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COMPREENSÃO E INTERPRETAÇÃO DE TEXTO

Professor: Jackson de Sousa Figueiredo


Equalizar – Cursinho Popular UFMG

AULAS 01 e 02 (versão 001)


Fevereiro - 2024

No dia a dia interpretamos e compreendemos textos. Lidamos desde placas


de trânsito a textos de concursos, provas de Enem a produções midiáticas; em
quaisquer momentos, lugares e situações. Afinal, somos humanos, e para nos
sociabilizarmos produzimos infinitas formas de comunicar entre nós, em grande
destaque aqui para a interação textual.
Nesta disciplina de Compreensão e Interpretação de Textos, o Equalizar – Cursinho
Popular UFMG objetiva preparar os seus alunos a fazer o Enem – Exame Nacional do
Ensino Médio. Entre os principais objetivos a serem alcançados estão: refletir sobre a
presença de elementos linguísticos na nossa vida – origens e desenvolvimento;
contribuir para o aprendizado gramatical e textual do aluno, partindo do conceito de
gramática internalizada que integra cada pessoa e; apresentar os elementos linguísticos
de compreensão e interpretação textual para que o aluno possa interagir com as provas
do Enem e consiga responder de forma acertiva todas as questões que lhe são
apresentadas de forma desafiadora.

A- Ponto de partida

Compreensão e interpretação são processos distintos entre si.

- Exemplo A: Emengarda bateu no marido com consciência tranquila.


- Compreensão: Emergarda, com consciência tranquila, bateu no marido. (Ou seja, ela
sabia porque estava batendo no marido.)
- Interpretação: Emengarda teria batido no marido com uma garrafa da cachaça de
marca “Consciência Tranquila”; ou ainda com um rolo de macarrão, apelidado por ela
dessa forma também.
- Obs: Alguém, dentro de uma compreensão textual usual pode bater em outra pessoa
com uma ferramenta chamada “consciência tranquila”?

- Exemplo B: Há dias, João Brotoeja somente pensava na morte da bezerra.


- Compreensão: João perdeu ou alguém que conhecia teve uma de suas bezerras
mortas.
- Interpretação: João andava muito triste e nada o fazia mudar de atitude e seguir em
frente.
- Obs: Você sempre mata uma bezerra do seu sítio quando fica triste?

- Exemplos C: Vou matar o cachorro do meu marido.


Vou matar a cadela do meu marido.
Vou matar o cachorro da minha esposa.
Vou matar a cadela da minha esposa.
- Compreensão: Dentro da nossa cultura típica, a primeira frase é dúbia, pois não se
sabe se se quer matar o animal de estimação do marido ou se o marido está sendo
acusado de “cachorro”, sem vergonha, mau marido. Já a segunda frase, o sentido fica
mais claro, pois parece que a fêmea do cão do marido é que corre o risco de ser morta.
Esse último entendimento serve para a terceira frase, mas não serve para a quarta, que
também transmite dubiedade.

Se um autor objetiva que o leitor entenda a mensagem que quer transmitir de forma
mais clara e direta, precisa ser conciso (ir direto ao assunto), correto (estar escrito de
acordo com as regras estabelecidas), claro (exprimir de forma rápida o que se quer
dizer) e elegância ( procurar escrever um texto atraente para o leitor).
E quais seriam os defeitos que impedem, prejudicam a leitura textual? Ambiguidade
(evitar palavras ou frases com mais de um sentido); obscuridade (utilizar períodos
longos em excesso, rebuscados ou mal pontuados; pleonasmo ( usar de redundância
nas palavras, sair para fora etc); prolixidade (usar mais palavras do que as necessárias
para o bom entendimento).

B - Orientações ampliadas de como LER (entender, traduzir) um texto/questão de


prova/etc:

- Fazer uma primeira leitura:


- O texto fala sobre o que?
- Descobrir qual é a ideia central do texto;
- Identificar se o comando da questão é interpretativo ou compreensivo.
- Colocar uma entonação mais vibrante, interpretativa na leitura do texto e ler de forma
atenta o que está escrito.

- Fazer uma segunda leitura mais atenta de cada frase:


1- Fazer um esquema sintético com as ideias principais de cada período/oração. O que
cada parágrafo traz como informação?
2- Analisar parágrafo a parágrafo em busca de todos os verbos e outras palavras-chave
estruturantes, como os verbos. Mostrar como caracterizam o contexto e suas relações
de causa e efeito.
3- Identificar as conjunções, que quase sempre indicam as orações existentes através de
elementos semânticos.
4- Procurar palavras que se caracterizam por valorar os contextos, como adjetivos e
advérbios.
5- Colocar a barra ao final de cada período, para demarcar, separar cada um dos
períodos.

Exemplos de comandos/expressões para compreender um texto:

Observar quando um texto é de compreensão: Fazer perguntas relacionadas para


compreender o texto, voltando ao texto e buscar informações DENTRO do texto.
Nunca extrapolar as relações textuais, ou seja, tudo acontece DENTRO do texto.
- No texto…
- O autor apresenta no texto…
- De acordo com o texto
- Segundo o texto…
- O autor diz que…
- O texto informa que…
- Segundo o texto…
- O autor/narrador do texto diz que…
- Tendo em vista o texto…
- O autor sugere ainda…
- O autor afirma que…
- Na opinião do autor do texto…

Exemplos de comandos/expressões para interpretar um texto:

Voltar ao texto e buscar informações ALÉM do texto, FORA do texto. Dessa forma,
cria-se inferências/deduções a partir do texto, buscando encontrar novas informações
que estão além do texto, a partir do texto. Fundamental é observar as relações
semânticas/de sentido presentes no texto, aquilo que busca extrapolar o texto, através
de deduções, conclusões

- A partir do texto…
- Infere-se com o texto…
- Deduz-se no texto que…
- Depreende-se no texto que…
- Conclui-se do texto que…
- Subtende-se no texto que…
- O texto permite deduzir que…
- Qual a intenção do autor quando afirma que…
- O texto possibilita o entendimento de que…
- Com o apoio do texto, infere-se que…
- O texto encaminha o leitor para…
- Pretende o texto mostrar que o leitor…
- O texto possibilita deduzir-se que…

C- Dicas cotidianas para aperfeiçoar sua compreensão e interpretação textual:

- Ampliar sua leitura diária (literatura, midias etc). Observe como nossa sociedade
utiliza da textualidade para se interagir.
- Grife as palavras desconhecidas,
- Faça leituras em voz alta,
- Fazer resumo de ideias, parágrafos, textos. Podem ser usados também fichamentos,
mapas mentais, jogos de memória, teatro, etc
- Elaborar resenhas de obras ou conteúdos muito utilizados.
- Varie seu campo de dificuldade de entendimento, lendo textos de épocas diversas,
autores e estilos variados.

Exercícios de fixação.

Baseado no que já foi aprendido, COMPREENDA e INTERPRETE, de forma


sintética, os textos abaixo apresentados:

1-
Memórias Póstumas de Brás Cubas (Machado de Assis)

“Dedicatória:
‘Ao verme que primeiro roeu as frias carnes do meu cadáver dedico como saudosa
lembrança estas memórias póstumas.”
ASSIS, Machado de (1839-1908). Memórias Póstumas de Brás Cubas. Ática. São
Paulo: xxxx

2-
Budismo moderno (Augusto dos Anjos)

“Tome, Dr., esta tesoura, e... corte


Minha singularíssima pessoa.
Que importa a mim que a bicharia roa
Todo o meu coração, depois da morte?!”
(...)
ANJOS, Augusto dos (1884-1914). Budismo moderno. In: Eu. Martins Fontes. São
Paulo: 1994
3-
Traduzir-se (Ferreira Gullar)

Uma parte de mim


é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.

Uma parte de mim


é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.

Uma parte de mim


pesa, pondera:
outra parte
delira.

Uma parte de mim


almoça e janta:
outra parte
se espanta.

Uma parte de mim


é permanente:
outra parte
se sabe de repente.

Uma parte de mim


é só vertigem:
outra parte,
linguagem.

Traduzir uma parte


na outra parte
– que é uma questão
de vida ou morte –
será arte?

GULLAR, Ferreira (1930-2016). Traduzir-se. In: Toda poesia (Na vertigem do dia -
1980). 12. ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 2004, p. 335.
4-
Fanatismo (Florbela Espanca)
Minh’alma, de sonhar-te, anda perdida.
Meus olhos andam cegos de te ver.
Não és sequer razão do meu viver
Pois que tu és já toda a minha vida!

Não vejo nada assim enlouquecida…


Passo no mundo, meu Amor, a ler
No mist’rioso livro do teu ser
A mesma história tantas vezes lida!…

“Tudo no mundo é frágil, tudo passa…”


Quando me dizem isto, toda a graça
Duma boca divina fala em mim!

E, olhos postos em ti, digo de rastros:


“Ah! podem voar mundos, morrer astros,
Que tu és como Deus: princípio e fim!…”

ESPANCA, Florbela. Fanatismo. In: Poemas Selecionados. Ciberfil Literatura


Digital. 2002. Disponível em http://www.ciberfil.hpg.ig.com.br/ . Acesso em
15/02/2024.

Exercício especial:

Esse é um trecho da Constituição Federal sobre o papel das Forças Armadas. Como
você compreende o trecho? Como você o interpreta? O texto está escrito em ordem
direta, para uma melhor compreensão da população? Na sua opinião que ação principal
o texto está determinando que se cumpra? Quem cumpre ou determina essa ação?
Quais as consequências dessa ação?

Constituição Federal do Brasil de 1988


CAPÍTULO II
DAS FORÇAS ARMADAS
Art. 142. As Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela
Aeronáutica, são instituições nacionais permanentes e regulares, organizadas com base
na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade suprema do Presidente da República, e
destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa
de qualquer destes, da lei e da ordem.

BRASIL. Constituição Federal de 1988. Promulgada em 5 de outubro de


1988. Disponível em
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituição.htm>. Acesso em
25/02/2024.
Uma proposta de redação mais direta para esse texto:

A Marinha, o Exército e a Aeronáutica, instituições nacionais permanentes e regulares,


constituem as Forças Armadas e têm por base a hierarquia e a disciplina, sob a
autoridade suprema do presidente da República. Tais Forças destinam-se: à defesa da
Pátria; à garantia dos poderes constitucionais e; à garantia da lei e da ordem quando
quaisquer instituições das Forças Armadas tenham iniciativa de acioná-las.

- Você entende de outra maneira?


- Qual é a ação/verbo principal que determina toda a movimentação do texto? Quem é
que executa/sujeito essa ação? Quais são as consequencias/complementos e objetos que
são provocados?

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