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Regência verbal

É o estudo das relações entre os verbos e os seus complementos, que podem ser de diferentes
categorias sintácticas ou introduzidos por diferentes preposições. Em Moçambique, a
regência verbal constitui uma das áreas do Português de Moçambique em que se regista um
conjunto variado de fenómenos de variação relativamente a outras variedades do Português.
Por exemplo, alguns verbos que no Português Europeu padrão (PE) são transitivos diretos, ou
seja, selecionam um complemento nominal sem preposição, no Português de Moçambique
(PM) podem selecionar um complemento preposicionado com a preposição.

Variação na regência verbal no portugues em Moçambique

A variação na regência verbal no portugues em Moçambique envolve aspectos históricos,


sociais, culturais e linguísticos. Alguns dos fatores que podem explicar essa variação são:

● O contato com outras línguas, especialmente as línguas africanas faladas em


Moçambique, que podem influenciar a estrutura e o uso do português.

Por exemplo, alguns verbos que no português europeu padrão são transitivos diretos, no
português de Moçambique podem ser transitivos indiretos, porque assim são nas línguas
africanas.

● A influência do português brasileiro, que é a variedade do português mais difundida


nos meios de comunicação social e na cultura popular em Moçambique.

Por exemplo, alguns verbos que no português europeu padrão exigem a preposição a
antes do complemento, no português de Moçambique podem omitir essa preposição,
como no português brasileiro.

● As mudanças históricas e sociais que afetaram o estatuto e a função do português em


Moçambique, especialmente após a independência do país em 1975.

Por exemplo, o português passou a ser usado como língua oficial e de unidade nacional, o que
levou à sua expansão e diversificação entre os falantes moçambicanos.

● A variação interna do próprio português, que é uma língua viva e dinâmica, sujeita a
mudanças e inovações ao longo do tempo e do espaço.

Por exemplo, alguns verbos que no português europeu padrão selecionam um complemento
nominal sem preposição, no português de Moçambique podem selecionar um complemento
preposicionado com a preposição de, como resultado de um processo de reanálise sintática.
Os problemas de regência verbal em Moçambique estao directamente ligados ao estudo da
variação linguística do português. A regência verbal é a relação entre os verbos e os seus
complementos, que podem variar de acordo com a variedade do português. Em Moçambique,
existem muitos casos em que a regência verbal difere da norma padrão do português europeu,
que é a referência oficial no país.

Alguns dos problemas pontuais na regência verbal em Moçambique são:

● A omissão da preposição a antes de complementos verbais que a exigem no português


europeu padrão. Por exemplo, no português de Moçambique, é possível dizer "vou
comprar pão", enquanto no português europeu padrão, seria necessário dizer "vou
comprar **a** pão".

● A substituição da preposição por pela preposição com antes de complementos verbais


que indicam causa, motivo ou razão. Por exemplo, no português de Moçambique, é
possível dizer "morreu com malária", enquanto no português europeu padrão, seria
necessário dizer "morreu **por** malária".

● A formação de frases passivas a partir de verbos não transitivos no português europeu


padrão, que ou selecionam um complemento preposicionado (complemento indireto
ou oblíquo), ou são intransitivos. Por exemplo, no português de Moçambique, é
possível dizer "foi assistido ao jogo", enquanto no português europeu padrão, seria
necessário dizer "assistiu-se **ao** jogo" ou "assistiram **ao** jogo".

O Dicionário de Regências de Verbos do Português de Moçambique (DRVPM) tem como


principal objectivo disponibilizar uma base de dados constituída por verbos que apresentam
propriedades lexicais distintas do português europeu padrão (PE), estabelecido oficialmente
como referência em Moçambique.

De uma forma em geral, os falantes do PM tambem usam os verbos incluidos neste dicionario
de acordo com a norma padrao Europeia. Essas ocorrencias não foram a qui , uma vez que
apenas se pretende registar os casos em que a variedade Mocambicana se distingue dessa
norma.

Neste dicionário, estão incluídas as frases em que houve alterações na categoria sintáctica dos
complementos verbais ou na escolha da preposição que introduz complementos
preposicionados. Está no primeiro caso o exemplo abaixo (1a), em que o complemento
nominaldo verbo no PE padrão está realizado como um SP. Está no segundo caso o exemplo
(1b), em que é usada a preposição de, e não a preposição em, que é requerida pelo verbo no
padrão europeu.

No tratamento formal das frases contidas no DRVPM, adoptaram – se as seguintes


convencoes;

 A categoria sintáctica de todos os complementos verbais é assinalada através de uma


etiqueta categorial, subscrita ao primeiro parênteses.

 Os complementos verbais em que se registam alterações relativamente ao PE padrão


estão delimitados através de parênteses rectos, em azul (cf. [SN coisas íntimas], em
(1c)).

Caso o verbo tenha outro complemento em que não há alteração relativamente ao PE


padrão, este é igualmente delimitado através de parênteses rectos, sem recurso a uma
cor diferente (cf. [SP connosco], em (1c)).

(1) a. PM: vamos convidar [SP aos órgãos de comunicação social] (PE = [SN os órgãos de
comunicação social])

b. PM: andaram [SP daquele camião] (PE = [SP naquele camião])

c. PM: não pode conversar [SN coisas íntimas] [SP connosco] (PE = não pode conversar [SP
sobre coisas íntimas] connosco)

 As formas átonas dos pronomes pessoais, estão colocadas entre parênteses rectos, sem
etiqueta categorial.

 Para todas as frases, fornece-se, entre parênteses, o equivalente no PE padrão, usando


o símbolo ‘=’. Note-se que, nas frases do PE, só se dá um tratamento formal aos
complementos que se distinguem do PM. Retome-se o exemplo (1c), em que, no
equivalente em PE, apenas o complemento sobre coisas íntimas está entre parênteses
rectos, com etiqueta categorial.

(1c)’ não pode conversar [SN coisas íntimas] [SP connosco] ( PE = não pode conversar [SP
sobre coisas íntimas] connosco).

 Nos casos em que não existe um equivalente no PE padrão e/ou em que a


interpretação das frases não é clara para não falantes da variedade moçambicana do
português, usou-se o símbolo ‘≈’, como no seguinte exemplo:
(3) Todos os dias despede [SP em casa] (PE ≈ todos os dias se despede da família)

As frases passivas formadas a partir de verbos não transitivos no PE padrão, que ou


seleccionam um complemento preposicionado (complemento indirecto ou oblíquo), ou
são intransitivos mereceram um tratamento especial. Assim, a fim de dar conta das
alterações de regência verbal que tornam possíveis estas frases passivas em PM, optou-se
por estabelecer, em primeiro lugar, as contrapartes activas dessas frases, só se fornecendo,
para o PE padrão, os equivalentes das frases na voz activa.

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