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HISTÓRIA DA ÁFRICA

O Primeiros Hominídeos Africanos

Introdução

          O período Plioceno Inferior (5,3-2,5 milhões de


anos atrás) coincide com a fase final da existência da
fauna chamada vilafranquiana, de caráter arcaico: bovinos
(como o Leptobos etruscus), alguns canídeos (como o
canis etruscus) e felinos, o Hippopotamus antiquus, o
Dicerorhinus etruscus, o mastodonte (Anancus
arvernensis), os elefantes antigos (Archidiskodon
meridionalis vestinus e meridionalis), ursos (ursus
etruscus), suínos (sus strozzi), equinos (equus stenonis)
etc.

          Durante o Plioceno Inferior, os antropóides já se


apresentavam como pongídeos (Pongidiae) ou hominídeos
(Hominidiae). Os primeiro desses gêneros levou aos
orangotangos, gorilas e chimpanzés. O segundo deu
origem às diversas formas humanas que passamos a estudar.

          Essas criaturas adotaram um postura bípede mais ou menos permanente. São diversas
as explicações para isso. A primeira é a de que no período de 5 a 2,5 milhões de anos atrás
mudanças climáticas tornaram progressivamente a África um continente árido. Florestas foram
muito lentamente definhando, abrindo áreas de savanas e pastos entre os bosques situados
em locais úmidos. Os antropóides se adaptaram a esse ambiente, mas se viram obrigados a
percorrer campos abertos à cata de novos bosques quando seu habitat não mais conseguia
sustentá-los. A postura bípede permitia ver mais longe quando estavam no chão, evitando
seus predadores. Além disso, esta postura liberava os braços para carregar objetos e crias.

          Uma outra tese defende que o deslocamento de um bípede consome menos energia que
o de um quadrúpede, mesmo quando apenas em velocidade de marcha. Dessa maneira, a
postura bípede seria uma estratégia de redução no dispêndio de energia na coleta de
alimentos ao se deslocar de um bosque a outro.

          Uma terceira razão relaciona a postura à exposição do corpo ao sol na tórrida África. A
postura ereta expõe menor área corporal à insolação, ao tempo em que aumenta a área
corporal refrescada pela brisa.

          Possivelmente o bipedalismo decorra de uma conjunção desses fatores.

          Essas criaturas já adotavam um postura bípede mais ou menos permanente. São


diversas as explicações para isso. A primeira é a de que no período de 5 a 2,5 milhões de anos
atrás mudanças climáticas tornaram progressivamente a África um continente árido. Florestas
foram muito lentamente definhando, abrindo áreas de savanas e pastos entre os bosques
situados em locais úmidos. Os antropóides se adaptaram a esse ambiente, mas se viram
obrigados a percorrer campos abertos à cata de novos bosques quando seu habitat não mais
conseguia sustentá-los. A postura bipedal permitia ver mais longe quando estavam no chão,
evitando seus predadores. Além disso, esta postura liberava os braços para carregar objetos e
crias.

          Uma outra tese defende que o deslocamento de um bípede consome menos energia que
o de um quadrúpede, mesmo quando apenas em velocidade de marcha. Dessa maneira, a
postura bípede seria uma estratégia de redução no dispêndio de energia na coleta de
alimentos ao se deslocar de um bosque a outro.
          Uma terceira razão relaciona a postura à exposição do corpo
ao sol na tórrida África. A postura ereta expõe menor área corporal à
insolação, ao tempo em que aumenta a área corporal refrescada pela
brisa.

          Possivelmente o bipedalismo decorra de uma conjunção


desses fatores.

O Aparecimento do Gênero Ardipitecus

          Até há pouco, o espécime de hominídeo tido como o mais antigo era o Ardipitecus
Ramidus (ardi significa solo e ramid quer dizer raíz na língua de Afar). Foi descoberto na região
etíope do Médio Awash em 1974. Esse habitat era uma floresta temperada ou tropical. Sua
datação estabeleceu a idade de 4,4 a 4,5 milhões de anos. A análise dos esqueletos
encontrados indica que ele já era ocasionalmente bípede, liberando as mãos para outras
atividades. A forma das mandíbulas mostra uma dieta baseada em vegetais duros e fibrosos e
ausente de carnes (molares enormes e esmaltados).

          Uma expedição recente encontrou no vale do rio Awash, na Etiópia, um gênero de


primata batizado como Ardipithecus Ramidus Kadabba, vivente entre 5,8 e 5,2 milhões de
anos atrás. Ele tinha compleição assemelhada à do chimpanzé, mas com características
dentárias de hominídeo, mostrando uma dieta rica em fibras e não apenas de frutas e folhas
tenras.

          Também os A. Kadabba viviam em árvores e se discute sua capacidade de andar como


um bípede. O cérebro dessa espécie é mais ou menos igual ao do chimpanzé.

          Com a nova descoberta, o Ardipithecus ramidus foi rebatizado como Ardipithecus


ramidus ramidus.

O Surgimento do Gênero Australopitecus

          O resfriamento do clima no período Mioceno Final (6 a 5,3 milhões de anos atrás) 
provavelmente detonou o processo evolutivo dos antropóides em direção aos hominídeos. No
período Plioceno Inferior, há cerca de 4,5 milhões de anos, no final da Era Terciária, surgiam
no sul da África as primeiras formas do gênero australopiteco (em grego, australo = sulista,
meridional, e pithecos = símio, macaco), assim chamado por ter sido descoberto na região do
Transvaal, no sul da África.

          O australopiteco, classificado na teoria clássica como o mais antigos dos hominídeos e,
portanto, ancestral do homem moderno, teve seu lugar na escala evolutiva reavaliado quando
pesquisas arqueológicas na região de Tugen Hills, no Quênia, trouxeram à luz cinco
exemplares de um gênero de primata que foi batizado como Orrorin Tugenensis e que vivia há
6 milhões de anos. O termo orrorin no dialeto tuguenense significa homem original.

          O orrorin vivia no topo das árvores, mas aparentemente podia andar como bípede
quando estava no solo. Seus molares eram pequenos e esmaltados, como os dos humanos,
características ausentes nos australopitecos, que surgiram 1,5 milhões de anos depois. Este
fato sustenta a tese de que, quando do advento do orrorin, já havia ocorrido a ruptura entre
as linhas hominídea e pongídea. Com base nisso, estima-se que essa bifurcação nas linhas
evolutivas tenha ocorrido há 9 milhões de anos.
          Não há certeza se o orrorin pertenceu a uma linha descontinuada de antropóides que
viveu antes da separação das linhas hominídeo-pongídeo ou se é de fato um hominídeo.
Confirmada a primeira hipótese, o bipedalismo não seria característica exclusiva dos
hominídeos.

          Os descobridores do orrorin acham que os


australopitecos (que seriam classificados como parantropo ou
como descendentes de uma outra linha que havia se destacado
anteriormente da linha evolutiva dos antropóides) chegaram ao
beco de sua evolução por volta de 1,5 milhões de anos atrás,
os ardipitecos evoluíram para os grandes macacos africanos,
enquanto os orrorin para um gênero pré-anthropus (que
incluiria o A. Anemensis, o A. Afarensis e, talvez, o A.
Africanus).

          A espécie mais antiga de australopiteco é o Australopitecus Anamensis (anam significa


lago na língua turcana local). Em 1974 foram achados no norte do Quênia 21 fósseis dessa
espécie, datados de 3,9 a 4,2 milhões de anos.

          A segunda espécie mais antiga hoje conhecida é a do Australopitecus Afarensis, dos
quais foram encontrados exemplares no norte do Quênia, na Tanzânia e na Etiópia. Ele vivia
no leste da África e seus fósseis são datados de 2,9 a 3,9 milhões de anos. Ainda não há
consenso entre os cientistas sobre se o Afarensis é uma espécie distinta ou mera evolução do
Ardipitecus Ramidus.

          O Afarensis deve ter vivido nas florestas e savanas. A exemplo das espécies anteriores,
também apresentava capacidade de locomoção nas árvores. A famosa Lucy, o mais completo
esqueleto de australopiteco até agora encontrado, pertence a esta espécie e data de 3,4
milhões de anos.

          Do A. Afarensis descende uma espécie batizada de A. Gahri, cujos restos foram
encontrados em 1999 na Etiópia e datados de 2,5 milhões de anos. Também o A.
Bahrelghazali (3,5-3 milhões de anos atrás), achado no norte do Chad, apresenta
características muito similares ao A. Afarensis.

          Contemporâneo ao A. Afarensis, surgia no Quênia um gênero novo, que viveu entre 3,8
e 3 milhões de anos atrás: o Kenyanthropus Platyops. Ele tinha cérebro equivalente ao do
australopiteco, mas a cara achatada. Seus dentes pequenos indicavam uma dieta mais leve,
composta de frutas e insetos.

          A importância do Kenyanthropus Platyops nesse quadro foi a de provocar a discussão


sobre se o australopiteco seria ancestral do homem moderno ou uma linha paralela a ele.

          Subindo na escala do tempo,


encontramos o Australopithecus Africanus,
cujos primeiros exemplares foram
encontrados perto de Johannesburgo (África
do Sul) em 1924. Ele existiu no período
entre 3 e 2,5 milhões de anos atrás. Seu
cérebro era bem maior que os das espécies
precedentes, de 415 cm3. Por sua
compleição mais forte, é também conhecido
como austalopiteco robusto.

          Os exemplares mais novos de australopitecos têm idade


de 1,7 milhões de anos. E até o momento nenhum foi
encontrado fora da África, o que se explica por sua incapacidade de manejar o fogo e de
fabricar roupas que permitissem a eles enfrentar o frio das regiões setentrionais.
          O corpo dos australopitecos lembra bastante o do chimpanzé: o polegar não era
opositivo (isto é não dobrava para a palma da mão), os braços eram longos, as pernas curtas
e os dedos das mãos e pés curvados. Ou seja, uma postura adaptada para locomoção arbórea.

          Machos e fêmeas são facilmente identificados: os primeiros com altura em torno de 1,4
metros e peso entre 40 e 50 kg, elas com altura aproximada de 1 metro e peso de 27 a 35 kg.

          Imagina-se que tinham a pele escura e coberta de pelos.

          O volume do cérebro dos australopitecos não era muito diferente do dos outros
primatas, com cerca de 385 cm3 a 450 cm3.

          A julgar pelo formato dos dentes e com comprimento do aparelho digestivo, a dieta do
australopiteco era basicamente o consumo de sementes, frutas, raízes e capins. O esmalte de
seus dentes indicava que jamais comiam carne.

          Entre eles se desenvolveu um comportamento social rudimentar. Ameaçado pela fome e


pelos predadores, o instinto de sobrevivência emitiu seu alerta e o australopiteco passou a
evidenciar atitudes tais como a repartição do alimento pelo grupo, um maior cuidado para com
os filhotes, um possível prolongamento do período do cio e até o desenvolvimento da
comunicação. Em Laetoli (Tanzânia), preservadas nas cinzas vulcânicas, as pegadas de dois
australopitecos adultos, acompanhadas das pegadas de um filhote, sinalizam a existência de
uma célula familiar.

          Os australopitecos se valiam de pedras para romper a casca de nozes e de outros


frutos, para espantar predadores, concorrentes à comida e ao território. Usavam também
gravetos para retirar insetos, larvas e corós das fendas das árvores. Mas não sabiam produzir
instrumentos com pedra ou outro qualquer material.

          Tais comportamentos se alteraram ao longo do tempo e um novo gênero surgiu: o


gênero Homo.

HISTÓRIA DA ÁFRICA
O Primeiros Hominídeos

Introdução

          Os primeiros ancestrais do gênero Homo


surgiram nas zonas tropicais e sub-tropicais da África
durante o resfriamento do clima ocorrido no Plioceno
Superior (2,5-2 milhões de anos atrás). Estabeleciam-
se em um território, onde exploravam uma área
extensa.

          Conviviam, então, subespécies de parântropos


e subespécies primitivas do gênero Homo.

          Os hominídeos, nesse estágio evolutivo, já não


se restringiam às florestas e nem mais viviam em
árvores. A exposição maior aos predadores,
decorrentes do viver no solo, elevou o número de
mortes no bando e obrigou essas criaturas a adotarem
estratégias de proteção do grupo, principalmente da
prole indefesa. Com isso, a vida grupal se intensificou.
Aprimorou-se a repartição do alimento entre os
membros do grupo, a divisão de tarefas intragrupal e
o surgimento de unidades familiares. O convívio mais intenso favoreceu o desenvolvimento da
comunicação oral. A sexualidade se tornava progressivamente contínua para aumentar a
reposição de indivíduos e garantir a continuidade da espécie.

          Uma característica da evolução dos hominídeos foi o progressivo aumento do volume do


cérebro em relação ao corpo. A relação entre o volume do cérebro e a altura de um indivíduo
moderno é duas vezes maior que a de um australopiteco. Para comportar cérebros maiores, o
crânio lentamente mudou de formato, tornando-se mais alto e perdendo o achatamento
frontal.

          O aumento relativo do cérebro habilita o exercícios de novas funções, como a


concentração, a retenção na memória, além de controles neuro-musculares mais complexos e
eficientes.

          Uma outra alteração importante na conformação óssea dos hominídeos foi introduzida
pela cocção de alimentos, que tornou a mastigação mais fácil, não exigindo dentes tão grandes
e tornando desnecessárias bocas tão proeminentes.

O Gênero Paranthropus

          Alguns historiadores identificam os parântropos com os australopitecos robustos


(Australopithecus Africanus), recusando-se a criar uma classificação específica para eles.
Outros os vêem como tipos primitivos do Homo Erectus, que estudaremos adiante.

          Mais ou menos na mesma época e na mesma região do sul da África em que vivia o A.
Africanus coexistia o Paranthropus Æthiopicus, de características semelhantes, porém mais
robusto.

          A seguir, a evolução fez surgir no leste da África o Paranthropus


Bolsei, que viveu entre 2,6 e 1,2 milhões de anos atrás. Os primeiros
exemplares foram encontrados na Garganta de Olduvai, na Tanzânia. Ele
era bastante parecido com os Paranthropus Æthiopicus do sul da África.

          O parântropo tinha estatura em torno de 1,55 metros. Seu cérebro


tinha volume de cerca de 500 cm3.

          Ele vivia em áreas de clima seco e a escassez de alimentos fê-lo


adotar como tática de sobrevivência uma dieta baseada em frutos e
raízes, comidas de mastigação difícil, porém mais abundante na região.

          Já separados do Australopitecus Africanus, se desenvolviam três espécies: o Homo


Rudolfensis, o Homo Habilis, o Homo Ergaster e o Homo Erectus.

          Há os que consideram tais espécies do gênero Homo como meras variedades regionais
desse gênero.

O Homo Habilis ou Rudolfensis

          Esta espécie surgiu há 2,5-2,3 milhões de anos na África. Não se sabe se evoluída do A.
Africanus ou do A. Afarensis ou se de alguma linha paralela à dos australopitecos.
          Pela análise de seus ossos de animais associados aos
humanos, eles viviam num ambiente bem mais seco e amplo
que as florestas onde habitavam as espécies anteriores.

          Sua compleição frágil certamente fazia dele presa de


outros carnívoros.

          O Homo Habilis, que por algum tempo foi


contemporâneo do Australopithecus Africanus, já era
onívoro, como mostram os restos faunísticos em seus sítios.
Ao lado do consumo de vegetais duros e fibrosos para suprir
suas necessidades energéticas, matava pequenos animais,
roedores em geral, além de consumir carcaças de animais já
mortos por outros predadores ou de causas naturais. Comia a carne e sugava o tutano dos
ossos.

          Por substituir parte da dieta vegetal pela caça, seu crânio perdeu a crista sagital que
nos A. Bolsei era necessária para fixar músculos que permitiam mastigar vegetais duros e
fibrosos. Além disso, os dentes do H. Habilis apresentam molares e pré-molares menores e
menos esmaltados, porém dentes incisivos maiores que os dos Bolsei. Ou seja, necessitavam
menos dos molares e mais dos incisivos para mastigação.

          O consumo de proteína das carnes resultou no lento


aumento da capacidade craniana. O volume do cérebro do H.
Habilis já era de 600-680 cm3 e já apresentava área
diferenciada para comportar uma linguagem pobre em sons,
mas articulada. Grande parte desse aumento pode ser creditado
ao maior consumo de proteínas animais.

          O cérebro maior fomentou maior eficiência nas caçadas,


tanto pelo aprimoramento e desenvolvimento de ferramentas,
quanto pela melhoria na capacidade de comunicação. Um e outro permitiram a evolução da
caçada em grupo e, portanto, a obtenção de proteínas em maior número e com menor esforço
e risco.

          Dessa era são os artefatos mais antigos presumidamente


feitos por humanos: ferramentas muito simples, geralmente
cortadores de vegetais e plantas, feitas de pedra lascadas.
Entretanto, muitas vezes, é difícil distinguir os artefatos humanos
daqueles produzidos por fenômenos naturais, tão toscos eram.
Por essa razão, ainda há sérias dúvidas sobre a capacidade do H.
Habilis de produzir ferramentas.

          Os mais antigos desses instrumentos foram encontrados


em Taung, Sterkfontein, Swartkrans, Kromdraai, Makapansgat
(África do Sul), na Garganta de Olduvai (Tanzânia), bem como
em Koobi Fora, Lothagam e às margens do lago Omo ou Turkana
(Quênia). São datados de 2,5 a 1,8 milhões de anos atrás. A
elaboração de ferramentas, de qualquer modo, indica uma capacidade de abstração mental
necessária ao planejamento da forma futura do utensílio.

          A coleção de artefatos deles é denominada de indústria olduvaiana, um conjunto de


peças utilitárias obtidas a partir de matéria prima disponível no local: seixos ovóides de
obsidiana, rochas basálticas, sílex, quartzita e material vulcânico, polidos pela erosão de águas
e ventos.

          Sua preparação consistia na lascagem por percussão direta ou indireta sobre uma pedra
grande (núcleo), usando uma pedra dura como marreta e outra como bigorna. Desse modo,
produziam três tipos de artefatos do tamanho de uma laranja. Um deles tinha uma
extremidade naturalmente arredondada e a extremidade oposta pontiaguda ou com uma borda
cortante (talhadeiras ou choppers). Outra apresentava duas extremidades opostas pontudas
ou cortantes (chopping tool). A terceira era composta de utensílios feitos a partir de lascas
poliedrais toscamente retocadas.

          Tais ferramentas eram adaptadas para serem seguras com a palma da mão, sem a
necessidade de dobrar o dedo polegar. Ao lado dos instrumentos de pedregulho, produziam
também lascas retiradas de pedras maiores, chamadas núcleos.

          Se essa indústria compreendia também artefatos em madeira


ou outro material orgânico, deles não sobrou traço. A indústria
olduvaiana durou mais de um milhão de anos, mas evoluiu um pouco
nesse período.

          Na fase inicial da indústria, a padronização era muito baixa. Em


Olduvai, 80% dos artefatos eram produzidos a partir de seixos e o
restante de lascas. Em Koobi Fora, os seixos respondiam apenas por
5% da indústria, enquanto em Omo, não havia objetos de seixos, mas
apenas de lascas de pequenas dimensões.

          Dado que a indústria lítica deixou artefatos duradouros, os


arqueólogos usam-na para a periodização da história do Homem. A
tradição olduvaiana inicial define o chamado Período Arqueolítico (arqueo=antigo, em grego).

O Homo Ergaster

          O Homo Ergaster (em grego, ergaster=trabalhador),


parente próximo do Homo Erectus, era anatomicamente
assemelhado a ele, embora pareça mais inteligente, pela
comparação do crânio de um e outro. Era tão alto quanto o
homem moderno. Seus restos podem ser encontrados no
nordeste da África (onde viveu entre 1,8 e 1,5 milhões de anos
atrás), mas principalmente na Ásia (como a caverna de Chou-
kou-tien, na China e em Java). Daí se moveram para as zonas
temperadas do oeste da Ásia no fim da Idade do Gelo (cerca de
1,4 milhões de anos atrás).

          O mais famoso exemplar da espécie Homo Ergaster é o


Garoto de Turkana, que teria morrido afogado há 1,6 milhões
de anos.

          Mais ou menos na mesma época e na mesma região do sul da África em que vivia o A.
Africanus, coexistia o Paranthropus Æthiopicus, de características semelhantes, porém mais
robusto. Por isso, muitos cientistas consideram que parântropo é apenas um outro nome para
o australopitecos robusto (Australopithecus Africanus), recusando-se a criar uma classificação
específica para eles.

          À medida em que acabava o Plioceno Inferior, surgia na África um novo gênero, o Homo
Erectus, que iria se afirmar e se espraiar também pela Eurásia.
HISTÓRIA GERAL
Período Pleistoceno Inferior (2 milhões a 1 milhão de anos atrás)

Introdução

          Usualmente o período tecnológico chamado de Paleolítico Inferior correspondia aos


períodos cronológicos do Pleistoceno Inferior e Médio. Hoje em dia adota-se nova
nomenclatura, definindo-se como Arqueolítico o período correspondente ao Pleistoceno Inferior
e reservando o termo Paleolítico apenas para o Pleistoceno Médio.

          A revisão tenta ajustar-se a dois fenômenos importantes: a plena afirmação do Homo
Erectus e o aparecimento de instrumentos líticos bifaces (isto
é, com duas bordas opostas cortantes).

          Tal revisão exigiu definição mais apurada dos limites


entre o Pleistoceno Inferior e o Médio. Um congresso realizado
em 1973 na Nova Zelândia convencionou que o Pleistoceno
Médio é o período que vai do ciclo faunístico Cromeriano stricto
sensu (interglacial Günz-Mindel) ao início do Eemiano
(interglacial Riss-Würm). A adoção destas definições se
justifica pela coincidência do Cromeriano a outro limite
importante: a inversão do magnetismo terrestre (início do
período paleomagnético de Matuyama). E este momento
também coincide com o aparecimento de artefatos bifaces na
Europa.

          Há quem defenda critérios paleontológicos e estabeleça o limite entre Pleistoceno


Inferior e Médio na glaciação de Würm, quando ocorreu grande migração de roedores euro-
asiáticos e quando chegaram à Europa os mamíferos que formam a base da atual fauna
européia, substituindo completamente a antiga fauna vilafranquiana.

O Homo Erectus

          O Homo Erectus teve existência em parte do Pleistoceno Inferior e no Pleistoceno


Médio.

          Ele era mais alto que os H. Habilis e tinha face e dentes menores que ele. Sua
taxinomia ainda é motivo de debates. Alguns pré-historiadores abrigam neste gênero todas as
formas hominídeas do período entre 1,7 milhões e 120 mil
anos atrás, atribuindo as diferenças entre eles a adaptações
ao meio-ambiente. Outros reservam o termo apenas para os
exemplares da China e Indonésia e entendem que os
espécimens africanos desse período pertenceriam a um
gênero ainda não determinado. Outra corrente entende que
um gênero conhecido como Homo Ergaster teria surgido
nesta época.

          Parece fora de dúvida de que era uma forma evoluída


do H. Habilis, possivelmente com uma capacidade maior de
comunicação oral.

          Seus fósseis mais antigos estão na África, onde foram


encontrados restos atribuídos a ele na Etiópia, Quênia e
Tanzânia, além de um exemplar mais recente, o
Atlanthropus Mauritanicus, no norte do continente.
          Seguindo a tradição onívora do H. Habilis, o H. Erectus desenvolveu uma incipiente
economia de caça e coleta. Matava pequenos animais, roedores e macacos jovens, para
alimentar grupo. Certamente ainda aproveitava carniças de animais maiores, como
rinocerontes, bovídeos, cervídeos, cavalos e avestruzes. Os sítios mais antigos mostram pouca
variação do cardápio. Alguns poucos sítios à beira-mar trazem à luz um consumo limitado de
moluscos. Outros poucos mostram alguns sinais de consumo de frutos silvestres.

          Com o tempo, talvez com o crescimento dos bandos, passaram a perseguir animais
maiores. Para tanto, desenvolveram um arsenal mais elaborado de artefatos de pedra e talvez
de ossos e madeiras (que não chegaram aos nossos tempos).

          A arma de caça era por excelência a lança com ponteira feita de madeira ou presa de
elefante. Servia para abater cavalos, cabras, uros, veados etc. Os caçadores atacavam
preferencialmente os animais jovens, mais fáceis de isolar do grupo e que tinham carne mais
tenra.

          No curso do Paleolítico Inferior, o consumo das carnes do tronco dos animais caçados
foi substituído pelo consumo das carnes e músculos das patas em várias comunidades. Há
sítios em que se observa a perfuração do crânio de animais para a extração de seus cérebros.
A caça em grupo mostra a capacidade de se organizar e comunicar do H. Erectus.

          A inclusão mais frequente de carne à dieta vegetal levou ao aumento da capacidade
craniana para 800 (exemplares mais antigos) a 1.300 cm3 (exemplares europeus mais
recentes). Os exemplares dos Sinanthropus Pekinensis tinham capacidade craniana entre 815
cm3 (exemplares mais antigos) e 1.225 cm3. (exemplares mais novos). Cérebros maiores por
sua vez podem produzir comportamentos sociais mais complexos, favorecendo estratégias
alimentares mais eficientes.

          A inteligência mais evoluída levou ao domínio do fogo (mesmo o natural) e à fabricação
de vestimentas, fatores que permitiram à espécie deixar o calor da África e se arriscar nas
regiões mais frias do norte da África e o Oriente Médio.

          Em Koobi Fora (Quênia), Malka-Konturé (Etiópa), Olduvai e Kalambo Falls (Tanzânia) se
observam sinais de um local de vivenda temporária datada de 1,9 a 1,6 milhões de anos de
idade. Neles coincidem localizações pavimentadas por manufaturas líticas e restos de
mamíferos esquartejados ou consumidos no local. Os ossos são de animais típicos do deserto:
elefantes, cavalos, rinocerontes, girafas e antílopes.

          Em um dos sítios de na Garganta de Olduvai, restos de australopitecos robustos


datados de 1,9 milhões de anos foram encontrados ao lado de espólios de australopitecos
graciosos. E o solo estava recoberto de artefatos de pedra e pedaços de ossos. Seriam formas
arcaicas de H. Habilis ou de H. Erectus? Neste sítio, havia uma área central onde as
ferramentas eram pequenas e afiadas, ao lado de ossos esmagados. Imagina-se que ali a
carne era cortada em nacos e os ossos esmagados para deles retirar o tutano. Em
contraposição, na área periférica, os artefatos eram maiores e havia menos ossos esmagados.
Pinta-se o quadro de que seria uma área para esquartejamento preliminar da caça e que nesse
momento, os ossos sem tutano eram já descartados ao lado de peças inúteis, como cascos e
chifres.

          Também em sítio na Garganta de Olduvai (1,7 milhões de anos) foi recuperado um


alinhamento de pedras em semicírculo, a mais antiga construção humana até agora
encontrada.

          Em alguns abrigos foi possível identificar áreas de uso. Os restos de comidas ficavam
perto da lareira, enquanto as atividades industriais ou de açougue eram feitas no exterior do
recinto. Em outros, quer ao relento, quer em abrigos, existem áreas pavimentadas com pedras
chatas sobre as quais deve ter sido erguida uma cabana.
          A indústria lítica associada à fase arcaica do Homo
Erectus era ainda a tradição de Olduvai, herança do H. Habilis.
A indústria se beneficiou com a noção de simetria apreendida
por eles, quando começaram a surgir instrumentos com duas
bordas lascadas (os protobifaces), uma evolução relativa à
fase anterior da indústria.

          Na chamada tradição olduvaiana evoluída, identificável


a partir de 1,1 milhões de anos atrás, se tornavam
crescentemente frequentes nos sítios da África e Oriente
Médio os protobifaces (instrumentos com duas bordas
cortantes, produzidos em seixos ou lascas de pedra grandes).
Esse aparecimento é interpretado como uma tendência em
direção a uma nova tradição industrial: a indústria
acheulense, rica em bifaces. De fato, para a África, a
sequência olduvaiano evoluído-acheulense parece segura, pois comparece em sítios tão
diversos quanto os de Olduvai, Ubeidiya, Gadeb, Melka-Konturé e Chesowanja, além de sítios
no Marrocos e possivelmente alguns do sul do continente, hoje em estudo. Em tais lugares,
sobre as camadas ocupadas por fabricantes de conjuntos olduvaianos vão aparecendo e se
tornando dominantes os protobifaces e, depois, os bifaces.

          A tradição acheulense ainda fabricava utensílios de grandes dimensões, herdados de


tradição olduvaiana, mas cada vez menos frequentemente. Na nova indústria, crescia a
fabricação dos instrumentos peróides bifaces (espécie de clavas com pontas pronunciadas e
cortes em duas faces), dos perfuradores (utensílios com fios cortantes, cuja presença é
frequente junto a restos de elefantes e hipopótamos), de cutelos (artigos semelhantes às
clavas, mas de lâminas quadradas) e triedros (objetos pontiagudos ou serrilhados em formato
triangular).

          Nela surgiram algumas obras em osso, mas raras e sem padronização.

          A indústria acheulense conviveu com a olduvaiana e é comum encontrar ambas


presentes na mesma área ou em áreas próximas. Não se sabe com certeza se seriam
comunidades distintas em diferentes estágios tecnológicos ou se as tradições representavam
meras adaptações funcionais, isto é, os homens fabricariam peças utilitárias sob uma ou outra
tradição à medida em que estivessem executando uma ou outra atividade.

          Na África, a dualidade industrial ocorreu por milhares de anos, mas apenas a
acheulense se expandiu para além da África.

HISTÓRIA GERAL
Período Pleistoceno Médio (1 milhão a 120 mil anos atrás)
Fase inicial (1 milhão-230 mil anos atrás)

Introdução

          Como visto anteriormente, a Convenção da Nova Zelândia acordou que o Pleistoceno


Médio é o período que vai do início do ciclo faunístico Cromeriano, no interglacial Günz-Mindel,
até o início do interestádio Eemiano, no interglacial Riss-Würm.

          A primeira parte do Pleistoceno Médio foi um período quente tanto na Europa quanto na
África. Nesta, os complexos pluviais do Kamasiano antigo refrescaram o clima, não marcando
tanto a transição.

          Durante esse período, a variação climática foi grande: a Europa presenciou duas eras
glaciais (Mindel e Riss), a Ásia do Norte passou por três glaciações na Sibéria (Demianka,
Samarovo e Tazovo) e de três a cinco glaciações na região himalaia. A África passou por duas
estações pluviais (Kamasiano e Kanjeriano).

          Aproveitando-se do período interglacial, o H. Erectus ocupou a Europa e o norte da


Eurásia por volta de um milhão anos atrás. Na Europa, as espécies mais antigas de H. Erectus
foram batizadas com o nome de Homo Antecessor e Homo Heidelberguensis e os mais novos
como Homo Neanderthalensis. Eles teria chegado da África, quer pelo Estreito de Gilbraltar,
quer pelo sul da Itália. Possivelmente nessa época faixas secas de terras emergiam durante as
marés baixas, permitindo a caminhada entre os continentes.

O surgimento do Homo Sapiens

          Na África oriental, se identificou uma sequência evolutiva que, partindo do H. Erectus,
passava por formas iniciais e tardias do H. Sapiens arcaico, até chegar ao Homo Sapiens
Sapiens moderno, que povoava a região pelos anos 120 mil a.C.

          Sítios da África do Sul trouxeram à luz um biotipo de H. Sapiens batizado de Boskop,


com características anatômicas assemelhadas às dos atuais bosquímanos, embora menores.

          Em relação a sua indústria, sítios subsaarianos e do Vale do Nilo apresentam


ferramentas predominantemente acheulenses em pleno Pleistoceno Superior. Mas em poucos
séculos, as clavas e cutelos acheulenses haviam sido substituídos pelas lâminas musterienses.
No leste e sul da África, se desenvolveu a tradição fauresmite (fauresmith), de pequenos
bifaces cordiformes associados a numerosos instrumentos de lascas.

          Na Rodésia e Zâmbia, zona de úmidas florestas tropicais, surgiu a tradição sangoaniana
que, além do instrumental acheulense, incorporou a acha lascada (possivelmente usada para
derrubada de árvores e limpeza do terreno), punções e enxós.

          Na África oriental se presencia a tradição stillbaiana, mais assemelhada à musteriense


que as demais tradições africanas coevas.

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