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UFRGS – INSTITUTO DE LETRAS – SETOR DE LATIM – Professora Laura Quednau

A PRONÚNCIA DO LATIM
(Reunião de informações de algumas gramáticas, principalmente a de FREIRE, Antônio S. J.
Gramática latina. 4ª ed., Braga, Publicações da Faculdade de Filosofia e Livraria: A.I, 1987.)
Há três tipos de pronúncia do latim.
Pronúncia tradicional, clássica ou vernacular – cada país tem a sua pronúncia do latim, havendo
poucas diferenças entre a pronúncia do país e a da língua em questão. Difere da pronúncia do português nas
seguintes situações:
● ditongos ae e oe = [] (é): caelum, poena
● ti = [si]: patientia, amicitia, prudentia
● ti precedido por s, t ou x = [ti]: hostia, Attius, mixtio
● x = [ks]: Xerxes
● z = [dz]: zelus
● ph = [f]: Zephirus
● j e v = [ž] e [v] (quando tiverem valor consonantal): justus e vicinus
● ch = [k]: chorda
Pronúncia restaurada, científica ou reconstituída – é o resultado do estudo comparativo das línguas
neolatinas e das transcrições do latim para o grego, bem como do próprio testemunho de gramáticos latinos,
como Prisciano e Donato, sobretudo. As suas características mais importantes são:
● ditongos ae e oe = [ay] e [oy]: caelum, poena
● ti = [ti]: amicitia, prudentia
● j ou i e v ou u = [i] e [u]: iustitia, civis
● c = [k]: Cicero
● g = [g]: regina
● s = [s]: casa
Pronúncia romana, italiana ou eclesiástica – é a pronúncia adotada pelos italianos e pela igreja. As
suas características mais importantes são:
● ditongos ae e oe = [] (é): caelum, poena
● ti = [tsi] (quando antes de vogal e não precedido por s, t ou x): patientia, amicitia, prudentia
● x = [ks]: Xerxes
● z = [dz]: zelus
● i ou j = [i]: iustitia, civis
● ch = [k]: chorda
● c = [tš] (antes de ae, oe, e e i): Cicero, caelum
● g = [dž]: regina
● s = [s]: casa
● sc = [š] (antes de ae, oe, e e i): descendit
● gn = nh: agnus
● h = [k]: nihil
● m e n são sempre articulados, mesmo depois de uma vogal: deum
Acentuação em latim
Em latim, o acento nunca recai sobre a última sílaba, não havendo, pois, palavras oxítonas de mais
de uma sílaba. As dissílabas são todas paroxítonas, ou seja, o acento recai sobre a penúltima sílaba. As
palavras de três ou mais sílabas têm sua acentuação determinada pela quantidade da penúltima: quando esta é
breve, o acento recua para a sílaba precedente, sendo a palavra proparoxítona; quando, porém, for longa a
penúltima sílaba, sobre ela recai o acento, sendo a palavra paroxítona.
Quantidade da sílaba: o sinal ˘ (braquia) sobre a vogal indica sílaba breve, e o sinal ˉ (macro), sílaba
longa.
Exemplos:
- palavras de três ou mais sílabas:
a) com a penúltima longa (paroxítonas):
fidēlis, fortitūdo, religiōsus, magīstra, turbulēnta.
b) com a penúltima breve (proparoxítonas):
facĭlis, femĭna, amicitĭa, viŏla, imperĭum.
- palavras de duas sílabas:
sīlva, rŏsa, hŏmo.
palavras de uma sílaba:
spē, vĭr.

A PRONÚNCIA DO LATIM
(ØRBERG, Hans H. Latine disco. Roma: Edizioni Accademia Vivarium Novum, 2011)

É possível determinar, com alto grau de acuidade, como o latim era pronunciado nos tempos antigos.
Os principais tipos de evidência são os seguintes:
(1) A ortografia latina, sobretudo variações da forma.
(2) A pronúncia das línguas românicas, que representam o desenvolvimento último da fala latina.
(3) Afirmações sobre pronúncia achadas em escritos de antigos gramáticos latinos e outros autores.
(4) A representação de palavras latinas em outras línguas.
Baseando-nos em tais evidências, podemos estabelecer as principais regras que comandam a
pronúncia do latim no período clássico (o primeiro século a.C.) como segue.

Vogais
Uma clara distinção fazia-se na pronúncia, mas não na escrita, entre vogais longas e breves. No
LINGVA LATINA toda vogal longa é marcada com um mácron [¯]: ā, ē, ī, ō, ū, ÿ; consequentemente a falta de
um mácron demonstra ser a vogal breve: a, e, i, o, u, y.
Vogais breves
a, como no inglês ‘aha’: amat
e, como em ‘let’: et, bene
i, como em ‘fit’: in, nimis
o, como em ‘hot’: post, modo
u, como em ‘full’: num, sumus
y, como no u francês em ‘lune’: Syria
Vogais longas
ā, como em ‘father’: āla, pānis
ē, como no escocês ‘late’: mē
ī, como ee em ‘feet’: hīc, līberī
ō, como no escocês ‘go’: pōnō
ū, como em ‘fool’: ūna, tū
ÿ, como no u francês em ‘pur’: Lÿdia
Ditongos

Um ditongo é uma combinação de duas vogais em uma sílaba. Os ditongos em latim são: ae, oe, au, eu, ui.
ae, como no inglês ‘die’: Graecia, laetus, paene.
oe, como em ‘boil’: foedus, poena.
au, como em ‘loud’: aut, nauta.
eu, como e e u latinos combinados em uma sílaba: heu, neu, seu. (Mas os finais –us, -um, -unt formam sílabas à
parte após e: de|us, me|us, aure|us, e|unt etc.)
ui em cui, huic, cuius, huius, como a e u latinos combinados em uma sílaba.

Consoantes

b como em beber, bater (mas bs como ps e bt como pt: absunt, obtulit).


c sempre como em carro (= k, sem aspiração): canis, centum, circus, nec.
ch, ph e th como k, p e t, com aspiração: pulcher, amphitheātrum.
d, como em dado, data: dedit, ad.
f, como em fofo, filho: forum, flūmen.
g, como em garganta: gallus, gemma, agit.
gn, como em inglês ‘willingness’: signum, pugna, magnus.
h, como em inglês [tendendo a desaparecer]: hic, homo, nihil.
l, como em lapis, lobo: gladius, male, vel, lūna.
m, como em mão, mapa: mē, domus, tam. [nos finais átonos -am, -em, -um tende a desaparecer]
n, como em não: nunquam, ūnus; antes de c, g, e q, como em anca: incola, longus, quīnque. [antes de s, tende a
desaparecer: mēnsa, īnsula]
p, como em pato (sem aspiração): pēs , populus, prope.
ph, como p, mas aspirado: vide ch.
qu, como em tranquilo: quis, aqua, equus.
r, sempre vibrante como em italiano: arbor, rēs, cūr.
s, sempre desvozeado, como em sapo: rosa, is, semper.
t, como em tatu (sem aspiração): ita, cunctus, et.
th, como t, mas aspirado: vide ch.
v, como o w inglês: vōs,vīvus
x, como em inglês (= ks): ex, saxum .
z, como em zebra: zōna.
i consoante, como em inglês ‘yet’, se precede uma vogal, inicia uma palavra ou prefixo, ou se está entre vogais:
iam, eius, co-iungere, iubēre.
u consoante, como o w inglês, na combinação ngu antes de vogal e, às vezes, na combinação su antes de ā e ē:
lingua, sanguis, suādēre, suāvis.
Consoantes duplas duram mais do que consoantes simples: ille, annus, nummus, terra, littera, oppidum. [o i
consoante entre vogais era pronunciado dobrado: eius como eiius, maior como maiior, no LINGVA LATINA escrito māior]

Pronúncias Latinas Recentes

A pronúncia latina clássica descrita acima foi a dos romanos educados no primeiro século a.C. Nos tempos
imperiais (séculos I-V d.C.), a pronúncia do latim sofreu mudanças consideráveis. As mais evidentes são as seguintes:
(1) Os ditongos ae e oe foram simplificados em um ē longo (uma vogal aberta).
(2) v se pronunciou como em vaca, válvula.
(3) ph se pronunciou como f, th como t, e ch como c (= k).
(4) ti antecedendo uma vogal tornou-se tsi (exceto após s, t, x).
(5) A distinção entre vogais breves e longas foi obscurecida, uma vez que vogais breves ao fim de uma sílaba
tônica tornavam-se longas (abertas), e vogais longas em sílabas átonas tornavam-se breves.
(6) Por fim, no século V, a pronúncia de c e g mudou antes das vogais anteriores e, i, y, ae, oe: c veio a se
pronunciar como em chato, e g, como em jato. Fora da Itália, c nessa posição pronunciava-se ts.
As principais características dessa pronúncia mais recente sobrevivem na pronúncia latina ainda em uso na Itália.
Essa pronúncia “italiana” do latim é largamente utilizada na Igreja Católica Romana e em canto coral.
A pronúncia latina clássica é agora geralmente ensinada em escolas britânicas e americanas; mas isso data apenas
do início do século XX. Antes de então a maioria dos anglofalantes pronunciavam palavras latinas como se fossem
inglesas. Essa pronúncia tradicional inglesa do latim ainda vive: é utilizada nas formas inglesas de nomes latinos (Plautus,
Cicero, Scipio, Caesar, Augustus, etc.) e nas várias palavras e expressões latinas em uso corrente em inglês (como radius,
medium, area, status quo, et cetera, ad infinitum, bona fide, vice versa, etc.).

Divisão silábica

Palavras são divididas em sílabas em latim de acordo com as seguintes regras simples:
(1) Uma consoante vai com a vogal seguinte: do-mi-nus, o-cu-lus, cu-bi-cu-lum, pe-te-re.
(2) Quando duas ou mais consoantes seguem uma vogal, a última consoante é carregada até a próxima sílaba:
Sep-tem-ber, tem-pes-tās, pis-cis, con-iūnc-tus. Exceção: b, d, g, p, t, c e f não são separadas de um r ou l seguinte (com
exceção, às vezes, em poesia): li-brī, sa-cra, pa-tri-a, cas-tra, tem-plum, in-te-gra, ce-re-brum.
Nota: Os dígrafos ch, ph, th e qu contam como consoantes únicas e não são separados: pul-cher, am-phi-the-ā-
trum, a-li-quis; e x, representando duas consoantes (cs), não é separada da vogal precedente: sa-xum, dīx-it. Compostos
devem dividir-se em seus componentes: ad-est, ab-est, trāns-it.

Acentuação (entonação)

Em palavras de duas sílabas o acento (tom) está sempre na primeira sílaba: ¹ubi, ¹multī, ¹valē, ¹erant, ¹leō.
Em palavras de mais de duas sílabas há duas possibilidades: o acento cai sobre (1) a penúltima, ou (2) a
antepenúltima sílaba. A regra básica é esta:
A penúltima sílaba só não é acentuada se acabar em uma vogal breve; nesse caso, a antepenúltima sílaba é
a tônica.
Assim, para determinar a posição do acento em um vocábulo latino, olhe para a penúltima sílaba:
Ela é acentuada quando acabar
(a) em uma vogal longa ou ditongo: La¹tīna, vi¹dēre, a¹mīca, Rō¹mānus, ō¹rātor, per¹sōna, a¹moena; ou
(b) em uma consoante: se¹cunda, vī¹gintī, lī¹bertās, co¹lumna, ma¹gister.
Se ela acaba (c) em uma vogal breve, a penúltima sílaba é átona e o acento cai sobre a sílaba precedente, a
antepenúltima: ¹īnsula, ¹fēmina, ¹patria, ¹oppidum, ¹improbus, dī¹videre, in¹terrogat, ō¹ceanus, ¹persequī, ¹cerebrum.

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