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A evolução humana processou-se num cenário de alterações climáticas.

Até hà cerca de 55 MA
houve grandes eras glaciares, mas depois o mundo voltou a beneficiar de um calor estável.

A temperatura foi baixando entre 35 e 25 MA e foi aí que a geologia e os registos fósseis nos
indicam que os primeiros primatas, a ordem dos mamíferos a que pertencemos, evoluíram e
começaram a diversificar-se.

«África é um bom sítio para se viver e para se morrer.» (R. Foley, 1995) – grande falha do Rift
Africano – movimentação tectónica criou ambiente distintos a este e oeste do Rift. Etiópia,
Eritreia, Quénia e Tanzânia (todos a este) – em termos climatéricos o ambiente favorecia o
aparecimento de novas espécies. A criação de ambientes mistos de florestas menos densas e
savanas ainda arborizadas potenciou o surgimento de espécies capazes de andar no solo mas
dependentes ainda das árvores. A atividade vulcânica e os movimentos tectónicos facilitam o
enterro e a fossilização.

● 55 MA – primeiros primatas semelhantes a lémures floresciam na América do Norte –


Nothartus. Tinham cérebros em relação ao corpo o que indica inteligência,
provavelmente ligada à visão para localizar alimentos de alta qualidade. Eram animais
noturnos.
● 35 MA – Aegyptopithecus – Lago Fayum
- dentes próximos dos símios e homens
- não eram noturnos (pequenas órbitas oculares)
● c. 23 MA – Proconsul
● 16 MA – as temperaturas baixam, os ambientes tropicais e sub-tropicais tornam-se de
novo mais secos. Os macacos retiram-se para as florestas tropicais em construção onde
se mantêm.

Alguns parentes ou descendentes do Proconsul deram origem aos antepassados comuns


dos pongídeos e dos hominídeos. Estudos indicam que a separação entre
chimpanzés e a linha dos hominídeos se deu há 6/7 MA.

● 7 MA – Sahelantropus tchadensis (Toumai), M. Brunet, Chade


- é o mais forte candidato a primeiro pré-humano
- características bípedes podem ser inferidas através do posicionamento da cavidade
occipital

O bipedismo afirma-se como uma característica unificadora entre os pré-humanos e os


humanos.

● 6 MA – Orrorin
- exibe características bípedes no fémur
- concorre com o sahelantropus para o lugar de mais antigo pré-humano

● 5.6 MA – Ardipithecus kadabba


● 4.4 MA – Ardipithecus ramidus (Ardi), T. White, Etiópia
- bipedismo facultativo ligado ao transporte de alimentos visto que vivia em
ambientes florestais e não na savana
- conjunto de fragmentos de dentes e mandíbulas

● 4.2 MA – Australopithecus anamensis


- era indubitavelmente bípede
- vivia junto a um lago no Quénia

● 3.5 MA – Australopithecus bahrelghazali


- única espécie a viver na África central
- tinha características modernas (maxilar) e arcaicas (prognatismo facial)
- contemporâneo do afarensis

● 3.2 MA – Australopithecus afarensis


- Quénia, Tanzânia, Etiópia
- ‘Lucy’
- bacia e fémur adaptadas ao bipedismo, mas retinha adaptações às àrvores nos
membros superiores
- o facto de o esqueleto de Lucy mostrar adaptações ao bipedismo enquanto que a
sua capacidade craniana continuava a mesma dos grandes hominóides não humanos
demonstra que o bipedismo veio antes da evolução cerebral.
● 3.5 – 2.5 MA – Australopithecus africanus
- sul da África
- bebé de Taung
- ‘Little Foot’ – esqueleto pós-craniano mais robusto do que o afarensis (pé que
ainda agarrava – adaptação à vida arborícola) mas crânio menos primitvo (não havia
diastema no maxilar)
- há a possibilidade de não se encontrar na linhagem humana mas sim na do
paranthropus

● 2.5 MA – Australopithecus garhi


- encontrado junto de um conjunto de ossos intencionalmente partidos o que
pressupõe o uso de algum instrumento
- viveu ao mesmo tempo que o Kenyanthropus platyops (3.5 MA)

2.5 MA – período chave em termos de alterações climáticas e dos seus efeitos. A cobertura
vegetal dos habitats do hominóides africanos sofre mudanças, a floresta densa começa a dar
origem à savana arborizada. Foi nesta altura que o mastro evolutivo humano sofre uma
bifurcação, surgindo dois ramos distintos: o relacionado com a linhagem humana – os homo –
enquanto que o outro alberga uma linhagem que eventualmente se iria extinguir depois de 2
MA de existência – o paranthropus.

● Paranthropus (~2 – 1.5 MA) – representavam um quase retrocesso evolutivo em


termos de morfologia – possuíam uma face projetada, grande robustez, presença de
uma crista sagital e occipital, molares largos, forte dimorfismo sexual – pois eram
extremamente especializados devido à sua dieta (alimentos vegetais duros). Essa
demasiada especialização retirou-lhes flexibilidade de adaptação, o que ditou o seu
desaparecimento.
Homo – aumento significativo do cérebro, redução da face, dentes menos largos, ossos
cranianos menos pneumatizados e mais densos.

As relações entre homo e australopithecus são incertas, sendo que se desconhece qual foi a
espécie que deu origem ao homo. No entanto, sabe-se que nenhum dos paranthropus o
originou, sendo os mais prováveis candidatos o a. africanus, a. garhi e a. afarensis.

Nunca houve associação entre instrumentos líticos e fósseis de australopithecus ou qualquer


outro pré-humano. No entanto, com os homo, torna-se incontornável falar da evolução
tecnológica que nunca foi sincrónica com a evolução morfológica.

Instrumentos líticos

● + antigos – Gona, Etiópia, 2.6/2.5 MA


● os primeiros homo conhecidos datam de 2.3 MA por isso há uma discrepância
cronológica. Há quem aponte para os a. garhi como o provável autor, enquanto que
para outros peritos seria o homo. É impossível descartar os paranthropus como
autores desses instrumentos, mas se nos cingirmos aos factos existentes, seriam os
homo os prováveis autores.
● não há ligação direta entre tipos de indústrias e espécies, visto que uma indústria
está associada a + do que 1 espécie

● 2.8 – 1.5 MA - Homo habilis


- descoberta de maxilar (1.44 MA) no Quénia
- coexistiu durante c. de 500,000 anos com o h. erectus
- denominação ligada ao fabrico de instrumentos

● 1.9/1.8 MA – Homo erectus


- KNM ER 3773 (1.8 MA), Koobi Fora
- rapaz de Turkana (1.6 MA) – 11 anos, poderia chegar a 1.80m quando adulto;
proporções entre os membros eram modernas, bacia estreita, a forma da caixa
torácica estreita não possibilitaria uma capacidade respiratória compatível com a
linguagem, cérebro maior (~900cm3), mais encefalizados
- as alterações morfológicas refletem um abandono total da vida nas àrvores em
função do bipedismo – levou a um estreitamento da bacia que levou a uma limitação
do tamanho cerebral do recém-nascido e também a uma redução do volume
intestinal que estaria ligado ao um maior consumo de carne
- ritmo de crescimento mais semelhante ao dos humanos modernos
- o h. erectus asiático viveu dos ~2 MA até 27 mil anos – terá coexistido com os
humanos anatomicamente modernos
- Homem de Pequim (Zhoukoudian)
- pode-se supor que o h. erectus da Ásia não produziu artefactos do Acheulense

Inicialmente os fósseis africanos foram classificados como h. erectus. Posteriormente, as


comparações anatomo-morfológicas entre os fósseis deste período asiáticos e africanos
levaram à criação de uma espécie para os fósseis africanos – homo ergaster – enquanto que os
asiáticos seriam classificados como homo erectus.

Homo erectus – mudanças comportamentais

● primeira saída de África


● bifaces – 1.6 MA – indústria Acheulense
● salto tecnológico em relação aos instrumentos do Olduvaiense – fabricam-se
instrumentos multiusos com forma pré-determinada
● modo de subsistência – até ao h. erectus eram recoletores, mas agora a carne passa a
ser fruto de caçadas intencionais em vez de ocasional necrofagia
● abandona as florestas e passa a habitar ambientes abertos como savanas

Saída de África

Terá sido o modo de vida nómada das populações caçadoras-recoletoras a levar os humanos
para fora de África. Terá sido um movimento que acompanhou a saída de outros animais que
poderiam ter feito parte da sua dieta.

● Homo erectus/ergaster
● 1.8 MA – fósseis + antigos fora de África
● Primeira rota migratória – este do Rift africano, via norte de África, passando pelo
Médio Oriente
● Dmanisi (Geórgia) e Java (Indonésia) albergam os fósseis + antigos fora de África

Dmanisi

● Descoberta de mandíbula (1991) e de numerosos crânios a partir daí


● Cérebros pequenos (~600cm3 – valor + baixo para um hominíneo fora de África depois
do homem das flores), características primitivas (altura, pouca encefalização) e
derivadas (membros inferiores adaptados a caminhadas)
● Morfologia quase indistinguível de h. ergaster/h. erectus e próxima de h. habilis, no
entanto alguns dos descobridores classificaram-nos como homo georgicus

Java

● Não era uma ilha no Plistocénico


● Criança de Modjokerto – 1.8 MA – comparável aos crânios de h. ergaster de Koobi Fora
● Aquando da 1ª saída de África, os humanos não dispunham de uma indústria mais
avançada do que a Olduvaiense e nunca foram recuperados bifaces em Java

Europa

● Fóssil + antigo foi encontrado em Sima do Elefante (Espanha) – parte de mandíbula –


1.2 MA associada a artefactos do Olduvaiense e fragmentos de ossos animais
● Testemunhos + antigos de povoamento europeu – pedras talhadas 1.25 – 1.5 MA
● Fósseis de Gran Dolina (800-900 mil anos) – as suas características não encaixavam em
nenhuma classificação, por isso criou-se a designação homo antecessor para estes
primeiros europeus, descendentes do h. ergaster/h. erectus e que estariam na origem do
h. heidelbergensis na Europa
● Sima de los Huesos – mais de 6000 fósseis
- cerca de 20-30 indivíduos – deduz-se que seja uma inumação primária – entre 400 e
530 mil anos (h. heidelbergensis)
- alguns dos crânios mostram variação da capacidade craniana entre 1125 e 1390 cm3,
encefalização menor que neandertais e homens modernos
- dimorfismo sexual = atual e morfologia crânio-facial semelhante aos neandertais a
quem terão dado origem
- descoberta de um único biface - Excalibur
- pensa-se ser uma espécie de enterramento, um comportamento de algum modo
intencional dirigido aos mortos
● Todos os mais fósseis descobertos na Europa são de h. heidelbergensis (800-300 mil
anos) – porção médio central da face projetada anteriormente, não existia queixo,
crânio baixo e largo

Fogo

O fogo é um indício de um grau alto de consciência.

Os primeiro sinais de adaptação a alimentos cozinhados surgem com o homo erectus,


verificando-se uma redução dos intestinos e molares.

790 mil anos – evidências claras do uso controlado do fogo por parte do h. erectus (mesmo
assim não unânimes)

1.5 MA – Koobi Fora, sedimentos carbonizados (200-400ºC) indiciam controlo do fogo

Se é questionável que o h. erectus dominava o fogo, é inegável que o h. heidelbergensis o


controlava. Os neandertais lidariam também com ele de forma hábil.

Consequências do uso do fogo:

● Arma de defesa contra os predadores


- poderá ter levado a um sono mais profundo, o que poderá ter tido efeitos no sonho

● Alterações no quotidiano
- comportamento de aglomeração (à volta da fogueira)
- cozinhar os alimentos – aparelho mastigatório menos robusto e consequente alteração
da morfologia facial

Terá sido a possibilidade de cozinhar os alimentos que levou a um aumento cerebral e a uma
redução do aparelho gastrointestinal (características já presentes no h. erectus há 1.8 MA).

● ~400 mil anos/Plistocénico médio – Homo rhodesiensis


- “homo sapiens arcaico”
- oriundo de África
- alguns autores defendem que todos os fósseis deste período sejam denominados h.
heidelbergensis independentemente da origem; h. rhodesiensis refere-se apenas aos
africanos

● ~200 – 27 mil anos – Homo neanderthalensis/Neandertal


- é à descoberta do 1º fóssil de Neandertal que se associa o início da história da
paleontologia
- viveram maioritariamente na Europa, é provável que se tenham estendido até à Sibéria
- capacidade craniana média superior à do homem atual (+1350 cm3)
- cérebro mais longo e baixo, nariz largo, maxilares avançados, ausência de queixo,
espessa arcada supraciliar, mais corpulentos do que o homem atual, antebraços curtos
relativamente aos braços e tíbias curtas relativamente aos fémures (adaptações ao frio)
- vida organizada em sociedade e espírito de entreajuda
- prática de enterramentos – ritualização da morte – consciência do “eu” – mente já
desenvolvida
- pouca evidênica de rituais nos enterramentos – os testemunhos claros de ritual estão
associados ao homem moderno (~100 mil anos)
- vivia em grutas, vestia peles, tinha estratégias de caça, trabalhava a pedra de forma
eficiente, pensava na morte, é-lhe atribuido o 1º instrumento musical, utilizariam
adornos (manifestações de pensamento simbólico)
- divergência entre sapiens e neandertal há c. 500 mil anos
- a sua extinção estará relacionada com a chegada ao Próximo Oriente e à Europa do h.
sapiens, tendo havendo contacto entre si
● 250 mil anos (este africano) - Homo sapiens
- expansão para o norte de África – 160 mil anos, Médio Oriente e parte sul da África –
80-100 mil anos, Eurásia – 60 mil anos
- capacidade craniana média de 1350 cm3, face ortognata, occipital arredondado, fossas
caninas, existência de queixo, osso cortical menos espesso dos fémures e tíbias,
membros mais compridos relativamente ao corpo, extremidades mais longas
- diminuição da robustez e da musculatura do esqueleto pós-craniano – menor
dependência do esforço físico e maior ligação à tecnologia e cultura
- membros longos e troncos curtos – adaptação a climas mais quentes do período
interglacial

● 100 – 12 mil anos – Homo floresiensis


- “hobbit” – possível nanismo insular
- pode-se ter separado da linhagem humana moderna e seguido um caminho evolutivo
único
- pode ser apenas um h. sapiens anão (sendo que alguns dos humanos modernos da ilha
das Flores são pigmeus), no entanto o nanismo não explica algumas das características
diferentes dos humanos modernos

Modelos de origem do homem moderno:

● Hipótese multiregional – emergência +/- simultânea das populações modernas em


várias regiões do mundo já habitadas – África subsariana, Próximo Oriente, Ásia
continental – negando que a evolução esteve restrita em termos geográficos. É um
modelo altamente dependente de trocas genéticas entre as populações. A variação
humana moderna origina-se numa única espécie biológia, uma população de h. erectus
de África (~2 MA), que se terá expandido em África e para a Europa e Ásia, mantendo
alguns contatos genéticos evitando a formação de espécies distintas nos diversos locais.
● Modelo de origem única/Saída de África 2 – os homens modernos tiveram uma
origem geográfica única, na África subsariana. Variação das populações é resultado da
dispersão (migrações) a partir de uma fonte populacional comum já morfologicamente
moderna. As únicas formas de transição para h. sapiens ocorreram em África, onde se
terá dado uma especialização biológica. Defende que os Neandertais foram substituídos.
Este modelo é suportado quase totalmente pelos dados genéticos.
- Modelo de Assimilação – emergência dos humanos modernos em África com
graus variáveis de absorção das populações arcaicas.

Os humanos modernos não devem ter saído de África imediatamente após a sua emergência,
tendo lá permanecido até c. de 60 mil anos.

Linguagem:

● Evolução da linguagem muito mais rápida do que a evolução cerebral


● A “língua-mãe” parece ser africana, e é em África que existe a maior diversidade em
termos linguísticos – este argumento suporta o modelo de origem única
● O uso da linguagem representa também uma poupança energética visto que é menos
cansativa do que o uso gestual e é útil em andamento – o tempo ganho poderia ser gasto
noutras vantagens (procura de alimentos, etc)

Bipedismo:

● O bipedismo pode ser visto como uma adaptação evolutiva à dieta – obter alimentos
através de uma locomoção bípede é energeticamente menos dispendioso. Esta poupança
de energia seria benéfica para o desenvolvimento cerebral (há mais energia para o
cérebro) o que também seria propiciado pela qualidade da dieta
● O próprio transporte de alimentos, mais vantajoso em posição ereta, implicaria mais
tempo passado nesta posição.
● Facilitou a dextralidade, a melhoria da visão tridimensional, um transporte mais
eficiente do que quer que seja (crias, alimentos, etc)
● A postura ereta necessária à locomoção bípede reduziu o tamanho da pelvis,
dificultando o parto e fazendo com que o feto nasça mais “incompleto”
● É mais evidente na bacia, na inclinação do ângulo do fémur, no dedo grande do pé, no
posicionamento do foramen magnum no crânio (inferior e centralizado).

Evolução cerebral:

● Até há c. 3 MA a capacidade crânia dos hominíneos não ultrapassaria 450 cm3 e há 1.3
MA não chegava aos 1000 cm3. Nos últimos 3 MA os valores triplicaram – de ~400-450
para ~1350-1400 cm3.
● O tamanho do cérebro está relacionado com a longevidade e com a duração das
diferentes etapas da vida. Quanto maior a média cerebral de uma espécie, maior a
longevidade e mais tarde acontece, por ex, o nascimento dos dentes definitivos.
● Nos humanos modernos, o ritmo de crescimento do cérebro após o nascimento é
extremamente rápido (ex: duplicou de tamanho aos 6 meses)
● Os estudos sugerem que o ritmo de crescimento só se passou a assemelhar ao atual com
o h. erectus

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