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FONÉTICA E

FONOLOGIA DO
INGLÊS

Ubiratã Kickhöfel Alves


Andressa Brawerman-Albini
Maria Lacerda
Relação entre acento,
proeminência e ritmo
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar as seguintes habilidades:

 Identificar a função da acentuação silábica na língua inglesa.


 Relacionar as características da proeminência silábica na língua inglesa.
 Reconhecer a importância entre o ritmo e a comunicação.

Introdução
O processo de comunicação é uma via de mão dupla. Precisamos falar
para nos expressarmos. Precisamos ouvir para compreendermos o que as
outras pessoas dizem. Quando estudamos outro idioma, é comum termos
a crença de que a nossa pronúncia deve ser idêntica à de um falante nativo
para que sejamos fluentes. Porém, vivemos em um mundo diversificado:
cada pessoa é única, e cada fala é uma apropriação individual que as
pessoas fazem das línguas. Assim sendo, a comunicação possui aspectos
extralinguísticos. Ao nos voltarmos para a língua inglesa, é preciso levar
em conta que o estudo desse idioma também envolve muitos fatores.
É preciso conhecer certos aspectos linguísticos dessa língua para que a
aprendizagem aconteça de forma consistente e significativa.
Neste texto, você vai desenvolver conhecimentos sobre alguns
fenômenos que conferem à língua inglesa traços específicos, como a
acentuação, a proeminência e o ritmo.

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A função da acentuação silábica na língua


inglesa
A acentuação silábica das palavras é um fator importante no processo de
comunicação. É ela que permite enfatizar as sílabas durante a pronúncia dos
vocábulos. Na língua portuguesa, por exemplo, esse aspecto fonológico é
conhecido como “acentuação tônica”. Para indicar a tonicidade, utilizamos
acentos gráficos fixos que seguem a norma de acentuação prescrita nas gra-
máticas normativas. Também classificamos as posições das sílabas tônicas em
monossílabos tônicos, oxítonas, paroxítonas e proparoxítonas. A tonicidade
dá ao português o seu ritmo.
Quando falamos de acentuação, um dos fatores que precisamos ter em mente
é que cada língua terá o seu ritmo e as suas regras de tonicidade. Segundo
Silva (2012), há variações entre os inventários fonéticos das línguas, ou seja,
eles não são equivalentes. Nesse sentido, existirão sons de uma língua que
não existirão, necessariamente, em outra. Portanto, a acentuação também faz
com que haja traços singulares nas línguas.
No que diz respeito à língua inglesa, o termo “accent” é utilizado para
indicar a tonicidade silábica nesse idioma. Para tanto, utiliza-se o termo “pro-
minence” (proeminência) para designar as sílabas que se destacam das demais
na pronúncia do inglês. Para Roach (2009, p. 01), é importante destacar que
essa palavra pode ser empregada em dois diferentes sentidos:

1. O primeiro se refere à proeminência dada a uma sílaba pelo uso do tom


(pitch) diferente e acentuado. Por exemplo, na palavra potato, a sílaba
do meio (to) é a mais proeminente. Ao pronunciá-la, você provavelmente
produzirá uma queda na sílaba do meio, o que fará dela uma sílaba
acentuada. Observe que, mesmo com o tom mais baixo, a sílaba foi
acentuada, pois, na pronúncia, tem maior ênfase em relação às outras
sílabas. Além disso, é importante ressaltar que a palavra “accent” se
distingue do termo “stress”, que é utilizado, de forma geral, para se
referir a todo tipo de proeminência, incluindo o aumento do volume e
comprimento e a qualidade do som durante a fala.
2. O segundo diz respeito ao emprego da palavra “accent” para se referir
ao modo particular de pronúncia dos falantes da língua inglesa. Por
exemplo, alguns nativos podem compartilhar da mesma gramática e
vocabulário e terem diferentes tipos de acentuação. Esse aspecto da
fala está relacionado ao fenômeno da variação linguística.

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A variação linguística pode ocorrer por questões históricas, regionais e comunicacionais.


A língua é uma parte viva de uma cultura. Insere-se em uma sociedade complexa
formada por diferentes grupos sociais. Por isso, é normal que questões como re-
gionalismos e ajustes feitos pelos falantes na comunicação influenciem o constante
processo formativo de uma língua ao longo do tempo. Esse tema é objeto de um
ramo da Linguística chamado de Sociolinguística.

Diante dos aspectos apresentados, é possível observar que a acentuação


constitui uma característica importante da língua inglesa. Ela está presente
no nível linguístico (nas unidades silábicas das palavras) e no extralinguístico
(na unidade individual da fala dos indivíduos).

Prosódia é um campo de estudo inserido na área da Linguística. Nesse campo estudam-


-se aspectos linguísticos como a acentuação, a entonação, a ênfase, o ritmo, entre outros
fatores que envolvem a linguagem falada. Atualmente, a análise prosódica também
engloba fatores extralinguísticos, como atitudes, emoções, gêneros, fatores sociais etc.
Conheça mais sobre essa área de investigação lendo o artigo “Das concepções
primeiras ao recorte científico atual” (BARBOSA, 2008).

A proeminência silábica na língua inglesa


A acentuação silábica, no inglês, é usada como recurso para conferir pro-
eminência às sílabas das palavras. Nesse sentido, as sílabas que recebem
maior tonicidade têm em comum o fato de serem mais proeminentes do que
as outras sílabas. Há, também, importantes características que fazem uma
sílaba acentuada ser reconhecida.
Para Roach (2009, p. 85), há quatro fatores a serem considerados em relação
à proeminência silábica na língua inglesa:

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1. A maioria das pessoas percebe que as sílabas acentuadas são mais altas
do que as sílabas não acentuadas. Dessa forma, a intensidade com a qual
uma sílaba é pronunciada torna-se um componente da proeminência.
Por exemplo, mesmo na sequência de sílabas idênticas “ba: ba: ba: ba:”,
se uma sílaba fosse reproduzida de forma mais alta do que as demais,
ela seria ouvida de forma proeminente.
2. O comprimento das sílabas tem um papel importante a desempenhar
na proeminência. Se a uma das sílabas da palavra hipotética “ba: ba:
ba: ba:” fosse pronunciada de forma mais longa, haveria uma forte
tendência para que ela fosse ouvida como a sílaba proeminente.
3. Toda sílaba vocal é dita em algum tom. A fala está intimamente rela-
cionada à frequência de vibração das pregas vocais e à noção musical
de notas baixas e agudas. Se uma das sílabas do exemplo acima fosse
dita em um tom visivelmente diferente do das demais, ela teria uma
forte tendência a produzir o efeito de proeminência.
4. Uma sílaba tenderá a ser proeminente quando tiver uma vogal diferente
como vizinha. Se mudarmos uma das vogais do nosso exemplo (ba: bi:
ba: ba:), a sílaba bi: estará propensa a ser ouvida com mais tonicidade.
Sua acentuação ocorrerá em contraste às características específicas
das sílabas não acentuadas.

Portanto, a proeminência será produzida por quatro fatores: (1) volume;


(2) duração; (3) tom; e (4) característica. Nesse âmbito, é importante consi-
derar, também, a dimensão do uso da língua nesse processo. A forma como
os indivíduos, sejam eles falantes nativos ou não nativos, se apropriam da
língua, no ato da fala, também estará intimamente relacionada ao fenômeno
da proeminência.

Muitas vezes, ao aprendermos outra língua, transferimos para ela algumas normas
de acentuação da nossa língua materna. Leia o texto “A produção da vogal final/i/em
dissílabos do inglês por aprendizes brasileiros: uma questão de tempo” (ENGELBERT;
SILVA, 2012) como exemplo de uma pesquisa sobre esta interferência.

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A importância do ritmo na comunicação


O ritmo é um movimento fluido que ocorre em períodos sucessivos. No con-
texto linguístico, é ele que dará movimento e dinamicidade à língua inglesa
em diferentes situações comunicacionais.
De acordo com Schütz (2008), em relação ao ritmo, as línguas são classi-
ficadas em syllable-timed (ritmo silábico) e stress-timed (ritmo acentual). A
língua portuguesa é um exemplo da primeira classificação; a língua inglesa,
da segunda.
Nas línguas syllable-timed, é a sílaba que imprime ritmo à fala. Cada uma
é pronunciada em um intervalo de tempo semelhante. Assim, o tempo gasto
para pronunciar uma frase estará relacionado ao número de sílabas de todas
as palavras que a constituem. Conseguimos perceber, por exemplo, que todas
as sílabas das palavras são pronunciadas de forma regular no português.
Já nas línguas do tipo stress-timed, o ritmo é marcado pela sílaba tônica
das palavras. Ele ocorre em intervalos mais irregulares. Consequentemente, os
seguimentos de algumas sílabas não acentuadas tendem a ficar comprimidos,
aglutinados. Algumas sílabas, dependendo da percepção do ouvinte, podem
ficar imperceptíveis. Assim, o tempo gasto para pronunciar uma frase na língua
inglesa, por exemplo, depende do número total das sílabas tônicas das palavras.
Dessa forma, se considerarmos, especificamente, as características relacio-
nadas ao inglês, veremos que o conhecimento acerca do ritmo desse idioma
é fundamental para que a comunicação aconteça de forma satisfatória. Ele é
essencial na compreensão e na pronúncia do idioma.

Você já pensou em como a acentuação e o ritmo podem ser importantes no ensino


do inglês como segunda língua?
Leia o texto “Acento e ritmo: aspectos fonético-prosódicos no ensino de inglês
como L2” (SILVA JÚNIOR, 2016) para saber mais sobre o assunto.

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Considerações finais
Você pôde perceber, por meios dos temas estudados neste texto, que a lín-
gua inglesa possui aspectos linguísticos que conferem a ela características
específicas. A aprendizagem efetiva de um idioma envolve, mais do que uma
pronúncia clara, o conhecimento dos elementos que constituem a língua como
um todo significativo.

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BARBOSA, P. Das concepções primeiras ao recorte científico atual. Belo Horizonte: Psi-
colinguística Wiki, 2008. Disponível em: <http://psicolinguistica.letras.ufmg.br/wiki/
index.php/Pros%C3%B3dia>. Acesso em: 16 ago. 2017.
ENGELBERT, A. P. P. F.; SILVA, A. H. P. A produção da vogal final/i/em dissílabos do inglês
por aprendizes brasileiros: uma questão de tempo. Revista Verba Volant, Pelotas, v.
3, n. 1, p. 72-83, jan./jun. 2012. Disponível em: <https://goo.gl/GxsKcv>. Acesso em:
16 ago. 2017.
ROACH, P. English phonetics and phonology glossary (a little encyclopaedia of phone-
tics). Cambridge: [s.n.], 2009. Disponível em: <http://www.ff.umb.sk/app/cmsFile.
php?disposition=a&ID=14179>. Acesso em: 16 ago. 2017.
SCHÜTZ, R. Ritmo e o fenômeno de redução das vogais em inglês. English Made in
Brazil, 18 jun. 2008. Disponível em: <http://www.sk.com.br/sk-reduc.html>. Acesso
em: 27 ago. 2017.
SILVA JÚNIOR, L. J. Acento e ritmo: aspectos fonético-prosódicos no ensino de inglês
como L2. Leia Escola, v. 15, n. 2, p. 34-44, 2016. Disponível em: <http://revistas.ufcg.
edu.br/ch/index.php/Leia/article/view/512>. Acesso em: 17 ago. 2017.
SILVA, T.C. Fonética e fonologia do português. Roteiro de estudos e guia de exercícios.
Contexto: São Paulo, 2012.

Leituras recomendadas
AVERY, P.; EHRLICH, S. Teaching American pronunciation. Oxford: Oxford University
Press, 1995.
BOLINGER, D. L. A theory of pitch accent in English. Word, v. 14, n. 2-3, p. 109-149, 1958.
Disponível em: <http://www.tandfonline.com/doi/pdf/10.1080/00437956.1958.1165
9660>. Acesso em: 16 ago. 2017.

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