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Literatura

Contemporânea: Uma
Jornada pelos Mestres
Adélia e Ariano Suassuna

Bem-vindos a esta apresentação sobre a literatura contemporânea e duas das


maiores figuras literárias do Brasil: Adélia Prado e Ariano Suassuna. Vamos
explorar suas biografias, principais obras e características marcantes de suas
criações.

Feito por: Adriano e Diogo.


Adélia Prado: O Poder das Palavras

Biografia e Literatura

Vamos contar um pouco de sua biografia, Adélia Luzia Prado de Freitas nasceu em Divinópolis,
Minas Gerais, onde vive até hoje. Escreveu seus primeiros versos em 1950, aos 15 anos, no
período que seguiu o falecimento de sua mãe. Apesar de escrever desde jovem, foi aos 40 anos
que publicou seu primeiro livro de poesia.

Obras Destacadas

As principais obras de Adélia Prado são, "Bagagem", "Terra de Santa Cruz" e "Miserere".
Trechos de "Bagagem"
COM LICENÇA POÉTICA GRANDE DESEJO

Quando nasci um anjo esbelto, Não sou matrona, mãe dos Gracos, Cornélia,
desses que tocam trombeta, anunciou: sou é mulher do povo, mãe de filhos, Adélia.
vai carregar bandeira. Faço comida e como.
Cargo muito pesado pra mulher, Aos domingos bato o osso no prato pra chamar o
esta espécie ainda envergonhada. cachorro
Aceito os subterfúgios que me cabem, e atiro os restos.
sem precisar mentir. Quando dói, grito ai,
Não tão feia que não possa casar, quando é bom, fico bruta,
acho o Rio de Janeiro uma beleza e as sensibilidades sem governo.
ora sim, ora não, creio em parto sem dor. Mas tenho meus prantos,
Mas, o que sinto escrevo. Cumpro a sina. claridades atrás do meu estômago humilde
Inauguro linhagens, fundo reinos e fortíssima voz pra cânticos de festa.
— dor não é amargura. Quando escrever o livro com o meu nome
Minha tristeza não tem pedigree, e o nome que eu vou pôr nele, vou com ele a uma
já a minha vontade de alegria, igreja,
sua raiz vai ao meu mil avô. a uma lápide, a um descampado,
Vai ser coxo na vida, é maldição pra homem. para chorar, chorar e chorar,
requintada e esquisita como uma dama.

Mulher é desdobrável. Eu sou.


Terra de Santa Cruz
Nas minhas bodas de ouro, esganada como os netos,
vou comer os doces.
Não terei a serenidade dos retratos
de mulheres que pouco falaram ou comeram.
Porque o frade se matou
no pequeno bosque fora do seu convento.
De outras vezes já disse: não haverá consolo. E houve:
música, poema, passeatas.
O amor tem ritmos que não são de tristeza:
forma de ondas, ímpeto, água corrente.
E agora? Que digo ao homem, ao trem, ao menino que me espera,
à jabuticabeira em flores, temporã?
Contemplar o impossível enlouquece.
Sou uma tênia no epigastro de Deus:
E agora? E agora? E agora?
Onde estavam o guardião, o ecônomo, o porteiro,
a fraternidade onde estava quando saíste,
ó desgraçado moço da minha pátria,
ao encontro desta árvore?
Meu inimigo sou eu. Os torturadores todos enlouquecem ao fim,
comem excrementos, odeiam seus próprios gestos obscenos,
os regimes iníquos apodrecem.
Quando andavas em círculos, a alma dividida,
o que fazia, santa e pecadora, a nossa Mãe Igreja?
Promovia tômbolas, é certo, benzia edifícios novos,
mas também te gerava, quem ousará negar, a ti
e a outros santos que deixam as bíblias marcadas:
"Na verdade carregamos em nós mesmos nossa sentença de morte".
"Amai vossos inimigos".
O que disse: "Quem crer viverá para sempre", este também
balouçou do madeiro como fruto de escárnio.
Nada, nada que é humano é grandioso.
Me interrompe da porta a mocinha boçal. Quer mudas de trepadeira.
Trechos de ''Miserere''
O medo pode explodir-nos, A Bíblia, às vezes, não me leva em conta,
é com zelo de quem leva sua cruz tão dura com minha gula.
que o carregamos. Nem me adiantou envelhecer,
Por isso, Deus, Vossa justiça é Jesus, partes de mim seguem adolescentes,
o Cordeiro que abandonastes. estranhando privilégios.
Assim, quem ao menos se atreve Nunca me senti moradora,
a levantar os olhos para Vós? a sensação é de exílio
Ariano Suassuna: A Arte Nordestina em
Palavras

Retrato da Vida Obras Imortais Fragmentos Marcantes

Conheça a vida e os ideais de Explore as obras atemporais de


Ariano Suassuna, um defensor Ariano Suassuna, como "Auto Desfrute de trechos
incansável da cultura nordestina da Compadecida", "Romance selecionados que revelam a
e seus traços marcantes em sua d'A Pedra do Reino" e "O Santo maestria de Ariano Suassuna em
literatura. e a Porca". pintar cenários e personagens
inesquecíveis em suas obras.
Biografia
Paraibano nascido em 16 de junho de 1927, Suassuna foi um dos
ocupantes da Academia Brasileira de Letras. Escreveu
romances, poesia e peças de teatro, mantendo-se sempre ativo
na esfera cultural. Suas origens são fundamentais à sua escrita,
que é repleta de elementos da cultura popular nordestina.
Principais obras , "Auto da Compadecida".

A peça retoma elementos do teatro popular, contidos nos autos medievais, e da literatura de cordel para
exaltar os humildes e satirizar os poderosos e os religiosos que se preocupam apenas com questões
materiais.

As duas próximas peripécias, ambas encontradas na segunda parte da peça (que pode ser dividida em três
atos), apresentam um gato que supostamente “descome” dinheiro e de um instrumento musical que seria
capaz de ressuscitar os mortos. Essas duas estruturas narrativas estão no romance de cordel “História do
Cavalo que Defecava Dinheiro”, também de Leandro Gomes de Barros.

Na peça, porém, Suassuna substituiu o cavalo por um gato, certamente para facilitar a encenação. Esse é um
exemplo de como uma necessidade prática pode influir na narrativa, obrigando o autor a transformá-la
conforme as necessidades impostas pela forma de apresentação.

A apropriação da tradição, ao contrário de ser facilitada pela tematização prévia, é dificultada, pois, ao
imitar, é preciso fazer jus a quem se imita, superando-o ou pelo menos igualando-se a ele em qualidade e
inventividade. No texto de Leandro Gomes, o instrumento musical capaz de levantar defuntos era uma
rabeca e, em Suassuna, passa a ser uma gaita, provavelmente também por causa de uma necessidade cênica.

No último ato da peça ocorre o julgamento dos personagens que foram mortos por Severino de Aracaju, e do
próprio Severino, morto por uma facada de João Grilo. É impossível não pensar no “Auto da Barca do
Inferno”, de Gil Vicente, em que uma série de personagens é julgada por seus atos em terra e tem como
juízes um anjo e um demônio. A fonte direta de Suassuna, porém, estava mais próxima. É “O Castigo da
Soberba”, romance popular nordestino, de autoria anônima, no qual a compadecida aparece para salvar um
grupo de condenados.

Fica patente o cunho de sátira moralizante da peça, que assume uma posição cujo foco está na base da
pirâmide social, a melhor maneira de desvelar os discursos mentirosos das autoridades e integrar os homens
e mulheres por meio da compaixão, a qual só os desprendidos podem desenvolver. Nesse aspecto, a moral
Trechos de ''Romance d'A Pedra do Reino''

“Jesuíno já morreu! “— La Condessa, La Condessa!

Morreu o Rei do Sertão! — Que queres com La Condessa?

Morreu no campo da honra, — Quero uma dessas Moças

não entregou-se à prisão, para com ela casar!

por causa de uma desfeita — Eu não tiro as minhas filhas

que fizeram a seu irmão!” do Mosteiro em que elas ‘tão,

nem por Ouro, nem por Prata,

nem por sangue de Aragão!

— Tão contente que eu vinha!

Tão triste que vou voltando!

— Volta, volta, Cavaleiro!

Vem e escolhe a que quiseres!

— Esta fede e esta cheira!

Esta, come o pão da feira!

Esta é a que eu queria

pra ser minha Companheira!”


Trecho do "Santo e a Porca"
CAROBA — E foi então que o patrão dele disse: "Pinhão,
você sele o cavalo e vá na minha frente procurar Euricão…"
EURICÃO — Euricão, não. Meu nome é Eurico.

CAROBA — Sim, é isso mesmo. Seu Eudoro Vicente disse: "Pinhão,


você sele o cavalo e vá na minha frente procurar Euriques…"
EURICÃO — Eurico! CAROBA — "Vá procurar Euríquio…"
EURICÃO — Chame Euricão mesmo.

CAROBA — "Vá procurar Euricão Engole-Cobra…"


EURICÃO — Engole-Cobra é a mãe! Não lhe
dei licença de me chamar de Engole- Cobra, não! Só de
Euricão! CAROBA — "Vá na minha frente procurar Euricão
para entregar essa carta a ele." EURICÃO — Onde está
a carta? Dê cá! Que quererá Eudoro Vicente comigo? PINHÃO
— Eu acho que é dinheiro emprestado.

EURICÃO — (Devolvendo a carta.) Hein? PINHÃO —


Toda vez que ele me manda assim na frente, a cavalo, é para isso.

EURICÃO — E que idéia foi essa de que eu tenho dinheiro?


Você andou espalhando isso! Foi você, Caroba miserável,
você que não tem compaixão de um pobre como eu! Foi você,
só pode ter sido você! CAROBA — Eu? Eu não! EURICÃO
— Ai, meu Deus, com essa carestia! Ai a crise, ai a carestia! Tudo que
se compra é pela hora da morte! CAROBA — E o que é que
o senhor compra? Me diga mesmo, pelo amor de Deus! Só falta matar a]
gente de fome!
Fontes:

site:kbook.com

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