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Não creio haver, para quem me acompanha, muito
mistério quanto à serventia de lhes ministrar algumas
aulas de português:
Sejam muitíssimo bem-vindos,
É que a coisa está feia. Muito feia.
finalmente, ao nosso
Mais feia do que bater na mãe por causa de mistura.

INTENSIVÃO DE Mais feia do que a Dilma chupando manga enquanto


vê o cachorro oculto por trás das pobres criancinhas.
PORTUGUÊS 2020 (e, para quem ainda não viu a explicação que pus lá
tudo, tudinho sem sair do Instagram e perturbar a no destaque NÃO CAGUES MAIS sobre “mais que” ou
“mais do que”: você está marcando bobeira)
rotina (ou vício) de quem acompanha, todos os dias,

os stories dessa gloriosa rede social.

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A quem já o leu,
leia-o outra vez.
Primeiro É importantíssimo gravar aquelas informações na
exercício: cabeça a ferro e fogo; imprimi-las em sulfites A4
e grudá-los nas paredes de casa, como fez Jordan
Peterson com os pôsteres comunistas e nazistas
se você está aqui mas ainda não leu
para não se esquecer jamais de como é embaixo e
meu destaque “Mandando a Real”,
sanguinário o buraco em que se pode enfiar o bicho
pare, dê um pulinho lá e leia tudo
homem.
com calma.
Nosso buraco não é sanguinário, mas é embaixo.

Depois,
volte aqui.

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ESTAMOS
EM PLENA
CRISE
LINGUÍSTICA.
Quando doutores em semiótica
não conseguem acertar uma crase Não estou falando de esmiuçar a
e (quase) toda a classe política é sintaxe de Machado de Assis ou de
francamente analfabeta, é bastante saber de cor as dezenas de tipos
seguro dizer que não estamos a diferentes de substantivos, dando a
viver sob um estado normal de cada um o nome e as características
coisas. que lhes cabem.

Estou falando de regência verbal,


Pior: muitos escritores best-sellers, por exemplo. De não saber qual é
jornalistas, tradutores e — pasmem! a preposição que obrigatoriamente
— revisores seriam cabalmente acompanha o verbo CONSENTIR.
reprovados numa prova básica de Não saber e não dar a mínima.
português.

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Digo tudo isso já no começo para que nos
contextualizemos.

Nós, todos nós (eu, tu, ele, nós, vós, eles) sofremos
duma séria incapacidade linguística.

Diz o mestre Napoleão Mendes de Almeida:

De não acertar conjugações verbais (certo crítico


“Nenhum país culto existe em
literário escreveu em seu Twitter, dias atrás, um
que o idioma nacional não seja
“antes que me ENCHEM o saco”).
ensinado diariamente. Na Itália
e na Alemanha Ocidental há
De não acertar uma colocação pronominal. De
8 horas semanais de idioma
escrever os verbos “vir” e “ter” no plural sem pôr-
pátrio, contraste chocante
lhes o acento. De não saber que o vocativo exige
com as nossas 3 parcas horas
uma vírgula para o isolar ou que, via de regra, não se
semanais, em nosso país
separa o sujeito do predicado.
que, por estatística da ONU,
é o que mais férias tem.”
E para que estou dizendo tudo isso? Para posar
de gostosão? Para criar aqui uma comunidade de
gostosões, capazes de sair por aí apontando o dedão
Já não ficamos escandalizados com algum deputado
aos erros alheios?
que discurse na Câmara com a mesma desenvoltura
que o Ronaldinho Gaúcho demonstrava em suas

Não. entrevistas pós-jogo. Quando a elite se corrompe e


rebaixa, o demais da sociedade segue-lhe o caminho.

Portanto, quero deixar uma coisa muito clara aqui:

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Está contemplando os tendões, os órgãos internos e
o sistema nervoso do idioma que você ouviu TODOS
OS DIAS desde que nasceu, e sem o qual não haveria
nem o você como é, nem sua família ou amigos como
são, e nem o País como foi, é e virá a ser.

A GRAMÁTICA NÃO É UM HOBBY. Não é Sem a ligação afetiva e o respeito à língua, o estudo
um simples meio para o fim almejado; da gramática haverá de ser sempre estéril e um puta
uma camisinha que se descarta depois PÉ NO SACO.
de alcançado o gozo supremo de um
cargo público ou vestibular gabaritado. Assim como seria um puta pé no saco estudar
Quando você abre uma gramática (já medicina sem dar a mínima para o ser humano.
lhes darei algumas recomendações) e
se depara com aquelas terminologias A Gramática do Português é, em certo sentido, o
esfíngicas e nomes bizarros que vão se próprio Português.
multiplicando feito coelhos no Carnaval
do Rio de Janeiro — o que está vendo? Existem, nessa frase, muitos poréns e problemas?
Sim.

Interessam-nos agora? Não.


Está vendo O que me interessa é fazê-los levar a sério a língua

o esqueleto que os formou. Com este CF, não tenho a pretensão


de lhes dar um curso completíssimo de português —
o que seria descabido tanto pela limitação do formato
da sua língua. quanto pelas limitações atuais do professor.

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Quero: DEFINIÇÕES
1) afinal de contas, a gramática: para que serve?
DE GRAMÁTICA:
2) Ensinar-lhes um caminho mais seguro para “Denomina-se gramática a reunião ou exposição
estudá-la. Uma porta pela qual vocês possam ali metódica dos fatos de uma língua”. — Napoleão
entrar sem que se sintam perdidos, dando murros Mendes de Almeida
cegos em pontas de facas gramaticais;
3) Fugir ao formato comum de ensino de português
atual, que, por um lado, exibe o professor feito
um palhaço obrigado a fazer macaquices para ser
ouvido, e, pelo outro, restringe a língua inteira
a simples macetes e decorebas desligadas de
qualquer explicação lógica sobre seus mecanismos “A chamada gramática normativa… estabelece
internos; padrões de certo e errado, correto e incorreto,
4) Não é um intensivão voltado especificamente a para as formas do idioma. A gramática normativa
quem queira passar no ENEM, em alguma prova estabelece a norma culta, ou seja, o padrão
de vestibular ou nalgum concurso. É português linguístico que socialmente é considerado modelar e
para quem quer AUMENTAR SUA CAPACIDADE é adotado para ensino nas escolas e para a redação
EXPRESSIVA e potencializar uma de suas dos documentos oficiais. Seu papel é apontar o
PRINCIPAIS FACULDADES: a língua; que configura a existência de um padrão linguístico
uniforme no qual se registre a produção cultural. —
Em última instância, o vocábulo GRAMÁTICA vem Pasquale
do grego GRAMMATIKÉ — “ciência ou arte de ler e
escrever”. Ou, mais apropriadamente, “ciência dos
caracteres gravados, da escrita”.

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ANTÔNIO FERREIRA
“A gramática, antes de
“A língua não é ‘imposta’ ao homem; este ‘dispõe’
tudo, constitui-se a arte
da escrita. Como a escrita dela para manifestar sua liberdade expressiva”. -
é, porém, signo da fala, a Bechara
Gramática quer (dentro de
certos limites) normatizá-
“Minha pátria é a língua portuguesa”. - Fernando
la, e servir à Arte da
Linguagem”. Pessoa

Antes que se comece a estudar algum ramo do


conhecimento, não é má ideia gastar algum tempo
para aprender qual é, afinal de contas, o FIM a que
se destinam aquelas incontáveis informações e
regras e deves e não deves.
Floresça, fale,
cante, ouça-se e viva Muita vez, o radar de “não soa bem” está CERTO.
A portuguesa língua, E, em última instância, que é o tal radar senão a
e já onde for, SENSIBILIDADE SONORA à língua, a apreensão
Senhora vá de si,
soberba e altiva! intuitiva de sua realidade primária?

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Na última aula, quis deixar claro quais são os
objetivos deste nosso CF e enfatizar por que escolhi
AULA 2 tais objetivos e não outros.

A julgar pelas entusiasmadíssimas respostas que de


vocês recebi pelo direct, vi que tinha feito realmente
o certo ao não entrar logo de cara nos conteúdos
gramaticais.

Porém, acabei não dizendo na sexta-feira tudo


quanto queria ter dito e, depois de muito matutar no
assunto, cheguei à conclusão de que o melhor seria
jogar o resto do conteúdo para hoje — o que, aliás,
fará mais sentido, como logo se verá.

Se vocês ainda se lembram de quais eram os dois


primeiros objetivos que listei na primeira aula (o que
espero seja o caso, mas não sou ingênuo), afirmei
que

(1) gostaria de lhes dar uma visão mais clara sobre a


natureza e o fim da gramática,

e (2) oferecer-lhes uma porta de entrada segura, ou,


melhor dizendo, um mapa para que com ele vocês
possam se guiar quando forem estudar a coisa por
conta própria.

É isso que
tentaremos
fazer hoje.
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Depois, hei de entrar no assunto que teria sido o Se for até o Youtube, o único lugar (por enquanto)
complemento da primeira aula, mas terá serventia onde há conteúdos mais sistemáticos, ainda assim
infinitamente maior se for exposto após as não se encontra um só vídeo que discuta a natureza
informações que virão a seguir. e importância da gramática, delimitando SEU fim
além de seus meios e mecanismos internos.

QUE É A A pergunta “para que serve?” parece nem mesmo


existir.
GRAMÁTICA E
PARA QUE SERVE? POR QUÊ?
É um bocado assombroso que quase ninguém hoje A verdade nua e crua é a seguinte: a gramática
em dia se faça uma pergunta tão óbvia. não está nos seus melhores dias. Fatores de ordens
política, educacional, acadêmica e cultural (ou,
E não me refiro especialmente aos leigos e melhor dizendo, civilizacional) vieram nas últimas
estudantes. Não quero dizer que seja fantástico um décadas embaralhando, transformando e aviltando a
motoboy chegar em casa, depois de passar 10 horas gramática.
no trânsito infernal de São Paulo, tirar o capacete e
NÃO se perguntar, com os olhos distantes em busca Primeiro, segundo nos informa o prof. Carlos Nougué
da Sabedoria: “mas o que é a gramática?” no prólogo de sua Suma Gramatical, a gramática das
línguas modernas foi-se fazendo às pressas e quase
no improviso quando, entre os séculos XIV e XVI,
Estou falando sobre o ensino mesmo da disciplina. firmaram-se os estados absolutistas e o latim deixou
Aqui no Instagram há muitas páginas sobre de ser a língua exclusiva da civilização.
português e gramática.

Se você espiar algumas delas, haverá de ver mais


do mesmo repetido até a exaustão: dicas soltas e
principais dúvidas. OS parônimos, a crase, a nova
regra ortográfica e as regras de acentuação.

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Para a gramática, a consequência foi a disciplina
Como as tais línguas não tinham uma tradição escrita ter sido reduzida como o inglês: a partir de então,
de serviço às ciências e à filosofia, os gramáticos aprender-se-ia gramática só para conseguir
viram-se obrigados a fundamentar seus preceitos nos uma aprovação em concursos e vestibulares. A
escritores que tinham às mãos: os literatos. elevadíssima ciência da linguagem fora reduzida a
regrinhas e macetes infernais — o que também se vê
Mas o grande escritor é, quase por definição, alguém hoje em dia, EM TODOS OS LUGARES.
que escapa às regras estabelecidas a fim de explorar
novas potencialidades da língua e aumentá-la e Terceiro, a ideia mesma do que é uma Universidade
fortalecê-la. moderna só veio reforçar o pensamento utilitarista
e reduzir a cultura em geral como as reformas
Logo, diz o professor que as gramáticas “não educacionais dos militares haviam reduzido o
buscavam com suficiente empenho fechar quanto português.
possível paradigmas, e compraziam-se na
multiplicação das exceções”. (a vocês que já me pedem exercícios, façam este
aqui: leiam o ensaio MARAVILHOSO de Otto Maria
Ou seja, as gramáticas não tinham rigor lógico Carpeaux chamado “A Ideia da Universidade e
suficiente para criar regras consistentes, que as Ideias das Classes Médias”. É só arrastar para
pudessem resistir a ataques (que virão mais tarde). cima)

Segundo — ainda tendo o prof. Nougué como guia Quarto, o surgimento e vertiginoso crescimento
—, houve na década de 70 uma reforma educacional da linguística, que sem demora começou a invadir
empreendida pelos militares positivistas com um só o terreno da gramática e minar-lhe a autoridade
fim: transformar a educação numa força capaz de (quando não negava, sem rodeios, a própria validade
criar bons profissionais. da sua existência enquanto disciplina).

Separou-se a faculdade de Filosofia da de Letras, Alguns linguistas puseram-se a atacar os


arrancou-se do currículo escolar o Latim e o Francês fundamentos de que se valiam as gramáticas
e reduziu-se o Inglês à sua utilidade como língua tradicionais para normatizar a língua. Os ataques
do mundo comercial e “prático”. O famoso aprender foram eficacíssimos. A gramática cambaleou, e feio.
inglês para conseguir um trabalho melhor, que até
hoje existe. Quinto, nas últimas décadas a qualidade do ensino no
Brasil sofreu um baque TERRÍVEL, e nossos alunos

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tiram sistematicamente os últimos lugares nos testes
internacionais de educação básica. De novo, chamo à Basicamente, a gramática observa com atenção como
atenção meu destaque “Mandando a Real”. a língua é usada por seus MELHORES USUÁRIOS e
vai procurando sistematizá-la, ora trazendo à luz
Pronto. Com esse brevíssimo apanhado, já se torna regras implícitas e como que “naturais”, ora criando
mais compreensível por que a gramática nos dias por força política regras convencionais para que a
atuais parece ser rejeitada nos centros acadêmicos, língua seja padronizada e não se perca num enorme
reduzida pelos cursinhos e quase ignorada no ensino samba do crioulo doido linguístico.
básico (isto sem falar na ideologização em massa do
ensino). A gramática serve, portanto, para estabilizar uma
língua (pois as línguas sofrem mudanças constantes)
Mas eu não me proponho a descascar aqui esse e transformar num sistema reproduzível os melhores
abacaxi. Só quis dar-lhes o apanhado para que usos desta mesma língua.
vocês saibam por cima quais são as questões
inevitavelmente ligadas ao estudo da disciplina, e (Há muitas, MUITAS questões aí no meio. Mas o
para que se compreenda mais facilmente o que direi básico é isso e, por enquanto, o básico basta).
a seguir.
“Beleza, Raul. E aí, o que eu tenho a ver com isso?”

A partir da próxima aula, havemos de entrar em


O QUE É A GRAMÁTICA? conteúdos gramaticais estritos. Não quero que vocês
caiam naquelas regras de paraquedas, sem saber por
que estão lá.
Segundo Celso Pedro Luft, a gramática normativa
(que é a gramática de que trataremos aqui) “procura A inteligência humana é um troço maravilhoso:
estabelecer um padrão de bem falar e bem escrever; funciona muito melhor quando não o põem para fazer
codificar um uso modelar pautado pelas classes um serviço mecânico de repetição e memorização
cultas e escritores consagrados.” sem saber bulhufas sobre o objetivo da coisa toda.

Agora vocês já estão mais preparados para pegar a


Segundo Napoleão Mendes de Almeida, é “a reunião gramática pelos chifres e domar a fera.
ou exposição metódica dos fatos de uma língua”.

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1 - O surto desenvolvimentista de 70 e Jarbas O que você pode fazer?
Passarinho;
2 - O surgimento e crescimento da linguística Três coisas.
enquanto ciência da linguagem autônoma e separada
da Gramática; 1 - Pode aumentar tanto a frequência quanto a
3 - A própria noção de Universidade e sua separação qualidade de suas leituras, delas se valendo sempre
dos ideais elevados de Cultura: a proletarização do para aprender algo sobre o mundo REAL. Depois,
ensino (Carpeaux) comece a praticar sua escrita.

Dúvidas gramaticais começarão a surgir


espontaneamente, ao longo de suas leituras e
QUOTES escritas.

“Ferdinand Brunot queria que a escola ensinasse Consulte as gramáticas para tirar ESSAS dúvidas.
a língua e não a gramática. Todas as pessoas
sensatas devem querer o mesmo. O que importa é o 2 - Descubra qual é a hierarquia dos estudos. Isso
conhecimento da língua, e não de nomes ou teorias. faremos precisamente aqui, no CF. Não abordaremos
E conhecer a língua é saber usá-la com adequação todos e quaisquer pontos da gramática — só os que
e justeza, e não analisá-la ou decorar regras me parecem mais importantes para, a um só tempo,
fantasistas”. — Celso Pedro Luft, Gramática Resumida dar-lhes uma base razoavelmente sólida e melhorar,
já agora, sua escrita.
Se você apenas escolher uma gramática a esmo,
derramar a bunda sobre uma cadeira e resolver lê-la 3 - (E essa dica VALE OURO): prestar atenção às
de cabo a rabo, tenho más (ou boas) notícias: você nomenclaturas, em vez de por elas apenas passar
não vai conseguir. correndo ou só enfiá-las na cabeça à força de cega
decoreba.
Até hoje, eu mesmo não li uma só gramática inteira.

Consulto-as sempre, comparo-as umas com as outras


e não as largo — mas não as leio da primeira à
última página.

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Faça algum esforço para entender por que tais
nomenclaturas foram escolhidas. Nem todas
são absurdas ou inúteis. Adjetivos restritivos ou
explicativos, substantivos derivados, palavras
variáveis, apostos, sufixos, acento indicativo de
crase (e não só crase)…

O esforço da inteligência — que é, sempre, em última


instância o esforço de fazer ligações entre entes —
será recompensado.

Na próxima aula, hei de lhes recomendar alguns


livros e já entraremos no conteúdo gramatical.

E por favor: pintem os stories de que gostaram mais


e os repostem!

VAMOS DEIXAR A GALERA


COM AQUELA GOSTOSA DOR
DE COTOVELO.

AULA 3

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Sejam muitíssimo bem-vindos à nossa terceira aula, É como o cego que, precisamente por ser cego,
senhoras e senhores #chegados! desenhasse linhas tortas num papel e se julgasse o
próprio Picasso. A imensa dificuldade do ofício ser-
Nas últimas duas aulas, julguei que seria melhor lhe-ia invisível.
dar-lhes uma visão panorâmica do assunto para
que estivéssemos todos a par de quais são suas Portanto, meus chegados: consultem gramáticas.
dificuldades e de qual é o meu objetivo. Consultem compêndios de dificuldades gramaticais.
Consultem sites (confiáveis). Consultem dicionários.
Agora, está na hora de entrar no assunto.
NINGUÉM É OBRIGADO A SABER TUDO SOBRE
E a primeira coisa a se fazer é óbvia: onde conseguir PORTUGUÊS. Até mesmo os mestres mais
material de apoio confiável para continuar os estudos aquilatados invariavelmente prefaciam suas obras
após (e até durante) o CF? O que ler? Há muitas com antecipações de pedidos de perdão por
gramáticas no mercado. quaisquer erros, além de humildes convites para que
seus pares os corrijam se for necessário.
Ora, como eu já disse, a ideia de pegar um
calhamaço de gramática e lê-lo de uma ponta à outra Consultem, consultem, consultem.
é história pra boi dormir. Mas não ler a coisa inteira
não quer dizer que não se deva lê-la em absoluto. Agora, vamos às recomendações.

A primeira lição de hoje é: consultar gramáticas Fujam da gramática de Evanildo Bechara. Por
deve se tornar um hábito. que é ruim? Não. Por que Bechara não é confiável?
Não.
Você não deve se sentir um analfabeto se estiver
vasculhando as páginas de um volume qualquer É que sua gramática foi escrita para outros
para não deslizar na conjugação dum verbo ou saber estudiosos. Não é uma gramática para estudantes, e
quando usar um pronome reto ou oblíquo. sobretudo não se destina a leigos e simples falantes
do português, como nós, que estão querendo
Por definição e experiência própria, digo-lhes com dominar melhor sua própria língua.
toda a certeza que só não sente dúvidas sobre
o português QUEM NÃO SABE QUASE NADA DE É uma gramática cheia de questiúnculas periféricas,
PORTUGUÊS. escrita num português acadêmico e científico que não
é lá muito convidativo.

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e poucos aguentariam o tranco de ler sua gramática;
Até onde li, gostei da “Novíssima Gramática da 2) elegantíssimo escritor, sua linguagem não é
Língua Portuguesa” do Domingos Paschoal Cegalla. simples. Isto é: para quem não está acostumado a
ler, seu português não é coisa que se leia de modo
Sua linguagem é clara, direta e elegante. Mas não fluído e mais tranquilo.
a li o suficiente para que possa recomendá-la sem
reservas. Repito: Napoleão é um mestre e referência
incontornável. Só não acredito ser o mais
Quanto à Suma Gramatical do prof. Carlos recomendável para nós, estudantes da primeira
Nougué, livro sobre o qual recebo perguntas quase metade do séc. XXI.
diariamente, aqui vai a perspectiva de um
estudante: seu estilo não é claro. Às vezes, tenho Segundo — e finalmente —, chegamos à Nova
que fazer muito esforço para acompanhar-lhe o Gramática do Português Contemporâneo, de Celso
raciocínio, tudo porque houve em alguma frase certa Cunha e Lindley Cintra.
inversão sintática que seria dispensável.
E aí está a gramática que lhes recomendo.
Não acho que a maior parte das pessoas vá
conseguir sair-se melhor do que eu com sua Suas vantagens são muitas: 1) a linguagem é, como
leitura. O assunto, sozinho, de vez em quando já a do Cegalla, clara, acessível e elegante;
é espinhoso; não convém pôr espinhos também no 2) o papel normativo da gramática é por eles bem
cabo da tesoura que usamos para cortá-lo e podá-lo. fundamentado, sem muitos rodeios ou a linguagem
hermética do Bechara;
E aí nos sobram as duas gramáticas que mais 3) TODOS seus exemplos foram retirados de bons
recomendo. escritores, e não somos bombardeados com aquelas
frases aleatórias como “Pedro pegou a bola”;
Primeiro, a do mestre Napoleão Mendes de 4) Os autores não ficam de lengalenga e são
Almeida. Em vida, Napoleão foi internacionalmente bastante diretos. Suas explicações são curtas,
reconhecido como uma das maiores autoridades eficientes. Não se demoram mais do que é preciso e
sobre a língua portuguesa. Até hoje, é referência não se deixam desviar;
incontornável quando se trata de português. 5) Portanto, sua leitura é agradável, proveitosa e
(tanto quanto é possível) fácil.
Só não a ponho em primeiro lugar porque 1)
Napoleão é, pedagogicamente, extremamente rígido, E com mais uma vantagem: a editora Lexikon lançou

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uma “Gramática Essencial”, organizada creio eu por
alguma parente de Celso Cunha, que é baseada na A FONOLOGIA/FONÉTICA ocupa-se do aspecto
Nova Gramática do Português Contemporâneo e sonoro das palavras; a MORFOLOGIA de todos os
a simplifica e reduz, voltando-a para o público do seus demais aspectos, sejam eles materiais, sejam
ensino médio. imateriais; a SINTAXE ocupa-se das palavras em
relação às outras que com elas se juntam para
É um livro de bolso, minúsculo, com 400 páginas. Eu formar frases.
o adoro e lhes recomendo também, enfaticamente.
Ora, já adiantemos algo aqui: a FONOLOGIA/
E aqui encerramos a primeira parte da aula de hoje. FONÉTICA é a parte menos importante das três.
Na segunda parte, como prometido, começaremos a Quanto às outras duas, há tamanha interconexão
mapear o terreno gramatical. entre ambas que alguns hoje em dia já falam apenas
de MORFOSSINTAXE.
Façam seu break, tomem seus cafés e esvaziem suas
bexigas. Voltamos daqui a pouco. O que estudam a Fonologia e a Fonética?

Uma e outra estudam, como já dito, o aspecto sonoro


SEGUNDA PARTE das palavras. A diferença é que a Fonética estuda
as variações (ou manifestações possíveis) de um
A Gramática (será conveniente usar a letra maiúscula MESMO FONEMA. Sabem os sotaques? Pois é, campo
quando estiver me referindo à disciplina ou ciência da da Fonética.
Gramática, coisa que até aqui não fiz) divide-se em
três partes, cada uma dedicada à descrição e análise Já a Fonologia ocupa-se dos sons que são distintivos
de um SISTEMA: de significado entre as palavras. Dizer “avó” não é a
mesma coisa que dizer “avô”. Há uma diferença de
sentido. Campo da Fonologia.
FONOLOGIA/FONÉTICA, ou sistema fônico
MORFOLOGIA, ou sistema mórfico A Fonética, portanto, é um campo de estudos
SINTAXE, ou sistema sintático. reduzidíssimo e já fica fora da jogada. Continuemos
com a Fonologia.
Como já reiterei aqui várias vezes, quando se trata
de estudar a Gramática de forma prática as três A Fonologia estuda, por exemplo, como é que nosso
partes NÃO ESTÃO EM PÉ DE IGUALDADE. aparelho fonador materializa os vários fonemas.

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e a Prosódia (que se ocupa das pausas, dos acentos
“Raul, não entendi bulhufas”. e dos tons. A Ortoépia restringe-se aos chamados
“fonemas segmentais”: as vogais e as consoantes).
Reformulemos: a Fonologia quer saber o que fazem
os pulmões, a traqueia, as cordas vocais e os lábios e “Ótimo, Raul. E o Kiko?”
os dentes e a p**** toda quando dizemos um “a”.
E o Kikocê tem a ver com tudo isso é o seguinte:
As cordas vocais deixaram o ar passar livre, leve ainda que a realidade primária de uma língua seja
e solto ou fizeram-lhe algum obstáculo? Em que SONORA e não ESCRITA, e ainda que eu sempre lhes
posição estava a língua na boca? E os dentes, que diga para que vocês treinem os seus ouvidos (que a
raios estavam aprontando? Os lábios estavam boa escrita tem cadência e ritmo etc.), a verdade nua
fechados ou arreganhados? e crua é que a Fonologia não fará grandes maravilhas
E por aí vai. pelo seu português prático.

A Fonologia também define e classifica as vogais e Saber se uma consoante é “oclusiva”, “vibrante” ou
consoantes, além de estudar como funcionam os “lateral” é quase perfeitamente irrelevante para o
encontros fonêmicos — isto é, em vez de só estudar usuário normal da língua. Quanto à acentuação, o
os fonemas separadamente, vai lá e os observa em melhor jeito de acertá-la é ter muito contato com
ação, todos juntinhos numa palavra. quem escreve bem e fazer consultas a qualquer
dicionário, sempre que surgirem dúvidas.
Caem sob sua jurisdição as sílabas e o estudo da
Tonicidade (vale lembrar que as palavras só têm Eis o ponto: saber como funcionam os mecanismos
sentido quando existe uma sílaba tônica e ela está sonoros da língua não é tão importante e frutífero,
posta no lugar certo. O significado mesmo de uma NA PRÁTICA, quanto compreender as classes
palavra dita só existe se a ênfase da voz recair gramaticais ou dominar um tiquinho a análise
sobre este ou aquele grupo de letras. Um troço bem sintática.
importante e curioso).
Quando se trata do som, é mil vezes mais importante
Depois, vêm a Ortoépia (que se ocupa da correta treinar o ouvido esteticamente do que se entupir de
pronúncia dos fonemas: tanto de palavras soltas conceitos sobre o funcionamento fônico duma língua.
quanto da ligação sonora adequada que deve haver É mais importante você ler uma frase, reproduzi-
entre uma palavra e outra); la mentalmente e conseguir dizer: “isso SOA
HORRÍVEL”, do que ter na ponta da língua que uma

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consoante surda é produzida por cordas vocais que
não vibram.
Futuramente (isto é, fora deste CF), quando
estudarmos a língua de forma mais completa e
sistemática, havemos de abordar a Fonologia. Por
enquanto (isto é, dentro deste CF), o que faremos é
estudar certos aspectos da Morfologia e da Sintaxe —
ou, para os mais chegados: estudar a Morfossintaxe.

Nos vemos na próxima aula.

AULA 4

Classes Gramaticais e
Substantivos

CLASSES GRAMATICAIS
E SUBSTANTIVOS

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Chegados, sejam bem-vindos à nossa quarta aula! dessas 10 classes.

Na última, pus de lado o estudo pormenorizado da Já Platão e Aristóteles tinham notado que havia
Fonética e Fonologia e lhes expliquei meus porquês. basicamente dois TIPOS de palavras. Isto é, que
palavras diferentes exerciam funções IGUAIS. Eram
Agora, pois, entremos no estudo da primeiríssima elas os SUBSTANTIVOS e os VERBOS.
área gramatical que exige nossa atenção. Estudá-la e
entender como funcionam seus mecanismos internos Com o passar do tempo, foi-se aprimorando o estudo
haverá de ter efeitos REAIS e IMEDIATOS sobre o e, no caso do português (pois há outras línguas com
uso diário da língua. mais ou menos classes), chegou-se a DEZ TIPOS de
palavras.
Não, não é a Ortografia (mais comentários sobre a
pobrezinha later). Sim. As classes gramaticais são DEZ. Algumas bem
curtinhas, outras um pouco mais longas.
Estou falando das CLASSES GRAMATICAIS.
Saber mais ou menos para que serve (o que, no
“Raul, meu Deus do céu, já começaram aqueles fundo, é o critério que se usa para classificá-las) cada
termos bizarros, sobre os quais não entendo uma delas já lhes será de ENORME AJUDA para saber
bulhufas e cuja compreensão está reservada a muito mais sobre a língua. É a primeira porta de
uma casta de gênios, aiputamerdatôpassandomal e entrada que lhes prometi.
xfaegegsgsngsoihgsuehaca”
São elas:
PALMA! Não priemos cânico.
SUBSTANTIVO
Como diria o Bane, do terceiro filme (lixo) da trilogia ADJETIVO
do Batman: VERBO
PRONOME
“Now is not the time for fear. That comes later”. NUMERAL
ARTIGO
CLASSES GRAMATICAIS quer dizer, pura e ADVÉRBIO
simplesmente, “grupos ou conjuntos organizados de PREPOSIÇÃO
palavras”. Quer dizer que as mais de 400 mil palavras CONJUNÇÃO
(!!!!) do português cairão, forçosamente, em uma INTERJEIÇÃO

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com a definição da classe: preposições são palavras
As seis primeiras, que estão agrupadas todas que LIGAM outras palavras, estabelecendo entre elas
juntinhas, são VARIÁVEIS. Ou seja, são palavras que certas relações.
podem variar (dur) de acordo com gênero, número
e (no caso dos VERBOS, a classe mais variável de Ora, se ligam palavras, como raios podem ser o final
todas) tempo, modo, aspecto, número e pessoa. de uma frase? Seria como grudar uma ponte na
lateral de um prédio — algo ia estar faltando.
Às outras quatro dá-se o nome de INVARIÁVEIS. Ou
seja: que não variam (dur). O certo seria: “…entre as coisas sobre as quais
temos controle e sobre as quais não temos controle.”
Quando este que vos escreve começou a estudar Reordenar a posição da preposição aliás nos obriga
português, havia um problemão: eu não sabia direito a melhorar a frase no geral, trocando “que” por “as
o que significavam as dez classes gramaticais. quais”.

Ou seja, não sabia DE VERDADE para que servia A mesma coisa dá-se infinitamente com todas
um pronome, uma conjunção ou até um adjetivo. as demais classes de palavras. Se você aprendê-
O resultado era eu ficar completamente perdido las direitinho, uma enormidade inacreditável de
quando lia a explicação de algum gramático, toda ela problemas NÃO SURGIRÃO. Assim como não
fazendo referência (óbvia e inescapável) às classes surgiriam para um pedreiro que sabe exatamente
de palavras. o que car**** fazem todas as suas ferramentas, e
conhece-lhes todas as potencialidades.
Se você não tem a mínima ideia do que é uma
preposição, por exemplo, certas explicações não lhe Portanto, o que eu farei nas próximas aulas é
explicarão nada. repassar com vocês, uma a uma, todas as dez
classes gramaticais.
Exemplo: a mania, contrabandeada da sintaxe do
inglês, de terminar as frases com “sobre”. Dias atrás, Já adianto: no que toca ao nosso aprendizado, elas
li no Instagram a seguinte frase: “…a importância do não têm todas a mesma importância. As duas mais
discernimento entre as coisas que temos controle importantes são o SUBSTANTIVO e o VERBO, porque
sobre e as que não temos controle sobre”. constituem a base das frases. Sem as duas, nada
feito.
Se você souber direitinho o que é uma preposição, a
falta de noção do que se lê acima fica-lhe evidente só Entre o substantivo e o verbo, a que mais nos tomará

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tempo é o verbo. Pois os verbos são as benditas
palavrinhas que MAIS VARIAM (contem aí: gênero, SUBSTANTIVOS são palavras com que nomeamos os
número, pessoa, modo, tempo, voz…), e, sozinhas, seres em geral. Eis a definição que está nas melhores
determinam uma cacetada inteira de informações gramáticas.
essenciais à compreensão das frases.
Mas apenas seres físicos, palpáveis, como cachorros,
Como, por exemplo, QUEM fez o QUE e QUANDO. ou chutáveis, como políticos e latas de lixo? Não.

Outras classes, como os numerais, os artigos Também seres imaginários, fabulosos. Seres como as
e as interjeições são tranquilíssimas, e descem sereias, os unicórnios ou o Zé do Caixão.
redondamente pela garganta do intelecto até o
estômago da compreensão (patrocínio, SKOL). E aí vem uma pergunta:

Porém, chega de blá-blá-blá e comecemos. [ENQUETE]

Comecemos com o tipo de palavras mais antigo de BELEZA, por exemplo, é substantivo ou
todos. adjetivo?

Tão antigo, a bem dizer, que foi nosso pai Adão o Como você viu, BELEZA é um substantivo. Mas que
primeiro a usá-lo. raios de SER é BELEZA? Não é um bicho imaginário
ou algum objeto material. Não é uma pessoa. Mas é
E disse Deus a Adão, em meio a sei lá quantos alguma coisa (e aqui entramos em uma das muitas
bilhões de bichos, que iam desde chiuauas até maravilhosas confluências que há entre o estudo
Tiranossauros Rex, no Jardim: “dê nomes a todos da linguagem e a filosofia; o estudo da realidade
eles.” mesma).

Vamos começar com o SUBSTANTIVO. Ora, dizer que “Henry Cavill é belo” (o desgraçado
fica mais bonito do que 99% da humanidade com a
“Raul, TODO MUNDO sabe o que é um substantivo”. desgraça dum BIGODE) não é a mesma coisa que
repetir a célebre frase, atualmente descolada entre a
Sabe mesmo? gente conservadora: “A Beleza salvará o mundo”.

Então, vamos à luta. No primeiro caso, a “beleza” é uma QUALIDADE ou

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CARACTERÍSTICA do SER que é Henry Cavill. No Derivados: os que derivam de outra palavra.
segundo caso, o SER é a própria BELEZA. Trata-se da Pedreira, ferreiro, dentista, trovoada.
substância mesma da coisa. Ela em si. Não ela como
característica de alguma outra coisa. Coletivos: os que designam um conjunto de seres
da mesma espécie. Constelação, exército.
Os substantivos que designam seres que, reais ou
não, têm formas materiais identificáveis (unicórnios PRESTEM ATENÇÃO: o mais importante, de
são cavalos com chifres; pessoas são bichos com longe, é você conseguir IDENTIFICAR se uma
duas pernas), são chamados de CONCRETOS. palavra é substantivo ou não.
Os substantivos que designam palavras como
beleza, coragem, amor, frio etc. são chamados de Portanto, para os fins práticos que nos orientam
ABSTRATOS. Designam noções, ações, estados e neste CF, as duas classes mais importantes são os
qualidades TOMADOS COMO SERES. concretos e os abstratos. Comece a TREINAR sua
percepção, identificando-os nas frases que você ler e
São os dois tipos principais. Existem outros: escrever.

Comuns: os que designam seres da mesma espécie. Uma clareza até ali insuspeita começará a surgir-lhes
Cavalo, menino, computador (há vários cavalos, na inteligência. Eu lhes garanto.
meninos e computadores)
OBSERVAÇÃO:
Próprios: os que se aplicam a um ser em particular.
Só existe um Ronaldinho Gaúcho no mundo; não existe, na língua portuguesa, uma coisa chamada
aguentaríamos dois homens de tamanha qualidade; SUBSTANTIVAÇÃO. Ocorre ela quando uma palavra
que originalmente NÃO ERA um substantivo age,
Simples: os que são formados de um só radical. vejam só, como um SUBSTANTIVO.
Chuva, pão, lobo
Exemplo: “O cantar dos pássaros alegra a manhã”.
Compostos: os que são formados por mais de um “Cantar”, originalmente um verbo, aí aparece
radical. Guarda-chuva, passatempo, beija-flor. substantivado. Funciona como “canto”. Também as
palavras substantivadas vocês têm que se treinar
Primitivos: os que não derivam de outra palavra da para perceber, a partir de agora.
língua portuguesa. Pedra, ferro, dente, trovão.
Uma dica importantíssima é: para que possam ser

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substantivadas, as palavras (que podem vir de quase (Não, é adjetivo. Por quê? Porque “amigo” aí é
todas as outras classes gramaticais) têm que estar um característica ou qualidade do gesto, e não a
acompanhadas ou de um artigo (como “o cantar”); “substância” do que é um amigo.

ou dum pronome (“eu não aceito seu não como Substantivos podem funcionar às vezes como
resposta). adjetivos. Não lhes expliquei isso na aula e pus
a pergunta aqui para testá-los mesmo. Não se
NÃO SE PREOCUPEM com decorar todos os tipos de preocupe se você, amigo ou amiga, errou esta aqui.)
substantivos. O mais importante é, repito, vocês
treinarem sua percepção. Hoje paramos por aqui, meu povo. Espero que
tenham gostado da aula, e que o conteúdo lhes tenha
Treinem seus olhos para identificar os substantivos ficado claro. Caso contrário, enviem-me mensagens.
e, repito (de novo): uma clareza que chega a ser
estranha começará a surgir, e não só na leitura de Se a aula foi boa, peço-lhes o de sempre: pintem
vocês. Nas suas cabeças. Uma ordem maravilhosa. alguma tela de que gostaram bastante e a
compartilhem nos seus perfis!
E, para ajudá-los com isso, vamos a alguns
exercícios: Até amanhã!

Na frase “O aluno interessado vai bem nas provas”


a palavra em negrito é um substantivo?

(Não, é um adjetivo. É uma característica de


“aluno”.)

E na frase “O interessado é ele, e não eu”?

(Sim, é substantivo. Notem a presença do artigo


“O”.)

Na frase “Todos agradeceram seu gesto amigo”:


AMIGO é substantivo?

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CHEGADOS, sejam bem-vindos à quinta aula do
nosso Intensivão!

Na aula de ontem, enfim lhes apresentei a porta de


entrada que havia prometido para um estudo mais
ordenado, fluído e fecundo da Gramática: as classes
gramaticais.

Expliquei-lhes o conceito de SUBSTANTIVO, vimos


por cima quais são seus diversos tipos e, no final,
bati numa tecla diferente: disse-lhes que vocês
precisavam treinar-se para identificar os substantivos
nos textos que leem e escrevem.

Hoje, havemos de passar à segunda classe


gramatical mais importante de todas. A classe
de palavras que, junto com o substantivo, é a
responsável por criar a base das frases. Portanto, a
base da língua e do raciocínio mesmo.

A bem dizer, o verbo é tão importante para a


construção do sentido que, mesmo se arrancássemos
de um certo parágrafo todas as outras palavras,
deixando apenas os verbos, ainda assim restaria
algum sentido bastante identificável:

“Fulano bebeu tanto que cambaleou, escorregou


no bar e caiu com a cara no chão.”
VERBOS Bebeu - cambaleou - escorregou - caiu. Ainda se
pode ver algum sentido, aliás bastante claro. Tem-se
aí a jornada dum pé-de-cana.

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Se, porém, tirássemos todos os verbos da frase… olhos, tocar pandeiro na rodinha de samba… são
todas ações. Verbos.
O verbo é a classe de palavras mais variável da
língua, com flexões de PESSOA, NÚMERO, MODO, E o que são ações? Ação é tudo o que se faz. São
TEMPO e VOZ; quaisquer operações de um agente, humano ou não.

É o eixo em torno do qual gira toda a análise Ninguém “faz” Beleza. Faz alguma coisa que é bonita.
sintática. Seu ponto de partida; Pintar um quadro, por exemplo.

São as palavras que, sozinhas, dizem QUEM fez o Mas não é só isso.
QUE (ou o QUE aconteceu a QUEM), e QUANDO.
[Enquete]
Senhooooooooooooras e Senhoooooooooooores:
“Ontem choveu”. Há um verbo na frase?
Subindo ao ringue do Intensivão, pesando sei lá
quantos incontáveis quilos (com suas milhares de Sim. “Choveu” é um verbo. Verbo sem agente.
palavras), a Classe Gramatical que já fez muita Designa ele um fenômeno da natureza.
gente beijar a lona e todos os dias nocauteia sem dó
usuários incautos da língua portuguesa: “Tenho estudado bastante português”. Tenho é um
verbo?
Os VEEEEEEEEEEEERBOS (plateia vai à loucura)
Sim. É um verbo auxiliar: tem a função de juntar-
Como no caso do substantivo, hei de dar ênfase às se às formas nominais de outros verbos para criar
partes e características do verbo que me pareçam coisas como a voz passiva (“foi ferido” em vez de
mais imediatamente úteis a vocês, assim como foram “feriu”), os tempos compostos (“tinha chegado”) e as
a mim. locuções verbais (“hei de + verbo”).

Vamos começar, portanto, pelo inescapável: “Faz dois anos que eu criei esta minha conta do
sua DEFINIÇÃO. Instagram.” Além de “criei” existe algum outro
verbo?
“Raul, verbos não são ações?”
Sim, o verbo impessoal “faz”, que aí está designando
Sim, são. Jogar bola, esmurrar alguém, piscar os tempo transcorrido.

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algumas características suas, e é com isso que nos
Portanto, de cara fica claro que “verbos são ações” ocuparemos nesta e, possivelmente, na próxima
não é uma definição suficientemente abrangente. aula.

Vamos, portanto, de Cegalla: “Verbo é uma palavra Comecemos com suas cinco possíveis flexões.
que exprime ação, estado, fato ou fenômeno.
PESSOA
Ou de Celso Cunha e Lindley Cintra: “Verbo é uma NÚMERO
palavra de forma variável que exprime o que se TEMPO
passa, isto é, um acontecimento representado no MODO
tempo”. VOZ

Bem melhor, não é? Sobretudo esta última, PESSOA e NÚMERO


que define o verbo como algo que designa um
acontecimento qualquer representado no tempo. Ambas as flexões andam juntas, pois determinar
a pessoa é determinar também o número. Que é a
Qualquer verbo, seja ele composto ou não; esteja PESSOA?
ele no modo subjuntivo ou indicativo, na forma
regular ou irregular, na primeira, segunda ou terceira É quando o verbo indica, pelas suas desinências, qual
pessoa, não importa: estará sempre designando um pessoa está sendo privilegiada na comunicação.
acontecimento que é representado NO TEMPO.
Pode ser o EU, a pessoa que fala, o TU, a pessoa que
E aqui proponho o mesmo exercício que já fizemos ouve, ou o ELE, a pessoa de quem se fala e que não
em relação ao substantivo: aprendam a IDENTIFICAR está presente.
adjetivos num texto, ainda que não saibam dar-lhes
os nomes respectivos ou classificá-los em tal ou qual O mesmo vale para seus plurais NÓS, VÓS e ELES
categoria. (daí que determinar a PESSOA seja determinar
também o número).
A familiaridade imediata com a língua é o mais
importante. “Penso” não é a mesma coisa que “pensam”, e este
não é igual a “pensais” ou “pensamos”.
Porém, com os verbos a história não pode parar
aqui. Somos obrigados a estudar mais a fundo Viram como o verbo, sozinho, já pode determinar

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tanta coisa? Continuemos. COMPLETOU, NÃO FICOU REDONDINHO E PERFEITO.

TEMPO Um acontecimento qualquer que começou e acabou


no passado é perfeito. Acabou. Fechou-se o ciclo.
As flexões de tempo verbal situam o verbo dentro de Com o pretérito imperfeito, não. Daí que exprima ele
determinado momento, que pode ser durante, antes a noção de CONTINUIDADE. Sua “imperfeição” é não
ou depois do ato de comunicação. ter acabado por completo.

São três os tempos verbais: Por exemplo: “Quando era moleque, eu só jogava
videogame”.
O PRESENTE
Dá-se o nome de PERFEITO ao verbo que, como já
“Agora eu estudo” deixei dito, designa um acontecimento que começou
no passado e acabou. É possível apontar um fim
PRETÉRITO definitivo seu.

Que pode ser Imperfeito, Perfeito ou Mais-que- Por exemplo: “Ontem, eu joguei bola”. Jogou bola
Perfeito. Creio será útil dar algumas explicações mais ontem, e acabou.
aprofundadas sobre os três.
Dá-se o nome de MAIS-QUE-PERFEITO, coisa que
Que raios significa a palavra PRETÉRITO? Significa, soa medonhamente complicada, aos verbos que
pura e simplesmente, o que já se passou. O passado. designam ações que aconteceram no passado de
um passado (daí o MAIS que perfeito; é o português
“Nossa, Raul, e pra que três passados diferentes, antecipando o Inception de Nolan por alguns bons
meeeeow? Pra que ficar complicando tudo séculos).
meeeeow?”
“Quando cheguei ao campo para jogar, o time já fora
Porque é preciso. embora.”

A coisa é muitíssimo simples. “Chegar” é passado, sim; mas o time tinha ido
embora ANTES mesmo de ele chegar. Antes do
Dá-se o nome de “imperfeito” ao verbo que designa passado. Passado do Passado.
um acontecimento que, no passado, NÃO SE

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FUTURO pedido de conselho ou de alguma outra coisa), e usar
o IMPERATIVO.
São dois:
No caso acima, o certo seria usar o modo
DO PRESENTE: “Se tiverem bom senso, vocês SUBJUNTIVO do verbo, que aí expressaria hipótese:
estudarão este CF” “quando começarem”.

DO PRETÉRITO: “Vocês estudariam o CF, se eu não É a diferença entre dizer “estão trabalhando”,
atrasasse as aulas”. “se trabalhassem, teriam dinheiro” e “trabalhem,
vagabundos!”.

Há também as flexões de MODO


VOZ
Há algum tempo, certo sujeito que se diz escritor
postou no Twitter o seguinte: “Só levarei a sério É usada para evidenciar a relação que existe entre o
qualquer diagnóstico ou leitura sobre o integralismo, sujeito e a ação expressa pelo verbo.
feitas (sic) pela imprensa e academia, quando
começaram a chamá-lo pelo seu nome verdadeiro: No caso da VOZ ATIVA, a ênfase recai sobre o
‘pederastia intelectual’.” sujeito: “O professor (não eu, claro) xingou os
alunos”.
Não se esforcem para entender o que vai escrito
acima. Só o que importa é notar que existe algo de Na VOZ PASSIVA, quem recebeu a ação ou
muito estranho com o verbo. É que ele está no MODO acontecimento é quem vai para os holofotes: “Os
errado. alunos foram xingados pelo professor (não eu)”.

Há três flexões de modo para o verbo, e revelam elas Na VOZ REFLEXIVA, o responsável pela ação é
como o falante se sente em relação ao fato por ele também quem a recebe. “O cozinheiro cortou-se”.
comunicado.

O falante pode ter CERTEZA, e usar o INDICATIVO; Há mais coisas para se dizer sobre as cinco flexões?
Pode ter alguma DÚVIDA (ou hipótese), e usar o Sim. São importantes? Sim.
SUBJUNTIVO;
Pode estar dando uma ORDEM (ou fazendo um Mas a ideia aqui é fazermos um INTENSIVÃO que

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vocês conseguirão acompanhar, e a coisa mais fácil
do mundo é só regurgitar nomes difíceis e tabelas
para que vocês as decorem.

Não quero isso. Quero que vocês ENTENDAM


algumas coisas, mesmo que poucas. Entendendo-as,
conseguirão criar uma base sólida para nela subir,
colocar-se de pé e andar com as próprias pernas.

Na próxima aula, é provável que continuemos com os


verbos.

Espero que tenham gostado. Até amanhã!

AINDA SOBRE
OS VERBOS

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de “verbo” e repassamos suas cinco possíveis
Chegadíssimos do meu coração: como vão vossas flexões: PESSOA, NÚMERO, MODO, TEMPO e VOZ.
senhorias?
Os verbos, porém, são um assunto vasto e não raro
Fiquei muito feliz com o retorno de alguns de vocês, espinhoso. Só aquilo não seria suficiente para servir-
que fizeram elogios rasgados à minha clareza lhes de mapa de estudo. É preciso mais.
expositiva na última aula.
Porém, aqui talvez seja útil eu lhes explicar,
Sei bem que se trata duma abordagem muitíssimo rapidamente, qual é o princípio que vem guiando as
reduzida a que escolhi dar neste curso. Trata-se, minhas escolhas de assuntos e ênfases.
também, de uma abordagem incomum — com
ênfases que nada têm a ver com as tradicionais, É o seguinte: por um lado, quero ensinar-lhes com
sempre visando a tornar o aluno alguém capaz de CLAREZA tópicos que podem ser encontrados noutros
responder uma série de perguntas, e pronto. lugares, sim — mas expostos de forma confusa e
obscura. Ou de forma científica. Ou com linguagem
Este CF está sendo um período de estudos para excessivamente técnica.
vocês. Mas também para mim.
Pelo outro, quero dar-lhes (com a mesma clareza)
Queria saber se, no meio da zorra e pancadaria uma visão geral de quais são as principais divisões
generalizada que hoje em dia é a Gramática, eu gramaticais. Assim, vocês poderão continuar os
conseguiria aproximá-los da língua que é nossa mãe, estudos depois, como quiserem.
aclarando-lhes conceitos FUNDAMENTAIS que foram
absolutamente negligenciados em nosso ensino. Aqui, por exemplo, no caso dos verbos, eu poderia
ter apenas copiado listas de conjugação e colado-as
Parece que estou conseguindo. Se vocês estão aqui, tascando-lhes em seguida algumas explicações
gostando do rumo, do conteúdo e do tom deste repletas de termos absolutamente incompreensíveis
nosso Intensivão, digam-mo cá embaixo. a quem não estude gramática quase diariamente.

[ENQUETE] Escolhi tomar um outro rumo. Nesta aula, havemos


de estudar a ESTRUTURA DO VERBO e suas
Agora, voltemos aos negócios. CLASSIFICAÇÕES.

Na última aula, dei-lhes algumas definições básicas Decidi, portanto, pular longas exposições de regras

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de conjugação. Eu mesmo não as decorei e quase e arrancar-lhe as duas últimas letras. Como em
nunca tenho dúvidas a esse respeito. Quando as “comprar”. Arranque-lhe o -ar e sobra “compr”. Eis o
tenho, sigo o preceito que lhes ensinei na segunda seu radical.
aula:
A seguir, temos a Vogal Temática, que pode ser “a”,
EU CONSULTO. “e” ou “i”.

O que for facilmente consultável não será encontrado indica o modelo de conjugação a qual o verbo
aqui. pertence. Se à primeira, -a; se à segunda, -e; se à
terceira, -i.
Vamos à aula.
Ao radical acrescido da vogal temática chama-se
Primeiro, a ESTRUTURA DOS VERBOS. TEMA.

Um verbo é formado pelo seu radical + uma vogal As desinências são as terminações das palavras
temática + uma desinência. que indicam quais são suas flexões. Podem ser elas
modo-temporais ou número-pessoais. Ou seja:
“Ai Raul não entendi nada” podem indicar tanto o MODO quanto o TEMPO ou
tanto o NÚMERO quanto a PESSOA do verbo.
Mas é claro, ué! Ainda não expliquei nada. Mas é
facinho. As desinências são assim chamadas porque sempre
indicarão as duas coisas ao mesmo tempo. Ademais,
O Radical é o portador de sentido, a identidade um verbo pode muito bem ter as duas juntas.
do verbo. Segundo Cegalla, é “o elemento básico
e significativo das palavras”. É sua parte que se (Se você não estiver entendendo bulhufas, volte uma
mantém quase sempre constante e inalterada (já casa e assista à nossa aula passada, a quinta do CF).
explicaremos o “quase”).
Assim, por exemplo, temos:
“Raul, como saber qual é o radical?”
COMPR + A + R
Não há uma regra absoluta e infalível para sabê-lo.
NO GERAL, o que se pode fazer com o verbo (pois COMPR + A + RÍA + MOS
todas as palavras têm radicais) é tomar o infinitivo

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E aí está a estrutura básica dum verbo. Não Andar, guiar, correr, comer, partir…
quero ver ninguém mais se descabelando ao
ler “desinência” ou “vogal temática”. São troços Eu
simplicíssimos, como vocês viram. Tu
Ele
Agora, além da estrutura de formação dos verbos, Nós
existem também diversos tipos de verbos na língua Vós
portuguesa. Mais precisamente, são cinco:
Verbos irregulares:
os REGULARES, os IRREGULARES, os ANÔMALOS, os
DEFECTIVOS e os ABUNDANTES. Esses aí são os bad boys. Os revoltadinhos. Podem
tanto alterar seu radical quanto não seguir o modelo
Não se assustem com os nomes, os conceitos são da conjugação.
bem fáceis.
PI - estar
Primeiro, os verbos regulares.
Estou
Esses são os certinhos da família. Os previsíveis. Estás
Aqueles primos que nunca sairiam de casa Está
escondidos para uma rave. Seguem um padrão. Estamos
Estais
Ou, melhor dizendo, seguem um paradigma de Estão
conjugação. Se você aprender a conjugação de um
só deles, aprenderá por tabela a conjugação de todos Seu radical não se alterou, mas sua segunda e
os demais. terceira pessoas do singular quebram o paradigma
dos verbos regulares. Portanto: é irregular.
Além de seguirem o mesmo padrão de conjugação,
os verbos certinhos também não alteram nunca seu Perco
radical. Perdes
Perde
Para nossa alegria, são maioria na língua. Para nossa Perdemos
desgraça, são apenas a maioria e não todos. Perdeis
Perdem

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Ir:
Aí, o verbo perder mostra-se quase inteiramente
de acordo com o paradigma. Quase. Mas o “c” da PI PPI PII
primeira pessoa do singular muda tudo.
Vou Fui Ia
(É daí que vem, aliás, o erro tão comum que Vais Foste Ias
confunde o substantivo “perda”, derivado do verbo Vai Foi Ia
perder, com o seu presente do subjuntivo “perca”. É Vamos Fomos Íamos
que o “d” seria, realmente, o previsível). Ides Fostes Íeis
Vão Foram Iam
Verbos Anômalos

São verbos que se TRANSFORMAM (ui!) Verbos defectivos


completamente na conjugação. Não se pode nem
mesmo dizer que tenham radicais. São verbos defeituosos. Não são conjugados em
algumas pessoas. Quase sempre, a defectividade
Ir e Ser se resume ao presente do indicativo e aos tempos
derivados do presente. Acontece no Presente, no
Ser: Presente do Subjuntivo (tempo do talvez) e no
Presente do Imperativo.
PI PPI PII
Às vezes, não são conjugados por um problema
Sou Fui Era real, de sentido. Como no caso dos fenômenos
És Foste Eras atmosféricos, que são acontecimentos unipessoais
É Foi Era — não têm sujeito. (que sentido teria fazer a
Somos Fomos Éramos tabelinha “eu chovo / tu choves / nós chovemos
Sois Fostes Éreis etc.?)
São Foram Eram
Onomatopeias, também. Como sons feitos por
bichos. Zunir, latir, rugir, etc.

Entre os verbos que são conjugados em algumas


pessoas, a razão da defectividade está ou numa

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cacofonia, ou em duplicidade — a forma verbal se
confundiria com outro verbo. Com os verbos auxiliares ser / estar, usa-se a forma
irregular. No geral, em orações com a voz passiva.
“Colorir”, por exemplo. Não existe “coluro” ou
“coloro”. “O carro já fora limpo”.

Verbos de Particípio Abundante Existem ainda uma ou duas coisas importantes a


se dizer sobre os verbos, mas a aula já ficou muito
Regular: -ado, -ido (as terminações do particípio de grande e hei de colocá-las na aula que vem.
quase todos os verbos)
Irregular: ? Como sempre, espero que tenham gostado! E, se
sim, peço-lhes que printem adoidadamente as aulas
Regular Irregular e as repostem nos seus perfis!

Limpado Limpo Obrigadão pela atenção, perdoem-me pela demora e


Fixado Fixo até amanhã!
Salvado Salvo
Entregado Entregue
Suspendido Suspenso
Inserido Inserto

Ter / haver Ser / Estar

Como já se viu aqui nos meus stories, “trazer” NÃO


É um verbo abundante. Portanto, só tem o particípio
regular “trazido”. Mas há verbos abundantes, com
dois particípios diferentes.

A regra para usá-los é muito simples: com os verbos


auxiliares ter / haver usa-se a forma regular. No
geral, em orações com a voz ativa.

“Eu já tinha limpado o carro quando você chegou”.

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Chegados, sejam bem-vindos à sétima aula cá deste
nosso CF bão demais da conta sô!

Nas duas últimas aulas, estudamos os verbos: suas


diversas flexões, seus cinco tipos e sua estrutura.

Foram necessárias duas aulas porque os verbos são


as palavras mais variáveis do português e calham de
servir de ponto de partida à análise sintática.

Havia muito mais a se dizer sobre os verbos. Porém,


em virtude do espaço de que dispomos e da proposta
do CF, achei melhor não multiplicar indefinidamente
os exemplos e explicações.

A sã prática pedagógica recomenda não criar nos


alunos a sensação apavorada de que o tópico
ensinado é vasto, intrincado e confuso demais para
que se possa compreendê-lo.

A inteligência se ilumina com novas compreensões,


ainda que simples. Ilumina-se e fomenta a Vontade.
O aluno fica empolgado e sente-se capaz de
aprender.

Por outro lado, à inteligência que se mostra incapaz


de compreender não adianta nada apresentar
novas explicações e desenvolvimentos. Seria como
SOBRE OS acrescentar novas laranjas para que uma faca cega
as tente cortar, em vão.
PRONOMES
Portanto, como a última aula já estava começando a
se tornar uma salada, reservei uma parte pequena

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do assunto para hoje.
Aí, “navegar” e “viver” não funcionam como verbos.
Na aula de hoje havemos de falar, primeiro, sobre Não são acontecimentos que se desenrolam no
uma última (e bastante comum) forma verbal; tempo. Não são ações. Não são fenômenos da
depois, entraremos nos Pronomes. natureza. Se fôssemos reescrever a frase, tirando-lhe
a beleza literária e a poesia:
Comecemos com a forma verbal.
“A navegação não é necessária. A vida não é
Além de suas cinco possíveis flexões, dos tipos necessária”.
que seguem ou não determinados modelos de
conjugação, da estrutura “radical + vogal temática + Notem que “navegar” não se refere a um navegar
desinências” de que se compõem… além de tudo isso, específico, identificável e transcorrido no tempo.
existe ainda uma outra função dos verbos possível Refere-se ao ATO de navegar; à SUBSTÂNCIA e
dos verbos que será interessante mostrar-lhes aqui. ESSÊNCIA do ato.

Chama-se ela FORMA NOMINAL DO VERBO A terminação -r às vezes pode ser enganosa.

“cumé?”
GERÚNDIO (no geral, terminado com -ndo)
É bem simples: o verbo pode assumir outras funções
sintáticas nas orações. São chamados de “nominais” Ah, o infame gerúndio… serve ele para indicar algo
porque (tcharam!) passam a agir como NOMES — em acontecimento. Às vezes, porém, pode roubar o
substantivos, adjetivos e advérbios —, e não como protagonismo (olha o fascistinha aí) dos adjetivos.
verbos.
Em vez de dizer “Joguei água fervente no ralo”
São três suas formas nominais: podemos dizer “joguei água fervendo”.

O INFINITIVO (no geral, terminado com -r):


PARTICÍPIO (no geral, terminado em -ado, -ido)
O verbo rouba o emprego do pobre do substantivo:
“Raul, poste o CF no horário marcado!” “Marcado”,
“Navegar é preciso. Viver não é preciso”, diz o poeta o passado de “marcar”, está servindo de adjetivo a
Pessoa. “horário”.

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Fui dormir, acordei no dia seguinte, abri os olhos e vi
E aqui volto a reforçar o apelo que lhes fiz na isto:
segunda aula: TREINEM-SE para conseguir
reconhecer as classes gramaticais. [matrix]

Se vocês saírem deste CF só com uma vaga ideia do Por quê?


que seja cada uma das classes gramaticais e mais
este olhar apurado… seu português já terá melhorado Bem, para começar, porque os pronomes são
500%. palavrinhas que ou substituem ou representam o
substantivo. Além disso, indicam qual é a pessoa do
discurso.
Pronto. Pausa. Tomem um Isso quer dizer que os pronomes evitam aquelas
copo d’água, absorvam sem repetições insuportáveis da mesma palavra, são
indispensáveis à articulação lógica do texto e ajudam
pressa o que já foi dito e só o leitor a neste se situar.
depois continuem.
São a terceira classe gramatical que estudaremos
Vamos falar sobre os aqui.

PRONOMES. Antes de elencar seus diversos tipos, entendamos o


que é um pronome. Segundo o dicionário Priberam,
Eu amo os pronomes. Como aspirante a escritor, o prefixo pro- pode indicar origem, anterioridade,
posso dizer-lhes que a riqueza expressiva que se extensão ou… substituição.
consegue com os pronomes é ENORME.
“Pronome”, portanto, quer dizer literalmente
Creio que a colocação pronominal (calma, “substituição do nome”.
chegaremos lá) foi o primeiro assunto gramatical que
estudei, depois de velho. Lá com meus 22 anos de Imaginemos que um vizinho, furibundo e com um
idade, quando resolvi aprender a escrever direito. buldogue inglês debaixo dos braços, me abordasse
dizendo:
Aprendi algumas regrinhas de colocação num dia.

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“Raul, prendi teu cachorro, mas não o maltratarei”. PESSOAIS
POSSESSIVOS
Se não existissem apenas os pronomes “teu” e “o”, o DEMONSTRATIVOS
vizinho fulo da vida seria obrigado a fazer um rodeio INDEFINIDOS
linguístico cômico só para me chamar na chincha: RELATIVOS
INTERROGATIVOS
“Raul, prendi o cachorro que pertence a você, mas
não maltratarei o cachorro”.
Como já é costumeiro aqui, não pretendo pôr
“Teu” é um pronome possessivo, e quer dizer que em fila indiana TODOS os pronomes existentes e
o sexy buldogue inglês (foto) pertence à segunda imagináveis. A ideia é tornar-lhes claros o conceito e
pessoa do discurso — o Raul. Ou seja, determina o as funções de tão importantes palavrinhas.
cachorro.
Vamos começar com os PRONOMES PESSOAIS.
“o” é um pronome substantivo que apenas substitui
(na frase) o sexy buldogue inglês, para que não se “O Raul ontem dormiu sentado na cadeira, de
diga seu nome canino em vão e se arruine a fúria do madrugada, enquanto preparava o CF. Ele foi
vizinho numa frase ridícula. acordado com o choro dum bebê que estava com
fome.”
Só com o exemplo acima já se vê que os pronomes
são indispensáveis. Na verdade, sem pronome algum “Ele” substitui “Raul”, que aí na frase é a TERCEIRA
seria impossível escrevê-la de outro modo: sem PESSOA DO DISCURSO — a pessoa de quem se fala.
“você”, por exemplo, ou o “que”.
É, portanto, um pronome pessoal, porque substitui
Se os substantivos indicam a substância ou essência, diretamente uma das pessoas do discurso. Por
e os verbos acontecimentos que se desenrolam no exemplo:
tempo, os pronomes já começam a tornar possível
uma comunicação muito mais completa e eficiente. “Eu sinceramente espero que tu sejas muito feliz
com ela”.
Começam a colar os pontos.
“Eu”, “tu” e “ela” são pronomes pessoais de
Há seis tipos de pronomes: PRIMEIRA (indivíduo que fala), SEGUNDA (indivíduo
com o qual se fala) e TERCEIRA pessoa (indivíduo de

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que se fala), respectivamente. de uma preposição.

Há dois tipos de pronomes pessoais: os de CASO Com os pronomes do caso OBLÍQUO dá-se o
RETO e os de CASO OBLÍQUO. contrário: vêm sempre antecedidos de uma
preposição. No geral, “a”, “para”, “de” e “com”.
ATENÇÃO: saber identificar os
Por quê? Porque os pronomes do caso oblíquo, não
pronomes de caso reto e oblíquo sendo sujeitos, ficam com a função de substituir ou
(além de conseguir bem usá-los) é determinar nomes que são objetos ou complementos
— e objetos e complementos exigem alguma
FUNDAMENTAL para o seu português preposição que lhes determine a natureza.
melhorar uns 1000%.
Mas péra, péra. Vamos com calma. Exemplo:
Vamos à listinha:
“Ele discutiu com ela sobre nós”.
PRONOMES (PESSOAIS) RETOS
“Ele” e “ela” são pronomes.
Eu, tu, ele/ela, nós, vós, eles/elas
“Ele” é do caso RETO. É o sujeito da oração.

PRONOMES (PESSOAIS) DO CASO OBLÍQUO “Ela”, por sua vez, é complemento. Ele discutiu COM
QUEM? Com “ela”.
Podem ser átonos (me - te - se - nos - vos - o/os, a/
as, lhe/lhes) Mais um exemplo:
Ou tônicos (mim, comigo - ti, contigo - ele,
ela, si, consigo - nós, conosco - vós, convosco - eles, “Para mim, estudar é um troço muito difícil”.
elas)
Aqui, talvez alguns ficassem tentados a colocar um
“Raul, qual é a diferença entre pronomes retos e pronome de caso reto (eu) em vez de “mim”: “para
oblíquos?” eu estudar é um troço muito difícil”.

Os pronomes do caso RETO funcionam, em regra, Isso acontece porque a ordem frasal natural em
como sujeitos da oração, e nunca vêm antecedidos português é SUJEITO - VERBO - COMPLEMENTOS.

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De modo que a tentação seria julgar que a frase é
assim:

“Para eu (sujeito) estudar (verbo) é um troço muito


difícil (complemento)”.

Na verdade, porém, não é isso que a frase quer dizer.


O significado da frase é que o ato de estudar é muito
difícil para o indivíduo que emitiu a frase.

A ordem natural da frase seria “Estudar é um troço


muito difícil para mim”. Portanto, o certo é colocar o
pronome oblíquo, e não o reto.

Mais exemplos de pronomes retos e oblíquos:


Eu te convido.
Ela me chamou.
Eles lhe bateram.
Nós o ajudamos.

Eu tinha planos de passar-lhes mais conteúdos nesta


aula, mas acho melhor pararmos por aqui para que
vocês possam absorver bem o que foi dito aqui.

Reforço: estamos em terreno gramatical


importantíssimo aqui. Há muitos, MUITOS erros que
se cometem porque as pessoas não conseguem saber (AINDA) SOBRE
quais pronomes são retos ou oblíquos. Estudem,
leiam várias vezes e decorem a aula de hoje, se OS PRONOMES
possível.
Na próxima aula, continuaremos com os pronomes.

Até lá!

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Chegados do meu corassaum, sem mais delongas
comecemos nossa oitava aula e prossigamos o Logo se vê, portanto, que a classificação é fonética.
estudo dos PRONOMES. Apoia-se ela nos tipos de sons que os tais pronomes
evocam na fala.
Na última aula, conversamos um pouco sobre
os pronomes PESSOAIS e os pusemos em duas Só existe um problema: a classificação foi criada
categorias: os retos e os oblíquos. pensando na pronúncia dos portugueses, e não na
nossa.
Eu lhes disse, ademais, que os pronomes de
caso reto funcionam como sujeitos e nunca vêm Quando um lusitano, comendo seu pastelzinho de
antecedidos de uma preposição, enquanto com Belém e cofiando os bigodes, entre uma bocada e
os oblíquos dá-se o contrário e sempre têm de vir outra conversa com algum conterrâneo seu, um
acompanhados de uma preposição. brasileiro logo haveria de estranhar-lhe na pronúncia
o quase sumiço de algumas letras (nós brasileiros
Pois bem. Até aí, creio ter ficado clara a lição. Agora, costumamos falar todas as vogais, por exemplo).
temos que fazer uma subdivisão.
“Raul, e para que tudo isso vai me servir?”
Quando se trata de pronomes do caso OBLÍQUO,
existem os pronomes átonos e os tônicos. No mínimo, ter alguma ideia de por que se criou a
subdivisão irá reforçar a sensibilidade linguística que
Mantendo a já tradicional abordagem deste CF, no meu Instagram eu venho tentando criar em vocês
perguntemo-nos, antes de qualquer outra coisa: por desde o primeiro dia.
que cacetada chamam-se “átonos” e “tônicos”?
A Gramática não é uma maçaroca de regras
“Átono” é aquilo que não tem acento tônico. Ou seja: arbitrárias, todas sem pé nem cabeça. É, como já
que não tem ênfase da voz e às vezes quase não se ensinava o mestre Napoleão, a reunião e exposição
diz, de tão fraco ou passageiro. metódica dos fatos de uma língua. Não existe método
sem ordem, sem progressões e dependências lógicas,
“Tônico”, inversamente, é… o que leva acento tônico. sem divisões classificatórias e hierarquias.
Ou seja: a sílaba, pronome ou coisa que os valha
cuja existência sonora é mais enfática e facilmente O que fazem, quase invariavelmente, os professores
perceptível. É o tipo de som que não é nunca de português?
abreviado ou suprimido na fala.

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Não reforçam no aluno o senso de que existe na
língua uma LÓGICA perfeitamente justificável, e Os pronomes oblíquos átonos são: me - te - se - o -
se contentam com dizer que o “Pretérito-mais- a - lhe - nos - vos - os - as - lhes.
que-perfeito usa-se aqui e ali, DECOREM”, ou que
“determinados pronomes oblíquos átonos, se se Os tônicos são: mim, comigo - ti, contigo - ele, ela
ligam a verbos terminados em vogal, não mudam. - si, consigo - nós, conosco - vós, convosco - eles,
DECOREM”. elas.
Ora, o problema não está na decoreba, recurso EM PRIMEIRÍSSIMO LUGAR, logo se vê haver uma
pedagógico que foi universalmente empregado até correspondência entre alguns deles. Por exemplo:
meados do séc. XVIII e gerou homens como Leibniz, “me” é o pronome oblíquo átono que corresponde a
Shakespeare, Camões, Sto. Tomás de Aquino e “mim” e “comigo”. “Lhes” corresponde a “eles e elas”,
Dante. etc.
O problema está na decoreba sem qualquer tentativa Por quê? Porque os tais pronomes ligam-se às
de dar à inteligência alguma luz de compreensão. mesmas pessoas na oração, apenas em posições (e
às vezes funções) diferentes.
Repetição desligada de princípios superiores
que a ordenem não é pedagogia, é Eu posso dizer à minha esposa, por exemplo (com
adestramento. carinho, hipoteticamente): “O Heitor e o Álvaro estão
berrando de fome. Dê leite a eles”. Mas também
Portanto, ainda que os princípios já não se apliquem posso dizer “O Heitor e o Álvaro estão berrando de
perfeitamente às classificações, como se dá com a fome. Dê-lhes leite”. As duas frases querem dizer
atonicidade de certos pronomes oblíquos, saber por rigorosamente a mesma coisa.
que se chamam assim irá ajudá-los tanto a
Ou posso dizer o famoso “te amo, quero ficar
1 - decorá-los (porque a memória funciona melhor contigo”.
quando pode recorrer a princípios que se articulam
logicamente) quanto a Nos dois primeiros períodos, houve apenas uma
mudança de posição. Na terceira oração, houve já
2 - sim, entender-lhes o funcionamento. uma mudança de função. “Te amo” quer dizer “amo
você”, enquanto “quero ficar contigo” equivale a
Voltemos, pois, aos pronomes. “quero ficar com você”.

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Se os pronomes oblíquos átonos o, a, os e as ligam-
Mas não houve qualquer mudança na pessoa do se a verbos terminados em vogal, não mudam:
discurso. “abraço a Mariazinha” para “abraço-a”.

Se, porém, ligam-se a formas verbais que


SEGUNDO: “ele, ela, nós, vós, eles e elas” podem terminam com as consoantes R, S ou Z, acontecem
ser tanto pronomes pessoais retos quanto pronomes duas transformações. Somem as consoantes e
oblíquos tônicos. Como diferenciá-los? É só se transmutam-se os pronomes em lo, la, los e las.
lembrar da regrinha que enunciei na última aula: “Vou abraçar meu filho” para “vou abraçá-lo”;
pronomes oblíquos tônicos sempre vêm antecedidos “Fizemos o cão sair” para “fizemo-lo sair”;
de uma preposição. “Fiz meu amor chorar” para “fi-lo chorar”.

“Ele discutiu com ela: estava nervoso porque o Se se ligam a formas verbais que terminam em “m”
Raul ainda não reabriu o CF”: “ele” é sujeito. “Ela”, ou em ditongos nasais, os pronomes transmutam-se
pronome oblíquo tônico. Reparem no “com” que o em no, na, nos e nas.
antecede. Eis a preposição. “Viram o jogo” para “viram-no”;
“Põe os pratos na mesa” para “põe-nos na mesa”.
(reparem, também, que nem sempre podemos
escolher entre os oblíquos átono e tônico. Não há
forma tônica correspondente a “com ela”, como Pronto. Só com isso vocês já conseguirão guiar-se
existem o “contigo”, “conosco”, “convosco”, etc.) melhor na selva dos pronomes pessoais.

Agora, abordemos a colocação pronominal.


TERCEIRO: “lo, la, los, las”.
Que é a colocação pronominal? É o conjunto de
Muita gente não sabe como usá-los. Vou lhes dar regras que ordenam a posição em que deverá
as regras aqui, mas lembrem-se: não leiam só as estar o pronome relativamente ao verbo. Há três
regras. Leiam também bons autores que as saibam possibilidades:
usar e ponham na memória não só as regras, mas
também centenas de exemplos das regras em ação. A Próclise, a Mesóclise e a Ênclise.

Portanto: A PRÓCLISE é, sem dúvida nenhuma, a colocação


queridinha dos brasileiros. Nosso xodó. Só falta o

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Djavan escrever-lhe uma música. “Jamais me deixe”
“Não lhe entregaram o prometido”.
É a forma natural com que usamos a língua. Isto é:
naturalmente, colocamos o pronome antes do verbo. Com advérbios:
E isso é bom. Afinal de contas, gramaticalmente a
próclise está quase sempre certa. “Sempre te amei”
“Ontem nos vimos no shopping”.
Quando NÃO podemos usar a próclise?
Com conectivos (que, se, quando, embora,
Apenas quando estiver o pronome no início da porque…):
oração ou vier imediatamente depois de um sinal de
pontuação. “Quando nos encontramos, fiquei sem saber o que
Eu posso escrever, tranquilamente, ou “a Camila me fazer”
contou tudo o que aconteceu” ou “a Camila contou- “Embora lhe dissessem para ir embora, teimava em
me tudo o que aconteceu”. continuar ali”.

Mas TENHO de escrever “conte-me o que aconteceu”. E ainda em frases exclamativas, interrogativas e
Isto porque não se começa uma oração com optativas:
pronomes.
“Que Deus te ajude!”
Também diz a regra que o certo seria “se vier, “Quem te contou a novidade?”
avise-nos” e não “se vier, nos avise”. Os sinais de “Como se trabalha duro neste CF!”
pontuação repelem os pronomes, jogando-os para
depois do verbo. ÊNCLISE

QUANDO A PRÓCLISE É OBRIGATÓRIA? (e agora, É obrigatória no início da oração ou depois de sinal


pela extensão da lista, vocês entenderão por que de pontuação (ou seja: é a mesmíssima regra que
essa colocação ser a nossa preferida é algo bom) proíbe as próclises).

A próclise é obrigatória quando, antes do verbo, Há um porém: se o verbo estiver no futuro, mesmo
encontrarmos expressões negativas como: não, no início da oração a mesóclise haverá de prevalecer
nada, ninguém, jamais… sobre a ênclise.

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MESÓCLISE chamaria de louco”.

É a famosa frase à la Michel Temer. O pronome que 3 - O que também se tornou bastante comum no
se aperta entre outras duas partes da palavra, feito português brasileiro moderno é, em se tratando de
o recheio dum sanduíche. É forma já um pouco tempos futuros, usar verbos compostos. “Você vai
embolorada, que não soa bem aos ouvidos modernos se arrepender” em vez de “Você se arrependerá”. É
e deve ser evitada por quem não tenha especial preferível, porém, quando o contexto exigir a escrita
sensibilidade literária. Porém, às vezes é obrigatória culta, evitar os verbos compostos para os tempos
e temos de saber como dar-lhe um baile sem cair em futuros.
erros.
4 - Além de acrescentar o sujeito à oração, de aplicar
É obrigatória quando o verbo estiver no futuro do a próclise ou usar um verbo composto, ainda existe
presente ou no futuro do pretérito, desde que não uma quarta forma de fugir à mesóclise e manter-se
haja palavra que obrigue a próclise: gramaticalmente irrepreensível: é usar a forma de
que eu mesmo sou fã: o “hei de”.
“Eu derrocarei o templo de Jeová e edificá-lo-ei em
três dias!” (Eça de Queirós) “Hei de me tornar (ou tornar-me) uma pessoa
“Sua atitude é serena, poder-se-ia dizer hierática, melhor”; “ela haveria de chamá-lo de louco”; “você
quase ritual.” (Raquel de Queirós) haverá de se arrepender”, etc.

Algumas observações: Pronto. Aí estão os pronomes oblíquos átonos e


tônicos e a temida colocação pronominal.
1 - Para fugir à mesóclise, às vezes pode-se incluir
o sujeito da oração. Em vez de escrever, portanto, o Como vocês podem ver, são coisas realmente
obrigatório “Tornar-me-ia uma pessoa melhor”, pode- simples. São muitas regras? Talvez lhe pareça que
se escrever “Eu me tornarei uma pessoa melhor”. sim. Com o tempo, porém, e certa familiaridade com
a língua culta, esses vários diretrizes e poréns ser-
2 - A mesóclise é forma exclusiva da língua culta e lhes-ão (viram) naturais.
da modalidade literária. Em qualquer outro contexto,
deve-se usar a próclise. NUNCA, NUNQUINHA a
ênclise. Ou seja: trambolhos como “venderei-lhe”,
“diria-se”, “chamaria-o” e formas aparentadas estão
ERRADAS. O certo é “Eu lhe direi a verdade”, “Ela o

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bombando neste Instagram véio sem porteira!

Nas duas últimas aulas, falamos sobre os


PRONOMES, sobretudo os PESSOAIS. Expliquei-lhes o
que e quais são os casos reto e oblíquo, além de lhes
ter ensinado a temida colocação pronominal de uma
forma creio didática e bastante clara.

Mas ainda ficaram algumas coisinhas para trás.


Hoje, portanto, havemos de estudar outros tipos de
pronomes e, se sobrar tempo e espaço, entraremos
noutras classes gramaticais.

É bastante provável que não ultrapassemos a


Morfologia no CF. Ou seja: não estudaremos análise
sintática (sujeito, predicativos, orações coordenadas,
adjuntos, etc.).

Por quê? Porque, se bem as duas áreas estejam


inseparavelmente ligadas, a ponto aliás de já existir
o termo Morfossintaxe, a progressão natural dos
estudos é passar pela Morfologia antes de cair na
Sintaxe.

Ora, a Morfologia estuda a forma e a estrutura das


palavras. Analisa-lhes tudo, desde as partes mínimas
de significado de que se compõem (os morfemas) até
suas naturezas mesmas — suas razões de ser.

Designam seres, reais ou irreais? Características


dos seres? Circunstâncias em que se deram

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acontecimentos no tempo? Os próprios dentro de um período; mas isso já é assunto para
acontecimentos? depois).

Servem para ligar outras palavras umas às outras? A sintaxe não quer classificar as palavras em si; quer
Para particularizá-las ou, inversamente, indeterminá- analisar e saber a função que elas exercem dentro da
las? Servem para ligar orações? Para indicar oração. As funções não são fixas.
quantidades?
Banana, por exemplo, é um substantivo. Certo? Mas
As Classes Gramaticais são a base da língua. São o pode servir para várias coisas dentro do sistema que
inventário de suas possibilidades. é uma oração.

Com uma visão geral das classes na cabeça, aquilo Veja os quatro exemplos abaixo, que peguei
que antes parecia-lhes um emaranhado infernal emprestados do prof. Sérgio Nogueira:
de fios cruzados e embolados que saem de lugar
nenhum e chegar a coisa nenhuma logo haverá de se “A banana está madura”: sujeito da oração. É dela
ordenar. que se está falando.

Existem, basicamente, dez funções para uma “A cesta está cheia de banana”: “de banana”
palavra! completa o sentido do adjetivo “cheia” e é, portanto,
um complemento nominal.
Com dez funções já podemos trabalhar. Dez funções
não são as seiscentas páginas de uma gramática. “Mariazinha não suporta banana-nanica. Ela só gosta
de banana-prata”: a primeira “banana” é objeto
É como abrir uma caixa de ferramentas com centenas direto de “suportar”; a segunda, objeto indireto de
de peças, geringonças estranhas, monstrengos “gostar”.
mecânicos e enigmas em formas de aço, madeira e
ferro as mais várias, e respirar aliviado: ao menos o “O namorado da Mariazinha é um banana”:
martelo, os pregos, o alicate e a trena eu sei para “banana” aí é usada para caracterizar o sujeito da
que servem. oração. Portanto, é predicativo do sujeito.

A Sintaxe já é a parte da Gramática que estuda a Logo se vê que na Sintaxe a coisa se complica um
relação que as palavras estabelecem dentro pouco. Mas não apenas se complica; complica-se a
duma oração (ou que as orações estabelecem partir de conceitos morfológicos. É a segunda parte,

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mais intrincada, dum prédio que deve assentar-se
sobre o fundamento das Classes Gramaticais para Antigamente, quando estávamos falando COM
erguer-se o Português imponente que conhecemos. ALGUÉM usávamos a segunda pessoa gramatical:
o tu. E quando se usa o “tu” os verbos e pronomes
Aqui, estamos ainda na base. devem ser flexionados para a segunda pessoa.

Vamos afirmar e reafirmar o básico, sem o qual nada Em vez de falar, portanto: “Raul, abra logo este CF”,
que preste poderá ser feito mais tarde. teríamos de falar “Raul, abre logo este CF”.

Portanto… aos pronomes! Isto porque o “abre” é a SEGUNDA PESSOA DO


Nas duas últimas aulas, falamos sobre os Pronomes SINGULAR DO IMPERATIVO de “abrir”.
Pessoais. Mas há outros tipos de Pronomes no
português. Sua classificação geral (substituir ou “Abra” é a TERCEIRA PESSOA DO SINGULAR DO
representar substantivos) mantém-se a mesma; as IMPERATIVO.
mudanças são outras.
Entenderam o que aconteceu? Como largamos a
segunda pessoa do discurso, quando vamos falar
PRONOMES DE TRATAMENTO com alguém já não usamos as flexões da segunda
pessoa — usamos as da TERCEIRA. Ou seja: falamos
Dias atrás, causei um certo rebuliço ao dizer que a com alguém usando as ferramentas que nos dá a
forma “te amo” não está, no geral, gramaticalmente língua para que falássemos DE ALGUÉM.
certa. Por que no geral? Porque quase já não usamos
mais a segunda pessoa gramatical. Sim, é confuso. Sim, é absurdo. Não conheço
nenhuma outra língua que tenha perdido, na prática,
Lembram-se de que há três pessoas gramaticais? uma de suas pessoas gramaticais.

No singular: eu - tu - ele/ela. E aí voltamos ao “eu te amo”. Está errado? Não, uai.


No plural: nós - vós - eles/elas. “Te” é um pronome oblíquo de segunda pessoa. Que
é a segunda pessoa? A pessoa com a qual estamos
Basicamente, em qualquer comunicação concebível falando. Certo, não é?
quem fala pode estar se referindo ou a si mesmo, ou Gramaticalmente, sim. Mas… quando falamos e
conversando com alguém presente ou falando de um escrevemos não usamos mais a segunda pessoa.
alguém que não está presente. Usamos a terceira. Eu, por exemplo, escrevo para

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vocês, e não para vós. pessoas gramaticais.

Se eu fosse usar convosco a segunda pessoa do Em relação ao tempo: o pronome demonstrativo


discurso, teria de vos escrever assim, com formas pode indicar tempo presente, tempo citado
verbais e pronominais que pareceriam a vós anteriormente ou passado distante: “Neste
arcaicas e até um pouco ridículas. Infelizmente. momento, não sei o que dizer”;
INFELIZMENTE. Mas é a realidade. “Essa manhã eu abri o Instagram e tinha uma
sequência boa demais do Raul nos stories”;
Portanto, para deixarmos o “eu te amo” em sintonia “Naquele tempo não havia o CF do Raul; tempos
com todo o resto do nosso português corrente, o sombrios!”.
certo (ainda que errado) é dizer “eu o/a amo”. Ou
“eu amo você”. Em relação ao espaço: o ser está próximo ao falante,
próximo ao interlocutor ou longe de ambos.
“Você” é um pronome de tratamento, e com os tais
também usamos a terceira pessoa gramatical. “Este bebê cabeçudo perto de mim é o Heitor”;

“Raul do céu, ai minha nossa a cabeça tá girando” “Esse bebê cabeçudo perto de você é o Álvaro”;

É normal, eu entendo. Como lhes disse, é um “Aquele bebê cabeçudo, longe de nós dois, eu nunca
troço confuso e eu mesmo demorei um tempo para vi na vida”.
entendê-lo certinho.
Em relação ao contexto linguístico, ou texto:
Basta dizer, em relação aos pronomes de tratamento
(Você, Vossa Alteza, Vossa Excelência, Vossa para retomar o que já foi dito, “esse” e derivados.
Santidade, etc.), que embora pertençam à segunda
pessoa gramatical, exigem verbo na terceira pessoa. “este” precede o que se vai dizer, antecipando-o.

“Aquele” e derivados referem-se a uma citação


PRONOMES DEMONSTRATIVOS distante.

São responsáveis por localizar o ser no tempo, no Ou seja: se, no texto, você já se referiu a alguma
espaço e no contexto linguístico (ou seja, no texto), coisa e quer RETOMÁ-LA, voltar a falar dela, use
tomando sempre como ponto de referência as três “esse” e derivados. Se está para apresentar uma

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informação nova, use “este” e derivados. Se quer convinha”.
retomar algum termo qualquer que, no texto, está
DISTANTE, use “aquele” e derivados. O “que” aí representa o substantivo “casa”.
Representa, não substitui. É a segunda função dos
pronomes. Mais exemplos:
PRONOMES INDEFINIDOS
“Traga tudo quanto lhe pertence”.
Referem-se à terceira pessoa do discurso, de um
modo vago, impreciso, indeterminado. “Tirei um colete velho, em cujo bolso trazia
cinco moedas de ouro”: este último exemplo é
São os famosos algo, alguém, fulano, nada, outrem, de Machado. Vê-se aí, claramente, que “cujo”
quem, tudo, certos… representa o “colete velho”.

Podem funcionar ou como substantivos:


PRONOMES INTERROGATIVOS
“Algo o incomoda?”
“Quem avisa amigo é.” São, no geral, como os pronomes indefinidos — mas
“Ele gosta de quem o elogia.” são usados em frases interrogativas.

Ou adjetivos: “Que há?”


“Por que motivo não veio?”
“Cada povo tem seus costumes.” “Qual será?”
“Certas pessoas exercem várias profissões.” “Quantas pessoas moram aqui?”
“Certo dia apareceu em casa um repórter famoso.”

PRONOMES POSSESSIVOS
PRONOMES RELATIVOS
Os pronomes possessivos atribuem às pessoas do
Chamam-se relativos porque representam discurso a posse de alguma coisa. Aqui não há muito
substantivos que já foram expressados, e com os segredo: “meu, minha, teu, nosso, vossa, suas…”
quais estão relacionados.

Por exemplo: “Armanda comprou a casa que lhe Pronto. Aí estão os pronomes. Creio eu que já

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passamos pelas principais classes gramaticais. Pelo
menos, as mais longas.

Nas próximas aulas, o ritmo será mais tranquilo.


Portanto, quero criar-lhes também alguns exercícios
de fixação.

Muitíssimo obrigado pela atenção, e até amanhã!

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Chegados, eis que estamos em fevereiro. Portanto,
deveríamos já ter finalizado os conteúdos deste Como? Podem ir para o plural, por exemplo. Sem que
nosso CF. Infelizmente, porém, ao menos quando façam cirurgia para tirar fora o bilau podem trocar
se trata da entrega pontual das aulas, por conta da de gênero. Podem falar em nome dum “eu”, para
enorme demanda que surgiu inadvertidamente para um “tu” ou de um “eles”. Podem, como os verbos,
que eu reabrisse o CF, acabei atrasando algumas alterar-se para indicar um tempo específico ou até
aulas. mesmo o modo com que o falante se posiciona
perante o que diz: se com certeza (modo indicativo),
Seguindo o cronograma de três aulas por semana até com alguma dúvida (subjuntivo) ou dando ordens a
o final de janeiro, restam-nos mais quatro delas. Hei torto e a direito (imperativo).
de entregá-las todas nos próximos três dias.
Em suma: variam.
Nessas últimas quatro aulas havemos de correr com
as classes gramaticais restantes (todas elas mais Já as invariáveis… não variam, oras. São
curtas e simples do que os substantivos, adjetivos, irredutíveis às flexões de número, perfeitas
verbos e pronomes que já vimos) e, se nos restar conservadoras no que toca à mudança de gênero.
tempo, gostaria de abordar com vocês algumas Jamais se alteram; têm forma estática. Se
dúvidas comuns, ainda que já estejam relacionadas acompanham um verbo no plural, dane-se o plural.
com a sintaxe ou etapas mais avançadas do estudo. Se acompanham uma palavra feminina, não se
sentem compelidas a pôr saias e copiar-lhe o “a” no
Como já lhes disse lá numa das primeiras aulas, cujo final.
número específico desgraçadamente escapa-me à
memória, há um número certo de classes gramaticais As seis classes de palavras VARIÁVEIS são:
na língua portuguesa. Lembram-se de quantas são?
SUBSTANTIVO
[ENQUETE] ADJETIVO
PRONOME
São dez tipos de palavras. Dividem-se elas em VERBO
VARIÁVEIS e INVARIÁVEIS. NUMERAL
ARTIGO
As variáveis são aquelas palavras maria-vai-com-
as-outras; o tipo de palavra que pode MUDAR ou As quatro restantes, INVARIÁVEIS, são:
VARIAR-SE.

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PREPOSIÇÕES Existem o “o”, o “um” e suas flexões de número
ADVÉRBIOS e gênero (lembram-se das palavrinhas variáveis?
CONJUNÇÕES Pois é).
INTERJEIÇÕES
Mais ainda continua facílimo. Existem os seguintes
Já estudamos aqui (brevemente) o Substantivo, o artigos: o, a, os, as — um, uma, uns, umas.
Adjetivo, o Pronome e o Verbo. São as classes mais Viram? Facinho. Quanto à sua função e relações,
difíceis e complicadas entre as variáveis — e as quase não existe como haver alguma dificuldade
variáveis são mais difíceis e complicadas do que as de compreensão. Os artigos ligam-se
invariáveis. invariavelmente a substantivos.

Agora, passaremos rapidamente pelas duas classes A dizer a verdade, tão umbilical é a relação entre
variáveis que nos restam e, depois, entraremos ambos que um artigo anteposto a uma palavra de
em duas interessantíssimas classes invariáveis: os outra classe qualquer poderá transformá-la em
Advérbios e as Preposições. SUBSTANTIVO. Ponha um artigo à frente de “porém”
e veja a conjunção transmutar-se em substantivo
Vamos, pois, aos ARTIGOS e aos NUMERAIS. diante dos seus olhos:

“os poréns para quem perdeu o CF são muitos, quase


ARTIGOS incalculáveis”.

E mais alguns exemplos: “o cantar” (verbo


Depois de classes como os verbos ou os pronomes,
substantivado pelo artigo); “o agora” (advérbio
é um alívio lidar com os artigos. São eles a menor
substantivado pelo artigo); “os finalmentes” (outro
classe gramatical e talvez as palavras que deem
advérbio substantivado pelo… ah, cês já pegaram a
menos dor de cabeça.
ideia).
A rigor, só existem DOIS (isso mesmo: 2, II ou 1 +
Pois bem. Explicada e reforçada a parceria forte que
1) artigos: o “o” e o “um”.
têm com os substantivos, sigamos em frente a fim de
compreender quais são os tipos possíveis de artigos.
“Raul, mas não é possível. Cê tá de treta. E esse ‘a
rigor’ aí?”
[Meme revirando os olhos e mascando chiclete]
“lá vem o chatão passar mais uma lista
Ok, vocês me pegaram. Um pouco. Mais ou menos.

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insuportavelmente enorme, afffff”
Se você diz que “o menino deixou o envelope aqui”
Cês não confiam mesmo em mim, né? Não lhes disse há completa familiaridade entre as partes. Ambos
que a classe dos artigos é tranquilíssima? — quem diz a frase e quem a ouve — conhecem o
menino. Mas não só conhecem o menino: sabem,
Existem só dois tipos de artigos. Os Definidos e os também, qual é o tal envelope. Possivelmente, já o
Indefinidos. estavam aguardando.

Basicamente, os artigos definidos antepõem-se Se, porém, você diz “o menino deixou um envelope
a substantivos definidos, e os artigos indefinidos aqui”, o pedaço de papel já pode ser ou realmente
antepõem-se a substantivos indefinidos. inesperado e desconhecido, ou algo de que o falante
quer se distanciar. “Chegou um envelope aqui e eu
Boa, né? [gif do mind blowing] não sei de nada e não tenho nada a ver com ele”.
Reparem, portanto, na imensa sutileza que pode
Falando sério: um substantivo definido é carregar uma simples troca de duas letras.
determinado, conhecido. Substantivo com o qual o
leitor já está familiarizado e que não é qualquer zé- Portanto, reforcemos: adjetivos definidos ligam-se
da-esquina vago. a substantivos conhecidos, familiares e precisos. Os
indefinidos, a substantivos desconhecidos, alheios e
Se você diz “viajei com o médico hoje” a ideia é vagos.
que o tal médico já é conhecido. Se é conhecido, é
também determinado. É aquele médico específico, e Na prática diária, contudo, os artigos também
não um médico qualquer. podem ser usados como superlativos: ou seja, como
intensificadores de significado.
Inversamente, ”um médico” dissolve o indivíduo
no seu ofício e classe social. Podia ser o médico É como dizer “ele é o cara”. Não é um cara qualquer.
fulano bem como o médico sicrano. “Um” é artigo É o pica das galáxias em pessoa; the man in the
indefinido. flesh.

Não se restringe, porém, o artigo a identificar se o E também como ferramentas de aproximação:


substantivo a que se liga é algo conhecido ou não.
O artigo indefinido, por exemplo, pode indicar um “Raul deve ter uns mil alunos no CF”.
distanciamento deliberado por quem o emprega.

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(reparem que a vaguidão continua presente aqui
na aproximação, assim como a precisão continua São os numerais CARDINAIS. Suponho que
presente em “o cara”.) “cardinal” venha de “cardeal” — “principal”,
“fundamental”. Os numerais absolutos são, de fato, a
realidade matemática primária, basilar.
Pois bem, aí estão os artigos. Simplicíssimo, né não?
Ordem: ou seja, a posição dentro duma sequência.
Na próxima, acreditem neste humilde professor que Existem dez entes quaisquer e queremos indicar
vos escreve. [emoticom do barba] quais estão nas dez posições existentes. É o
“primeiro, segundo, terceiro…”.

E a próxima já está aqui: são os NUMERAIS. São os numerais ORDINAIS — “ordinal” querendo
dizer, está óbvio, “ordem”.
Eis aí uma classe absolutamente indolor, tranquila
que só ela. Fração: autoexplicativo. Indicam… frações. Partes
definidas de um todo. Já quase não os usamos na
Se bem lide com quantidades, nem todos os escrita. “Meio, um terço, um quarto…”.
numerais variam. Os cardinais (já os estudaremos)
são, no geral, invariáveis. Exceções são “um” (uma) São os numerais FRACIONÁRIOS. Concordam
ou “dois” (duas), por exemplo. eles em gênero e número com os cardinais que os
antecedem. “Eu estudei só dois terços do CF até
Hei de lhe ensinar suas quatro principais funções e, agora”.
depois, alguns usos específicos que servem de cascas
de banana a muita gente — eu incluso. Multiplicação: de novo, autoexplicativo. “Dobro,
triplo, tríplice, quádruplo…”.
Vamos lá. Os NUMERAIS são palavras variáveis que
podem indicar: Sãos os numerais MULTIPLICATIVOS.

Quantidade: ou seja, a sequência natural dos Tranquilíssimo, como se pode ver.


números. Quantidades inteiras. Um, dois, três,
quatro, ad infinitum (forma chique de dizer em latim Agora, vamos às OBSERVAÇÕES:
a imortal frase do Buzz Lightyear: “ao infinito, e
além!”). Primeiro: “milhares”, “milhões”, “bilhões”,

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“trilhões” e todas essas palavrinhas queridíssimas usam-se os ordinais.
quando se trata de dinheiro são MASCULINOS.
Pio X (décimo), capítulo III (terceiro), século V
Aqui, o uso gramaticalmente correto é (quinto).
contraintuitivo:
Do onze para frente, usam-se os cardinais.
O certo (gramaticalmente, veja lá) é “Os milhões
de pessoas atingidas pela fome” e não “as milhões”, Pio XI (onze), capítulo XXI (vinte e um), século XV
como seria natural escrevermos. (quinze).

A mesma coisa com “Dois bilhões de toneladas”. O Sexto (e, talvez, o que lhes será mais útil): na hora
numeral concorda com o substantivo a que se liga de escrever, é consensual que se escreva por extenso
imediatamente, e não com “pessoas” ou “toneladas”.
Prova adicional é a preposição “de” — ela sozinha - Os numerais cardinais até ao dez (um, dois, três,
já desobrigaria a concordância por ter separado quatro e bláblá. Do dez para lá, escreva-se os
sintaticamente os elementos. números);
- Os numerais ordinais até ao décimo (primeiro,
Segundo: como já dito, os numerais cardinais segundo, terceiro e por aí vai, até o décimo.
“um”, “dois” e as centenas a partir de duzentos Passou daí, é 11, 12 e o que mais vier);
variam em gênero: - Números que iniciam uma frase (“Cento e
cinquenta pessoas mandaram mensagens para o
“um / uma”, “duzentos / duzentas”. Raul porque ainda não entraram no CF”, e não “150
pessoas mandaram mensagens…”)
Terceiro: não se escreve “um mil” ou “hum mil”. É - Os numerais cardinais cem e mil;
MIL mesmo, sozinho, livre, leve e solto. - Os numerais fracionários (“um terço” e não “1/3”).

Quarto: quando se trata do primeiro dia do


mês, ponha um número ordinal, não cardinal. “É o E pronto. Aí estão os ARTIGOS e os NUMERAIS. Bem
primeiro de abril”, por exemplo. No resto do mês, vá facinho, né não? Quis dar-lhes um refresco depois
sempre de cardinais. das últimas aulas, meio pesadas.

Na próxima, atacaremos os ADVÉRBIOS — a primeira


Quinto: quando se trata de Papas, capítulos,
classe gramatical invariável que aqui há de ser
séculos, há uma regra para sua escrita: até o dez,

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Chegados, com quantos louros e honrarias se podem
dar a alunos sejam bem-vindos, pois chegamos
à décima primeira aula (sim, acabei de quebrar a
regrinha que lhes ensinei na aula passada, sobre não
escrever números ordinais acima de dez. A clareza
e elegância, porém, venceram a regra. A língua tem
dessas) do nosso CF!

Nesta última reabertura, quase 500 novos chegados


juntaram-se a nós. Ao todo, somos quase 1200
chegados — um número nada desprezível, levando-
se em conta o tamanho deste perfil e a média de
engajamento que por aí se vê noutras contas.

A bem dizer, e que a modéstia vá pastar, percentual


e comparativamente o número é imenso. É MUITA
gente acompanhando aulas de português pelos
stories do Instagram.

Mas não é imenso apenas se o compararmos com


outras contas desta rede social. É bastante grande
em sentido absoluto. 1200 pessoas é algo assim:

[foto do evento]

São inúmeras salas de faculdade LOTADAS. Dizer


que a internet revolucionará a educação é dar uma
de Mãe Dináh e profetizar o presente. A internet já
está em pleno processo de revolucionar a educação
e servir de meio paralelo, absurdamente barato e
tão eficiente quanto o sejam seus professores, ao

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ensino institucionalizado. Ao “atual ensino brasileiro”, para que servem os Advérbios e por que
descrito por Osman Lins em 1976 (!!) como uma precisamos deles.
“miragem monumental, uma gigantesca máquina de
enganar”. Vocês se lembram dos Adjetivos? Lembram-se para
que servem? Eu lhes disse, lá no começo do CF,
Portanto, fico felicíssimo por tê-los todos aqui e farei que os Substantivos provavelmente tinham sido
o meu melhor para entregar-lhes aulas que não se os primeiros tipos de palavras que surgiram em
sustentem apenas porque são alternativas menos qualquer língua.
piores ao que é ruim.
Os Substantivos designam a substância das coisas;
Conto com vocês para críticas e feedbacks sinceros. elas em si. Sejam coisas materiais (cavalo, mesa,
A partir deste CF quero criar o núcleo de uma José), sejam imateriais (amor, beleza, tristeza). E o
comunidade que compartilhe dos mesmos ideais que são os Adjetivos? No geral, Adjetivos designam
e queira tomar à força o ensino de que fomos qualidades ou características dos Substantivos.
desgraçadamente privados.
O cavalo é selvagem, a mesa é quadrada e José
Tudo tranquilo? Então hora de começarmos a aula de é mato-grossense. O Amor é bonito ou a Beleza
hoje! é amorosa. Substância, essência: Substantivos.
Qualidades, características de alguma substância ou
E o assunto é a primeiríssima classe gramatical essência: Adjetivos.
INVARIÁVEL que estudaremos; aquelas palavrinhas
que não se deixam levar pelas outras e recusam-se Há, portanto, uma relação íntima entre as duas
a ir para o plural, trocar de gênero ou transformar classes de palavras. Os Adjetivos existem em função
sua bela silhueta para indicar coisas como pessoas, dos Substantivos. Existem para qualificá-los, para
tempos ou o que mais seja. deles extrair atributos específicos.

Essa classe são os ADVÉRBIOS. “Raul, o que isso tem a ver com advérbios?”

Calma, calma. Tome um copo d’água, relaxe os Ora, os Advérbios mantêm com os Verbos uma
ombros, não fique desesperado porque está prestes a relação semelhante àquela que existe entre os
ouvir sei lá quantas regrinhas novas. Adjetivos e os Substantivos.

Antes de tudo, tentemos compreender certinho Advérbios existem sobretudo em função dos Verbos.

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Daí, aliás, seu nome: ad + verbo.
Contudo, temos os Advérbios. Com eles, poderíamos
Existem principalmente para modificar os Verbos. dizer: “o galo cantou cedo, muito bem e alto para
Modificá-los como? Acrescentando-lhes um cacete”.
circunstâncias ou informações.
“Cedo”, “bem” e “alto” são Advérbios. O primeiro, de
Voltemos aos Verbos por um instante. Que fazem tempo. Os outros dois, de modo.
eles?
“Raul, peraí: eu me lembro de que na escola alguém
Ora, os Verbos indicam um acontecimento qualquer me disse que os advérbios também modificavam
transcorrido no tempo. outras palavras, né não?”
Dizemos que “o galo cantou”. Eis um verbo. O
cocoricó do bicho aconteceu, esticou-se por um É, meu jovem Padawan. É isso mesmo.
determinado espaço de tempo, acordou a vizinhança
e acabou. Um verbo. Voltemos à frase: “O galo cantou cedo, muito bem e
alto para um cacete”.
Mas e se quiséssemos dizer algo mais sobre o
cocoricó? E se quiséssemos dizer, por exemplo, se Você, aluno muito perspicaz, com certeza não deixou
o galináceo cantou de manhã como lhe cabe ou de ver o negrito que pus em “muito bem”. Eu lhes
se à tarde, por alguma disfunção psicológica? E tinha dito que “bem” é um advérbio. E quanto a
se quiséssemos qualificar a qualidade do cocoricó, “muito”, é o quê?
avaliando sua afinação e sopesando a possibilidade
de o galo cantar uma ópera? E quanto à altura do Também advérbio. Isso é muitíssimo comum. “Muito”,
cantar? advérbio de intensidade, modifica o advérbio de
modo “bem”.
Logo se vê que o Verbo apenas seria incapaz de
transmitir quaisquer outras informações além do fato Mas e quanto aos advérbios modificando adjetivos?
de que o galo cantou. Dei-lhes um exemplo neste meu último período.
“Comum” é adjetivo. O advérbio superlativo (calma,
Sem os Advérbios quedaríamos impotentes, privados vamos chegar aí) “muitíssimo” acrescenta-lhe
do poder expressivo necessário para averiguar o intensidade.
tempo, o modo e a qualidade dum bendito cocoricó
do mais simples galo véio da esquina. Pois aí estão as três possibilidades de ligação dos

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advérbios. Para resumir a história até aqui, cito o sr. longe) tipos de advérbios:
Cegalla:
De tempo (como no caso do canto matinal do
“A maioria dos advérbios modifica o verbo, ao galo): agora, depois, antes, cedo, hoje, amanhã,
qual acrescentam uma circunstância. Só os de jamais, diariamente, afinal, outrora, finalmente,
intensidade [muito, pouco, bem, bastante…] é que simultaneamente, etc.
podem também modificar adjetivos e advérbios.”.
De lugar: abaixo, acima, cá, aqui, acolá, aquém,
Até aqui tudo tranquilo, certo? Suave na nave, fora, dentro, perto, longe, através, defronte, aonde,
Hakuna Matata. donde, etc.

[Timão e Pumba] De modo: bem, mal, melhor (mais bem), como,


debalde, propositadamente, selvagemente e quase
Os advérbios têm uma relação íntima com os verbos, todos os advérbios terminados em -mente (já
modificando-os e acrescentando-lhes circunstâncias e falaremos sobre eles).
informações. De vez em quando, pulam a cerca com
adjetivos e — são uns tarados — até mesmo com De intensidade: pouco, bastante, demasiado, meio,
outros advérbios. todo, profundamente, excessivamente, ligeiramente,
quanto, bem, mal, apenas, etc.
“Raul, quantos tipos de advérbios existem?”
Até o “nada” pode ser um advérbio de intensidade,
Uma penca. Aliás, entre os gramáticos parece haver como aqui: “O CF não está nada fácil!” (obs: reparem
não poucas discordâncias quanto à classificação por que é importantíssimo aprendermos quais são
adverbial. O que só faz realçar, é claro, a importância as funções das classes gramaticais: “nada” pode ser
de gravarmos qual é sua relação sintática primária: um pronome indefinido, e negar a ausência total de
quaisquer entes (“não vi nada”).
O ADVÉRBIO SE LIGA AOS VERBOS. ÀS VEZES, Pode ser, também, um substantivo e designar o que
QUANDO SE TRATAR DE INTENSIDADE, PODERÁ não existe ou o não-ser.
LIGAR-SE A ADJETIVOS E OUTROS ADVÉRBIOS. Pode ser, ainda, um advérbio, e enfatizar,
acrescentando intensidade, uma negação.
Duvido cês esquecerem agora [barba] Quem não sabe nécas de Morfologia não conseguira
aprender coisa nenhuma de gramática.)
Coloquemos aqui os principais (não todos, nem de

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De afirmação: sim, deveras, realmente,
efetivamente, certamente, etc. A indireta come pelas beiradas, é menos agressiva e
joga o advérbio para o meio da oração:
De dúvida: talvez, quiçá, acaso, provavelmente, etc.
“Perguntei como você aprendeu português, poxa”.
De negação: não, tampouco (também não).
(a resposta, é claro: pelo CF do tio Raul!)
“Mas Raul, são muitos! Não vou conseguir decorar
isso aí.” Não precisa. Pelo menos, não de cara. Existem advérbios interrogativos de causa (por
que), de tempo (quando), de lugar (aonde, donde) e
O que vocês precisam fazer é percorrer a lista e de modo (como).
tentar explicar para si mesmos por que palavras
como “não”, por exemplo, são advérbios. As Lembrando: os advérbios interrogativos cumprem tal
definições só tomam vida quando as conseguimos função apenas em orações interrogativas, diretas ou
aplicar em casos concretos. indiretas.

Mantendo sempre em mente, é claro, que existem Às vezes, porém, conjuntos de duas ou mais palavras
outros tipos ainda. também podem funcionar como adjetivos. São as
chamadas locuções adverbiais. Isto é, em vez de
Vamos a alguns casos especiais. dizer “cegamente”, podemos dizer “às cegas”. Em
vez de “ocasionalmente”, podemos fazer como eu fiz
Além dessa lista de advérbios, existem também os neste período e escrever “às vezes”.
chamados advérbios interrogativos. O nome, está
óbvio, é autoevidente: trata-se de advérbios que Guardem isto na cabeça: sempre que virem, nalguma
servem para fazer interrogações ou perguntas. São classe morfológica, a palavrinha “locução”, saibam
os famosos onde, aonde, quando, como e por que. que se trata do conjunto de duas ou mais palavras
Podem ser usados tanto em interrogações diretas que entram no texto ou fala como alguma das dez
quanto em interrogações indiretas. classes gramaticais.

Uma interrogação direta é a pergunta à queima- As locuções adverbiais classificam-se exatamente


roupa, em que o advérbio vai logo no início: como os advérbios. Existem, portanto, as de modo,
de lugar, de tempo, de causa, de meio, etc.
“Como você aprendeu português assim tão rápido?”

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Existe uma observação interessante a se fazer:
quando femininas, as tais locuções terão sempre o
acento indicativo da crase. Às claras, às vezes, às
escondidas, às tontas, às pressas…

(Outra observação interessante: eu SOU VICIADO


em locuções adverbiais. Só elas já seriam suficientes
para justificar a existência do português.)

E, pronto: aí estão os advérbios. Porém, não inteiros.


Ainda precisamos estudar algumas características
suas. Mas a aula já se esticou demais e, como
ministrei-lhes outra ontem, e hei de lhes dar outra
amanhã, não quero enfiar muita informação aqui de
uma vez.

Quem estuda com calma, aprende com segurança.

Espero que tenham gostado! Se sim, não deixem de


compartilhar prints da aula nos seus stories. Seus
prints têm me ajudado MUITO, vocês não fazem
ideia.

Portanto, até amanhã!

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Chegadíssimos, depois de alguns dias de silêncio
cá neste CF, tempo em que quase se juntaram E o “será” e “terá” são, na verdade, frutos duma
algumas teias de aranha e as mobílias estão ficando modéstia que não casa muito bem comigo: vários de
empoeiradas, estamos finalmente de volta para a vocês JÁ me contaram ter acontecido uma mudança
aula 12! substancial na sua compreensão do português com
este CF.
O plano, como lhes disse mais de uma vez, era fazer
um intensivão que durasse o mês de janeiro inteiro, Ou seja: se me gabo (uia) não é mais baseando-
com três aulas semanais. Neste finalzinho de reta me num futuro hipotético, sim em uma realidade
algumas aulas acabaram ficando atrasadas e, de presente.
acordo com as minhas contas, devo-lhes ainda duas
delas. Mas não fiquem tristes. O CF foi apenas o primeiro
passo e um teste para saber se eu deveria
Com o decorrer das aulas e a resposta maravilhosa acrescentar outras passos a este primeiro. A resposta
de vocês fui percebendo que não valia a pena correr foi, graças a Deus, um retumbante “SIM”.
com os conteúdos e resolvi restringir-me apenas às
dez classes gramaticais. Assim, pois, o plano é que Então fiquem atentos! Vocês serão os primeiríssimos
não estudemos aqui análise sintática ou questões a receber mais informações sobre o novo projeto.
gramaticais avançadas. Quem não é do CF só as receberá bem depois.

Contudo, com a base que já lhes dei ao longo dessas Aliás, “receber informações” não: irei consultá-
aulas eu agarantio, à moda do Seu Creysson: o los. Meu novo projeto, muito mais ambicioso e
estudo do português deixará de ser um troço sem pé abrangente, partirá daqui. De suas dúvidas e
nem cabeça. sugestões.

Depois de compreender quais são as funções Contudo, tenhamos calma. Estou pondo o carro na
de certas palavras e os motivos perfeitamente frente dos bois. Isso é conversa para um pouco mais
justificáveis para algumas das regras que tem a tarde. Agora, ainda nos restam aulas e algumas
língua, tanto a disposição de espírito com que o aluno classes gramaticais.
aborda os estudos será outra — espírito aberto em
vez de acanhado; dócil em vez de hostil — quanto Voltemos, portanto, aos ADVÉRBIOS.
sua capacidade de guiar-se pelos meandros da
gramática terá sido consideravelmente aumentada. Por que advérbios de novo? Porque ainda faltam uma

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ou duas coisinhas para se dizer sobre eles. O que ficou faltando (e creio ser-lhes-á útil, pois
são construções muitíssimo comuns na língua) são
Lembram-se ainda da última aula? Se não, os ADJETIVOS ADVERBIALIZADOS e os GRAUS DE
recomendo-lhes que voltem ao destaque 11 e a ADVÉRBIOS.
releiam. Sei que já faz algum tempo que não nos
falamos e o mais provável é que vocês precisem dar Primeiro, lembremos dum dado importantíssimo: os
uma refrescada na memória. advérbios fazem parte das quatro classes gramaticais
invariáveis. Ou seja: não variam. “Talvezes”,
Uma das piores coisas que pode fazer um estudante “provavelmenta” e “tampoucx” NÃO EXISTEM
é tentar enfiar na cabeça um novo conteúdo sem — graças a Deus, alguém poderia acrescentar.
ter muito claros na cabeça conteúdos precedentes Mantenham isso em mente, beleza?
que lhe dão base e o tornam algo com sentido. Seria
como tentar pôr novos tijolos numa parede que Ora, às vezes uma palavra pode ter a forma de
ontem caiu pela chuva. É esforço inútil. adjetivo, porém o valor de um substantivo.

Ide, portanto, ao destaque 11, lede-o e só então “Raul, entendi nada.”


volteis aqui (usei a segunda pessoa para tornar
mais grave e momentosa a minha ordem/sugestão. Reformulando: às vezes, uma palavra que no geral
Não lhes parece que trovões ribombam no céu e a é adjetivo acaba funcionando, numa frase específica
minha voz surge das entranhas do mundo? Truques qualquer, como ADVÉRBIO. Sua forma não se altera
de professor). para o clássico final “-mente” e seria classificada
pelos desavisados como adjetivo.
Pois bem, advérbios.
Mas aqui não há desavisados, né não? Todo mundo
Resumão: expliquei-lhes, na última aula, que os aqui é alerta feito cão de caça, uns Fábios Assunções
advérbios existem sobretudo em função dos verbos, na terceira noite seguida de farra e farinha.
mas que também podem modificar adjetivos e os
próprios advérbios. Falamos um pouco sobre os seus Vejam o seguinte período:
diversos tipos, abordamos um ou dois casos especiais
e, por fim, vimos que existem conjuntos de duas “Entrou rápido e falou alto, sério.”
ou mais palavras que às vezes (viram?) exercem a
função de advérbios: as locuções adverbiais. Ora, se você for até o Priberam, por exemplo,
e escrever “rápido”, o dicionário irá lhe dizer

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que a palavra é um adjetivo com 5 significados plural. Como a escreveríamos?
possíveis, depois um substantivo masculino com 2
significados possíveis e, por último, um advérbio “Entraram rápido e falaram alto e sério.”
com um significado possível — “com rapidez” ou
“rapidamente”. Notem que não faria sentido tornar plurais nossas
palavrinhas-chave. História bem diferente teríamos
Tanto o adjetivo quanto o advérbio querem dizer se escrevêssemos “os carros rápidos são dirigidos por
“com rapidez”. O que, então, diferencia-os entre si? homens altos e sérios”.

O tipo de palavra que modificam. Tranquilíssimo, certo?

A diferença entre um adjetivo e um advérbio é a Façamos um testezinho:


diferença que existe entre você dizer “aquele carro
rápido” e “o carro acelerou muito rápido”. No primeiro “Escrever certo na hora certa.”
caso, a palavra modificada é um substantivo; o
próprio carro. No segundo, a palavra modificada não Existem advérbios aí? Se sim, quantos?
é o carro, e sim seu acelerar: um verbo.
Basta lembrar-se da principal característica dos
Dá-se o mesmo, na frase que já postei, com os advérbios e tudo ficará muito fácil: advérbios
advérbios “alto” e “sério”. São advérbios e não ligam-se principalmente a verbos e é um função
adjetivos porque modificam o verbo “falou”. Não é deles que existem.
que o sujeito é alto ou sério: seu falar foi alto e sério.
Vamos, agora, à última característica dos advérbios
Se quiséssemos escrever a mesma coisa sem usar que estudaremos por aqui: seus GRAUS.
adjetivos adverbializados, sairia algo como falou
“altamente” e “seriamente”. Ora, os advérbios não têm variações, é verdade. Não
se flexionam em número ou gênero. Maaaaaas… têm
Existe, porém, um outro teste bem rápido e fácil para graus.
averiguar se tal ou qual palavra corta para o lado
do adjetivo ou do advérbio, se é Coca ou Fanta: ela Calma, que a coisa é facílima (e “facílima” é já um
varia? Se sim, é com certeza adjetivo. spoiler de graus adverbiais).

Digamos, por exemplo, que nossa frase estivesse no Quanto ao grau, os advérbios podem ser ou

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comparativos, ou superlativos.
Nos analíticos você acrescenta ao advérbio uma
Os comparativos são fáceis, né. Quase não preciso outra palavra: “Eu moro bem perto daqui”. Reparem
explicar-lhes nada. Quando você vai se comparar que o “bem” aumenta o grau do “perto”. Não é só
com o vizinho, ou se acha melhor do que ele, ou perto, é quase aqui do lado. É muito / bastante /
igual ao sujeito ou pior do que o desgramado. Pois aí bem perto.
estão os advérbios comparativos:
Nos sintéticos, você altera a palavra mesma: “Eu
De superioridade: “mais …do que” moro pertíssimo daqui”. Aí está por que lhes dei um
De igualdade: “tão …quanto” spoiler um pouco antes: “facílimo” é um advérbio
De inferioridade: “menos …do que”. superlativo que modifica e aumenta o grau do verbo
Só existe um porém aí: Há que se dar uma “ser”: “a coisa é facílima.”
atenção especial aos advérbio “mal” e “bem”. Seus
comparativos são “melhor” e “pior”, respectivamente. E aí, moleza ou não é? Aí estão os advérbios.
Mas nem sempre.
Como já lhes disse, trata-se de uma classe
Quando o advérbio comparativo estiver em frente ENORME e cuja classificação causa discórdia entre
a um particípio verbal deve-se usar o “mais bem” os gramáticos. Para nós, porém, que não somos
ou “mais mal”: “seu trabalho está mais bem feito”. especialistas, importam menos as tretas internas e
/ “mais bem colocado” / “mais bem apresentado” mais a concordância geral.
(quem está acompanhando os stories aqui logo
identificará a resposta para uma enquete que fiz Advérbios modificam sobretudo verbos. Podem
ontem). modificar, também, adjetivos e outros advérbios. Não
variam jamais. O resto, aprende-se com a muitíssimo
Nesse erro eu mesmo caí várias vezes e ainda hoje, (óia aí o superlativo) bem-vinda ajuda deste nosso
já a par das regras, acho muito mais bonito um CF.
“melhor apresentado”. Às vezes, porém, temos de
abaixar a cabeça. Na próxima aula, estudaremos as demais classes
gramaticais invariáveis: as PREPOSIÇÕES,
Os advérbios superlativos são ainda mais fáceis. CONJUNÇÕES e INTERJEIÇÕES.
Aqui, não há comparação. Há, isto sim, a ênfase
sobre o alto grau da palavra modificada. Podem ser São todas muito fáceis, garanto-lhes. Até mais ver!
analíticos ou sintéticos.

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Chegados do meu coração, eis que estamos já na
aula 13. Pelas minhas contas, esta é a última aula a
ser-lhes entregue por aqui. A matemática, porém,
já dizia um sábio (eu), às vezes mete o bedelho
calculador onde ninguém a chamou. Nesses casos, o
melhor sempre é nos apegarmos à sabedoria de uma
das maiores estadistas do séc. XX:

“E nós não vamos colocar uma meta, nós


vamos deixar uma meta aberta. Quando
a gente atingir a meta, nós dobramos a
meta”.
Tranquilíssimo? Então bora falar um pouco, primeiro,
sobre as PREPOSIÇÕES.

Nas duas últimas aulas, falamos sobre a primeira


das classes gramaticais invariáveis: os advérbios. A
essa altura do campeonato, creio (espero) não ser
mais preciso dizer-lhes o que são classes variáveis e
invariáveis, né não?

[ENQUETE SIM / NÃO]

Tô de olho, hein!

Agora, restam-nos três últimas classes,


tranquilíssimas: PREPOSIÇÕES, CONJUNÇÕES e
INTERJEIÇÕES.

As INTERJEIÇÕES são uma classe à parte e


funcionam basicamente sozinhas, sem dependência

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sintática de outras partes. Coloquemo-las de lado por período acaba com uma preposição — o “sobre”.
um instante, feito uma doce sobremesa. Segundo, porque os dois “sobre” foram deslocados
de suas posições corretas e, pois, já não podem
O prato principal são PREPOSIÇÕES e CONJUNÇÕES. exercer a função que lhes cabe.
Para que servem ambas? Uma imagem útil para
entender-lhes a função é imaginá-las como porcas, “Tá, Raul, não explicou nada. Ainda não entendi por
parafusos e dobradiças — servem para ligar as partes que está tudo errado.”
principais das frases (substantivos, adjetivos, verbos,
pronomes…) e entre elas estabelecer certas relações. Calma, calma que vamos chegar lá.

São as rebimbocas das parafusetas linguísticas. A frase arrumada seria algo assim: “a importância
de discernir entre as coisas sobre as quais
Primeiro, portanto, vimos para que servem as portas, temos controle e as coisas sobre as quais não
janelas, pedras e pedaços de madeira. As coisas temos controle”.
substanciosas. Agora, havemos de aprender a usar
as partes secundárias, que às vezes em si e fora Eu aposto que, mesmo sem saber o porquê, o
daquelas nem podemos dizer que existem. segundo período soou-lhes melhor. Soou-lhes menos
O que são, pois, as PREPOSIÇÕES? truncado. Feito um relógio cujas engrenagens não
batem umas contra as outras.
Preposições são palavras que servem para ligar
outras palavras entre si, estabelecendo entre elas Ora, se as preposições servem para LIGAR as
certas relações. palavras umas às outras, daí decorre, antes de
tudo, que têm de estar entre duas palavras. São
Prestem muita atenção ao “ligar” e às “relações”. como pontes. Terminar uma oração ou período com
Prestaram? Então continuemos. “sobre”, por exemplo, é construir uma ponte que saia
de uma montanha e vá dar em lugar nenhum. Não
Lá na aula 4, dei-lhes um exemplo de uso porco está ligando um ponto a outro.
das preposições. No Instagram, um certo sujeito
escreveu a seguinte pérola: “…a importância do É o que se dá quando alguém diz “você pode falar
discernimento entre as coisas que temos controle sobre?”
sobre e as que não temos controle sobre”.
Falar sobre… o quê? Quem fala, fala sobre alguma
Ora, por que o uso é porco? Primeiro, porque o coisa. O “falar” é a montanha, o “sobre” é a ponte e…

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acabou. a” no sentido de “ver”.

Preposições ligam as outras palavras entre Em suma: existem termos regentes e termos
regidos. Existe um troço chamado REGÊNCIA.
si.
Lembrem-se disso. Gravem isso na testa. “Raul, que carai é regência?”

O mesmo princípio explica por que escrever “discernir Fora da Gramática, creio estar claro o sentido de
entre as coisas que temos controle sobre” não “regência”. O substantivo tem a ver com reis e
faz nenhum sentido. “Sobre” aí está ligando quais realeza, e o verbo que dele deriva (reger) mantém-
palavras? Usemos a lógica. se na mesma linha: administrar, dirigir, governar,
dominar, guiar.
Reformulemos a frase: ter controle sobre as coisas.
Que tem controle, tem controle sobre alguma coisa. “Regência” implica superioridade hierárquica por
Reparem na posição da preposição. Está ligando um lado e, portanto, necessariamente submissão e
os termos. Não é o que se dá em “as coisas que dependência pelo outro. Na Gramática, quer dizer
temos controle sobre”, frase que só entendermos o seguinte: alguns termos estão subordinados
por adivinhar as relações sintáticas e reorganizá-las a outros. Existem relações de dependência, de
mentalmente — ainda que não percebamos. complementação.

As preposições, porém, não servem só para ligar “Prof., tô boiando” [meme]


os termos entre si. Também estabelecem entre eles
certas relações específicas. Na Gramática, como [Meme do Raul puxando o freio de mão]
em qualquer outro sistema organizado e orgânico,
existem hierarquias e dependências. Beleza, vamos com calma. Estamos falando sobre
preposições, certo? Certo. Disse-lhes eu que as
Certos termos existem em função de outros e sem preposições servem para
eles não fazem sentido (como, por exemplo, não faria ligar palavras umas às outras;
sentido um advérbio sem qualquer verbo, adjetivo Estabelecer entre elas certas relações
ou algum outro advérbio para modificar). Existem As tais relações são precisamente as regências.
certas relações que não podem ser interrompidas por Voltemos ao nosso exemplo do “sobre”. Para que a
vírgula, como a ligação entre o sujeito e o predicado. preposição foi usada naquela frase? Para fazer uma
Certos verbos exigem preposições, como o “assistir ponte entre “controle” e “coisas”. Mas não é só uma

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ponte. natureza e direito; as acidentais, porque são
enxeridas e querem fazer esse serviço além dos seus
Controle é um substantivo que, às vezes, para outros.
fazer sentido tem de ser complementado com outras
palavras. Falta-lhe o sentido completo. Qual é a Em concursos públicos e provas de vestibular, às
pergunta que faríamos diante da palavra sozinha? vezes pede-se do aluno que todas as preposições
tenham sido decoradas e lhe estejam na ponta da
“Você tem controle, beleza. Mas é controle sobre o língua. Não faremos nada disso aqui. Hei de lhes dar
quê?” uma lista com todas elas. Leia-a, guarde-a consigo e
a consulte sempre que tiver alguma dúvida.
Este “o quê” é precisamente o seu complemento e é,
portanto, REGIDO pelo substantivo. Temos um termo As preposições essenciais são: a, ante, após, até,
REGENTE e um termo REGIDO. com, contra, de, desde, em, entre, para, perante,
por, sem, sob, sobre, trás.
As preposições servem para estabelecer essas
relações. Podem fazê-lo ou com verbos, ou com Todas essas palavras foram criadas para que exerçam
substantivos, adjetivos e advérbios. Sempre que funções prepositivas. São as preposições puro-
ouvirem falar sobre regência verbal ou nominal, é sangue.
sobre isso que se estará falando.
[meme de pangaré e puro-sangue]
Até aqui tudo tranquilo, certo? Creio ter ficado claro
quais são as funções das preposições. Agora, vamos Duas observações sobre elas:
dar uma olhada nos seus tipos diversos e regrinhas 1) Os pronomes que vêm depois das proposições
específicas. essenciais são os pronomes oblíquos tônicos:
“Não saiam sem mim”.
1) Algumas preposições não têm uma função
Existem dois tipos (só? só!) de preposições: as significativa lá muito clara e definida. São pau
essenciais e as acidentais. As primeiras para quase toda obra. “a” e “em”, por exemplo,
surgem na língua já como preposições, para este fim prestam-se a todo tipo imaginável e concebível de
definido; as segundas, são palavras de outras classes função significativa.
que às vezes funcionam como preposições.
As preposições acidentais são: afora, como,
Portanto, as preposições essenciais o são por conforme, durante, exceto, salvo, segundo…

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das dez classes gramaticais.”
Sobre elas, uma observação: se as preposições
essenciais exigem que o pronome que porventura O que são, portanto, as locuções prepositivas? Hein,
venha depois delas seja oblíquo, as acidentais minha gente boa?
exigem pronomes retos: “Todos já estão na sala,
menos eu”. [meme]

Sussa, né não? São conjuntos de duas ou mais palavras que


funcionam como preposições. Ou, como diria Cegalla,
Como eu já lhes disse, não é preciso decorar são expressões (e não apenas uma palavra ou letra)
as preposições essenciais e acidentais. O mais com a função das preposições.
importante, como vocês já estão careca de saber,
está na compreensão real da NATUREZA e das Temos várias delas na língua portuguesa (a lista aqui
FUNÇÕES de cada uma das classes. não é exaustiva): abaixo de, a fim de, devido a, em
virtude de, ao invés de, a favor de, à custa de, antes
O princípio torna-se especialmente importante de, de acordo com, por causa de, até a (foi até à
quando se trata do próximo tópico relacionado às porta), sob pena de…
preposições:
Não existe segredo.
As LOCUÇÕES PREPOSITIVAS
“Passamos através de mata cerrada”: poder-se-ia
[prof. Que carai é locução?] escrevê-la “passamos pela mata cerrada”.

Lembram-se das locuções adverbiais? “Às vezes” “Perdemos, além de tempo, dinheiro”: poderia
em vez de “ocasionalmente”, “às cegas” em vez de também ter sido escrita “perdemos tempo e
“cegamente”. Já falamos sobre elas aqui. Caso não se dinheiro.”
lembrem, deixa eu lhes refrescar a memória com um
parágrafo meu da aula 11:
Até aqui, tudo sussa? Recapitulando:
“Guardem isto na cabeça: sempre que virem,
nalguma classe morfológica, a palavrinha “locução”, 1) as preposições servem para ligar outras palavras
saibam que se trata do conjunto de duas ou mais umas às outras e entre elas estabelecer relações
palavras que entram no texto ou fala como alguma de dependência e/ou complementariedade;

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2) Existem preposições essenciais (que já chegar na academia”. Trocamos o “a” pelo “em”.
nasceram preposições) e preposições acidentais
(palavras enxeridas que vêm fazer o trabalho de Em “namorar”, inventamos uma nova preposição. O
preposições às vezes); certo seria dizer “Fulana namora o vizinho”. Mas não
1) Existem expressões, ou grupos de palavras, que é assim que falamos, não é? Falamos “namora com o
fazem as vezes de preposições. São as locuções vizinho”.
prepositivas.
Essas variações são perfeitamente aceitáveis na fala
e na escrita informal e coloquial. Mas prestenção: na
O que nos restam são algumas observações de ordem norma culta, não.
prática.
Existe um troço, aliás, que não é aceito nem na fala,
4) Preposições são uma coisa, proposições outra. nem na norma culta: é a mania de pôr preposições
Na gramática, há também este último termo, cujo em indicações numéricas com os verbos “ser” e
significado é “oração, frase”. Não confundam as bolas. “estar”. “Éramos em cinco na casa” está errado (e é
feio). Escrevam (e digam) “Nós estávamos cinco à
5) As preposições são palavrinhas que vira e mexe mesa”.
trocamos, suprimimos ou “inventamos” na fala.
E aí estão as preposições, a segunda classe
O exemplo clássico é o verbo “assistir” com sentido gramatical invariável. Agora, só restam duas. Uma
de “ver”. Para que possamos diferenciá-lo do delas é mais chatinha e a outra, ridiculamente fácil.
homônimo que significa “ajudar”, alguém inventou
o macete de fazer uma preposição “a” segui-lo. Portanto, teremos mais uma aula para as
Portanto, o gramaticalmente certo é dizer “assisti CONJUNÇÕES e INTERJEIÇÕES. Talvez, não consiga
ao filme ontem” e não “assisti o filme ontem”. enfiar tudo em uma aula só. Veremos.
Acontece que, na prática, já quase ninguém usa a tal
preposição e quase ninguém sabe de sua existência Espero que tenham gostado dessa aula! Já sabem o
na norma culta. Alguns bons escritores já escrevem que fazer, né? Tirem prints e compartilhem-na com a
“assistir” com o sentido de ver sem o “a”. galera.

Há também os verbos “ir” e “chegar”, que, segundo Até mais ver!


a norma culta, deveriam reger a preposição “a”. O
que fazemos na fala? “Vou no shopping”, “acabei de

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,E aí, meus chegados! Eis que chegamos à aula
14, número que aliás não estava previsto no
planejamento inicial do CF — pelos meus cálculos, o
mês de janeiro inteiro com três aulas semanais daria
13 aulas.

A verdade é que eu tive de apressar alguns conceitos


(dando-lhes chuvinhas no lombo com minhas
esporas) e solenemente pular por cima de outros,
feito uma Maurren Maggi da pedagogia gramatical,
para não tornar absurdamente imensas as aulas do
Intensivão.

Mesmo assim, o PDF que lhes será enviado em breve


com este conteúdo já beira as 100 páginas. Quase
100 páginas só para nos familiarizarmos com o beabá
indispensável da Gramática, as classes gramaticais.
Quase 100 páginas para assentarmos o fundamento
de QUALQUER conhecimento gramatical; 100 páginas
para dar-lhes a papinha linguística de que fomos
todos nós privados nas últimas décadas de ensino.

E a coisa está funcionando. Às mil maravilhas, para


dizer a verdade. Mas ainda quero (e vou) lidar com
tudo o que se viu aqui de modo mais aprofundado,
além de esticar formidavelmente a abrangência dos
estudos. Aguardem. Só me aguardem [barba]

Porém, como diz o Evangelho (e minha mãe sempre


fazia questão de repetir quando me proibia de fazer
algo, como ter de ir para a escola e não conseguir
assistir ao episódio final de Digimon): há tempo para
tudo. Tempo para sorrir, tempo para chorar. Tempo

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para estudar o CF de agora e tempo para sonhar com que as coisas se chamam assim e assado. Com
o novo projeto do Raul… calma, só no sapatinho.

Na última aula, estudamos as preposições. Eu Pois chega de lengalenga. Hora de botar as mãos na
lhes disse, bem me lembro, que uma das classes massa.
gramaticais que ainda tínhamos de estudar era um
pouco chatinha. Sei que pedagogicamente não é lá CONJUNÇÕES, o que raios são elas?
muito sábio você dizer aos seus alunos, antes de
passar-lhes um conteúdo qualquer, que a coisa será Lembra-se ainda do que fazem as preposições?
chata e difícil. Depois de eu repetir a mesma coisa umas trezentas
e vinte e duas vezes, espero que já saiba de cor e
E difícil não é. As CONJUNÇÕES são palavrinhas com salteada a resposta, hein?
as quais temos todos nós enorme familiaridade.
O adjetivo “chatinho” reservo 1) às suas várias As preposições… LIGAM PALAVRAS, ENTRE
classificações e 2) à necessidade de estudarmos um ELAS ESTABELECENDO CERTAS RELAÇÕES DE
pouco de sintaxe para entendê-las. DEPENDÊNCIA E/OU COMPLEMENTARIEDADE.

Até aqui, fugimos à sintaxe como o Diabo foge da Ora, as conjunções fazem basicamente a mesma
cruz. E isto não porque a coisa seja incrivelmente coisa. Só que com ORAÇÕES.
difícil ou insuportável, e sim porque não vou apenas
amontoar os assuntos uns em cima dos outros. “Raul, oração é isto aqui?”
Vamos entender os que vêm antes e só depois passar
para os próximos. No caso das conjunções, porém, [gente rezando]
não teremos como fugir. Parte de sua classificação
depende de classificações sintáticas. Isto é: temos Não.
cinco tipos de orações coordenadas sindéticas
(calma que já chegamos aí; não se desespere) e, “Oração” é uma nomenclatura sintática. Isto é: um
não por coincidência, cinco tipos de conjunções conceito da Sintaxe.
coordenativas.
“Raul, o que carai é sintaxe?”
Portanto, não precisa ficar no cagaço quando eu
começar a falar uns nomes estranhos aqui, sim? Bora lá, sem SUAR FRIO, por favor. Eu sei que a
Lembre-se do nosso princípio: vamos aprender por espinha de muita gente fica igual um picolé à simples

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menção de tão ominoso nome… que exerce na sociedade; como se o olhássemos
enquanto parte de um todo maior e absolutamente
SINTAXE [raios e trovões] (e que se pronuncia interligado.
sintasse, vejam lá)
Uma mesma palavra pode ser morfologicamente
A Gramática tem três partes: A Fonética/Fonologia, um substantivo e, sintaticamente, um sujeito. Por
a Morfologia e a Sintaxe. Dentro de cada uma delas, exemplo: “O pepino já está bom para comer”.
há diversas subpartes. Até aqui, trabalhamos só
com uma das subpartes da Morfologia — as classes Em si, pepino é um substantivo. Em relação com as
gramaticais. demais palavras, porém, torna-se nesse caso um
sujeito — porque é do pepino que se fala.
Para simplificar a história e vocês não ficarem
perdidos, é mais ou menos o seguinte: a Morfologia Mas o pepino também poderia ser um predicativo do
lida com as palavras isoladas, com elas em si. A sujeito (calma, não se assuste): “Meu problema é um
sintaxe, por outro lado, lida com as palavras já em pepino dos grandes”. Aí, o substantivo está sendo
relação umas com as outras. usado para caracterizar (determinar o caráter) o
sujeito “meu problema”.
A palavra-chave na Sintaxe é relação. Ora, quem
tenta se relacionar sozinho acaba num miserável Morfologicamente, é substantivo. Sintaticamente,
cinco-contra-um. Para haver relação, tem de haver pode ser várias outras coisas. É normal, no começo,
mais de uma parte. Quando as palavras aglomeram- confundir os dois campos.
se umas com as outras e formam, juntas, algo maior
do que elas sozinhas, acabam tendo funções. NÃO SE PREOCUPE se você às vezes ficar perdidinho
da Silva com essas duas abordagens diferentes, e
É na sintaxe, por exemplo, que estudamos como se classificar com critérios morfológicos algo que deveria
dá a concordância entre as palavras e na sintaxe que ser analisado sintaticamente. Com o tempo e a
estão as regências verbal e nominal. prática, as coisas vão se ajustando.

Forçando a barra legal, é como se na Morfologia “Mas, Raul, para que tanta coisa? O português não
considerássemos um fulano de acordo com as poderia ser mais simples?”
características que lhe são próprias — seu nome,
sua cor, sua voz, seus gostos, etc. — e, na Sintaxe, Não. As línguas são sistemas absurdamente
olhássemos para o sujeito de acordo com a função complexos, para não dizer milagrosos. E a prova do

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milagre é esta: somos capazes de usar a nossa (bem
ou mal, melhor ou pior) ainda que não saibamos A frase, é claro, pode ter mais de uma palavra — mas
explicá-la nadinha. só será frase se tiver SENTIDO. Tem de transmitir
uma mensagem.
As complexidades da língua são prova de sua
riqueza. Ressentir-se delas seria como ficar puto com É linguístico? Transmite uma mensagem? Então é
um Rolex por ter muitas gemas preciosas de vários FRASE. Ponto final.
matizes e uma engrenagem complexíssima.
Com a ORAÇÃO já é outra história. O que caracteriza
Voltando, porém, voltando. Entenderam, mais uma oração? A existência de um verbo. Quer
ou menos, qual é a diferença entre a Sintaxe e a aprender sintaxe? Pegue um ferro, aqueça-lhe a
Morfologia? Se sim, continuemos. ponta no fogão e tatue nas nádegas: ORAÇÃO TEM
DE TER VERBO.
Na Sintaxe, existem três conceitos fundamentais: a
FRASE, o ORAÇÃO e o PERÍODO. Portanto, a oração é a frase ou a parte da frase
que se organiza em torno dum verbo. Isto é, se
Primeiro, vejamos o que é a FRASE. você ler uma frase que tenha vários verbos, nesta
frase haverá várias orações:
Na comunicação cotidiana, escrita ou falada, usamos
“frase” para designar quase toda e qualquer junção “O CF é bom demais porque o Raul ensina com
de palavras que faça algum sentido. Geralmente, clareza, cria memes, faz piadas a rodo e dá exemplos
junções de quatro ou mais palavras. únicos”.

Na Sintaxe, porém, chamamos de FRASE, nas É uma frase, certo? Certo. Mas não é uma oração
palavras do prof. Sérgio Nogueira, “a unidade mínima só. São cinco: “O CF é bom demais / porque o Raul
de comunicação linguística que é responsável por ensina com clareza, / cria memes, / faz piadas a
transmitir uma mensagem”. rodo / e dá exemplos únicos.

“Unidade mínima” porque a frase, estranhamente, Pegou a ideia? Existem, é claro, mais detalhes e
pode ser uma palavra só. “Olá!” é, sintaticamente, nuanças na história, mas, por ora, é melhor ficarmos
uma frase. Por quê? Porque transmite uma só no estritamente necessário.
mensagem. Todos nós sabemos o que olá “quer
dizer”, não é? E o período? O período é simples: é a frase que

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contém uma ou mais orações. Seu sentido tem de outras são independentes entre si e, juntas, formam
ser completo e apresentar, é claro, pelo menos um um sentido que não poderia ser criado por nenhuma
verbo. delas sozinha, etc.

O período pode ser simples ou composto. O melhor, porém, em vez de eu ficar vomitando-lhes
descrições e definições é entrarmos nos exemplos.
No simples, existe uma só oração. Portanto, só tem
um verbo: Existem dois tipos principais de conjunções: as
“Todos, naquele CF, aprenderam português”. coordenativas e as subordinativas.
No composto, há duas ou mais orações: “O CF parece As conjunções coordenativas são as responsáveis por
difícil, mas só assusta quem não sentou o bumbum ligar, ou fazer a ponte, entre orações sintaticamente
na cadeira para estudar um pouco”. independentes. As subordinativas, por ligar orações
que têm uma relação de dependência sintática.
Beleza? Só para recapitular, então: a frase é qualquer
enunciado que tenha sentido completo. A oração é a “Cacetada, entendi foi nada”.
frase ou parte da frase que se organiza em torno de
um verbo. O período é a frase que tem uma ou mais Vamos por partes. Mais especificamente, pelos
orações. nomes. A conjunção coordenativa leva esse nome
porque… coordena.
Ufa! Pronto. Agora que vocês já sabem o básico sobre
as nomenclaturas sintáticas, podemos enfim entrar Arranja, organiza e dispõe de modo organizado
nas CONJUNÇÕES. orações que são sintaticamente empoderadas
(urgh) — ou, se se quiser um português mais
Repito, portanto, o que lhes disse faz pouco tempo: mercadológico, enfoderadas (urgh). Independentes.
se as preposições ligam palavras, as conjunções Não precisariam de mais ninguém para que sejam o
ligam orações. que são; têm sentido completo.

Assim como existe uma relação de dependência Por exemplo: “Abra o CF e comece a estudar”. Temos
e/ou complementariedade entre as palavras, aí duas orações sintaticamente completas. “Abra
existem certas relações de dependência e/ou o CF” tem um sujeito (um “você”, oculto como o
complementariedade entre as orações. Algumas cachorro da Dilma atrás do verbo), um verbo (“abra”)
completam outras e só existem em função delas, e seu objeto direto (“o CF”). A mesma coisa com

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“comece a estudar”. a fazer tudo que a namoradinha manda? Temos aí
uma relação de subordinação.
Existe aí uma conjunção? Existe. O “e”. Reparou
como está ligando as duas orações? Está coordenando Na sintaxe, a subordinação quer dizer o seguinte:
o relacionamento entre duas orações modernosas, cria-se uma oração que, sozinha, não é completa. Não
progressistas, independentes que só elas. é sintaticamente independente. Faltam-lhe partes
para que faça sentido. As partes que lhe faltam
Outros dois exemplos, agora retirados de dois formarão, precisamente, a oração ou orações
mestres. O primeiro, assinado por Graciliano Ramos: subordinadas.

“Assinei as cartas e meti-as nos envelopes”. E o que liga a oração megera à oração pau-mandado?
Precisamente as conjunções subordinativas.
E uma oração longa, já menos óbvia, escrita pelo
nosso maior escritor de todos os tempos: Exemplo: “Eu espero que vocês aproveitem muito
este CF”.
“Não só findaram as queixas contra o alienista, mas
até nenhum ressentimento ficou dos atos que ele Temos quantas orações aí? Duas, não é? Dois verbos.
praticara”. (Machado de Assis) ”Espero” e “aproveitem”. Se, porém, as separarmos
uma da outra, que sentido teria “eu espero”?
Tudo beleza por aqui? Já estudaremos com mais
cuidado as conjunções coordenativas. Fiquem Nenhum, ué. “Eu espero”… o quê? O verbo está
tranquilos. Agora, passemos ao próximo tipo de incompleto. Para socorrê-lo, vem a conjunção “que”
conjunções: e traz consigo a oração que lhe é subordinada: “Eu
espero que vocês aproveitem muito este CF.”
As SUBORDINATIVAS.
Outros exemplos:
Já as conjunções subordinativas ligam orações em
que existe relação de dependência sintática. Ou, “Eu não esperava que ele concordasse.”
melhor dizendo, de SUBORDINAÇÃO. E o que quer “O tambor soa porque é oco.”
dizer a tal palavrinha? Quer dizer que existe entre “A cobra é um animal que se arrasta.”
as partes uma superioridade. Alguém submete-se,
sujeita-se ou torna-se dependente de outro alguém. Tranquilo, certo?
Conhecem o famoso banana, o pau-mandado pronto

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Recapitulando: as conjunções coordenativas
ligam orações independentes e as
subordinativas, orações sintaticamente
dependentes.

Se ainda lhe restar alguma dúvida, volte e releia as


explicações. E é bem provável que haja dúvidas. Sei
que para muitos de vocês TUDO aqui é novidade.
Portanto, não se sinta uma anta porque não
conseguiu pegar tudo de uma só vez. É normal.
Normalíssimo.

Lembre-se: você já usa, de modo natural e


automático, MUITAS estruturas que estão sendo
explicadas aqui. Portanto, sob certo aspecto doido
já as sabe. Aqui, interessa-nos aprender como é que
funcionam direitinho a fim de que você possa usá-
las com ainda mais desenvoltura, sem medo, com
um repertório imensamente maior. Você já sabe o
português. Estamos aqui para refiná-lo, melhorá-lo e
aumentá-lo. Não se descabele.

Eu iria passar-lhes, ainda nesta aula, os tipos


diferentes de conjunções coordenativas e
subordinativas, mas fiz os cálculos e percebi que a
coisa ficaria enorme.

Portanto, creio que com mais uma aula eu consiga


passar-lhes todas as conjunções e encerrar com as
interjeições. Já tenho quase tudo pronto, de modo
que a consigo entregar, se Deus quiser, amanhã.

Muito obrigado, e nos vemos lá!

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AULA 15 outros conceitos fundamentais da sintaxe.

Terminei dizendo que havia dois tipos de conjunções:


Aula 15, hein, chegados? as coordenativas e as subordinativas.

Fazendo uma rápida conta de padaria, por cima digo- As primeiras ligam orações sintaticamente
lhes que no mínimo foram mais de 500 stories até empoderadas (urgh) e as segundas, orações em que
agora. No mínimo. Quinhentos. O PDF que vocês há uma relação de subordinação ou dependência:
receberão com todo o conteúdo daqui passará das uma oração só existe para completar o sentido da
100 páginas. outra.

Tudo, creio eu, entregue de forma clara, dinâmica e


Há cinco tipos de conjunções coordenativas e
interessante. Tudo escrito num português que nada
tem de embolado ou desnecessariamente técnico;
dez tipos de conjunções subordinativas.
tudo escrito a fim de lhes revelar a lógica responsável
Mas ó: nada de pânico. A não ser que você esteja
por sustentar o edifício da língua, e não só repetir
estudando para um concurso público ou coisa do
feito um papagaio macetes minguados.
gênero, não é preciso decorar todos os quinze tipos.
Eu mesmo não as decorei e passo muito bem,
Se conseguir passar-lhes tudo o que tenho pronto
obrigado.
nesta aula, será este o último conteúdo formal aqui
do CF. Ainda deixarei o conteúdo disponível por
Mais importa entender que 1) a sintaxe é uma
alguns dias; até, pelo menos, conseguir enviar-lhes o
parte da gramática regida pela lógica, e que 2) as
PDF com TUDO o que foi passado aqui.
conjunções são ferramentas para a criação de
tipos específicos de orações. Entenda para que
Portanto, não se preocupem. Assim que eu tiver
servem as orações e você entenderá, por tabela, para
alguma informação nova, aviso todo mundo por aqui.
que servem as conjunções que as criam.
Beleza? Então já vamos começar a aula de uma vez!
Para começar, as conjunções coordenativas.
Ora, anteontem eu lhes preparei o terreno para que
pudéssemos entrar nas conjunções. Disse-lhes que Ora, há cinco tipos de orações coordenadas sintéticas
as palavras dessa classe gramatical servem para ligar (isto é, que se ligam umas às outras por meio de
orações e, portanto, expliquei-lhes por cima o que conjunções): aditivas, adversativas, alternativas,
são orações, quais são os seus tipos e apresentei-lhes conclusivas e explicativas. Daí que existam

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cinco tipos de conjunções coordenativas, que têm As conjunções alternativas exprimem… alternativa,
exatamente os mesmos nomes. ora. Escolha. São aqueles famosos pares: ou… ou,
já… já, quer… quer, etc.
As conjunções aditivas acrescentam alguma
informação. “Aditiva” vem, é claro, de “adição”. “Ou você estuda ou arruma um emprego, seu vadio”:
Existe, na primeira oração, uma informação X, e na diria uma mãe ao seu filho que põe VASP no campo
segunda a ela se acrescenta uma informação Y. “trabalho” do Facebook.
“Quer você fique, quer corra, o bicho vai pegar.”
Entre elas estão: e, nem, mas também, mas ainda,
como também, bem como… Mas também podem exprimir alternância de
comportamentos:
“Fulano trabalha de dia e à noite estuda o CF.” “Ora assistia a stories inúteis, ora assistia aos
“Sicrano não trabalha nem estuda.” maravilindos stories do CF.”

Reparou? Nos dois exemplos, ALÉM de alguma coisa As conjunções conclusivas fazem o quê? Adivinhe aí:
(o trabalhar ou o não trabalhar) havia também outra
(o estudar ou não estudar). E a adição, fique claro, [Enquete: concluem / dançam / dormem]
pode ser de informações negativas, como no segundo
exemplo. Pois é: concluem. Concluem o quê? Ora, alguma ideia
presente na oração anterior. São elas: logo, então,
As conjunções adversativas estabelecem oposição, por isso, assim, dessa maneira, portanto…
contraste ou diferença. Para identificá-las, é bom
lembrar-se de “adversário”. “Terminei de ver todos os stories desta aula, portanto
já posso desligar o celular.”
São elas: mas, porém, todavia, contudo, entretanto,
senão, ao passo que, antes (= pelo contrário), no E, por fim, as conjunções explicativas são
entanto, não obstante, apesar disso, em todo caso… justificativas para algo dito anteriormente: porque,
pois, visto que, uma vez que, já que…
“Quer aprender português, mas não faz o CF do
Raul.” “Não deixe de assistir às aulas do CF, que (ou porque,
“O professor Raul não proíbe, antes estimula as ou pois…) você pode ficar péssimo no português.”
perguntas no seu CF.”
Pronto. Acabaram-se as conjunções coordenativas.

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Não falei que era simples? Ou adição, ou oposição, mais (do) que, que nem, assim como, feito…
ou alternativa, ou conclusão, ou justificativa.
“O prof. Raul fala mais que a boca.”
Quer isso dizer que, quando há duas orações
independentes ligadas entre si, a relação só pode ser Ou, citando o grandioso Drummond de Andrade:
uma das cinco explicadas aqui.
“Por que ficou me olhando assim feito boba?”
Passemos, portanto, às conjunções
subordinativas, que são dez. Existem também as conjunções subordinativas
concessivas, responsáveis por designar um fato
que a gente admite em oposição a outro: embora,
(E só para que fique claríssimo: as orações
conquanto, ainda que, mesmo que, por mais que…
subordinativas são aquelas que existem para
complementar o sentido de outra oração, que
“O Intensivão do Raul é muito bom, embora seja
sem elas ficaria incompleta. São, portanto, suas
ministrado no Instagram” (porque, sejam sinceros:
subordinadas. As dez conjunções que agora
quem imaginou que num “melhores amigos” pudesse
estudaremos são as responsáveis por criar essas
haver tanto conteúdo bão assim?)
orações.)
Existem as conjunções subordinativas
Em primeiro lugar, as conjunções subordinativas
condicionais. Algumas coisas só acontecem se (óia
causais. Como já diz o nome, estabelecem uma
o spoiler) outras acontecerem. É a condição sob a
relação causal entre fatos.
qual um fato pode acontecer: se, caso, contanto que,
desde que…
“Raul, sei lá eu o que é causal, bicho.”
“Não sairás daqui sem que antes vejas todos os
Pense na relação causa-efeito: “Não assisti aos
stories desta aula.”
stories do CF porque estava doente”. A súbita
caganeira foi a CAUSA do fulano não ter conseguido
Temos as conjunções subordinativas
assistir a coisa nenhuma.
conformativas, que indicam haver conformidade
Algumas das conjunções subordinativas causais são:
de um fato com outro. E “conformidade”, é bom
porque, pois, como, porquanto, visto que…
lembrar, quer dizer “a mesma forma”. Portanto,
algumas dessas conjunções são: conforme, segundo,
Além das causais, existem as conjunções
consoante, como…
subordinativas comparativas: como, tal qual,

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do Raul”: quanto mais o estudar acontece, mais
“Escrevam sempre conforme eu lhes ensinei.” Ou acontece a melhora na escrita (vejam só, que
seja, de acordo com o que eu lhes ensinei; da mágica).
mesma forma com que eu lhes ensinei.
Há uma relação de proporcionalidade, e que aliás
Depois, vêm as conjunções subordinativas pode ser também inversa: “Escrevia melhor à medida
consecutivas, que indicam a consequência de um que deixava de ler livros porcaria”. Ou seja, porque
fato anterior: que, de modo que, de maneira que, de uma coisa diminuiu, a outra cresceu. Mas sempre
forma que, de sorte que… proporcionalmente.

“Fulano é feio que dói”, expressão maravilhosa que (Adendo: não confundir “à medida que” com
no final diz o seguinte: o fulano tem a cara tão mal “na medida em que”. Esta última não indica
posta que a consequência é uma dor física cá no proporcionalidade, mas causa; é sinônimo de “uma
peito. vez que, visto que, etc.: “Na medida em que não
estudou, lascou-se na vida”. Ou seja: “porque / uma
Seguindo o bonde, vêm as conjunções vez que não estudou, lascou-se na vida”
subordinativas finais — e que nada têm a ver com
o tempo. Têm a ver com finalidade; com objetivo Também não existe “à medida em que”.)
final: para que (ou para), a fim de que (ou a fim
de)… Seguindo-as de perto, vêm as conjunções
subordinativas temporais — e que nada têm a
“Eu estudo feito um fdp, para que / a fim de que ver com temporal de chuva. São responsáveis por
possa ser alguém na vida e não precise dizer no introduzir orações que exprimem tempo: quando,
Facebook que amo o Pablo Vittar para conseguir um enquanto, logo que, mal (logo que), sempre que,
emprego.” desde que, ao mesmo tempo que…

Em seguida, temos as conjunções subordinativas “Não veja tevê enquanto estuda os stories do CF.”
proporcionais. Indicam elas dois fatos “Desde que o mundo é mundo, não houve aulas de
perfeitamente simultâneos, um acontecendo em português como as do Raul”. [barba]
função do outro: à medida/proporção que, conforme,
quanto mais/menos, ao passo que… E, na lanterninha do grupo (ufa!), estão as
conjunções subordinativas integrantes. Essas
“Escrevia melhor à medida que estudava o CF são as diferentonas do grupo. Resumem-se a duas

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palavrinhas: que e se. Calma, calma. Faça uma pausa, beberique um pouco
d’água, dê três voltas ao redor da mesa de jantar e
(“Raul, quer dizer que toda vez que eu vir essas um duplo mortal carpado no quintal para chacoalhar
palavras elas serão conjunções subordinativas todos os conceitos na cabeça. Espere alguns minutos,
integrantes?” até que todos caiam de volta nos seus respectivos
lugares, e volte aqui.
DE MODO NENHUM. Tome tento e não viaje na
maionese. Essas duas palavras podem ter muitas Lembram-se de que eu lhes disse, lá no começo
funções sintáticas diferentes.) da aula, que as conjunções servem para criar (ou
introduzir) certos tipos de orações? É disso que
Resumindo a história inteira, para não embaralhar estamos falando aqui.
vossas cabeças depois de TANTAS informações:
no período simples, aquele formado por uma só As conjunções subordinativas integrantes
oração, o substantivo tem algumas funções sintáticas servem para introduzir uma oração subordinada
possíveis. Mais exatamente, seis. O substantivo é, substantiva — ou seja, servem para introduzir uma
claro, uma só palavra: oração que, no período, funcionará como substantivo
“Aquele aluno do CF aprendeu bem demais as e poderá ter uma de suas seis funções.
classes gramaticais”: aí, o substantivo “aluno” está
exercendo a função de sujeito. O período é simples, Tá, beleza. Eu sei que é uma nomaiada sem fim.
vamos lema Vamos para um exemplo. Nele, vocês verão como
tudo o que parece aqui um bicho de sete cabeças é
Ora, no período composto, com mais de uma oração, ridiculamente simples.
em vez de haver um substantivo que exerça uma das
seis possíveis funções, existe uma oração inteira. Alguns verbos exigem complemento, certo? Verbos
cujo sentido não é completo e precisam, pois, de uma
Noutras palavras: neste tipo específico de período palavra ou série de palavras que o completem.
composto, uma oração está para a outra como o
substantivo está para o restante dos termos num Por exemplo: “aguardar”. Quem aguardar, aguarda
período simples. O nome dessa oração é oração alguma coisa ou alguém. “Aguardar” não é como
subordinada substantiva. “morrer”. Quem morreu, morreu e pronto. Foi pra
cova e de lá não volta (espero).
“Raul do céu, creindeuspai, que desgraça é essa?”
“Aguardamos sua resposta.”

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muro é sólido”.
O que temos aí? Vamos por passos:
1) Uma oração, certo? Por que oração? Porque temos Obs. 1: isso não quer dizer que sempre haja
um verbo. um período simples que corresponda ao período
2) E o verbo, sendo “aguardar”, exige algo que lhe composto e calhe de dizer a mesmíssima coisa. Só
complete o sentido. 3) Nesse caso, “sua resposta”. usei esses exemplos para que você entenda a ideia;
4) “Resposta” é substantivo.
5) Como o substantivo está completando o sentido Obs. 2: as seis funções possíveis dum substantivo
do verbo e entre ambos não existe preposição (“sua” são: sujeito, objeto direto, objeto indireto,
não é preposição), o nome da função sintática que complemento nominal, predicativo e aposto. Não irei
está exercendo é “objeto direto”. explicá-los todos aqui para não zoar de vez o barraco
e a aula ficar incompreensível. Recomendo-lhes que,
Tranquilo? Agora… e se transformássemos o período depois, vocês as estudem uma a uma;
simples num período composto?
Obs. 3: Vocês notaram como não existe nada de
“Aguardamos que você responda.” horrivelmente indecifrável ou complicado num
trambolho enorme como “conjunção subordinativa
O sentido é o mesmo? É. Sintaticamente, porém, causal”?
temos uma diferença enorme: temos DOIS verbos. A primeiríssima coisa que temos de fazer quando nos
“Aguardamos” e “responda”. Portanto, temos duas deparamos com nomes técnicos é não nos deixarmos
orações. impressionar pelo todo. Não ler a coisa como um só
bloco e já imaginar-se irremediavelmente jumento. O
Reparou no “que”, não é? A conjunção integrante certo é ler suas partes: o que é conjunção? O que é
introduziu a oração que, nesse período composto, subordinativa, e por quê? O que é causal?
está exercendo a função de substantivo. No período Os nomes técnicos são inescapáveis, porque
simples, tínhamos o “resposta”. Aqui, temos “você no estabelecimento sério de qualquer ciência é
responda”. inescapável a classificação exata. Não se assustem
com eles. Acostumem-se a decompor suas partes e,
Mais exemplos: com calma, estudá-las uma a uma.

“Pedi-lhe desculpas” vira “Pedi-lhe que me E… ufa! Acabaram-se as conjunções. À primeira vista,
desculpasse”. a coisa talvez lhes pareça uma angústia infinita;
“Verifique a solidez do muro” vira “verifique se o um amontoado gigantesco de não sei o quê com

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cobertura de que carai é isso. Mas não é. Em tudo interjeições são palavras ou locuções (duas ou mais
existe uma lógica. palavras) que exprimem sentimentos e exigem um
ponto exclamativo.
Não fique triste se não entendeu tudo. É muita coisa
para digerir, e não estamos numa corrida (o Portanto… agora sim: UFA!
que sempre digo à minha mãe quando ela tira uma
comigo por eu ser o último a terminar de comer).
Não só em relação às conjunções e
Com as conjunções já fora da jogada, só nos restou interjeições, mas a todas as dez classes
uma classe gramatical: as INTERJEIÇÕES. E as deixei gramaticais!
para o final — e especialmente para depois de algo
como as conjunções — de propósito. Com esta aula, chegamos ao final do Intensivão.

É que não há muito o que falar sobre elas. São [vários memes de pessoas desesperadas]
ridiculamente simples. As interjeições são aquelas
palavrinhas (ou locuções) que exprimem EMOÇÕES.
Prometi dar-lhes uma visão mais clara do que
Caramba! Cuidado! Socorro! Psiu! Vamos! Tá! Valha- é a gramática e para que ela serve, e cumpri o
me Deus! Cruzes! Obrigado! Oxalá! Oh! Viva! Oba! prometido.

Podem dar vida a todo tipo de sentimentos ou Prometi-lhes uma porta de entrada para o estudo do
emoções: dor, arrependimento, animação, alegria, português, e cumpri o prometido.
desapontamento, alívio, despedida, medo, pena…
Prometi fugir aos formatos comuns (e incomuns!) do
“Tá, beleza, mas e onde estão as regras então?” ensino de português, apresentando-lhes algo novo, e
cumpri o prometido.
Não existem regras. A única coisa que lhes é comum
a todas e, portanto, obrigatória, é um ponto de Prometi aumentar a capacidade expressiva de vocês
exclamação. Pronto. e potencializar-lhes as principais faculdades da língua
— e creio ter cumprido o prometido.
Fiquem tranquilos, que é só isso mesmo. Nenhuma
regra virá de noite puxar o pé de vocês ou saltar
de alguma moita com uma faca nos dentes. As

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