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Introdução

Trata-se de um conto enaltecedor e glorificador do povo moçambicano em luta pela


independência nacional.

Karingana ua Karingana é a expressão que os rongas utilizam para iniciar as histórias


tradicionais (xihitane) e que corresponde ao «era uma vez» das narrativas luso-ocidentais. O
narrador começa a história dirigindo-se ao grupo ouvinte dizendo karingana wa karingana
precisamente «!» e o público responde duma única vez: «karingana!». No final da narrativa, o
contador de histórias tradicionais diz «Phu karingana!».

Como metodologia, para analisar esse texto tive que recorrer à obra de José Craveirinha,
”Karingana ua Karingana”, texto da página 12.

Vida e obra de José Craveirinha

José Craveirinha, nasceu aos 28 de Maio de 1922 em Lourenço Marques actual Maputo, filho de
pai algarvio e mãe ronga, morreu no dia 6 de Fevereiro de 2003 e Joanesburg, África do Sul.

Estudou na escola Primeiro de Janeiro pertencente à Maçonaria.

Foi o primeiro presidente da mesa da Assembleia Geral da associação dos escritores


moçambicanos, entre 1982 e 1987.

Nacionalidade: Moçambicana

Prémios: premio de Camões 1991

José Craveirinha é considerado o maior poeta de Moçambique, em 1991, tornou-se o primeiro


autor africano galardoado com o Premio Camões, o mais importante pemio literário da língua
português.

Análise do texto “Karingana ua Karingana”

O conto é ainda mais explícito, embora metafórico, quando na estrofe inicial diz:

«De hora a hora

e minuto a minuto cresce

cresce devagarinho a semente na terra escura» (…)


Se aqui se metaforiza a semente em germinação contínua como a liberdade que cresce, também
na mesma estrofe o sujeito poético dá testemunho do que está a acontecer ou do que se manifesta
com o seu povo quando continua anunciando:

(…) «A vida curva-nos mais ao ritmo fantástico

do nosso chicomo relampejante áscua de chanfuta

sub-africano amadurecendo as jejuadas manhãs

ao velho calor dos braçais intensos

na lavra das lavras de uma lua

esfarrapada no meio do chão» (…)

Heroísmo no sofrimento cavado coma s mãos agarradas à enxada (chicomo), mãos de


sobrevivência e mãos de luta que um dia deixarão de ser mãos subafricanas, quando a liberdade
chegar e é por isso, também, que ainda se trabalha à enxada em vez de se charruar a terra com
tractores, como acentua na última estrofe:

(…) «Ah, o dia da colheita destes milhos de amor

e tédio vai começar e recomeçar nos inumeráveis chicomos

desalgodoando os algodões a mais sofisticados

de tractores que deviam estar e não estão».

Efectivamente, a par de uma estilística que serve esses objectivos e que nos parágrafos seguintes
irei abordar, reafirmar que, lado a lado com uma explorada dicotomia subúrbio/cidade,
pobre/rico, branco/negro-mulato, luxo/exploração, opressão/liberdade, e também valorização da
cultura bantu, do território nacional e da própria língua mestiça (luso-ronga), o sujeito poético
apresenta no todo de Karingana ua Karingana o lado épico, enaltecedor e glorificador do povo
moçambicano em luta pela independência nacional.
Conclusão

Nesta ordem de acontecimentos e ideias pode-se entender melhor o conteúdo e o próprio


pragmatismo da poética craveirinhística, ou seja, o lado valorativo da cultura dos oprimidos, do
grito dos desesperados, dos próprios instrumentos de trabalho que pela palavra do poeta se
transformam também em armas de libertação. A partir do sofrimento e da dor, o sujeito poético
busca novas forças, transformando a desgraça em versos épicos e mobilizadores, em força
consciencializadora da luta pela liberdade.

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