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GRANDES NOVIDADES
LÚCIO
MUSEU DE
GRANDES NOVIDADES
LÚCIO
ÍNDICE
“Sou levado
Como um navio sem piloto
Como através do ar
Um pássaro à deriva;
Nenhum vínculo me prende,
Nenhuma chave me aprisiona,
Busco meus semelhantes
E me junto aos insensatos.”
Carmina Burana, In Taberna
Notas:
1. GRONDIM, Marcelo. Haiti, Cultura, Poder e Desenvolvimento.
2. MANTEGAZZA, Paulo. A Fisiologia do Belo.
3. SODRÉ, Muniz. A Comunicação do Grotesco.
INTRODUÇÃO
Que fim levou a crítica literária? Esta pergunta nos remete à si-
tuação das artes - e em especial da literatura - neste final do século XX.
Leyla Perrone-Moisés introduz a questão: hoje, em tempos ditos pós-
-modernos, ela (a crítica literária) anda um pouco anêmica, reduzida
ao rápido resenhismo jornalístico, necessário, mas não suficiente.1
A questão da crítica literária é colocada por Leyla Perrone-Moi-
sés como inserida dentro de uma problemática maior, a da luta entre
a cultura e a descultura pura e simples. Segundo ela,
nos campi universitários, os teóricos acadêmicos mo-
dernos discutem com os acadêmicos pós-modernos,
os literários com os culturalistas, os machistas com as
feministas, o vale-tudo ideológico e estético prospera
e aufere lucros, indiferente a qualquer teorização ou
crítica. (...) As querelas acadêmicas relativas à cultura
apenas refletem parte de uma luta maior, que se trava
em âmbito mundial, e do resultado da qual dependem
coisas fundamentais que, se formos ‘pós-modernos’,
não nomearemos, já que têm a ver com metanarrativas
e projetos. Coisas como os rumos da história e da es-
pécie humana.2
REfERÊNCIAS BIblIOgRáfICAS
1. PERRONE-MOISÉS. Leyla. Folha de São Paulo, 25/09/1996.
2. PERRONE-MOISÉS. Leyla. Altas Literaturas. São Paulo, Companhia das Le-
tras, 1998. p. 203.
3. BONVICINO, Régis. In: Revista Orobó, ano I, número 0, 1997, p. 58.
4. ARGAN, Giulio Carlo. In: Revista Orobó, ano I, número 0, 1997, p. 58.
Sua prosa nos obriga a pensar nas feições que os contos as-
sumem. Ele proseia e mostra as feições. Ramerrão tem a divertida
história de um inimigo oculto onde o personagem ganha um cão que
o atormenta, após ter dado Vidas Secas a uma “senhorita Daslu”. E o
mais espirituoso conto do livro realmente fica para o conto final que
dá nome ao livro, onde ele narra, no Ensaio Sobre a Surdez e não
sobre a cegueira, uma operação auditiva que quase o enlouquece,
algo muito sensível para um Sílvio Neves que é um poeta pleno de
musicalidade e agora, contista.
(NANINI, 2010).
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Poemas que falam do cotidiano são uma constância inevitável
e muito apetecível na poesia de Nanini, cuja poesia tenta se dissociar
de um discurso literário rebuscado – e, por vezes, vazio – e da visão
caolha de que o poeta é o porta-voz do enlevo. O rumor de um avião
captado em meio à insônia, a mulher correndo ao varal para salvar
peças-íntimas da chuva, abraços recebidos da avó, sua esposa procu-
rando sua sombrinha cor de rosa, e tantos outros sinais de superfície
simples de sua poesia, mas que é, em seu cerne, riquíssima, aceita os
oferendas que o mundo acena ao poeta, e elas, depois de deflagra-
das, passam a habitar nele, num lugar entre pele e alma e, além de lhe
fornecerem um bom material poético (CUNHA, 2011, p. 1).
Guimarães Rosa dizia que escrever é um ato de empáfia, en-
quanto publicar requer humildade. O poeta, matéria escassa, concilia,
na alma, “pedra e vidro”, silêncio e petardo. Sua poesia se alimenta
da sintaxe de riachos, falas feitas de uma mistura de arame farpado,
roseiras e poentes, rezas de benzedeira, totens domésticos, gemidos
de facas. Pois um poeta é um poeta em qualquer âmbito: a noite
o habita. Wilson Nanini é uma pessoa, até certo ponto, melancóli-
ca, nostálgica, um devedor da ancestralidade, da própria e da alheia.
Detêm um gosto ao saudosismo, mas apenas pela alegria já vivida
(VERUNSCHK, 2011, p. 1).
Em termos de afinidades poéticas, demonstra paixão prepon-
derante pela poesia criada por poetas mulheres: Adélia Prado, Orides
Fontela e Micheliny Verunschk estão entre cinco poetas que mais vi-
sita. Os outros dois são Ferreira Gullar e Carlos Drummond de An-
drade. A mulher católica fervorosa tornou-se, para ele, um par per-
feito para o comunista de Itabira. Ele parte de uma premissa familiar
católica, já devidamente abandonada, e a poesia de Adélia, repleta
de nudez e Bíblia, encontrou nele terreno propício para inspirar-lhe
a eclosão de uma nova poética. Quem sabe seja aí, nessa comunhão
onde os dois poetas copulam “catecismos e assombros”, esteja seu
Melancolia
e a cidade envolta em
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catástrofes sem reparo
: próteses dentárias extraviadas
relógios de pulso abduzidos
eu – poeta (matéria
escassa)? – nasci para
conciliar pedra e vidro
CONClUSÃO
REfERÊNCIAS BIblIOgRáfICAS
CALABRESE, Omar. A Idade Neobarroca. São Paulo, Martins Fontes, 1988.
CUNHA, Pedro. Pensamentos e outras letras. Disponível em: >. Acesso em 17
de junho de 2011.
VERUNSCHK, Micheliny. O cotidiano sagrado da poética de Wilson Nanini.
Revista Cronópios. Disponível em: . Acesso em 19 de junho de 2011.
NOVAES, Marcelo. Nota de rodapé. Disponível em: . Acesso em 16 de junho
de 2011.
BECO DO ESCARRO
Fragmentos Inéditos de Oswald de Andrade
BIblIOgRAfIA
ANDRADE, Oswald de. Beco do Escarro (fragmentos inéditos produzidos en-
tre 1947 e 1948). Campinas: CEDAE/UNICAMP, 2007.
____________________. Chão. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1974.
___________________. Estética e Política. Rio de Janeiro: Globo, 1992.
A todos agradeço.
UmA OCAIA AVURA: MARIA APARECIDA DA SIlVA MARTINS: PARÉ
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TAbACA
deiros. Seus pais eram lavradores. Eram sete irmãos, uma já falecida. estão cheios
É a caçula da família. Deve muito à família, uma família humilde, mas de interroga-
honesta, destaca ela. ?São muitos irmãos, irmãs, tios, primos a quem ção. É assim
tenho que agradecer, muito unidos, graças a Deus. Mas, em especial, mesmo?
Ave!
Grata surpresa ao receber missiva tão delicada e rara. Delicada
pelo gesto. Rara em nossos atribulados dias de atravessar pessoas
como se números estatísticos fôssemos todos, massa de notícias de
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todos os cantos. Sem alma. Ou com a alma tão perdida que se fica
sem saber se a temos ou não. Ou se foi leiloada ao Diabo por trinta
moedas de prata, ou dólares, ou euros, ou: as do momento.
De gesto tão espontâneo, não se tratando de crítica de algum
literário participante de alguma mesa de algum concurso, brotou-se
do genuíno, o simples, o belo, que em mim despertou.
Grato, e alegre, e enriquecido, lembrei-me eu novamente de
mim mesmo. Escapei, por um átimo, e tornei a lembrar de como se
faz, das artimanhas do Demo, artífice desta contabilidade: lide áspera
de se viver nos dias de hoje... Fazer, fazer, fazer... Sem sabermos exa-
tamente para quê...
Nascente alegria perpassou meu ser. Silêncio falante impôs-se.
Hora de significados. Tempo sem tempo.
Algo que eu disse, ousando escrever e mostrar ao outro, fa-
zendo com que esse outro ao ouvir-me digne-se a não se omitir, não
me deixa esquecer que bobagem é pensar que não existem mais almas
nesse mundo de Deus; e dos homens.
Viva a poesia!
Um abraço!
Celso Ribeiro.