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Etapa Ensino Médio Língua

Portuguesa

Concordância
verbal I
3a SÉRIE
Aula 2 – 3o Bimestre
Conteúdo Objetivos

• Concordância verbal; • Reconhecer e utilizar a


concordância verbal segundo
• Fernando Pessoa e o
a norma-padrão;
heterônimo Ricardo Reis.
• Analisar poema e identificar
características do
heterônimo Ricardo Reis, de
Fernando Pessoa.
Para começar
➢ Você já ouviu falar em Fernando
Pessoa, mas agora falaremos um
pouco sobre seu heterônimo Ricardo
Reis.
➢ Será que há muita diferença entre o
estilo do autor e seu heterônimo?
Nesta aula, vamos ler um poema de
Ricardo Reis, analisando suas
características, além de identificar
como a concordância verbal colabora
no entendimento do texto.
Foco no conteúdo

Fernando Pessoa e seus heterônimos


Fernando Pessoa (1888-1935) foi um ensaísta, filósofo, tradutor,
dramaturgo e poeta português. O autor é considerado um dos
principais escritores em Língua Portuguesa. Muitos autores criam
pseudônimos para assinar suas obras. Fernando Pessoa criou
heterônimos, ou seja, personalidades poéticas completas. Possuíam
vida própria com data de nascimento e morte, mapa astral e estilo
literário singular. Os principais são: Alberto Caeiro, Álvaro de
Campos e Ricardo Reis, além do “semi-heterônimo” Bernardo
Soares, que trazia muito da personalidade de Pessoa.
Foco no conteúdo
Fernando Pessoa e seus heterônimos
Ricardo Reis (1887-?) era um médico que se definia
como favorável à monarquia. Por ser um neoclássico,
apresenta elementos da mitologia grega em seus
escritos, usa a simetria e a harmonia, criando uma
obra elevada e disciplinada. Apregoa a fuga das
paixões violentas, o distanciamento nas relações
amorosas, propondo uma vida de prazeres naturais,
de equilíbrio. Segundo Fernando Pessoa, ele teria
mudado para o Brasil em protesto à Proclamação da
República em Portugal e o ano de sua morte é
desconhecido. Escreveu entre 1914 e 1933.
Foco no conteúdo
Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio
Ricardo Reis
Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio.
Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos
Que a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas.
(Enlacemos as mãos).
Depois pensemos, crianças adultas, que a vida
Passa e não fica, nada deixa e nunca regressa,
Vai para um mar muito longe, para ao pé do Fado¹,
Mais longe que os deuses.
¹Fado: (divindade da mitologia grega: Destino – força cósmica, superior à vontade dos
deuses e dos homens, simboliza a necessidade da manutenção da ordem do universo).
Foco no conteúdo
Desenlacemos as mãos, porque não vale a pena cansarmo-nos.
Quer gozemos, quer não gozemos, passamos como o rio.
Mais vale saber passar silenciosamente
E sem desassossegos grandes.

Sem amores, nem ódios, nem paixões que levantam a voz,


Nem invejas que dão movimento demais aos olhos,
Nem cuidados, porque se os tivesse o rio sempre correria,
E sempre iria ter ao mar.
Foco no conteúdo
Amemo-nos tranquilamente, pensando que podíamos,
Se quiséssemos, trocar beijos e abraços e carícias,
Mas que mais vale estarmos sentados ao pé um do outro
Ouvindo correr o rio e vendo-o.

Colhamos flores, pega tu nelas e deixa-as


No colo, e que o seu perfume suavize o momento —
Este momento em que sossegadamente não cremos em nada,
Pagãos inocentes da decadência.
Foco no conteúdo
Ao menos, se for sombra antes, lembrar-te-ás de mim depois
Sem que a minha lembrança te arda ou te fira ou te mova,
Porque nunca enlaçamos as mãos, nem nos beijamos
Nem fomos mais do que crianças.

E se antes do que eu levares o óbolo² ao barqueiro sombrio,


Eu nada terei que sofrer ao lembrar-me de ti.
Ser-me-ás suave à memória lembrando-te assim — à beira-rio,
Pagã triste e com flores no regaço.
Odes de Ricardo Reis. Fernando Pessoa.

²óbolo: moeda que os mortos pagavam a Caronte, o barqueiro do rio Estige, para obter o
descanso eterno, na outra margem.
Na prática
O poema apresenta, em sua temática, uma abordagem
filosófica acerca da vida associada à tradição da cultura
greco-latina, sendo, assim, considerado um texto de
características neoclássicas. A partir desse contexto,
responda:
a. O que se aproveita da vida e a que ela é comparada?
b. Em que trechos e/ou citações podemos identificar
vertentes/temas como o racionalismo e a mitologia? Explique.
Foco no conteúdo
Concordância verbal
Como regra geral, o verbo concorda com o sujeito da oração, estando
ele no singular ou no plural, sendo simples ou composto:
A estrada atravessa e ilumina a cidade.
Hoje estaremos (nós) no parque à tarde.
O rei e o príncipe casaram-se no mesmo dia.

Mais concordâncias do sujeito simples:


a. Substantivo coletivo – verbo no singular: O cacho está maduro.
Caso haja um adjunto adnominal plural, o verbo pode ser flexionado
no plural: O cacho de uvas está (ou estão) maduro(s).
Foco no conteúdo
Concordância verbal
b. Expressão quantitativa – parte de, a maioria de, uma porção de
+ substantivo no plural – o verbo pode ficar no singular ou no plural,
dependendo da intencionalidade:
Uma parte dos leitores prefere (ou preferem) livros impressos.

– perto de, mais de, cerca de – o verbo concorda com o numeral:


Perto de mil pessoas foram à manifestação.
Mais de uma pessoa se confundiu com as instruções.

c. Nome próprio de lugar no plural –


com artigo no plural: Os Estados Unidos são uma potência mundial.
com artigo no singular: O Amazonas é o maior estado brasileiro.
Foco no conteúdo
Concordância verbal
d. Título de obra no plural – aceitável o verbo no singular ou no plural:
Os lusíadas é um livro extraordinário.
Os lusíadas contam uma parte da história de Portugal.

e. Pronome de tratamento – verbo na 3a pessoa:


Vossa Excelência está animada com a vitória?

f. Pronome relativo quem – verbo na 3a pessoa do singular ou concorda


com a pessoa antecedente:
Fui eu quem comprou o presente.
Fui eu quem comprei o presente.
Na prática
Identifique, a seguir, os verbos dos versos e associe-os aos
respectivos sujeitos:
a. Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos
Que a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas.
b. Depois pensemos, crianças adultas, que a vida
Passa e não fica, nada deixa e nunca regressa [...].
c. Sem amores, nem ódios, nem paixões que levantam a voz,
Nem invejas que dão movimento demais aos olhos,
Nem cuidados, porque se os tivesse o rio sempre correria [...].
d. Colhamos flores, pega tu nelas e deixa-as
No colo, e que o seu perfume suavize o momento [...].
Foco no conteúdo
O estilo clássico de Ricardo Reis
Pudemos observar como o heterônimo Ricardo Reis possui um vocabulário
rebuscado, abusando da mesóclise:
[...] lembrar-te-ás de mim depois [...]
Ser-me-ás suave à memória lembrando-te assim [...];

alterando modos (indicativo, subjuntivo e imperativo) e tempos verbais ao


longo do texto:
Que a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas.
Nem cuidados, porque se os tivesse o rio sempre correria [...]
Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos [...]
Colhamos flores, pega tu nelas e deixa-as [...]
Foco no conteúdo
O estilo clássico de Ricardo Reis
Essa alternância de modos e tempos verbais é
proposital, apresentando a reflexão do eu-lírico sobre
uma situação posta (indicativo – presente) e quais
consequências determinados comportamentos
podem ocasionar (subjuntivo – presente), levando-o
a adotar e sugerir posturas (imperativo afirmativo)
no intuito de usufruir de uma vida, inevitavelmente,
efêmera, mas tranquila, em consonância com os
ideais neoclássicos.
Na prática
Assinale o trecho do poema no qual encontramos a figura
de linguagem eufemismo:
a. Sossegadamente fitemos o seu curso [...].
b. Depois pensemos, crianças adultas, [...].
c. Desenlacemos as mãos, [...].
d. [...] passamos como o rio.
e. Pagãos inocentes da decadência.
Aplicando
(FUVEST) Quanto à concordância verbal, a frase inteiramente correta é:
a. Cada um dos participantes, ao inscrever-se, deverão receber as
orientações necessárias.
b. Os que prometem ser justos, em geral, não conseguem sê-lo sem
que se prejudiquem.
c. Já deu dez horas e a entrega das medalhas ainda não foram feitas.
d. O que se viam era apenas destroços, cadáveres e ruas
completamente destruídas.
e. Devem ter havido acordos espúrios entre
prefeitos e vereadores daqueles municípios.
O que aprendemos hoje?

• Reconhecemos e utilizamos a concordância verbal


segundo a norma-padrão;
• Analisamos poema e identificamos características do
heterônimo Ricardo Reis, de Fernando Pessoa.
Referências
BUENO, Francisco da Silveira. Gramática de Silveira Bueno. 20a
ed. atualizada. São Paulo: Global, 2014.
ARQUIVOPESSOA. Disponível em: http://arquivopessoa.net/.
Acesso em: 12 jun. 2023.
MOISÉS, Massaud. A literatura portuguesa através dos textos.
São Paulo: Cultrix, 1997.
SÃO PAULO (ESTADO). Secretaria da Educação. Currículo em
Ação – Língua Portuguesa. Terceira série do ensino médio.
Caderno do Estudante. São Paulo: SEE, 2022.
Referências
SÃO PAULO (ESTADO). Secretaria da Educação. Currículo Paulista
do Ensino Médio. São Paulo: SEE, 2020.
Slides 6 a 9 – Odes de Ricardo Reis. Fernando Pessoa. (Notas de
João Gaspar Simões e Luiz de Montalvor.) Vem sentar-te comigo,
Lídia, à beira do rio. Lisboa: Ática, 1946 (imp.1994), p. 23.
Disponível em: http://arquivopessoa.net/textos/3427. Acesso em:
5 jun. 2023.
Referências
Lista de imagens e vídeos
Slide 3 – https://www.flickr.com/photos/pedrosimoes7/27554483932

Slide 5 – https://www.gettyimages.com.br/detail/ilustra%C3%A7%C3%A3o/gods-
from-the-classical-period-antique-ilustra%C3%A7%C3%A3o-royalty-
free/172448046?phrase=artemis&adppopup=true

Slide 20 – https://www.gettyimages.com.br/detail/ilustra%C3%A7%C3%A3o/black-
silhouette-quill-and-inkwell-color-icon-ilustra%C3%A7%C3%A3o-royalty-
free/976868106?phrase=poeta&adppopup=true

Slides 23 e 24 –
https://www.gettyimages.com.br/detail/ilustra%C3%A7%C3%A3o/brain-with-
glasses-drawing-illustration-ilustra%C3%A7%C3%A3o-royalty-
free/1170984187?phrase=c%C3%A9rebro+%C3%B3culos&adppopup=true
Material
Digital

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