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Contemporânea: Uma
Jornada pelos Mestres
Adélia e Ariano Suassuna
Biografia e Literatura
Vamos contar um pouco de sua biografia, Adélia Luzia Prado de Freitas nasceu em Divinópolis,
Minas Gerais, onde vive até hoje. Escreveu seus primeiros versos em 1950, aos 15 anos, no
período que seguiu o falecimento de sua mãe. Apesar de escrever desde jovem, foi aos 40 anos
que publicou seu primeiro livro de poesia.
Obras Destacadas
As principais obras de Adélia Prado são, "Bagagem", "Terra de Santa Cruz" e "Miserere".
Trechos de "Bagagem"
COM LICENÇA POÉTICA GRANDE DESEJO
Quando nasci um anjo esbelto, Não sou matrona, mãe dos Gracos, Cornélia,
desses que tocam trombeta, anunciou: sou é mulher do povo, mãe de filhos, Adélia.
vai carregar bandeira. Faço comida e como.
Cargo muito pesado pra mulher, Aos domingos bato o osso no prato pra chamar o
esta espécie ainda envergonhada. cachorro
Aceito os subterfúgios que me cabem, e atiro os restos.
sem precisar mentir. Quando dói, grito ai,
Não tão feia que não possa casar, quando é bom, fico bruta,
acho o Rio de Janeiro uma beleza e as sensibilidades sem governo.
ora sim, ora não, creio em parto sem dor. Mas tenho meus prantos,
Mas, o que sinto escrevo. Cumpro a sina. claridades atrás do meu estômago humilde
Inauguro linhagens, fundo reinos e fortíssima voz pra cânticos de festa.
— dor não é amargura. Quando escrever o livro com o meu nome
Minha tristeza não tem pedigree, e o nome que eu vou pôr nele, vou com ele a uma
já a minha vontade de alegria, igreja,
sua raiz vai ao meu mil avô. a uma lápide, a um descampado,
Vai ser coxo na vida, é maldição pra homem. para chorar, chorar e chorar,
requintada e esquisita como uma dama.
A peça retoma elementos do teatro popular, contidos nos autos medievais, e da literatura de cordel para
exaltar os humildes e satirizar os poderosos e os religiosos que se preocupam apenas com questões
materiais.
As duas próximas peripécias, ambas encontradas na segunda parte da peça (que pode ser dividida em três
atos), apresentam um gato que supostamente “descome” dinheiro e de um instrumento musical que seria
capaz de ressuscitar os mortos. Essas duas estruturas narrativas estão no romance de cordel “História do
Cavalo que Defecava Dinheiro”, também de Leandro Gomes de Barros.
Na peça, porém, Suassuna substituiu o cavalo por um gato, certamente para facilitar a encenação. Esse é um
exemplo de como uma necessidade prática pode influir na narrativa, obrigando o autor a transformá-la
conforme as necessidades impostas pela forma de apresentação.
A apropriação da tradição, ao contrário de ser facilitada pela tematização prévia, é dificultada, pois, ao
imitar, é preciso fazer jus a quem se imita, superando-o ou pelo menos igualando-se a ele em qualidade e
inventividade. No texto de Leandro Gomes, o instrumento musical capaz de levantar defuntos era uma
rabeca e, em Suassuna, passa a ser uma gaita, provavelmente também por causa de uma necessidade cênica.
No último ato da peça ocorre o julgamento dos personagens que foram mortos por Severino de Aracaju, e do
próprio Severino, morto por uma facada de João Grilo. É impossível não pensar no “Auto da Barca do
Inferno”, de Gil Vicente, em que uma série de personagens é julgada por seus atos em terra e tem como
juízes um anjo e um demônio. A fonte direta de Suassuna, porém, estava mais próxima. É “O Castigo da
Soberba”, romance popular nordestino, de autoria anônima, no qual a compadecida aparece para salvar um
grupo de condenados.
Fica patente o cunho de sátira moralizante da peça, que assume uma posição cujo foco está na base da
pirâmide social, a melhor maneira de desvelar os discursos mentirosos das autoridades e integrar os homens
e mulheres por meio da compaixão, a qual só os desprendidos podem desenvolver. Nesse aspecto, a moral
Trechos de ''Romance d'A Pedra do Reino''
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