Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
INSTITUTO DE LETRAS
COORDENAÇÃO ACADÊMICA DE ENSINO DE LETRAS
ÁREA DE FILOLOGIA
LETA23 INTRODUÇÃO À LINGUÍSTICA ROMÂNICA
CONSONANTISMO ROMÂNICO
• A semivogal latina y
Desenvolveu-se uma consoante palatal a partir da semivogal y. Ex.: IUGU [y] > sard.
juu [y], rom. jug [dʒ], it. giogo [dʒ], fr. joug [ʒ], port. jogo [ʒ], esp. yugo [y].
• O f- inicial no espanhol
Em espanhol, o f- inicial latino passou a h-, que se mantém na grafia, enquanto na
pronúncia tornou-se mudo. Ex.: FEMINA > hembra, FERRU > hierro, FOLIA > hoja; mas
GENERU [g] > sard. gheneru [g] / benneru [b], it. genero [dʒ], rom. ginere [dʒ], port.
genro [ʒ], fr. gendre [ʒ].
Em espanhol, quando g- era seguido de e tônico, este passou regularmente a ie (GELU
> hielo, GENERU > yerno); quando seguido de e átono, simplificou-se para e (GERMANU >
clef, esp. llave [λ], it. chiave [ky], port. chave [ʃ]
2 POSIÇÃO MEDIAL
Os fenômenos mais significativos do consonantismo românico na posição medial são a
lenição e a palatalização. O primeiro é responsável pelo enfraquecimento ou mesmo
apagamento de fonemas, já o segundo é responsável pela criação de uma série de novos
fonemas.
¨ mb > m(m). Ex.: PALUMBA > it. (dial. rom.) palomma, esp. paloma
2.1.3 FRICATIZAÇÃO
Vejamos as mudanças ocorridas nas fricativas latinas na posição medial:
• -f- > -v- ou conserva-se. Ex.: PROFECTU > fr. profit, prov. profech, esp. provecho, port.
proveito.
• -v- > -β- e confunde-se com o resultado do -b- latino. Ex.: CLAVE > it. chiave, prov.
clau, cat. clau [β], esp. llave [β], port. chave, rom. chee Æ; FABA > it. fava, prov. fava,
cat. fava [β], esp. fava [β], port. fava.
• -s- mantém-se na România Oriental e sonoriza-se na România Ocidental, seguindo os
resultados das surdas. Em espanhol, dessonoriza-se durante os séculos XVI e XVII.
No sardo, permanece surdo nos dialetos centrais. No romeno, antes de i passa a [ş].
• -l- latino mantém-se na maioria das línguas românicas, em romeno e em certos
dialetos do sardo, passa a -r-, em português pode cair. Ex.: SOLE (SOLIC(U)LU) > it.
sole, rom. soare, fr. soleil, prov. solelh, cat. sol, esp. sol, port. sol.
• As nasais normalmente mantêm-se. O -n- latino desaparece depois de nasalizar a
vogal precedente em dialetos do italiano do norte, em gascão e em português. Ex.:
LUNA > sard. luna, it. luna, rom. lunǎ, fr. lune, prov. luna, cat. lluna, esp. luna, port.
lua.
2.1.4 PALATALIZAÇÃO
Além da palatalização do K e do G velares, diante de e e i, dos grupos formados por
consoante + l, em posição inicial, ou ainda o w e do i semivogais, podemos citar as
palatalizações em interior de palavras.
No contexto consoante + l, no interior de palavra, é mais ampla que em posição inicial.
Ex.: DUPLU > it. doppio, fr. double, prov. doble; FAB(U)LAT > esp. habla, port. fala;
STAB(U)LUA(-A) > rom. staul, it. stabbio, fr. étable, prov. e cat. establa; AFFLARE > rom. afla,
esp. hallar, port. achar; AURICLA > sard. arikra, rom. urechie, it. orecchio, fr. oreille, prov.
aurelha, cat. orella, esp. oreja (esp. ant. [ʒ], esp. mod. [Χ] dessonorização castelhana), port.
orelha; UNGULA > rom. unghie, it. unghia, obv. ungla, fr. ongle, prov. ongla, cat. ungla, esp.
uña, port. unha.
Outro contexto favorável à palatalização é o de consoante + semivogal ou vogal
anterior. Ex.: RATIONE > prov. razo [ant. dz > mod. z], esp. razón [ant. dz > mod. [θ]], fr.
raison [z], port. razão. PLATEA > it. piazza [ts], fr. place [s], prov., cat. plassa [s], esp. plaza
[θ], port. praça [s]. O -li- assimilou-se para a palatal em quase toda a România. FOLIA > it.
foglia [λ] fr. feuille [y], prov., port. folha, cat. full [λ], esp. hoja [Χ], rom. foaie [y].
Quadro sinóptico dos fonemas nas línguas românicas (ILARI, 1992, p. 86-87)
Português Bil. L. dent. Dent. a. Pal. a. Pal. Vel. Uvul.
Laterais l λ
Vibrantes r R
Monovibrantes ɾ
Fricativas f,v s,z ʃ, ʒ X
Seminvogais w j
Laterais l λ
Vibrantes r R
Monovibrantes ɾ
Fricativas f s,θ ʃ, ʒ x
Seminvogais w j
Laterais l
Vibrantes R
Monovibrantes
Laterais l λ
Vibrantes r
Monovibrantes
Referências:
BASSETO, B. Elementos de Filologia Românica. História interna das línguas românicas. v. II. São
Paulo: EDUSP, 2016. p. 54-126.
ELIA, S. Preparação à Linguística Românica. 4a. reimp. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico, 2004. p.
183-195.
LAUSBERG, H. Linguística Românica. Trad. Marion Ehrhardt e Maria Luísa Schemann. 2a ed.
Lisboa: Calouste Gulbenkian, 1981. p. 166-239.
SILVA, Rosa Virginia Mattos e. O português arcaico: fonologia. São Paulo: Contexto, 1991, p. 77.
VÄÄNÄNEN, V. Introducción al latín vulgar. Ver. esp. de Manuel Carrión. Madrid: Gredos, 1968.
p. 90-123