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PSICOLOGIA DA ADOLESCÊNCIA

Gilson Lucas

Resumo

O artigo busca atualizar alguns pontos da psicologia da adolescência em


nosso contexto histórico mundial, marcado pela crise econômica mundial e pela
pandemia. Baseando-nos em alguns autores, analisamos alguns pontos que
marcam a adolescência. Refletimos sobre quando a adolescência acaba, bem como
a respeito de como é essa passagem entre a infância e a idade adulta e o que os
diferentes estudiosos dizem sobre ela, inclusive o legislador. Os conflitos de geração
foram abordados com base na conceituação de Ortega e Gasset. Buscou-se
atualizá-los em face do contexto atual, em que a adolescência, em face do
surgimento das novas mídias digitais, passou a uma marca forte de transformação e
forte diferencial em relação à geração 68 e a geração X, gerações anteriores. Ao fim
do artigo, tematizou-se alguns tópicos da relação dos adolescentes com os adultos,
em especial pensando a relação com pais e professores.

Palavras-chave: psicologia, adolescentes, educação

Introdução

A psicologia da adolescência tem motivado mais e mais interesse nos dias


que correm. Os conflitos de gerações estão presentes nas guerras culturais que
geraram as recentes polarizações no campo da política.

A questão da adolescência, ligada ao debate das novas gerações e a


compreensão dessas questões à luz da psicologia não tem sido um tópico muito
comum nos últimos anos.

Iremos aqui trabalhar o tema da adolescência, tendo como fonte alguns


textos: Psicanálise e Educação, contribuições da psicanálise à pedagogia, bem
como A Causa dos Adolescentes, de Françoise Dolto. Primeiro abordaremos o

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conceito de adolescência e o contexto da sociedade brasileira atual, marcada pelo
fenômeno da ascensão da extrema-direita e da guerra cultural.

Para tratar de adolescência, é preciso estabelecer pontos de referência e


pontos de ruptura. Os adolescentes são considerados jovens indivíduos em fase de
trânsito, conhecemos mais a criança do que o adolescente. Eles foram fechados
numa classe de idade. A adolescência levanta debates em várias áreas: psicologia,
sociologia, endocrinologistas, neurologistas. Alguns definem que adolescência situa-
se entre quatorze e dezoito anos, outros analisam o desenvolvimento muscular e
nervoso, estendendo-a até vinte anos.

Alguns consideram adolescência uma extensão da infância, a extensão final.


Seria, então, uma etapa final da infância ou uma idade à parte? Essa fase é de
mudança, esse parece ser um dos poucos consensos. Seria, então, quando ocorre a
metamorfose criança/adulto. Para outros, é uma idade marginal. O grande problema
é que, em geral, o adolescente pouco pode dizer da fase que está vivendo. No
entanto, ele é falado pelos adultos, é objeto de questionamento e é carregado de
angústia ou total indulgência. Ela, conforme o autor, pode ser tida como transição ou
crescimento.

1. Adolescência: Rupturas e Conceitos

Na Grécia Antiga, uma invasão de centauros foi registrada junto ao templo de


Apolo de Zeus em Olímpia. Essa imagem ficou na história como referência de
experiência terrível em alguma civilização: o momento de desagregação da cultura e
choque de concepção de vida que não podem encontrar uma conciliação possível. A
respeito do conflito entre gerações, Ortega e Gasset disse o seguinte:

No “agora”, em todo “agora”, coexistem articuladas várias gerações, e as relações, e


a as reações que entre elas se estabelecem, segundo a diversa condição de suas idades,
representam o sistema dinâmico, de atrações e repulsões, de atrações e repulsões, de
coincidência e polêmica, que constitui em todo instante a realidade da vida histórica
(ORTEGA E GASSET, apud: ROSZAK, 1972, p. 54).

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É muito comum que o conceito de geração seja utilizado de forma muito
ampla na mídia. O próprio conceito de adolescência é de origem histórica muito
recente. Num passado não muito afastado, não havia essa fase entre a infância e a
idade adulta, especialmente entre as classes trabalhadoras, fenômeno que acontece
ainda hoje, quando ainda existem casos de trabalho infantil que precisam ser
combatidos, em especial em regiões brasileiras como Norte e Nordeste. Ortega e
Gasset trabalhou esse tema de forma muito aguda, vejamos abaixo esse
comentário, citado por Margarida Amoedo:

Em En torno a Galileo ele tem uma das suas exposições principais. Com clareza e
sistematicidade são aí apresentadas, graças a um peculiar entendimento e uso da categoria
de idade, três grandes etapas da nossa vida: a primeira, que dura até cerca dos trinta anos,
é o período em que o homem se apercebe do mundo em que tem de viver; a segunda é
aquela em que reage de uma forma original ao mundo, produzindo novas ideias nos
domínios da ciência, da técnica, da arte, da religião, da política, da sociedade, ideias que
são reforçadas pelos coetâneos e que acabam por se impor sob a forma de mundo vigente;
a terceira grande etapa começa quando o homem governa o mundo que criou e tem de o
defender das reações que lhe são dirigidas por novos homens de trinta anos .[20]
(GASSET, apud: ROSZAK, 1972, p. 54).

Essa análise explica muito do que estamos vivendo hoje, com a geração 68
pouco a pouco perdendo espaço para a geração seguinte, geração de seus filhos, a
chamada “geração”. E há também a geração dos millenials, o que nasceram depois
do milênio, ou também “nativos digitais”. A geração X fez a passagem do analógico
ao digital, bem como a geração 68.

A sociedade focaliza bastante o tema de que o adolescente deve amadurecer,


deve ter progresso em sua vida de dependente familiar. Ao mesmo tempo, há um
outro aspecto: pressiona-se o adolescente para não ser mais criança, o que
evidentemente pode tornar-se uma forma de acusação dos pais diante do
adolescente.

Nossa sociedade é marcada, nos últimos anos, pelo surgimento de uma


juventude de direita, fato que foi uma novidade significativa desde o final da ditadura
militar, desde a redemocratização. Igualmente, nosso contexto internacional é de
crescimento da extrema-direita no Brasil, Hungria, Polônia e Estados Unidos (com o
presidente Trump).

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Para os jovens, ser chamado de criança incomoda quando é dito pelos pais,
mas nessa idade os pais deixam de ser os portadores de referência. Na
adolescência, o grupo é muito importante. E a aceitação nele, vital. Muitos são os
casos em que o bullying provoca suicídios nessa idade, agravado nos últimos anos
pelo ciberbullying.

O adolescente tem, na puberdade, o despertar do imaginário para além da


família. Ele costuma agregar-se a grupos de adolescentes mais velhos onde busca
ser aceito. Os grupos servem de sustentação para além da família.

Não há consenso entre os estudiosos a respeito de qual seria efetivamente a


passagem. Os neurologistas fixam no desenvolvimento nervoso, enquanto quem lida
com a questão do crescimento trata da questão da ossificação. Para os primeiros,
aos vinte anos o cérebro está com seu tecido cerebral desenvolvido. Para outros, a
passagem final seria a ossificação da clavícula. Ela ocorre aos vinte e cinco anos.

O legislador, em nosso país, fixou a maioridade aos dezoito anos. No entanto,


a maioridade penal tem sido um ponto de discussão intensa da sociedade. O jovem
vota aos dezesseis anos, por que não poderia responder criminalmente, perguntam
alguns.

São vários fatores que levam a discussão da maioridade: existem fontes de


informação além da família, muitos adolescentes têm relações sexuais bem
precocemente. Outros fatores incidem, tais como viagens ao estrangeiro, liberdade
para ficar até mais tarde na rua. Os comportamentos observados na televisão e na
rádio também são fundamentais para compreender essas questões. Outro fator é a
locomoção facilitada por carros e motos. Igualmente, muitos jovens conseguem
estágios e por isso amadurecem.

Se por um lado a juventude é criticada por ser demais atendida e mimada, por
outro lado existe a questão dos estudos serem prolongados. A tendência dos jovens
a ficar em casa, bem com seus hábitos mais e mais sedentários levanta argumentos
contra quem quer uma maioridade antecipada. Esse debate de certa forma foi
encerrado pela pandemia de coronavírus: os jovens precisam ficar em casa para
não contaminar ou serem contaminados.

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O embate entre quem alega que a maioridade precisa ser antecipada e os
que se opõe, existem bons argumentos como os elementos acima exemplificados
pela ciência (tecido cerebral, ossificação) que demonstram a incompletude da
maioridade. O fim da adolescência dificilmente poderá ser vivido antes dos
dezesseis anos, uma vez que a sociedade não permite. A respeito desse tópico,
explicou Françoise Dolto em A Causa dos Adolescentes: “A passagem para a idade
adulta se traduz, pois, hoje, da maneira mais concreta em termos de independência
econômica” (DOLTO, 2004, p. 26). Para Dolto, o certo seria a relação dos jovens
com pessoas da mesma geração:

Então, o jovem começa a amar uma pessoa que o compreende e fica completamente
bloqueado, porque é justamente alguém da geração anterior. Um jovem precisa amar as
pessoas de sua idade e ser formado por aqueles que são de sua geração, e não ficar
independente de uma pessoa de uma geração anterior, que foi modelo num certo momento
(DOLTO, 2004, p. 28).

No Brasil de hoje em dia, com pandemia e crise econômica mundial, muitos


filhos formados voltaram à casa dos pais, o que dirá a juventude, que passou a ter
que evitar festas, shows, aglomerações e até mesmo a escola. A emancipação da
casa dos pais passou a ser um sonho distante, mas por outro lado, como o vírus
atinge mais os idosos e maduros, os jovens sentiram um sabor de onipotência típico
da idade. Se o confinamento angustiou ou deprimiu, por outro lado ganharam força e
expressão por poderem enfrentar o mundo sem serem infectados. Viver por si
mesmo, emancipado economicamente, é algo que há algum tempo era corrente nos
Estados Unidos, onde é corrente que o jovem ajude a financiar seus estudos, mas
no Brasil atual não é possível.

2.Psicologia da Adolescência Hoje

A história da pandemia de 2020 e seu impacto na geração atual de


adoelscentes ainda está por ser escrita. Foi um grande evento histórico que marcará

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profundamente a geração de adolescentes que a viveu, pois tiveram de reinventar o
dia a dia junto aos pais, irmãos e os de sua idade.

Curiosamente como falamos sobre Primeira e Segunda Guerra Mundiais, mas


a gripe espanhola não era lembrada, efetivamente. Sua memória parece ter ficado
recalcada e agora veio à tona. Até imagens de pessoas de máscaras foram
encontradas, a familiaridade com o que estamos passando apareceu.

A necessidade de isolamento social trouxe justamente a questão acima


tratada: no momento em que os jovens tentam afastar-se da família, afirmar-se nos
grupos extrafamiliares, namorar e encontrar emprego, ocorre uma regressão que os
obriga a uma volta ao “útero” familiar. E agora é um fenômeno mundial, um
imperativo. Teremos de saber lidar com as narrativas produzidas da mesma forma
com que pode-se lidar com a geração de adolescentes que foram impactados pela
AIDS nos anos 80 e tiveram como ídolos Renato Russo e Cazuza no Brasil,
Madonna, Prince e Michael Jackson em nível planetário. Hoje são adultos de mais
de trinta anos.

A novidade efetiva da geração 68 em diante é que a adolescência passou a


ser um estilo de vida, mais do que uma simples passagem de uma idade a outra. Há
pessoas que vivem, durante a vida inteira, um estilo de vida adolescente, o que é
bastante curioso. Desenvolvem uma psicologia adolescente. No passado recente, as
gerações de 68 e a subsequente, que viveu o impacto da AIDS nos anos 80 e 90,
teve sua vida sexual diretamente influenciada por aquela pandemia: ela atacava
diretamente o comportamento sexual, pois o comportamento homossexual e o uso
de drogas injetáveis estava diretamente associado ao vírus. Pastores e pregadores
apocalípticos atribuíram aos gays a responsabilidade pelo vírus, que inicialmente foi
chamado de “câncer gay”, “GRID”, antes de AIDS.

A pandemia de agora, que ocorre quando a AIDS passou a ser tratável com o
coquetel de remédios antivirais, afeta indiretamente a vida sexual dos adolescentes,
mas não permitiu a voga moralista anterior. A voga moralista, inclusive, hoje é
reanalisada como tentativa de genocídio da população gay por parte de Miterrand e
Reagan, governantes que, diante do drama dos gays, não investiram mais verbas na
pesquisa da doença e apresentaram atitude acomodada. Pelo contrário: sempre

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levantavam a questão da necessidade de cortes de verba dos serviços públicos para
poder equilibrar a máquina do estado. Bem como Reagan e Thatcher, em especial,
divulgavam a ideia de que não existe sociedade e sim indivíduos. Essa crença
subjaz a uma ideia de liberdade absoluta dos jovens que irá desaguar, na
atualidade, no negacionismo da pandemia, fato que não ocorreu antes com a AIDS.

Ela representou um impacto no sentido contrário, uma vez que a epidemia de


coronavírus impacta diretamente a ideia de que o estado não deve responsabilizar-
se pelo bem comum, abalando a ideia de não existe a sociedade e sim os
indivíduos, esse pensamento burguês de Margareth Thatcher e que espraiou-se por
todo a sociedade. O coronavírus provoca uma onda negacionista, mas ela é
basicamente Imoralista: ela baseia-se na ideia de liberdade individual. Seguindo o
ideário neoliberal, só deveria usar máscara quem quiser, pois trata-se de liberdade
individual e não responsabilidade junto ao outro e ao coletivo.

O psicanalista, junto aos adolescentes, enfrenta mais e mais o dilema: ele


precisa amar alguém de sua geração, daí a necessidade de socializar com gente de
sua idade. Por outro lado, verifica-se, desde os anos 60, o desejo de fazer tábula
rasa de todo o passado, de tudo o que as gerações anteriores realizaram. E os
jovens nativos digitais têm de fato um diferencial: o mundo digital, as redes sociais e
a nova sociabilidade trazida pela internet. É bem curioso repensar, à luz de nossa
realidade, algumas observações de Françoise Dolto:

Dizemos que existem cada vez mais homossexuais, mas não é verdade! Eles se acreditam
homossexuais e vivem como tais depois de terem escaldado e fracassado num primeiro
amor. É um comportamento de facilidade. Um descompromisso ” (DOLTO, 2004, p. 36).

O que podemos dizer, no entanto, é que no nosso tempo existe visibilidade da


questão homossexual, assim como a questão não é mais medicalizada e tratada
como doença, passando a ser uma vivência social, uma tribo urbana, também um
estilo de vida.

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Dentre os jovens, assume grande relevância a questão do gênero não-binário
e a busca do neutro. São questões colocadas por Barthes e Blanchot nos anos 70 e
que agora chegam às massas, causando controvérsia.

As civilizações anteriores tinham rituais rigorosos para marcar a passagem da


infância à idade adulta. Entre os nativos brasileiros, um jovem tinha que enfrentar
uma caixa de marimbondos, entre outras provações. Esses rituais, que muitas vezes
feriam e machucavam, tinham um papel que hoje podemos dizer que faz falta:
depois deles, o jovem é considerado definitivamente adulto. Ele não pode vitimizar-
se, nem esconder-se fazendo delitos sob a condição de ser menor de idade. Os
rituais acima referidos possibilitam evitar justamente o debate e a zona cinzenta que
referimos acima: quando é final da infância e o início da idade adulta? Para esses
povos, a sociedade passa a considerar alguém adulto após ser aprovado nesses
rituais. Não há como “transitar” e assumir ser adulto apenas para o que interessa e
nem voltar atrás, deixando responsabilidade a outrem quando assim interessar.

O crime organizado opera de forma ligada às altas esferas da burguesia,


como por exemplo ao realizar tráfico de drogas, o que fornece às altas esferas da
burguesia enormes lucros, sem pagar impostos, enquanto o delinquente varejista é
punido com a própria vida em confrontos com a polícia, briga de gangues, etc. O
estado pune apenas as delinquências populares.

Francoise Dolto fornece uma importante pista para lidar com os adolescentes:
eles são de uma forma quando em grupo, mas são diversos separadamente. O
educador deve, então, ter paciência e perseverar, pois o educador é alguém que é
importante para aqueles adolescentes, embora, diante do grupo, eles o
ridicularizem, ele seja “vaiado”. Eduardo Lucas Andrade explicou sua experiência
junto aos adolescentes:

Certa vez fui convidado a palestrar para adolescentes, era em média 800
adolescentes, tidos como os mais terríveis. As pessoas da escola queriam que eu falasse
de valores, pois naqueles, segundo eles, estavam escassos. Topei a empreitada e bolei
uma dinâmica tendo em vista a realidade dos adolescentes. Falar de coisas boas e valores,
de como deviam se comportar, certamente causariam náuseas aos adolescentes. Como o
ensino tocar na tara da descoberta que os adolescentes carregam, a sexualidade está em
jogo e as relações pedagógicas devem considerá-la. Para falar sobre violência,
comportamento e valores, comecei junto a um colega, fizemos a palestra estilo Rap, a falar
de sexo. Do sexo, cuja temática atiçou a presença dos adolescentes, fomos para casos de

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violências e a participação dos adolescentes foi ficando ativa. Falavam mediante os
desassossegos e no fim de um tempo eles é que deram a palestra sobre um tema que até
então não percebiam neles, os valores. De fato ninguém tem valor, tem existência e disso
eles falaram (ANDRADE, 2019, p. 39).

A crise na educação, segundo o psicólogo acima, está no fato de que os


adolescentes podem surpreender. Há uma curiosa dialética entre indivíduo e grupo
de adolescentes. Quando fazem algo errado e são responsabilizados, misturam-se
no grupo: “não sou só eu, eu faço parte de um grupo”. Querem com isso diminuir a
responsabilidade individual e aumentar a do grupo; seria preciso punir não só ele,
mas todo o grupo. Com frequência, os pais adotam esse argumento dos filhos, a
modo de exigência de justiça: “meu filho é parte de um grupo, mas está sendo
responsabilizado sozinho”. No entanto, para as atitudes positivas, não há esse
sentido de coletividade e de grupo, ele está reservado para aquelas que violam as
regras da comunidade. Isso espelha um comportamento que os pais têm assumido:
eles muitas vezes ausentam-se da escola, mas quando são convocados diante de
erros, apoiam incondicionalmente os seus filhos, chegando até mesmo a agredir
professores. A atitude dos jovens que cometem violações da comunidade foi
explicada em Leon Rozitchner:

O assassino é o único dos membros das forças invasoras que ele recorre à categoria do
todo para justificar seus atos. Com ele nos revela outro aspecto das relações morais que
constituem a burguesia. Essa dialética, que se refere conforme o caso do indivíduo para o
grupo ou do grupo para o indivíduo, que separa ou reúne, abstrai ou sintetiza de acordo
com o trabalho que realiza no sistema, mostra uma das categorias morais fundamentais da
classe. Tornam-se completamente independentes e se colocam à margem como pessoas –
fora da política, fora da economia, fora da guerra que promovem –, ou diluem seu
significado no todo, mas depois eles desaparecem como pessoas. Em um caso, eles evitam
o significado social cuja maldade os contamina; no outro, como executores desse mal
delegado, eles retornam ao grupo para destacar a conexão. Quando é conveniente
reivindicar a pureza, recorre-se à individualidade; quando você quer encobrir suas misérias,
você se dilui em sua totalidade. Mas em nenhum dos casos considerados houve
reclamação de verdadeira relação dialética entre indivíduos e grupo como para mostrar as
conexões completas que existem entre eles, e que permitem redescobrir o grupo no
indivíduo ao mesmo tempo que o indivíduo no grupo. Em todos os casos, o processo foi de
exceção, separação discriminada ou fusão indiscriminada. Podemos concluir: a ocultação
das relações que unem os indivíduos entre si e que originam o grupo como uma atividade
coletiva constitui a base sobre a qual o moral da burguesia capitalista como classe é
estabelecido (ROZITCHNER, 2012, p. 95)

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Pode-se dizer, então, que os jovens estavam mordidos pela “mosca azul”, ou
seja, pela moral burguesa. Tal não seria somente um condicionamento psíquico. A
consciência fragmentada produzida pela internet afetou muitíssimo os adolescentes
a partir de quando surgiu a era digital e as redes sociais.

É muito importante, para lidar com os adolescentes, saber lidar com a relação
dialética que eles estabelecem entre o indivíduo e o grupo, relação curiosamente
abordada por Eduardo Lucas Andrade e por Leon Rozitchner. Andrade tratou de
uma palestra e do trabalho junto a eles na atualidade e Rozitchner num contexto
diferente.

3.Conclusão

A psicologia da adolescência hoje é um debate urgente: toda uma geração de


crianças e adolescentes foi profundamente afetada pela pandemia. Se no passado
havia a questão de apressar ou não a socialização e a independência dos
adolescentes, com a pandemia esse dilema acabou: os adolescentes passaram a ter
que ficar em casa, evitar a socialização nos grupos extrafamiliares que eles tanto
ambicionam participar, precisam continuar na casa, evitar a infecção com o vírus,
vírus esse que, se não representa ameaça tão grave para eles, representa para os
adultos. Compensa, em todo caso, estudar questões que as novas gerações
enfrentam: crescimento do fascismo, debates sobre gênero e sexualidade, questão
dos não-binários, consequências psíquicas da pandemia, em especial o isolamento
social e as perdas trágicas devido à doença. Isso tudo deve ser pensada no prisma
dos adolescentes, sua fase e sua psicologia. Alguns autores deram subsídio a essas
reflexões. Hoje verifica-se que as pessoas não acreditam que os adolescentes
possam surpreender e acreditam que eles “não têm valores”. Esse tipo de avaliação
é equivocada e demonstra cansaço por parte dos educadores.

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4.REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ANDRADE, Eduardo Lucas. Psicanálise e Educação. Contribuições da


Psicanálise à Pedagogia. Divinópolis: Artigo A, 2019.

DOLTO, Françoise. A Causa dos Adolescentes. Aparecida: Ideias & Letras, 2004.

NÁDIA. O Brasil é um país sem educação. Disponível em:


<http://www.otempo.com.br/otempo/acervo/?IdEdicao=1898&IdNoticia=159679>.
Acesso em 18/08/2014.

QUEIROZ, Felipe. Porque Exonerei Cargo de Professor do Estado


<http://spressosp.com.br/2014/05/04/por-que-exonerei-cargo-de-professor-estado/
>>.

ROSZAK, Theodore. A Contracultura. Rio de Janeiro: Vozes, 1972.

ROZITCHNER, Leon. Moral Burguesa e Revolução. Buenos Aires, 2012.

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