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GUIA DE PRONÚNCIA

No Brasil, são principalmente utilizados três tipos de pronúncia do


latim: a tradicional portuguesa, a eclesiástica e a restaurada ou
reconstituída. Você pode ouvir a palavra Caesar de três formas diferentes:

CÉZAR TCHÉZAR KAISSAR

A primeira seria a portuguesa, mais parecida com o português, com o c


com som de “ss” e o s com som de “z” entre vogais: “Cézar”.
A segunda forma é a da pronúncia eclesiástica, utilizada na Igreja e
muito parecida com o italiano, com o c com som de “tch”: “Tchézar”.
A terceira forma é a da pronúncia reconstituída, reconstruída ou
restaurada. Seria como, muito provavelmente, os falantes do latim
pronunciavam Caesar, com o c tendo som de “k” e o s com som de “ss”:
Kaissar.
O alfabeto latino vem do etrusco, que está baseado num alfabeto grego
não jônico, herdado pelos gregos dos fenícios que, por sua vez, aprendem
dos egípcios. Consta de 21 letras (A B C D E F G H I K L M N O P Q R S
T V X) mais duas (Y e Z), introduzidas no primeiro século antes de Cristo
para os nomes de origem grega, perfazendo, desse modo, um total de 23
letras.
No período clássico (81 a.C – 12 d.C), duas letras tinham, cada uma,
duplo valor de vogal e consoante: u e i. Ocorre que os latinos tinham um só
sinal gráfico para o som de /w/ e /u/, que era o grafema <u> minúsculo e
<V> maiúsculo; e, do mesmo modo, apenas um grafema <i> e <I> para os
fonemas /i/ e /j/.
Por isso, na Renascença (século XVI), um humanista chamado Pierre
de la Ramée (1515-1572), acrescentou ao alfabeto latino mais duas letras:
<j> (e o equivalente maiúsculo <J> e <U>).
O <j> veio a representar a letra <i>, quando esta tinha valor da
semiconsoante /j/, ou seja, quando ocorria antes de vogal.
O sinal <U> surgiu para representar, em maiúsculo, a letra <u>,
quando esta possuía valor da vogal /u/, isto é, quando aparecia depois de
consoante. Com isso, a letra <V>, maiúscula, e <v>, minúscula, passaram
a representar apenas a forma consonantal /w/, isto é, sempre antes de vogal.
Um dos fenômenos mais relevantes para o estudo da pronúncia da língua
latina é a quantidade, ou seja, o tempo que dispendemos para proferir as vogais e
sílabas. Há vogais longas e breves, e a mesma classificação costuma ser utilizada
para as sílabas nas gramáticas latinas em língua portuguesa.
Uma vogal longa equivale, grosso modo, ao tempo de duas breves. A duração
da vogal pode distinguir semanticamente as palavras em latim. Há uma série de
palavras cujo significado se diferencia apenas pela quantidade da vogal. E.g. (por
exemplo):
ara (o último a longo)"lavra"; mas: ara (os dois aa breves) "altar";
venit (e breve) "ele/ela vem; mas venit (e longo) "ele/ela veio;
hic (i longo) "aqui"; mas hic (i breve) "este";
os (o longo) "boca"; mas os (o breve) "osso"
Uma sílaba é longa quando: (a) possui uma vogal longa; (b) possui um
ditongo, como em casae "cabanas"; possui uma vogal seguida de duas consoantes
(uma fechando a sílaba em questão, e a outra iniciando a sílaba seguinte) ou de
uma palavra "dupla" (x ou z), como em adulescens "adolescente" e senex "velho",
respectivamente. Nos demais casos, as sílabas são breves.
A duração das sílabas é importante para a leitura da poesia e prosa rítmica da
Roma antiga, já que o ritmo do verso dos textos latinos é marcado pela alternância
de sílabas longas e breves, como se verá.
Os métodos de latim costumam marcar as sílabas longas com o sinal -
(mácron) e as breves com ‫( ﮞ‬bráquia). Aos poucos, o estudante se familiariza com
os modos de se descobrir a duração das sílabas em latim e pode, então, dispensar o
auxílio do mácron e da bráquia.
Em latim não há acentuação gráfica. Para saber qual é a sílaba tônica de uma
palavra, é preciso conhecer a duração da penúltima sílaba. Não há oxítonas em
latim, apenas paroxítonas e proparoxítonas. Quando a penúltima sílaba é longa, a
tonicidade recai sobre ela, e a palavra é paroxítona. Quando a penúltima é breve, a
tonicidade recua para a sílaba anterior, e a palavra é proparoxítona. E.g.: amare
"amar" (penúltima sílaba longa) pronuncia-se amáre; facere "fazer" (penúltima
sílaba breve) pronuncia-se fácere. Como geralmente palavras de mais de uma
sílaba não têm a tonicidade sobre a última sílaba (i.e., não são oxítonas), as
palavras de duas sílabas são paroxítonas.
Há uma dúvida a respeito da "tonicidade": alguns estudiosos defendem que
era um acento de intensidade (ou seja, algumas sílabas seriam pronunciadas com
mais força do que outras, como em português). Outros pensam que o acento latino
era melódico, i.e., musical (nesse caso, algumas sílabas seriam pronunciadas num
tom mais alto).
Em seguida, apresentamos um quadro que mostra como é a chamada
pronúncia "reconstituída" do latim, uma reconstrução hipotética de como era a
pronúncia da língua na época clássica.
As letras e os sons que elas representam
Aa quando é breve, pronuncia-se [a], como em port. casa; o a longo [a] é
semelhante ao do inglês "father"
Bb [b], como no português "bota"
Cc sempre [k], como no port. "capa"; nunca [s], como no port. "cedo" ou "cinema"
(ou seja, tem sempre som de oclusiva gutural sonora /k/: Cicero, Caesar,
Marcellus, dulcis)
Dd [d] e Tt [t], se pronunciam sempre como oclusivas dentais, não palatizadas,
como no port. "data" e no inglês "day" ou como “tesouro”; nunca como no ingl.
"just": nationes, otium, gladium, dies, aedes
Ee o breve é aberto [ε], como no port "pé"; o longo é fechado [e:]- pronuncia-se
quase como o fr. "fiancée".
Ff [f], como no port. "fazer"
Gg sempre [g], como no port. "gato", nunca como no port. "gelo", "girafa" (é
sempre oclusiva gutural sonora: regina, ager, piger)
Hh indica leve aspiração, quase como no ingl. "home": homines, mihi, nihil, honos
Ii pode representar uma vogal breve [i], como a do port. "via", ou uma longa [i:],
como no ingl. "deep"
Jj [J] - semivogal, como no ingl. "yes" ou no alemão "ja"
Kk [k], como no ingl. "kind"
Ll sempre [l], como no port. "lado"; nunca representa a semivogal [w], como
muitas vezes ocorre no português brasileiro (sempre pronunciada como líquida,
não palatizada, mesmo no meio ou no final da palavra: locus, mel, alter, Alba)
Mm [m] no começo ou no meio das palavras, como em "mudo"; em final de
palavra, supõe-se que fosse articulado de modo mais fraco, representando apenas,
praticamente, uma nasalização da vogal que o precede: amplexus, carmen, quem,
quam
Nn sempre [n], como no port. "neto"; nunca apenas sinal de nasalização de uma
vogal
Oo o breve é aberto [Ɔ]- cf. port. "pó"; o longo é fechado [o:] - cf. fr. "eau"
Pp [p], como no port. "pato"
Qq [k], como no port. "queijo"
Rr sempre [r], isto é, uma vibrante rolada, como no port. do sul do Brasil e no
escocês
Ss sempre [s], como no port. "soma"; nunca sonoro como no port. "casa" (sempre
sibilante surda, em qualquer posição, mesmo no final: opus, patris, causa
Não existe o som de /v/ como em “vela”. A letra <V> (maiúscula) e sua
correspondente minúscula <u>, quando em posição não vocálica, são pronunciadas
como /w/, isto é, como semiconsoante, com leve labialização: uocis, auis, Valerius,
ueritas, aluus, uulpes
Xx [ks], como no port. "táxi"
Yy [y], pronunciado com arredondamento, como o fr. "pur" e o al. "über": lyra,
physis
Zz [z], como em port. "zebra"

Vamos pronunciar?
donatio, optio, scriptus, praecurro, rosae, inventio, magnus, novem, somnus,
vehemens, laqueus, quaestio, causticus, fungus, poenalis, rector, vitium,
divitiarum, omnis, actio, cognosco, patria, provinciae, venio, aethereus, aequalis,
sanctior, quatiunt, istius, factio, vitium

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