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Dicas para compreender e interpretar textos

Língua Portuguesa
Compreensão e interpretação: módulo de
exercícios II
Prof da Videoaula: Sidney Martins

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Dicas para compreender e interpretar textos

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marcadores, portanto, acesse a barra de marcadores do seu leitor de PDF e navegue
de maneira RÁPIDA e DESCOMPLICADA pelo conteúdo.

Veja o exemplo abaixo:

Olá meu aluno, minha aluna, como vai você? Sentindo-se disposto para mais uma
aula de compreensão e interpretação textual? Espero que sim, mas, se sua resposta
não for tão positiva, trate de respirar fundo e pensar em tudo aquilo que te motiva a
alcançar sua meta de aprovação. Feche os olhos, considere cada um desses pontos e
mentalize você, o resultado da prova, sua nomeação, a festança e a sensação de poder
dizer “consegui”! Feito?! Agora com foco, concentração e garra você verá que o
conteúdo se tornará bem mais leve. Vamos nessa?!

CONTEÚDO PROGRAMÁTICO
Dicas para compreender e interpretar textos .......................................................................3
A morte e a morte do poeta ..................................................................................................4
Questão 01................................................................................................................................................ 8
Questão 02.............................................................................................................................................. 10

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Dicas para compreender e interpretar textos

Em defesa da dúvida ...........................................................................................................11


Questão 01.............................................................................................................................................. 14
Questão 02.............................................................................................................................................. 16

DICAS PARA COMPREENDER E INTERPRETAR TEXTOS

1º - Crie o hábito e o gosto pela leitura.

2º - Seja curioso, investigue as palavras que circulam


em seu meio.

3º - Aumente seu vocabulário (leia e faça


palavras cruzadas) e sua cultura.

4º - Faça exercícios de sinônimos e antônimos, ou seja,


com palavras com significados semelhantes e palavras com
significado contrário

5º - Torne-se um leitor assíduo de diversos textos.

6º - Leia algumas vezes o texto, pois a primeira impressão


pode ser falsa.

7º - Atenção ao que se pede, às vezes a interpretação está


voltada a uma linha do texto e por isso você deve voltar ao
parágrafo para localizar o que se afirma. Outras vezes, a
questão está voltada à ideia geral do texto.

8º - Fique atento a leituras de texto de todas as áreas do


conhecimento, porque algumas perguntas extrapolam ao
que está escrito.

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A morte e a morte do poeta

A MORTE E A MORTE DO POETA


Para treinar nossa compreensão e interpretação textual, vamos ler e analisar o
seguinte texto:

A morte e a morte do poeta


1 Ao ler o seu necrológio no jornal outro dia, o pianista Marcos Resende primeiro tratou
2 de verificar que estava vivo, bem vivo. Em seguida gravou uma mensagem na sua
3 secretária eletrônica: "Hoje é 27 e eu não morri. Não posso atender porque estou na
4 outra linha dando a mesma explicação". Quando li esta nota, me lembrei de como
5 tudo neste mundo caminha cada vez mais depressa. Em 1862, chegou aqui a notícia
6 da morte de Gonçalves Dias.

7 O poeta estava a bordo do Grand Condé havia cinquenta e cinco dias. O brigue
8 chegou a Marselha com um morto a bordo.

9 À falta de lazareto, o navio estava obrigado à caceteação da quarentena. Gonçalves


10 Dias tinha ido se tratar na Europa e logo se concluiu que era ele o morto. A notícia
11 chegou ao Instituto Histórico durante uma sessão presidida por d. Pedro II. Suspensa
12 a sessão, começaram as homenagens ao que era tido e havido como o maior poeta
13 do Brasil. Suspeitar que podia ser mentira? Impossível. O imperador, em pleno
14 Instituto Histórico, só podia ser verdade. Ofícios fúnebres solenes foram celebrados
15 na Corte e na província. Vinte e cinco nênias saíram publicadas de estalo. Joaquim
16 Serra, Juvenal Galeno e Bernardo Guimarães debulharam lágrimas de esguicho,
17 quentes e sinceras. O grande poeta! O grande amigo! Que trágica perda!

18 As comunicações se arrastavam a passo de cágado. Mal se começava a aliviar o luto


19 fechado, dois meses depois chegou o desmentido: morreu, uma vírgula! Vivinho da
20 silva.

21 A carta vinha escrita pela mão do próprio poeta: "É mentira! Não morri, nem morro,
22 nem hei de morrer nunca mais!". Entre exclamações, citou Horácio: "Não morrerei de
23 todo”. Todavia, morreu, claro. E morreu num naufrágio, vejam a coincidência. Em 1864,
24 trancado na sua cabine do Ville de Boulogne, à vista da costa do Maranhão. Seu corpo
25 não foi encontrado. Terá sido devorado pelos tubarões. Mas o poeta, este de fato não
26 morreu.
(Adaptado de: RESENDE, Otto Lara. Bom dia para nascer. São Paulo: Cia das Letras, 2011,
p.107-108)

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A morte e a morte do poeta

GLOSSÁRIO:

Brigue: embarcação de dois mastros, com velas circulares ou quadrangulares, sendo o


maior deles inclinado para a parte posterior do navio.
Caceteação: estado causado por algum aborrecimento ou acontecimento importuno.
Lazareto: local para o qual as pessoas contaminadas com hanseníase (lepra) eram
enviadas, a fim de isolá-las do resto da população, com o intuito de conter a contaminação
pela doença. Esse nome é uma alusão a Lázaro, personagem bíblico, que era leproso. A
priori colocavam as pessoas com lepra, mas depois acabou sendo usado para todo tipo de
doença.
Marselha: cidade portuária no sul da França.
Necrológio: uma notícia/homenagem no jornal sobre morte.
Nênias: poemas enaltecendo alguém.
Passos de cágado: expressão para eram vagarosas

UMA DICA PARA AMPLIAR SEU VOCABULÁRIO E CONHECIMENTO DE MUNDO É


ELABORAR UM GLOSSÁRIO COM AS PALAVRAS DO TEXTO QUE SÃO DESCONHECIDAS.

COMENTÁRIO DO TEXTO:

Ao ler o título deduzimos, pelo emprego da conjunção e com sentido de soma, que o
autor tratará de duas mortes distintas em seu texto. Após a leitura, sabemos que
morte se refere a Marcos Resende e morte do poeta faz referência a Gonçalves Dias,
coincidentemente, ambos tiveram suas mortes anunciadas erroneamente.

Para aprimorar nossa interpretação do texto “A morte e a morte do poeta”, vamos ativar
nosso conhecimento de mundo:

➔ Marcos Resende é pianista, compositor e produtor, nascido em Cachoeira de


Itapemirim-ES, tem uma carreira na música instrumental brasileira, aqui e no
exterior, com vários discos lançados.
➔ Antônio Gonçalves Dias foi poeta, professor, crítico de história, etnólogo,
nasceu em Caxias- MA, em 10 de agosto de 1823, e faleceu em naufrágio, na
costa do Maranhão, em 3 de novembro de 1864. É o patrono da cadeira nº 15,

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A morte e a morte do poeta

da Academia Brasileira de Letras. É considerado o grande poeta romântico


brasileiro e célebre poeta indianista, seus poemas mais famosos são: “Canção
do exílio”, “Ainda Uma Vez – Adeus”, “I-Juca Pirama”, entre outros.

MOBILIZAR NOSSO CONHECIMENTO PRÉVIO SOBRE O ASSUNTO OU


REFERÊNCIAS TRAZIDAS NO TEXTO CORROBORA NA SUA INTERPRETAÇÃO
TEXTUAL.ASSIM, QUANTO MAIOR O CONHECIMENTO DE MUNDO, MAIOR SUA
CAPACIDADE INTERPRETATIVA.

De volta ao conteúdo do texto, é clara a associação que o autor faz quando vê a nota
de Marcos Resende com o fato similar vivido por Gonçalves Dias. Dessa forma, ele
contrapõe as duas situações:

➔ Século XX: o pianista Marcos Resende leu o seu necrológio no Jornal do Brasil,
em 1992, o erro aconteceu porque o confundiram com seu xará.
Imediatamente já desmentiu a notícia gravando uma mensagem na sua
secretária eletrônica.

➔ Século XIX: chegou a notícia da morte de Gonçalves Dias, que comoveu muitas
pessoas, foram feitas várias homenagens ao poeta. E como a notícia chegou ao
Instituto Histórico e aos ouvidos do imperador, que espalhou a notícia, era
impossível ser mentira. Como a comunicação era demorada, a notícia foi
desmentida de forma tardia, apenas 2 meses depois, por carta escrita pelo
próprio poeta.

Desse modo, mesmo com a semelhança entre os casos, há um contraste grande na


forma como eles conseguiram contestar a própria morte. A demora com que a notícia
da suposta morte do poeta, no século XIX, pôde ser contestada por ele, em
comparação a rapidez com que o pianista, contemporâneo, pôde contestar a própria
morte.

No texto, o autor detalha mais o caso de Gonçalves Dias, que estava doente e
embarcou na embarcação Grand Condé para procurar tratamento na Europa. Esse fato
é importante para ocorrer o equívoco de anunciar a morte do poeta. Já que quando

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A morte e a morte do poeta

o brigue, no qual o famoso poeta era passageiro, chegou a França, na cidade de


Marselha, com um morto a bordo (l.7-8).

Por falta de um local para alocar os doentes, conhecido por lazareto, a embarcação
não pode aportar, obrigado a fazer quarentena no alto mar (l.9). Por isso, as pessoas
fizeram uma dedução precipitada, trazida pelo adjunto adverbial de modo logo, de
que o morto a bordo seria o poeta, veja o trecho: “Gonçalves Dias tinha ido se tratar
na Europa e logo se concluiu que era ele o morto” (l.9-10).

A notícia da morte do conceituado poeta brasileiro chegou ao Instituto Histórico


durante uma sessão presidida por d. Pedro II, lembrando que ele era patrono o
instituto. Como retrata o trecho:” A notícia chegou ao Instituto Histórico durante uma
sessão presidida por d. Pedro II. Suspensa a sessão, começaram as homenagens ao
que era tido e havido como o maior poeta do Brasil” (l.10-13).

Entre as pessoas que ofereceram homenagem ao poeta, estão seus amigos “Joaquim
Serra, Juvenal Galeno e Bernardo Guimarães debulharam lágrimas de esguicho,
quentes e sinceras” (l.15-16). Para entender a vínculo entre eles, vamos ativar
novamente nosso conhecimento de mundo:

➔ Joaquim Serra (1838-1888): jornalista, professor, político e teatrólogo


brasileiro, conterrâneo de Gonçalves Dias, também nascido no Maranhão.
➔ Juvenal Galeno da Costa e Silva (1838-1931): escritor brasileiro da segunda
geração do Romantismo, nascido em Fortaleza- CE.
➔ Bernardo Guimarães (1825-1884): romancista, contista e poeta brasileiro, sua
obra mais famosa e o romance “A Escrava Isaura”, nascido em Ouro Preto- MG.

Enquanto seus amigos lamentavam sua morte, o poeta estava “vivinho da silva” (l.19).
Porém, por causa da comunicação ainda não tem desenvolvida e eficiente, de acordo
com o texto: “as comunicações se arrastavam a passo de cágado” (l.18), ou seja, uma
comunicação lenta e demorada. Por causa disso, a carta escrita pelo poeta para
desmentir o fato de sua suposta morte, chegou apenas 2 meses depois.

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A morte e a morte do poeta

Nessa carta, que ele escreveu a próprio punho, estava a verdade: “[...] ’É mentira!
Não morri, nem morro, nem hei de morrer nunca mais!’ [...]” (l.21-22). De forma
enfática declarou que “[...] ‘não morrerei de todo’ [...]” (l.22-23), citando Horácio,
poeta e filósofo da Roma Antiga. Mesmo com essa afirmação, como qualquer ser
humano, Gonçalves Dias morreu, isso está marcado no texto pela conjunção
adversativa todavia, no trecho: “Todavia, morreu, claro” (l.23).

Sobre a morte do poeta brasileiro, o texto traz: “morreu num naufrágio, vejam a
coincidência” (l.23), isso ocorreu na costa do Maranhão, apenas 2 anos depois dele
contestar sua própria morte. Contudo, o corpo de Gonçalves Dia não foi
encontrado, o texto afirma que teria “sido devorado pelos tubarões” (l.25), logo,
podemos pressupor que na costa do Maranhão havia muitos tubarões.

Apesar disso, a carta de Gonçalves Dias trazia uma verdade, seu corpo morreu, porém,
“o poeta, este de fato não morreu” (l.25-26), dado que ele não “morreu mesmo de
todo”, já que sua obra e vida estão consagradas para sempre na literatura brasileira.

Questão 01
No texto, o autor contrapõe fundamentalmente:

a) as boas condições do porto de Marselha, em território francês, às péssimas


condições do porto brasileiro localizado no Maranhão, perto do qual o navio
Ville de Boulogne acabou por naufragar.
b) a demora com que a notícia da suposta morte de Gonçalves Dias, no século XIX,
pôde ser contestada pelo poeta à rapidez com que o pianista Marcos Resende,
contemporâneo do cronista, pôde contestar a própria morte.
c) a comoção com que foi recebida a notícia da suposta morte do poeta Gonçalves
Dias à indiferença com que se recebeu a notícia da morte do pianista Marcos
Resende, buscando-se esclarecê-la com um simples telefonema.
d) a resistência do navio Grand Condé, onde Gonçalves Dias pôde permanecer em
segurança por mais de cinquenta dias, à fragilidade do Ville de Boulogne, que
levou pouco tempo para naufragar na costa do Maranhão.
e) a banalização das notícias em seu próprio tempo, mesmo as mais trágicas, à
solenidade com que eram dadas no século XIX, muitas vezes em sessões no
Instituto Histórico, com a eventual presença do próprio Imperador.

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A morte e a morte do poeta

COMENTÁRIO DA QUESTÃO:

➢ Olhe o comando da questão: “no texto”, isso é uma pista de que essa questão
cobrará a sua compreensão textual.

A questão quer saber qual a contraposição apresentada no texto. Sua resposta ficará
fácil se você tiver entendido o texto, ou seja, teve uma boa compreensão dele. Outro
ponto, se você é um leitor atento já sabe que, geralmente, o texto que trabalha com
uma contradição faz a apresentação dessa no primeiro parágrafo, para que o autor
desenrole essa oposição no decorrer do texto.

Observe então o primeiro parágrafo do texto, o autor faz alusão a duas mortes
anunciadas erroneamente: do pianista Marcos Rezende e a do poeta Gonçalves Dias.
E ainda acrescenta: “me lembrei de como tudo neste mundo caminha cada vez mais
depressa” (l.4-5), isso quer dizer que enquanto o músico desmentiu a notícia
rapidamente, o escritor, que negou a notícia de sua morte por carta, demorou 2 meses.

Dessa forma, a contraposição apresentada pelo autor nesse texto é justamente a


velocidade que as informações são transmitidas na atualidade, em contraposição a
demora que isso acontecia no século XIX.

GABARITO: B

CUIDADO COM AS QUESTÕES DE COMPREENSÃO TEXTUAL,


pois algumas de suas alternativas podem trazer
afirmações que extrapolam as informações
contidas no texto. Assim, mesmo sendo
verdadeiras, não estarão corretas, já que questões
como essa se relacionam exclusivamente às
informações contidas no texto.

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A morte e a morte do poeta

Questão 02
De acordo com o texto, a falsa notícia da morte de Gonçalves Dias teria se
originário de uma conjunção de acontecimentos que incluem:

a) a morte de um passageiro no navio em que ele viajava, a impossibilidade dos


passageiros do navio cumprirem o período de quarentena em terra e a
motivação da viagem do poeta para a Europa.
b) a inexistência de lazareto no Grand Condé, a motivação da viagem do poeta
para a Europa e as falhas de comunicação entre o navio e o porto de Marselha.
c) a impossibilidade dos passageiros do navio cumprirem o período de
quarentena em terra, a presença do Imperador no Instituto Histórico e as
homenagens feitas no Brasil ao grande poeta.
d) a morte de um passageiro no navio em que ele viajava, a motivação da viagem
do poeta para a Europa e as falhas de comunicação entre o navio e o porto de
Marselha.
e) a inexistência de lazareto no Grand Condé, a morte de um passageiro no navio
e as homenagens feitas no Brasil ao grande poeta.

COMENTÁRIO DA QUESTÃO:

➢ Observe o comando da questão: “de acordo com o texto”, isso indica que essa
é uma questão de compreensão textual.

A indagação afirma que o texto apresenta uma combinação de fatos que deram
origem a notícia falsa da morte do poeta Gonçalves Dias. Vamos analisar os fatos:
primeiro, o poeta estava doente e foi buscar tratamento na Europa (l.10). Segundo, a
embarcação, em que ele estava a bordo, chegou em Marselha com um morto a bordo
(l.8). Terceiro, por falta de um local adequado para os doentes (um lazareto), o navio
foi impedido de aportar, obrigado a permanecer ao mar por 40 dias (l.9).

Esses fatos somados originam a falsa notícia da morte de Gonçalves Dias, o passageiro
mais famoso a bordo do Grand Condé, que estava doente e o motivo de sua viagem
era buscar tratamento na Europa. E quando morre alguém na embarcação, que não
conseguiu aportar, logo se concluiu que o morto era o poeta.

GABARITO: A

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Em defesa da dúvida

EM DEFESA DA DÚVIDA
Para continuar treinando nossa compreensão e interpretação textual, vamos ler e
analisar o próximo texto:

Em defesa da dúvida
1 Numa época em que tantos parecem ter tanta certeza sobre tudo, vale a pena pensar
2 no prestígio que a dúvida já teve. Nos diálogos de Platão, seu amigo Sócrates pulveriza
3 a certeza absoluta de seus contendores abalando-a por meio de sucessivas perguntas,
4 que os acabam convencendo da fragilidade de suas convicções. Séculos mais tarde, o
5 filósofo Descartes ponderou que o maior estímulo para se instituir um método de
6 conhecimento é considerar a presença desafiadora da dúvida, como um primeiro
7 passo.
8 Lendo os jornais e revistas de hoje, assistindo na TV a entrevistas de personalidades,
9 o que não falta são especialistas infalíveis em todos os assuntos, na política, na ciência,
10 na economia, nas artes. Todos têm receitas imediatas e seguras para a solução de
11 todos os problemas. A hesitação, a dúvida, o tempo para reflexão são interpretados
12 como incompetência, passividade, absenteísmo. É como se a velocidade tecnológica,
13 que dá o ritmo aos nossos novos hábitos, também ditasse a urgência de constituirmos
14 nossas certezas.

15 A dúvida corresponde ao nosso direito de suspender a verdade ilusória das aparências


16 e buscar a verdade funda daquilo que não aparece. Julgar um fato pelo que dele diz
17 um jornal, avaliar um problema pelo ângulo estrito dos que nele estão envolvidos é
18 submeter-se à força de valores já estabelecidos, que deixamos de investigar. A dúvida
19 supõe a necessidade que tem a consciência de se afastar dos julgamentos já
20 produzidos, permitindo-se, assim, o tempo necessário para o exame mais detido da
21 matéria a ser analisada. A dúvida pode ser o primeiro passo para o caminho das
22 afirmações que acabam sendo as mais seguras, porque são mais refletidas e
23 devidamente questionadas.

(Cássio da Silveira, inédito)

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Em defesa da dúvida

COMENTÁRIO DO TEXTO:

O texto argumenta a favor da dúvida, visto que, de acordo com o autor, ela perdeu
importância. Esse entendimento deixa claro que o título “Em defesa da dúvida” está
empregado no sentido literal, já que o texto apresenta o contraponto da
desvalorização da dúvida na atualidade e seu prestígio na antiguidade.

Para evidenciar o prestígio da dúvida na antiguidade, primeiro, o autor cita os diálogos


de Platão, em que o filósofo Sócrates abalava “verdades absolutas”, por meio de
sucessivas perguntas, que mostravam a fragilidade dessas convicções, ou seja,
instaurava a dúvida (l.2-4). Ambos importantes filósofos da Grécia Antiga.

Ativando nosso conhecimento prévio: recordamos que os diálogos de Platão são os


textos escritos pelo filósofo grego sobre os ensinamentos do seu mestre Sócrates, que
achava mais eficiente a troca direta das ideias, por meio de perguntas e respostas
entre duas pessoas, do que o texto escrito. Por isso Sócrates não deixou obra escrita,
o que sabemos sobre ele veio dos registros do seu discípulo Platão.

Como segundo argumento, o autor cita o filósofo francês Descartes, que considerava
a dúvida o primeiro passo para alcançar o conhecimento, como colocado no trecho:
“Descartes ponderou que o maior estímulo para se instituir um método de
conhecimento é considerar a presença desafiadora da dúvida, como um primeiro
passo” (l.5-6).

Ativando nosso conhecimento prévio: René Descartes foi um importante filósofo e


matemático do século XVI, considerado o primeiro filósofo da vertente racionalista,
suas principais ideias eram: que a razão é inata ao ser humano e propôs um método
mais preciso para a Filosofia, garantindo a sua confiabilidade. Assim, como defendia
que o conhecimento deveria ser claro e distinto, excluindo tudo que gera dúvida.

Em contrapartida, o autor expõe que, na atualidade, em todos meios de comunicação,


não falta especialistas infalíveis em todos os assuntos (l.9), todos com receitas
imediatas e garantidas para a solução de todos os problemas (l.10-11). Isso comprova

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Em defesa da dúvida

a tese inicial do autor de que a dúvida perdeu seu prestígio, em vista que “a hesitação,
a dúvida, o tempo para reflexão são interpretados como incompetência, passividade,
absenteísmo” (l.11-12), ou seja, de acordo com o texto, as dúvidas e incertezas inferem
na nossa competência, proatividade e produtividade, três pontos fundamentais para
o mercado de trabalho do séc. XXI.

Dessa forma, com o imediatismo que marca a contemporaneidade, juntamente com


os avanços tecnológicos, que afeta diretamente nossos hábitos e ações, como se
“ditasse a urgência de constituirmos nossas certezas” (l.13-14). Dado que a dúvida
pode deixar o indivíduo vulnerável, como explicado no parágrafo anterior, por isso há
a busca, cada vez maior, de mostrar mais sabedoria acerca de tudo.

Sobre essa questão, podemos ultrapassar o conteúdo do texto, para fazer uma relação
com a teoria do sociólogo Zygmunt Bauman, que defende a teoria de que a sociedade
atual pode ser definida como uma modernidade líquida, em que os desenvolvimentos
tecnológicos afetam diretamente ao ritmo da nossa vida, cada vez mais acelerado,
consequentemente, os nossos relacionamentos são líquidos e efêmeros. Essa
associação corrobora para nossa interpretação do texto, visto que a “urgência de
constituímos nossas certezas” (l.13-14) tem relação imediata com o conceito da
sociedade líquida, já que impulsiona o indivíduo a dar qualquer resposta com
convicção, sem ter analisado com calma para ver realmente se aquilo é válido ou não.

Todavia, o autor contrapõe essa visão atual da dúvida, afirmando que ela
“corresponde ao nosso direito de suspender a verdade ilusória das aparências” (l.15).
Sendo a dúvida o principal e mais forte meio para chegar a uma verdade, pois busca
comprovações. Desse modo, a dúvida é o caminho para o conhecimento mais
profundo, pois questiona e contesta as verdades absolutas, assim possibilita “buscar
a verdade funda daquilo que não aparece” (l.16).

Assim sendo, no último parágrafo, o autor vai expor que o indivíduo que possui uma
verdade absoluta, avalia a questão por um ângulo restrito e se submete aos valores já
estabelecidos, sem investigar ou questionar, logo ele possui uma verdade superficial,
um achismo ou senso comum.

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Em defesa da dúvida

O autor em defesa da dúvida expõe, que mesmo hoje, é o primeiro passo para o
caminho das afirmações, já que “acabam sendo as mais seguras, porque são mais
refletidas e devidamente questionadas” (l.22-23). Então quanto mais duvidamos,
questionamos e refletimos sobre nossa realidade e valores, chegamos mais próximos
da verdade.

Questão 01
A valorização da dúvida se deve ao fato de que ela

a) constitui o meio pelo qual se empreende uma contestação ilusória de verdades


dadas como irrefutáveis.
b) vale-se astutamente de sua fragilidade como método para poder impor
algumas verdades definitivas.
c) permite abrir um caminho para o conhecimento ao questionar verdades dadas
como absolutas.
d) contribui para a valorização de verdades pré-estabelecidas por métodos
seguros de conhecimento.
e) implica a tentativa de se chegar a um tipo de conhecimento cuja validade
dispensa qualquer comprovação.

COMENTÁRIO DA QUESTÃO:

➢ Observe: a dúvida é o principal elemento utilizado dentro do texto,


consequentemente essa questão será de compreensão.

Ao ler o texto, percebemos que a dúvida está desvalorizada na atualidade, mas


também evidencia motivos pelos quais deve ser valorizada. Por isso, vamos analisar
cada uma das alternativas:

a) constitui o meio pelo qual se empreende uma contestação ilusória de verdades


dadas como irrefutáveis.

ERRADA: é a verdade que é ilusória. A contestação vem exatamente para


derrubar essa verdade ilusória da contestação, a dúvida é o principal meio para
chegar a uma verdade.

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Em defesa da dúvida

b) vale-se astutamente de sua fragilidade como método para poder impor


algumas verdades definitivas.

ERRADA: a dúvida não é um método frágil, pelo contrário, é o método mais


solidificado e mais forte, de acordo com o texto.

c) permite abrir um caminho para o conhecimento ao questionar verdades dadas


como absolutas.

CERTA: a dúvida é o caminho para o conhecimento mais profundo, pois


questiona as verdades absolutas. Como se comprova nos trechos: “para se
instituir um método de conhecimento é considerar a presença desafiadora da
dúvida” (l.5-6) e “a dúvida pode ser o primeiro passo para o caminho das
afirmações que acabam sendo as mais seguras, porque mais refletidas e
devidamente questionadas”(l.21-23).

d) contribui para a valorização de verdades pré-estabelecidas por métodos


seguros de conhecimento.

ERRADA: a dúvida não contribui para a valorização de verdades pré-


estabelecidas, pelo contrário, ela as contesta.

e) implica a tentativa de se chegar a um tipo de conhecimento cuja validade


dispensa qualquer comprovação.

ERRADA: a dúvida não dispensa qualquer comprovação, muito pelo contrário, a


dúvida busca as comprovações.

GABARITO: C

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Em defesa da dúvida

Questão 02
Diferentemente da maneira pela qual Sócrates e Descartes qualificaram a dúvida,
o texto nos lembra que há

a) quem pulverize a certeza inabalável com que alguns afirmam seus pontos de
vista, juízos e convicções.
b) aqueles que já de saída se apresentam como especialistas infalíveis em temas
da política, da ciência, das artes.
c) aquele que se dispõe a se pronunciar sobre algum assunto depois de ter aberto
várias hipóteses de abordagem.
d) quem sempre suspenda a verdade das aparências, não se furtando a questioná-
las antes de aceitá-las.
e) quem se afasta de julgamentos definitivos para se deter sobre o que há de
problemático numa matéria

COMENTÁRIO DA QUESTÃO:

➢ O comando coloca “o texto nos lembra que há”, se a resposta será tirada de
dentro do texto, essa é uma questão de compreensão.

Para responder essa questão, primeiro, temos que recordar como Descarte e Sócrates
enxergavam a dúvida: como método de contestação das verdades ilusórias. Em
contraponto, o texto nos lembra que, atualmente, “o que não falta são especialistas
infalíveis em todos os assuntos, na política, na ciência, na economia, nas artes” (l.9-
10).

GABARITO: B

Concluo essa aula e me despeço por aqui. Espero que o


conteúdo tenha ajudado você no processo de
compreensão e interpretação dos textos. Agradeço a sua
presença, mesmo que distante fisicamente, presente
comigo quando escrevo minhas aulas pensando na sua
aprovação. Por fim, meu querido aluno, lembre-se: leia
muito e pratique sua compreensão e interpretação textual.
Desejo um ótimo estudo!

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Em defesa da dúvida

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