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UNIVERSIDADE LICUNGO
António Iacoleva
Esperança Armando
Francisco Zacarias
Ivone Gore
José Mafunga
Tunica Zobra
Beira
2022
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UNIVERSIDADE LICUNO
António Iacoleva
Esperança Armando
Francisco Zacarias
Ivone Gore
José Mafunga
Tunica Zobra
Beira
2022
3
Índice
1. Introdução...........................................................................................................................3
2. A linguística e o estudo das línguas africanas...................................................................5
3. línguas Bantu em África................................................................................................6
4. centro de fragmentação do núcleo proto-bantu...........................................................7
4.1. Hipótese de Guthrie................................................................................................7
5. Classificação das línguas bantu segundo Doke...........................................................10
6. Classificação das línguas bantu segundo Guthrie......................................................10
7. Classificação das línguas moçambicanas segundo Guthrie.......................................11
8. Caracterização das línguas bantu...............................................................................12
8.1. Critérios subsidiários...............................................................................................13
9. Elementos de fonética e fonologia...................................................................................13
9.1. A fonética articulatória............................................................................................14
9.2. A fonética acústica....................................................................................................14
10. A Fonologia...............................................................................................................14
11. Ortografia e Sistemas Fonéticos e Fonológicos das Linguas Bantu..........................14
11.1. Ortografia.............................................................................................................15
12. Fonologia segmental.....................................................................................................20
12.1. Vogais....................................................................................................................20
12.1.1. Duas tabelas..........................................................................................................20
12.1.2. Sequência de vogais..............................................................................................21
12.1.3. Duração vocálica como característica fonológica...............................................23
12.1.4. Harmonização vocálica........................................................................................25
12.2. Consoantes............................................................................................................26
12.2.1. Modificações das consoantes............................................................................27
13. Fonologia suprassegmantal..........................................................................................28
13.1. Silaba e sua estrutura nas línguas bantu.............................................................28
13.2. Tom........................................................................................................................31
13.2.1. Tom lexical............................................................................................................33
13.2.2. Tom gramatical.....................................................................................................33
13.2.3. Expansão tonal......................................................................................................35
13.3. Acento....................................................................................................................36
13.3.2. Função distintiva..................................................................................................37
14. Conclusao......................................................................................................................38
15. Referências Bibliográficas...........................................................................................39
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1. Introdução
O presente trabalho, com os temas "Bases Históricas do Estudo das Línguas Africanas"
e "Elementos de Fonética e Fonologia", debruça sobre as bases históricas do estudo das
línguas africanas, a descoberta do sânscrito, o surgimento da linguística como ciência,
linguística descritiva e comparativa, e não menos importante os métodos tipológicos e
genealógicos que são utilizados no estudo das línguas africanas. Não obstante, o
trabalho também ilustra a classificação das línguas bantus segundo Doke e Guthrie e por
fim a caracterização das línguas bantus e os seus respectivos critérios.
Moçambique é um país com uma basta gama de línguas bantus, a ser assim, objetivo da
elaboração do trabalho é conhecer a história das línguas bantus batendo elas parte da
identidade e cultura nacional.
Na área das ciências sociais e humanas, mais concretamente no que diz respeito aos
estudos da linguagem, pode se afirmar que é o seculo XIX que se assiste ao nascimento
de uma nova ciência, linguística, que se define como ciência da linguagem, ou
simplesmente, "estudo científico da linguagem” (LYONS 1968:1).
5
Esta nova acidência surge como resultado de muitos estudos que se desenvolveram no
princípio do século XIX, com o "Romantismo alemão e com o interesse avivado pelo
estudo das velhas línguas da índia antiga em especial do Sânscrito recém-descoberto "
(CARVALHO 1973;5).
Linguística descritiva, estuda a língua do ponto de vista sincrónico, ela estuda a língua
descrevendo e analisando as suas estruturas e as regras de funcionamento de acordo
com a maneira como é usada pelos falantes num determinado período.
Linguística comparativa," foi a primeira forma adaptada pela linguística moderna que
surge nos primórdios do romantismo europeu e participa no movimento do século XIX"
faz o estudo comparativo das línguas aliciando alguns métodos:
Secundo Almeida (2012:207), beleco chegou a estas conclusões “ lizando Xoas como
língua base de suas reconstruções " que permitiram "produzir um estudo que choupava
uma parte considera da Africa ao sul do Equador". Foi assim que segundo os
paradigmas românticos e racialistas, que uniam raça e linguagem como facetas da
unidade nacional, beleco cunhou o termo bantu para designar distintos povos, reificando
suas semelhanças linguísticas em uma categoria étnica. (Almeida op.cit).
Congo-Kordofaniana
Níger-Congo
Bantu
Makhuwa
Xirima
Neste esquema, de cima para baixo, estão representados: uma família, uma subfamília,
um grupo de línguas, uma língua, e um dialecto.
Gitonga: ba-thu
Swahili: wa-tu
Nyanja: wa-nthu
Nyungwe: wa-nthu
Shona: va-nhu
Changana: va-nhu
Yao: vaa-ndu
Makonde: va-nu
Makhuwa: a-thu
Nyanja: a-nthu
Esta lista poderia ser mais longa e sempre se verificaria que as duas partes do vocábulo
seriam constantes em todas as línguas: o prefixo (de classe 2) “ba” (wa-, va-, a-) e um
tema nominal “-ntu” (-ndu, -nhu, -nthu, -thu, -tu).
o termo bantu é usado para se referia a um grupo de cerca de 600 línguas faladas por
mais 220 milhões de pessoas numa vasta região de África, que se estende desde os
Montes Camarões (a sul da Nigéria), junto a costa atlântica, até a foz do Rio Tana (no
Quénia), abrangendo os seguintes países: África do Sul, Angola, Botswana, Burundi,
Camarões, Comores, Congo, Gabão, Namíbia, Quénia, República do Congo, Ruanda,
Guiné Equatorial, Lesotho, Madagáscar, Malawi, Moçambique, Swazilândia, Tanzânia,
Uganda, Zâmbia, Zimbabwe. Nesta região existem, em alguns países, encaves de
línguas não bantu, nomeadamente: Khoi, San e Hotentote (Kalahari), na África do Sul e
Namíbia; Maasai e Luo, no Quénia; Hadza (Hatsa), Iraqw, Maasai, Sandawe, na
Tanzânia, e talvez outras linguas noutros países.
Fase 2: dispersão para o oriente, sendo este frupo de maior homogeneidade que o
primeiro.
Um segundo grupo dispersou-se dos Camarões rumo ao sul para a região do Baixo
Congo. Estes usavam utensílios de pedra e panelas de barro, e devem ter trazido consigo
as técnicas de produção de alimentos que já eram conhecidos pelos seus antepassados
na região do Camarões.
Os falantes das línguas bantu mencionados na fase 2a, os tais que se tinham deslocado
para o oriente a partir dos Camarões, fundaram uma cultura da Idade de Ferro Inferior
na região de entre lagos.
Deslocação para o ocidente, rumo ao Baixo Congo, dos povos que se tinham
estabelecido entre os flancos da floresta equatorial e as savanas do sul. Estes foram
responsáveis pela criação da Idade de Ferro Inferior junto dos mencionado em 2b.
Uma dispersão para o sul do grupo do ocidente trouxe a cultura da Idade de Ferro
Inferior para o Baixo Congo através de Angola, para o norte da Namíbia, acompanhado
de falantes das línguas do grupo das Terras Altas Ocidentais.
A vaga oriental da Idade de Ferro Inferior dos povos que não se tinham deslocado para
o ocidente rumo ao Baixo Congo deslocou-se em direcção ao sul e ao oriente a partir da
região lacustre da costa do sul do Kenya e norte da Tanzânia.
Uma grande expansão da vaga oriental da região lacustre para o sul passou pelas terras
altas do Lago Niassa em direcção a Transval. O facto de passar por regiões infestadas
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pelas moscas tsé-tsé no sul da Tanzânia, parece ter impedido que fossem até ao sul com
o seu gado.
Uma expansão paralela rumo ao sul a partir das planícies da região oriental do Lago
Niassa levou gente ao sul de Moçambique e a Transval oriental.
Expansão de falantes das línguas bantu das Terras Altas Orientais de Shaba introduziu a
cultura da Idade de Ferro Superior na metade oriental do sub-continente.
Zona são agregados de línguas que tem uma certa uniformidade ou similaridade de
fenómenos linguísticos, mas que não necessitam ser mutuamente inteligíveis. A divisão
em Zonas é basicamente geográfica. As Zonas são subdivididas em Grupos cujas
línguas têm traços fonéticos e gramaticais comuns, e são tão similares que chegam a ser
em grande medida mutuamente inteligíveis. (Cole, 1961: 81)
Língua ou conjunto de dialectos é uma unidade básica que tem o dialecto como sua
subunidade. Não há uma definição clara de linha de uma demarcação entre a língua e o
dialecto, e nem sequer existem critérios satisfatórios que permitam estabelecer a sua
distinção. Contudo, faz a referência de que os dialectos buscarpertencentes à mesma
língua devem ser mutuamente inteligíveis, mesmo que não sejam geograficamente
contiguas, e esta agregação não tem nenhuma relação com a divisão administrativa.
As línguas que constituem cada grupo são, por sua vez, codificadas através de unidades
dentro desse número decimal. Por exemplo, a língua Shimakonde tem o código 3 dentro
do grupo 20, da Zona P.
Guthrie e Doke foram, de uma maneira, contemporâneos, mas não tem sido fácil
encontrar um único momento em que um tenha citado o outro. Pelo que, embora pelas
12
datas a classificação de Guthrie pareça ter sido posterior à de Doke, é difícil dizer quem,
de entre os dois, foi o primeiro a realizar a classificação das línguas bantu. Comparando
os dois sistemas de classificação, o de Guthrie parece ser um aperfeiçoamento de do
Doke, além de que aquele foi revendo o seu trabalho ao longo de mais de trinta anos.
1. Zona G:
Grupo: G40 (Swahili):
Línguas G42 Kiswahili
G45 Kimwani
2. Zona P:
Grupo: P20 (Yao):
Línguas P23 Shimakonde
P31 G: Emakhuwa do Rvuma
P311 Ekoti
3. Zona N:
Grupo: N30 (Cewa-Nyanja)
Línguas N31a Cinyanja
N31b Cicewa
N31c Cimang’anja
N44 Cisena
Vc
4. Zona S:
Grupo: S10 (Shona)
Línguas S15 Cindau
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S61 Cicopi
S62 Gitonga
A classificação linguística de acordo com Guthrie existe 8 grupos linguísticos que são:
Swahili, Yao , Makuwa, Nyanja, Nsengasena, Shona, Copi, e Tswa-ronga, no entanto
na sua classificação deixa um um espaço que não inclui aqui a lista de outras línguas
moçambicana mas , importa enaltecer ainda que segundo Guthrie o número de falantes
de cada língua varia, como pode ser atestado no documento do senso de 2007.
É importante referir que o sistema de classes não e característica exclusiva das línguas
bantu, mas, é nelas que talvez melhor do que qualquer língua é mais desenvolvido,
regular e sistemático.
Segundo Trubetzkoy (1981) já Baudouin de Courtenay (1870) dizia que era necessário
distinguir duas fonéticas conforme se queira estudar sons concretos como fenómenos
físicos ou se queira estudar os sons como sinais fónicos empregues para fins de
intercompreensão no interior de uma comunidade linguística. A primeira é a Fonética
propriamente dita e a segunda é a Fonologia.
Em fonética, os sons da fala são produzidos pela anatomia e fisiologia humanas, o que
nos permite distinguir:
11. A Fonologia
Estuda sistemas de sons da fala, sua estrutura e sua função na língua. Isto é, na língua,
há alguns sons que podem ser empregues para distinguir palavras de significados
diferentes, enquanto outros sons não podem ser usados para isso. Assim, enquanto um
estudo fonético fornece o inventário e a descrição dos sons da fala como fenómenos
físicos apenas, sem se interessar pela sua função na comunicação, na transmissão de
significado de palavras: um estudo fonológico não só faz o levantamento dos sons da
língua do ponto de vista fisico, como ainda estuda a sua estrutura e as regras que regem
a sua combinação no sistema, bem como a sua função na comunicação. Pelo que,
enquanto os fonemas, objecto de estudo da fonologia, permitem distinguir palavras de
diferentes significados, os fones, objecto de estudo da Fonética, são realizações
concretas (fonéticas) destes em determinados contextos sem contribuir para distinguir
palavras. Pelo que, os fones são variantes contextuais geralmente predizíveis a partir de
um certo contexto fonológico.
12.1. Ortografia
A questão da escrita como tentativa de representação da oralidade através de símbolos
gráficos é um assunto muito antigo entre os estudiosos das línguas e mesmo entre os
filósofos. Daí que desde muito cedo se tenha tentado reduzir à escrita os sons que eram
produzidos em diferentes línguas. Contudo, por causa de existirem muitas línguas no
mundo, discrepâncias não faltaram sobre como representar os diferentes sons. Assim,
enquanto alguns estudiosos tentavam encontrar formas de representar por escrito os
sons de línguas particulares, outros tentavam encontrar formas de representar por escrito
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os sons de todas as línguas do mundo. Para ilustrar isto, Fromkim e Rodman (1988)
citam alguns exemplos tais como os que se seguem.
O Bispo John Wilkins (1668) produziu um alfabeto que depois de alguns anos de
circulação propô-lo a "alfabeto universal”. Lodwick (1686) propôs um alfabeto "que
poderia conter uma enumeração de todos os sons singulares e letras tal como são usadas
em qualquer língua” (Fromkim e Rodman 1988:56).
De acordo com este sistema, todos os sons singulares tinham de ter únicos e distintos
caracteres, e nenhuma letra deveria corresponder a mais do que um som, nem um único
som deveria ser representado por mais do que um caracter. Tal como Cave Beck,
Lodwick e outros que o seguiram não usaram as letras latinas. Lodwick desenhou as
suas próprias “letras” de tal maneira que sons semelhantes eram representados por
símbolos semelhantes.
Estes alfabetos não eram inventados por "reformadores da escrita”, mas por académicos
interessados em métodos pelos quais os sons seriam descritos e simbolizados. Este
interesse levou a associação Fonética Internacional (AFI) a criar em 1888 um alfabeto
fonético que poderia ser usado para simbolizar os sons de todas as línguas. Uma vez que
muitas línguas conhecimentos pelos seus membros usam o alfabeto latino, os símbolos
fonéticos da AFI bascatar-se no alfabeto latino. Esses símbolos têm um valor
consistente, diferente das letras ordinárias usadas em alfabetos de línguas particulares,
que podem ou não representar os mesmos sons nas mesmas línguas ou nas diferentes
línguas. Este alfabeto primário é usado hoje em todo o mundo por foneticistas,
professores de línguas, patologistas de fala, linguistas, e qualquer um que queira
simbolizar a palavra falada.
Para tentar resolver os problemas postos pelos sistemas herdados sem relacionar os sons
das línguas locais (africanas) com as práticas ortográficas das metrópoles coloniais, mas
considerando cada língua de acordo com o seu sistema interno, o International Institute
of African Languages and Cultures (fundado em 1926), mais tarde chamado
International Institute (Tucker, 1971:618) achou necessário inventar uma escrita prática,
mas sistemática, para as línguas africanas. Visto que o alfabeto latino não satisfazia na
sua essência as exigências de muitos sons das línguas africanas, um subcomité do
Instituto encarregado de tratar do assunto decidiu aumentar o mero de letras deste
alfabeto e adoptá-lo para escrita das línguas africanas.
Script sempre nova vida e novo reconhecimento com as suas cinco vogais básicas (a, e,
i, o, u) e as quinze consoantes (b, d, f, g, h, k, l, m, n, p, r, s, t, v, z). Estas letras têm o
mesmo valor, isto é, representam os mesmos sons, em toda a África negra e em todo o
mundo onde se usa o alfabeto latino. As consoantes que não fazem parte deste grupo de
quinze são aquelas que, aparecendo no AFI, são representadas de diferentes maneiras
nas diferentes línguas. A tabela que se segue apresenta os caracteres do AFI na sua
versão mais recente (1989):
Articul. Ponto
Modo bilabi Labiode Dental Alveo Pal- Retrod Palata Lab Vel Uvula Parlog Gl
al nt alv l . vel r .
Oclus. pb t d ʈ ɖ ɑ Ɉ kg
Explo
Nasal m ɱ n ɳ ɲ ŋ
Vibr. B r
Múltipla
Vibr. ɾ
Simpl.
Fricat. ɸβ f v ɞẟ z Z ʃ ʒ ȿ ʐ ç j x
Y
Fricat. ƚ ɮ
Lateral.
Aprox ɒ ɻ ǰ w ɰ
Aprox. ȷ ɭ ʎ L
Lateral
Ocl. po tB ʈP ɑa kb զb
Eject.
Ocl. ƥɓ ƈ ʃ ɠ
Implo.
Os símbolos em negrito são aqueles quinze que foram referidos acima como sendo os
que representar da mesma maneira os mesmos sons na ortografia de todas as línguas
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negro-africanas. As ortografias das diferentes línguas fazem uso, em grande medida, das
quinze letras do Africa Script, aumentando-as em número e adaptando-as por meio de
diacríticos e outros mecanismos quando tal se justifique tendo em atenção em primeiro
lugar, os símbolos da AFI apresentados na tabela.
Os símbolos em negrito são aqueles quinze que foram referidos acima como sendo os
que representar da mesma maneira os mesmos sons na ortografia de todas as línguas
negro-africanas. As ortografias das diferentes línguas fazem uso, em grande medida, das
quinze letras do Africa Script, aumentando-as em número e adaptando-as por meio de
diacríticos e outros mecanismos quando tal se justifique tendo em atenção em primeiro
lugar, os símbolos da AFI apresentados na tabela.
AF Mw Mk Yao Mkh Chw Nyj Nyg Sen My Nd Tw Bar Tng Cop Chg Tsh Rh
I
b B B b (b) b (bh) bh bh bh bh bh bh bh bh b bh b
ƃ - - - - - b b b b b b b b b hh bb b
d D D d (d) d (dh) dh dh dh dh dh dh dh dh d dh d
20
ɗ - - - - - d d d d d d d d d dd d d
ծ - - - - dh - - - - - - - - - - - -
g G G g (g) g g g g g g g g gh g g g g
Y - - - - - - - - - - - - g - - - -
c C C c c c c c c c c c c c ⸧tx c c c
cc
dʒ J J j (j) j j dj djʎ j j j j - j j j j
ʃ Th sh - x/sh - sh x x sh sh sh sh - x x x x
ʒ - - - - - - (j) (j) xh jh sh (xj) - xj xj xj xj
v - V - v v vh (vh) (vh) vh vh v (vh vh vh vh vh vh
)
u - - wu - - v v v v v v - v v v v v
v
β - - - - - - - - - - - - vb - - - -
g - - - - - - sw sw sv sv sv sv - (sv) sv sv sv
ʐ - - - - - - zv zw zv zv zv zv - (zv) zv zv zv
ps - - - - - ps ps ps - - - ps - ps ps ps ps
bʐ - - - - - bz bz bz - - - bz - bz bz bz bz
tȿ - - - - - - - - tsv tsv tsv - - - -
dʐ - - - - - - - - dzv dv dzv - i
ŋ Ng Ng ng ng ng ng ng ng n n n n n n n n n
Nb Nb Np Np Nb Np Nb Np Nb N'
l L L l l l l
r (r) r r r r r r r r r r
r Ir Ir
փ rh
13.1. Vogais
De uma forma geral, as sete vogais que caracterizaram o sistema vocálico proto-bantu
ficaram reduzidas a cinco em termos fonológicos e só se mantém o número de sete a
nível fonético em algumas línguas, como se pode ilustrar nos exemplos que se se
alguem:
Por vezes as cinco vogais são divididas em dois grupos. Assaltas (fechadas) e a baixa
(aberta) são chamadas vogais primárias, enquanto as médias (semi-fechadas) são
chamadas vogais secundárias.
b. Kuerenga ʻlerʼ
É difícil explicar-se como é que em (1a) o u seguido de vogal passa para w, uma regra
cuja aplicação na escrita não se observa em (1b), como seria de esperar. Pelo que, o
leitor com ouvido e tacto treinados para fazer linguística bantu, em algumas regiões do
país deverá estar preparado para encontrar esta realidade embora consciente de que a
mesma vai contra as regras elementares de ortografia destas línguas que é basicamente
orientada para algumas regras fonológicas. Portanto, deve-se esperar que em algum
material escrito apareçam sequências do tipo ia, ea, ai, ui, oa, etc., enquanto o ideal
seria restringir a sequência das vogais através de imposição de obrigatoriedade de
aplicação de certas regras fonológicas que produzem diferentes resultados à superficie.
No segundo caso, as vogais altas semivocalizam antes de outras vogais, como se pode
observar nos exemplos que se seguem:
Estes exemplos demonstram que as vogais altas são semivocalizadas quando seguidas
de vogais diferentes delas. A semivocalização, como regra fonológica, pode ser
representada da seguinte maneira:
(3) v
[+alt]->G/_V
Isto é, uma vogal alta (i ou u) torna-se (>) ou realiza-se como semivogal, aproximante,
ou glide (G), no contexto ou ambiente (/) antes de ou em que ela estiver seguida de uma
outra vogal (-V).
Outro aspecto importante a ser mencionado em relação às vogais diz respeito à duração
que numas línguas pode ser fonética apenas e noutras pode ser fonética, fonémica e
fonológica. A subsecção que se segue vai dedicar-se a este assunto, a duração vocálica.
Mas além deste tipo de duração é possível encontrar em algumas línguas alongamento
de vogais devido ao seu posicionamento na palavra, de acordo com a natureza dos
fonemas precedentes ou seguintes. Como regra geral em Yao temos que toda a vogal
que ocorra antes de uma consoante pré-nasalizada é alongada, tal como o é depois de
uma consoante modificada através da semivocalização.
Outra pode ser obtida somente através da duração de um segment que ocorre em
determinada posição. Se, entretanto, um processo morfológico obrigar à co-ocorrência
de duas vogais da mesma qualidade, o resultado é uma vogal longa que depois da
ressilabificação passa a ser o núcleo de uma sílaba pesada. Por exemplo:
25
Como se ve, a penúltima sílaba das formas do passado é sempre longa em consequência
do processo de afixação da marca do passado adoptado para verbos com radical
bissilábico como os apresentados em (8). Existem outras línguas tais como o Makonde
em que o alongamento da vogal da penúltima silaba é uma das características
fonológicas fundamentais, como se pode ilustrar com os seguintes exemplos:
Kukomela ʻpregarʼ
Dibangili ʻpulseiraʼ
Lidodo ʻpernaʼ
Kukamula ʻpegarʼ
Nos exemplos acima, a vogal da penúltima sílaba é sempre longa, e sempre acentuada.
Portanto, trata-se de mais um caso de alongamento fonológico que é causado pelo seu
posicionamento na palavra (penúltima silaba). Tal como o fonético, o alongamento
fonológico não precisa de ser representado na escrita pode ser usado para distinguir
palavras, não é contrastivo, é predizível. Este alongamento pode ser representado
através de uma espécie de fórmula do tipo:
Onde: o simboliza sílaba; # indica fim da palavra. E o traves são (-) indica o espaço da
sílaba que precede a última sílaba. Portanto, a fórmula deve ser lida da seguinte
maneira: Uma vogal breve torna-se longa na posição antes da última sílaba. Resumindo
ficas uma vogal torna-se longa na penúltima sílaba. Como se viu, em Yao e em
Makhuwa, a duração vocálica é geralmente contrastiva (não é predizível) e, por isso, a
sua representação gráfica é obrigatória. Nestas línguas para não complicar as regras de
escrita, uma vez que existem vogais longas contrastivas que devem ser obrigatoriamente
representadas na escrita, é muito prático estabelecer-se que todas as vogais longas
(fonéticas, fonémicas, fonológicas) devem ser escritas conforme são produzidas e
ouvidas tal como se propôs em Lichingå em relação ao Yao.
26
d. – pet-el-a "ornamentar
com"
Como podemos notar no exemplo acima, todos os segmentos são iguais em todos os
cinco verbos excepto as vogais dos radicais e as dos sufixos verbais que precedem a
vogal final –a. Vogal radical - /i, u, a/ Vogal do sufixo verbal - /e/
Olhando para a natureza dos dois conjuntos pode concluir-se que o facto de as duas
vogais /e, o/ serem médias faz com que a vogal do sufixo seja também média do sufixo
deve estar em harmonia com a ultima vogal média do radical, então a ultima vogal não
media do sufixo há-de estar em harmonia com a ultima vogal não média radical.
b.
13.2. Consoantes
As consoantes são sons ou fonemas produzidos sob a influência de obstáculos do
aparelho fonador. Diferentemente das vogais, cujos sons formam-se a partir da simples
vibração do ar nas pregas vocais, as consoantes precisam dos lábios, dentes, língua,
palato, véu palatino, úvula ou qualquer outro obstáculo para serem pronunciadas.
Segundo o relatório do I seminário de Padronização sobre a Ortografia de Línguas
Moçambicanas reposta 27 símbolos consonânticos destas línguas, sendo variável o
numero correspondente a cada língua particular, que se pode dividir em dois grupos,
que são:
I. b, c, d, f, g, j, k, l, m, n, ny, p, r, s, t, v, w, y,z.
ng`n`, nasal velar; sv/sw, fricativa alveolar labializada não vozeada; zv/zw, fricativa
alveolar labializada vozeada retroflexa; vh/vb, fricativa bilabial vozeada; bz/by,
africada lábio alveolar vozeada; x/sh, fricativa alveopalatal não-vozeada; xj/zh, fricativa
alveopalatal vozeada; Ih/ly, aproximante lateral palatal.
a. bhuku "livro"
dhorobha "cidade"
b. Kubata "agarrar"
kubuda "sair"
28
Nsenge ʻbananaʼ
Khigyo ʻé istoʼ
Além dos modificadores que constituem dígrafos (duas letras) com a consoante
'modificada para exprimir um único som nos exemplos em (18), também aparecem os
diacríticos (sinais que se colocam por baixo, por cima, ou ao lado do grafema) para lhe
modificar a realização. Por exemplo, n' e ng representam a nasal velar em diferentes
línguas, como nos seguintes exemplos:
Em algumas línguas, o apóstrofo que se coloca entre uma consoante oclusiva vozeada e
uma vogal indica que a aquela consoante é explosiva (nos casos em que as oclusivas
vozeadas são maioritariamente implosivas na língua).
Nestes casos, o apóstrofo tem a função que o h costuma ter depois de oclusivas
vozeadas em contextos em que ele não marca aspiração, como se viu acima nos
exemplos em Ndau. Depois destas breves considerações que dizem respeito aos
segmentos e sua representação.
(Wiesemann et, al. 1983). Diz-se que ela é um suprassegmento porque se situa “acima"
do segmento, na medida em que ela pode abranger mais do que um segmento. Embora
universalmente se reconheça uma certa estrutura de sílaba, as diferentes línguas
"escolhem" a forma específica da sua sílaba que é adequada à organização do seu
sistema fonológico.
Em casos particulares, o núcleo de uma silaba pode ser uma consoante, geralmente uma
nasal ou uma líquida.
Segundo Kindell (1981), numa sílaba pode-se identificar núcleo (Ne) e margem ou
margens (consoante ou conjunto de consoantes, simples ou modificada[s]) que
ocorre(m) antes e/ou depois do núcleo. A(3) consoante(s) que precede(m) o núcleo
chama-se margem prénuclear (M) e a que segue o núcleo chama-se margem pós-nuclear
(m) constituindo uma estrutura que pode representar como se segue:
30
(M) Nc (m)
A R
A Cd
No esquema acima temos uma estrutura hierarquizada de uma sílaba onde aquilo que é
núcleo e margem pós-nuclear em (21), pertencem a um nível inferior ao da margem pré-
nuclear. Esta posição difere ligeiramente.
Hyman (1975:188) para quem a sílaba é constituída por três partes fonéticas: (a) 'ataque'
(margem pré-nuclear; onset), (b) o núcleo e (c) a coda (margem pós-nuclear), portanto,
uma estrutura semelhante à proposta por Kindell (op. cit.). Para fins fonológicos,
entretanto, Hyman diverge de Kindell ao afirmar que apesar da distinção da sílaba em
três partes fonéticas, apenas uma única divisão entre (a) margem pré-nuclear e (b) rima
(R), constituído pelo pico fonético e a coda combinados, é relevante. Ou seja:
( A) R
31
Em (23), eis o que, para Hyman (op. cit.) são as partes relevantes da estrutura da sílaba
para efeitos fonológicos. Esta é que é, também, a estrutura básica da sílaba nas línguas
bantu, aquela que informalmente se abrevia como sendo CV(V). Isto é, com a hipótese
de vogal poder ser longa (bimórica, na teoria mórica a que muitas vezes faremos alusão)
ou pesada, como nos seguintes exemplos:
(24)
b.-peeta ʻpeetaʼ
b-maala ʻcalar-se’
Os segmentos em acima em (a) nestes exemplos são núcleos de silabas leves, breves ou
monomóricas, e os segmentos em negrito em (b) em ambas as línguas são núcleos de
sílabas pesadas, longas ou bimóricas. Como se vê, as silabas têm a estrutura CV(V).
Portanto, as silabas nestas línguas são sempre abertas ou livres (terminam em vogal),
excepto nos casos em que elas sejam nasais silábicas como se viu anteriormente, pois
não têm margens pós-nucleares.
em alguma posição na palavra e atrai o acento. Por isso, na ortografia corrente de tais
línguas não se marca a vogal Tonga como se pode ver nos seguintes exemplos:
jujumunu ʻmãeʼ
mfunguro 'chaveʼ
32
quem vemʼ
Em todos estes exemplos, a penúltima vogal é longa recebendo, por conseguinte, acento
tónico. Por serem predizíveis os contexto nem que ocorrem, nem o acento tónico nem a
sílaba longa que são marcados. As vezes as silabas pode não ter nenhuma margem, por
exemolo:
Nas linguas bantus a silaba pode ter apenas o núcleo e não ter nenhuma margem. Como
já se fez menção, casos haverá em que uma nasal constituirá por si só uma silaba.
Mesmo nesses casos, a operação de separação das sílabas não deverá constituir
nenhuma dificuldade depois de já se ter descrito, como se fez acima, o processo
fonológico que cria nasal silábica. Depois de vista a sílaba, é momento de se passar ao
estudo do tom e da sua função nas línguas em que existe.
14.2. Tom
Muitas línguas moçambicanas são tonais, como o são a maioria das línguas do mundo.
Isto é a altura de sílabas de algumas palavras pode servir para distinguir significados
diferentes. Portanto, nas línguas moçambicanas podem encontrar-se duas ou mais
palavras com a mesma sequência de segmentos (consoantes e vogais) cujos significados
diferem somente devido à variação de altura de algumas sílabas, como se ilustra nos
seguintes exemplos:
Màvelé ʻmilhoʼ
Como se vê em nos exemplos acima, as palavras em cada para de palavras de cada uma
das línguas seriam completamente ambíguas se o tom não tivesse sido marcado, pois em
cada par de palavras de cada língua a parte segmental pode significar tanto uma como
outra coisa. Note-se que nos exemplos em as marcas () e () indicam o tom alto (A) e o
tom baixo (B), respectivamente, formas adoptadas para representar os dois tipos de tons
na maioria das línguas moçambicanas e em muitas línguas do mundo, mas não são as
33
úncas. Há muitas outras formas de representar o tom nas línguas do mundo, mas aqui
não se vai fazer alusão a elas por não se considerar pertinente num trabalho desta
natureza. Nos relatórios dos Seminários sobre a Padronização da Ortografia de Línguas
Moçambicanas (NELIMO 1989 e Sitoe e Ngunga 2000), foi sempre referido que o tom
eta um assunto que precisava de mais investigação.
Contudo, foi proposto que a ser marcado, que se marque o tom menos frequente na
língua. Isto é, se numa determinada língua o tom menos frequente for o baixo como em
Changana, então marcar-se-á o tom baixo. Na língua onde o tom alto for menos
frequente do que o baixo, então marcar-se-á o tom alto. por exemplos:
Ndluvu xihloka
Ditíinji disóoka
Como se vê em nos exemplos acima, na língua Changana o tom alto é mais frequente do
que o tom baixo. Daí que o tom baixo seja marcado, Em contrapartida, língua Yao, tom
baixo é mais frequente do tom alto. Daí que o tom alto seja marcado nesta língua.
Contudo, nos seminários acima referidos foram feitas tentativas no sentido de reduzir a
quantidade de marcas tonais no texto escrito. A este respeito, foi sugerido que se deveria
considerar a relevância do tom com base na distinção que se faz em termos de tom
gramatical tom lexical e verificar a relevância de cada um deles para se decidir, sendo
apenas um tipo de tom a ser marcado, qual é que se deve marcar tendo em vista evitar a
ambiguidade que não pode ser evitada com base no contexto.
A este respeito, em algumas línguas foi notado que a marcação do tom gramatical se
afigurava indispensável. Portanto, deve ser marcado. Em outras línguas, foi sugerido
que todo o tom "menos frequente", seja gramatical ou lexical, deveria ser marcado,
Imaginando-se a dificuldade de marcação do tom por parte dos escreventes e escritores
das línguas moçambicanas, foi proposto que este acto só fosse obrigatório em trabalhos
científicos (gramáticas, dicionários, artigos científicos de análise linguística para
publicação em revistas ou livros/estudos de especialidade ou para apresentação em
eventos científicos, etc.).
34
Nesta secção sobre o tom, não se vai entrar em detalhes sobre o estudo deste assunto, o
que poderá ser matéria de análise em estudos de línguas particulares. Nas subsecções
que se seguem vai-se proceder, de forma muito breve ao estudo do tom de acordo com a
sua função na língua, uma vez que nesta perspectiva este pode ser lexical ou gramatical.
Veja-se primeiro o tom lexical, a seguir.
pequeno
entreʼ ʼvenerea
Como se ilustra em nos exemplos acima, todas estas palavras têm de aparecer no
dicionário das respectivas línguas da maneira como estão aqui escritas. Caso contrário,
o leitor pode ser conduzido a uma ambiguidade, pois nenhum dos significados é
predizível sem a marcação do tom. Não obstante a sua importância nas línguas, em
muitos materiais escritos na maioria das línguas bantu o tom nunca aparece
representado. Uma consequência imediata disso é o facto de a leitura se transformar
num exercício de adivinha que exige um conhecimento resultante de prática antecipada,
quase memorização do texto (se for para ser lido em público) sob o risco de ele não ser
entendido.
línguas. exemplo:
Os exemplos em acima só são uma pequena ponta de iceberg. O leitor pode ver neles os
diferentes elementos gramaticais que cles indicam, detalhes que não serão vistos neste
espaço. Liphola 2001, e Hyman e Ngunga 1994) em relação às línguas referida em (32).
Os autores de materiais de alfabetização de lingua Makonde bem como os linguistas da
Sociedade Internacional de Linguística (SIL) que se dedicam ao estudo da desta língua
defendem que se marque o tom gramatical (nas formas verbais negativas).
Segundo eles, uma vez que o grafema h não tem nenhuma função nesta língua, propõe-
se que este seja usado para se marcar o tal tom. Assim, as formas da língua Makonde
dadas em (32) devem escritas, de acordo com o que se propõe, da seguinte maneira:
quer
Portanto, o grafema na posição inicial das palavras hapali "ele) não está' e halota (ele)
não vai querer' representa o tom alto na primeira sílaba da palavra. É uma convenção sui
generis, jamais encontrada em manuais de fonologia. Mas é o que se propõe embora
careça de discussão aprofundada.
Д Д
A partir desta regra pode-se concluir que nem sempre uma sequência tonal de superfície
corresponde a uma sequências subjacente, pois os tons que se vêem/ouvem à superfície
podem set resultado de regras de expansão tonal que tem as suas consequências como
sejam, permitir: (a) o aparecimento de dois tons adjacentes à superfície a partir de um
tom subjacente, (b) a associar um tom flutuante à mora seguinte. Considerem-se os se
guintes exemplos: dois tons adjacentes à superfície:
a. nguku ʻgalinhaʼ
b. jaangu ʻminhaʼ
A palavra ngúkn que aparece a nível subjacente (no dicionário), com um único tom,
aparece com dois tons à superfície (na gramática), ou seja, num sintagma em que ela
seja seguida por algum outro material.
Neste caso aplica-se a regra de expansão formalizada em (34) onde o tom se expande
uma mora à direita.
a. kuwútúka 'correrʼ
b. cilo ‘noiteʼ
37
A nível subjacente, cada uma destas duas palavras aparece, primeira com um único tom
que se expande uma mora à direita. A segunda com um único tom na última mom.
Quando as duas palavras se juntam para formar um sintagma, temos:
c. kuwútúka cíló 'correr à noite onde a primeira mora da segunda palavra já passa a
ter tom alto.
Como a última mora de kuwritúka continua com tom baixo, a única solução é
pensarmos que entre esta palavra e a seguinte havia um tom flutuante, um tom não
associado a nenhuma mora enquanto não houvesse material a seguir-lhe. Logo que
aparece o tal material, ele associa-se à primeira mom deste.
A última parte do proposto estudo dos suprassegmentos vai debruçar-se sobre o acento,
que será o tema da próxima subsecção.
14.3. Acento
Segundo KINDELL (1988) acento é a força articulatória e respiratória que se exerce
com maior intensidade sobre uma determinada porção (sílaba ou simplesmente vogal)
de uma palavra ou uma expressão que acaba sendo destacada em relação às outras. Em
transcrição fonética o acento representa-se marcando com uma espécie de "apóstrofo" ()
antes da sílaba acentuada. Em ortografia corrente de línguas onde este tem diferentes
funções, geralmente o acento é marcado através de um diacrítico (acento agudo ou outra
forma para o efeito convencionada). Nas diferentes línguas, o acento pode ter pelo
menos uma das três funções seguintes:
Função demarcativa é quando o acento é fixo, não muda de posição, é apenas um traço
da língua, como acontece tias seguintes línguas:
b. uzito ʻpesoʼ
Como se pode verificar, nos exemplos em (37) torna-se necessária a presença "física"
do acento uma vez que sem isso as palavras seriam ambíguas, isto é, não se poderia
distinguir os verbos dos substantivos. Em parte, esta língua funciona como as línguas
em (36), onde o acento na penúltima sílaba tem função demarcativa. Por isso, ele não é
marcado graficamente nesta posição. Contudo, quando o acento se desloca para uma
outra posição tal como acontece em (378) ou não (37b) podendo servir para distinguir
palavras, aí ele tem de ser marcado graficamente. Numa língua como o Português, o
acento gráfico marca-se também sempre que a sílaba proeminente for uma outra
diferente da penúltima, seja ela antepenúltima ou última (veja-se Mateus e Andrade
2000, para mais pormenores sobre o acento em Português). (ii) Função enfática, quando
o acento é usado para enfatizar uma determinada parte do discurso, da frase ou da
palavra, como se pode ver nos seguintes exemplos de Português:
Em (38) vê-se que a palavra sobrinho que, como mandam as regras, tem acento na
penúltima sílaba por isso não é marcado graficamente possui um acento de ocasião
devido à importância que esta palavra ocupa nesta frase. Este acento, o acento enfático,
recai, neste caso, sobre a primeira sílaba sem, contudo, anular o seu acento 'natural que
recai sobre a penúltima silaba. Chegados aqui, pode-se considerar completa esta parte
sumária de aspectos de Fonética e Fonologia.
39
15. Conclusão
Com esta pesquisa, esperamos aprofundar o conhecimento sobre "Bases Históricas do
Estudo das Línguas Africanas" e sobre os "Elementos de Fonética e Fonologia" na
cadeira de estrutura de línguas bantu de modo a diminuir as dificuldades no que tangem
aos bases e aos elementos que fizemos alusão. Esperamos também incentivar mais o
hábito de leitura e estudos a respeito dos elementos da fonética e da fonologia e o seu
envolvimento no estudo das línguas bantu.