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Uma carta de Wulcino: Serrarana

No ano de 2009 recebi o livro Bravuras e Bravatas de um Caipira, Novas


e Velhas Histórias, de autoria de Wulcino Teixeira de Carvalho. A obra foi
reeditada com o nome de Serrarana (2014). Escritor talentoso e ousado, ele
avança além de Guimarães Rosa. E usa com brilhantismo o dialeto caipira para
poder redigir essa bela obra satírica. Um exemplo de um capítulo intitulado O
Almoço Caipira:

"...saiu um bitelo dum tamanduá-bandêra de metro e vinte de artura, da pelage


grossa, o rabo todo ispanado, o fucinho cumprido, a língua gosmenta, e cada
garra afiada nos dedo qui mais paricia ponta de faca de sangrá porco. A
Grorinha só iscuitô quando o Uóchito falô: - Óia só qui gracinha, mãe! Ele é tão
mansinho qui invém inté com os braço aberto, quereno me abraçá! - Quando
oiô pa tráis, só deu tempo da Grorinha gritá: - Jesus seja lovado!!!"

Eu sempre quis saber por onde andava esse brilhante artista, daí que
lhe escrevi uma mensagem sucinta e em retribuição recebi uma bela carta:

Olá, professor Lúcio, prazer falar com você. Bem, eu nasci em Bom
Despacho/MG há muitos anos atrás. Sou filho de Wandick Teixeira de Carvalho
e de dona Eunice. Portanto, sou descendente dos Coimbra pelo lado de minha
mãe. Meu avô materno foi o maestro Coimbra que regeu a orquestra e a banda
de música do 7º Batalhão durante muito tempo.

Meu pai era dono do Cine Theatro Odeon, primeiro cinema de Bom
Despacho, e também da primeira rádio local, sendo, portanto, um
empreendedor cultural da cidade. Pelo lado do meu pai, são meus parentes as
famílias Carvalho, Teixeira e Campos.

Pelo lado de minha mãe, herdei dos Coimbra o DNA musical. Fui o
ganhador do Primeiro Festival da Canção Bom-Despachense e recebi das
mãos do prefeito Antônio Leite um prêmio em dinheiro pelo primeiro e segundo
lugares do Festival, pois concorri com duas canções: Mundo Imaginário e
Quando, que foram as vencedoras. O troféu que ganhei no Festival da Canção
encontra-se no museu da cidade juntamente com a letra da música vencedora,
exposta numa moldura que mandei confeccionar.

Nos tempos dos bailes de carnaval nos salões do saudoso Clube Social
de Bom Despacho, compus algumas marchinhas para os blocos carnavalescos
Damas e Valetes, Bonecas de Luxo, As Choronas, etc. Sou formado em
Administração de Empresas e Psicologia empresarial e clínica pela UFMG.
Atualmente ocupo um cargo executivo na Empresa Mineira de Comunicação,
empresa pública do Estado de Minas Gerais vinculada à Secretaria de Cultura.

Minha incursão pela literatura se deu há muitos anos atrás, quando


escrevia para o Jornal de Negócios de Bom Despacho e para o Correio
Itabirano de Itabira. Além do livro que publiquei, cuja nova edição (4ª edição)
traz o título de Bravuras e Bravatas de um Caipira da Serrarana, alusão ao
afamado Sagarana de João Guimarães Rosa, um dos meus trabalhos literários
mais conhecidos em Bom Despacho é a trilogia composta pelos poemas:
Confesso que vivi... em Bom Despacho, Retorno à Terra Natal e Festa do Bom-
Despachense Ausente, obra mnemônica onde revisito o passado de nossa
terrinha, resgatando nomes dos doutores, dos padres, dos loucos, dos
mendigos, das moças bonitas, dos militares, dos taxistas, dos comerciantes,
dos carroceiros, dos abastados e dos humildes de nossa querida Bom
Despacho de antanho.

Por esses trabalhos recebi uma placa da Academia Bom-Despachense


de Letras, que muito me envaidece. Coincidentemente, irei a Bom Despacho
amanhã para doar alguns livros de autores Bom-Despachenses para a
Biblioteca Pública da cidade, inclusive uma raridade escrita por Sebastião
Etelvino, que conta toda a história da construção da Igreja Matriz de Nossa
Senhora do Bom Despacho. O autor dessa obra, inclusive, é filho de José
Etelvino, o arquiteto de Deus, mestre-de-obras que comandou os trabalhos de
edificação das igrejas de Bom Despacho, Moema, Martinho Campos, Oliveira e
de outras cidades.
Bem, acho que é isto. Continuo à sua disposição. Receba meu abraço fraterno.
Wulcino Teixeira de Carvalho

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