizavam


( ) a partir da “fidelidade ao chefe e das relações de parentesco” (MELLO DE SOUZA,
2007, p. 31).

( ) A poligamia se tornou uma prática comum, possuir várias mulheres significava poder e prestígio.

( ) Dentro das cidades, os artesãos se agrupavam de acordo com a função que exerciam.

a) V, V, F.

b) V, V, V.

c) V, F, F.

d) V, F, V.

e) Nenhuma das alternativas anteriores está correta.


3. Sobre a História das antigas sociedades africanas, é correto afirmar que:

a) Em toda a sua história, a Etiópia nunca entrou em contato com o cristianismo.

b) O cristianismo venceu o Islã e se tornou oficial no Monomotapa.

c) O Reino do Congo nasceu no curso do Rio Zaire por volta dos séculos XIV-XV.

d) O Rio Nilo é um dos principais rios do mundo, no entanto, nenhuma civilização se desenvolveu às suas margens.

e) Nenhuma das alternativas anteriores está correta.

4.Congo, Zimbábue e Axun são grandes civilizações africanas. Com base em seus conhecimentos sobre o tema, marque V para
verdadeiro e F para falso e assinale a alternativa correta.

( ) O Grande Zimbábue é uma imensa fortaleza de pedra construída na África Austral.

( ) A Axum era um grande centro urbano e estava localizada no planalto da Etiópia.

( ) O nome Mani Congo foi adotado pelos portugueses quando esse chegara à África.

a) V, F, V.

b) F, F, F.

c) F, V, F.

d) V, V, F.

e) F, V, V.

5.O Sudão Ocidental foi o palco do desenvolvimento de grande sociedades africanas. Sobre tais sociedades, assinale a
alternativa correta.

a) O Islã não esteve presente na África, prova disso é a baixa documentação histórica.

b) Gana e Songai são modelos de sociedades limitadas e sem desenvolvimento.

c) Os povos do Sudão foram os que mais forneceram escravos para as Américas.

d) Mansa Mussa é um título de nobreza que os africanos importaram da Europa.

e) Nenhuma das alternativas anteriores está correta.

6. Com relação às sociedades africanas da Idade Média, assinale a alternativa correta.

a) Os askiyas eram homens que agiam como soberanos no Mali quando faltava rei.

b) A soberania do Império Songai era constantemente ameaçada pelos mossis e pelos sultões de Marrocos.

c) Os Impérios de Gana, Mali e Songai são, na verdade, a mesma estrutura política.

d) Os tuaregues, povos do deserto, estavam sob a tutela do Mansa Mussa II, soberano do Marrocos.

e) Nenhuma das alternativas anteriores está correta.


Resolução das atividades

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Considerações finais
As Sociedades Africanas são diferentes entre si, mas se desenvolveram de modo parecido. Quase todas perpassaram por etapas,
como famílias, clãs, aldeias, cidades, reinos e impérios.
É de suma importância destacar a relação entre modernidade e tradição, pois a manutenção de determinados costumes ancestrais
não caracteriza as sociedades africanas como atrasadas em comparação à sociedade ocidental, são, apenas, diferentes. Em outras
palavras, devemos sempre nos questionar sobre como nossa cultura interfere na compreensão do mundo e como o pensamento
hegemônico ainda está presente quando falamos sobre a África e os africanos.
Nesse sentido, devemos ver o período da Antiguidade Clássica com um olhar crítico, tendo em mente que essa época foi
caracterizada pela rápida evolução de pequenas cidades em civilizações dinâmicas e modernas. Egito, Meoré e Axum são os
exemplos sólidos que se desenvolveram nas margens do Rio Nilo.

Destaca-se, também, a chegada do cristianismo em diversas sociedades, sobretudo na Etiópia. De matriz alexandrina, o
cristianismo etíope se misturou às tradições locais e ganhou vida própria, diferenciando-se do cristianismo trazido pelos
portugueses ao Reino do Congo no século XVI. Lembre-se que, antes dos portugueses, o Congo era um reino poderoso, amplo,
dinâmico e com controle sobre boa parte dos habitantes que viviam no curso do Rio Zaire.

Na Idade Média, as sociedades africanas ganharam outra configuração. A chegada do Islã interferiu profundamente nas estruturas
sociais e políticas, e o Sudão Ocidental é um grande exemplo. Gana foi invadida e destruída pelos muçulmanos, a corte do Mali
acolheu o Islã como religião, e Songai, Askiya Muhhamad fez uso do Islã para ampliar a força do Império. Devemos frisar que,
apesar da força do Islã, as religiões e culturas tradicionais não desapareceram, mas essa religião, vinda do oriente, serviu como um
suporte para o desenvolvimento sociocultural, político e econômico das populações do Sudão Ocidental.

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RESUMO
As Sociedades Africanas são ativas e preservam suas tradições sem abandonar ou negar o passado. A dinâmica de evolução partiu
da organização em famílias para clãs, aldeias, confederações, cidades e reinos. As tradições, os costumes e as crenças dos
antepassados foram a chave para a definição da linhagem familiar, do soberano a reinar, das relações de parentesco e dos sistemas
de casamento. Em muitos casos, esses temas passaram por aprovações em rituais litúrgicos, executados pelo membro mais antigo
da sociedade: o ancião – guardador da memória do grupo.

De clãs para reinos, as Sociedades Africanas chegaram à antiguidade como grandes civilizações. Egito, Meoré e Axum se
desenvolveram ao longo do Rio Nilo e mantiveram estreito contato com os povos vindos do Oriente Médio. O Monomotapa
evoluiu na confluência entre os rios Zambeze e Limpopo e se enriqueceu com a extração de ouro e com o comércio com os árabes e
indianos no litoral do Índico.

O Reino do Congo coordenava uma extensa e dinâmica malha comercial nas proximidades do Rio Zaire, seu poder se fazia
presente sobre várias confederações de aldeias, as quais lhe pagavam tributos e forneciam trabalhadores. Fato importante a
destacar é o surgimento do cristianismo na Etiópia e no Reino do Congo.

Se o cristianismo se destaca na antiguidade africana, na Idade Média, chega à África o Islã. Interferindo diretamente na
organização política e social dos Estados, reinos e cidades, o Islã se expandiu rapidamente pelo continente, sobretudo no Sudão
Ocidental. Nesse último, o Islã foi fundamental para o crescimento dos Estados, isso aconteceu em Gana, Mali e Songai. Um fato
importante: apesar da força do Islã, as religiões e culturas tradicionais não desapareceram, mantiveram-se presente em meio aos
soberanos das cidades, preservadas pelos sacerdotes e cultuadas pela sociedade em geral.

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Material Complementar
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REFERÊNCIAS
DRAMANI‑ISSIFOU, Z. O Islã como sistema social na África, desde o século VII. In: EL FASI, M. História geral da África III: África
do século VII ao XI. Brasília-DF: UNESCO, 2010, p. 127.

FAGE, J. D. A evolução da historiografia da África. In: KI-ZERBO, J. História geral da África I: Metodologia e pré-história da África.
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MAUNY, R. Dicionário da antiguidade africana . In: LOPES, N. Rio de Janeiro-RJ: Civilização Brasileira, 2012

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SANTOS, J. F. dos. Relações Brasil e África para além da escravidão: Ensino da História Afro-brasileira e Africana numa perspectiva
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SERRANO, C. Memória D’África : a temática africana em sala de aula. São Paulo: Ed. Cortez, 2010.

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SOUZA, M. de M. e. África e Brasil africano São Paulo-SP: Ática, 2007.


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VAINFAS, R.. Conecte História, 1 São Paulo-SP: Editora Saraiva, 2011.


.

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APROFUNDANDO
A Monarquia ainda está presente em algumas nações africanas. É o caso da República Federal da Nigéria, em que o Rei Oba Al-
Marouk Adekunle Magbagbeola é um dos porta-vozes do país. Por mais controverso que seja uma República apresentar um
Monarca em sua estrutura política, o rei Oba esteve no Brasil, mais especificamente em Brasília, em 2014, para debater assuntos
ligados às tradições africanas e ao racismo.

“O Rei Oba Al-Marouk Adekunle Magbagbeola, da Nigéria, foi recebido, nesta quarta-feira, 26, na Câmara dos Deputados, pela
deputada Janete Rocha Pietá (PT-SP), integrante da Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional (CREDN). O monarca
está no país para tratar de temas como a aproximação do Povo Tradicional de Matriz Africana do Brasil, dialogar sobre o direito à
alimentação tradicional, o direito à atenção integral a saúde, apresentar propostas para o enfrentamento das violações de direitos
com a participação do governo e da sociedade civil, e envolver operadores da educação, saúde, alunos e munícipes com a presença
do Olufon de Ifon Osun".

De acordo com a deputada, “o reinado de Oba Al-Marouk Adekunle Magbagbeola perpassa as fronteiras Olufon de Ifon Osun, pois
ele é descendente direto de Osalufon em terra, a presença de Oxalá é a possibilidade de receber um estadista um representante
do povo e de recontar e viver a história”.

Ela explicou ainda que “um dos objetivos da visita é estabelecer um tempo sem racismo institucional a partir do reconhecimento
do estado dos povos tradicionais de matriz africana a partir do fortalecimento e da consolidação dos princípios civilizatórios
africanos como proposta frente aos grandes conflitos que colocam a população negra e, principalmente, os povos tradicionais de
matriz africana em vulnerabilidade social, alimentar, ambiental e da própria existência material e imaterial”.

Fonte: adaptado de Rech (2014, on-line).

REFERÊNCIA

RECH, M. Rei da Nigéria é recebido na Câmara por integrante da CREDN. Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional
– CREDN Câmara dos Deputados, 2014. Disponível em: http://www2.camara.leg.br/atividade-legislativa/comissoes/comissoes-
.

permanentes/credn/noticias/rei-da-nigeria-e-recebido-na-camara-por-integrante-da-credn Acesso em: 19 mar. 2016.


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PARABÉNS!

Você aprofundou ainda mais seus estudos!

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EDITORIAL

DIREÇÃO UNICESUMAR

Reitor Wilson de Matos Silva

Vice-Reitor Wilson de Matos Silva Filho

Pró-Reitor de Administração Wilson de Matos Silva Filho

Pró-Reitor Executivo de EAD William Victor Kendrick de Matos Silva

Pró-Reitor de Ensino de EAD Janes Fidélis Tomelin

Presidente da Mantenedora Cláudio Ferdinandi

C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ Núcleo de Educação .

a Distância; RODRIGUES Carlos Eduardo; ,

Historia e geografia africana: um panorama. Carlos Eduardo

Rodrigues;

Maringá-Pr.: UniCesumar, 2017. Reimpr. 2021.

42 p.

“Pós-graduação Universo - EaD”.

1. História. 2. Cultura. 3. EaD. I. Título.

CDD - 22 ed. 320

CIP - NBR 12899 - AACR/2

Pró Reitoria de Ensino EAD Unicesumar

Diretoria de Design Educacional

Equipe Produção de Materiais

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TRÁFICO E
ESCRAVIDÃO NA
ÁFRICA
Professor(a) :

Me. Carlos Eduardo Rodrigues

Objetivos de aprendizagem
•Esclarecer as questões fundamentais sobre o tráfico e a escravidão.

•Compreender as origens históricas da escravidão.

•Analisar as teorias e conceitos relacionados ao racismo e á escravidão.

•Explicar o desenvolvimento do tráfico negreiro transoceânico promovido pelos árabes ao longo dos séculos VI ao XIX.

•Explicar o desenvolvimento do tráfico negreiro transoceânico promovido pelos europeus ao longo dos séculos XV ao XIX.
Plano de estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:

•Tráfico e escravidão

•Tráfico e escravidão árabe

•Tráfico e escravidão europeu

Introdução
Bem-vindo, caro(a) aluno(a)! Você, que optou por ampliar seu leque de conhecimento e oportunidades, escolheu o lugar certo. E
eu, professor mestre Carlos Eduardo Rodrigues, junto com a UniCesumar, tenho o prazer de apresentar o tema “Tráfico e
escravidão na África”.

A promulgação da Lei 10.639/2003 instituiu a obrigatoriedade do ensino de História e Cultura Africana no currículo. E, neste
estudo, pretendo mostrar as contribuições do continente africano para a História do mundo, resgatando uma África cheia de vida.

A escravidão e o tráfico de pessoas são um tema complicado e bastante controverso. Em quase todos os lugares do mundo e em
diferentes épocas, é possível descrever algum tipo de opressão ou exploração de determinados grupos de indivíduos a tipos de
trabalhos idênticos a escravidão. Na primeira aula, você, aluno(a), aprenderá um pouco sobre o conceito de escravidão, os debates
sobre a sua origem, sua relação com o racismo e como ela se desenvolveu.

Dando continuidade ao assunto, na segunda aula, vamos debater o tráfico e a escravidão nas áreas controladas pelos Árabes. O
período entre os séculos VII e XV é caracterizado pela expansão do Mundo Muçulmano sobre a África do Norte e Oriental. Essas
regiões se tornaram centro de tráfico negreiro para os sultanatos árabes, espalhados pelo Oriente Médio e outras regiões em que
os escravizados foram empregados em serviços domésticos, rurais e militares.

Por fim, falarei sobre o tráfico e a escravidão praticados pelos europeus, concentrados nas rotas do Atlântico, com o objetivo de
alimentar as plantations do Novo Mundo. Esse negócio compreendia um empreendimento lucrativo que envolveu um esforço
conjunto das companhias de comércio, monarquias absolutistas e da burguesia mercantil. O tráfico e a escravidão perduraram por
mais de três séculos e só foi questionado com o movimento abolicionista do século XIX.

Desejo a você bons estudos!


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Tráfico e Escravidão
Desde os tempos mais antigos, homens e mulheres buscam resposta para a pergunta: quando começou a escravidão? A literatura
do ocidente, ao menos nos últimos 150 anos, indica que a escravidão nasceu da guerra entre os povos, o vencedor tinha o direito
de retirar a vida do vencido ou utilizá-lo para seus serviços. Dessa premissa, nasceu a ideia de que a escravidão substituiu a
barbárie, e isso seria uma prova da “evolução” moral dos costumes dos indivíduos. Agora, ao invés de sair matando todos os
perdedores, poderia mantê-los vivos sobre sua vontade (ROLLO, 2013).

Esse modo de enxergar a questão da escravidão reporta a um mito de origem. A lenda conta que alguns canibais, ao invés de comer
seus prisioneiros, resolveram transformá-los em escravizados. Por mais boba e simples que seja a lenda, expõe uma matriz
ideológica que, por séculos, foi utilizada para explicar o fenômeno: “a escravidão está inevitavelmente ligada à vida em sociedade,
de que esteve presente quase sempre e por toda a parte” (PÉTRÉ-GRENOUILLEAU, 2009, p. 13). No fundo, a lenda acaba por
transformar a escravidão em algo natural.

Figura 1 - Tráfico de escravos ao longo do Rio Nilo. Viagens de Sir Samuel Branco Baker, explorador britânico (1868)
A escravidão já foi apontada como um “modo evolutivo da sociedade” pelo britânico Herbert Spencer (1820-1903), que
considerava a troca do canibalismo pela escravidão como um estágio de evolução social que havia permitido o crescimento das
tribos. Outros viram a questão como “modo evolutivo da economia”; o sociólogo estadunidense Lester Frank Ward (1841-1913)
partia da premissa de que o processo social pode ser chamado de econômico e isso tem sua origem na exploração do homem pelo
homem. Os grupos mais fortes iam conquistando os mais fracos e transformando-os em membros inferiores e submissos dentro da
tribo, empregando-os como mão de obra (ROLLO, 2013).

A escravidão não é apenas um fator de exploração totalmente econômica. Esse modo de pensar o tema decorre da experiência
escravagista testemunhada no Brasil e nas Américas: o emprego do trabalho escravo nas plantations ou seja, na produção. Nosso
,

mecanismo mental automaticamente faz a relação escravizados/produção e, por isso, muitas vezes, você é tentado a ver como
“branda” a escravidão que está distante do processo de fabricação material. Isso o leva a não perceber a existência de outros
modelos escravagistas, como a escravatura militar do Sultanato Mameluco. Contudo, foi como força produtiva que o escravizado
gerou a mais significativa revolta. Na drenagem e dessalinização de áreas para plantações no Iraque, entre os anos de 869 a 883,
aconteceu a mais bem-sucedida revolta de escravizados negros que se tem conhecimento: a Revolta dos Zendjs .

Segundo o historiador Ivan Hrbek (2010), a Revolta de Zendjs teve caráter de protesto social com
consequências graves na política, no social e na economia do Mundo Muçulmano, desencadeando uma série
de revoltas menores que aprofundou a separação entre as classes sociais. Os ricos, temendo perderem os
privilégios, trataram logo de convocar soldados de todos os cantos para protegê-los, resultando em um
exército com quase 50 mil soldados.

Fonte: adaptado de Hrbek (2010).

Revoltas, conflitos e tumultos são comuns em quase todos os lugares em que houve a exploração do trabalho escravo. Foi assim no
Império de Roma, quando, entre 73 a 71 a.C., Spartacus liderou uma grande revolta de escravizados. Aconteceu no Brasil Colonial
com os inúmeros quilombos espalhados pelo interior que se comportavam como foco de resistência ao dominador. É claro que o
Estado, independentemente da época e da ideologia, sempre adotou meios para conter o problema da “desobediência servil”, seja
por meio da força ou por intermédio de legislações segregativas, como as leis Jim Crow, nos EUA, e o Apartheid, na África do Sul.

O uso da força e de leis segregativas expõe outra característica da escravidão, sua relação com o racismo. Quando determinados
homens passaram a se considerar “naturalmente superiores”, a humanidade foi classificada entre “inferiores” e “superiores”, e isso
é o mesmo que adotar uma postura racista. A defesa da inferioridade como algo “natural” se reflete na naturalização das
desigualdades sociais. Essa postura caminha ao lado de uma forte matriz ideológica que procura, a todo custo, criar mecanismos
para manter determinados grupos em constante posição social de subordinação.

Será que esta classificação humana entre “inferiores” e “superiores” não está presente em nosso cotidiano?
Pense nas relações de trabalho, por exemplo.

O racismo se relaciona com a escravidão por duas maneiras. A primeira é a cultural, comum entre os gregos antigos que se viam
superiores aos bárbaros simplesmente por falar grego, o idioma provedor do conhecimento filosófico, da razão e da prática. A
segunda é por meio das características físicas, em especial, a cor da pele. Essa correlação atingiu, especificamente, as populações
negras da África. Muitos autores consideram que esse tipo de racismo surgiu com o tráfico transoceânico em larga expansão, e isso
explicaria a sua persistência ao longo dos séculos. No caso da escravidão europeia, a cor da pele definiu profundamente a condição
dos negros africanos, por isso, a abolição não extinguiu a segregação racial do cotidiano da população, a pele atua como um
estigma social que define a situação do indivíduo pelo resto de sua vida.
Figura 2 - Retrato pró-escravidão nos Estados Unidos em 1841. As legendas acima da impressão expressam justificativas raciais

Há outras situações, no entanto, em que a escravidão/racismo não está vinculada à cor da pele. Na maior parte dos modelos
escravista, o cativo é um estrangeiro de uma terra distante, às vezes, compartilha da mesma cor de pele, cultura e até religião de
seu senhor. No mundo muçulmano, nem sempre os escravizados eram negros. O Império Turco Otomano, por exemplo, adquirira
muita mão de obra no interior do Cáucaso, nos Balcãs e de regiões do extremo Oriente. Os negros vindos da África para o Brasil
exemplificam como o distanciamento funciona como um potencializador da escravidão, já que o estrangeiro não pertence ao grupo
que lhe domina e isso reduz suas chances de luta.

Após essas considerações gerais, você está pronto(a) para entrar na escravidão em solo africano. Vamos lá!

A África

A escravidão em solo africano é um tema muito complexo e de difícil entendimento. Você deve ficar atento(a) a qualquer padrão
explicativo que visa dar respostas prontas e acabadas, haja vista que, certamente, está equivocado. Para começar, a palavra escravo
deriva de eslavo termo utilizado pelos europeus ocidentais para se referirem aos europeus orientais que estavam sobre tutela do
,

Império Bizantino (330 d.C.-1453). A palavra tem origem no latim Medieval sclavus e não está associada à “raça”, mas sim a pessoas
que perderam sua liberdade. Posteriormente, o uso da palavra se expandiu e acabou ganhando uma conotação racial e étnica.

Em solo africano, a escravidão doméstica existia antes dos europeus começarem o tráfico transoceânico no século XV. Em escala
reduzida, acontecia o comércio entre regiões, geralmente, ligado a questões de guerras e dívidas para com a sua comunidade
nativa. Contudo, a dimensão do tráfico de escravizados muda completamente em dois momentos históricos: a consolidação do
Mundo Muçulmano e a colonização das Américas.

O Historiador M’Bokolo (2009) lembra que, apesar da escravidão ser uma prática presente entre todas as sociedades humanas,
somente na África ela perdurou do século VII ao XIX de uma forma sistemática e violenta. É o único lugar do planeta em que seres
humanos ficaram maciçamente reduzidos a escravizados, transportados para fora do continente e obrigados a servirem senhores
em terras estrangeiras.
Figura 3 - Embarque de escravos. Ilustração do Journal des Voyage (Paris, 1880-1881)

Existem vários problemas fundamentais quando se debate o tráfico de escravizados e você deve ficar ciente deles. Alguns são os
argumentos utilizados para explicar o tráfico e a escravidão comparando árabes e europeus. A tradição abolicionista, criada pelo
ocidente, no século XIX, em especial pela Grã-Bretanha, passou a destacar o tráfico e a escravidão que ocorria na África como o
único mal que assolava as populações negras.

Esse quadro comparativo colocava em destaque o tráfico e a escravidão muçulmana, ao mesmo tempo em que ocultava o tráfico
transoceânico no Atlântico. Essas argumentações também serviam de justificativa para as ações imperialistas do final século XIX,
ou seja, os europeus alegavam que era necessário acabar com o tráfico e a escravidão na África para o bem dos povos que lá viviam
e a salvação completa viria com a ocupação do continente, que representa a chegada da civilização (FERRO, 2004).

Outro problema teórico fundamental a respeito do tráfico negreiro é o debate acusativo entre árabes e europeus. Há uma linha de
pensamento, severamente abandonada pelos pesquisadores sérios e renomados da Academia, que parte do seguinte raciocínio: os
europeus se apropriaram do tráfico árabe já que, cronologicamente, eles só chegaram à África no século XV e os árabes no século
VII. Logo, o tráfico negreiro é uma “invenção” dos árabes da qual os europeus, apenas, apropriaram-se. Além do mais, a escravidão
já existia na África e, por isso, não foram os europeus que a inventaram (FERRO, 2004; MUNANGA, 2009).

Traçar uma história acusativa pautada no “quem começou”, “isso já existia”, “a culpa não é nossa, é deles”, “a escravidão deles
perdurou por mais de 12 séculos”, entre outros, não contribui em nada para a compreensão do fenômeno do tráfico e escravidão.
Serve somente como ideologia, de um lado você culpa o outro pelo crime de modo a se isentar da culpa, procura criar, para o
público, em geral, uma explicação que caminhe de acordo com suas convicções ideológicas, morais e religiosas. Aluno(a), preste
atenção! O tráfico negreiro, independentemente de ser árabe ou europeu, foi extremamente prejudicial para a África e os
africanos, que, durante séculos, tiveram o melhor de sua força produtiva arrancada de sua terra.

Saber se existiu tráfico humano e sistema de escravidão na África antes do contato com o mundo árabe e
ocidental é um assunto permeado de emoção e afetividade. Os africanos não ficam à vontade quando se
toca nesse assunto, porque se sentem acusados de terem sido corresponsáveis pelo tráfico de seus próprios
povos; por terem, por intermédio de alguns de seus dirigentes tradicionais, participado do tráfico. Os
europeus e os brasileiros brancos querem se libertar do complexo de culpa, ao transferir a responsabilidade
aos reis e príncipes africanos implicados no tráfico e no comércio negreiro.

Fonte: Munanga (2009, p. 88).


Contudo, como o tráfico em grandes proporções progrediu em terras africanas? Em termos geográficos, podemos pensar em três
frentes: as rotas do Saara ao norte, o litoral da África Índica a leste e a costa do Atlântico a oeste. Nos dois primeiros, o predomínio
foi dos árabes, no último, dos europeus.

Tráfico e Escravidão Árabe


O tráfico e a escravidão árabe adquiriram características completamente diferentes em comparação com o tráfico negreiro
executado pelos europeus. Entre vários elementos, destaca-se o racismo. Dificilmente, o aluno vai encontrar algum traço de
racismo no alcorão, contudo, assim como no ocidente cristão, ele se desenvolveu no decorrer da expansão do Mundo Muçulmano
por meio das conquistas militares. Com o tempo, os vencidos na guerra foram sendo classificados entre os de pele clara e os de
pele escura, esses últimos foram considerados primitivos, embora executassem as mesmas funções dos escravos de pele clara e,
dependendo do cargo, encontravam-se em posição hierárquica superior. Ahmed Baba (1556-1627), sábio negro de Tombutctu,
justificava que os negros eram pagãos e os aprisionados em guerra não podiam reivindicar sua liberdade (FERRO, 2004;
M’BOKOLO, 2009).

O tráfico e escravidão árabe data do século VII, os escravizados faziam parte de um contexto de trocas de mercadorias entre o
Egito e a Núbia, depois, é desenvolvido um tráfico entre a Núbia e a Península Arábica via o Mar Vermelho. Nos séculos
posteriores, com a conquista do norte da África, os árabes estimulam o tráfico negreiro pelo Magreb e no Sudão Ocidental. A partir
desse momento, o tráfico negreiro se torna contínuo, sobretudo no século IX.
Figura 4 - Negros escravizados pelos Árabes no século XIX

Fonte: Arabslavers… (on-line).

O tráfico negreiro no Oceano Índico

Não há como falar do tráfico no Oceano Índico sem mencionar o surgimento das Cidades Suaílis Desde o século VII, os árabes
.

habitavam o sul da Península Arábica, onde hoje é o Iêmen e Omã, e iniciaram contatos com os africanos da região. Esses contatos
foram se intensificando ao longo dos anos e, assim, nasceu a Civilização Suaíli Os primeiros grupos se estabeleceram entre os
.

séculos VII e IX, o interesse estava no lucrativo comércio marítimo. Arábia, Índia e África formavam um tripé comercial
intercontinental regido pelos ventos de monções: no verão, os ventos no sentido sudoeste levam os barcos da África para a
Península Arábica e para Índia; no inverno, os ventos, no sentido nordeste, trazem os barcos no sentido oposto.

Figura 5 - Ilustração do Mercado de escravos em Zanzibar (1860)

Fonte: Zanzibar… (on-line).

A palavra Suaíli (ou swahili) vem do árabe que significa “a costa” e é utilizada para designar o idioma falado
no litoral Índico da África, que é a mistura do árabe com as línguas de matrizes africanas.

Fonte: Rodrigues (2015).

O tráfico negreiro no Oceano Índico é mais antigo do que o tráfico negreiro no Oceano Atlântico, há registros de 4.000 anos que
falam sobre o comércio entre a África, a Mesopotâmia, a Índia e a China. No século VI, os árabes já se encontravam integrados ao
tráfico negreiro para a Pérsia, mas com o advento do Islã, a busca por cativos se transforma em algo grandioso. Segundo Lewis
(1997, p. 88 apud MUNANGA, 2009, p. 82),
o tráfico negreiro e a escravidão de africanos continuaram nos países do Islã até o século XX. Numerosas
testemunhas do início do século XIX observaram como foram capturados, transportados e vendidos os
africanos nos mercados do Oriente Médio e da África do Norte. Com a anexação pelos russos dos países do
Cáucaso (1801-1828), a principal fonte de escravizados brancos para o mundo islâmico diminuíra. Privados
de seus georgianos e caucasianos, os Estados muçulmanos se tornaram as outras fontes e assistiu-se a uma
considerável retomada do tráfico dos negros africanos.

Empregados nos mais diversos serviços, os escravizados do sexo masculinos eram utilizados em trabalhos domésticos, agricultura,
mineração, transporte, pesca, produção têxtil e artesanal. Aqueles que trabalhavam para as elites ocupavam cargos importantes e
de prestígios, faziam serviços administrativos, burocráticos, diplomáticos e militares.

Alguns desses escravizados recebiam terras para cultivo de subsistência, outros podiam ser alugados ou deixados “livres” para
realizar quaisquer afazeres dentro da sociedade, desde que entregassem ao seu dono cerca de 50% a 75% do que recebeu. Os
escravizados do sexo feminino, preferencialmente as adultas jovens e as adolescentes, cujo valor era atribuído pela sua beleza,
sexualidade e capacidade reprodutiva, ficavam nos palácios ou dentro dos haréns dos sultões e compunham a maior parcela do
tráfico para as regiões árabes (CAMPBELL, 2008).

Essa forma de utilização dos escravizados, no entanto, sofre alterações no século XIX. Na ilha de Zanzibar, foi desenvolvido o
sistema de plantations para a produção de cravo da índia após a fundação do Sultanado de Zanzibar, em 1840, por Said ibn Sultan
(1806-1856). Trata-se de Estado Colonial diferente do modelo colonial europeu, que tinha todas as suas atividades direcionadas ao
mercado internacional: pela compra de produtos industrializados ocidentais, principalmente armas de fogo e tecido de algodão e
pela venda de marfim, escravos e cravo da índia produzido nas plantations difundidas a partir de Zanzibar para as demais ilhas e
,

cidades da costa suaíli. Os escravizados vinham das regiões dos Grandes Lagos e, além de trabalharem nas lavouras, eram
traficados para a Península Arábica, Índia, Américas e a ilhas do arquipélago de Mascarenhas (RODRIGUES, 2014).

Figura 6 - Plantação em Zanzibar (1906)

Fonte: The...(on-line).

Na costa oriental africana, as Cidades Suaílis desempenharam um papel importantíssimo para o


desenvolvimento da região e do comércio marítimo no Oceano Índico, criando vínculos duradouros entre
árabes, indianos e africanos. No século XIX, a cidade de Zanzibar se destacava como motor do
desenvolvimento da região e recebia inúmeros viajantes europeus que procuravam se aventurar em terras
africanas. Quem conta essa história é o professor Mestre em História, pesquisador de História da África,
Carlos Eduardo Rodrigues, em seu livro “O comércio de marfim e escravos na África Oriental: análise
historiográfica da obra de Victor Giraud [1883-1885]”, lançado, em 2015, pela editora alemã Novas edições
Acadêmicas. Indicamos a leitura.

Fonte: o autor.
O tráfico de escravizados no mundo Índico acontecia por mar e por terra, faziam parte do trajeto África, Península Arábia, Índia e o
Extremo Oriente. As rotas terrestres se conectavam com as rotas marítimas em certos pontos-chaves, na desembocadura de um
rio, em uma baía, em um istmo ou em uma praia escondida e/ou protegida.

A partir desses pontos, os escravizados eram embarcados e seguiam caminho via oceano. Existiam dois tipos de trajetos: o
primeiro era curto e envolvia um mercado regional; o outro era extenso e fazia parte de um mercado internacional que ligava, por
exemplo, um porto da costa africana a outro na Índia ou na China. As rotas marítimas, curtas e longas, atuavam como centro de
distribuição e abastecimento de mercadorias locais e regionais e como núcleo de transbordo para outros grandes setores
marítimos do Oceano Índico: Mar Vermelho, Golfo de Áden, Golfo de Omã, Golfo Pérsico, Sri Lanka, Baía de Bengala, Estreitos de
Malaca etc. A maioria dos navios de longa distância permanecia por extensos períodos nos principais centros de transbordo antes
de fazer a viagem de regresso.

O tráfico de escravizados era multidirecional e acompanhava o trânsito das mercadorias. Havia escravizados de várias regiões: do
Cáucaso, da Índia, da Arábia e do Extremo Oriente, o que acaba por caracterizar uma escravidão multiétnica.

Pessoas da Índia eram escravizadas na Indonésia, nas ilhas Maurícias, na Cidade do Cabo, na África do Sul e no Oriente Médio, que
também recebia cativos do Cáucaso, da costa Makran no Irã, da Índia ocidental, da China e da África. Os negros africanos
compreenderam a grande parcela dos escravizados. A partir de meados do século XVIII, os mercados-alvos do tráfico negreiro
foram ampliados para as ilhas de Zanzibar e Pemba, para colônias francesas no arquipélago de Mascarenhas, para ilha de
Madagascar e para as ilhas de Reunião e Maurício.

Nessas regiões, os escravizados foram utilizados na produção agrícola. Parte da população malgaxe (língua malaio-polinésia falada
em Madagascar) foi enviada em pequenas quantidades para os mercados muçulmanos e assentamentos europeus nas Américas,
Cidade do Cabo e Batávia (atual Jacarta, na Indonésia).

Figura 7 - Imagem do livro “O povo da Índia”. Ilustrações fotográficas de J. Forbes Watson e John William Kaye entre 1868-1875. A
legenda da foto diz: Grupo Newar, população escrava, supostamente aborígenes do Nepal

Fonte: Newar… (on-line).

No século XIX e início do XX, algumas áreas da Índia, do oeste da Indonésia e da China ainda eram fornecedoras de escravos. Os
escravizados indonésios iam para todo o sudeste asiático e para Cidade do Cabo na África do Sul, enquanto os indochineses e
coreanos foram enviados para a China. No século XIX, escravizados chineses trabalhavam em Cingapura e San Francisco, nos
Estados Unidos. Em todos esses casos, a forma de comércio, a origem, os mercados, as rotas e as funções dos escravizados
variaram consideravelmente de região para região e ao longo do tempo. Para Campbell (2008), entre os séculos XVII e XIX, as
pessoas escravizadas e seus descendentes giravam em torno de 20% a 30% da população de muitas sociedades do Índico, e quase
50% se incluímos os portos da Indonésia e as várias regiões africanas que recebiam escravos.

Os chineses e o tráfico de escravos

Os chineses foram informados muito cedo da existência do tráfico de escravos nas costas africanas. As
fontes mais antigas evocam a venda de mulheres negras a partir do século IX. Mais numerosos, os textos do
século XII, talvez inspirados pelas narrativas dos viajantes geógrafos árabes, apropriavam-se dos africanos,
em particular, das crianças, atraindo-as com tâmaras. Um mapa chinês de 1315 apresenta, ao largo das
costas africanas, uma misteriosa “ilha dos escravos”, cuja identificação precisa continua a ser problemática e
que poderia simplesmente concentrar todos os conhecimentos disponíveis nessa época, respeitantes ao
comércio negreiro.

Fonte: M’Bokolo (2009, p. 251).

O tráfico de escravos havia se tornado tão lucrativo no século XIX que mobilizou vários grupos sociais. Algumas elites e governos
transformaram o tráfico em metas a cumprir durante as campanhas militares. É importante destacar que o tráfico negreiro
transoceânico no Índico teve como financiadores múltiplos atores chineses, malaios, indianos, árabes e africanos, enquanto que, no
tráfico no Atlântico, o domínio foi exclusivamente europeu.

Essa ampliação na quantidade e nos lucros do tráfico não passou despercebida pelas campanhas abolicionistas do ocidente que
tinha como carro chefe a Grã-Bretanha. Os movimentos abolicionistas que atuavam no Índico procuravam trabalhar em três
frentes: 1) intimidação das autoridades locais para que essas decretassem leis contra a escravidão; 2) pressão pela abolição da
escravidão em pontos-chaves do tráfico de escravos: Tailândia, Zanzibar, Etiópia, Reino de Imerina, em Madagascar, e,
especialmente, no Império Turco Otomano, o grande centro importador de cativos; 3) implementações de medidas de segurança
para os abolicionistas que se instalaram nas regiões escravistas anos antes da expansão colonialista sobre a África e a Ásia.

Contudo, em termos práticos, a escravidão foi preservada nos países produtores de matérias-primas que abastecem o mercado
europeu. Além desse fator, os ocidentais faziam uso dessa mão de obra em suas colônias. Em Madagascar, os missionários
utilizavam escravizados alegando que, posteriormente, pagariam pelos serviços, o governador britânico da ilha Maurício manteve
a escravidão até a abolição formal, em 1834, mas, do lado francês, o escravizado foi utilizado até 1848, e, mesmo com as
proibições, os franceses continuavam a importar cativos da África em forma de “trabalho por contrato” para atuarem nas
plantações de cravo da índia (CAMPBELL, 2008).

Na metade do século XIX, os britânicos aceleraram as medidas abolicionistas, o que levou os traficantes de escravizados a
elaborarem meios para burlar a fiscalização: contrabando, rotas alternativas e perigosas, criação de portos escondidos com
instalações rudimentares, pontos de escravidão distantes a pelo menos 1 km do litoral e até disfarçando os cativos como
funcionários, carregadores, marinheiros, parentes e filhos.

Os abolicionistas que atuavam no Índico não tiveram o mesmo sucesso que no mundo do Atlântico, em que o tráfico negreiro
diminuiu drasticamente após 1860 com o fim da demanda para o Brasil. Ao contrário, a demanda por escravos apenas aumentou e
isso foi utilizado como uma das justificativas para o colonialismo na África e na Ásia.

A escravidão permaneceu em algumas regiões do Índico até o século XX; em Zanzibar, o uso de escravas nos haréns foi admitido
até 1911; na Birmania (sudeste asiático), a escravidão só acabou em 1926; na Indochina francesa e nas Índias holandesas, foi até
década 40; no Oriente Médio, até a década de 50; no Quartar, a abolição oficial data de 1952; na Arábia Saudita, foi em 1962; nos
Emirados Árabes Unidos, em 1963. Já o tráfico de cativos no Mar Vermelho e no Golfo Pérsico foi tolerado pelos britânicos até a
década de 50.
Tráfico e Escravidão Europeu
No princípio, o tráfico de negros escravizados para as América era monopolizado pelos Ibéricos (portugueses e espanhóis). Os
portugueses foram os primeiros a estabelecerem contatos duradouros com os traficantes árabes e africanos e os primeiros a
fundarem feitorias na África. Contudo, o desenvolvimento dos “descobrimentos” acabou se tornando um fator decisivo para o
avanço do tráfico e da escravidão. Segundo Ferlini (1989), a moderna plantação mercantil escravista instituída nas Américas
esteve pautada na concentração da produção pelo capital mercantil, por meio do monopólio da terra nas colônias e controle sobre
um grande contingente de trabalhos escravos.

No caso do Brasil, a cana-de-açúcar, que já havia se mostrado viável nas ilhas de Madeira, Açores e Cabo Verde, apresenta-se como
“naturalmente” possível para o cultivo em larga escala. O mesmo ocorre com as colônias inglesas, francesas, holandesas e
espanholas no Caribe e em outras partes das Américas, como nas regiões das Guianas, na América do Sul.

O abastecimento de mão de obra escrava negra entra em ritmo acelerado quando os Ibéricos elaboram o sistema de asientos uma ,

licença para o tráfico de escravos. Uma licença permitia importar um negro, 10 permitia 10 e assim por diante. Nascia, dessa forma,
a primeira tentativa de organização sistemática do tráfico negreiro tendo o Estado Ibérico como regulador e provedor.

O modelo de licença se torna comum na Europa, difunde-se pelas cidades portuárias do Mediterrâneo e os comerciantes se
mobilizam para adentrar no comércio dos negros, colocando em risco o monopólio Ibérico. Os asientos representavam uma carta
aberta para o tráfico negreiro e os Ibéricos são cada vez mais pressionados a abrirem o direito à licença aos estrangeiros.

A consequência imediata dessa abertura é a progressiva perda do monopólio, a segunda é o desenvolvimento de ações de pirataria
pelos ingleses, franceses e holandeses, o que caracteriza uma ação privada de grupos de indivíduos agindo sobre o tráfico negreiro.
A terceira consequência e, talvez, a mais significativa, é quando os asientos passaram a ser política de Estado. Os Ibéricos foram
obrigados a estenderem as licenças igualmente para outros Estados europeus. A derrota da Invencível Armada, em 1588,
significou a derrocada do poder Ibérico em controlar as rotas de navegações para o Atlântico e a impossibilidade de deter o avanço
dos piratas e dos contrabandistas. Também abriu as portas do tráfico negreiro e do comércio/colonização da América para a
Holanda, França e Inglaterra.
Figura 8 - Marinheiros europeus jogando cativos africanos ao mar durante a travessia do Atlântico (cerca de 1750)

Por volta de 1640, os espanhóis já tinham perdido o controle do tráfico negreiro, já os portugueses preservaram seu tráfico graças
às inúmeras feitorias criadas na África que garantiam um fluxo contínuo de escravizados para as plantations no Brasil. Contudo, as
invasões holandesas sobre territórios portugueses na África e em Pernambuco (1630-1654) não apenas quebraram o privilégio
lusitano como também permitiram aos batavos um controle do tráfico no Atlântico.

Em 1662, a Holanda assina o seu primeiro asiento e, no final do século XVII, já era responsável por cerca de 276.914 escravizados.
Contudo, o contexto europeu muda com a Revolução Francesa (1789 a 1813), e a Holanda é ocupada pelas forças revolucionárias,
a consequência imediata é a interrupção do tráfico. Agora, Portugal retoma seus antigos privilégios no comércio de cativos e, junto
com França e Inglaterra, passa a compor as três grandes nações a comandarem o tráfico negreiro no século XVIII (M’BOKOLO,
2009).

Figura 9 - Punição de escravos no Antilhas Francesas, no qual a vítima, presa ao solo, foi chicoteada (cerca de 1840)
As primeiras ações de França e Inglaterra no tráfico negreiro foram por meio de pirataria. Com a chegada de Jean-Baptiste Colbert
(1619-1683) ao cargo de ministro de Estado no reinado de Luiz XIV, o mercantilismo francês alavancou a dinâmica do tráfico
negreiro. Entre os anos de 1661 e 1680, Colbert elabora o Código Negro, usado para rentabilizar a exploração de escravos,
transformando o tráfico em um sistema rigorosamente organizado.

A Inglaterra procurou dinamizar as plantations de suas colônias para gerar demanda por cativos, depois, estimulou o tráfico por
meio da indústria naval. Em seguida, acontece a fundação de companhias de comércio da qual o governo britânico garantiu o
monopólio integral sobre o tráfico negreiro a todas elas. Como exemplo, temos a Company of Royal Adventures Trading in African
(1662) que enviou cerca de 3.000 escravos por ano para as Américas, e a Royal African Company (1672), que atuou até 1750. Em
1698, o Parlamento revoga os monopólios e abre o comércio para qualquer grupo, desde que pague 10% do valor da carga
destinada à África ou para as Américas (M’BOKOLO, 2009).

A ampla e dinâmica rede de comércio que se desenvolveu no Atlântico teve características próprias. Para Malowist (2010), no
período entre 1500 a 1800, o mundo do Atlântico testemunhou a existência de um novo sistema econômico: o Comércio Triangular .

Interligando a Europa Ocidental, a África e as Américas, o comércio triangular foi uma forma rentável e inteligente de organização
do tráfico de especiarias e de escravizados pelo Atlântico.

Esse sistema econômico foi decisivo para a acumulação de capitais por parte dos europeus, contribuindo para a hegemonia
ocidental sobre o resto do mundo. A tese do Comércio Triangular está presente em vários autores, entre eles, o francês Gaston
Martin, que escreveu, em 1948, o livro “Historie de l’esclavage dans les colonies françaises”. Resumidamente, a tese de Martin fala
o seguinte:

[...]frota comercial francesa, leva essencialmente a ligar três primeiros pontos do Atlântico norte: 1. O
a
porto europeu onde estão depositadas as mercadorias propícias às trocas ulteriores, quer elas sejam
produtos locais ou de proveniência estrangeira; 2. A porção da costa africana onde se encontrará em
abundância o gado humano, que é a única mercadoria verdadeiramente indispensável nas Antilhas, e onde
faltam em contrapartida os produtos manufaturados da Europa; 3. As ilhas do mar das Caraíbas, cujas
mercadorias entregues em troca dos negros, sucessíveis de encontrar muitos clientes europeus, são
necessárias a uma grande série de indústrias de transformação [...]. (M’BOKILO, 2009, p. 292).

Outro autor que desenvolveu tese acerca do Comércio Triangular foi o britânico Eric Willians, no livro “Capitalismo e escravidão”,
de 1944. O livro debate o papel do tráfico negreiro no desenvolvimento do Império Britânico da época moderna e como o tráfico
contribuiu para financiar a Revolução Industrial.

O autor argumenta que a Europa se tornou desenvolvida devido ao tráfico de escravos e a exploração deles nas plantações das
Américas. O comércio negreiro havia sido a principal fonte de riqueza fornecida pelo comércio no Atlântico, o que proporcionou
uma sobra de capitais necessária para o financiamento da Revolução Industrial. No Brasil, Fernando Novais, em “Portugal e Brasil
na crise do Antigo Sistema Colonial (1777-1808)” (primeira edição de 1979), utiliza a tese do Comércio Triangular para analisar o
colonialismo português: a metrópole portuguesa, as feitorias africanas e as colônias brasileiras (KELMER MATHIAS, 2013).

Em termos práticos, essa organização em formato de triângulo aparece em várias regiões do Atlântico. Na Inglaterra, os
comerciantes de Liverpool passaram meio século como um poderoso centro de um “comércio triangular”: de Liverpool, os barcos
saíam com produtos ingleses em direção ao litoral africano, lá, trocavam as mercadorias por escravos; carregados de escravizados,
dirigiam-se para as Américas, onde eram empregados nas colônias de plantations dos ingleses, espanhóis e portugueses; para
fechar o ciclo, os barcos voltavam para o Liverpool carregado de produtos tropicais e agrícolas. Na metade do século XVII, o
comércio triangular ligava a costa da Guiné à Europa e às Américas, algo semelhante vale para as regiões do Brasil meridional e o
Rio da Prata.
Figura 10: A partilha do mundo triangular (séculos XV-XVII)

Fonte: Ferro (2004, p. 136).

A constante emigração de europeus para cidades portuárias das Américas e feitorias na África contribuiu para o surgimento de
economias anexas entre si, que, em longo prazo, acabou sendo fundamental para a ascensão do domínio europeu sobre o mundo.
No século XIX, a dinâmica do tráfico negreiro já havia assumido proporções grandiosas e se tornado a maior migração forçada que
o mundo conhecera. A facilidade em comprar cativos intensificou a busca por pessoas no interior da África a tal ponto de impedir o
uso intensivo do trabalho escravo pelos próprios africanos.

Contudo, um fato novo havia de ocorrer: o Movimento Abolicionista Desde o final do século XVIII, alguns reformadores começaram
.

a atacar o tráfico de escravos, e as primeiras leis proibindo tal prática não tardaram a aparecer: Estados Unidos (1791 e 1794),
Dinamarca (1802) e Grã-Bretanha (1807), o país que mais lucrava com o tráfico negreiro. As leis britânicas foram um marco
fundamental para as campanhas abolicionistas, pois eram as únicas com recursos suficientes para pressionar as demais nações
europeias e as colônias nas Américas. A partir desse momento, inicia-se um empenho diplomático acompanhado de um esforço
militar, a frota marítima britânica passou a vigiar os principais pontos de exportação e recepção de escravizados no Atlântico. Com
o tempo, outros países aderiram a causa britânica, mas os reais impactos sobre o tráfico negreiro só foram sentidos a partir de
1840 (LOVEJOY, 2002).

O objetivo-chave das campanhas abolicionista era “regenerar” a África por meio da abolição da escravidão, levando aos nativos a
Civilização Ocidental.

Ao denunciar um flagelo, o abolicionista não pretendia converter imediatamente traficantes negros ou


escravagistas brancos. Propôs um programa de regeneração da África através da cristianização, da
civilização, do comércio natural e fixou etapas racionais para sua execução: reverter a opinião pública do
mundo cristão; levar os governos “civilizados” a tomar posições oficiais; abolir legalmente o tráfico no
Atlântico (DAGET, 2010, p. 79).

No começo do século XIX, a Grã-Bretanha e a França, as principais potências ocidentais da época, estavam muito mais
interessadas em construir o moderno sistema capitalista. Para isso, o papel da África no cenário internacional deveria ser alterado,
de fornecedor de escravizados para provedor de matérias-primas e consumidor dos produtos industrializados. Contudo, as
Américas ainda eram grandes centros consumidores de escravizados, os principais traficantes da costa africana eram, em ordem
de importância, os brasileiros, cubanos, portugueses e estadunidenses.
Não é por acaso que as duas últimas nações a abolir o tráfico negreiro foram o Brasil, em 1850, e Cuba, em 1866, e a suspensão da
escravidão ainda levaria algumas décadas: 24 de dezembro de 1879, em Cuba, e 13 de maio de 1888, no Brasil.

Figura 11 - A imagem de um escravo ajoelhado na oração foi popular entre os abolicionistas britânicos e estadunidenses durante o
século XIX. A medalha traz a inscrição “Eu não sou um homem e um irmão?”. Autores: William Hackwood (designer); Josiah
Wedgwood (arte); Josiah Wedgwood e seus filhos (produção), em 1787

Fonte: Anti-Slavery… (on-line).

“Segundo Eric Williams, a abolição servia poderosamente aos interesses econômicos da Inglaterra
industrial nascente” (Daget).

Claro que houve resistência por parte dos senhores de plantations nas Américas. O prestígio social vinculado à posse de escravos e
os estereótipos raciais serviam de justificativa para a manutenção do tráfico e da escravidão. O argumento mais utilizado era a
contradição percebida pelos senhores, entre a demanda europeia por produtos agrícolas, produzidos por mão de obra escrava, e o
fim da escravidão.

Os senhores de plantations alegavam que sem escravizados não seria possível manter a produção, prejudicando, assim, o
abastecimento da Europa que necessitava, cada vez mais, de alimento, já que a Revolução Industrial havia aumentado
expressivamente a população do continente. E é justamente nesse contexto que as plantations brasileiras duplicaram a produção
de café, entre 1817 a 1835, e triplicariam, em 1850, e as plantations de Cuba quadruplicariam as exportações de açúcar entre
1830 a 1864 (DAGET, 2010).

Ata Geral redigida em Berlim, no dia 26, de fevereiro de 1885, entre os 15 países participantes do
Congresso de Berlim. Declaração concernente ao tráfico de escravos:

“Artigo 9. – Em conformidade com os princípios dos direitos dos indivíduos tal como eles são reconhecidos
pelas Potências signatárias, estando proibido o tráfico dos escravos, e devendo igualmente as operações
que, por mar ou por terra, forneçam escravos para o tráfico serem consideradas como proibidas, as
Potências que exercem ou que vierem a exercer direitos de soberania ou uma influência nos territórios que
formam a bacia convencional do Congo, declaram que esses territórios não poderão servir nem de mercado
nem de via de trânsito para o trafico dos escravos de qualquer raça. Cada uma das Potências se compromete
a empregar todos os meios disponíveis para pôr fim a esse comércio e para punir aqueles que deles se
ocupam”.

Fonte: Brunschwig (1974, p. 83).

No decorrer de mais de quatrocentos anos, o tráfico negreiro mobilizou habitantes da Europa, das Américas e da África. No
interior dessa última região, foi desenvolvida uma complexa rede que sustentava o tráfico negreiro, envolvendo uma série de
indivíduos na captura, aprisionamento e transporte, conservação, taxação e distribuição de escravos. Quando a demanda ocidental
acabou, uma grande parcela dos escravizados presentes em solo africano foram empregados na produção de matérias-primas para
as indústrias europeias, desse modo, houve um prolongamento do uso do cativo dentro da África após a suspensão do tráfico.

Agora, as necessidades do comércio do Atlântico eram outras: “pediam um aumento na produção de algumas mercadorias, que
passavam a ser obtidas e transportadas por meio da exploração do trabalho escravo” (SOUZA, 2007, p. 149). O comércio triangular
deixa de ser o tripé de sustentação do desenvolvimento europeu e o trabalho escravo nas Américas e na África passa a ser
empregado na produção de matérias-primas e produtos agrícolas para a Europa industrial.

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ATIVIDADES
1. A respeito do tráfico e da escravidão, assinale a alternativa correta.

a) A escravidão é um fenômeno local e restrito, apenas, à Idade Moderna.

b) A relação escravo/senhor sempre foi pacífica, por isso, a ausência de revolta.

c) O tráfico negreiro, seja árabe ou europeu, foi extremamente prejudicial para a África.

d) O tráfico e a escravidão são exclusivamente do continente africano.

e) Nenhuma das alternativas anteriores está correta.

2.A escravidão e o tráfico humano possuem antecedentes históricos que remontam as primeiras organizações sociais. A
respeito do tema, assinale a alternativa correta.

a) A escravidão é restrita ao continente africano e em mais nenhum outro lugar.

b) A escravidão não gerou problemas na África.

c) As características físicas, em especial a cor de pele, foram parâmetro para o racismo.

d) Os europeus não tiveram papel no tráfico de escravos.

e) Nenhuma das alternativas anteriores está correta.

3. A região do oceano Índico foi, ao longo dos séculos, uma área de intensa atividade escravagista. Sobre a escravidão na região,
assinale a alternativa correta.

a) O tráfico negreiro no Oceano Índico não teve importância na história africana.

b) Na Birmania, Indochina francesa e Quartar, a escravidão prevaleceu até o século XX.

c) Os britânicos não motivaram o abolicionismo na África Índica.

d) A escravidão no Índico se limitou à Península Arábia e a Índia.


e) Nenhuma das alternativas anteriores está correta.

4. A respeito do tráfico e da escravidão no oceano Índico e no litoral oriental da África, marque V para verdadeiro ou F para
falso e assinale a alternativa com a sequência correta.

O tráfico de escravos no Índico era multidirecional


( ) e multiétnico, os escravos vinham de várias regiões: do Cáucaso, da Índia, da
Arábia e do Extremo Oriente.

( ) As Cidades Suaíli, estabelecidas na África do Norte, comportavam-se como centros de combate ao tráfico negreiro.

O desenvolvimento das plantations de cravo da índia, em Zanzibar, durante o século XIX, resultou no aumento da procura por
( )

escravos na África, especialmente nas regiões dos Grandes Lagos Equatoriais.

( )Os escravos do sexo masculinos eram utilizados em trabalhos domésticos, agricultura, mineração, transporte, pesca, produção
têxtil e artesanal.

( ) O Saara e a África Oriental são duas regiões da África em que o tráfico negreiro se destinava ao Mundo Muçulmano.

a) V, V, V, F, V.

b) V, V, V, V, F.

c) V, F, V, F, V.

d) V, F, V, V, V.

e) Nenhuma das alternativas anteriores está correta.

5.O tráfico negreiro transoceânico pelo Atlântico ocorre por mais de três séculos e vários Estados europeus estiveram
envolvidos. Assim, com base em seus conhecimentos sobre o tema, assinale a alternativa correta.

a) O século XIX é caracterizado pelo nascimento do tráfico negreiro no Atlântico.

b) A Inglaterra foi a potência ocidental que não lucrou com o tráfico negreiro.

c) Portugal só começou a trafegar escravos para as Américas no século XVIII.

d) O Sul dos Estados Unidos e o Caribe são regiões que receberam muitos escravos.

e) Nenhuma das alternativas anteriores está correta.

6. Sobre a prática escravagistas praticada no mundo ocidental, assinale a alternativa correta.

a) Inventado pelos alemães, os asientos eram cartas de proibições do tráfico negreiro.

b) A Península Ibérica foi a única região que não praticou o tráfico negreiro.

c) Devido ao espírito humanista, a Suécia combateu veementemente o tráfico negreiro.

d) O tráfico no Oceano Atlântico não gerou riqueza para os Estados Absolutistas.

e) Nenhuma das alternativas anteriores está correta.

Resolução das atividades


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Considerações finais
O tráfico e a escravidão são parte da história africana e não, como muitos pensam, a História da África propriamente dita. Os
debates acerca do tema, suas origens e teorias perpassam por motivações religiosas, culturais e políticas. Seu mito de origem o
relaciona ao canibalismo e/ou com o direito de guerra. Autores como Spencer veem a escravidão como “modo evolutivo da
sociedade”, e Ward como parte integrante do processo produtivo. Escravidão e racismo andam juntos e, por isso, cada povo se
relacionou de modo diferente com o escravo. Destaque para a escravidão em solo africano e os problemas gerados pelo tráfico
transoceânico nos Oceanos Índico e Atlântico.

No Índico, o tráfico e a escravidão fizeram parte da construção do Mundo Muçulmano. Diversos caminhos levavam cativos da
África para a Península Arábica, Índia e demais regiões do oriente. As Cidades Suaílis foram fundamentais para a solidificação de
um tráfico transoceânico no Índico, com o transporte de cativos das mais diferentes etnias: indianos, malaios e chineses. Contudo,
a maior parte dos escravizados eram as populações negras da África. É importante ressaltar que, entre os árabes, o tráfico negreiro
começou no século VII, e entre os europeus no século XV.

No Atlântico, o tráfico transoceânico foi orquestrado e dinamizado pelos Europeus. É com as grandes navegações que o comércio
de gente ganha importância econômica para o desenvolvimento dos Estados Absolutistas. A colonização do Novo Mundo se fez em
boa medida com o incremento das plantations sistema de produção agrícola presente no sul dos Estados Unidos, Caribe e Brasil.
,

Consumidora de muita mão de obra, as plantations foram decisivas para a manutenção do tráfico transoceânico, foi graças a elas
que os portugueses, franceses e britânicos criaram, com o passar dos anos, uma sistematização do tráfico negreiro com o
casamento entre a burguesia mercantil e os Estados Absolutistas.

Concluímos que o tráfico negreiro e a escravidão geraram problemas para o desenvolvimento socioeconômico do continente
africano.

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RESUMO
Este estudo sobre Tráfico e escravidão na África tem como objetivo elucidar algumas questões sobre a escravidão e o tráfico
negreiro. Foi apresentado as origens da escravidão, os conceitos-chaves que definia o que é um cativo, a relação tênue entre
racismo e escravidão e como a servidão sempre esteve presente na história da humanidade em diferentes épocas e lugares.

Prosseguimos abordando o assunto do tráfico e escravidão entre os árabes. Vimos as várias formas de escravidão entre os
muçulmanos, as regiões exportadoras e importadoras de escravos, o modo como o cativo era inserido na sociedade e a dinâmica do
tráfico transoceânico pelo Índico.

Por fim, a questão central é o tráfico transoceânico no Atlântico. Refletimos sobre o desenvolvimento do tráfico e da escravidão
pelos europeus, a formação do “comércio triangular” entre Europa, África e Américas, as principais nações que lucraram com o
tráfico e a durabilidade desta prática até o seu fim com as campanhas abolicionistas do século XIX.

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Material Complementar
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REFERÊNCIAS
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APROFUNDANDO
Abordaremos, agora, sobre a polêmicas sobre a escravidão contemporânea. A escravidão e tráfico de seres humanos ainda é um
problema a ser enfrentado pelos governantes do século XXI. Somente no Brasil, existem cerca de 155,3 mil trabalhadores em
situação análoga à escravidão, algo que preocupa as autoridades.

Para tentar conter o problema, o presidente do Congresso Nacional, o senador Renan Calheiros (PMDB-AL), promulgou, em 2014,
uma proposta de ementa constitucional que ficou conhecida como PEC do Trabalho Escravo. A PEC vale para os trabalhadores
urbanos e rurais e tem como medida repressiva a desapropriação dos imóveis sem direito à indenização e a punição via Código
Penal dos proprietários. Sua publicação se deve ao insucesso das medidas anteriores, que estavam pautadas em multas e prisões
que, na maior parte das vezes, não eram aplicadas pelo poder executivo.

Entre as nações do continente americano que utilizam mão de obra escrava, o Brasil está atrás do Canadá, Estados Unidos e Cuba.
Segundo um levantamento feito pela organização de direitos humanos, Walk Free Foundation, no mundo, existem cerca de 36
milhões de trabalhadores escravos entre homens, mulheres e crianças, isso é equivalente a quase 0,5% da população global.

Ao todo, o continente americano conta com cerca de 1,28 milhões de pessoas escravizadas e um dos motivos seria o forte índice de
migração transnacional que contribui para propagação da escravidão, já que muitas famílias entram em países estrangeiros em
situação vulnerável.

Geralmente, essas pessoas são apreendidas por indivíduos e sujeitas a trabalhos deploráveis, servidão por dívidas, prostituição,
confinamento, ausência de alimentos, descanso e água, baixos ou nenhum salário e horas de trabalhos sobre a ameaça de
deportação e de morte.

É importante destacar que o Brasil foi a nação Sul-americana que mais tomou medidas para combater trabalho escravo,
pressionando as empresas diretamente em seus setores produtivos e tomando medidas necessárias para prender empresários e,
principalmente, fazendeiros que exploravam trabalhadores em lavouras espalhadas pelo interior. Com base nos dados fornecidos
pelo Ministério do Trabalho, desde 1995, a soma de trabalhadores libertos não para de crescer e, hoje, contabiliza cerca de 46.478
pessoas, o que demonstra um avanço significativo no combate à escravidão moderna.

REFERÊNCIAS

BRASIL tem 155 mil pessoas em situação de escravidão, diz ONG. BBC Brasil. 2014. Disponível em: http://www.bbc.com
/portuguese/noticias/2014/11/141117_escravidao_brasil_mundo_pai Acesso em: 16 nov. 2015.
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NÉRI, F. Congresso Nacional promulga a PEC do Trabalho Escravo. Política - Portal G1 em Brasília. 2014. Disponível em:
http://g1.globo.com/politica/noticia/2014/06/congresso-nacional-promulga-pec-do-trabalho-escravo.html Acesso em: 26 out.
.

2015.

PARABÉNS!

Você aprofundou ainda mais seus estudos!

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EDITORIAL

DIREÇÃO UNICESUMAR

Reitor Wilson de Matos Silva

Vice-Reitor Wilson de Matos Silva Filho

Pró-Reitor de Administração Wilson de Matos Silva Filho

Pró-Reitor Executivo de EAD William Victor Kendrick de Matos Silva

Pró-Reitor de Ensino de EAD Janes Fidélis Tomelin

Presidente da Mantenedora Cláudio Ferdinandi

C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ Núcleo de Educação .

a Distância; RODRIGUES Carlos Eduardo; ,

Historia e geografia africana: um panorama. Carlos Eduardo

Rodrigues;

Maringá-Pr.: UniCesumar, 2017. Reimpr. 2021.

40 p.

“Pós-graduação Universo - EaD”.

1. História. 2. Cultura. 3. EaD. I. Título.

CDD - 22 ed. 320

CIP - NBR 12899 - AACR/2

Pró Reitoria de Ensino EAD Unicesumar

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GEOPOLÍTICA E
HISTÓRIA
CONTEMPORÂNEA:
COLONIZAÇÃO E
INDEPENDÊNCIA
Professor(a) :

Me. Carlos Eduardo Rodrigues

Objetivos de aprendizagem
•Explicar o processo de colonização da África no século XIX.

•Explanar as consequências do Imperialismo sobre as sociedades africanas.

•Discutir a independência da África no século XX.

•Identificar os movimentos intelectuais e as lutas de independências.

•Transcrever a África do século XXI: economia, direitos humanos e democracia.


Plano de estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:

•A África colonizada

•A África independente

•A África hoje

Introdução
Caro(a) aluno(a), seja bem-vindo(a). Nesta nova etapa de sua vida acadêmica e profissional, tenho satisfação de apresentar a
disciplina Geopolítica e História contemporânea: colonização e independência. Neste estudo, analisaremos as contribuições do
continente africano para a História do mundo, de modo a resgatar uma África cheia de vida.

Os assuntos foram divididos em três momentos pelos quais vamos repassar os conhecimentos acerca do continente em período de
colonização, processo de independência e sua atual situação econômica e social.

A colonização africana é uma fase triste, porém importante para se entender a história da África. Vamos entender as motivações
dos colonizadores europeus, as causas e as consequências da colonização para a África e para os africanos. Faremos, também, um
debate significativo sobre colonização e racismo, ajudando você a entender as origens desse tema tão presente em nosso
cotidiano.

Na metade do século XX, inicia-se o processo de independência africana. Resistências e lutas armadas foram necessárias para a
libertação do jugo colonial. Em algumas colônias, o processo foi rápido, em outras, nem tanto. Sobre esse assunto, você estudará as
ideias presentes no processo de independência africana: o Pan-Africanismo, a Negritude e o Afro-Asiatismo, e a maneira como
essas ideias uniram as nações em prol de um objetivo comum.

Por fim, trataremos da África no século XXI. Passado o processo de consolidação das independências, cabe agora aos governantes
enfrentar os problemas atuais. Em um continente marcado por um histórico recente de extração de riquezas, genocídios e golpes
militares, a qualidade da democracia é uma das metas para o novo milênio, assim como os problemas econômicos e os direitos
humanos.

Desde já, desejo a você, caro(a) aluno(a), bons estudos, aprendendo mais sobre a condição do continente africano nos últimos
séculos e os desafios postos pelo novo milênio.
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A África Colonizada
Nas últimas décadas do século XIX, a África já havia passado por transformações significativas em sua estrutura social, política e
econômica. Cerca de 14 milhões de pessoas foram enviadas como escravos para as Américas e Ásia. Contestados pelos
abolicionistas, o tráfico e a escravidão sofreram um duro golpe com a promulgação de leis e pressões governamentais para o seu
fim, mas as ações europeias sobre a África não pararam por aí.

Na década de 1800, as intervenções no continente ficaram intensas, várias expedições europeias com o objetivo de estudar as
potencialidades físicas (animal, vegetal e mineral) e humanas (tradições, costumes e religiões) do continente se dirigiram para as
regiões mais remotas. A ideia central era revelar aquilo que os mapas representavam como “vazio”. Foi assim que as disputas pelos
territórios africanos se acirraram e os países começaram a criar protetorados dentro do continente.

Como estratégia de dominação, as potências imperialistas elaboraram contratos monopolistas com os reis e chefes africanos.
Aqueles que se postavam contrário aos contratos tinham seus territórios invadidos ou eram substituídos por outro chefe pró-
estrangeiros. As condutas de ocupação variavam de acordo com o país, algumas nações administravam diretamente suas colônias,
outros governaram por intermédio de protetorados. A Grã-Bretanha colonizava por meio de privilégios às companhias comerciais,
a França fazia uso do próprio governo como articuladora da ocupação. Em comum a todos eles, sempre quando necessário, faziam
uso da violência e da força para efetivar a colonização (VAINFAS, 2011).

A Corrida para África nasce com a Conferência de Berlim (1884-1885), reunião entre 15 países, sendo 13 europeus, convocados
por Bismarck, para resolver assuntos de política internacional. Em 26 de fevereiro de 1885, ficou decidido o Ato Geral documento
,

que definiu um novo direito de ocupação de territórios fora da Europa. Agora, a ocupação efetiva substituiria os direitos históricos,
não importava mais há quanto tempo a colônia havia sido criada, aquele país que conseguisse manter suas bandeiras sobre as
terras conquistadas passava a ser o dono. Estava dada a largada para a colonização da África.
Figura 1 - Uma linha do tempo com a história da colonização africana pelos europeus

Fonte: adaptada de Colonização… (on-line).

“A conquista da terra, que na maioria das vezes significa tomá-la daqueles que têm cor ligeiramente
diferente, ou narizes ligeiramente mais chatos que os nossos, não é uma coisa muito bonita quando a gente
a olha bem de perto”. (Conrad apud Wesseling).
Figura 2 - Mapa da divisão das Colônias Europeias na África em 1900

Fonte: Colonial… (on-line).

Figura 3 - Mapa da divisão das Colônias Europeias na África em 1914

Fonte: Colonias… (on-line).

O projeto colonial francês tinha pretensões de abranger a África de leste a oeste e evitar o avanço britânico, mas acabou por
ocupar uma gigantesca área na África Ocidental dividida em duas zonas administrativas. 1) África Ocidental Francesa que, entre
,

1895 a 1958, constituía um grupo de federações formadas por territórios do Alto Volta (Burkina-Faso), Costa do Marfim, Daomé
(Benin), Mauritânia, Níger, Senegal e Sudão Francês (parte do Mali), com a capital em Dakar, no litoral Atlântico do Senegal; 2)
África Equatorial Francesa entre 1910 a 1958, que compreendia as regiões do Congo Médio (República do Congo), Gabão,
,

Oubangui-Chari (parte da África Central) e Chad. A capital era Brazziville no Congo Médio. Na África Oriental, a maior colônia
francesa era a ilha de Madagascar.

A Grã-Bretanha saiu da conferência de Berlim com a maior parte dos territórios africanos. A África Oriental Britânica era,
oficialmente, chamada de British East Africa ou IBEA ( Imperial British East Africa ), compreendia os territórios do Egito, Sudão
(incluindo o Sudão do Sul), Quênia e parte dos protetorados de Uganda e Tanganica (atual Tanzânia). Já a África Ocidental Britânica
era composta pela Costa do Ouro (Gana), Gâmbia, Nigéria e Serra Leoa.

No sul do continente, os britânicos fundaram a colônia do Cabo e incorporaram a velha colônia holandesa de Orange, além das
áreas dos bôeres de Natal e Transvaal, formando, assim, a União Sul Africana, depois da Guerra dos Bôeres (1899 a 1902), luta
entre os colonos ingleses e holandeses pelo controle da região. Também pertenciam aos britânicos a Rodésia do Sul e a do Norte
(atuais Zimbábue e Zâmbia) e o protetorado da Bechuanalândia, atual Botswana.

As colônias alemãs compreendiam Camarões e Namíbia, na África Ocidental, e a África Oriental Alemã atual Tanzânia. Com a
,

derrota da Alemanha na Primeira Guerra Mundial (1914-1918), a Grã-Bretanha passou a controlar a maior parte das colônias
alemãs, exceto os territórios do Burundi e Ruanda, confiados à Bélgica. A Itália, uma potência colonial tardia e mais fraca, instituiu
colônias na Líbia, Eritreia e Somália. Foi duramente derrotada pelo Império da Etiópia, em 1896, só conseguindo anexar o
território, em 1936, criando, assim, a África Oriental Italiana formada pela Eritreia, Etiópia e Somália.
,

Figura 4 - População local da África Oriental Alemã entre 1906 e 1918

Fonte: Bundesarchiv… (on-line).

Já os ibéricos, os primeiros europeus a manterem contato com a África, conseguiram preservar alguns territórios. A Espanha
conservou regiões a noroeste próximas da Europa, no litoral Atlântico e Mediterrâneo, que, em 1936, receberam o nome de África
Ocidental Espanhola formada pelo cabo Yubi e a pequena província de Ifni, no litoral marroquino. Com os processos de
,

independências, ambas foram devolvidas ao Marrocos em 1958 e 1969, respectivamente.

Havia, também, a colônia do Rio do Ouro, atual Saara Ocidental, que fora repartido entre Marrocos e Mauritânia, em 1976, e até
hoje o território é reivindicado por grupos autóctones que proclamaram a República Árabe Sarauí Democrática. Ainda faziam
parte do domínio hispânico a Guiné Equatorial e as Ilhas Canárias.

Os portugueses tinham as mais antigas colônias na África: Angola, Moçambique, São Tomé e Príncipe, Guiné-Bissau e as ilhas de
Cabo Verde. No século XIX, essas colônias foram marcadas pela extração de riquezas e escravidão. No século XX, o sistema
colonial foi intensificado, principalmente, com a chegada de António de Oliveira Salazar (1889-1970) ao poder, em 1933, e a
instalação de um governo ditatorial de extrema direita em Portugal: o Salazarismo. Nas colônias de Angola, Moçambique e Guiné-
Bissau, o período entre 1961 e 1974 é caracterizado por inúmeras lutas armadas entre os movimentos de independência e o
regime de Salazar, que se esforçava para manter suas colônias em uma época em que os demais países europeus já haviam aceitado
as independências.
A Conferência de Berlim também decidiu que as bacias hidrográficas do Rio Congo e Níger ficariam abertas para a navegação
internacional, mas as áreas territoriais adjacentes podiam ser colonizadas. Foi assim que boa parte da África Central foi parar nas
mãos dos belgas. Leopoldo II garantiu um reconhecimento internacional de seu domínio pessoal (e não do Estado) em uma grande
porção de terra do Congo. Lá, instituiu um regime colonial que teve como imperativo econômico a exploração fundiária pautada na
produção agrícola e na extração de borracha e minérios. O regime de trabalho se dava pela violência; a primeira atividade cobrada
dos nativos foi a portage (transportador de carga), seguida das corveias de produção de alimentos, extração de marfim e da
borracha, ponto máximo da violência do colonizador (VAINFAS, 2011; MUNANGA, on-line).

Se no começo do século XIX, a ocupação europeia se restringia ao litoral, após 1880, a África passa a ser
dividida a uma velocidade média de 650.000 km² ao ano, duas vezes o tamanho da França. Em vinte anos, a
colonização atingiu 17.000.000 km², dez vezes o tamanho da Índia. Apenas pequenas porções escaparam do
domínio europeu: a antiga Abissína (atual Etiópia) e a Libéria, da qual a fundação se originou de aspirações
filantrópicas e civilizatórias e como medida governamental para reduzir o número de habitantes negros nos
Estados Unidos.

Fonte: adaptado de Daget (2010) e Wesseling (1998).

Racismo e colonização

A montagem do sistema colonial só foi possível devido à participação de setores das sociedades africanas. Os estrangeiros não
interferiam nas decisões dos chefes locais desde que cooperassem com os colonizadores, aliás, era de entre os chefes e suas
respectivas famílias que saíam os indicados para cargos técnicos e de comando, acesso ao ensino ocidental e oportunidades de
ascensão social. E, dessa maneira, nasceu, ao lado das elites tradicionais, uma nova elite composta por indivíduos africanos
educados pelos colonizadores. Contudo, seria exatamente essa nova elite, ora educada na África, ora educada na Europa, que
formaria os primeiros grupos políticos e intelectuais a fazer frente ao imperialismo na primeira metade do século XX (MACEDO,
2013).

Contudo, enquanto nasciam novas elites no interior do continente, na Europa, os estereótipos raciais se tornavam cada vez mais
comuns. Se a exploração colonial se pautava na extração de recursos naturais e imposição militar, no campo cultural, a supremacia
europeia se justificava por meio de princípios racistas, que atribuíam aos africanos o lugar mais baixo na escala humana. O atraso
tecnológico, a incapacidade natural, o déficit intelectual e a preguiça estão entre os argumentos mais comuns nos textos coloniais.
Veja o exemplo a seguir, um excerto escrito por um belga, na década de 20, quando visitou o Congo:

A primeira coisa que impressiona o europeu acabado de desembarcar no Congo é a extrema facilidade de
vida que o país oferece ao indígena [...] E, precisamente, é essa extrema facilidade de vida material que é,
que foi e que será a causa do desastre da raça preta. Com efeito, o seu caráter não foi temperado, como o
nosso, por séculos de lutas quotidianas pelo pão de cada dia. De modo que o negro não sabe, mas nem por
sombras, querer [...] O infeliz é imprevidente, despreocupado ao extremo, preguiçoso, incapaz de
continuidade no esforço e sequência nas ideias e, inacreditavelmente rotineiros [...] Em duas palavras: é um
débil mental. Por conseguinte, teria forçosamente de adquirir, e adquiriu, todas as taras dos débeis: a
falsidade, o gosto pela mentira e pelo roubo, a sensualidade, o servilismo, a insensibilidade [...]. (MACEDO,
2013, p. 147).

É interessante notar, caro(a) aluno(a), que o desenvolvimento das teorias raciais nos meios científicos coincide com o Imperialismo.
Os africanos, vistos como inferiores pelos agentes coloniais, transformaram-se em objetos de estudo, os sociólogos e geógrafos
reproduziam a exaustão, a ideia da preguiça inata; antropólogos e biólogos mediam os crânios das diferentes etnias para assim
determinar o grau de inteligência.

Na França e na Grã-Bretanha, organizavam-se exposições coloniais para exibir aos espectadores famílias inteiras de nativos
retirados da África, Ásia e das Américas. As famílias eram expostas no mesmo ambiente dos “animais selvagens e exóticos” como
forma de colocá-las no mesmo patamar. Essa atitude perdurou até a década de 30 (MACEDO, 2013).

Para a maior parte das sociedades africanas, o colonialismo começou nas últimas décadas do século XIX e, como consequência,
modificou as estruturas sociopolíticas, econômicas e culturais.

Podemos concluir que o Imperialismo foi uma etapa das relações entre África e Europa que havia se iniciado com as Grandes
Navegações, mas tal conclusão ainda é cabível de debates e pesquisas e, por ora, consideramos apenas uma afirmação parcial.
Contudo, é certo que o colonialismo deixou marcas significativas sobre a África e demarcou o quadro político que encontramos
hoje no continente.
Uso de negros como “bucha de canhão”

Era esse o pensamento de alguns analistas franceses envolvidos na Primeira Guerra Mundial (1914-1918),
as tropas negras serviriam de escudos para o exército branco. É melhor despovoar a colônia do que a
metrópoles. Outros enxergavam nos negros um protagonismo e resistências necessárias para superar o
inimigo. “As tropas negras não nos darão apenas o número; são compostos por soldados profissionais,
habituados a todas as privações e a todos os perigos, soldados que já estiveram debaixo de fogo, soldados
que nenhuma potência possui na Europa; têm precisamente as qualidades requeridas pelos longos
combates da guerra moderna: a rusticidade, a resistência, o instinto do combate, a ausência de nervosidade
e uma incompatível força de choque. A sua chegada ao campo de batalha produzirá no adversário um efeito
moral considerável”. (Coronel Charles Mangin, La Force noire, Paris, Hachette, 1910, p. 343).

Fonte: M’Bokolo (2011, p. 429).


A África Independente

História, política e lutas sociais

“Estou convencido que os esforços dos povos da África para conquistar ou reforçar sua independência,
assegurar seu desenvolvimento e consolidar suas especificidades culturais devem enraizar-se em uma
consciência histórica renovada, intensamente vivida e assumida de geração em geração” (M’Bow).

A Segunda Guerra Mundial (1939-1945) anunciava novos horizontes para o século XX, o conflito havia destruído boa parte das
metrópoles colônias, abrindo espaço para os movimentos de independência. Como fim do conflito, o mundo assistiu a ascensão de
dois blocos hegemônicos: os Estados Unidos de ideologia capitalista e a União Soviética de ideologia socialista. Existia um terceiro
bloco de países composto, em sua maioria, pelas antigas colônias europeias na África e na Ásia e pelos países periféricos da
América Central e do Sul.

No ano de 1955, esses países se reuniram em Bandung na Indonésia em um evento que ficou conhecido como a Conferência de
Bandung Entre os resultados da reunião, estão a condenação do colonialismo, do racismo e das armas atômicas, além da negação
.

das intervenções dos EUA e da URSS em “assuntos de Estados” das nações que se consideravam neutras.

É nesse contexto que nasce o conceito de Terceiro Mundo expressão definida pelo francês Alfred Sauvy (1898-1990) e que foi
,

utilizada como defesa dos países pobres frente aos interesses da URSS e dos EUA. Em 1961, é realizado, em Belgrado, capital da
extinta Iugoslávia, o I Congresso dos Países Não Alinhados com o objetivo de consolidar os propósitos da Conferência de Bandung: o
neutralismo político frente aos blocos socialista e capitalista.

O congresso é um marco para a geopolítica mundial, já que ele anuncia as transformações sociais e políticas das quais os países de
Terceiro Mundo iriam passar, entre elas, uma onda de independência que percorre as décadas de 60 e 70. Nesse período, a África
testemunhou a libertação de 43 nações.
As independências criaram novos Estados Nacionais, e promover o desenvolvimento social, econômico e político desses Estados
eram alguns dos problemas enfrentados pelos novos governantes. Os Estados africanos eram frágeis, muitos tratavam-se de
agrupamentos étnicos em uma área demarcada pelo colonizador.

Desordem, ausência de infraestrutura, o estrangulamento econômico e as rivalidades políticas, algumas vinculadas às clivagens
entre as antigas elites coloniais e aqueles que lutaram pró-independência, estavam presentes no cotidiano dos novos países. Além
disso, os governos se viam pressionados pela Nova Ordem Mundial: a Guerra Fria.

Washington e Moscou se envolviam nos conflitos internos na África em prol de seus projetos ideológicos. A África tinha um
terreno fértil para os negócios de armas e munições encorajados pelo ódio entre as etnias e a herança escravista, que somavam-se
ao sonho de construção nacional e aos velhos problemas do tempo do colonialismo.

Nas colônias portuguesas, as lutas pela libertação se arrastaram por anos. No caso de Angola, o Movimento
afro-brasileiro pró-libertação de Angola (MABLA) atuou em parceria com o Movimento Popular de Libertação
de Angola (MPLA) na luta contra o colonialismo lusitano. O professor Doutor em História, pesquisador de
Relações Internacionais Brasil/África, José Francisco dos Santos, conta bem essa história em seu livro
“Relação Brasil/Angola: a participação de brasileiros no processo de libertação de Angola, o caso do MABLA
e outros protagonistas”, lançado, em 2013, pela editora alemã Novas Edições Acadêmicas.

Fonte: o autor

Os movimentos intelectuais de libertação

As vanguardas intelectuais das colônias se esforçaram para criar ideias para unir as diferentes culturas de seus territórios em prol
de um único objetivo: a independência. Tais ideias tinham objetivo de criar um sentimento único contra os colonizadores e, por
isso, precisavam ultrapassar os limites regionais. Esses movimentos intelectuais estiveram presentes na Ásia e na África.

No extremo oriente, encontramos o Asiatismo união de diversas etnias em uma mesma comunidade, que tinha como slogan “A Ásia
,

para os asiáticos”. No mundo árabe-muçulmano, tanto na Ásia como na África, o Renascimento Islâmico se prendia à religião como
caráter universalista entre os povos islâmicos e o Pan-Arabismo buscava uma dimensão política no Islã para enfrentar os
colonizadores. Na África, o Pan-Africanism o, a Negritude e o Afro-Asiatismo formaram as matrizes ideológicas das lutas de
libertação. A seguir, vamos discorrer um pouco sobre eles.

Pan-Africanismo nasceu de um sentimento de solidariedade entre os negros das Antilhas e dos Estados Unidos envolvidos nas lutas
sociais por direitos, cidadania e contra a discriminação racial. Não se tratava de um projeto político unificador, pelo contrário,
procurava deixar as lutas contra o racismo por conta das particularidades de cada país. O termo Pan-Africanismo foi utilizado, pela
primeira vez, pelo advogado negro de Trinidad, Henry Sylvester Williams (1867-1911), em uma palestra realizada em Londres no
ano de 1900. O discurso de Williams argumentava sobre a exploração e a desapropriação das terras dos negros sul-africanos pela
minoria branca, mas não pregava uma união da África contra o colonialismo.
Figura 5 -Placa em homenagem a Henry Sylvester Williams que diz Cidade de Westminster - Henry Sylvester Williams 1867-1911
- Antiescravidão e ativista dos direitos civis, Primeiro vereador negro em Westminster, Eleito 1906 para Church Street Ward.

Fonte: Henry… (on-line).

O discurso contra o racismo e a colonização ganha novos ares com William Edward Burghardt (W. E. B. Du Bois 1868-1963),
sociólogo e historiador afro-americano considerado o patriarca do Pan-Africanismo. Du Bois questiona as ideias do “sionismo
negro” pregado por Marcus Mosiah Garvey (1887-1940), ativista político e empresário afro-jamaicano “favorável a um retorno dos
negros à África” (CONCEIÇÃO, 2006, p. 60). Garvey pôs em prática sua ideia ao criar uma companhia de navegação e utilizar de
seu carisma para mobilizar o deslocamento de dezenas de milhares de negros para a África (CONCEIÇÃO, 2006).

Figura 6 - W. E. B. Du Bois (1918)

Fonte: WEB… (on-line).

Para expandir as ideias do Pan-Africanismo, Du Bois organizou os cinco primeiros Congressos Pan-africanos: 1919, em Paris;
1921, em Londres; 1923, em Londres e Lisboa; 1927, em Nova Iorque; e 1945, em Manchester. Esse último contou com um
movimento cultural de intelectuais afro-americanos e negros africanos envolvidos nas lutas anticoloniais. A partir desse momento,
o Pan-Africanismo entra na fase da ação positiva, isto é, no conflito direto, cuja eficácia dependia do engajamento de todos os
habitantes das colônias: intelectuais, políticos, empresários, trabalhadores e cidadãos comuns.
Negritude aparece, pela primeira vez, nos textos do poeta e político martinicano Aimé Césaire Fernand David (1913-2008) e ganha
notoriedade teórica com o senegalês Léopold Sédar Senghor (1906-2001).

Objetivamente, a negritude é um fato: uma cultura. É o conjunto dos valores – econômicos e políticos,
intelectuais e morais, artísticos e sociais – não somente dos povos da África Negra mas também das
minorias negras da América e, inclusive, da Ásia e Oceania (...). É, em suma, a tarefa a que se propuseram os
militantes da negritude: assumir os valores da civilização do mundo negro, atualizá-los e fecundá-los,
quando necessário com as contribuições estrangeiras, para vivê-los em si e para si, mas também para fazê-
los viver por e para os Outros, levando assim a contribuição de novos Negros à Civilização do Universal
(CONCEIÇÃO, 2006, p. 62).

Afro-Asiatismo movimento que ficou caracterizado pelo neutralismo frente aos blocos capitalistas e socialistas, o objetivo era a
solução dos problemas comuns dos países do Terceiro Mundo, a luta contra o racismo, o fim da exclusão social e do colonialismo.

Por meio do Afro-Asiatismo, os países colonizados passaram a ter voz nas assembleias da Organização das Nações Unidas (ONU),
especialmente após o protagonismo demonstrado na Conferência de Bandung e o sucesso obtido na Conferência do Cairo de
1957. Essa conferência sinalizou a formação do movimento de Solidariedade dos Povos Afro-Asiáticos e, já na Primeira
Conferência dos Povos da África, realizada, em 1958, na cidade Acra, capital de Gana, contribuiu para alavancar o processo de
descolonização.

Figura 7 - Aimé Césaire (2003)

Fonte: Aime… (on-line).

Os movimentos intelectuais de libertação foram essenciais para a independência das nações africanas, visto que eles serviram
como aglutinador das ideias em prol de um objetivo comum. Os caminhos seguidos pelas nações foram diversos. Os interesses
divergentes entre as antigas elites coloniais, as elites tradicionais e a nova elite nascida no decorrer da colonização colocava a
população em um fogo cruzado e deixava o ambiente político conturbado.

Em alguns países, as lutas de libertação se prolongaram por décadas e, quando terminaram, foram sucedidas por guerra civil. As
crises econômicas, fome e epidemias, golpes de Estados e a constante interferência dos blocos capitalistas e socialistas nos países
africanos transformavam a via democrática em um sonho quase impossível de alcançar.
Quatro pontos-chaves da descolonização na Ásia e na África

a) Um acordo da metrópole com a elite local para uma independência gradativa (África Tropical).

b) A exploração de divergências internas como forma de controlar o processo (como na Índia e no


Paquistão).

c) Luta fracassada contra a guerrilha revolucionária (guerra franco-vietnamita e argelina).

d) Apoio à facção conservadora durante a guerra civil (Filipinas, Vietnã do Sul, Coreia do Sul e China).

Fonte: adaptado de Visentini (2013).

A África Hoje
Finalmente, chegamos ao século XXI. Nesta aula, vamos trabalhar os desafios da África no novo milênio. Serão apresentados três
pontos: a situação econômica, os direitos humanos e a segregação racial e a qualidade da democracia.

Comumente, a África que é divulgada na mídia é aquela que vive na penúria e em crises sociais e
econômicas. A África do imaginário coletivo é aquela que possui ritmos dançantes, é coberta por savanas e
animais selvagens. Tudo isso faz parte da África, mas não apenas isso (o autor).

A situação econômica
Os anos de 1960 e 1970 se caracterizaram pelas lutas de libertação, porém, da década de 80 em diante, a situação pouco mudou,
as economias permaneciam frágeis e as guerras civis se arrastavam pelo continente. Raros e curtos períodos de paz, facções
políticas divergentes e várias etnias dentro de um mesmo território nacional colocavam em cheque a gestão dos primeiros
governantes pós-independência.

Essa incapacidade de lidar com os conflitos abriu caminho para a ascensão de ditadores ou políticos financiados pelo capital
estrangeiro, que abriram o país para a exploração dos recursos naturais por empresas transnacionais em troca de um pequeno
valor em forma de corrupção. O endividamento externo, provocado por altos empréstimos junto ao exterior para montagens de
parques industriais apenas colaborou para aumentar a crise, reforçando ainda mais a dependência econômica do continente
(SOUZA, 2007).

Em meio a esses problemas, algumas nações conseguiram certo avanço econômico, é o caso de Botsuana, Gana, Ilha Maurícia e
Zimbábue. A maior potência econômica é a África do Sul, que, desde o começo dos anos de 1990, é responsável por metade da
produção do continente: 45% dos automóveis; 50% dos aparelhos e sistemas aparelhamentos de telefonia; 60% da energia; 60%
do tráfego ferroviário; 90% da extração de carvão e do ferro. Nos demais países, prevalecem economias agrárias, fornecedores de
matérias-primas e/ou de recursos minerais e energéticos.

Essa economia de exportação produz uma riqueza significativa que, na prática, não é revertida para a população, o grosso da
rentabilidade acaba nas mãos de negociantes locais relacionados com o capital estrangeiro ou políticos corruptos, o que gera boa
parte das precárias condições sociais dos países africanos. No resumo, a África é o continente mais pobre do mundo, com as mais
baixas taxas de desenvolvimento urbano e os menores IDH (MACEDO, 2013).

Relação países e principais produtos exportados (resumo)

Fonte: adaptado de Macedo (2013, p. 173).

Atualmente, o continente procura saídas para as crises. Articulações políticas entre as nações buscam solidificar a cooperação
econômica. Em 10 de agosto de 2012, integrantes da Southern African Development Community (SADC) e da Comunidade para o
Desenvolvimento da África Austral se reuniram em Maputo, capital de Moçambique, para discutir estratégias de desenvolvimento
econômico. O evento contou com a presença de outras organizações, como a Comunidade da África Oriental (EAC) e do Mercado
Comum da África Oriental e Austral (COMESA), que tinham como proposta a construção de uma Zona de Comércio Livre Tripartida
(T-FTA).
Figura 8 - Edifício-sede da Southern African Development Community (SADC) em Gaborone, Botswana

Fonte: Soulthern… (on-line).

Entre os assuntos discutidos, encontram-se o desenvolvimento social e humano e áreas transversais como gênero, HIV/Aids e meio
ambiente; a integração econômica e recursos naturais; política, defesa e segurança. Também foram debatidas a possibilidade de
criação de uma zona de livre comércio até 2017 e uma única moeda até 2018, tudo isso tendo a União Africana (UA) como gestora
(FERRACINI, 2015).

União Africana (UA) de 2002 substituiu a Organização da Unidade Africana (OUA) de 1963. A União
Africana tem atuado na mediação e prevenção de conflitos [...]. Criado em 2004, o Conselho de Paz e
Segurança da União Africana foi concebido para atuar diante de circunstâncias graves nos países-membros
– tais como crimes de guerra, genocídio ou crimes contra a humanidade [...]. A União Africana tem
contribuído de maneira significativa para a evolução institucional do continente, passando a capitanear o
chamado “renascimento africano” e forjando um novo perfil para a África – caracterizado, sobretudo, pela
modernização das instituições políticas e das estruturas econômicas. As iniciativas [...] estão voltadas ao
respeito aos direitos humanos, à abertura econômica e à transparência administrativa nos Estados-
membros.

Fonte: União… (on-line).

Os direitos humanos e a segregação racial

Na história africana, o mais expressivo exemplo de segregação racial é, sem dúvida, o Apartheid Implantado na África do Sul, o
.

regime possuía uma estrutura racista amparado pelas instituições do Estado e permitido por lei. Sua origem remota a 1911,
quando, na antiga União Sul-Africana, foi criado o Regulamento de Trabalho Nativo, que considerava uma atitude criminosa
qualquer negro se recusar a trabalhar.

Na época da criação do código, cerca de 60% do euro-descendentes controlavam a política por meio do Partido Nacional, o que
possibilitou a implantação do Apartheid, em 1948. O regime garantia aos 16% da população de origem europeia quase 75% da
renda nacional, deixando 25% para os 84% da população negra. Além disso, foi proibido o direito a voto e a presença de negros no
parlamento. A população urbana negra foi enviada para guetos e pequenos Estados negros, “nações” compostas por pessoas da
mesma etnia, que foram criados para isolar as lideranças africanas (SERRANO, 2010).
Os direitos humanos são universais e estão acima de qualquer governo. São direitos que respeitam a vida, o
corpo, a dignidade individual e a identidade cultural (o autor).

Durante o Apartheid as lutas sociais e a violência repressiva dos governantes sensibilizaram a opinião pública internacional e
,

nacional. Nos anos de 1980, uma parcela significativa da população branca já desaprovava o regime, e, em 1990, o presidente da
África do Sul, Frederik Willem de Klerk (pró-minoria branca), iniciou o processo de desmonte do Apartheid Nesse período, vários
.

ativistas políticos foram libertados, entre eles, Nelson Rolihlahla Mandela (1918-2013), solto após cumprir 38 anos de prisão por
ser considerado terrorista pelas autoridades.

Em vista de preservar a unidade nacional, em 1991, começaram os debates para por fim à segregação. Ao término dos trabalhos,
foi apresentada uma nova Constituição Nacional com um caráter mais democrático, marcando o fim do Apartheid Em 1994,.

Mandela é eleito presidente da África do Sul com a missão de construir um novo país, moderno e democrático.

Figura 9 - Nelson Mandela (2008)

Fonte: Nelson… (on-line).

A questão do Apartheid incita outro debate contemporâneo na África: os Direitos Humanos. Em uma entrevista concedida ao
portal Por Dentro da África o filósofo angolano Domingos José João da Cruz, da área de Direito e Relações Internacionais,
,

organizador do livro “A África e os Direitos Humanos” (2014), faz uma abordagem sobre o tema, envolvendo 20 cientistas e
pesquisadores de vários países com o objetivo de contribuir para a melhoria dos Direitos Humanos no continente.

Segundo o próprio autor, existe uma facilidade em debater o tema em nações como África do Sul, Botswana, Cabo Verde, Gana,
Ilhas Seychelles, Namíbia e Ruanda, pois são lugares em que a democracia avançou muito nos últimos 30 anos. Contudo, em
regiões onde a situação é de extrema violência, como em Angola, Gâmbia, Guiné Equatorial e Suazilândia, o tema ainda é um tabu
(LUZ, 2014).

Os Direitos Humanos para a África são reconhecidos desde o ano de 1981, quando foi aprovada a Carta Africana dos Direitos
Humanos e dos Povos pela Conferência Ministerial da Organização da Unidade Africana (OUA), em Banjul, na Gâmbia. Em 1991, foi
estabelecida a Declaração de Windhoek, documento que protege a livre imprensa e a comunicação social, instrumentos essenciais
para a democracia.

Em Cabo Verde, Namíbia e São Tomé e Príncipe, o níveis de liberdade de impressa são próximos ao do Canadá e dos Estados
Unidos. Na África do Sul, o tema avança por causa da economia, destaque para os debates públicos sobre tecnologia, literatura,
cultura e ciência. Em outros países, a situação é completamente oposta. Existem relatos de forte repressão a jornalistas na
Suazilândia, Guiné Equatorial, Angola e Eritreia. Nesse último, todos os meios de comunicação são controlados pelo Estado.

A qualidade da democracia

A qualidade da democracia é o principal desafio da África do século XXI. O continente ainda é caracterizado pela instabilidade
política do século passado, mas trilha um caminho progressista. A necessidade de ingresso no mercado global pressiona as nações
a avançarem em termos democráticos, uma vez que o fortalecimento da democracia é uma imposição para manutenção do
comércio internacional com a União Europeia e com os Estados Unidos. Esse fato já foi percebido pela classe média de muitos
países, e, talvez por isso, haja menos oposição a mecanismos democráticos de direitos.

Atualmente, Gana é, sem dúvida, o melhor exemplo de estabilidade democrática. A alternância de poder prevalece relativamente
tranquila desde 1981, há quase 30 anos, quando o último presidente militar, Jerry John Rawlings, cedeu lugar para Hilla Limann.
Nas últimas eleições, realizadas em 2012, a diferença entre o candidato eleito, John Dramani Mahama, do partido Congresso
Nacional Democrático (CDN) e o seu opositor, Nana Akufo-Addo, do Novo Partido Patriótico (NPP) foi pequena: 50,03% contra
48,05%.

Apesar da acusação de fraude por porte do candidato derrotado, algo que poderia levar o país a conflito em outras épocas, o
resultado foi aceito pela grande maioria da população, preservando, assim, a continuidade da democracia (Da AFP, 2012).

Figura 10 - Pescadores ganeses fazendo seu trabalho na praia Teshie, uma comunidade de pescadores famosa em Gana

A cada ano, a África conquista seu lugar no mundo. Existe uma atual tomada de consciência entre a população que os faz
protagonistas de sua própria história. A diminuição dos conflitos nacionais, a ascensão de políticos engajados em promover o
desenvolvimento do continente e acordos internacionais que evitam a extração da riqueza sem um retorno sustentável estão nas
pautas de muitas ações governamentais. A busca por soluções caseiras para os problemas do cotidiano, as experiências de
intercâmbio entre as nações, a valorização e orgulho de suas culturas e o alinhamento entre educação, economia e bem-estar
social trazem novas expectativas aos africanos. É claro que a desigualdade social e o desequilíbrio entre as nações geram fomes e
conflitos. Feridas e sequelas do colonialismo e das guerras civis do século XX ainda estão vivas, mas o sentimento de esperança que
os primeiros anos do século XXI trouxeram ao povo africano é motivo de alegria e comemoração e ajuda a projetar um futuro
melhor.
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ATIVIDADES
1. A colonização da África é uma fase importantíssima da história do continente. Sobre o tema e com base leitura do texto,
assinale a alternativa correta.

a) A Grã-Bretanha saiu da Conferência de Berlim sem nenhum território africano.

b) A Bélgica foi uma “potência colonial secundária”, sempre atrás da Itália e da Suíça.

c) A Suécia possuía as mais antigas colônias na África, como Angola e Moçambique.

d) A Itália colonizou toda a África Ocidental, inclusive os velhos territórios franceses.

e) Nenhuma das alternativas anteriores está correta.

2. Com relação à Partilha da África, assinale a alternativa correta.

a) A Partilha da África foi um processo que não modificou as sociedades africanas.

b) O Império Russo possuía as maiores áreas coloniais na África.

c) O Congresso de Berlim marca o fim da Colonização da África.

d) Leopoldo II garantiu um domínio pessoal sobre uma grande parte do Congo.

e) Nenhuma das alternativas anteriores está correta.

3.O processo de independência na África ocorreu em meados do século XX, trata-se de um movimento amplo, composto por
bases ideológicas politicas e culturais. Desse modo, podemos afirmar que:

a) A independência da África ocorreu durante a Primeira Grande Guerra (1914-1918).

b) Na Guerra Fria, os blocos capitalistas e socialistas não inferiram na política africana.

c) Após a independência, a África do Sul se transformou em uma Potência Mundial.

d) O Pan-Africanismo foi uma das matrizes ideológicas para a independência da África.


e) Nenhuma das alternativas anteriores está correta.

4. Sobre as lutas pela independências nos países africanos, é correto afirmar que:

a) A Independência da África acontece independentemente do contexto da Guerra Fria.

b) Os movimentos intelectuais de libertação dificultaram as ações de alforria colonial.

c) O Afro-Asiatismo é o movimento que pedia o retorno dos negros à África.

d) W. E. B. Du Bois é um afro-americano considerado o patriarca do Pan-Africanismo.

e) Nenhuma das alternativas anteriores está correta.

5. Com relação às transformações no continente, é correto afirmar que:

a) O regime de segregação racial implantado na África do Sul não afetou os negros.

b) A economia africana evoluiu, levando o continente a sair da pobreza extrema.

c) Gana tem uma boa estabilidade democrática, há quase 30 anos, há alternância de poder.

d) Congo e Líbia são os países mais industrializados da África.

e) Nenhuma das alternativas anteriores está correta.

6. Com bases em seus conhecimentos sobre História da África no século XX, assinale a alternativa correta.

a) A África do século XXI ainda continua sobre o julgo colonial.

b) A África do Sul tem a economia mais atrasada do continente.

c) Os direitos humanos na África não avançaram desde o século XIX.

d) A qualidade da democracia não é um problema africano.

e) Nenhuma das alternativas anteriores está correta.

Resolução das atividades

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Considerações Finais
A colonização foi um processo violento, os países europeus recortaram e reorganizaram os territórios de acordo com seus
interesses e instalaram sistemas colônias para extrair as riquezas da África. Terras foram confiscadas, trabalhos forçados
instituídos e tributos foram cobrados à força. O racismo serviu para justificar as diferenças “naturais” entre brancos e negros e,

consequentemente, a colonização. É importante, caro(a) aluno(a), observar que a colonização da África foi um procedimento
organizado que provocou grandes feridas no continente.

Passado o longo processo de colonização, as nações africanas adquirem suas independências após Segunda Guerra Mundial. Três
movimentos intelectuais foram fundamentais para unir os países contra seus colonizadores: o Pan-Africanismo, a Negritude e o
Afro-Asiatismo. Contudo, querido(a) aluno(a), você não deve se esquecer de que o século XX é marcado pela Guerra Fria, momento
histórico em que o continente africano foi palco de disputas entre soviéticos e americanos. Apesar dos esforços promovidos
depois Conferência de Bandung, as nações africanas ainda atuavam como meros piões no jogo das relações internacionais, sujeitas
a golpes de Estado, fomes, epidemias e a manutenção de uma economia fragilizada.

O fim da Guerra Fria, no entanto, anunciava novos horizontes. Os anos de 1990 começam com o fim do Apartheid (1994), gerando
alto grau de otimismo entre os governantes, que, com ares renovados, uniam forças para combater os problemas do cotidiano por
meio de políticas públicas de promoção ao desenvolvimento econômico e social.

O século XXI se apresenta como um divisor de águas, os chefes de Estados estão paulatinamente enfrentando os desafios do novo
milênio: a situação econômica, os direitos humanos e a segregação racial, a qualidade da democracia, entre outros temas, estão no
centro dos debates políticos. Os países trocam informações, apresentam propostas, criam blocos econômicos, e isso nos mostra
uma África autônoma e dona de seu próprio destino, com cidadãos protagonistas de sua história.

E você, ainda acha que a África é um continente parado no tempo?

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RESUMO
A colonização da África começa no final do século XIX e termina na segunda metade do século XX. Movido pelo interesse em
matéria-prima para a industrialização que se acirrava na Europa, o continente africano foi repartido e reorganizado pelas
potências ocidentais com a instalação de grandes estruturas políticas e militares de dominação. Entre as ideologias para justificar o
processo, encontramos o racismo, tema ainda em pauta em pleno mundo contemporâneo.

Com a Segunda Guerra Mundial, as potências europeias enfraqueceram e, assim, abriu-se espaço para as suas colônias lutarem por
independência O jugo colonial foi encarado com lutas e resistências, e as ideias centrais que uniam as nações foram o Pan-
.

Africanismo, a Negritude e o Afro-Asiatismo.

A Guerra Fria e as disputas ideológicas entre americanos e soviéticos, porém, colocaram os presidentes dos países africanos em
situação delicada, haja vista que seus governos estavam constantemente sendo atacados por ambos os blocos. Isso se refletia nos
constantes golpes de Estado, fomes, epidemias e na manutenção de uma economia fragilizada.

Com o fim da Guerra fria e do Apartheid, em 1994, a África passou a respirar um ar de otimismo e a encarar os novos desafios
apresentados pelo século XXI: o desenvolvimento econômico e social, a segregação racial, os direitos humanos, o combate à fome
e às epidemias estão entre as prioridades a serem solucionadas pelos governos.

Com a troca de informações, propostas de paz, diplomacia e blocos econômicos, integração cultural e religiosa e aplicação de
experiências locais, a África procura trilhar um novo caminho, mostrando-se ao mundo como um continente autônomo e
protagonista de sua história.

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Material Complementar
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REFERÊNCIAS
CONCEIÇÃO, J. M. N. P. África: um novo olhar. 1 ed. Rio de Janeiro: CEAP, 2006.

DA AFP. Oposição denuncia fraude e se diz vitoriosa nas eleições de Gana. Mundo.Portal G1, 2012. Disponível em:
< http://g1.globo.com/mundo/noticia/2012/12/oposicao-denuncia-fraude-e-se--diz-vitoriosa-nas-eleicoes-de-gana.html >. Acesso
em: 8 dez. 2015.

FERRACINI, R. Desenvolvimento econômico e regional. Especial África, Revista Glocal 2015. Disponível em: < http://issuu.com
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FILE:WEB Du Bois 1918.jpg. Wikimedia Commons Disponível em: < https://commons.wikimedia.org


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M’BOKOLO, E. África Negra: história e civilizações. Tomo II. Salvador: EDUFBA; São Paulo: Casa das Áfricas, 2011, p. 429.

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MUNANGA, K. A República Democrática do Congo – RDC Disponível em: < http://casadasafricas.org.br/wp/wp-content/uploads


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SANTOS, J. F. dos. Relação Brasil/Angola: a participação de brasileiros no processo de libertação de Angola, o caso do MABLA e
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VAINFAS, R. Conecte História, 2. São Paulo-SP: Editora Saraiva, 2011.

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REFERÊNCIAS ON-LINE

1 Em: < http://www.angolabrasil.org.br/2014/?p=538 >. Acesso em: 7 maio 2016.

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APROFUNDANDO
Falaremos a respeito do comércio exterior: a China em Angola. Todos têm noção do poder econômico do “Gigante Asiático” e não é
de agora que ele se manifesta.

Nas últimas décadas, os produtos chineses invadiram as lojas de varejo e atacado do Brasil, é difícil encontrar um cidadão que não
tenha adquirido algum produto do país asiático. Os Made in China invadiram lojas, casas e supermercados, especialmente após a
composição dos BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) em 2006. Contudo, os Made in China não são exclusividade do
Brasil, na África, os chineses realmente encontraram um negócio da china.

Informações retiradas do portal Câmara de Comércio Brasil Angola apontam que a China é o país que mais vendeu produtos a Angola
em 2015.

O país asiático lidera a lista dos 20 principais países exportadores e importadores para Angola. Segundo a reportagem:

De Janeiro a Junho deste ano, [...] o “gigante” asiático foi o principal exportador de mercadorias para o nosso
País, com um valor aduaneiro de 198,9 mil milhões Kwanza (Kz) [cerca de 46.03 bilhões de reais], o que
representa um aumento de 13,9%, em relação ao período homólogo de 2014.

Com esse volume comercial, a China ultrapassou Portugal e um dos motivos, segundo a matéria, seria “o incremento das linhas de
créditos chinesas, que beneficiam grosso modo as empresas” de Angola. A reportagem aponta, ainda, que, além da China, a Coreia
do Sul entrou no quadro dos principais parceiros comerciais da Angola:

No quadro dos países que mais exportam para Angola, outra surpresa é o posicionamento da República da
Coreia do Sul, com uma variação para cima de 396,4%.

A Coreia do Sul ultrapassou antigos parceiro comerciais, como os Estados Unidos, África do Sul e o Brasil. Com essa ampliação em
sua rede de cooperação internacional, Angola difundiu sua exportação de produtos naturais e agrícolas, como “óleos brutos e não
brutos de petróleo, assim como os diamantes trabalhados, mas não montados nem engastados, maioritariamente na China”, e
importou “máquinas de sondagem ou perfuração, que tiveram um peso de 140,0 mil milhões Kz (32.40 bilhões de reais)”.

No século XXI, a África se transformou em um “continente estratégico” para os países em desenvolvimento. Os BRICS estão,
gradativamente, ocupando lugares que até então pertenciam aos Estados Unidos e à União Europeia.

Talvez a crise econômica de 2008/2009 tenha pressionados os países emergentes a buscarem alternativas comerciais. Ou a
acessão de novos políticos nos países africanos, preocupados em reduzir a interferência estrangeira, tenha levado a maior
interação com outros países. O mundo econômico vai muito além da zona do dólar e do euro, e do Comércio exterior: a China em
Angola é prova disso.

REFERÊNCIA

APIEX. China já é o que mais vende para Angola. Angola Brasil 2015. Disponível em: http://www.angolabrasil.org.br
,

/2014/?p=538 Acesso em: 7 maio 2016.


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