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Faculdade de Letras da Universidade do Porto

Licenciatura em Ciências da Linguagem


Ano Letivo 2022/2023 - 2.º Semestre
Fonética
Mestre Mariana Ribeiro

Divisões dialetais do português europeu contemporâneo


(Ap. Cintra 1971 - fonte: Ferreira et al: 1996)

DIALETOS GALEGOS

DIALETOS PORTUGUESES
1) Dialetos setentrionais
Dialetos transmontanos e alto-minhotos
Dialetos baixo-minhotos, durienses e beirões
2) Dialetos centro-meridionais
Dialetos centro-litorais
Dialetos centro-interiores
3) Dialetos insulares
Principais isófonas na delimitação entre dialetos setentrionais e dialetos
centro-meridionais:

oposição /v/ - /b/:


- mantida nos dialetos centro-meridionais
- neutralizada nos dialetos setentrionais
([b] ou [β])

sibilantes apicais ou predorsais:


Dialetos setentrionais:
- apicais e predorsais: nos dialetos
transmontanos e alto-minhotos
encontram-se 4 sibilantes distintas ([s], [z],
[ʂ] e [ʐ])
- apicais: dialetos baixo-minhotos,
durienses e beirões existe apenas o
sistema destas 2 sibilantes ([ʂ] e [ʐ])
Dialetos centro-meridionais:
- predorsais em todos estes dialetos ([s] e
[z])
africada palatal surda [tʃ]
- subsistente em várias áreas de alguns
dialetos setentrionais apenas
- inexistente em dialetos
centro-meridionais

monotongação ou ditongação de /ow/


- ditongação: [ow]: dialetos setentrionais
- monotongação [o] (exc. norma-padrão):
dialetos centro-meridionais
monotongação ou ditongação de /ej/
- ditongação [ej]: dialetos setentrionais
- monotongação [e] (exc. Lisboa):
dialetos centro-meridionais
DIALETOS SETENTRIONAIS

Principal isófona que os distingue dos dialetos centro-meridionais (Cintra 1971):


- Presença de [ʂ] e [ʐ] (sibilantes apicais), em coexistência ou não com [s] e [z]
predorso-alveolares.

Delimitação geográfica:
“(...) linha que atravessa Portugal no sentido noroeste-sudeste, desde a região de
Aveiro (junto da costa) até uma região próxima da fronteira política com Espanha,
na Beira Baixa.” (Ferreira et al. 1996: 494).

São consideravelmente mais heterogéneos do que os dialetos centro-meridionais e


conservam alguns traços que já se poderiam identificar no galego-português
(dialetos conservadores).

Dialetos transmontanos e alto-minhotos:


Parte do Alto Minho
Maior parte de Trás-os-Montes
Parte norte do distrito da Guarda
Alguns pontos diversos da Beira Alta

Principais características:
- sistema de 4 sibilantes apicais e predorsais: [s] e [z] (predorsais); [ʂ] e
[ʐ] (apicais);
- neutralização da oposição /v/ - /b/;
- manutenção, em vastas áreas, de [tʃ];
- ditongação de [ow] e de [ej].

Dialetos baixo-minhotos, durienses e beirões:


Baixo Minho
Douro
Beira Alta (parte)

Principais características:
- sistema de 2 sibilantes apicais: [ʂ] e [ʐ];
- neutralização da oposição /v/ - /b/;
- manutenção, em vastas áreas, de [tʃ];
- ditongação de [ow] e de [ej].
Área subdialetal do Baixo-Douro e do Minho Litoral (especialmente o “subdialeto do
Porto”):

Principais características:
- sistema de 2 sibilantes predorsais: [s] e [z];
- neutralização da oposição /v/ - /b/;
- ditongação de /ow/ ([ow] ou [ɐw]) e de [ej] ([ej] ou [ɛj]);
- ditongação e abaixamento de /e/ e /o/ tónicos (exs.: porto [‘pwɐɾtu] e
letras [‘ljɐtɾɐʃ]);
- iodização antes de consoante palatal ([ɲ], [ʎ] ou [ʒ]) (exs.: banho
[‘bɐjɲu]; folha [‘fwɐjʎɐ] e nojo [‘nwɐjʒu];
- conservação da terminação medieval do ditongo contemporâneo –ão
[õw̃] (ex.: pão [‘põw̃];
- abaixamento de /a/ tónico em contexto nasal (ex.: cama [‘kamɐ] e
frango [‘fɾãgu]).
DIALETOS CENTRO-MERIDIONAIS

Principal isófona que os distingue dos dialetos centro-meridionais (Cintra 1971):


- Presença de [ʂ] e [ʐ] (sibilantes apicais), em coexistência ou não com [s] e [z]
predorso-alveolares.

Delimitação geográfica:
“(...) linha que atravessa Portugal no sentido noroeste-sudeste, desde a região de
Aveiro (junto da costa) até uma região próxima da fronteira política com Espanha,
na Beira Baixa.” (Ferreira et al. 1996: 494).

São consideravelmente mais homogéneos do que os dialetos setentrionais e


perderam muitos traços que estariam presentes no galego-português (dialetos
inovadores).

Dialetos do Centro-Litoral (estremenho-beirões):


Estremadura
Beiras

Principais características:
- sistema de 2 sibilantes predorsais: [s] e [z];
- manutenção da oposição /v/ - /b/;
- inexistência, na maior parte das áreas, de [tʃ];
- monotongação de /ow/ ([o]);
- ditongação de /ej/ ([ej] ou [ɐj]).

Dialetos do Centro-Interior (ribatejano-baixo-beirões e alentejano-algarvios):


Ribatejo
Beiras
Alentejo
Algarve

Principais características:
- sistema de 2 sibilantes predorsais: [s] e [z];
- manutenção da oposição /v/ - /b/;
- inexistência, na maior parte das áreas, de [tʃ];
- monotongação de /ow/ ([o]);
- monotongação de /ej/ ([e]).
Área subdialetal da Beira Baixa e Alto Alentejo:

Principais características:
- palatalização de /u/ em [y];
- palatalização de /a/ em [ɛ] ou [æ] em alguns contextos (no contexto de
uma consoante palatal): bacalhau [bɐkɐ’ʎæw];
- palatalização de /o/ em [ø] (ex.: sogro [‘søgɾ(u)];
- supressão de [u] átono final (ex.: surdo [‘syɾd]).

Área subdialetal do Barlavento Algarvio (“subdialeto de Sagres”):

Principais características:
- palatalização de /u/ em [y];
- abertura das vogais anteriores ([i], [e] e [ɛ]);
- velarização de /a/ em [ɔ] ou [ɑ];
- supressão de [u] átono final (ex.: surdo [‘syɾd]).
DIALETOS INSULARES

Grande proximidade relativamente aos dialetos centro-meridionais:


- sistema de 2 sibilantes predorsais: [s] e [z]
- manutenção da oposição de /v/ - /b/
- inexistência de [tʃ]
- ditongo /ow/: monotongado ([o]) no subdialeto de São Miguel (Açores)
(restantes ilhas: [ow] ou [oj])
- ditongo /ej/: ditongado em todas as ilhas

Subdialeto de São Miguel (Açores):


- palatalização de /u/ em [y];
- velarização de /a/ em [ɔ] ou [ɑ];
- palatalização de /o/ em [ø] (ex.: sogro [‘søgɾ(u)];
- supressão de [u] átono final (ex.: surdo [‘syɾd]).

(cf. semelhanças com os dialetos da Beira Baixa, Alto Alentejo e Barlavento


Algarvio)

Subdialeto da Terceira (Açores):


- harmonização vocálica, ou seja, inserção de [j] ou [w] quando na
sílaba anterior existe ou existiu /i/ ou /u/: limpar [lĩ’pja] e o gato [u
‘gwatu]

Subdialeto da Madeira:
- ditongação de [i] tónico em [ɐj] ou [ɨj] (exs.: vila [‘vɐjʎɐ] ou [‘vɨjʎɐ]);
- ditongação de [u] tónico em [ɐw] (ex.: rua [‘ʀɐwɐ]);
- palatalização de [l] quando precedido de [i] ou [j] (ex.: vila [‘vɐjʎɐ]).

Referências

CINTRA, Luís Filipe L. (1971). Nova Proposta de Classificação dos Dialectos


Galego- Portugueses. Boletim de Filologia XXII, 81-116. Também reproduzido
em Cintra (1983).
CINTRA, Luís Filipe L. (1983). Estudos de Dialectologia Portuguesa. Lisboa: Sá da
Costa.
FERREIRA, Manuela Barros et al. (1996). Variação linguística: perspectiva
dialectológica. In: Isabel Hub Faria et al. (orgs.). Introdução à Linguística
Geral e Portuguesa. Lisboa: Caminho, 479-502.

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