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A Variação Linguística

Diz a lenda que Rui Barbosa, ao chegar em casa, ouviu um barulho estranho
vindo do seu quintal. Chegando lá, constatou haver um ladrão tentando levar
seus patos de criação. Aproximou-se vagarosamente do indivíduo e,
surpreendendo-o ao tentar pular o muro com seus amados patos, disse-lhe: Oh,
bucéfalo anácrono! Não o interpelo pelo valor intrínseco dos bípedes palmípedes,
mas sim pelo ato vil e sorrateiro de profanares o recôndito da minha habitação,
levando meus ovíparos à sorrelfa e à socapa. Se fazes isso por necessidade,
transijo; mas se é para zombares da minha elevada prosopopéia de cidadão digno
e honrado, dar-te-ei com minha bengala fosfórica bem no alto da tua sinagoga, e o
farei com tal ímpeto que te reduzirei à qüinquagésima potência que o vulgo
denomina nada. E o ladrão, confuso, diz:- 'Dotô, eu levo ou deixo os pato?
A variação linguística pode ocorrer por
interferência de alguns fatores
extralinguísticos como nos mostra o quadro
abaixo.
Diatópico Geográfico Espacial: territorial
Diastrático Social Estrato social: escolaridade, função social

Diafásico Estilística Grau de formalidade, modo,norma


Diacrônica Histórica Tempo
A variação diatópica refere-se à diversidade
nos diversos níveis (fonético, lexical...) em
decorrência do espaço territorial, ou seja,
geográfica.
FONÉTICA SINTÁTICA
Sintática significa: parte da
Fonética significa: aquilo que gramática que estuda as
diz respeito aos sons da fala. palavras enquanto
Exemplo: a palavra “alto”, já elementos de uma frase.
explicada ou o vocábulo Maranhão, Espírito Santo e
“porta”. RS – “Tu já estudaste
química”

LEXICAL
Lexical significa: relativo a
vocabulário.
Exemplo:
Mandioca – Macaxeira
Abóbora – Jerimum
Menino - Moleque
O fator diafásico diz respeito ao grau de formalidade
e/ou informalidade de um texto oral ou escrito.

Um aspecto da composição estrutural que caracteriza o relato pessoal de


A.P.S. como
modalidade falada da língua é
A)predomínio de linguagem informal entrecortada por pausas.
B) vocabulário regional desconhecido em outras variedades do português.
C) realização do plural conforme as regras da tradição gramatical.
D) ausência de elementos promotores de coesão entre os eventos narrados.
E)presença de frases incompreensíveis a um leitor iniciante.
Pois é. U purtuguêis é muinto fáciu di aprender,
purqui é uma língua qui a genti iscrevi ixatamenti
cumu si fala. Num é cumu inglêis qui dá até vontadi
di ri quandu a genti discobri cumu é qui si iscrevi
algumas palavras. Im purtuguêis não. É só
prestátenção. U alemão pur exemplu. Qué coisa mais
doida? Num bate nada cum nada. Até nu espanhol
qui é parecidu, si iscrevi muinto diferenti. Qui bom
qui a minha língua é u purtuguêis. Quem soubé falá
sabi iscrevê.
Na parte superior do anúncio, há um comentário escrito à mão que aborda
a questão das atividades linguísticas e sua relação com as modalidades
oral e escrita da língua. 
Esse comentário deixa evidente uma posição crítica quanto a usos que se
fazem da linguagem, enfatizando ser necessário 

A) implementar a fala, tendo em vista maior desenvoltura, naturalidade e


segurança no uso da língua .

B) conhecer gêneros mais formais da modalidade oral para a obtenção de


clareza na comunicação oral e escrita. 

C) dominar as diferentes variedades do registro oral da língua portuguesa


para escrever com adequação, eficiência e correção.

D) empregar vocabulário adequado e usar regras da norma padrão da


língua em se tratando da modalidade escrita. 

E) utilizar recursos mais expressivos e menos desgastados da variedade


padrão da língua para se expressar com alguma segurança e sucesso. 


Variação ligada à localização social, ou seja, o
estrato social: escolaridade, função social...
VARIAÇÃO DIASTRÁTICA

É aquela que corresponde ao estrato social. Seja


ele culto ou não

Também pode ser:


FONÉTICA LEXICAL

Adevogado, pineu, bicicreta. “PRESUNTO” no lugar


de “corpo de pessoa
assassinada.

SINTÁTICA

“Houveram menas
percas” no lugar de
“houve menos perdas”.
No primeiro balão, temos a seguinte fala de Chico Bento:
“Fessora! A sinhora ia mi castigá pur arguma coisa que eu
num fiz?”. Assinale abaixo qual o fenômeno que, de fato,
caracteriza a fala de pessoas com baixo grau de prestígio
social:
a) Arguma;
b) fessora;
c) sinhora;
d) castigá;
e) num.
-INGREDIENTI:

5 den di ái
3 cuié di ói
1 cabêss di repôi
1 cuié di mastumati
Sali a gosto.
 
MÉ QUI FAIZ?!

Casca u ái, pica u ái e soca u ái cum sali. Quenta o ói; foga o ái no ói


quentim. Pica o repôi bemmmm finimm, foga o repôi. Póim u mastumati e
méxi ca cuié pra fazê o môi. Prontim..
- E aí?
- Pois é
- É sim
- E as ondas?
- Dando caldo
- Hoje tem tubo?
- Demais
- Irado!
“- A equipe agora está consciente. O professor
deu as instruções táticas. Vamos pro segundo
tempo em busca de um resultado positivo em
cima do adversário e sair daqui com três pontos,
pois esse é o nosso objetivo. E se Deus quiser
vamos ganhar esse jogo com muita humildade...”
A variação diacrônica refere-se às mudanças
operadas na língua através do tempo. Vejamos
o manuscrito que se segue, escrito em 1798,
transcrito em seguida, que descreve a eleição
para capitão-mor e sargento na Vila de
Antonina, no Paraná.
telephone
deposito
domestico
escriptorio
villa
unico
Antigamente (Carlos Drummond de Andrade)

Antigamente, os pirralhos dobravam a língua diante dos pais, e se um se


esquecia de arear os dentes antes de cair nos braços de Morfeu, era capaz de
entrar no couro. Não devia também se esquecer de lavar os pés, sem tugir
nem mugir.
Antigamente, as moças chamavam-se mademoiselles e eram todas mimosas e
muito prendadas. Não faziam anos: completavam primaveras, em geral
dezoito. Os janotas, mesmo sendo rapagões, faziam-lhes pé-de-alferes,
arrastando a asa, mas ficavam longos meses debaixo do balaio. 
Modos de xingar
Biltre!
— O quê?
— Biltre! Sacripanta!
— Traduz isso para português.
— Traduzo coisa nenhuma. Além do mais, charro! Onagro!
Parei para escutar. As palavras estranhas jorravam do interior de um Ford de bigode. Quem as
proferia era um senhor idoso, terno escuro, fisionomia respeitável, alterada pela indignação.
Quem as recebia era um garotão de camisa esporte; dentes clarinhos emergindo da floresta
capilar, no interior de um fusca. Desses casos de toda hora: o fusca bateu no Ford. Discussão.
Bate-boca.
O velho usava o repertório de xingamentos de seu tempo e de sua condição: professor, quem sabe?
Leitor de Camilo Castelo Branco. Os velhos xingamentos. Pessoas havia que se recusavam a usar
o trivial das ruas e botequins, e iam pedir a Rui Barbosa, aos mestres da língua, expressões que
castigassem fortemente o adversário (…). “Ladrão”, simplesmente, não convencia. Adotavam-se
formas sofisticadas, como “ladravaz”, “ladroaço”. Muitos preferiam “larápio” (…)
Que importa que uns falem mole
Descansado
Que os cariocas arranhem os erres na garganta
Que os capixabas escancarem
As vogais?
Que tem quinhentos réis meridional
Vira tostões do Rio pro Norte?
Juntos formamos este assombroso
De misérias e grandezas,
Brasil, nome de vegetal ...
Mário de Andrade

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