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Pró-Reitoria de Graduação – Letras – DLE

Núcleo de Cultura Clássica


Latim: língua e cultura
Professor: Francisco Edi de Oliveira Sousa

Aspectos da Prosódia do Latim Clássico


I. Alfabeto
 Letras
A B C D E F G H I K L M N O P Q R S T V X Y Z
a b c d e f g h i k l m n o p q r s t u x y z

Observações:
1. a letra k constitui uma variante da letra c e era antes usada diante da vogal a (e de consoantes), como na palavra kalendae (nome
dado ao primeiro dia do mês, do qual vem “calendário”), karthágo;
2. a letra q é usada em combinação com a letra u, formando uma unidade;
3. as letras y e z foram acrescidas ao alfabeto latino por volta do final do século I a.C. (e colocadas no fim da sequência), essencialmente
para transcrever palavras gregas;
4. não existem as letras j e v; a letra V grafa o u maiúsculo.

II. Pronúncia
II.1. Pronúncias em uso: tradicional, eclesiástica (ou romana), reconstituída.
II.2. Pronúncia reconstituída
 Consoantes
Letras Notação Modo e ponto de articulação, Valores particulares
fonética surda/sonora
b [b] oclusiva bilabial sonora
c, k [k] oclusiva velar surda
qu [kw] oclusiva velar surda “dígrafo”; na prática, seria uma oclusiva labiovelar
d [d] oclusiva apicodental (ou dental) sonora
f [f] constritiva fricativa labiodental surda
g [g] oclusiva velar sonora
[ɫ] l pinguis constritiva lateral velar sonora l final ou nos encontros de consoante + l na mesma sílaba: exul: [´ekssuɫ], clárus [´kɫa:rus]
l
[l] l exílis constritiva lateral apicodental sonora l inicial de palavra ou sílaba, especialmente diante da vogal anterior /i/: látus: [´la:tus], Sicilia: [si´kilia]
m [m] oclusiva bilabial nasal sonora
[n] oclusiva apicodental sonora
n
[ŋ] oclusiva velar sonora diante de oclusiva velar: ancilla: [aŋ´kiɫla]
p [p] oclusiva bilabial surda
r [r] constritiva vibrante apicodental sonora
s [s] constritiva sibilante apicodental surda
t [t] oclusiva apicodental (ou dental) surda
x [ks] dífono
z [dz], [zd], [z],
[sd], [s]

Observações
1. A letra h representa uma leve aspiração em posição inicial; entre duas vogais, em geral não é aspirada, marcando apenas o hiato: hic,
mihhi. encontro gu, os dois sons são pronunciados; o encontro ngu geraria os sons [ŋgw]: lingua [´liŋgwa].
2. No
3. Algumas consoantes sofrem assimilação de acordo com a posição na palavra e assim podem sofrer modificações fonéticas. O fonema
/b/ pode se tornar desvozeado em ambiente surdo, em geral antes de p, t e s: urbis [´urbis], mas urbs [´urps]. O fonema /d/ pode se tornar
desvozeado em ambiente surdo, passando a [t], e é frequentemente assimilado ao pertencer a um prefixo: adtineó > attineó [at´tinɛo:];
obpóno > oppónó [ɔp´po:no:]; adsum > assum [´assum].
 Vogais
Quantidade
Breves [a] [ɛ] [i] [ɔ] [u]
Longas [a:] [e:] [i:] [o:] [u:]
Observações
1. A quantidade indica a duração de pronúncia. A duração de uma quantidade longa cor responde a mais ou menos dois tempos de uma
quantidade breve. Em latim, a noção de quantidade recai sobre vogais e sílabas. A quantidade longa é marcada pelo sinal “ ˉ ” (á); a breve, pelo
sinal “ ˘ ” (à). Uma vogal pode ser breve ou longa por natureza ou sofrer abreviamento ou alongamento em função do ambiente fonético.
2. Uma vogal longa por natureza em geral sofre abreviamento em duas circunstâncias:
– diante de outra vogal: audíís, mas audiió;
– em sílaba final, diante de uma consoante diferente de s: audíís, mas audiit.
3. Em princípio o latim clássico não teria vogais nasais.
4. Para as vogais /e/ e /o/, admite-se uma diferença na pronúncia em função da quantidade: as breves com pronúncia aberta ([ɛ] e [ɔ]), as longas
com pronúncia fechada ([e:] e [o:]).
5. Os fonemas /i/ e /u/ desenvolvem valores consonantais quando abrem uma sílaba apoiando-se em uma vogal: iam [jam], uerbum [´wɛrbum],
au
uis [´awis]. Tais valores mais tarde geram as consoantes j e v, cujos símbolos gráficos são introduzidos no alfabeto pelo humanista francês
Petrus Ramus no século XVI.
6. O fonema /y/ aparece essencialmente em palavras gregas e corresponde à pronúncia original [y] (ou até mesmo [u]).
7. Alongamento
• Alongamento compensatório: alongamento de vogal breve por natureza “compensando” queda de fonema, em particular de -s- sonoro
consoante sonora (ìs-dem > ídem) e de -n- (que não deveria mais ser pronunciado) seguido de -f- ou -s- (ìndoctus, mas ínfelix)1.

1
Testemunho de Cícero (Orator 159): “Quodam instituto: indoctus dicimus breui prima littera, insanus producta, inhumanus breui, infelix longa et, ne multis, quibus in uerbis eae
primae litterae sunt quae in sapiente atque felice, <in> producte dicitur, in ceteris omnibus breuiter; itemque conposuit consueuit concrepuit confecit. Cónsule ueritatem: reprehendet;
refer ad auris: probabunt; quaere cur ita sit; dicent iuuare; uoluptati autem aurium morigerari debet oratio”.
 Ditongos: o latim possui propriamente três ditongos, ae [aj], au [aw] e oe [ɔj].

III. Acentuação
Em regra geral, o latim não possui palavras oxítonas. Uma palavra com duas sílabas é, portanto, paroxítona.

Para sabermos qual sílaba é acentuada nas palavras compostas de três ou mais sílabas, observamos a quantidade da penúltima sílaba.
– Se a penúltima sílaba for longa, o acento recai sobre ela, a palavra é então paroxítona: órá
rátor
rá [o:´ra:tɔr].
– Se for breve; o acento recai sobre a anterior, e a palavra é então proparoxítona: óráttória [o:ra:´to:ria].

• Há três condições para a penúltima sílaba ser longa:


1. possuir uma vogal longa por natureza: órá
rátor
rá [o:´ra:tɔr];
2. possuir um ditongo: incau
autus
au [iŋ´kawtus], próprae
raetor
rae [pro:´pajtɔr];
3. possuir uma vogal breve seguida de duas ou mais consoantes, desde que uma das consoantes feche a sílaba: puel
ella
el [pu´ɛɫla], irreueren
renter
ren
[irrɛwɛ´rɛntɛr].
Atenção: falamos aqui de sílaba longa, não de vogal longa.

Fontes
ALLEN, Sidney W. Vox Latina. Cambridge: Cambridge University Press, 19782.
FARIA, Ernesto. Gramática da Língua Latina. Brasília: MED-FAE, 1995.
TOURATIER, Christian. Grammaire Latine. Paris: Armand Colin, 2008.

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