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INTRODUÇÃO EM LÍNGUA PORTUGUESA

TÉCNICO EM ENFERMAGEM
PROFESSORA: LILIANE NEVES

AULA 1
TÓPICO 1 – A DIFERENÇA ENTRE LÍNGUA E LINGUAGEM

É comum que muitos estudantes confundam o significado


de língua e linguagem, no entanto, esses termos têm diferentes
sentidos. Saber identificar o conceito e como relacionar a língua e a
linguagem faz muita diferença no modo como você interpreta e
influencia o mundo à sua volta. Enquanto a linguagem é uma
faculdade, a língua é aquilo que permite o exercício de tal
faculdade. Para que não reste dúvida quanto a essa relação, vemos
que “o exercício da linguagem repousa numa faculdade que nos é
dada pela Natureza, ao passo que a língua constitui algo adquirido
e convencional”. Vejamos a seguir o conceito de linguagem e suas
características.

O que é Linguagem
A linguagem refere-se a todo tipo de comunicação, seja ela por
meio da fala ou de gestos, sons, imagens etc. Desse modo, a
linguagem tem relação com os processos de interação. Nesse
sentido, abarca os diversos mecanismos que são usados para
transmitir informações, ideias, experiências, desejos, sentimentos e
muito mais. Nesse caso, não há restrição quanto aos códigos,
assim, quaisquer conjuntos de sinais e signos cujo objetivo é
comunicar são linguagens.
Linguagem oral e escrita

A linguagem oral e a linguagem escrita são duas manifestações da


linguagem verbal, ou seja, da linguagem feita através de palavras.
Tanto a linguagem oral como a linguagem escrita visam estabelecer
comunicação.

A linguagem é o mecanismo que utilizamos para transmitir nossos


conceitos, ideias e sentimentos. Trata-se de um processo de
interação. Qualquer conjunto de signos ou sinais é considerado
uma forma de linguagem.

Quando falamos de linguagem verbal podemos dividir em oral e


escrita, cada uma com diferenças e características muito vincadas e
que podem tornar a nossa comunicação mais clara, empática,
eficaz ou violenta e repleta de ambiguidades e conflitos.

A linguagem oral é direta, espontânea, guiada pelo diálogo com


recursos externos: gestos, expressões faciais, prosódia e voz,
posturas que facilitam a transmissão das ideias e emoções. Permite
que se refaça a mensagem se não bem interpretada, isto é,
apresenta constante inovação e implica em maior envolvimento com
os falantes.
A linguagem escrita é de contato indireto, é mais objetiva, necessita
de atenção às normas gramaticais, clareza no diálogo, sendo mais
conservadora e formal, pois não escrevemos como falamos. Ainda
na linguagem escrita existe maior distância e menor interferência do
interlocutor, há maior previsibilidade, possibilidade de respostas,
elaboração, precisão, permitindo eliminar ambiguidades e juízo de
valor. Há situações que exigem falas elaboradas, isto é, com
vocabulário e organização mais próxima da escrita, mas na maior
parte do tempo nós usamos a chamada linguagem coloquial, a
linguagem do dia-a-dia.

Por outro lado, há situações em que convém o uso de uma escrita


mais pessoal, como no caso de um bilhete ou em uma lista, como
há ocasiões, precisamos organizar um texto formal, de acordo com
a norma culta da língua.

Resumindo então, nós podemos dizer que a fala é: contextual,


situacional, implícita, não planejada, espontânea, redundante,
próxima, simultânea ou quase, pública, permite reformulação,
implica em feedback imediato, redireciona o texto em formação ao
ouvinte, proporciona maior repetição e turnos mais frequentes.

A escrita é: não fragmentada, completa, elaborada, formal, mais


densa, distante, privada, elaborada, desencadeia possíveis
reações, segue uma ordem lógico-semântica, é mais específica e
possui maior seletividade lexical.

O que é Língua
A língua é um código verbal característico, ou seja, um conjunto
de palavras e combinações específicas compartilhado por um
determinado grupo.
As definições de língua podem ser muitas, mas, nesse contexto,
podemos dizer que língua consiste em um tipo de linguagem. Além
de ser exclusiva do ser humano, a língua tem ainda um caráter
social e cultural.

A linguística é a ciência que estuda o conhecimento linguístico. O


pesquisador suíço Ferdinand de Saussure, atento a necessidade de
ler e processar o conhecimento linguístico da humanidade, foi quem
primeiro delimitou esse objeto, a língua.

Para Saussure, a língua não é nada mais que um sistema de


valores puros, desta forma, o linguista apresenta sua teoria,
enfocando a língua como um fato social, produto da coletividade,
que estabelece os valores desse sistema através da convenção
social sobre a qual o indivíduo desenvolve os aspectos das
interações de uma sociedade, ele entende que a língua seria o
intermediário entre o pensamento e os sons, possibilitando, assim,
que entre a massa amorfa do pensamento humano e a profusão
indeterminada de sons, surja uma espécie de faixa de organização
à qual se chamaria língua. Sendo assim, acontece a materialização
do pensamento e a espiritualização do som. Segundo o linguista, a
língua pode ser vista como o domínio das articulações, pois, nela as
ideias se fixam e tornam-se sons.
Podemos concluir que a língua é um conjunto organizado de
elementos desenvolvido pelos humanos e comum a um grupo. Por
exemplo: as pessoas que falam francês, aquelas que aprenderam a
se comunicar em Libras, inglês, etc.

AS VARIAÇÕES LINGUISTICAS

Variação linguística é uma expressão empregada para denominar


como os indivíduos que compartilham a mesma língua têm diferentes
formas de utilizá-la. Essa diversidade de escrita e fala decorre de
fatores geográficos, socioculturais, temporais e contextuais, e pode
ser justificada pelo funcionamento cerebral dos usuários do idioma
bem como pelas interações entre eles. A importância das variações
reside no fato de que elas são elementos históricos, formadores de
identidades e capazes de manter suas estruturas de poder.

Tipos de variações linguísticas


A variação linguística consiste num fenômeno que reúne diversas
manifestações faladas ou escritas dos usuários de uma
mesma língua. Além disso, a ocorrência dela depende do fato de as
palavras e expressões terem uma afinidade semântica, ou seja,
estabelecerem uma relação de sentido bastante próxima, apesar de
distinguirem-se no que toca ao aspecto fonético (som), fonológico
(função dos sons), lexical (vocabular) ou sintático (relação entre os
termos formadores de frases e orações).
Munido da noção acerca do que é a variação, veja, a seguir, quais
são as suas espécies:
Variação diatópica (variação regional)

A variação diatópica é a que ocorre em virtude das diferenças


geográficas entre os falantes. Ela pode acontecer tanto entre
regiões de uma mesma nação, por exemplo, Rio de Janeiro e Goiás,
quanto entre países que compartilham a mesma língua, como Brasil
e Portugal.
No caso dos dois Estados, a relação de proximidade linguística
decorre do processo de colonização, que resultou na imposição de
um novo idioma aos habitantes das terras além-mar. Embora a língua
portuguesa foi e continua sendo oficial, ela se distanciou em vários
aspectos daquela empregada na Europa, tendo em vista que tivemos
a influência de diversas línguas não só dos indígenas mas também
de povos estrangeiros, como os diversos grupos étnicos africanos.
Tais diferenças podem ser observadas no campo lexical. Por
exemplo, apelido, no Brasil, significa um nome informal conferido a
alguém, enquanto, em Portugal, o termo carrega o sentido de
sobrenome.
Também podemos constatar que há contrastes fonético-
fonológicos, por exemplo, as variações entre Portugal e Brasil, no
nosso território, em razão da dimensão continental e da pluralidade
cultural, o uso da língua é modificado conforme a região. Portanto,
temos, por exemplo, a palavra “menino”, na Bahia, e “guri”, no Rio
Grande do Sul. Também percebemos o uso do pronome “tu” em
algumas regiões do Pará e o amplo uso do “você” em diversos locais,
como Minas Gerais, o que implica toda uma transformação sintática.
Ademais, constatamos um “r” retroflexo, conhecido também como “r
caipira” por alguns linguistas, como Amadeu Amaral, em Goiás
(“Porrrrrrrrta”), enquanto, no Rio de Janeiro, predomina o “r” que
raspa no fundo da garganta.

Cada região do Brasil possui suas variedades linguísticas.


Variação diastrática (variação social)

A variação diastrática é decorrente das diferenças socioculturais,


já que o fato de as pessoas terem ou não acesso contínuo e
prolongado a uma educação formal e aos bens culturais, como
museus, cinemas, literatura, shows de cantores bem avaliados pela
crítica especializada, leva-as a expressarem-se de maneiras
diversas.
Por exemplo, os advogados normalmente utilizam uma linguagem
mais formal no exercício da profissão, considerando-se que, em tese,
tiveram todo um aparato, inclusive financeiro, para estabelecerem
uma comunicação mais sofisticada. Em contrapartida, os
empregados domésticos tendem a utilizar estruturas linguísticas mais
coloquiais, resultado principalmente da privação econômica e,
consequentemente, educacional e cultural.

Variação diacrônica (variação histórica)

A variação diacrônica é resultado da passagem do tempo, já que


a língua está em constante modificação, pois os falantes são criativos
e procuram novas expressões para comunicarem-se de forma mais
efetiva. Além disso, tal fenômeno é causado pelos processos
históricos, como a influência norte-americana no Brasil, que
implicou a adoção de uma série de estrangeirismos,
como brother, no sentido de camarada, e sale, que significa
liquidação.
Importante destacar que grande parte das inovações linguísticas não
permanece, fato que corrobora a necessidade de observar-se a
cristalização das formas faladas e escritas apenas após certo tempo.

A diferença de idade leva as pessoas a comunicarem-se de forma distinta.

Variação diamésica

A variação diamésica é a que acontece entre a fala e a escrita ou


entre os gêneros textuais, ou seja, suportes de transmissão de
uma dada informação que contenham características quase
regulares, por exemplo, o whatsapp e a bula de remédio. Ressalta-
se que a distinção entre fala e escrita não é estática, considerando-
se que se pode construir um texto escrito marcado por expressões
tipicamente orais e vice-versa.
Pense bem, quando você está conversando com alguém, as junções
entre as palavras parecem muito naturais e formuladas no exato
momento da fala, ao passo que a escrita, normalmente, requer um
planejamento e estabelece uma possibilidade maior de transmitir
uma mensagem exata, caso você tenha o domínio das normas
padrões da língua.
Por que existe a variação linguística?

As variações linguísticas existem em virtude da combinação entre


fatores socioculturais, isto é, as relações estabelecidas em
determinadas comunidades, e fatores sociocognitivos, ou seja, as
configurações de nossos cérebros nos momentos em que utilizamos
a língua e influenciamos os outros indivíduos.
Percebe-se que a constituição das mudanças pressupõe
uma adesão coletiva, pois as novas formas linguísticas só serão
incorporadas se forem capazes de ser compreendidas mentalmente
pela maioria dos falantes e contarem com a aprovação deles. Um
exemplo disso é observado no filme Meninas malvadas, em que a
personagem Gretchen tenta emplacar um novo bordão “Isso é tão
barro”, porém a sua colega Regina adverte “Para de tentar fazer o
barro acontecer, isso nunca vai pegar”.

Concluímos assim que os fatores socioculturais são responsáveis


tanto pelas mudanças linguísticas quanto pela tentativa de
mantê-las estáticas. Nesse sentido, temos as instituições sociais
como as escolas; a tradição literária, os gramáticos e dicionaristas, e
as academias de Letras; os meios de comunicação; o Estado com
seus órgãos e entidades; e as diversas religiões, que se revestem da
condição de defensores de uma língua intimamente conectada à
cultura. O problema reside na questão de essa cultura ser um produto
das classes socioeconômicas privilegiadas, fato que reduz o círculo
de pessoas legitimadas a estabelecer mudanças.
Em contrapartida a esse movimento, a diversidade de origens
geográficas, de etnias, de posições hierárquicas entre homens e
mulheres e de graus de escolarização desencadeia variações
linguísticas, pois a fala e a escrita, cada uma a sua maneira, são
reflexos de uma sociedade plural. Enfim, vale ressaltar que,
conforme o indivíduo tem mais acesso à educação formal, mais ele
será capaz de trocar as expressões estigmatizadas por aquelas
detentoras de status aceitável.

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