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Introdução
Essas criaturas adotaram um postura bípede mais ou menos permanente. São diversas
as explicações para isso. A primeira é a de que no período de 5 a 2,5 milhões de anos atrás
mudanças climáticas tornaram progressivamente a África um continente árido. Florestas foram
muito lentamente definhando, abrindo áreas de savanas e pastos entre os bosques situados
em locais úmidos. Os antropóides se adaptaram a esse ambiente, mas se viram obrigados a
percorrer campos abertos à cata de novos bosques quando seu habitat não mais conseguia
sustentá-los. A postura bípede permitia ver mais longe quando estavam no chão, evitando
seus predadores. Além disso, esta postura liberava os braços para carregar objetos e crias.
Uma outra tese defende que o deslocamento de um bípede consome menos energia que
o de um quadrúpede, mesmo quando apenas em velocidade de marcha. Dessa maneira, a
postura bípede seria uma estratégia de redução no dispêndio de energia na coleta de
alimentos ao se deslocar de um bosque a outro.
Uma terceira razão relaciona a postura à exposição do corpo ao sol na tórrida África. A
postura ereta expõe menor área corporal à insolação, ao tempo em que aumenta a área
corporal refrescada pela brisa.
Uma outra tese defende que o deslocamento de um bípede consome menos energia que
o de um quadrúpede, mesmo quando apenas em velocidade de marcha. Dessa maneira, a
postura bípede seria uma estratégia de redução no dispêndio de energia na coleta de
alimentos ao se deslocar de um bosque a outro.
Uma terceira razão relaciona a postura à exposição do corpo
ao sol na tórrida África. A postura ereta expõe menor área corporal à
insolação, ao tempo em que aumenta a área corporal refrescada pela
brisa.
Até há pouco, o espécime de hominídeo tido como o mais antigo era o Ardipitecus
Ramidus (ardi significa solo e ramid quer dizer raíz na língua de Afar). Foi descoberto na região
etíope do Médio Awash em 1974. Esse habitat era uma floresta temperada ou tropical. Sua
datação estabeleceu a idade de 4,4 a 4,5 milhões de anos. A análise dos esqueletos
encontrados indica que ele já era ocasionalmente bípede, liberando as mãos para outras
atividades. A forma das mandíbulas mostra uma dieta baseada em vegetais duros e fibrosos e
ausente de carnes (molares enormes e esmaltados).
O resfriamento do clima no período Mioceno Final (6 a 5,3 milhões de anos atrás)
provavelmente detonou o processo evolutivo dos antropóides em direção aos hominídeos. No
período Plioceno Inferior, há cerca de 4,5 milhões de anos, no final da Era Terciária, surgiam
no sul da África as primeiras formas do gênero australopiteco (em grego, australo = sulista,
meridional, e pithecos = símio, macaco), assim chamado por ter sido descoberto na região do
Transvaal, no sul da África.
O australopiteco, classificado na teoria clássica como o mais antigos dos hominídeos e,
portanto, ancestral do homem moderno, teve seu lugar na escala evolutiva reavaliado quando
pesquisas arqueológicas na região de Tugen Hills, no Quênia, trouxeram à luz cinco
exemplares de um gênero de primata que foi batizado como Orrorin Tugenensis e que vivia há
6 milhões de anos. O termo orrorin no dialeto tuguenense significa homem original.
O orrorin vivia no topo das árvores, mas aparentemente podia andar como bípede
quando estava no solo. Seus molares eram pequenos e esmaltados, como os dos humanos,
características ausentes nos australopitecos, que surgiram 1,5 milhões de anos depois. Este
fato sustenta a tese de que, quando do advento do orrorin, já havia ocorrido a ruptura entre
as linhas hominídea e pongídea. Com base nisso, estima-se que essa bifurcação nas linhas
evolutivas tenha ocorrido há 9 milhões de anos.
Não há certeza se o orrorin pertenceu a uma linha descontinuada de antropóides que
viveu antes da separação das linhas hominídeo-pongídeo ou se é de fato um hominídeo.
Confirmada a primeira hipótese, o bipedalismo não seria característica exclusiva dos
hominídeos.
A segunda espécie mais antiga hoje conhecida é a do Australopitecus Afarensis, dos
quais foram encontrados exemplares no norte do Quênia, na Tanzânia e na Etiópia. Ele vivia
no leste da África e seus fósseis são datados de 2,9 a 3,9 milhões de anos. Ainda não há
consenso entre os cientistas sobre se o Afarensis é uma espécie distinta ou mera evolução do
Ardipitecus Ramidus.
O Afarensis deve ter vivido nas florestas e savanas. A exemplo das espécies anteriores,
também apresentava capacidade de locomoção nas árvores. A famosa Lucy, o mais completo
esqueleto de australopiteco até agora encontrado, pertence a esta espécie e data de 3,4
milhões de anos.
Do A. Afarensis descende uma espécie batizada de A. Gahri, cujos restos foram
encontrados em 1999 na Etiópia e datados de 2,5 milhões de anos. Também o A.
Bahrelghazali (3,5-3 milhões de anos atrás), achado no norte do Chad, apresenta
características muito similares ao A. Afarensis.
Contemporâneo ao A. Afarensis, surgia no Quênia um gênero novo, que viveu entre 3,8
e 3 milhões de anos atrás: o Kenyanthropus Platyops. Ele tinha cérebro equivalente ao do
australopiteco, mas a cara achatada. Seus dentes pequenos indicavam uma dieta mais leve,
composta de frutas e insetos.
Machos e fêmeas são facilmente identificados: os primeiros com altura em torno de 1,4
metros e peso entre 40 e 50 kg, elas com altura aproximada de 1 metro e peso de 27 a 35 kg.
O volume do cérebro dos australopitecos não era muito diferente do dos outros
primatas, com cerca de 385 cm3 a 450 cm3.
A julgar pelo formato dos dentes e com comprimento do aparelho digestivo, a dieta do
australopiteco era basicamente o consumo de sementes, frutas, raízes e capins. O esmalte de
seus dentes indicava que jamais comiam carne.
HISTÓRIA DA ÁFRICA
O Primeiros Hominídeos
Introdução
Uma outra alteração importante na conformação óssea dos hominídeos foi introduzida
pela cocção de alimentos, que tornou a mastigação mais fácil, não exigindo dentes tão grandes
e tornando desnecessárias bocas tão proeminentes.
O Gênero Paranthropus
Mais ou menos na mesma época e na mesma região do sul da África em que vivia o A.
Africanus coexistia o Paranthropus Æthiopicus, de características semelhantes, porém mais
robusto.
Há os que consideram tais espécies do gênero Homo como meras variedades regionais
desse gênero.
Esta espécie surgiu há 2,5-2,3 milhões de anos na África. Não se sabe se evoluída do A.
Africanus ou do A. Afarensis ou se de alguma linha paralela à dos australopitecos.
Pela análise de seus ossos de animais associados aos
humanos, eles viviam num ambiente bem mais seco e amplo
que as florestas onde habitavam as espécies anteriores.
Por substituir parte da dieta vegetal pela caça, seu crânio perdeu a crista sagital que
nos A. Bolsei era necessária para fixar músculos que permitiam mastigar vegetais duros e
fibrosos. Além disso, os dentes do H. Habilis apresentam molares e pré-molares menores e
menos esmaltados, porém dentes incisivos maiores que os dos Bolsei. Ou seja, necessitavam
menos dos molares e mais dos incisivos para mastigação.
Sua preparação consistia na lascagem por percussão direta ou indireta sobre uma pedra
grande (núcleo), usando uma pedra dura como marreta e outra como bigorna. Desse modo,
produziam três tipos de artefatos do tamanho de uma laranja. Um deles tinha uma
extremidade naturalmente arredondada e a extremidade oposta pontiaguda ou com uma borda
cortante (talhadeiras ou choppers). Outra apresentava duas extremidades opostas pontudas
ou cortantes (chopping tool). A terceira era composta de utensílios feitos a partir de lascas
poliedrais toscamente retocadas.
Tais ferramentas eram adaptadas para serem seguras com a palma da mão, sem a
necessidade de dobrar o dedo polegar. Ao lado dos instrumentos de pedregulho, produziam
também lascas retiradas de pedras maiores, chamadas núcleos.
O Homo Ergaster
Mais ou menos na mesma época e na mesma região do sul da África em que vivia o A.
Africanus, coexistia o Paranthropus Æthiopicus, de características semelhantes, porém mais
robusto. Por isso, muitos cientistas consideram que parântropo é apenas um outro nome para
o australopitecos robusto (Australopithecus Africanus), recusando-se a criar uma classificação
específica para eles.
À medida em que acabava o Plioceno Inferior, surgia na África um novo gênero, o Homo
Erectus, que iria se afirmar e se espraiar também pela Eurásia.
HISTÓRIA GERAL
Período Pleistoceno Inferior (2 milhões a 1 milhão de anos atrás)
Introdução
A revisão tenta ajustar-se a dois fenômenos importantes: a plena afirmação do Homo
Erectus e o aparecimento de instrumentos líticos bifaces (isto
é, com duas bordas opostas cortantes).
O Homo Erectus
Ele era mais alto que os H. Habilis e tinha face e dentes menores que ele. Sua
taxinomia ainda é motivo de debates. Alguns pré-historiadores abrigam neste gênero todas as
formas hominídeas do período entre 1,7 milhões e 120 mil
anos atrás, atribuindo as diferenças entre eles a adaptações
ao meio-ambiente. Outros reservam o termo apenas para os
exemplares da China e Indonésia e entendem que os
espécimens africanos desse período pertenceriam a um
gênero ainda não determinado. Outra corrente entende que
um gênero conhecido como Homo Ergaster teria surgido
nesta época.
Com o tempo, talvez com o crescimento dos bandos, passaram a perseguir animais
maiores. Para tanto, desenvolveram um arsenal mais elaborado de artefatos de pedra e talvez
de ossos e madeiras (que não chegaram aos nossos tempos).
A arma de caça era por excelência a lança com ponteira feita de madeira ou presa de
elefante. Servia para abater cavalos, cabras, uros, veados etc. Os caçadores atacavam
preferencialmente os animais jovens, mais fáceis de isolar do grupo e que tinham carne mais
tenra.
No curso do Paleolítico Inferior, o consumo das carnes do tronco dos animais caçados
foi substituído pelo consumo das carnes e músculos das patas em várias comunidades. Há
sítios em que se observa a perfuração do crânio de animais para a extração de seus cérebros.
A caça em grupo mostra a capacidade de se organizar e comunicar do H. Erectus.
A inclusão mais frequente de carne à dieta vegetal levou ao aumento da capacidade
craniana para 800 (exemplares mais antigos) a 1.300 cm3 (exemplares europeus mais
recentes). Os exemplares dos Sinanthropus Pekinensis tinham capacidade craniana entre 815
cm3 (exemplares mais antigos) e 1.225 cm3. (exemplares mais novos). Cérebros maiores por
sua vez podem produzir comportamentos sociais mais complexos, favorecendo estratégias
alimentares mais eficientes.
A inteligência mais evoluída levou ao domínio do fogo (mesmo o natural) e à fabricação
de vestimentas, fatores que permitiram à espécie deixar o calor da África e se arriscar nas
regiões mais frias do norte da África e o Oriente Médio.
Em Koobi Fora (Quênia), Malka-Konturé (Etiópa), Olduvai e Kalambo Falls (Tanzânia) se
observam sinais de um local de vivenda temporária datada de 1,9 a 1,6 milhões de anos de
idade. Neles coincidem localizações pavimentadas por manufaturas líticas e restos de
mamíferos esquartejados ou consumidos no local. Os ossos são de animais típicos do deserto:
elefantes, cavalos, rinocerontes, girafas e antílopes.
Em alguns abrigos foi possível identificar áreas de uso. Os restos de comidas ficavam
perto da lareira, enquanto as atividades industriais ou de açougue eram feitas no exterior do
recinto. Em outros, quer ao relento, quer em abrigos, existem áreas pavimentadas com pedras
chatas sobre as quais deve ter sido erguida uma cabana.
A indústria lítica associada à fase arcaica do Homo
Erectus era ainda a tradição de Olduvai, herança do H. Habilis.
A indústria se beneficiou com a noção de simetria apreendida
por eles, quando começaram a surgir instrumentos com duas
bordas lascadas (os protobifaces), uma evolução relativa à
fase anterior da indústria.
Na África, a dualidade industrial ocorreu por milhares de anos, mas apenas a
acheulense se expandiu para além da África.
HISTÓRIA GERAL
Período Pleistoceno Médio (1 milhão a 120 mil anos atrás)
Fase inicial (1 milhão-230 mil anos atrás)
Introdução
A primeira parte do Pleistoceno Médio foi um período quente tanto na Europa quanto na
África. Nesta, os complexos pluviais do Kamasiano antigo refrescaram o clima, não marcando
tanto a transição.
Durante esse período, a variação climática foi grande: a Europa presenciou duas eras
glaciais (Mindel e Riss), a Ásia do Norte passou por três glaciações na Sibéria (Demianka,
Samarovo e Tazovo) e de três a cinco glaciações na região himalaia. A África passou por duas
estações pluviais (Kamasiano e Kanjeriano).
Na África oriental, se identificou uma sequência evolutiva que, partindo do H. Erectus,
passava por formas iniciais e tardias do H. Sapiens arcaico, até chegar ao Homo Sapiens
Sapiens moderno, que povoava a região pelos anos 120 mil a.C.
Na Rodésia e Zâmbia, zona de úmidas florestas tropicais, surgiu a tradição sangoaniana
que, além do instrumental acheulense, incorporou a acha lascada (possivelmente usada para
derrubada de árvores e limpeza do terreno), punções e enxós.