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5 por isso são sujeitos às mesmas regras morfológicas (derivação, flexão) como qualquer verbo
na língua, como se pode ver nos exemplos (3) que se seguem: 5 (3) - tlanga-tlangile brincou
repetidamente cf. - tlanga-tlangisa fazer brincar repetidamente -famba-fambile -hundza-
hundzile andou repetidamente cf. - famba-fambisa fazer andar repetidamente passou
repetidamente cf. - hundza-hundzisa fazer passar repetidamente -khoma-khomile pegou
repetidamente cf. - khoma-khomisa fazer pegar repetidamente -tsama-tsamile sentar
repetidamente cf. -tsama-tsamisa fazer sentar repetidamente Os exemplos acima, na coluna à
esquerda, mostram a flexão do sufixo do tempo passado (-ile) na posição sufixal dos temas
verbais, a única de que a língua dispõe para acomodar os morfemas da marca do tempo
passado nesta língua e, na coluna à direita, a derivação do sufixo derivacional (-is-) na mesma
posição. A ocorrências destes materiais nos dois membros da reduplicação provoca
agramaticalidade. Vejam-se os seguintes exemplos: (4) *- tlangile-tlangile cf. *- tlangisa-
tlangisa *-fambile-fambile cf. *-fambisa-fambisa *-hundzile-hundzile cf. *-hundzisa-hundzisa *-
khomile-khomile cf. *-khomisa-khomisa Os exemplos em (3) mostram a impossibilidade de
ocorrência de processos morfológicos nos dois termos, o reduplicante e o reduplicado. Isto
prova que a reduplicação origina uma nova palavra e que tem disponível as mesmas posições
que aquelas na acomodação dos morfemas gramaticais. Se bem que em (1) notamos que a
reduplicação dá a ideia de frequência das acções ou o aspecto iterativo, a agramaticalidade
dos exemplos em (5), mostra que não aceitam ser reduplicados. Apreciemo-los: Sociais e
Humanas: Situação Actual e Perspectivas. Maputo: Imprensa Universitária. Pp Página 5
7 7 Estas constatações permitem-nos concluir que tal como em Ciyao (Ngunga 1998), o termo
reduplicado em Changana não aceita ser reduplicado. Podemos também concluir que a
condição para a efectivação da reduplicação total depende da estrutura do verbo, que deve
ser do tipo - CVC- ou mais longa. Do ponto de vista morfológico, os constituintes da
reduplicação (o reduplicante e o reduplicado), são dependentes uma vez que só admitem uma
única posição, para acomodar as morfologias, o que não acontece em termos semânticos. Os
verbos da estrutura acima podem ser totalmente reduplicados contudo, existem alguns verbos
com as mesmas características morfológicas mas que, mesmo semanticamente expressando
iteractividade, não têm as partes correspondentes não reduplicados ou, nos casos em que
existam, a sua morfologia e semântica não é de todo igual ao expresso pela reduplicação total
- é o caso do que podemos considerar de reduplicação fossilizada como podemos ver nos
exemplos que se seguem: (7) -bzata-bzata tentar dizer qualquer coisa e falhar por falta de
palavra -cadza-cadza -daka-daka -svata-svata -daba-daba ruído dos pés ao chapinhar orfar,
ofegar arrastar os pés simplório, pateta Os exemplos em (7), embora sejam de origem
ideofónica 5, apresentam o caso da reduplicação fossilizada pois apresentam a mesma
estrutura morfológica que os vistos anteriormente, porém apresentam-se diferentes daqueles
em dois pontos: (i) A semântica 5 O Ideofone é entendido como uma categoria linguística
típica das Línguas Bantu que consiste na associação de cor, som, estado, luz, etc que implica
uma construção psíquica dos mesmos nas cabeças dos indivíduos (Doke 1968). Marivate
(1981) diz estes terem a função de qualificar o predicador para dar a ideia de modo, cor,
estado, acção com maior expressividade, podendo estabelecer com o adjectivo relação de
tempo, de espaço, de material, de finalidade, etc. Sociais e Humanas: Situação Actual e
Perspectivas. Maputo: Imprensa Universitária. Pp Página 7
11 11 (11) * -ba -ba c.f. -b- *-wa -wa c.f. -w- *-nwa -nwa c.f. -nw- *-cha - cha c.f. -ch- Os
exemplos em (11) mostram o que seria a reduplicação total de raízes verbais de estrutura de
tipo - C-. Como se vê, o resultado da simples prefixação ou sufixação de uma forma à outra é
sempre agramatical. Para expressar a ideia iterativa nestas estruturas a língua recorre a outros
mecanismos, como seja, o uso de (-etel-) 6, um sufixo gramatical que indica frequência como
se pode ver nos seguintes exemplos: (12) -betetela bater repetidamente -wetetela -nwetetela
-chetetela cair repetidamente beber repetidamente bater, golpear repetidamente Os
exemplos em (12) mostram o uso do sufixo verbal em raízes ou bases verbais de estrutura do
tipo -C- para expressar a ideia de iteractividade. Aquilo que é expresso semanticamente
através de meios morfológicos, pode ser expresso lexicalmente como em (13) : (13) kuba
kanyingi bater muitas vezes kuwa kanyimgi kunwa kanyingi kucha kanyingi cair muitas vezes
beber muitas vezes jogar muitas vezes 6 O sufixo -etel- é extensão verbal iterativa (Sitoe 1996).
Sociais e Humanas: Situação Actual e Perspectivas. Maputo: Imprensa Universitária. Pp Página
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13 De acordo com os dados de que dispomos, podemos afirmar que o uso da estratégia
morfológica ou da estratégia lexical tem lugar quando não é possível reduplicar totalmente o
tema verbal em raízes verbais de estrutura do tipo -C-. Uma vez ocorridos os sufixos verbais
para expressar o aspecto iterativo, os processos morfológicos (derivação, flexão) vão ocorrer
em posições disponíveis para hospedá-los à semelhança de qualquer palavra na língua, os
exemplos que se seguem, onde usamos a marca do passado, são elucidativos: 13 (15) -
betetelile bateu repetidamente -wetetelile -nwetetelile -chetetelile caiu repetidamente bebeu
repetidamente bateu, golpear repetidamente Os exemplos em (15) mostram que a marca de
tempo passado ocorre na posição onde normalmente ocorre nas formas verbais nesta língua,
isto é, na posição sufixal da base verbal. Uma vez aplicada a extensão verbal, a forma verbal
obtida não aceita ser rereduplicada, como se vê nos exemplos que se seguem: (16) * tetetela-
tetela *-khetela-tetela *-nwetetela - tetela *-chetetela- tetela A explicação que se pode dar
para justificar a impossibilidade de reduplicação do sufixo em (16) é a de que a re-reduplicação
deste, torna-se desnecessária, uma vez que a ideia de frequência ou repetição já está expressa
pela extensão verbal. Sociais e Humanas: Situação Actual e Perspectivas. Maputo: Imprensa
Universitária. Pp Página 13
14 Uma restrição dá-se em temas verbais longos totalmente reduplicadas pois, sendo a ideia
iterativa expressa pela reduplicação total da base verbal o uso da extensão com essa
finalidade, torna-se redundante do ponto de vista semântico. Isto justifica a agramaticalidade
dos exemplos que se seguem. 14 (17) *-bukuxa-bukuxetela *- bukwama-bukwametela *- bula-
buletela *- bulacha-bulachetela Em termos semânticos, como já se sabe, a reduplicação total
visa expressar o aspecto iterativo. A extensão verbal é usada para expressar a mesma ideia
mas tendo em conta os diferentes pontos ou focos de observação do enunciador. Deste modo
podemos concluir que a afixação do sufixo (-etel-) é a única forma morfológica de exprimir a
ideia de iteractividade em raízes do tipo -C -. Vistos os aspectos da reduplicação do tema
verbal total, vamos, finalmente, apresentar o ponto (3) que é a conclusão. 3. Conclusão A
presente comunicação tinha o objectivo de apresentar uma descrição morfo-semântica da
reduplicação verbal em Changana. Feita a descrição, podemos ver que a reduplicação total só
ocorre com categorias gramaticais que podem ocupar a posição nuclear do sintagma verbal e
pode ser fossilizada quando não tem as correspondentes formas não reduplicadas, nos casos
que tenha a sua semântica não é todo igual à expressa pela reduplicação total. Sociais e
Humanas: Situação Actual e Perspectivas. Maputo: Imprensa Universitária. Pp Página 14
Wiesemann, D. & De Matos, R. (1980). Metodologia de Análise Gramatical. Editora vozes Ltda.
Basil. Sociais e Humanas: Situação Actual e Perspectivas. Maputo: Imprensa Universitária. Pp
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