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CIÊNCIAS SOCIAIS

Professora Me. Patrícia Bernardo


Professora Me. Patrícia Rodrigues da Silva
Professora Me. Rizia Ferrelli Loures Loyola Franco

GRADUAÇÃO

Unicesumar
Reitor
Wilson de Matos Silva
Vice-Reitor
Wilson de Matos Silva Filho
Pró-Reitor Executivo de EAD
William Victor Kendrick de Matos Silva
Pró-Reitor de Ensino de EAD
Janes Fidélis Tomelin
Presidente da Mantenedora
Cláudio Ferdinandi

NEAD - Núcleo de Educação a Distância


Diretoria Executiva
Chrystiano Mincoff
James Prestes
Tiago Stachon
Diretoria de Graduação e Pós-graduação
Kátia Coelho
Diretoria de Permanência
Leonardo Spaine
Diretoria de Design Educacional
Débora Leite
Head de Produção de Conteúdos
Celso Luiz Braga de Souza Filho
Head de Curadoria e Inovação
Tania Cristiane Yoshie Fukushima
Gerência de Produção de Conteúdo
Diogo Ribeiro Garcia
Gerência de Projetos Especiais
Daniel Fuverki Hey
Gerência de Processos Acadêmicos
Taessa Penha Shiraishi Vieira
Supervisão de Produção de Conteúdo
Nádila Toledo
Coordenador de Conteúdo
Patrícia Rodrigues da Silva
Designer Educacional
Isabela Agulhon Ventura
Iconografia
Isabela Soares Silva
Projeto Gráfico
C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a Jaime de Marchi Junior
Distância; BERNARDO, Patrícia; SILVA, Patrícia Rodrigues da; José Jhonny Coelho
FRANCO, Rizia Ferrelli Loures Loyola. Arte Capa
André Morais de Freitas
Ciências Sociais. Patrícia Bernardo; Patrícia Rodrigues da Editoração
Silva; Rizia Ferrelli Loures Loyola Franco. Luís Ricardo P. Almeida Prado de Oliveira
Maringá-Pr.: Unicesumar, 2018. Reimpresso em 2021.
Qualidade Textual
176 p. Hellyery Agda
“Graduação - EaD”. Ludiane Aparecida de Souza
1. Ciências. 2. Sociais . 3. Economia 4. EaD. I. Título.
Ilustração
Marcelo Goto
ISBN 978-85-459-0754-1
CDD - 22 ed. 300
CIP - NBR 12899 - AACR/2

Ficha catalográfica elaborada pelo bibliotecário


João Vivaldo de Souza - CRB-8 - 6828
Viver e trabalhar em uma sociedade global é um
grande desafio para todos os cidadãos. A busca
por tecnologia, informação, conhecimento de
qualidade, novas habilidades para liderança e so-
lução de problemas com eficiência tornou-se uma
questão de sobrevivência no mundo do trabalho.
Cada um de nós tem uma grande responsabilida-
de: as escolhas que fizermos por nós e pelos nos-
sos farão grande diferença no futuro.
Com essa visão, o Centro Universitário Cesumar
assume o compromisso de democratizar o conhe-
cimento por meio de alta tecnologia e contribuir
para o futuro dos brasileiros.
No cumprimento de sua missão – “promover a
educação de qualidade nas diferentes áreas do
conhecimento, formando profissionais cidadãos
que contribuam para o desenvolvimento de uma
sociedade justa e solidária” –, o Centro Universi-
tário Cesumar busca a integração do ensino-pes-
quisa-extensão com as demandas institucionais
e sociais; a realização de uma prática acadêmica
que contribua para o desenvolvimento da consci-
ência social e política e, por fim, a democratização
do conhecimento acadêmico com a articulação e
a integração com a sociedade.
Diante disso, o Centro Universitário Cesumar al-
meja ser reconhecido como uma instituição uni-
versitária de referência regional e nacional pela
qualidade e compromisso do corpo docente;
aquisição de competências institucionais para
o desenvolvimento de linhas de pesquisa; con-
solidação da extensão universitária; qualidade
da oferta dos ensinos presencial e a distância;
bem-estar e satisfação da comunidade interna;
qualidade da gestão acadêmica e administrati-
va; compromisso social de inclusão; processos de
cooperação e parceria com o mundo do trabalho,
como também pelo compromisso e relaciona-
mento permanente com os egressos, incentivan-
do a educação continuada.
Seja bem-vindo(a), caro(a) acadêmico(a)! Você está
iniciando um processo de transformação, pois quando
investimos em nossa formação, seja ela pessoal ou
profissional, nos transformamos e, consequentemente,
transformamos também a sociedade na qual estamos
inseridos. De que forma o fazemos? Criando oportu-
nidades e/ou estabelecendo mudanças capazes de
alcançar um nível de desenvolvimento compatível com
os desafios que surgem no mundo contemporâneo.
O Centro Universitário Cesumar mediante o Núcleo de
Educação a Distância, o(a) acompanhará durante todo
este processo, pois conforme Freire (1996): “Os homens
se educam juntos, na transformação do mundo”.
Os materiais produzidos oferecem linguagem dialógica
e encontram-se integrados à proposta pedagógica, con-
tribuindo no processo educacional, complementando
sua formação profissional, desenvolvendo competên-
cias e habilidades, e aplicando conceitos teóricos em
situação de realidade, de maneira a inseri-lo no mercado
de trabalho. Ou seja, estes materiais têm como principal
objetivo “provocar uma aproximação entre você e o
conteúdo”, desta forma possibilita o desenvolvimento
da autonomia em busca dos conhecimentos necessá-
rios para a sua formação pessoal e profissional.
Portanto, nossa distância nesse processo de cresci-
mento e construção do conhecimento deve ser apenas
geográfica. Utilize os diversos recursos pedagógicos
que o Centro Universitário Cesumar lhe possibilita.
Ou seja, acesse regularmente o Studeo, que é o seu
Ambiente Virtual de Aprendizagem, interaja nos fóruns
e enquetes, assista às aulas ao vivo e participe das dis-
cussões. Além disso, lembre-se que existe uma equipe
de professores e tutores que se encontra disponível para
sanar suas dúvidas e auxiliá-lo(a) em seu processo de
aprendizagem, possibilitando-lhe trilhar com tranqui-
lidade e segurança sua trajetória acadêmica.
AUTORES

Professora Me. Rizia Ferrelli Loures Loyola Franco


Mestre em Ciências Sociais pela Universidade Estadual de Maringá (UEM),
especialista em Gestão de Relacionamento com o Cliente (SENAC-SP),
graduada em Moda também pela Universidade Estadual de Maringá (UEM).
Leciona na UNICESUMAR nos cursos presenciais e a distância.

Para saber mais, acesse o link disponível em: <http://buscatextual.cnpq.br/


buscatextual/visualizacv.do?id=K4337376U2>.

Professora Me. Patrícia Bernardo


Mestre em Administração pelo Programa de Pós-Graduação em Administração
da Universidade Estadual de Maringá - PPA/UEM, na linha de pesquisa de
Organizações, Estratégia e Trabalho. Pós-graduada em Marketing pelo Centro
Universitário de Maringá - UNICESUMAR (2012). Graduada em Administração
pela Universidade Estadual de Maringá - UEM (2010). Atualmente, ministra
as disciplinas de Teoria Geral da Administração, Estratégia Organizacional,
Metodologia da Pesquisa e do Ensino para os cursos de graduação e pós-
graduação na Faculdade Alvorada de Tecnologia e Educação de Maringá, e a
disciplina Teorias da Administração no Ensino a Distância da Unicesumar.

Para saber mais, acesse o link disponível em: <http://lattes.cnpq.


br/4122551852833449>.

Professora Me. Patrícia Rodrigues da Silva


Doutoranda em Educação na Linha de Pesquisa “História e Historiografia
da Educação” pela Universidade Estadual de Maringá (2017). Mestre em
Administração - UEM/UEL pela Universidade Estadual de Maringá (2010), na
linha de “Estudos Organizacionais”. MBA em Recursos Humanos pela Unicesumar
(2004). Especialização em Gestão Educacional: Administração, Supervisão e
Orientação (2017). Graduada em Administração pela Universidade Estadual de
Maringá (2002). Graduanda em Pedagogia pela Unicesumar (2015). Atualmente
é Coordenadora de cursos e professora formadora no Núcleo de Educação à
Distância - NEAD, da Unicesumar. Tem experiência na área de Administração,
com ênfase em Estudos Organizacionais e Gestão de pessoas, atuando
principalmente nos seguintes temas: cultura, relacionamento, subjetividades,
metodologia de pesquisa e formação de professores.

Para saber mais, acesse o link disponível em: <http://lattes.cnpq.


br/6722846348879093>.
APRESENTAÇÃO

CIÊNCIAS SOCIAIS

SEJA BEM-VINDO(A)!
É com grande satisfação que apresentamos a você, caro(a) aluno(a), o livro que servirá
de suporte para os seus estudos na disciplina de Ciências Sociais. Preparamos este livro
com muito cuidado, trabalhando com autores clássicos que dão subsídio suficiente para
o desenvolvimento do conhecimento desta disciplina para cursos da grande área de
Ciências Sociais Aplicadas.
Inicialmente, precisamos esclarecer que as Ciências Sociais correspondem a uma grande
área de estudo sob a qual podem estar as mais diversas perspectivas e linhas de pes-
quisas. Quando pensamos neste livro, tentamos trazer os recortes que oferecessem um
conhecimento aprofundado e ao mesmo tempo direcionado para você, aluno(a), dentro
da linha de formação que você escolheu. Assim sendo, apresentaremos, sucintamente,
os conteúdos com os quais você terá contato. Vamos lá!
Na primeira unidade, sob o título “Introdução às Ciências Sociais”, trabalharemos os con-
teúdos de maneira a familiarizar você estudante no que diz respeito a esta disciplina.
Nesta unidade serão trabalhados alguns aspectos referentes à natureza e cultura, tipos
de sociedade, aspectos da vida em grupo, bem como as diferentes concepções da socie-
dade. Tais pontos se mostrarão importantes para ajudar na compreensão dos conteúdos
seguintes, e também para compreender um pouco mais sobre a vida social e a influên-
cia das instituições sociais.
Na segunda unidade, intitulada “Clássicos de Ciências Sociais”, apresentaremos os prin-
cipais autores clássicos das Ciências Sociais, trazendo as suas percepções, ideias centrais
sobre a sociedade e os seus elementos. Você conhecerá os ideais de Émile Durkheim,
Max Weber e Karl Marx, e as suas contribuições para o entendimento da sociedade.
Quando chegar a terceira unidade, “Identidade, Cultura e Consumo”, você conhecerá
alguns elementos que circundam o nosso cotidiano e influenciam o nosso comporta-
mento. Será tratado sobre as subculturas e os grupos sociais, sobre a construção do
indivíduo, sobre os significados do consumo no mundo contemporâneo. São assuntos
muito atuais, que são discutidos nas mais diversas linhas de pesquisa.
A quarta unidade, sob o título “Simbolismo nas Organizações”, trazemos elementos que
dão continuidade à linha de discussão que vinha se estabelecendo em nosso livro, par-
tindo dos elementos da cultura organizacional, passando pelo processo de apropriações
e construção de representações por parte dos indivíduos, e, chegando às construções
metafóricas da realidade. O intuito foi levá-lo(a) à reflexão da concepção do mundo e da
vida social como uma representação, e não como uma realidade objetiva e totalmente
clara.
APRESENTAÇÃO

Na quinta e última unidade de nosso livro, intitulada “Mundo do Trabalho e Con-


texto Social”, mais uma vez, gostaríamos de levá-lo(a), caro(a) aluno(a), à reflexão.
Como estamos falando do fechamento das discussões de nosso livro, esta unidade
foi pensada e criada para se pensar sobre as principais mudanças que ocorreram
no mundo do trabalho nos últimos tempos, e podemos lhe assegurar que o assun-
to é de suma importância para entendimento do atual contexto em que vivemos.
Falaremos sobre a organização do trabalho, sobre a emancipação humana e conhe-
ceremos os principais pontos da teoria do Agir Comunicativo de Jurgen Habermas.
Saiba que quando idealizamos este livro, pensamos em trazer a você, mesmo que
sucintamente, elementos que pudessem oferecer subsídios para o seu processo de
formação, levando a reflexões e entendimentos a respeito do mundo e da socieda-
de na qual vivemos. É fato que os elementos que foram mencionados não se esgo-
tam nos conteúdos que serão apresentados neste livro, mas esperamos que sirvam
de estímulo para que você desenvolva novas pesquisas e aprofunde o seu conheci-
mento sobre as Ciências Sociais.
Aproveite mais esta jornada de conhecimento. Bons estudos!
Grande abraço,
Das professoras.
09
SUMÁRIO

UNIDADE I

INTRODUÇÃO ÀS CIÊNCIAS SOCIAIS

15 Introdução

16 Diferenças Entre Natureza e Cultura

21 Aspectos da Vida em Grupo

25 Apresentação dos Tipos de Sociedades

31 Introdução ao Estudo das Ciências Sociais

38 Considerações Finais

45 Referências

46 Gabarito

UNIDADE II

CLÁSSICOS DAS CIÊNCIAS SOCIAIS

49 Introdução

50 Percepções de David Émile Durkheim Sobre a Sociedade 

57 As Análises de Max Weber Sobre a Ação Social

63 Perspectivas de Karl Marx e a Sociedade Capitalista 

67 Considerações Finais

74 Referências

75 Gabarito
10
SUMÁRIO

UNIDADE III

IDENTIDADE, CULTURA E CONSUMO

79 Introdução

80 Subculturas e Grupos Sociais

85 A Noção do Eu

89 Os Objetos e os Ciclos de Vida

93 O Consumo da Contemporaneidade

101 Considerações Finais

105 Referências

109 Gabarito

UNIDADE IV

SIMBOLISMO NAS ORGANIZAÇÕES

113 Introdução

114 Cultura Organizacional

120 Organizações Vistas como Sistemas Simbólicos

127 Produção de Sentidos e Representação

135 Considerações Finais

141 Referências

143 Gabarito
11
SUMÁRIO

UNIDADE V

MUNDO DO TRABALHO E CONTEXTO SOCIAL

147 Introdução

148 Transformação e Mudança Constantes

154 O Trabalho Atípico ou Diferenciado

158 Emancipação Humana no Mundo do Trabalho

165 Considerações Finais

170 Referências

172 Gabarito

173 CONCLUSÃO
Professora Me. Rizia Ferrelli Loures Loyola Franco

INTRODUÇÃO ÀS

I
UNIDADE
CIÊNCIAS SOCIAIS

Objetivos de Aprendizagem
■■ Diferenciar a natureza da cultura.
■■ Informar aspectos da vida em grupo.
■■ Apresentar diferentes concepções de sociedade.
■■ Introduzir o estudo das Ciências Sociais

Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■■ Diferenças entre natureza e cultura
■■ Aspectos da vida em grupo
■■ Apresentação dos tipos de sociedades
■■ Introdução ao estudo das Ciências Sociais
15

INTRODUÇÃO

Caro(a) aluno(a), você já parou para pensar que vivemos constantemente em con-
tato com o outro? Interagimos com os membros de nossa família, no ambiente
de trabalho e também acadêmico. Até mesmo nos espaços de lazer praticamos
atividades em grupo.
Nesse sentido, observamos que a humanidade aprendeu a conviver com os
demais membros de seu grupo e a buscar padrões nas diversas relações estabe-
lecidas, e que viver em isolamento total é algo quase que impossível no mundo
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

globalizado. Sendo assim, o principal objetivo desse estudo sobre a introdução


das Ciências Sociais é observar as relações estabelecidas entre diversos grupos
na vida social, que se comportam de modo dinâmico e recebem influências his-
tóricas, culturais, sociais, políticas e econômicas.
Iniciaremos o nosso estudo com a reflexão sobre as diferenças entre os ele-
mentos da natureza como animais e plantas, de nós, seres culturais, flexíveis e
criativos. Será que é natural o homem não chorar? Será que é natural da mulher
ser delicada e possuir o amor maternal? Esses e outros questionamentos nos
diferem da natureza, uma vez que somos seres culturais e nos desenvolvemos
na medida em que estabelecemos relações sociais. Ainda veremos que não existe
uma única cultura, mas a diversidade e a pluralidade cultural nas sociedades,
sobretudo na atualidade.
Partindo dessas ideias, conheceremos os elementos da vida em grupo, como
a importância da comunicação, da interação social, dos valores econômicos,
estéticos e morais para o nosso aprendizado e desenvolvimento. E que por esse
motivo, o contato com o outro é de grande importância em nossa construção
pessoal, profissional e acadêmica.
Aliás, veremos também sobre alguns tipos de sociedade. Estudaremos sobre
a complexidade do humano envolvido em suas relações estudadas pelas Ciências
Sociais (Antropologia, Sociologia e Ciência Política) que nos auxiliam a compre-
ender a um pouco mais sobre a vida social e a influência das instituições sociais.
Desejamos um ótimo estudo!

Introdução
16 UNIDADE I

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
DIFERENÇAS ENTRE NATUREZA E CULTURA

Muitas vezes, prezado(a) acadêmico(a), nos deparamos com situações que nos
fazem pensar se alguma atitude seria própria da humanidade. Em outras ocasiões
observamos como somos parecidos com os demais seres vivos. Contudo, nossa
inteligência e habilidades, como a linguagem e a produção de diversos artefa-
tos, nos diferenciam dos demais animais. O que produzimos afeta diretamente
o nosso próprio meio. Desse modo, estudaremos o que compreende o universo
natural que, por sua vez, é modificado pela cultura.

A NATUREZA

Iniciaremos pela conceituação de natureza. Segundo Marilena Chauí (2000, p.


124), dizer que algo é natural significa que essa coisa é efeito de uma causa univer-
sal e que “[...] não depende da ação e interação dos seres humanos”. A partir dessa
definição, podemos compreender o que vem a ser a natureza ou o que realmente é
“natural”. Nesse aspecto, a natureza envolve o que o homem não produziu, como os
mares, as montanhas, os animais e as plantas, também a água, o ar. Assim, pensar
na natureza é pensar no que não foi modificado pelo homem. A seguir, apresen-
tamos alguns exemplos do que é natureza ou natural (CHAUÍ, 2000):

INTRODUÇÃO ÀS CIÊNCIAS SOCIAIS


17

■■ A abelha produzir mel.


■■ A roseira gerar rosa.

■■ Os homens naturalmente sentem, pensam e agem.

Tanto o homem quanto os outros animais se agrupam, convivem, se acasalam,


sobrevivem e se defendem conforme o ambiente. Essas são uma série de ativi-
dades instintivas, reações e ações inatas como respirar, engatinhar, sentir fome,
medo e frio. Portanto, a natureza é considerada como o conjunto dos seres vivos,
entre eles o próprio homem, os demais animais e as plantas.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

A CULTURA

Depois de estudada a natureza, partiremos para o estudo da cultura. Ao estudá-


-la, veremos que seu significado é complexo, pois envolve as crenças, técnicas,
tradições e costumes produzidos na sociedade pelo homem. Aprendemos a cul-
tura sobretudo pela educação dos pais e da escola. Assim, podemos dizer que a
cultura é transmitida de geração para geração.
Além das atividades instintivas, prezado(a) aluno(a), o homem desenvolveu
capacidades que dependem de aprendizado. Assim como você um dia, as crianças
aprendem a comer, beber e dormir em horários regulares, aprendem a brincar, a
obedecer e, mais tarde, a trabalhar, comercializar, administrar e governar.
Marilena Chauí nos auxilia na compreensão da cultura na medida em que
explica a cultura, caracterizada, num primeiro momento, como as obras que
o homem produz na sociedade, aos poucos, passou a significar “a relação dos
humanos com o tempo e no espaço” (CHAUÍ, 2000, p. 129).
Frases como “homem não chora” nos fazem pensar se o homem realmente
não chora e se todas as mulheres são delicadas. Se pensarmos que o homem não
chora infringiríamos a lei da natureza que fez todos os seres humanos terem
a possibilidade de chorar e expressarem seus sentimentos como dor e raiva.
Entretanto, em muitas sociedades os homens são educados a não demonstra-
rem os seus sentimentos, e principalmente, a não chorarem.

Diferenças entre Natureza e Cultura


18 UNIDADE I

Desse modo, o homem sabe chorar, mas desenvolve o hábito de não chorar,
ao longo da construção de sua identidade, para ser aceito em seu grupo social
pela cultura. Como em nossa sociedade brasileira, na qual muitos homens ainda
são educados para não chorarem, uma vez que o choro pode significar, dentro
de algumas culturas, fraqueza.
Diante do exposto, Costa (2010, p. 190) afirma que “[...] a cultura não é
um conjunto de determinações rígido e acabado; ao contrário, ela integra de
maneira dinâmica os padrões das ações e reações humanas.” Apesar de exercer
pressão sobre a formação do caráter e da personalidade do indivíduo, a cultura

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
é elaborada numa relação dupla na qual aquele que sofre suas influências ajuda
a produzir novas relações.
Nesse sentido, nem tudo é genético, não se desenvolve automaticamente
da natureza. Para se tornar um humano, o homem tem que aprender com seus
semelhantes uma série de atitudes que lhe seriam impossíveis serem desenvol-
vidas no isolamento.

DIFERENÇAS ENTRE A NATUREZA E A CULTURA

Após a definição de natureza e cultura, analisaremos suas diferenças. A princi-


pal delas, que difere os seres humanos dos demais seres vivos, é que somos seres
culturais. Esse termo cultura, nas ciências sociais, inicialmente se referia a um
conjunto de hábitos, costumes e formas de vida, capaz de distinguir um povo ou
um grupo social de outro. Atualmente, com o advento de uma concepção mais
simbólica da vida humana, o conceito de cultura ganhou conteúdos mais abs-
tratos, que a veem como um conjunto de significados partilhados por um grupo
social (COSTA, 2010, p. 10).
Podemos acrescentar o que destaca Giddens e Netz (2005, p. 22, GRIFO
NOSSO):
Quando os sociólogos falam do conceito de cultura, referem-se a esses
aspectos das sociedades humanas que são aprendidos e não herdados.
Esses elementos da cultura são partilhados pelos membros da socie-
dade e tornam possível a cooperação e a comunicação. Eles formam o
contexto comum em que os indivíduos de uma sociedade vivem suas

INTRODUÇÃO ÀS CIÊNCIAS SOCIAIS


19

vidas. A cultura de uma sociedade engloba tanto os aspectos intangí-


veis – as crenças, as ideias e os valores que constituem o teor da cultura
– como os aspectos tangíveis – os objetos, os símbolos ou a tecnologia
que representam esse conteúdo.

Portanto, observamos que nossos comportamentos, emoções e sentimentos levam


em consideração nossa individualidade e capacidade criativa, mas sobretudo a
influência de fatores externos como a época em que vivemos, o lugar, o tipo de
trabalho que executamos e a sociedade em que fazemos parte.
Enquanto o animal age por reflexos e instintos (ação instintiva), nos níveis
mais altos da escala zoológica, em que estão situados os mamíferos, as ações
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

deixam de ser exclusivamente instintivas e adquirem maior plasticidade, carac-


terística dos atos inteligentes. A seguir, listamos alguns atos inteligentes da
humanidade (CHAUÍ, 2000):
■■ Ocorre uma resposta diferenciada, improvisada e criativa.
■■ A solução ocorre depois de um certo tempo, quando há um insight
(iluminação súbita).

Para conhecer um pouco mais sobre as diferenças entre a natureza e cultura,


observa-se que ao longo da história o homem modificou a sua interação
com a natureza e ao considerar diferentes aspectos simbólicos, interage e
modifica o seu espaço.
Um exemplo disso são os diversos estilos de casa e como a humanidade
se relaciona com os demais animais, ao distinguir os animais considerados
domésticos e os selvagens. Ao mesmo tempo, o homem elabora elementos
de distinção que comunicam o seu poder, sua masculinidade e sua força.
Fonte: Costa (2010).

Diferenças entre Natureza e Cultura


20 UNIDADE I

Após essas definições, elaboramos um quadro com as principais diferenças entre


a natureza e a cultura, acompanhe:

Quadro 01 - Diferenças entre a natureza e a cultura

NATUREZA CULTURA
Tudo o que existe no Universo sem a Tudo que existe com a intervenção
Intervenção da ação humana humana

O que se desenvolve ou produz sem O que é artificial, técnico, artefato ou


interferência humana tecnológico

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Obras da natureza como o céu, o mar, a Obras do homem como edifícios,
terra navios e ruas
Reino da repetição Reino da transformação
Não elabora significados abstratos Elabora significados abstratos ou
simbólicos
Alimenta-se por sobrevivência Alimenta-se por sobrevivência e
prazer
Fonte: adaptado de Chauí (2000).

Desse modo, caro(a) aluno(a), observamos que ao mesmo tempo em que a cultura
modifica o homem, este por sua vez também tem a capacidade de transformá-
-la, na medida que também produz a cultura. Assim, de acordo com a cultura
que estamos inseridos, vamos aprendendo a reproduzir e a produzir os elemen-
tos que nos fazem relacionar com os outros e com o meio.
Por mais que adestremos os animais e os façamos se aproximar de comporta-
mentos semelhantes aos humanos, eles jamais conseguirão transpor o limite que
separa a natureza da cultura. Para prosseguirmos com o nosso estudo, tratamos
agora sobre os termos empregados anteriormente: grupos sociais e o universo
simbólico, interação social e valores.

INTRODUÇÃO ÀS CIÊNCIAS SOCIAIS


21
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

ASPECTOS DA VIDA EM GRUPO

Caro(a) aluno(a), um elemento importantíssimo da transmissão da cultura de


uma sociedade é a própria comunicação humana. Segundo Giddens e Netz (2005,
p. 561), comunicação é a transmissão de informações de um indivíduo ou grupo
para outro. Isso mostra que a comunicação é a base necessária para toda intera-
ção social. Nos contextos face a face, a comunicação se dá por meio do uso da
linguagem, mas também por meio de muitas dicas corporais que os indivíduos
interpretam para compreenderem o que os outros dizem e fazem.

A interação humana acontece quando um indivíduo reage a outro. Geral-


mente, respondemos a ação da outra pessoa conforme a nossa interpreta-
ção. A nossa resposta, por sua vez, estimula esta outra pessoa conforme as
nossas ações. Fonte: Cohen (1980).

Aspectos da Vida em Grupo


22 UNIDADE I

Já segundo Costa (2010, p. 298), “a linguagem e a comunicação são a base da


cultura e da vida social, bem como dos processos de identidade pessoal”. Além
disso, o ser humano vive de acordo com a cultura, desenvolve um sistema sim-
bólico, comunica-se por meio de um complexo sistema linguístico e transmite
conhecimento por meio da socialização.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
“A socialização é o processo através do qual o ser humano começa a apren-
der o modo de vida de sua sociedade, adquire [...] a capacidade de funcionar
como indivíduo e como membro do grupo”. Os principais agentes de sociali-
zação são a família, a escola, os amigos e os meios de comunicação.

Como complementam Aranha e Martins (2005, p. 23-25). “se o contato com o


mundo é intermediado pelo símbolo, a cultura é o conjunto de símbolos elabo-
rado por um povo”. Por isso que as culturas são múltiplas e diversificadas. Nesse
sentido, prezado(a) aluno (a), vejamos que em nossa volta temos diversos sím-
bolos que somente nós, humanos, compreendemos. A seguir, alguns exemplos:
■■ Uma aliança significa compromisso, ora de namoro, ora de noivado.
■■ Uma mulher de vestido branco nos remete a comemoração do ano novo
ou a um vestido de noiva.
■■ Um velhinho barbudo vestido de vermelho pode significar que o natal
está perto.
■■ Um homem que possui um carro de luxo simboliza riqueza.
■■ Um papel de bala guardado nos lembra de uma amiga.
■■ Um presente significa o amor entre irmãos.

INTRODUÇÃO ÀS CIÊNCIAS SOCIAIS


23

Com o desenvolvimento da escrita e de meios de comunicação eletrônicos,


como o rádio, a televisão ou os sistemas de transmissão por computador, a
comunicação transformou-se, principalmente pelo modo virtual.

GRUPOS SOCIAIS E VALORES

De fato, as características humanas flexíveis se tornam possíveis porque o homem


tem a capacidade de criar símbolos com a linguagem que torna as experiências
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

compartilháveis. Desse modo, a comunicação verbal e não verbal nos permite


expressar nossos pensamentos, ela vista como um instrumento por meio do qual
se estabelece diálogos com os semelhantes e atribui sentido à realidade, e só se
mantém por convenção, hábito ou tradição.
Entretanto, há diferentes grupos sociais. Os sociólogos podem estudar diver-
sos grupos, como pessoas se comunicando, grupo de trabalhadores, relação de
pais e filhos, professores e alunos. Esses grupos são de tamanhos diversos, desde
milhões de pessoas até 2 ou três pessoas. Entre as diferentes definições de grupo
sociais, podemos dizer que é um “conjunto de pessoas em interação, que com-
partilham uma consciência de membros baseada em expectativas comuns de
comportamento (COHEN, 1980, p. 49).
Além disso, podemos definir grupo social como o conjunto de indivíduos
que interagem e compartilham características em comum como normas, valo-
res, símbolos e expectativas. O mesmo grupo social faz com que seus membros
possuam um sentimento de unidade (DIAS, 2010).
Nesse sentido, cada grupo social possui características diferenciadas de como
ocupar o seu tempo, trabalhar, interpretar o mundo, e também com relação a
suas expressões artísticas. Desse modo, ser humano se distingue dos outros ani-
mais, pois fala. Por volta dos 18 meses a criança aprende a falar, ultrapassa os
limites da vida animal e entra no mundo simbólico.

Aspectos da Vida em Grupo


24 UNIDADE I

Por outro lado, a linguagem humana, dentro de cada grupo social, exprime
pensamentos, sentimentos e valores diferentes; possui uma função de conheci-
mento e de expressão, ou função conotativa. Uma mesma palavra pode exprimir
sentidos ou significados diferentes. Isso depende, caro(a) aluno(a), do sujeito que
a emprega, do sujeito que a ouve ou lê, das condições ou circunstâncias em que
foi empregada ou do contexto em que é usada.
Conforme Giddens e Netz (2005, p. 22), “as normas e os valores são as regras
de comportamento que refletem ou incorporam os valores de uma cultura”. Nesse
sentido, valorizamos alguma coisa em detrimento a outra. O que é valorizado

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por determinado grupo social, considerado uma atitude boa ou má, tido como
sagrado ou profano, perigoso ou seguro, depende dos valores.
De acordo com Chauí (2000), em cada cultura existe uma atribuição de
valor. Vejamos a seguir:
1) Valores às coisas e aos homens - bom, mau, justo, injusto, verdadeiro,
falso, belo, feio, possível, impossível, perigoso, sagrado.
2) Valores a humanos e suas relações - diferença sexual e proibição de
incesto, virgindade, fertilidade, puro-impuro, virilidade.
3) Valores a humanos e suas relações entre as diferenças etárias - forma
de tratamento dos mais velhos e dos mais jovens).
4) Valores a humanos e suas relações entre diferença de autoridade - for-
mas de relação com o poder.
5) Valores econômicos - relativos ao capital econômico.
6) Valores estéticos - as diferenças para considerarmos o que é belo ou feio.

7) Valores morais - conduta humana em diversas situações.

INTRODUÇÃO ÀS CIÊNCIAS SOCIAIS


25

Desse modo, a cultura é vista como tudo que o homem produz ao construir
sua existência: práticas, teorias, instituições, valores materiais e espirituais.
Entretanto, o que é valorizado hoje pode não ser o mesmo valorizado amanhã,
ou seja, esses padrões podem sofrer alterações.
Pensamos no hábito do café da manhã, prezado(a) aluno(a). Em nosso país,
por exemplo, temos o costume de iniciar o dia com o café da manhã, que geral-
mente é composto por café, leite, pão, manteiga. Às vezes, frutas e bolos. Em
outros lugares, o café da manhã compreende bacon e ovos cozidos. Observamos,
portanto, diferenças culturais conforme a sociedade.
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Pelos exemplos destacados, podemos ver que a cultura compreende as ações


humanas, tanto nas formas materiais - produção de objetos e utensílios - como
nas formas imateriais - valores que caracterizam uma sociedade e que ao mesmo
tempo a difere das demais. Ainda faz parte da cultura a comunicação estabele-
cida dentro de um grupo e a normas compartilhadas.

Aspectos da Vida em Grupo


26 UNIDADE I

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
APRESENTAÇÃO DOS TIPOS DE SOCIEDADES

Depois de estudada a natureza, a cultura e a comunicação humana de diferentes


grupos sociais e seus respectivos valores, partiremos para o estudo da sociedade.
Isso se faz necessário pois, atualmente, o ser humano vive em sociedade, diferen-
temente de antigamente, que os homens viviam sozinhos, como nômades.
Com o passar do tempo, esses homens descobriram que viver em bando era
mais vantajoso tanto para a alimentação quanto para a própria sobrevivência. Nesse
sentido, a humanidade percebeu que viver em conjunto era mais produtivo, então
começou a se organizar e a distribuir as tarefas entre seus iguais (COSTA, 2010).
Ao se observar a vida cotidiana, identificam-se diversos comportamentos
padronizados e regulados não apenas pela vontade, desejo ou crença individual,
mas também por hábitos e costumes estabelecidos socialmente.

Somos cobrados a todo momento para estudar constantemente, sermos


pessoas mais participativas em nossa sociedade. Pela educação aprende-
mos o que é transmitido de geração para geração, que o estudo é um dife-
rencial para competirmos no mercado de trabalho. Mas em meio a tudo isso,
qual será a cultura atual?

INTRODUÇÃO ÀS CIÊNCIAS SOCIAIS


27

Mesmo na atualidade não podemos deixar de conhecermos algumas sociedades


distantes de nós. Você já parou para pensar como era a vida sem os nossos obje-
tos tecnológicos? Anteriormente à fundição do metal, os bens eram elaborados
com materiais naturais. Outro avanço tecnológico que não nos sensibilizamos
foi o desenvolvimento da escrita, que modificou a vida em sociedade ao pos-
sibilitar novas formas de organização social. Mas como podemos caracterizar
uma sociedade?
Giddens e Netz (2005) destacam que uma sociedade é um sistema estrutu-
rado de relações sociais que liga as pessoas de acordo com uma cultura partilhada.
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Já Dias (2010, p. 148) observa a sociedade como “um grupo autônomo de pes-
soas que ocupam um território comum, têm uma cultura comum e possuem a
sensação de identidade compartilhada”.
Em outras palavras, sociedade caracteriza-se por um conjunto de pessoas
com a mesma cultura, que por sua vez, novamente recebe destaque para ajudar
a interpretar o social. Outra característica da sociedade é que ela é estruturada
de modo desigual. Essa estratificação social ou divisão da sociedade apresenta
as desigualdades relativas à riqueza, poder ou até mesmo prestígio entre os gru-
pos sociais que compõem a sociedade (GIDDENS; NETZ, 2005).

Contexto social: conjunto de condições de vida coletiva que caracterizam


uma sociedade, em determinada época e lugar, tais como forma de poder,
sistema produtivo e tipo de organização social. Tais condições influenciam a
dinâmica da vida social e o desenrolar dos acontecimentos
Fonte: Costa (2010, p. 11).

Após a definição desses autores, estudaremos as sociedades a partir da organização


do trabalho, e para isso, apresentaremos 6 formas de sociedade e suas principais
características: a sociedade tribal, a sociedade pastoril, sociedade agrária, sociedade
escravista, sociedade feudal e sociedade capitalista (MEKSENAS, 2001).

Apresentação dos Tipos de Sociedades


28 UNIDADE I

Na sociedade tribal as famílias se organizam em tribos. No trabalho, os meios


de produção são comunitários, com poucos bens produzidos, de modo artesanal,
não comercial e com presença da agricultura (MEKSENAS, 2001).
Os homens viviam pela caça, coleta de plantas comestíveis e pesca. Essa socie-
dade ainda é vista na floresta do Brasil e da Nova Guiné. Contudo, a maioria dessas
sociedades acabou devido ao avanço da sociedade industrial capitalista (GIDDENS;
NETZ, 2005). Observe outras características:
Nas sociedades modernas, como a Grã-Bretanha ou os Estados Unidos
da América, encontramos poucas desigualdades no seio da maioria dos

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
grupos de caçadores coletores, que pouco interesse têm em incrementar
a riqueza material [...]. Suas principais preocupações, por norma pren-
dem-se com valores religiosos, atividades rituais e cerimoniais. [...] a
divisão de trabalho entre homens e mulheres é muito importante: os ho-
mens tendem a dominar as posições públicas e cerimoniais (GIDDENS;
NETZ; 2005, p.30).

Outras formas de sociedade são as pastoris, que vivem principalmente de seu reba-
nho, e as sociedades agrárias, que praticam a agricultura. Algumas ainda vivem
numa economia mista, com ambas as atividades conforme o meio. No mundo oci-
dental, estão presentes em algumas regiões da África, do Médio Oriente e da Ásia
Central (GIDDENS; NETZ, 2005).
Além dessas já apresentadas, há a forma de sociedade escravista, na qual parte
dos indivíduos escravizados são os próprios meios de produção, ou seja, os escra-
vos são considerados como objetos e ferramentas. Essa sociedade é baseada na
agricultura e a produção é artesanal. Infelizmente existe a exploração e a domi-
nação de um grupo sobre o outro, e como exemplo disso, temos ainda, as cidades
Gregas no século V a. C., nas quais o trabalho era imposto aos escravos enquanto
os filósofos se dedicavam às demais atividades.
Já na sociedade feudal, a principal característica são os feudos que perten-
ciam aos senhores. Os servos trabalhavam nesses feudos ou terras e parte de sua
produção era destinada ao proprietário. Mesmo não sendo escravos, os servos
pertenciam ao senhor feudal. Tais servos trabalhavam de modo artesanal e com
a agricultura. Esse tipo de sociedade existiu na Idade Média (MEKSENAS, 2001).

INTRODUÇÃO ÀS CIÊNCIAS SOCIAIS


29

Agora, chegamos a última forma de sociedade, a sociedade capitalista, na qual


observa-se a divisão de dois grupos sociais: os proprietários dos meios de produção e o
proletariado que vende a sua capacidade de trabalho. No capitalismo existe uma grande
produção de bens de consumo na indústria, aliada a grandes desigualdades sociais.
Prezado(a) aluno(a), o mundo moderno como conhecemos sofreu a influên-
cia da industrialização, definida como “o aparecimento da produção mecanizada,
baseada no uso de recursos energéticos inanimados como o vapor ou a eletrici-
dade” (GIDDENS; NETZ, 2005 p. 34). O autor apresenta ainda algumas das demais
características da sociedade capitalista:
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Mais de 90% da população vive em cidades onde se encontram a maior


parte dos postos de trabalho e novas oportunidades de emprego são
criadas. A dimensão das principais cidades é muito maior do que a dos
centros urbanos das civilizações tradicionais. Nas cidades, a vida social
torna-se impessoal e anônima do que anteriormente, sendo que muitos
dos nossos encontros diários e casuais são com estranhos e desconhe-
cidos, e não com pessoas conhecidas. Organizações em grande escala,
como empresas ou organismos governamentais, acabam por influenciar
a vida de praticamente toda a gente (GIDDENS; NETZ, 2005, p. 35).

As tecnologias disponíveis em cada sociedade contribuem para conhecê-la


um pouco melhor. Nessa linha, já pensou, caro(a) aluno(a), que muitos ele-
mentos da nossa cultura material, como carros e computadores, surgiram
recentemente na história da Humanidade?
(Adaptado de Anthony Giddens)

Nossa sociedade do século XXI é chamada de sociedade capitalista e nela ini-


ciou-se a preocupação e o interesse pelo estudo da ciência da sociedade. Em
cada sociedade os seres humanos modificam seu comportamento, crenças con-
forme as condições sociais, econômicas, políticas e históricas de determinado
momento (CHAUÍ, 2000). Sendo assim, podemos observar a influência do con-
texto social para estudar a sociedade.

Apresentação dos Tipos de Sociedades


30 UNIDADE I

Dessa forma, dizemos que o contexto social influencia a vida social, e o


estudo da sociologia nos possibilitará uma ampla visibilidade para o estudo do
homem em sociedade. Nesse sentido, a Sociologia surgiu como ferramenta para
a reflexão do homem e o meio.

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Conforme a industrialização cresceu na Groelândia, alguns padrões ainda
são diferentes ao nosso olhar. Um dos valores do capitalismo é que sorrir e
ser gentil é de sua importância para o relacionamento com os clientes. Para
Giddens (2010), os clientes que são atendidos com um sorriso e com pala-
vras gentis acabam, com mais probabilidade, por se tornar clientes habitu-
ais. Hoje em dia, em muitos supermercados da Groelândia, são mostrados
aos empregados vídeos educativos sobre técnicas de atendimento cortês.
Fonte: adaptado de Giddens e Netz (2005).

INTRODUÇÃO ÀS CIÊNCIAS SOCIAIS


31
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INTRODUÇÃO AO ESTUDO DAS CIÊNCIAS SOCIAIS

A FORMAÇÃO DA SOCIOLOGIA COMO CIÊNCIA

Caríssimo(a) aluno(a), cabe destacar que o estudo sobre o comportamento


humano é recente, iniciou-se por volta do final do século XVIII. Nesse momento
alguns dogmas religiosos foram postos em dúvida ou pelo menos não davam
conta de explicar o mundo, principalmente pelo avanço da ciência para a com-
preensão da natureza, de modo crítico por meio da razão (COSTA, 2010).
Esse interesse pelo estudo da sociedade, por exemplo, fez com que Montesquieu
(1689-1755) iniciasse o estudo do social ao tentar explicar as instituições políticas
e a divisão dos poderes no Estado. Além dos estudos de Rousseau (1712-1778),
que elaborou aspectos da organização social que serviriam para a Revolução
Industrial (MEKSENAS, 2001).

Introdução ao Estudo das Ciências Sociais


32 UNIDADE I

O uso da razão se consolida no século XVIII, com os iluministas que cri-


ticavam a “sociedade feudal, os privilégios dos nobres e as restrições que estes
impunham aos interesses econômicos e políticos da burguesia”. Os iluministas
analisaram as instituições ao apontarem que eram injustas e que não favoreciam
a liberdade do homem (DIAS, 2010, p. 28).
Outro ponto importante a ser destacado é a Revolução Francesa (1789), que
valorizava as ideias burguesas como a liberdade e igualdade entre os homens
e modificava assim a ordem social. Tais ideias influenciaram a humanidade e
mudaram seu percurso para sempre. No final do século XVIII ocorre a Revolução

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Industrial, na Inglaterra, caracterizada pelo “[...] conjunto amplo de transforma-
ções econômicas e sociais que acompanharam o surgimento de novos avanços
tecnológicos como a máquina a vapor e a mecanização” (GIDDENS; NETZ,
2005, 2008, p.7).
Esse processo de mecanização das máquinas industriais, como o uso do tear
a vapor, possibilitou a aceleração do ritmo de trabalho e fez com que surgisse
um novo grupo social, os trabalhadores. Sem terras e desprovidos de máquinas
manuais, os camponeses e artesãos começaram a vender a força de trabalho para
os burgueses em troca de um salário (MEKSENAS, 2001).
Nesse sentido, o avanço da industrialização favoreceu a migração de cam-
poneses para as áreas urbanas. Ao deixar suas terras, transformaram-se em mão
de obra barata nas indústrias e aceleraram o crescimento urbano, produziram
“novas formas de relacionamento social” (GIDDENS, 2008, p.7).
Entretanto, na medida em que os empresários enriqueciam, os trabalhado-
res, nada possuindo, passavam fome, pois o salário recebido era muito pouco.
Os pais colocavam as crianças para trabalharem nas fábricas e trabalhavam entre
14 a 16 horas diariamente. Geralmente, as casas que habitavam eram cortiços
sujos, pequenos e sem ventilação, ou seja, as condições da vida na cidade eram
péssimas para a maioria dos trabalhadores. Assim, o capitalismo, a partir do
final do século XIX, desenvolvia-se como nova forma de organização da socie-
dade e das relações de trabalho (MEKSENAS, 2001).
Até hoje essas mudanças nos afetam, pois muito do que consumimos, como
o café, por exemplo, é produzido por meio de processos industriais.

INTRODUÇÃO ÀS CIÊNCIAS SOCIAIS


33

Essas transformações no meio social fizeram com que alguns pensadores se


questionassem sobre as mudanças sociais. Esse questionamento ainda é válido
até hoje para os sociólogos atuais. Um dos grandes pensadores que buscavam
explicações conservadoras para essas mudanças foi Auguste Comte (1798-1857),
em sua obra Curso de Filosofia Positiva (1978).
Conforme Dias, os positivistas:
Preocupados com a ordem, a estabilidade e a coesão social, enfatiza-
riam a importância da autoridade, da hierarquia, da tradição e dos va-
lores morais para a conservação da vida social. Ao estudarem as insti-
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tuições - como a família, a religião, o grupo social -, preocupavam-se


com a contribuição que poderiam prestar para a manutenção da ordem
social (DIAS, 2010, p.29).

Com base nas ciências naturais, Comte (1798-1857) buscava compreender as


transformações de seu tempo. No início, chamou de física social o que poste-
riormente ficou conhecido como Sociologia. Portanto, na tentativa de “criar uma
ciência da sociedade que pudesse explicar as leis do mundo social” buscava leis
universais com a metodologia científica (GIDDENS; NETZ, 2005, p.7).
Se o homem procura leis na natureza para controlá-la, Comte (1978) questio-
nava-se sobre possíveis leis na sociedade para entendê-la e melhorá-la. Para ele, o
período do racionalismo era o momento em que a filosofia positivista começava
se destacar como superiora ao espírito teológico e metafísico. Caro(a) aluno(a),
o positivismo teve tanta influência no Brasil que os republicanos positivistas do
país marcaram suas ideias na bandeira nacional com o lema “Ordem e Progresso”.

INSTITUIÇÕES SOCIAIS

A sociedade não é homogênea, pois vemos a presença de diferentes grupos,


nos quais alguns indivíduos convivem com outras pessoas parecidas com eles.
Perceba, caro(a) aluno(a), que o indivíduo ao mesmo tempo em que se asseme-
lha ao grupo de pessoas que faz parte, se distancia dos demais grupos. Podemos
então observar dois dos focos das ciências sociais: os diferentes grupos sociais,
como visto anteriormente, e as instituições sociais.

Introdução ao Estudo das Ciências Sociais


34 UNIDADE I

No que se refere às instituições sociais, podemos definir como sendo as


regras e procedimentos padronizados e repetidos aplicáveis em diversos grupos
sociais com determinadas funções. Dentro desses grupos sociais, os mais vis-
tos na sociedade como a família, a escola, a política e a religião nos adaptam, de
geração para geração, e ainda possuem funções definidas. Em síntese, a institui-
ção é conjunto de comportamentos e crenças que o grupo adota.
As pessoas pertencem a grupos, no entanto, não podem pertencer a uma ins-
tituição de ensino, visto que uma instituição não pode ser vista, pois trata de um
conceito abstrato. Vemos a igreja, mas não a religião; vemos os operários, mas

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não o sistema econômico; vemos o funcionário público ao aplicar uma multa,
mas não o sistema político. Nesse sentido, a bandeira e o hino nacional repre-
sentam a instituição pública; a catedral ou a cruz podem representar a instituição
religiosa; e uma aliança a instituição do casamento (DIAS, 2010).
Ao viver em sociedade, observamos que por mais que o indivíduo possa
apresentar características, gostos individuais, ele é influenciado pelo meio em
que vive. Existem regularidades em nosso comportamento, nos modos de agir
e pensar que variam geralmente conforme o sexo, idade, nacionalidade e grupo
social que a pessoa convive (COSTA, 2010, p. 11).
[...] As sociedade são unidas por meio de relações sociais, não só entre
pessoas, mas também entre as instituições sociais (família, educação,
religião, política, economia). E, por estarem interconectadas, invaria-
velmente a mudança em uma conduz à mudança em outras. As ins-
tituições sociais estabelecem vínculos entre o passado, o presente e o
futuro: elas dão continuidade à vida social (DIAS, 2010, p. 148).

Nesse sentido, refletir sobre a sociedade com base nas teorias sociológicas nos auxi-
lia na compreensão da vida social e do comportamento de um grande número de
pessoas. O diálogo entre a sociologia e diversas outras áreas, como antropologia
e economia política, permite que cada um de nós, cidadãos, nos comprometa-
mos com a sociedade em que vivemos (COSTA, 2010).
Isso quer dizer que as diferenças existentes no comportamento modelado
em sociedade resultam da maneira pela qual são organizadas as relações entre
os indivíduos. É por meio delas que se estabelecem os valores e as regras de con-
duta que nortearão a construção da vida social, econômica e política.

INTRODUÇÃO ÀS CIÊNCIAS SOCIAIS


35

Portanto, mesmo que façamos parte de diferentes grupos sociais, nascemos


em uma família que nos ensina alguns valores e normas de convívio. Depois,
provavelmente, começamos a fazer parte de outros grupos, como o grupo reli-
gioso ou de lazer. Na infância frequentamos a escola, ao completar 18 anos somos
obrigados a votar, escolhemos uma profissão e possivelmente casaremos.
Para darmos sequência em nosso conteúdo, precisamos conhecer um pouco
mais sobre as três áreas que compõem as Ciências Sociais.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

A SOCIOLOGIA

Estuda a vida social formada por grupos e sociedades. O simples ato de tomar
café ou compartilhar uma refeição possibilita um estudo rico em interpretações
sociológicas, na medida em que ocorrem as interações sociais. Um sociólogo
pode estudar, por exemplo, os motivos pelos quais o café e o álcool são dro-
gas socialmente aceitáveis, enquanto que o consumo de maconha ou cocaína é
repudiado em determinadas sociedades (GIDDENS; NETZ, 2005). Retomando
o exemplo do café, podemos dizer que o indivíduo está

Introdução ao Estudo das Ciências Sociais


36 UNIDADE I

[...] envolvido numa complicada rede de relações sociais e econômicas


de dimensão internacional. O café é um produto que liga as pessoas
de algumas das partes mais ricas e mais pobres do planeta: é consumi-
do em grande quantidade nos países ricos, mas cultivado fundamen-
talmente nos pobres. Depois do petróleo, o café é a mercadoria mais
valiosa do comércio internacional, representando a principal expor-
tação de muitos países. A produção, transporte e distribuição do café
implicam transações constantes que envolvem pessoas a milhares de
quilômetros de consumidores. Estudar essas transações globais é uma
tarefa importante da Sociologia, na medida em que muitos aspectos
das nossas vidas são hoje afetados por influências sociais e comunica-
ções a nível mundial (GIDDENS; NETZ, 2005, p. 2-3).

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Observamos, caro(a) aluno(a), que nossos valores e comportamentos estão for-
temente influenciados pelo meio social mais do que se imagina. “É tarefa da
Sociologia investigar as relações entre o que a sociedade faz de nós e o que nós
fazemos de nós próprios” (GIDDENS; NETZ, 2005, p. 6).

A sociologia é a ciência que se dedica ao estudo dos fenômenos sociais, com


base em dados diversos, de origem estatística, linguística, histórica, demo-
gráfica, etnográfica, sociográfica etc.
Fonte: Costa (2010).

Outra questão que podemos abordar é que a sociologia auxilia na compreensão


de crimes, comportamento político, desigualdades sociais e raciais, problemas
familiares, urbanos, relacionados a trabalho, entre outros aspectos. Enfim, qual-
quer forma de comportamento social (COHEN, 1980).
Auxilia ainda a mitigar preconceitos e estereótipos e possibilitar às pessoas
se tornarem mais flexíveis diante de diferentes contextos. Também aprendemos
um novo olhar perante novas culturas que não tivemos a oportunidade de conhe-
cer. Assim, o nosso modo de fazer as coisas nem sempre são o modo dominante
ou igual perante outras sociedades (GIDDENS; NETZ, 2005).

INTRODUÇÃO ÀS CIÊNCIAS SOCIAIS


37

Em suma, essa área analisa as forças sociais que influenciam nosso compor-
tamento. Desse modo, a sociologia nos permite uma compreensão de pontos de
vista e atitudes diferentes das nossas. Cabe a nós conhecê-las e respeitá-las como
exercício da cidadania.

ANTROPOLOGIA

Estuda, em termos gerais, a humanidade em sua totalidade, suas produções e compor-


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tamento. Esse estudo relaciona-se tanto com as chamadas ciências biológicas quanto
as culturais. A Antropologia e a Sociologia buscam a “compreensão do caráter glo-
bal do homem, enquanto reunido em sociedade” (MARCONI; PRESOTTO, 2013,
p.8). Por fim, a Antropologia também estuda a Política, uma vez que “toda socie-
dade se organiza politicamente através de um complexo de instituições que regula
o poder, a ordem e a integridade do grupo.” (MARCONI; PRESOTTO, 2013, p.9).

CIÊNCIA POLÍTICA

No Brasil destacam-se os estudos sobre o Estado e a sociedade, as políticas públicas,


o comportamento político, a democracia, e como esse sistema político modifica a
atualidade. Ainda, a Ciência Política analisa as relações entre mídia e política, bem
como a identidade nacional, questões afrodescendentes e indígenas. De acordo com
Aranha e Martins (2005), a palavra política vem do grego polis e significa cidade.
A política é a arte de governar, de gerir o destino da cidade.[...] É possí-
vel entender a política como luta pelo poder: conquista, manutenção e
expansão do poder. Ou refletir sobre as instituições políticas por meio
das quais se exerce o poder (ARANHA; MARTINS, 2005, p.179).

Portanto, as Ciências Sociais são formadas pela Antropologia, a Sociologia e a


Ciência Política. Outras disciplinas “conversam” com as Ciências Sociais como a
Filosofia, História entre outras. Em suma, esse estudo possibilita que o acadêmico
e o cidadão compreendam as relações sociais tanto do passado quanto do pre-
sente, ao levar em consideração os aspectos históricos de diferentes sociedades.

Introdução ao Estudo das Ciências Sociais


38 UNIDADE I

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nosso comportamento, atitudes e valores, prezado(a) aluno(a), não são apenas


atos individuais. Ao contrário, somos sobretudo seres sociais e muito de nossos
gostos e comportamento são embasados em nossa cultura, que varia de grupo
para grupo. Temos preferências de acordo com o grupo social que convivemos,
nosso estilo de roupa, a moradia considerada adequada, os lugares que frequen-
tamos, nossas preferências musicais, hábitos alimentares e nossos valores morais
sofrem influência do outro.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Além disso, vivemos sobre a influência das instituições sociais: o indiví-
duo nasce numa família, entra numa escola, pertence geralmente a uma igreja
e, em nossa sociedade, ao completar 18 anos é obrigado a exercer sua cidadania
e votar. Somente os costumes mais importantes para o grupo são comunicados
e repetidos por muito tempo, são considerados instituições sociais, que por sua
vez, dirigem o comportamento em sociedade.
Assim, o estudo da relação e interação entre diferentes grupos sociais, cul-
turais, econômicos e políticos são de interesse das Ciências Sociais. Essa ciência
estuda a vida social dos grupos e das sociedades. Desse modo, prezado(a) alu-
no(a), é importante que em sua graduação você tenha acesso às questões sociais
para sua formação pessoal e profissional. Vimos que as Ciências Sociais abor-
dam diversas áreas como Antropologia, Sociologia, Política, Filosofia, História
entre outras.
Esperamos que esse estudo possibilite a você olhar para a vida social sob
uma nova ou outra perspectiva com relação aos diferentes comportamentos
em sociedade. Em outras palavras, que esse estudo seja posto em prática, pro-
porcionando a compreensão de que cada cultura possui suas próprias regras de
convivência e que cabe ao(a) acadêmico(a), pesquisador(a) e profissional res-
peitá-las para uma boa convivência.

INTRODUÇÃO ÀS CIÊNCIAS SOCIAIS


39

RITOS CORPORAIS ENTRE OS NACIREMA


O antropólogo está tão familiarizado com a diversidade das formas de comportamento
que os diferentes povos apresentam em situações semelhantes, que é incapaz de sur-
preender-se mesmo em face dos costumes mais exóticos.
De fato, embora nem todas as combinações de comportamento logicamente possíveis
tenham sido descobertas em alguma parte do mundo, o antropólogo pode suspeitar
que elas devam existir em alguma tribo ainda não descrita. [...] Deste ponto de vista,
as crenças e práticas mágicas dos Nacirema apresentam aspectos tão inusitados que
parece apropriado descrevê-los como um exemplo dos extremos a que pode atingir o
comportamento humano.
[...] Conforme a mitologia dos Nacirema, um herói cultural, Notgnihsaw, deu origem a
sua nação; ele é, por outro lado, conhecido por duas façanhas de força – ter atirado um
colar de conchas usado pelos Nacirema como dinheiro, através do rio Po-To-Mac e ter
derrubado uma cerejeira na qual residia o Espírito da Verdade.
A cultura Nacirema caracteriza-se por uma economia de mercado altamente desenvolvi-
da, que evoluiu em um rico habitat natural. Apesar do povo dedicar muito do seu tempo
às atividades econômicas, uma grande parte dos frutos destes trabalhos e uma conside-
rável porção do dia são despendidos em atividades rituais. O foco destas atividades é o
corpo humano, cuja aparência e saúde assomam como o interesse dominante no ethos
deste povo. Embora tal tipo de interesse não seja, por certo, raro, seus aspectos cerimo-
niais e a filosofia a ele associada são singulares.
[...] Os indivíduos mais poderosos desta sociedade têm muitos santuários em suas casas,
e, de fato, a alusão à opulência de uma casa, muito frequentemente, é feita em termos
do número de tais centros rituais que possua. Muitas casas são construções de madei-
ra, toscamente pintadas, mas as câmaras de culto das mais ricas paredes de pedra. As
famílias mais pobres imitam as ricas aplicando placas de cerâmica as paredes de seu
santuário.
[...] Embora cada família tenha pelo menos um desses tais santuários, os rituais a eles
associados não são cerimônias familiares, são cerimônias privadas e secretas.
O ponto focal do santuário é uma caixa ou cofre embutido na parede. Neste cofre são
guardados os inúmeros encantamentos e poções mágicas sem os quais nenhum nati-
vo acredita que poderia viver. Estes preparados são conseguidos através de uma série
de profissionais especializados, os mais poderosos dos quais são os médicos-feiticeiros,
cujo auxílio deve ser recompensado com dádivas substanciais.
40

[...] Na hierarquia dos mágicos profissionais, logo abaixo dos médicos-feiticeiros no que
diz respeito ao prestígio, estão os especialistas cuja designação pode ser traduzida por
“sagrados-homens-da-boca”. Os Nacirema tem um horror quase que patológico, e ao
mesmo tempo uma fascinação, com relação à cavidade bucal, cujo estado acreditam ter
uma influência sobrenatural em todas as relações sociais. O ritual de corpo executados
por cada Nacirema diariamente inclui um rito bucal. Apesar de serem tão escrupulosos
no cuidado bucal este rito envolve uma prática que choca o estrangeiro não iniciado,
que só pode considerá-lo como revoltante. Foi-me relatado que o ritual consiste na in-
serção de uma pequeno feixe de cerdas de porco na boca, juntamente com certos pós
mágicos e então em movimentá-lo numa série de gestos altamente formalizados.
Além do ritual bucal privado, as pessoas procuram o mencionado sacerdote-da-boca
uma ou duas vezes ao ano. Estes profissionais têm uma impressionante coleção de ins-
trumentos consistindo de brocas, furadores, sondas e agulhões. O uso destes objetos
no exorcismo dos demônios bucais envolve para o cliente, uma tortura ritual quase
inacreditável.
[...] Na vida cotidiana o Nacirema evita a exposição de seu corpo e das suas funções
naturais. As atividades excretoras e o banho, enquanto parte dos ritos corporais, são
realizados apenas no segredo do santuário doméstico. Da perda súbita do segredo do
corpo quando da entrada no “latipso”, podem resultar traumas psicológicos.
[...] Como conclusão, deve-se fazer referências a certas práticas que têm suas bases na
estética nativa, mas que decorrem da aversão perversiva ao corpo natural e suas fun-
ções. Existem jejuns rituais para tornar as magras pessoas gordas, e banquetes cerimo-
niais para tornar gordas pessoas magras. Outros ritos são usados para tornar maiores
os seios das mulheres que os têm pequenos, e torná-los menores quando são grandes.
A insatisfação geral com o tamanho do seio é simbolizada no fato da forma ideal estar
virtualmente além da escala de variação humana. Umas poucas mulheres, dotadas com
um desenvolvimento hipermamário, são tão idolatradas que podem levar uma boa vida
indo de cidade em cidade e permitindo aos embasbacados nativos, em troca de uma
taxa, contemplarem-nos.
[...] Nossa análise da vida ritual dos Nacirema certamente demonstrou ser este povo do-
minado pela crença na magia. É difícil compreender como tal povo conseguiu sobrevi-
ver por tão longo tempo sob a carga que impôs sobre si mesmo.
Fonte: MINER (1976).
41

1. A cultura de uma sociedade serve também para as pessoas acreditarem e agirem


de forma a serem aceita pelos seus membros. Além disso, está localizada na men-
te e no coração dos homens. Segundo Aranha e Martins (2005, p. 25) cultura é o
que o homem produz ao construir sua existência: práticas, teorias, instituições,
valores materiais e espirituais. “Se o contato com o mundo é intermediado pelo
símbolo, a cultura é o conjunto de símbolos elaborado por um povo”. Por isso
que as culturas são múltiplas. Sobre a construção da cultura, é correto afirmar
que:
a) A cultura é fixa, imóvel em diferentes sociedades.
b) Nascemos com a cultura de nossa sociedade.
c) A cultura é variável de acordo com o contexto social.
d) Apenas os homens possuem cultura e não podem modificá-la.
e) A cultura é flexível, estável e simbólica.
2. Observe:
TEXTO 1
De acordo com Paulo Meksenas (2001, p. 47), por volta dos séculos XVIII e XIX
ocorreu a Revolução Industrial, que fez emergir um novo grupo social: os traba-
lhadores.
FRAGMENTO 2
O operário em construção - Vinicius de Morais
Era ele que erguia casas
Onde antes só havia chão.
Como um pássaro sem asas
Ele subia com casas
Que lhe brotavam da mão.
[...] Como tampouco sabia
Que a casa que ele fazia
Sendo a sua liberdade
Era a sua escravidão.
42

Após a leitura atenta, relacione o texto 1 e o fragmento 2 da música de Vinicius de


Moraes e assinale a única opção correta que comenta como seria um trabalha-
dor “normal” ou dentro dos padrões na sociedade atual:
a) O trabalhador “normal” se manifesta e busca alcançar a sociedade capitalista.
b) O trabalhador “normal” trabalha pouco, pois em outro turno é empregado.
c) O trabalhador “normal” trabalha dentro das leis de seu contexto social.
d) O trabalhador “normal” se escraviza somente ao assistir a televisão.
e) O trabalhador “normal” trabalha dentro de suas potencialidades virtuosas.
3. Os valores podem ser considerados como nossas crenças, representam tudo o
que é importante para nós. Eles representam o que é bom, o que é certo, o que
é sensato fazer, dizer e pensar, para nós mesmos e para os outros. Ao contrário, o
que se desvia dos valores, seu oposto polar, é o que é ruim, o que é errado, o que
é o mais baixo fazer, dizer ou pensar.
Cada ação, portanto, como cada um de nossos comportamentos, palavras, pen-
samentos, ou melhor, nossas escolhas sobre o que fazemos, dizemos ou a forma
como agimos, é mais dependente dos valores que são importantes para nós em
nossas vidas. Os nossos valores afetam nossas vidas e relacionamentos com os
entes queridos, com os colegas de trabalho e outros em geral.
Os valores são aprendidos durante a nossa infância, e passados a nós, primei-
ramente, por nossos pais. Então, para ajudar seus filhos a adquirir os valores, os
pais devem ser coerentes com o que fazem e como se comportam, do contrário,
dariam ensinamentos discordantes, causando o efeito oposto nas crianças.
Fonte: Quais são os valores mais importantes para você. Disponível em: <http://
sociedaderacionalista.org/2012/02/19/valores-quais-sao-os-seus-valores-mais-
-importantes-para-voce/>.
Após a leitura desse texto, é possível afirmar que:
a) Os valores estão somente ligados às questões religiosas.
b) Os valores podem ser relacionados ao que é considerado moral ou ético.
c) Os valores são imutáveis em cada sociedade ao longo do tempo e espaço.
d) Os valores são transmitidos pela cultura da sociedade somente pela edu-
cação.
e) Os valores são as formas que os indivíduos se relacionam com o dinheiro.
43

4. Segundo Giddens e Netz (2005, p. 561) comunicação é: transmissão de informa-


ções de um indivíduo ou grupo para outro. A comunicação é a base necessária
para toda interação social.
Nos contextos face a face, a comunicação se dá por meio do uso da linguagem,
mas também por meio de muitas dicas corporais que os indivíduos interpretam
para compreenderem o que os outros dizem e fazem.
Após a leitura, assinale a melhor alternativa que indique os tipos de comuni-
cação humana:
a) Linguagem concreta e linguagem abstrata.
b) Comunicação verbal e escrita.
c) Apenas comunicação verbal.
d) Comunicação verbal e não verbal.
e) Comunicação escrita e comunicação iconográfica.
5. A formação do ser humano começa na família, inicia-se um processo de humani-
zação e libertação. É um caminho que busca fazer da criança um ser civilizado, e
desde bem cedo a escola participa desse processo.
Com o conhecimento adquirido na escola, assinale a alternativa correta:
a) Na escola o aluno não se prepara para a vida, somente aprende matérias
teóricas.
b) Na escola o aluno aprende seus direitos e como consegui-los acima de tudo
e todos.
c) Na escola o aluno frequenta as aulas para receber a merenda e conversar
com todos os alunos, seus contatos profissionais.
d) Na escola o aluno se prepara para a vida com a possibilidade de conhecer e
exercer a cidadania.
e) Na escola o aluno aprende seus direitos e deveres e como ser pacífico peran-
te os acontecimentos.
MATERIAL COMPLEMENTAR

Sociologia: uma introdução à ciência da sociedade


Cristina Costa
Editora: Moderna
Sinopse: O livro aborda diversos temas de sociologia. Desde os clássicos
da sociologia como Durkheim, Weber e Marx, até um capítulo dedicado
somente à cultura. Ricamente ilustrado, o livro é essencial para os estudos sociais. Ainda possui
atualidades como a influência da mídia e da moda em nosso cotidiano.

O preço do amanhã - 2011


No futuro, essa sociedade possui outros valores: o tempo é a principal
moeda para viver e consumir. Mesmo assim, observamos ainda as
desigualdades de classes e os pobres vivem aproximadamente até os 25
anos. O protagonista é Justin Timberlake e interpreta Will Salas, que tem
sua vida modificada após receber uma doação de tempo. A aventura
começa quando inicia a sua perseguição. O sistema poderá ser abalado
por outras armas.

Iluminismo: do Antigo regime aos nossos dias


O vídeo, narrado por uma mulher, conta as ideias iluministas no século XVIII que abalaram o
Antigo Regime. Tais ideias influenciaram nossas vidas para sempre até chegarmos à democracia.
Para saber mais, acesse o link disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=qf9yu67-cag >.
45
REFERÊNCIAS

ARANHA, M. L. A.; MARTINS, M. H. P. Filosofando: introdução à filosofia. São Paulo:


Editora Moderna, 2005.
CHAUÍ, M. S. Convite à filosofia. 1. ed. São Paulo: Ática, 2000.
COHEN, B. Sociologia geral. São Paulo: McGraw-Hill do Brasil, 1980.
COMTE, A. Curso de filosofia positiva. São Paulo: Abril Cultural, 1978. (Coleção Os
Pensadores).
COSTA, C. Sociologia: introdução à ciência da sociedade. 4. ed. São Paulo: Moderna,
2010.
DIAS, R. Introdução à sociologia. 2. ed. São Paulo: Pearson, 2010.
GIDDENS, A.; NETZ, S. R. Sociologia. 4. ed. Porto Alegre: Artmed, 2005.
MARCONI, M. A.; PRESOTTO, Z. M. N. Antropologia: uma introdução. São Paulo:
Atlas, 2013.
MEKSENAS, P. Aprendendo sociologia: a paixão de conhecer a vida. 8. ed. Loyola,
2001.
MINER, H. Ritos corporais entre os nacirema. In: ROONEY, A.K.; VORE, P. L. (orgs.). You
And The Others: Readings in Introductor y Anthropology. Cambridge: Erlich, 1976.
GABARITO

1. C.
2. C.
3. B.
4. D.
5. D.
Professora Me. Patrícia Bernardo

CLÁSSICOS DAS

II
UNIDADE
CIÊNCIAS SOCIAIS

Objetivos de Aprendizagem
■■ Apresentar os principais autores clássicos das Ciências Sociais.
■■ Expor, sucintamente, os conceitos de Émile Durkheim sobre estudos
acerca da sociedade.
■■ Apresentar a visão de Max Weber sobre os fatos sociais.
■■ Apresentar as ideias centrais da percepção de Karl Marx sobre a
sociedade capitalista e as lutas de classes sociais.

Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■■ Percepções de David Émile Durkheim sobre a sociedade
■■ As análises de Max Weber sobre a ação social
■■ Perspectivas de Karl Marx e a sociedade capitalista
49

INTRODUÇÃO

No cotidiano, em nossa sociedade, nos deparamos com situações que não con-
seguimos compreender se olharmos somente para a situação isolada, para
compreendê-las é necessário analisarmos as relações que os indivíduos ou gru-
pos de indivíduos estabelecem entre si. Tais situações ocorrem em nosso cotidiano
particular e organizacional, e são as chamadas situações sociais (TOMAZI;
ALVAREZ, 1995). Elas são de interesse primordial das Ciências Sociais, pois
suas causas não estão relacionadas à natureza ou a vontade humana, mas pos-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

suem relação direta com a sociedade, com os grupos sociais e nas ações sociais.
O autor Guerreiro Ramos (1966) afirma que dentro do campo da Gestão as
pessoas precisam desenvolver um senso sociológico forte e crítico, pois é nas orga-
nizações que passamos boa parte da nossa vida. Devido ao percurso já trilhado
pelos pesquisadores da sociologia, podemos recorrer às teorias já formuladas e
legitimadas no meio das Ciências Sociais para compreender situações vivencia-
das na sociedade moderna e nas organizações.
Assim, nas páginas que seguem trataremos sobre os autores clássicos das
Ciências Sociais: David Émile Durkheim (1858-1917), Karl Heinrich Marx
(1818-1883) e Max Weber (1864-1920). Como os trabalhos destes autores são
vastos e de conteúdo denso, abordaremos somente os principais pensamentos
que contribuíram para a compreensão da sociedade, das relações sociais e no
estudo sobre as organizações.
Com relação a Durkheim, apresentaremos os principais conceitos que são base
de seus estudos, como: fatos sociais, consciência coletiva, solidariedade mecânica
e orgânica. Ao abordar os pensamentos de Weber, faremos um recorte especial
sobre os conceitos de ação social e as formas de dominação e poder. Referente
a Karl Marx, apresentaremos os pressupostos para a construção de suas teorias
sobre a sociedade capitalista e as lutas de classes sociais.

Introdução
50 UNIDADE II

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
PERCEPÇÕES DE DAVID ÉMILE DURKHEIM
SOBRE A SOCIEDADE

Olá, caro(a) aluno(a)! Vamos iniciar nosso estudo sobre os principais autores
das Ciências Sociais?
O primeiro grande autor que iremos trabalhar é David Émile Durkheim (1858-
1917), sociólogo e filósofo francês que também ficou conhecido como o “pai
da sociologia” por contribuir com seus pensamentos no fortalecimento desta
como Ciência e ao propor um método científico para os pesquisadores sociais.
Trabalharemos neste tópico apresentando um pouco sobre seus principais pen-
samentos e contribuições em relação aos estudos sobre a sociedade e a sua
organização.
Em 1893, Durkheim publicou a primeira edição do livro “Da divisão do tra-
balho social”, fruto da sua pesquisa de doutorado. O tema central do livro é a
relação entre os indivíduos e a coletividade. O autor buscou compreender como
diversos indivíduos conseguem constituir uma sociedade e como se constrói o
consenso que compartilham sobre a existência social. Dentre as considerações
que Durkheim (1999) traz nesse livro, temos a apresentação e clara defesa do
autor sobre a ideia de que a sociedade prevalece sobre o indivíduo. Para ele, a
sociedade é formada por um conjunto de normas de procedimentos, pensamen-
tos e sentimentos que são construídos fora do indivíduo, que existiam antes dele
e existiram após ele.

CLÁSSICOS DAS CIÊNCIAS SOCIAIS


51

Então, esse conjunto de normas que constitue a sociedade existe fora das
consciências individuais, e Durkheim (1972) ressalta que esse sistema é dotado
de poder imperativo e coercitivo, que se impõem, quer queira, quer não. Como
ele bem explica, o sistema de linguagem que é utilizado para expressar senti-
mentos e pensamentos, ou o sistema de moedas que é utilizados nas transações
comerciais, ou ainda, as normas que regem as práticas profissionais, entre outras
práticas cotidianas, foram construídas fora do indivíduo e existirão mesmo que
ele não se utilize delas.
Assim, de acordo com os pensamentos de Durkheim (1972), em toda socie-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

dade existem regras, e estas são responsáveis pela organização da vida social.
Tais regras são criadas e reformuladas por gerações de homens e transmitidas
às próximas como decretos a serem seguidos, e aquele que as transgredir sofrerá
castigos. Com isso, o autor define o que para ele é o objeto de estudo da socio-
logia, os fatos sociais. Dessa forma, cabe a sociologia estudar as regras e normas
coletivas que regem a vida dos indivíduos em sociedade, pois esses fatos têm sua
origem na sociedade e não na natureza (objeto de estudo das ciências naturais)
ou no indivíduo (objeto da psicologia).
Vejamos então o conceito de fatos sociais nas palavras do próprio Durkheim
(1972, p. 11):
É fato social toda maneira de agir fixa ou não, suscetível de exercer
sobre o indivíduo uma coerção exterior; ou então ainda, que é geral
na extensão de uma sociedade dada, apresentando uma existência pró-
pria, independente das manifestações individuais que possa ter.

Assim, vale frisar que de acordo com o conceito trabalhado por Durkheim (1972
apud TOMAZI; ALVAREZ, 1995), existem duas principais características que
precisam estar presentes para que se identifique um fato social: exterioridade
e coercitividade. Exterioridade está relacionada ao fato de que as normas são
estabelecidas fora da consciência dos indivíduos e que elas existem indepen-
dentemente da aceitação particular deles, questão que vimos anteriormente.
Esta característica está relacionada à coercitividade, como dito, os fatos sociais
são permeados de normas que são impostas aos indivíduos que integram uma
sociedade, sendo que o descumprimento destas provoca punições, que podem
ser físicas e, especialmente, morais.

Percepções de David Émile Durkheim sobre a Sociedade


52 UNIDADE II

O indivíduo não nasce sabendo destas normas sociais, ele as aprende. Por
isso, a educação é sempre um dos meios mais utilizados por Durkheim (1972)
para explicar os aspectos que envolvem o fato social. O autor explica que a socie-
dade educa os seus membros para que aprendam desde crianças as regras que
regem a vida social. Isso ocorre por meio da transmissão de conhecimento entre
as gerações, os mais velhos explicando aos mais novos; e também, nas escolas e
instituições de um modo geral.
Ao expor os aspectos relacionados aos fatos sociais, Durkheim também apre-
senta o conceito de consciência coletiva ou comum, que é caracterizado como

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
um conjunto de crenças e sentimentos compartilhados por grupos formados
por membros de uma sociedade. Este conjunto forma um sistema que possui
vida própria, pois esta consciência é diferente das consciências particulares ou
individuais, ela forma o psíquico da sociedade. Ainda que de maneira diferente
do que acontece nos sujeitos, essa consciência coletiva forma as características
e condições de existência de uma sociedade.
Durkheim resume a análise sobre a consciência coletiva explicando que é
possível afirmar que um ato é criminoso quando este ofende as condições con-
solidadas e definidas da consciência coletiva estabelecida em uma sociedade em
determinada época. Como, por exemplo, a consciência coletiva contemporânea
criminaliza o trabalho escravo, todavia, houve um grande período da história
que o trabalho escravo era aceito porque para a consciência coletiva da época
a prática estava dentro da normalidade da sociedade e era moralmente aceita.
Durkheim (1981) ainda explica que existem em nós duas consciências. Uma
contém elementos que são pessoais e particulares, que nos caracterizam, ela
representa e constitui a nossa personalidade individual, ele a denomina como
consciência individual. A outra consciência, já apresentada brevemente, abrange
os elementos que são comuns a toda a sociedade, ela representa o tipo coletivo;
e quando os elementos que constituem essa consciência influenciam nossa con-
duta, não estamos agindo em busca de interesses pessoais, mas visando fins
coletivos. Estas duas consciências estão ligadas uma à outra, coexistindo no
sujeito durante toda a sua existência.

CLÁSSICOS DAS CIÊNCIAS SOCIAIS


53

Segundo a percepção de Durkheim (1972 apud TOMAZI; ALVAREZ, 1995), a


consciência coletiva é essencial para a existência da sociedade, pois por meio dela é
possível haver um determinado grau de consenso entre os indivíduos, permitindo
a formação da sociedade. Entretanto, a consciência individual também é impor-
tante, pois ela permite que ocorra a diferenciação entre os indivíduos. Como o
próprio autor explica, no primeiro tipo de consciência temos a sociedade vivendo
e agindo em nós; já o segundo tipo representa a nós mesmos, o que temos de mais
pessoal e distinto. Com base nisso, o autor traz em seu livro “Da divisão do traba-
lho social” (1999) a compreensão da existência de duas formas de solidariedade nas
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

sociedades, as quais possuem como fator fundamental para a sua manifestação o


grau de interação das consciências no meio social. Estas formas de solidariedade
são nomeadas como mecânica e a orgânica.
A consciência coletiva se manifesta com maior ou menor grau de coerção ou
de nível de extensão dependendo do tipo de sociedade. Nas sociedades com maior
consciência coletiva, o autor afirma que há uma predominância da solidariedade
mecânica. Nestes casos, boa parte da nossa existência está submetida a sentimen-
tos coletivos, chegando ao ponto de ser possível que a abrangência da consciência
coletiva chegue à existência inteira do sujeito e se imponha diante da sua indivi-
dualidade, ou seja, as nossas práticas cotidianas são totalmente orientadas pela
consciência coletiva e há pouca manifestação de individualidade. Neste tipo de
sociedade a existência do indivíduo é toda orientada pelas normas e proibições
sociais, como nos casos em que a pessoa se submete a um poder superior e coerci-
tivo. Um dos exemplos mais trabalhados nesse caso são as sociedades arcaicas, nas
quais, por vezes, o indivíduo não possuía nem mesmo a consciência da sua indi-
vidualidade, não conseguia se diferenciar do restante da sociedade em que vivia.
Já em sociedades em que a consciência individual está mais presente e mani-
festa, é possível dizer que há uma diferenciação entre os sujeitos que a formam,
cada um tem a liberdade de crer, querer e agir conforme suas preferências, depen-
dendo das circunstâncias. Enquanto no primeiro caso os indivíduos estão ligados
diretamente à sociedade, neste caso, os indivíduos dependem da sociedade porque
dependem das partes que a compõem, pois sozinhos não conseguiriam realizar
tudo que desejam (DURKHEIM, 1981). Durkheim nomeia este tipo de solida-
riedade pertencente a sociedade como solidariedade orgânica.

Percepções de David Émile Durkheim sobre a Sociedade


54 UNIDADE II

A consciência coletiva nos impõe, por meios dos atos sociais e dos rituais
realizados na sociedade, o que devemos tomar como base para crermos (ARON,
1993), e, com isso, orienta nossas escolhas e a maneira organizar nossa vida e nos
assemelhar. No entanto, o autor explica que, historicamente, as pessoas foram
descobrindo a sua individualidade e isso foi enfraquecendo as relações coleti-
vas, que foram perdendo o poder quase totalitário que tinham sobre a existência
individual. Com isso, houve um fortalecimento da solidariedade orgânica, na
qual há uma maior margem para interpretações sobre as normas sociais e dife-
renciação nas decisões e preferências pessoais.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Todavia, dentro da percepção durkheimiana, esses tipos de solidariedade
não se anulam, mas existem em maior ou menor intensidade, dependendo
da sociedade, e por meio da compreensão do estado da coletividade, podemos
compreender a divisão do trabalho. Para Durkheim (1981), a solidariedade foi pro-
duzida com a divisão do trabalho. Uma parte da consciência do sujeito não está
totalmente submetida à consciência coletiva, e com isso, permite-se a construção
de uma sociedade em que o trabalho é mais dividido e as atividades desenvolvi-
das por cada um são mais pessoais quanto mais especializadas ela forem.

Será que se olharmos para a nossa sociedade atual, a partir da visão de


Durkheim sobre a relação entre a consciência coletiva e a consciência indi-
vidual, vermos grandes alterações? Será que atualmente as nossas práticas
cotidianas e escolhas não são norteadas por normas coletivas?

Durkheim (1999) parte do princípio de que não é a partir do indivíduo que


compreendemos a sociedade, mas a partir da sociedade que compreendemos as
ações individuais. A partir desta mesma visão busca compreender a divisão do
trabalho (técnica ou econômica) e a elaboração de contratos nas relações. Para o
autor a existência de uma divisão do trabalho é uma manifestação de toda uma
estrutura de uma sociedade, assim, ela é uma manifestação da coletividade que

CLÁSSICOS DAS CIÊNCIAS SOCIAIS


55

caracteriza como ocorre essa divisão. Os indivíduos da sociedade moderna reali-


zam contratos (ações individuais), mas os elementos que compõem e envolvem a
relação contratual são derivados dos princípios que estruturam a sociedade, deri-
vados de um estado da consciência coletiva da sociedade moderna. Para que as
pessoas firmem contratos entre si, é necessário que a sociedade crie uma estru-
tura jurídica que regule e autorize as decisões tomadas individualmente, dessa
forma, os contratos existem e possuem legitimidade devido ao contexto social e
não por causa dos próprios sujeitos que o assinaram.
Com isso, vemos, dentro desta percepção, que as estruturas da sociedade são
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

fenômenos essencialmente sociais, não são reflexos da tomada de consciência


individual que promoveu alterações na sociedade moderna. Isto reforça a ideia
de que a divisão do trabalho não pode ser explicada por meio da individuali-
dade, mas é um fenômeno social que precisa ser explicado por meio de estudos
que busquem a compreensão de fenômenos sociais.
Para explicar esse fenômeno social, Durkheim (1981) retoma conceitos
apresentados pelo pesquisador Darwin sobre a evolução das espécies, os quais
se popularizaram na segunda metade do século XIX.
A divisão do trabalho é um fenômeno social, que só pode ser explicado
por outro fenômeno social: o de uma combinação do volume, densida-
de material e moral da sociedade. [...] Para que o volume, isto é, o au-
mento do número dos indivíduos, se torne uma causa da diferenciação,
é preciso acrescentar a densidade, nos dois sentidos, o material e o mo-
ral. A densidade é o número dos indivíduos em relação a uma superfí-
cie dada do solo. A densidade moral é a intensidade das comunicações
e trocas entre esses indivíduos. Quanto mais intenso o relacionamento
entre os indivíduos, maior a densidade. A diferenciação social resulta
da combinação dos fenômenos do volume e da densidade material e
moral. [...] Quanto mais numerosos os indivíduos que procuram viver
em conjunto, mais intensa a luta pela vida (DURKHEIM, 1981, p. 472).

Então, devido ao aumento da densidade de pessoas (quantidade) há um aumento


de luta pela vida, e a diferenciação social vem como uma solução pacífica. Por
meio da diferenciação social o indivíduo pára de competir com todos por exer-
cer um papel e uma função na sociedade, isso o distingue dos demais e por essa
razão deixa de ser necessária a sua eliminação pois agora ele é necessário para a
sociedade. Além de não haver mais a necessidade de eliminação, para Durkheim

Percepções de David Émile Durkheim sobre a Sociedade


56 UNIDADE II

(1981), cada um dos indivíduos passa a colaborar com alguma coisa que lhe é
particular ou em algum ponto específico para a vida de todos da sociedade.
Por meio da diferenciação social é possível dizer que há a criação de uma
liberdade individual na sociedade. Isso porque em sociedades que há a dife-
renciação social, como a sociedade moderna, a consciência coletiva perdeu um
pouco a sua rigidez e o sujeito consegue adquirir maior autonomia em seus jul-
gamentos e ações (DURKHEIM, 1981).
Mas, é válido ressaltar que na percepção de Durkheim, mesmo com esse aumento
da autonomia individual na sociedade moderna, o coletivo predomina sobre o indi-

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
vidual, a sociedade predomina sobre o indivíduo. Por que ressaltamos em vários
momentos essa relação? Porque esse é um dos pensamentos centrais nos conceitos
trabalhados pelo autor, tanto que também está presente no método científico que
ele propôs para a sociologia. O cientista social só consegue explicar as ações indi-
viduais se compreender os fatos sociais; e para compreendê-los o pesquisador deve
analisá-los como se fossem coisas, como se fossem objetos que existem de maneira
independente de nossas ideias e vontades pessoais, ou seja, deve analisar sem se
deixar influenciar pela sua visão pessoal. Com isso, Durkheim propõe um método
científico em que o pesquisador mantém uma posição de neutralidade e objetivi-
dade em relação à sociedade.
Nestas páginas realizamos somente uma pequena apresentação de alguns pensa-
mentos do sociólogo Durkheim, que tiveram influência na construção do pensamento
sobre a sociedade e no desenvolvimento de estudos nessa área. Isso porque estes
conceitos também influenciaram na construção do pensamento de várias teorias
de outras áreas. A seguir continuaremos conhecendo os principais autores clássi-
cos das Ciências Sociais.

CLÁSSICOS DAS CIÊNCIAS SOCIAIS


57

Durkheim também elaborou excelentes reflexões sobre a sociedade moder-


na e a taxa de suicídio, realizando considerações sobre os fatores sociais que
influenciam o indivíduo. Algumas de suas considerações podem ser lidas de
forma mais sucinta no artigo Três fórmulas para compreender O suicídio de
Durkheim, escrito por Ricardo Rodrigues Teixeira.
Para saber mais, acesse o link disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/
icse/v6n11/20.pdf>.
Fonte: a autora.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

AS ANÁLISES DE MAX WEBER SOBRE


A AÇÃO SOCIAL

Vamos agora conhecer um pouco sobre as contribuições que Max Weber trouxe
para os estudos sobre a sociedade?
Seu nome completo era Karl Emil Maximilian Weber, alemão, nascido na
cidade de Erfurt, em 1864, faleceu em Munique no ano de 1920. É considerado
um dos fundadores do estudo moderno da sociologia, sendo perceptível a sua
influência também na economia, filosofia, direito, ciência política e administração.

As Análises de Max Weber sobre a Ação Social


58 UNIDADE II

Possui uma vasta obra que jamais conseguiríamos abordar em poucas pági-
nas, mas, para Aron (1993), é possível classificar as obras de Weber em quatro
categorias:
I. Estudos epistemológicos e filosóficos – foram desenvolvidos na área da
metodologia, crítica e filosofia, abordando o espírito, o objeto e os méto-
dos das ciências humanas, da história e da sociologia. Conduziram a uma
filosofia do homem na história, concebendo a relação entre ciência e ação.
II. Obras históricas – formadas por um estudo sobre as relações de produção
na agricultura no mundo antigo, apresenta uma história econômica geral,

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
principalmente sobre a Alemanha e a Europa em seu tempo.
III. Trabalhos sobre a sociologia da religião – Weber iniciou esses estudos
com o seu livro “A ética protestante e o espírito do capitalismo” e conti-
nuou estabelecendo um comparativo das grandes religiões, analisando a
relação entre as condições econômicas, as situações sociais e as convic-
ções religiosas.
IV. A relação entre economia e sociedade – Weber estava desenvolvendo estu-
dos na busca da compreensão desta relação quando ficou adoentado com
a gripe espanhola. Após a sua morte foi publicado o livro “Economia e
sociedade”, uma importante obra-prima que influenciou diversos campos
do conhecimento. Será sobre esta sua última categoria e os pensamentos
por ela apontados que trataremos neste tópico.

Em seu livro “Economia e sociedade”, Weber realiza um tratado da sociologia


geral, trabalhando ao mesmo tempo a sociologia econômica, jurídica, política
e religiosa. Olhando para a história universal, orientou-se para o presente que
vivia e buscou colocar em evidência a originalidade da civilização ocidental tra-
çando uma comparação com as outras civilizações.
Weber (1913 apud ARON, 1993) desenvolve seus estudos tendo como pres-
suposto que a sociologia é a ciência que busca compreender, interpretar e explicar
as ações sociais. Mas, o que é ação social? Ação social pode ser vista como um
comportamento do sujeito, é uma atitude – tanto interior como exterior – que se
volta para uma ação ou uma abstenção. Toda ação realizada é social? A ação só
pode ser considerada social se, ao darmos sentido a ela e realizá-la, ela se rela-
cionar com o comportamento de outras pessoas, ou seja, a minha ação influencia

CLÁSSICOS DAS CIÊNCIAS SOCIAIS


59

a ação de outras pessoas. Por exemplo: andar de bicicleta é uma simples ação
em si, mas se ao andar de bicicleta eu encontrar outra pessoa vindo em minha
direção e eu desviar para a direita e a outra pessoa desviar para a esquerda com
a intenção de não batermos, então estará acontecendo uma ação social. Minha
ação, estando repleta de intenção, influenciou o comportamento e a ação de outro
sujeito. Assim, podemos entender que a ação social se desenvolve e se organiza
em relações sociais.
Para melhor compreendermos a visão de Weber sobre a sociedade e as ações
que desempenhamos nela, precisamos entender alguns conceitos, como o de
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

atores sociais, que são pessoas da sociedade que praticam ações sociais. Outros
conceitos que precisam ser abordados, são aqueles que nos faz entender que as
ações praticadas são regulamentadas dentro das relações sociais e que há uma
regularidade nestas. Para Weber há dois conceitos que podem definir essas regu-
laridades das ações: o costume e o hábito. O costume é quando há a regularidade
na relação social, e isso influencia diretamente a vida do indivíduo. Já o hábito
acontece quando a regularidade tem origem em uma longa tradição que chega
ao ponto de se tornar espontânea no agir. Mas a regularidade, tanto de um cos-
tume como de um hábito, não é absoluta, é possível ocorrer variações.
Além da regularidade existem fatores que podem influenciar nas práticas
e na legalidade que envolvem as relações sociais, como é o caso das convenções
sociais e do direito. Quando falamos que uma prática aprovada pela sociedade
foi estabelecida pela convenção, temos que a violação dessa ordem provocará
uma desaprovação coletiva. E quando tratamos de uma ordem estabelecida pelo
direito, a violação poderá incitar uma coerção física (WEBER, 1963). Ou seja, se
realizarmos ações que não estão de acordo com o que o grupo social considera
conveniente, seremos desaprovados pelo grupo e sentiremos as consequências
dessa desaprovação; já quando nossas ações são contrárias ao que o direito esta-
belece como correto, podemos sofrer coerções físicas.
Outros dois conceitos muito importantes trabalhados por Weber são: poder
e dominação. Para ele, o poder pode ser definido como a probabilidade que um
ator (uma pessoa) tem de impor sua vontade a outra, mesmo que sofra resistên-
cia. O poder está presente nas relações sociais e pode ser exercido por grupos
ou por uma única pessoa, demarcando situações de desigualdade e dominação.

As Análises de Max Weber sobre a Ação Social


60 UNIDADE II

No caso da dominação, aquele que obedece às ordens (o dominado) necessita


reconhecer que o dominante tem um poder superior ao seu.

Em nossas organizações, formais e informais, conseguimos perceber clara-


mente essa relação de poder e dominação?
(as autoras)

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Weber (1967 adaptado por ETZIONI) definiu que o indivíduo pode se basear
em três motivos para obedecer a uma ordem: conveniência, hábito ou afeição.
Sendo que os motivos que levam à obediência determinam como é estabelecida
a relação entre dominante e dominado e, assim, a estrutura do poder e domina-
ção. Dessa maneira, o autor classifica as formas de dominação em: burocrática,
tradicional e carismática.
Na forma de dominação burocrática, a obediência se deve às regras, e não
especificamente ao detentor de poder; ao cargo que desempenha e não à pessoa
que está ocupando o cargo. A legitimação do poder se dá pela regra, pela lei. A
obediência é fundamentada em leis e normas, bem como, as ordens proferidas
pelo dominante são baseadas em uma estrutura de regras já existente. Ou seja,
existem regras e normas que dão direito ao dominante de exercer poder, mas
ele o exerce baseado em regras já estabelecidas, muitas vezes antes de assumir
o poder; já o dominado obedece as ordens por causa das regras e não devido a
pessoa que ordena.
Em contrapartida, na dominação tradicional o poder é instituído porque
existe uma obediência à tradição do grupo e às regras estabelecidas. Max Weber
(1967 adaptado por ETZIONI, p.20) explica que
Todos obedecem diretamente ao ‘senhor’, desde que sua dignidade seja
consagrada pela tradição; a obediência baseia-se na devoção. Substan-
cialmente, as ordens são vinculadas pela tradição – e a violação im-
prudente da tradição pelo ‘senhor’ exporia ao perigo da legitimidade
de seu domínio pessoal, que se baseia apenas na santidade da tradição.

CLÁSSICOS DAS CIÊNCIAS SOCIAIS


61

Na dominação tradicional a ênfase é dada à tradição, ela define quem é o detentor de


poder, e é transmitida e mantida pelas atitudes e rituais do cotidiano. Enquanto na
dominação burocrática a pessoa é escolhida para assumir um posto de autoridade
baseada em regras que definem quais características e habilidades deve possuir, na
dominação tradicional ou patriarcal, o que define quem assumirá o poder é a tradição.
Weber (1963, p. 283) explica que “o patriarca é o ‘líder natural’ da rotina cotidiana”,
ele foi escolhido com base somente na tradição do grupo e na obediência desta.
Já a autoridade carismática é baseada na devoção afetiva a uma pessoa especí-
fica, isto ocorre devido a crenças nas dádivas ou no “carisma” do indivíduo. Nesta
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

forma de dominação a obediência deve-se à pessoa de maneira independente de


regras ou de tradição. O dominado, neste caso, é visto como um seguidor, que optou
por ser obediente, motivado somente pelo carisma de seu líder, pela fé, pelas quali-
dades que identificou na pessoa que elegeu como autoridade sobre si.
Quando se refere a carisma está se referindo a algo peculiar, característico
àquela pessoa, que está acima de uma mensuração de valores. O carisma está além
de uma estrutura definida e com regras, é visto muitas vezes pelo possuidor e por
seus seguidores como um dom divino ou sobrenatural. Assim, é válido lembrar que
esse carisma não é permanente, ele precisa ser manifesto e sua existência precisa ser
provada. A manutenção da liderança carismática se dá por meio da comprovação
do carisma, à medida que é comprovado mantêm-se os seguidores que já possui e
conquistam-se novos seguidores. Há, pois, essa relação de interdependência entre a
manutenção da liderança e a comprovação do carisma. A partir disso, vemos que esta
forma de liderança pode ser considerada mais instável que as outras já mencionadas.
Apesar de estudar e buscar compreender estes três tipos de dominação, Weber
dedicou especial atenção à forma de dominação burocrática, pois a considera como
aquela que caracteriza toda a sociedade moderna. Ele acredita que este tipo de domi-
nação está presente em qualquer tipo de regime, e defende o pensamento de que as
pessoas, especialmente quando exercem o papel de funcionários, estão preparadas
para exercer funções regidas por regulamentos baseados em precedentes. Ou seja,
Weber defende que temos a tendência a realizarmos nossas atividades baseadas em
ações que já foram tomadas e nos são repassadas como atitudes corretas.

As Análises de Max Weber sobre a Ação Social


62 UNIDADE II

Como explicado no início deste tópico, Max Weber possui estudos, em várias
áreas, que buscam compreender as ações sociais, mas os desenvolve partindo de
pressupostos diferentes de Durkheim. Para Weber as regras e normas sociais não
são exteriores aos indivíduos, elas são resultados de conjuntos de ações individu-
ais que os atores sociais realizam constantemente, mas com condutas diferentes.
Outro ponto que difere os pensamentos dos dois autores está relacionado
ao método científico. Para Weber, o pesquisador tem papel ativo na sociedade e
suas construções teóricas são dependentes das escolhas pessoais, por isso não é
possível falar de uma total neutralidade do pesquisador em relação à sociedade.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Ressaltamos que os conceitos trabalhados neste tópico tiveram grande influ-
ência na construção das organizações e nas formas de estruturação do poder
dentro das empresas. Isto dará base para a construção do conhecimento sobre
as demais teorias relacionadas à sociedade e às formas de dominação.

CLÁSSICOS DAS CIÊNCIAS SOCIAIS


63
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

PERSPECTIVAS DE KARL MARX E A


SOCIEDADE CAPITALISTA

Já conhecemos um pouco sobre dois grandes pensadores da história, Durkheim


e Weber, agora falaremos sobre outro pesquisador, que teve como foco de sua
pesquisa a sociedade capitalista.
Karl Heinrich Marx (1818-1883) foi um pensador alemão, considerado o
sociólogo e economista do regime capitalista. Entre suas publicações três tex-
tos merecem destaque devido às contribuições que trouxeram para os estudos
da sociedade capitalista: “Manifesto comunista”, “Contribuição à crítica da eco-
nomia política” e “O capital”. Por causa da amplitude de suas pesquisas sobre a
sociedade capitalista, suas obras são até hoje interpretadas e reinterpretadas por
diversos estudiosos, correndo o risco de por vezes realizarem um desvirtuamento
de seu pensamento (ALCÂNTARA, 2008).
Marx desenvolveu seu trabalho partindo da visão de que a relação entre o
indivíduo e a sociedade precisa ser explicada em conjunto com as condições
materiais que envolvem estas relações. Ou seja, para garantir as condições de
sobrevivência transformamos a natureza ao nosso redor, construindo utensílios,
abrigos, assim, estabelecemos relações sociais por meio das relações de produção.
Para Marx são essas relações sociais de produção que formam a base da sociedade
capitalista (TOMAZI; ALVAREZ, 1995).

Perspectivas de Karl Marx e a Sociedade Capitalista


64 UNIDADE II

Ao estudar a sociedade capitalista, o autor define a existência de dois grandes


grupos com base nas relações sociais de produção: os capitalistas e o proletariado.
Formam o grupo dos capitalistas aquelas pessoas que detêm os meios de produ-
ção necessários para a produção de mercadorias (as máquinas, ferramentas, o
capital, recursos de modo geral). Por outro lado, o grupo denominado de prole-
tariado possui um número significativamente mais expressivo de membros, são
aqueles que por não possuírem os meios de produção ofertam a força de traba-
lho. Marx fala da existência de grupos intermediários entre o dos capitalistas e
do proletariado, mas afirma que são grupos que não possuem um dinamismo

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
histórico representativo, e que com a evolução do capitalismo a tendência é que
ocorra uma cristalização das relações somente entre os dois maiores grupos.
A partir desta compreensão apresentada sobre os grupos sociais, há o desen-
volvimento de duas concepções que são fundamentais para a construção teórica
de Marx: conceito de mais-valia e a luta de classes sociais.
Os capitalistas detêm os meios de produção e pagam ao trabalhador pela
sua mão de obra, ele compra o direito de utilizar a mão de obra do trabalhador
para a sua produção de bens. No contrato entre as partes é especificado o perí-
odo da utilização da mão de obra e o valor. O lucro e os benefícios gerados ao
final da produção pertencem ao capitalista, isso será a geração da mais-valia.
Por exemplo, um capitalista contrata um trabalhador para utilizar a sua mão de
obra por 8 horas, ao final de 4 horas o trabalhador já produziu o equivalente ao
valor que foi contratado, o que produzir a mais será para benefício do capita-
lista, isso será a produção de mais-valia. A busca pelo aumento da produção e,
consequente, aumento da mais-valia, segundo Marx, faz com que se estabeleça
uma relação de exploração do capitalista sobre o trabalhador, e esta relação pro-
vocará um conflito entre as classes.

Será que em uma sociedade capitalista é possível eliminar as lutas de classes


sociais?

CLÁSSICOS DAS CIÊNCIAS SOCIAIS


65

Todavia, para Marx não é o conflito provocado pela mais-valia que determina a
luta de classes. Em seu livro “Manifesto comunista” o autor expõe que toda a his-
tória da sociedade é marcada por lutas entre classes, por exemplo, entre o homem
livre e o escravo, entre o patrício e o plebeu, entre o barão e o servo. Para ele,
toda a história da sociedade é marcada pela relação entre opressor e oprimido,
e tais conflitos podem ocorrer de maneira declarada, ou de modo disfarçado,
mas sempre existiram.
Mas, o que são essas classes? De acordo com os pensamentos de do autor,
classe é um grupo de indivíduos que ocupam a mesma posição nas relações de
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

produção dentro da estrutura de uma sociedade. A classe possui papel decisivo


na determinação de como os indivíduos atuarão socialmente, pois ela condiciona
as relações sociais internas e dos membros do grupo com membros de outros
grupos. Os membros de uma classe compartilham entre si ideias e comporta-
mentos, podem até desenvolver aceitação e proximidade com os compartilhados
por outra classe, mas no momento do conflito defenderão e permanecerão junto
a classe a qual pertencem.
Sobre esses conflitos entre as classes e a relação de produção, Marx, Engels
e Coggiola (1998) afirmam que existem contradições que caracterizam a socie-
dade capitalista e procura trabalhar sobre elas. Uma das contradições se refere
à distribuição de forças e as relações de produção. Os capitalistas, também carac-
terizados como os burgueses, procuram criar meios de produção cada vez mais
eficientes, mas, em contrapartida, não há uma evolução no mesmo sentido refe-
rente às propriedades e a distribuição de rendas.
O aumento de riquezas dentro do regime capitalista é crescente, mas per-
manece restrita a um pequeno grupo, enquanto que a miséria é situação latente
para a maioria da sociedade. Na concepção de Marx, Engels e Coggiola (1998),
esta contradição provocará uma crise revolucionária que afetará o capitalismo
e por sua vez que poderá causar a supressão deste regime.
Como essa crise revolucionária aconteceria? O proletariado sempre foi for-
mado pela maioria das pessoas da sociedade, com o aumento da concentração
da riqueza pela classe dos capitalistas, segundo Marx, haverá um aumento da
classe proletária em conjunto com o aumento da miséria e exploração, simul-
taneamente a isso ocorreria uma união social da classe. A partir dessa unidade

Perspectivas de Karl Marx e a Sociedade Capitalista


66 UNIDADE II

social o desejo pela tomada do poder e transformação das relações sociais irão se
intensificar, até que a classe chegue a luta declarada e tomada do poder. Essa revo-
lução teria peculiaridades que garantiriam o seu sucesso, a maior ênfase é dada
ao fato de que, pela história da sociedade, as revoluções ocorreram por mino-
rias em favor desta minoria, mas neste caso ela ocorreria pela maioria em favor
desta e, por isso, seria possível a total eliminação do capitalismo e das classes.
Marx teve como objetivo do seu trabalho o estudo dessa crise revolucioná-
ria, mas não buscou estruturar o processo para o estabelecimento da sociedade
após tal crise. O autor dedicou especial esforço em explicar cientificamente a

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
sociedade capitalista, sua evolução e suas contradições, no modo como eram
estabelecidas as relações sociais da sociedade da sua época, tendo sempre a pro-
dução como a base para a estruturação da sociedade capitalista.
O autor acreditava que a ciência não deveria buscar somente a compreensão
da sociedade capitalista, mas exercer um papel político e crítico a fim de promo-
ver também uma transformação da realidade. Por isso, em relação a termos de
procedimentos metodológicos, ele expõe que o pesquisador irá descrever a rea-
lidade social, mas também analisar como essa realidade se produz e reproduz
ao longo da história. Assim, o pesquisador tem a possibilidade de desempenhar
um papel revolucionário por meio de seus trabalhos.

CLÁSSICOS DAS CIÊNCIAS SOCIAIS


67

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nessa unidade fizemos uma breve apresentação do pensamento de Durkheim,


Weber e Marx, e, como mencionado no início da unidade, realizamos um recorte
teórico que nos possibilitou a compreensão dos pressupostos que foram base de
seus trabalhos, em busca da compreensão da sociedade da época a que pertenciam.
Com isso, vimos que a relação entre individualidade e as ações coletiva e
social, podem ser vistas de diferentes formas. Alguns podem dar ênfase no papel
do indivíduo nas escolhas de suas ações sociais, tomando como base a ação de
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

outros indivíduos. Outros podem dar enfoque na sociedade e suas instituições,


que obrigam seus membros a internalizarem normas que são produzidas exter-
namente. Há, ainda, os que na construção de sua teoria, dão enfoque ao conjunto
de práticas que definem as relações entre indivíduo e sociedade. Todavia, ainda
que cada um, partindo de um ponto de vista, defenda seu pensamento, por
vezes contraditórios, todos buscarão compreender as relações sociais estabele-
cidas na sociedade.
Justamente por causa dos enfoques distintos que cada autor dá (o indivíduo,
a sociedade e as relações entre ambos), suas considerações a respeito do tema são
bastante diferentes. Essas divergências não geram a anulação das teorias entre si
e nem a complementaridade dos pensamentos, elas mostram o quanto são com-
plexos os problemas e as relações sociais estabelecidas pela sociedade moderna.
Ao trabalharmos estes conceitos dentro da Administração, teremos maio-
res embasamentos científicos para os estudos sobre as organizações e as relações
sociais estabelecidas. Tal embasamento é necessário para o administrador que
deseja trabalhar de modo eficaz, partindo da ideia de que as empresas são con-
sequências da formação estrutural dessa sociedade capitalista e que têm sua
dinâmica permeada de valores e comportamentos compartilhados pela socie-
dade atual. Então, é extremamente válido refletir sobre tais concepções.

Considerações Finais
68

Atualmente, diversos estudiosos buscam entender e explicar a sociedade moderna por


meio de uma análise dos pensamentos dos autores que trabalhamos neste capítulo.
Apresento a seguir fragmentos de um dos textos que busca fazer uma análise dos estu-
dos realizados por Durkheim e Marx, e nos leva a refletir sobre as relações sociais atuais.

O Pensamento de Durkheim e Marx – Fragmentos


Começaremos nossa análise a partir do objeto de estudo de cada autor, verificando, des-
de já, existir entre eles diferenças sensíveis e antagônicas. Enquanto Durkheim atem-se
ao estudo do “fato social”, com a sociedade determinando as ações do indivíduo, Marx
procura entender os movimentos da sociedade tendo como objeto as “relações sociais”
e a “luta de classes”, transformando os fenômenos sociais, e para Durkheim a luta entre
as classes expressa anormalidade no que tange às relações sociais.
[...]
Segundo Weber, um dos fatores de agregação da sociedade é a “divisão do trabalho”,
tendo em vista a interdependência entre os indivíduos, advinda desta, como consequ-
ência das especializações nas tarefas, identificando, aqui, a coerção da consciência cole-
tiva sobre as consciências individuais.
Os fenômenos que constituem a sociedade têm sua origem na coletividade, onde os
“fatos sociais” são formados pelas “representações coletivas”, através de suas lendas, mi-
tos, religião, e crenças morais que são legadas de geração para geração, acrescentadas
de experiências e sabedoria acumuladas, sendo assim, de forma muito particular, infi-
nitamente, mais rica e complexa do que a do indivíduo, reafirmando a teoria de que a
sociedade é que determina o indivíduo.
Mesmo estudando fatos já cristalizados, que para Durkheim, constituem “maneiras de
ser” sociais, tais como: forma de nossas casas, nosso vestiário, a linguagem escrita, são
para ele, realidades exteriores à vontade dos indivíduos, tornando-os, assim, “fatos so-
ciais”, que possuem ascendência sobre eles, arrastando-os e influenciando-os, ditando
normas e costumes que são internalizados nos indivíduos, através da educação. Não
educamos nossos filhos como queremos, mas sim da forma que a sociedade admite e
propõe, pois muito do que passamos para eles já existia antes deles.
[...]
A mudança é possível, no entanto, necessário se faz que vários indivíduos, por meio de
uma ação combinada, consigam constituir um novo “fato social”. As resistências àquela
seriam tanto maiores quanto fosse a importância dos valores a serem modificados, in-
correndo, assim, numa batalha feroz de forças antagônicas, visando a consolidação, ou
não, das mudanças pretendidas.
[...]
69

Durkheim defende que o melhor método para se explicar a função do “fato social”
na sociedade, seria através da observação, de maneira semelhante ao adotado pelos
cientistas naturais, levando-se em conta, entretanto, que o objeto do estudo dentro da
Sociologia tem peculiaridades próprias, distintas dos fenômenos naturais. No entanto,
acreditava ele que investigando-se as relações de causa e efeito e regularidade, poderia
se chegar a descoberta de leis, que determinassem a existência de um “fato social” qual-
quer e que por conseguinte, determinaria, este, a ação dos indivíduos.
[...]
O conflito antagônico, resultante das desigualdades econômicas destas duas classes
(opressores e oprimidos) é para Marx o ponto chave das sociedades industriais moder-
nas, onde esses setores opostos, em seu processo de interação, buscam uma solução
para as tensões resultantes de suas diferenças, ainda que exista uma manipulação de
idéias com o único intuito de engrupir o povo, através da alienação política e cultural,
para que este não perceba o vínculo entre o poder econômico e o poder político que irá
influenciar na qualidade de vida de todos.
Desse conflito, podemos destacar o antagonismo existente entre a evolução da indús-
tria moderna e das ciências, com a criação ou incentivo à criação de máquinas e/ou tec-
nologias cada vez mais avançadas, patrocinadas pelos meios de produção (capitalistas),
e em contrapartida a essas novas criações o aumento da miséria e da decadência do
proletariado.
[...]
Aos detentores dos meios de produção, interessa, sempre, aumentar os lucros para ga-
rantir a manutenção do poder e seu padrão de vida. Os lucros advindos das novas tecno-
logias não são traduzidos em renda para os que continuam em seus postos de trabalho,
aumentando, assim, cada vez mais, as diferenças entre as classes sociais. O trabalhador
comum, alienado do pensamento político, através da negação, a ele, da educação esco-
lar, por exemplo, não é mais dono do produto de seu trabalho, transformando-se em as-
salariado da propriedade privada, determinando, assim, o crescimento dos dependen-
tes proletários e sua miséria. Enfim, o crescimento dos meios de produção não se traduz
em melhoria de vida dos trabalhadores. A alienação, econômica e cultural, produz no
trabalhador a alienação política, que só interessa à classe dominante, para manutenção
do status quo.
70

[...]
Finalizando essa exposição, entendo ser a sociedade de hoje uma conjugação do pensa-
mento tanto de Durkheim quanto de Marx, tendo em vista que a vida do indivíduo em
muito é determinada pelos padrões sociais ditados pela classe dominante (detentora
do poder), embasada em dogmas morais, religiosos e de condutas que são passados de
geração para geração, como descreve Durkheim e, de uma forma branda, como descre-
veu Marx, posto que o povo continua alienado, alijado dos seus direitos básicos, como
comer, por exemplo, numa luta de classes desleal, tal qual Davi e Golias, haja vista o de-
semprego crescente como inibidor de tomada de ações por aqueles que continuam em
seus postos de trabalho, sendo este, cada vez mais degradado, espoliado, vilipendiado,
tornando-se, cada vez mais meio de sobrevivência para a classe do proletariado, que é
obrigado a sustentar os lucros, sempre maiores, solicitados pelo capitalista, eternizando
o conflito entre as classes.

Fonte: adaptado de Geraldo Amaral (2012, on-line)1.


71

1. Analise o conceito a seguir:


“Exerce sobre o indivíduo uma coerção exterior, pode apresentar uma existência
própria e independe das manifestações individuais, e possui como principais carac-
terísticas: a exterioridade e a coercitividade”.
O conceito apresentado se refere a:
a) Ação social.
b) Fato social.
c) Consciência coletiva.
d) Consciência individual.
e) Trabalho social.
2. Analise as alternativas a seguir e assinale aquela que apresenta o conceito de
classe social segundo as teorias de Marx:
a) É um grupo de indivíduos que se reúne unicamente por hábitos em comum
e ideologias.
b) É um grupo de indivíduos que buscam um objetivo em comum e se relacio-
nam para obtê-lo.
c) É um grupo de indivíduos que ocupam a mesma posição nas relações de
produção dentro da estrutura de uma sociedade.
d) É um grupo de indivíduos que ocupam a mesma posição social, mas no mo-
mento de conflito dividem-se e não há uma defesa do grupo.
e) É um grupo de indivíduos que ocupam a mesma posição social e os mem-
bros dessa classe não compartilham ideias e comportamentos.
72

3. Sobre os autores que trabalhamos neste capítulo, analise as sentenças a seguir:


I. As regras e normas sociais não são exteriores aos indivíduos, são resultados
de ações individuais.
II. As ações individuais só podem ser compreendidas pelo cientista social por
meio dos fatos sociais.
III. O pesquisador desempenha papel ativo na sociedade e suas escolhas pesso-
ais influenciam nas suas construções teóricas.
De acordo com as sentenças apresentadas, assinale a alternativa que apresenta, res-
pectivamente, o autor que cada uma se refere:
a) Weber, Marx, Durkheim.
b) Durkheim, Weber, Weber.
c) Marx, Weber, Durkheim.
d) Durkheim, Durkheim, Weber.
e) Weber, Durkheim, Weber.
4. Marx é o precursor dos estudos sobre a luta de classe na sociedade capitalista, o
autor define a existência de dois grandes grupos com base nas relações sociais
de produção. Tendo como base o conteúdo apresentado, explique o concei-
to de capitalista e proletariado de acordo com Marx.
5. Os conceitos de “poder” e “dominação” tiveram grande enfoque nas pesquisas
realizadas por Weber, com base nos seus estudos classificou três formas de domi-
nação: burocrática, tradicional e carismática. Explique cada uma destas formas
com base no que estudamos.
MATERIAL COMPLEMENTAR

Filosofia e Ética na Administração


João Augusto Mattar Neto
Editora: Saraiva
Sinopse: Trata-se de um livro com leitura clara e completa. Busca
abordar pontos de comunicação entre os universos da filosofia, da
ética e da administração, aplicando os conceitos e teorias em situações
vivenciadas em organizações. Por meio de exemplos apresentados leva o leitor a compreender e
refletir sobre a aplicação da filosofia e ética na vida organizacional.

Café Filosófico: A Sociologia de Weber - Gabriel Cohn


No Brasil há um renomado sociólogo que é especialista nas obras de Max Weber, Gabriel Cohn,
professor do departamento de Ciências Sociais da Universidade de São Paulo (USP). Ele estuda há
anos as obras de Weber, já realizou traduções de seus livros e contribui para a compreensão dos
pensamentos deste autor. Podemos conhecer um pouco mais sobre seu trabalho assistindo a um
vídeo no qual o autor faz levantamentos e questões a respeito de Max Weber.
Para saber mais, acesse o link disponível em: <https://www.youtube.com/
watch?v=qU_zUBTsILQ>.

Material Complementar
74
REFERÊNCIAS

ALCANTARA, F. H. C. Os clássicos no cotidiano. São Paulo: Arte & Ciência, 2008.


ARON, R. As etapas do pensamento sociológico. São Paulo: Martins Fontes, 1993.
DURKHEIM, É. Da divisão social do trabalho. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1999.
______. O que é fato social? In: As regras do Método Sociológico. Trad. Maria Isau-
ra Pereira de Queiroz. 6. ed. São Paulo: Companhia Editoria Nacional, 1972.
______. Solidariedade Orgânica. In: Os grandes cientistas sociais. Org. José Alber-
tine Rodrigues. São Paulo: Ática, 1981.
GUERREIRO R. A. Administração e a Estratégia do Desenvolvimento. Biblioteca
de Administração Pública. 12. ed. Rio de Janeiro: FGV, 1966.
MARX, K.; ENGELS, F.; COGGIOLA. O Manifesto comunista. São Paulo: Boitempo Edi-
torial, 1998.
TOMAZI, N. D.; ALVAREZ, M. C. Introdução ao curso de sociologia. In: TOMAZI, N. D.;
ALVAREZ, M. C. Iniciação em Sociologia. São Paulo: Atual, 1995.
______. Indivíduo e Sociedade. In: TOMAZI, N. D.; ALVAREZ, M. C. Iniciação em So-
ciologia. São Paulo: Atual, 1995.
______. Durkheim e fatos sociais. In: TOMAZI, N. D.; ALVAREZ, M. C. Iniciação em
Sociologia. São Paulo: Atual, 1995.
WEBER, M. Os três tipos puros de dominação legítima. In: ETZIONI, A. (Org.). Orga-
nizações complexas: um estudo das organizações em face dos problemas sociais.
Trad. Agência Norte-Americana para Desenvolvimento Internacional – USAID. 1. ed.
São Paulo : Atlas, 1967.
WEBER, M. Ensaios de Sociologia. Rio de Janeiro : Zahar Editores, 1963.

REFERÊNCIAS ON-LINE

1
Em: <http://www.egov.ufsc.br/portal/conteudo/o-pensamento-de-durkheim-e-
-marx>. Acesso em: 24 abr. 2017.
75
REFERÊNCIAS
GABARITO

1. B.
2. C.
3. E.
4. Orientação de resposta: Formam o grupo dos capitalistas aquelas pessoas que
detêm os meios de produção necessários para a produção de mercadorias (as
máquinas, ferramentas, o capital, recursos de modo geral). Por outro lado, o gru-
po denominado de proletariado possui um número significativamente mais ex-
pressivo de membros, são aqueles que por não possuírem os meios de produção
ofertaram a força de trabalho.
5. Orientação de resposta: Na dominação burocrática a obediência se deve as re-
gras, e não especificamente ao detentor de poder; ao cargo que desempenha
e não a pessoa que está ocupando o cargo. A legitimação do poder se dá pela
regra, pela lei. A obediência é fundamentada em leis e normas, bem como, as
ordens proferidas pelo dominante são baseadas em uma estrutura de regras já
existente. Ou seja, existem regras e normas que dão direito ao dominante de
exercer poder, mas ele o exerce baseado em regras já estabelecidas, muitas ve-
zes antes de assumir o poder; já o dominado obedece às ordens por causa das
regras e não devido a pessoa que ordena.

Na dominação tradicional a ênfase é dada à tradição, ela define quem é o deten-


tor de poder, e a tradição é transmitida e mantida pelas atitudes e rituais do co-
tidiano. Enquanto na dominação burocrática a pessoa é escolhida para assumir
um posto de autoridade baseada em regras que definem quais características e
habilidades deve possuir, na dominação tradicional ou patriarcal, o que define
quem assumirá o poder é a tradição. Weber (1963) explica que “o patriarca é o ‘lí-
der natural’ da rotina cotidiana” (p. 283), ele foi escolhido baseando-se somente
na tradição do grupo e em sua obediência.

Já a autoridade carismática é baseada na devoção afetiva a uma pessoa específi-


ca, isto ocorre devido a crenças nas dádivas ou no “carisma” do indivíduo. Nesta
forma de dominação a obediência deve-se a pessoa de maneira independente
de regras ou de tradição. O dominado neste caso é visto como um seguidor, o
qual optou por ser obediente motivado somente pelo carisma de seu líder, pela
fé, pelas qualidades que identificou na pessoa que elegeu como autoridade so-
bre si.
Professora Me. Rizia Ferrelli Loures Loyola Franco

IDENTIDADE, CULTURA

III
UNIDADE
E CONSUMO

Objetivos de Aprendizagem
■■ Identificar subculturas e grupos sociais em nossa sociedade.
■■ Observar a construção de quem é o indivíduo.
■■ Relacionar os objetos e os ciclos de vida.
■■ Verificar os significados do consumo na contemporaneidade.

Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■■ Subculturas e grupos sociais
■■ A noção do eu
■■ Os objetos e os ciclos de vida
■■ O consumo da contemporaneidade
79

INTRODUÇÃO

Nosso desafio iniciará você a um novo universo, com uma série de novos con-
ceitos e ideias sobre as coisas à nossa volta. Cada cultura ou subcultura possui
elementos distintos entre elas. O objetivo principal, neste momento, é que você,
a partir de então, tenha uma maior sensibilidade ao observar as pessoas e seus
pertences.
Caro(a) aluno(a), daremos início, nesse momento, a uma discussão, dife-
rente da visão do senso comum ou de outras teorias que conhecerão ao longo
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

de sua jornada acadêmica. Abordaremos o consumo como uma das ativida-


des importantes do nosso cotidiano, que merece um estudo acadêmico e que
lhe mostrará outras facetas dos objetos do dia a dia. Diante disso, esses estu-
dos da cultura material trabalham na especificidade de objetos materiais com a
intenção de compreender nossa humanidade, a qual é inseparável de sua mate-
rialidade (MILLER, 2013).
Além das abordagens exibicionistas ou do consumo conspícuo, apresenta-
remos como a cultura material busca compreender diferentes grupos sociais e
os relacionamentos entre as pessoas dentro de uma abordagem Antropológica.
Caro(a) aluno(a), seus pertences e as suas compras podem revelar muito do
que almeja em sua vida, os grupos sociais que pertencem ou desejam pertencer,
seu status e papel social e as máscaras sociais que empregamos ao longo do dia.
Com as passagens sucessivas de uma situação social à outra, fazem com que
a vida individual seja compreendida na sucessão de etapas, como o nascimento,
puberdade e o ritual do casamento, previamente definidas pela cultura que esse
indivíduo se insere. Assim, passará pelas mesmas etapas que os outros mem-
bros. A criança é admitida à adolescência, posteriormente à idade adulta e que
possivelmente guardará objetos como suporte dessas memórias. Preparado(a)?
Vamos lá?

Introdução
80 UNIDADE III

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
SUBCULTURAS E GRUPOS SOCIAIS

Até agora, caro(a) aluno(a), estudamos como a cultura está inserida em comple-
xas relações sociais. Vimos que a cultura, na verdade, forma-se por diversos e
diferentes grupos sociais. Cabe lembrar que as nossas atitudes estão atreladas a
cultura ou a subculturas de nossa sociedade, mas que podemos refletir sobre novas
e melhores formas de conviver com o outro pelo respeito à diversidade cultural.
Dentro de cada cultura existem inúmeras subculturas com caracterís-
ticas específicas. Pode-se falar em cultura francesa, brasileira, japonesa
que são subculturas da cultura humana. Dentro de cada subcultura,
por sua vez, iremos encontrar inúmeras e indeterminadas outras cul-
turas, por exemplo, na cultura brasileira iremos encontrar a subcultura
feminina, masculina, baiana, xavante, caipira, gaúcha etc (DIAS, 2010,
p. 65).

Tais subculturas, apresentam elementos em comum, como os mesmos valores,


ideias, normas, linguagem, vestuário, alimentação, moradia, que são comparti-
lhados com os membros do mesmo grupo. Essas características ao mesmo tempo
transmitidas às gerações, também possibilitam adaptações pelos seus membros.

IDENTIDADE, CULTURA E CONSUMO


81

Em outras palavras, “uma subcultura constitui um segmento da sociedade que


compartilha um padrão [...] que diferem da sociedade maior em que está inse-
rida” (DIAS, 2010, p.75).
O padrão de comportamento consiste em uma norma comportamen-
tal, estabelecida pelos membros de determinada cultura. Essa norma é
relativamente homogênea, aceita pela sociedade, e reflete as maneiras
de pensar, de agir e de sentir do grupo, assim como os objetos materiais
correlatos (MARCONI; PRESOTTO, 2011, p.35).

Destacamos a importância da interação social como o resultado da comunicação


Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

entre as pessoas influenciadas mutuamente. Ao mesmo tempo em que queremos


nos diferenciar de um grupo social, desejamos ser aceitos e reconhecidos como
parte de outro grupo ao evidenciar e compartilhar seus padrões. Esse processo
é contínuo ao longo de nossas vidas. Mesmo assim, dentro do grupo social que
fazemos parte, em alguns casos, desejamos criar características que nos eviden-
ciam dos demais.
Dias (2010, p. 162) complementa que “essa característica integradora dos
grupos sociais, dando um sentido de pertencimento a numerosas pessoas, que
desse modo se sentem seguras perante as outras, é um dos aspectos que mais
fortalecem a importância do estudo dos grupos”.
É evidente que os grupos sociais são estudados pelas Ciências Sociais. O
primeiro grupo social do ser humano é a família “que lhe transmite a língua,
os valores e a cultura da sociedade à qual pertencem. Com o seu crescimento,
outros grupos entrarão em sua vida, tornando-o cada vez mais um ser social”
(DIAS, 2010, p. 162).
O processo pelo qual as crianças, ou os outros membros da sociedade,
aprendem o modo de vida de sua sociedade é chamado de socialização.
A socialização é o principal canal para a transmissão da cultura através
do tempo e das gerações (GIDDENS, 2005, p. 42).

Depois de se socializar na família, o indivíduo será inserido no grupo social da


escola, e escolherá outros grupos como amigos, clube, colegas do bairro, funcio-
nários de uma empresa, os amigos que se reúnem para jogar bola etc.

Subculturas e Grupos Sociais


82 UNIDADE III

A socialização, portanto, deveria ser vista como um processo que dura


a vida inteira, em que o comportamento humano é continuamente
modelado pelas interações sociais. Ela permite que os indivíduos de-
senvolvam a si mesmos e a seu potencial, a aprender e a fazer ajustes
(GIDDENS, 2005, p. 42).

Prezado(a) aluno(a), o termo “grupo social” é empregado tanto para pessoas que
estão juntas no mesmo tempo e lugar, momentaneamente, como também pode
se referir a pessoas que estão juntas por dividirem características em comum que
“compartilham uma consciência de membros e que têm expectativas comuns de
comportamento” (DIAS, 2010, p. 162).

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Nesse momento abordaremos um pouco mais sobre os grupos sociais. Outro
conceito que iremos estudar é o de grupo de referência, que acontece quando existe
um modelo a ser seguido ou um padrão aceito para nos auto avaliar. Podemos pen-
sar nos grupos de bandas famosas, algum ídolo do esporte, um ator conhecido ou
mesmo um parente que se queira espelhar comportamentos, atitudes e aparência.
Por sua vez, o estereótipo “é a imagem que um grupo compartilha de um
outro grupo” (DIAS, 2010, p. 166). Em muitos casos são impressões distorcidas
das características reais desses outros grupos.
Em outras palavras, o estereótipo é uma imagem distorcida que um
grupo tem de outro grupo social. A sociedade norte-americana, por
exemplo, apresenta-nos, por meio do cinema, muitos de seus estereóti-
pos em relação a outros povos: podemos observar nos filmes de modo
em geral, os italianos como mafiosos; os irlandeses, como brigões; os
mexicanos, como indolentes; os ingleses, como conservadores; os co-
lombianos, como traficantes; e assim por diante (DIAS, 2010, p.166).

Quando o indivíduo fica à vontade com os membros de seu grupo, geral-


mente expressam “o meu partido”, “o meu país”, “o nosso clube”, a “nossa fa-
culdade”, pois dividem experiências em comum, como uso de uniformes,
distintivos, bem como sexo, religião, nacionalidade, ocupação profissional. O
uso desses pronomes (meu, minha, nossa) fortalece a identidade do grupo.
(Reinaldo Dias)

IDENTIDADE, CULTURA E CONSUMO


83

Ainda para que você inicie seus estudos nas Ciências Sociais, é interessante neste
momento diferenciar grupos sociais e categorias. A categoria é um conjunto de
pessoas que possuem características em comum, contudo, não podemos con-
siderar como categoria as pessoas do mesmo sexo, ocupação, faixa etária etc.,
por não ocorrer interação entre elas. Para que essas categorias se transformem
em grupos sociais basta que ocorram interações entre seus membros e que esta-
beleçam um sentimento em comum (DIAS, 2010, p. 162). As categorias sociais
podem ser úteis na medida que forneçam dados interpretáveis à sociedade:
remuneração, tipo de residência, propriedade de casa, número de
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aposentos, posse de utensílios domésticos etc. Esses dados permitem


caracterizar o nível de vida da população, através de combinações de
diversos itens, juntamente com a comparação das estatísticas de vários
anos, e salientar tendências e mudanças.

A análise dos dados estatísticos, obtidos nos censos, é de grande impor-


tância na previsão e atuação de órgãos públicos. Por exemplo, sabendo-
-se a taxa de natalidade e a mortalidade até os 7 anos, de determinada
população, em dada área geográfica, podem-se prever a necessidade
de salas de aula e o número de professores para atender à demanda de
crianças que ingressam no 1º ciclo, em certo ano (LAKATOS; MAR-
CONI, 1999, p. 107).

A noção de categoria social abrange itens significativos para os censos nacio-


nais, que obtêm um “quadro geral” da população, como também estado civil,
naturalidade, origem étnica, religião e até mesmo auxiliar nas tomadas de deci-
sões das instituições públicas.
De fato, prezado(a) aluno(a), nós somos seres sociais que ao mesmo tempo
pertencemos a uma cultura maior de nossa nação, mas que compartilhamos
ideias, valores e sentimentos com outros grupos sociais que possuem suas sub-
culturas. Mesmo assim, essas subculturas se relacionam ao nosso contexto social.
De nenhum modo as subculturas são inferiores, pelo contrário, pois possibili-
tam uma gama de interpretações do mundo social.
Quando pertencemos a um grupo social temos elementos em comum, uma
mesma linguagem, como um mesmo conjunto de aparatos que nos identificam
dentro do grupo, nos tornando parte dele e que comunica a outros grupos que
somos diferentes. É um movimento de inclusão e exclusão ao mesmo tempo.
Inclusão dentro do nosso grupo e exclusão a outro grupo.

Subculturas e Grupos Sociais


84 UNIDADE III

Em alguns casos, temos pessoas que para nós são importantes e que quere-
mos nos assemelhar, seja pelo simples corte de cabelo ou o sapato que está em
evidência, são as pessoas do grupo de referência. Contudo, cabe ressaltar que mui-
tas vezes somos enganados ou no mínimo temos uma má impressão das pessoas
por causa dos estereótipos, que muitas vezes não são condizentes com a reali-
dade do grupo social, seria dizer, grosso modo, a “fama” do grupo, por exemplo.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Você já passou por um grupo de motociclistas e pensou em suas caracterís-
ticas veiculadas pela mídia como “rebeldes”? Essa seria uma característica
baseada no estereótipo de quem possui motos, mas que muitas vezes não é
a realidade do usuário da motocicleta.

IDENTIDADE, CULTURA E CONSUMO


85
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

A NOÇÃO DO EU

Prezado(a) aluno(a), refletiremos sobre a importância dos objetos a nossa volta.


Será que eles são realmente importantes para nós? Será que eles nos auxiliam
a comunicar aos outros quem nós somos ou a nossa posição social? Você já se
perguntou “quem eu sou” e “como os outros me veem”? Vejamos algumas dis-
cussões sobre o assunto.
Seu nome, o seu próprio corpo, os seus antepassados e a circulação de bens
fazem parte dessa construção do eu ao longo da história. A consciência moral,
religiosa e psicológica é inseparável nessa produção de si. Essa noção do eu, vem
do latim “persona”, traduzida como as máscaras do personagem de cada um, e é
analisada como o senso de individualidade espiritual, corporal, juntamente com
os seus bens de cada um, orientado pelas circunstâncias de seu convívio com os
demais. A partir da relação do sujeito que fala e o objeto de que ele fala, geram-
-se informações a seu respeito (MAUSS, 1974).
Nesse sentido, a máscara é “um conjunto de características pessoais as quais
o ator dá vida” (COSTA, 2010, p. 285). Observamos que para conhecer “quem
eu sou” é interessante investigar as máscaras que usamos ao longo da nossa vida.

A Noção do Eu
86 UNIDADE III

Outro exemplo da construção de si a partir dos objetos é o kula. O kula acon-


tece entre homens de posse, no arquipélago Massim na Nova Guiné, e relaciona os
indivíduos num amplo sistema de trocas translocal não-ocidental, pré-industrial
e não monetizado, extremamente complexo para a circulação de objetos de valor.
Nesse caso, circulam, em direções contrárias, colares e braceletes ornamentados.
Tais objetos adquirem histórias muito específicas na medida em que os
homens que os trocam ganham e perdem reputação ao adquirir, possuir e se des-
fazer deles. A participação é um privilégio entre esses homens, além de um dos
principais emblemas de valor. Essas trocas promovem a construção de memórias

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
e reputações. Isso quer dizer que o kula representa um sistema muito complexo
da dimensão das biografias de pessoas e coisas (APPADURAI, 2008, p. 33).
A partir dessas considerações, Miller (2013) afirma que o conceito de pessoa,
a percepção do eu, são diferentes em tempos e lugares. Nesse aspecto, segundo
Seeger, Da Matta, De Castro (1979, p. 4-6), ao estudarem as sociedades indíge-
nas do Brasil, verificaram que a noção de pessoa está atrelada à produção física,
que é um grande instrumento para analisar a experiência social e oferecer sig-
nificado à existência.

Nesse contexto, ao escolher determinada vestimenta, o indivíduo está cons-


tantemente se inserindo e se excluindo dos diversos grupos sociais, culturais
ou profissionais. Logo, os indivíduos usam o vestuário como diferenciação
simbólica com outras identidades profissionais, níveis sociais e estilo de vida.
Fonte: Godart (2010) e Jones (2010).

IDENTIDADE, CULTURA E CONSUMO


87

Essa produção física, atualmente, em nossa sociedade capitalista, ocorre quando


iremos trabalhar. Ao levantar de manhã, um funcionário da empresa de coleta
de lixo possui seu uniforme da prefeitura local e o veste. Ao colocar esse uni-
forme esse homem vai aos poucos pensando no itinerário de lixo que fará, liga
o rádio e escuta as principais notícias para elaborar algum desvio de alguma
obra. Quando chega ao local de serviço cumprimenta seus colegas de trabalho
e os trata com cortesia.
Após 8 horas de trabalho, ele retorna a sua casa e como depois tem um jogo
de futebol com os colegas da escola, troca novamente de roupa e coloca seu cal-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

ção e a sua camisa do time preferido. Lá no campo, age de forma diferente, com
uma linguagem mais informal, e mostra outras habilidades corporais. Após o
jogo, retorna a sua casa e tem um outro papel social, agora de pai e marido zeloso.

Prezado(a) aluno(a), percebeu que esse funcionário possui diversos papéis e


status ao longo de seu dia?

Essas posições que as pessoas ocupam ao longo do tempo são funda-


mentais para o funcionamento da sociedade, estabelecem conexões en-
tre os indivíduos, determinam como irão se relacionar. Podemos afir-
mar que as relações sociais são estabelecidas a partir de posições sociais
[...]. Denominamos “status” a essa posição que um indivíduo ocupa na
sociedade (DIAS, 2010, p. 119).

Dias (2010) nos auxilia na compreensão do conceito de status. Esse termo significa
para os cientistas sociais qualquer posição social na sociedade, independente-
mente do prestígio que ela simboliza. Além disso, os status podem ser atribuídos
ou adquiridos.
Os status adquiridos são aqueles obtidos por meio do esforço, capacidade
ou escolha individual como pai, mãe, delegado, professor, cantor, escritor. Já os
status atribuídos, o indivíduo o possui independente de sua escolha como sexo,
idade, filho, irmão, etnia, raça, nacionalidade, parentesco... (DIAS, 2010, p. 121).

A Noção do Eu
88 UNIDADE III

Em uma faculdade, por exemplo, existem diversos status na instituição como


o reitor, diretor, acadêmico, professor. Cada status ou posição social acompanha
um papel social. Vejamos sobre os papéis sociais:
Através do processo de socialização, os indivíduos aprendem sobre
os papéis sociais – expectativas socialmente definidas que uma pes-
soa segue numa dada posição social. O papel social de “médico”, por
exemplo, agrupa um conjunto de comportamentos que deveriam ser
representados por todos os médicos individualmente, sem levar em
consideração suas opiniões ou perspectivas sociais. Visto que todos os
médicos dividem esse papel, é possível falar em termos gerais sobre

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
o papel profissional dos médicos, independentemente dos indivíduos
específicos que ocupam as posições (GIDDENS, 2005, p. 43).

Prezado(a) aluno(a), os papéis sociais são os direitos, obrigações e expectati-


vas sociais. Nada mais é que o comportamento esperado de uma pessoa que
detém certa posição social. “Caso o ocupante de um determinado status não
cumpra o papel esperado pela sociedade, esta possui meios para puni-lo”
(DIAS, 2010, p. 125).

Caro(a) aluno(a) você deve estar se perguntando se esse papel se parece


com os papéis de atores em novelas ou filmes? Isso mesmo, você está
corretíssimo(a)!

O papel, no sentido que se usa no teatro, é uma representação de um per-


sonagem e está vinculado às nossas funções sociais. “Trata-se, portanto, de
um script de natureza social que deve orientar o comportamento individual”
(COSTA, 2010, p. 286).
Temos de compreender que o elemento básico das interações e do de-
sempenho dos papéis sociais é a comunicação em todas as suas lingua-
gens - verbal, gestual, facial, corporal -, e que para cada um dos papéis
há falas que constituem verdadeiros atos (COSTA, 2010, p. 289).

IDENTIDADE, CULTURA E CONSUMO


89

É necessário observar que a percepção do eu recebe influência do contexto que


está ligado aos papéis desempenhados e aos cerimoniais no mundo social. Essas
máscaras podem ser interpretadas atualmente como todos os acessórios que uti-
lizamos em nosso corpo, como roupas, tatuagens, sapatos, e podem comunicar
para as outras pessoas em nossa sociedade nossas preferências. Se praticamos
esportes, nota-se por exibirmos um corpo sarado; se gostamos de um estilo
musical, pelo corte de cabelo; se estamos de uniforme, qual é o tipo do nosso
trabalho. Vejamos outros conceitos e como estão relacionados.
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OS OBJETOS E OS CICLOS DE VIDA

O corpo é educado em sociedade e a pessoa tende a seguir e querer o mesmo


que seu grupo. Cada sociedade define o que, como, quando e quanto fazer
uso do corpo. Os gestos, expressões, movimentos, exibição e marcas dos
corpos, regulados pelos costumes da época, ampliam a análise dos objetos,
além de uma possível identificação do ciclo de vida (GOLDENBERG, 2007;
GOLDMAN, 1996; MAUSS, 1974).

Os Objetos e os Ciclos de Vida


90 UNIDADE III

Sobre isso, Hoebel e Frost (1976) se referem aos shoshones e outros povos da
planície colombiana. Uma menina, conforme sua cultura, ao menstruar, perma-
nece um tempo reclusa, ocupada com afazeres “de mulher” para que não fique
preguiçosa para o resto da vida. Após esse processo, recebe um novo vestuário,
um vestuário de mulher.
Prezado(a) aluno(a), observe que esse vestuário significa o ciclo de vida nessa
determinada cultura. Logo, a jovem deixa de ser criança e passa a ser, agir e pare-
cer adulta, e uma das provas são a mudança de seu corpo, que passa a ser vestido
por um vestuário considerado adequado para uma mulher, esse vestuário além

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de ritualizar essa nova fase do ciclo de vida, representa seu novo papel social.
De fato, a vida consiste numa sucessão de etapas, a saber, nascimento, puber-
dade social, casamento, paternidade/maternidade, progressão de grupo social,
especialização de ocupação e morte. Algumas dessas etapas da vida são relacio-
nadas com cerimônias que passam a pessoa de uma situação a outra, igualmente
determinada (VAN GENNEP, 1977).
Diante disso, ao longo da vida do indivíduo, ele recebe status de criança,
jovem ou adulto. Ao passar pelo casamento, a moça passa a ser uma mulher
casada, considerada na idade adulta, ao mesmo tempo em que ocorre a mudança
de seu vestuário.

Miller (2013) ilustra o caso da mulher indiana e seu sári, ela o veste após o
período escolar com cerca de dezessete anos na cerimônia “despedida da
escola”. Ao aprender a usá-lo, marca uma mudança na percepção a respeito
da própria idade; há um sentimento de se tornar adulta, com todas as novas
liberdades, capacidades e medos que isso implica. Ambos são acontecimen-
tos públicos e a competência da pessoa - ou a falta dela - está aberta ao
exame e à crítica de terceiros.
Fonte: adaptado de Miller (2013)

IDENTIDADE, CULTURA E CONSUMO


91

Como afirma Peirano (2002), esses rituais são eventos considerados especiais,
ressaltam uma sequência repetida, formalizada e convencional, e servem para
entender os valores pensados e vividos.
Nas sociedades em que as idades e as ocupações dos indivíduos estão
relacionadas, ao longo da vida de um indivíduo, muitas dessas passagens são
acompanhadas por cerimônias. O ritual é uma oportunidade para afirmar e
renovar os significados da ordem cultural, e sob a forma do rito de passagem,
é usado para mover um indivíduo de uma categoria cultural para outra (VAN
GENNEP, 1977; MCCRACKEN, 2003). Portanto, os rituais marcam a vida em
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

sociedade, uma vez que fixam significados, acontecimentos pertinentes à cons-


trução da pessoa (DOUGLAS; ISHERWOOD, 2004).
Um desses rituais, caro(a) aluno(a), é o casamento. O casamento prepara a
mudança da situação social da noiva ou noivo para uma nova fase de sua vida,
uma etapa determinada em sociedade, com os futuros papéis sociais de esposa
e mãe, marido e pai, respectivamente; e ao mesmo tempo comemora a ascen-
são social da mulher e o seu prestígio adquirido (ARANHA; MARTINS, 2005).

Ao longo dos séculos, o vestuário branco transmitia alegria e solenidade,


mas, principalmente, a partir do século XIX o branco na formalidade festi-
va do casamento vincula a mulher a virgindade, com seu estado de pureza
(HARVEY, 2003).
Já segundo Ambrose e Harris (2009), o branco no ocidente é relacionado
com a bondade, pureza, limpeza, simplicidade e costuma estar presente nas
noivas, e relaciona-se também aos aspectos celestiais. No Oriente, por outro
lado, a cor é reconhecida como a cor do luto, associada à morte.
Fonte: adaptado de Harvey (2010) e Ambrose e Harris (2009).

Os Objetos e os Ciclos de Vida


92 UNIDADE III

Conforme Carvalho e Pereira (2013), a importância do casamento, tanto para a


mulher quanto para o homem, está vinculada à celebração da mudança na fase
da vida, mas está associada principalmente ao universo feminino.
Caro(a) aluno(a), pode-se dizer que o casamento é centralizado na mulher,
determinando a alteração em seu estado civil e de sua condição. Por esse viés,
a passagem de solteira para casada é evidenciada pelo seu vestido de noiva, ele-
mento central desse ritual. Como analisamos, certos bens são necessários para
a realização dos variados papéis sociais, como ser uma mulher, uma pessoa de
meia idade ou qual sua profissão. Logo, os grupos podem ser delineados não

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
apenas pela posição social, mas pelos ciclos de vida. Por esse lado, as mudanças
no vestuário marcaram algumas fases da vida de muitas mulheres, para se sen-
tirem integradas e aceitas em diversos grupos já definidos socialmente.

IDENTIDADE, CULTURA E CONSUMO


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Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

O CONSUMO DA CONTEMPORANEIDADE

Um dos autores responsáveis pela difusão de consumo conspícuo foi Thornstein


Veblen (1980) com seus relatos sobre a exibição competitiva da classe ociosa. O
consumo para o autor seria explicado pela emulação das classes inferiores e as
classes mais favorecidas ou ociosas.
No entanto, podemos observar uma ideia muito mais rica de significados
sociais com relação ao tema abordado. O foco desse estudo são algumas teo-
rias sobre o consumo, que podem ser identificadas como um processo social
que ocorre antes e durante a compra, até o descarte da mercadoria, e que dizem
respeito às dimensões da vida social. Daniel Miller (2013), Grant McCracken
(2003), Mary Douglas e Baron Isherwood (2004) abordam a sociedade de con-
sumo ou o próprio consumo não pela discussão pós-moderna, mas pelas razões
que levam as pessoas a consumirem.
É sobre a atividade que você executa quase todos os dias com o intuito
de obter mercadorias para as pessoas pelas quais você é responsável - as
mercadorias que você e elas comem, vestem e empregam em uma va-
riedade de tarefas. Então reflita por alguns instantes sobre as compras
que você fez na última semana (MILLER, 2007b, p. 18).

O Consumo da Contemporaneidade
94 UNIDADE III

Nessa abordagem o autor destaca como as atividades mais corriqueiras podem


expressar um conhecimento mais profundo sobre as pessoas, suas intenções e o
que comunicam em suas relações com os outros familiares.

Pense quantas vezes foi ao mercado essa semana. Veja a sua lista de com-
pras e se nela consta pequenos “regalos” para algum parente próximo.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Diferente do consumidor passivo, inserido no consumo de massa ou na produção
em massa, estudamos o consumidor ativo, com identidade coletiva e individual,
associado a estilos de vida presentes na contemporaneidade. É interessante des-
tacar, sobretudo, as discussões frequentes sobre os sinais e símbolos que ajudam
a ligar o consumo com a identidade das pessoas, como a criação de subculturas;
e, além disso, destacar como a cultura material separa diversos grupos sociais
(TRENTMANN, 2005).
A cultura material consiste em coisas materiais, incluindo artefatos, ins-
trumentos gerados pelos homens. “Abrange produtos concretos, técnicas,
construções, normas e costumes que regulam o seu emprego” (MARCONI;
PRESOTTO, 2011, p. 26).
Notamos que esse mundo material (artefatos, mercadorias ou objetos) faz
parte da vida social e é componente de qualquer sociedade humana (MILLER,
2007b, p. 47; MILLER, 2013; SLATER, 2002, p. 104; VIANNA, RIBEIRO, 2009).

IDENTIDADE, CULTURA E CONSUMO


95

Considerar o vestuário como cultura material, por exemplo, é explorar os di-


versos aspectos como os gostos e as preferências, levando em conta a pró-
pria visibilidade do sujeito. Permite, ainda, que se estabeleçam distinções
sociais intermediadas ou influenciadas pelo seu uso em cada contexto.
Fonte: as autoras.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Nesse sentido, os objetos ou as coisas ganham uma nova abordagem pela


Antropologia ao serem estudados como cultura material. O objetivo deste estudo
é analisar qualquer objeto que faça parte do cotidiano em sua totalidade, ou seja,
nos aspectos materiais, simbólicos, sociais e culturais.
Prezado(a) aluno(a), em nossa sociedade de consumo contemporânea, rea-
lizar trocas de “presentinhos” e compras do cotidiano também nos possibilita
comunicar nossa identidade perante a sociedade e as pessoas que amamos. A
identidade possui diferentes abordagens teóricas, mas podemos sintetizar e dizer
que a identidade envolve características de um indivíduo ou de um grupo de
acordo com o que são e o que é significativo para eles.

Algumas das principais fontes de identidade são o gênero, orientação sexu-


al, nacionalidade, etnia e grupos sociais que se relacionam. Um importante
aspecto é o nome dado a esse indivíduo ou o nome do grupo que pertence
sua identidade
Fonte: GIDDENS (2005).

Podemos acrescentar que nossos objetos também são um “elo simbólico com o
dono ou com os relacionamentos envolvidos em sua aquisição e materializam a
identidade social” (MILLER, 2007b, p. 145).

O Consumo da Contemporaneidade
96 UNIDADE III

Cabe explicar que a noção de identidade social abordada no trabalho parte


dos estudos de Giddens (2005), o qual define identidade social como o que
os outros indivíduos atribuem à pessoa.
Fonte: as autoras.

Uma manifestação atual importante, e que gira em torno da identidade

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
social é a condição física das pessoas. O comentário “você está mais
magro” tem um valor importante em determinadas faixas de status na
sociedade brasileira. Na verdade, a identidade social está sempre asso-
ciada à identificação com um grupo particular e à diferenciação com
outros grupos. O fato de o indivíduo querer ser mais magro é querer
se identificar com um determinado grupo que é mais bem aceito na
sociedade em que vive. [...] Desse modo, o processo de formação da
identidade social tem dois momentos importantes: o primeiro é a dife-
renciação do grupo mais geral e o segundo momento é a procura pelos
semelhantes que constituirão um grupo, o qual se identificará como tal
perante os outros (DIAS, 2010, p. 111).

Este estudo relaciona as máscaras sociais que vimos no começo com a identi-
dade. Observe, caro(a) aluno(a), que os objetos que nos rodeiam também podem
ser pensados como máscaras ou utensílios para reforçar nossos papéis sociais e
a construir quem nós somos.
A sensação de ser verdadeiramente a entidade ou a personagem, vivida
pelo xamã ou pelo ator durante o ritual ou espetáculo teatral, é o que
chamamos de identidade, ou seja, uma sensação de completude em re-
lação a alguma coisa que vem a somar àquilo que nós somos, nossa vida
pessoal e social está cheia desses momentos em que incorporamos per-
sonagens. São os chamados papéis sociais [...] (COSTA, 2010, p. 286).

Dessa forma, os bens comunicam de forma física e visível os valores de quem


os escolheu. O conjunto de significados dos bens é lido por aqueles que conhe-
cem os códigos e interpretam os sinais dentro de sua própria cultura, em outras
palavras, transmitem significados dentro do próprio grupo, cujos valores são
conhecidos por eles (DOUGLAS; ISHERWOOD, 2004).

IDENTIDADE, CULTURA E CONSUMO


97

A mudança fundamental no século XX foi marcada pelo fato de que o con-


sumidor absorveu diversas práticas de consumo, como hábitos cotidianos
com a voz repercutida na sociedade, o que acarretou no desenvolvimento
de noções comuns de ética, cidadania e solidariedade social.
Fonte: TRENTMAMM (2005).
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Esqueçamos que as mercadorias são boas para comer, vestir e abrigar;


esqueçamos sua utilidade e tentemos em seu lugar a ideia de que as
mercadorias são boas para pensar: tratemô-las como um meio não-
-verbal para a faculdade humana de criar (DOUGLAS; ISHERWOOD,
2004, p. 108).

A citação nos faz refletir que o consumo de bens faz parte do sistema social por
meio da criação de vínculos entre o indivíduo e seu grupo. A prática de com-
prar é geralmente de um sujeito para outro, pode ser para uma namorada, por
exemplo. Quando se gasta dinheiro com presentes, certamente há o consumo
de outras fontes de recursos, como tempo (procura, gosto, aprovação) e dedica-
ção para escolher o melhor.
Nesse sentido, Miller (2007b) conceitua o ato de comprar como sendo inti-
mamente ligado ao amor, fundamento ideológico para as complexas relações
entre os membros da mesma moradia, uma vez que “[...] suas compras são tele-
guiadas pelo que você acha dos outros, pelo que você acha que eles querem de
você e como reagem a você. É sobre relacionamento com quem tem importân-
cia” (MILLER, 2007b, p. 18).
Com base nesses pressupostos, prezado(a) aluno(a), Douglas e Isherwood
(2004, p. 26) afirmam que os bens são materiais mediadores no processo de
comunicação. Alguns exemplos trazidos pelos autores são a comida, hospitali-
dade, flores e roupas, que sinalizam alegrias; ou, em outras vezes, vestes de luto
para compartilhar a tristeza nas relações sociais. Dentro do tempo e dos espa-
ços disponíveis, o indivíduo usa o consumo para dizer algo sobre si, sua família,
sua localidade e suas preferências.

O Consumo da Contemporaneidade
98 UNIDADE III

Nesse contexto, os objetos possuem, além de uma utilidade designada pelas


empresas que os criaram ou que os comercializam, um universo simbólico inter-
pretado dentro de sua cultura. Em outras palavras, a Antropologia estuda como
as pessoas ressignificam as coisas e como os objetos podem manifestar distinções
sociais, poder, privilégio, amor entre outros significados.
Miller (2013, p. 215) nos elucida que, ao estudar o papel dos objetos, controla-
mos como nos despedimos ou guardamos os objetos deixados por um ente querido
que faleceu. Guardar a memória e os objetos da família é uma função principal-
mente feminina, pois as mulheres são as guardiãs do afeto, dos relacionamentos,

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
e, desde pequenas, mais vinculadas à delicadeza, ao afeto e aos valores familiares.

A Antropologia é algo construído, cuja análise não deve ser elaborada como
uma ciência experimental em busca de leis, mas como uma ciência inter-
pretativa em busca de significados, os quais estão intrínsecos dentro de um
grupo social. Define o objeto da antropologia como interesse nas formas
simbólicas na vida humana orientadas por outros. “O homem precisa de
símbolos para encontrar apoio no mundo e que sem tais padrões culturais
estaria no caos de atos e emoções”.
Para compreender essa análise antropológica, deve-se compreender o que
os antropólogos fazem: a etnografia. Praticar a etnografia é estabelecer re-
lações, selecionar informantes, transcrever textos, levantar genealogias, ma-
pear campos, manter um diário, dentre outras atividades, as quais requerem
um esforço intelectual específico que consiste na descrição densa.
Fonte: adaptado de Geertz (1989).

Prezado(a) acadêmico(a), por outro lado, Miller (2013, p. 145) acrescenta que
ao cortar relações com outras pessoas, são descartados os objetos que as lem-
bram. Logo, se as mulheres em algum momento quiserem se desvincular de uma
amizade ou casamento, supostamente não irão querer os objetos que lembrem
essa relação. Isso se dará pelo descarte dos objetos que lembram a amizade e os
momentos passados juntos.

IDENTIDADE, CULTURA E CONSUMO


99

Dentro dessa perspectiva, os objetos que a pessoa possui “criam um resíduo


tangível do passado, do presente e possivelmente antecipam o desenvolvimento
de uma identidade futura” (DOUGLAS; ISHERWOOD, 2004, p. 24).
Nesse aspecto, o vestuário, por exemplo, auxilia as mulheres a lembrarem
de seu cotidiano e história, bem como a construírem a noção do eu e a sua iden-
tidade social, como quando guardam o vestido de noiva, por exemplo. Assim
como nos lembra Perrot (1989), “a memória da mulher é trajada”.
Ademais, o vestuário está entre os pertences mais individuais. É justamente
por isso que se entende que mulheres passaram grande parte de seu tempo se
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

arrumando, preocupadas com a aparência, pois é essa aparência que as definem


e dizem quem elas são realmente (MILLER, 2013).
Nesse sentido, somos ainda sujeitos de múltiplas identidades e muito mutá-
veis, somos o que possuímos. É por meio de nossos gostos que descobrimos
quem somos. O consumo é uma das possíveis soluções dessa busca de identi-
dade (BARBOSA, 2004).
Em suma, caro(a) aluno(a), “os bens são neutros, mas seus usos são sociais;
podem ser usados como cercas ou pontes” (DOUGLAS e ISHERWOOD, 2004,
p. 36). A pobreza, por exemplo, vista geralmente pela carência de posses, falta
de renda e inveja, é abordada pelos autores como a falta de laços que o indi-
víduo tem com a sociedade, pela carência de envolvimento social. Em outras
palavras, para conceituar a pobreza, os autores mostram que a falta de convívio
social pode funcionar como uma cerca entre os indivíduos, ou seja, não há esta-
belecimento de laços entre eles.
Portanto, a sociedade contemporânea não se tornou devota de objetos,
mas sente dificuldade em admitir que os sujeitos tenham seus relacionamen-
tos mediados por esses objetos e, mais ainda, que fazem parte do indivíduo
(MILLER, 2007a).
Os significados do consumo mostram uma intensa relação entre consumo
e cultura na sociedade contemporânea. O ato de consumir é ativo, constante,
define práticas sociais e remete a um sistema de classificação do mundo a par-
tir do indivíduo. Como ficou exposto, o estudo dos objetos pela Antropologia
busca os significados intrínsecos nas compras, os valores associados a tais práti-
cas e a sua função de dar sentido em suas relações ou em sua identidade social.

O Consumo da Contemporaneidade
100 UNIDADE III

Prezado(a) aluno(a), esperamos que pense a respeito dessa nova abordagem:


o consumo faz parte da vida social. Os rituais usam os bens como acessórios
e como marcas de amizades para complementar os acontecimentos, principal-
mente aqueles que representam os ciclos da vida, os rituais e a nossa identidade.
Portanto, o estudo das coisas do indivíduo não é superficial, faz parte de sua
própria essência, como uma extensão do próprio sujeito. Os objetos que consumi-
mos, trocamos e guardamos também fazem da humanidade o que ela pensa ser.
Acreditamos que com essas informações preliminares você esteja pronto(a)
para continuar os estudos sobre cultura, identidade e consumo de modo mais

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
aprofundado.

IDENTIDADE, CULTURA E CONSUMO


101

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Caro(a) aluno(a), essa unidade teve como objetivo, a partir da noção de pessoa,
sociedade e consumo, direcioná-lo(a) a uma reflexão mais rica sobre as nossas
coisas. Assim, entendemos o consumo abordado como sendo parte do sistema
social, que ocorre por meio da criação de vínculos e relações de identidades.
Portanto, a noção de pessoa e o lugar do corpo humano, na visão que a sociedade
faz de si mesma, auxilia na compreensão do social. Vimos o casamento como
exemplo, este marca a trajetória do indivíduo, principalmente das mulheres. A
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

preocupação com sua aparência, associada ao vestido de noiva, é elemento do


ritual que representa a passagem do universo familiar, de solteira, para os futu-
ros papéis sociais de esposa e mãe.
Buscou-se analisar o vestuário, como os demais objetos, como elemento para
a produção de si, pois estes diferenciam as pessoas em suas respectivas fases da
vida e as fazem pertencer a diferentes grupos sociais. Além disso, essas aparências
são construídas com base nos papéis sociais definidos previamente pela socie-
dade. Diferentemente da perspectiva do consumo exibicionista ou conspícuo,
fizemos uma reflexão sobre como os objetos e as nossas compras são importantes
em nossas vidas, como nos auxiliam na construção de quem somos e interferem
na maneira que os outros nos veem.
Observamos que, em nossa identidade, articulamos, ao mesmo tempo, nosso
mundo interior e pessoal ou a noção do eu com o mundo exterior à nossa volta
ou a nossa sociedade. De certo, nossa identidade é construída na medida em
que nos relacionamos com os outros, em diversos contextos, e tais relações são
mediadas pelos objetos. Comunicamos ao outro quem nós somos, e mais ainda,
comunicamos nossas mais profundas emoções, como amor, ao presentear alguém
ou ao guardar um simples papel que nos faz lembrar de uma pessoa. Essas rela-
ções também podem ser de oposição e conflito, e ocorrem com muita rapidez
e flexibilidade. Nossas coisas são um prolongamento de nossa identidade e do
lugar que ocupamos na sociedade.

Considerações Finais
102

O MUNDO DOS BENS, VINTE ANOS DEPOIS


A partir do anúncio da reedição de seu livro O Mundo dos Bens, publicado originalmente
em 1979, a autora faz uma reflexão do contexto intelectual em que sua obra foi fundamen-
tada. Ela discute as bases da importância do estudo do consumo para a economia e para a
antropologia, ao salientar que isso pode contribuir para alcançar o projeto de “totalidade”
dos fenômenos sociais, na perspectiva de Marcel Mauss – autor que teve grande influên-
cia para O Mundo dos Bens. O artigo ainda mostra trabalhos e debates clássicos sobre o
tema das trocas que contribuíram para as reflexões desenvolvidas no livro. É retomado o
argumento de que a pobreza deve ser entendida como um processo de exclusão de in-
formação e, nesse sentido, a autora expõe porque o estudo sobre o consumo é de grande
valia para a antropologia.
[...] O tema central do livro é que pobreza não pode ser definida pela ausência de ri-
queza. O livro tentava fazer uma aliança entre a antropologia e a ciência econômica,
ao sugerir uma definição de rede social de pobreza. O ponto de vista do antropólogo é
de que as coisas cuja posse significa riqueza não são necessárias por elas mesmas, mas
pelas relações sociais que elas sustentam. A pobreza é culturalmente definida, não por
um inventário de objetos, mas por um padrão de exclusões, geralmente bastante siste-
máticas.
[...] Pobreza é uma questão de como as pessoas tratam umas às outras, e isso precisa
de um enquadramento sociológico. Parece haver um tipo de incapacidade profissio-
nal. Muito é dito sobre comunicação, mas sempre sobre indivíduos comunicando: uma
inabilidade de contemplar a cultura como um processo dinâmico feito por indivíduos
interagindo.
Em O Mundo dos Bens a autora havia colocado algumas reflexões ao descrever os servi-
ços de consumo que as pessoas estendem umas às outras, ao aparecer em visitas hos-
pitalares, casamentos, funerais, os quais, todos, demandam tempo e presentes. Quanto
tempo você gasta viajando, quanto perto do seu trabalho, trabalhando em casa, quanto
tempo no campo de golfe ou na igreja, e quanto você ganha? O quão dispersos são
os membros da sua família que esperam que você seja disponível? Existe um aspecto
importante do tempo, que eu chamei de periodicidade. Significa não necessariamente
trabalhar duro, mas estar preso a um certo espaço.
Para concluir, a autora faz uma reclamação contra as ciências sociais em geral, não unica-
mente contra a ciência econômica, é sua falha em olhar para fatores macrossociais. Ter de-
senhado a pessoa humana como algo isolado estragou os planos. Por outro lado, a ciência
econômica tem o modelo abstrato simplificado de processos sociais que costumava acei-
tar. Ela está no caminho adequado para realizar o que seria necessário para um diálogo
proveitoso com os antropólogos. Precisamos de uma definição de pobreza em termos de
exclusão da informação. Provavelmente não necessitamos de uma definição de consumo,
mas realmente precisamos de uma teoria informativa da circulação de pessoas e bens.
Fonte: DOUGLAS (2007).
103

1. Ao colocar a máscara, o xamã permite que o espírito da divindade representado


por ela assuma seu corpo e suas ações e empreste seu poder para aquilo que al-
meja realizar em um ritual. Na sociedade atual, o ator quando utiliza uma másca-
ra, incorpora a personagem que ele representa (COSTA, 2010, p. 282). Em ambos
os usos, é correto afirmar sobre a máscara:
a) É um ser que se manifesta por meio do corpo e da ação do ator.
b) Usamos para persuadir as pessoas que estamos sendo falsos na vida.
c) Não se pode relacionar seu uso com a identidade social.
d) Utilizamos para atuarmos na sociedade pós-moderna de modo incoerente.
e) É necessária para que possamos interagir na sociedade para sermos pouco
convincentes por meio de gestos e mensagens.
2. Uma das principais características ao desempenhar o papel social de um pro-
fissional é trabalho em equipe. O profissional que pensa que pode sentar-se à
sua mesa e trabalhar sozinho, fazendo suas tarefas, sem se importar sobre como
estão indo as tarefas dos demais, possui o perfil do profissional egoísta e indivi-
dualista que está sendo descartado pelas empresas.
Se você somente pensa em cumprir o seu papel, independente do que está
acontecendo na empresa, pode ser o atual responsável pela ruína desta sem ao
menos saber disso! É necessário compreender não somente a sua tarefa, mas
os produtos e serviços da empresa como um todo, preocupando-se com como
cada parte relaciona-se com as demais.
Fonte: Dez características do profissional de sucesso. Disponível em: <http://
www.gigamundo.com/dez-caracteristicas-do-profissional-de-sucesso/>.
Após a leitura do texto apresentado, que nos propõe uma relação do trabalho em
equipe com a identidade e o papel do profissional na atualidade, assinale a alter-
nativa correta:
a) O relacionamento interpessoal também constrói a identidade social.
b) O relacionamento intrapessoal não constrói o sujeito atual.
c) O interacionismo simbólico pouco contribui para o profissional.
d) O papel social é apenas uma máscara social usada no trabalho.
e) Atualmente conciliam-se os diversos papéis sociais sem conflitos.
104

3. Diversos estudos sociológicos afirmam que a relação com o outro é uma das
bases para a construção de nossa identidade (COSTA, 2010). Assinale qual al-
ternativa possui os conceitos que auxiliam nessa construção da identidade:
a) Nossa identidade leva em consideração as preferências e a desorientação
sexual.
b) A sociedade se tornou mais complexa após a globalização e diminuiu os
grupos sociais.
c) Está ligada na interação do público e do privado, do mundo interior com o
mundo exterior.
d) A globalização fez com que nossas identidades se tornassem unifacetadas e
conectadas.
e) A identidade leva em consideração apenas nosso papel social familiar e pro-
fissional desconexos com a globalização.
4. Miller (2013, p. 215) nos elucida que, ao estudar o papel dos objetos, contro-
lamos como nos despedimos ou guardamos os objetos deixados por um ente
querido que faleceu Guardar a memória e os objetos da família é uma função
principalmente feminina, pois as mulheres são as guardiãs do afeto, dos rela-
cionamentos, são, desde pequenas, mais vinculadas à delicadeza, ao afeto e aos
valores familiares e esses elementos entre outros, constituem sua identidade. A
partir da leitura do texto, assinale a alternativa correta:
a) As aparências são construídas com base nos papéis sociais definidos previa-
mente pela sociedade.
b) A visão do consumo exibicionista ou conspícuo explica a identidade na atu-
alidade pela Antropologia.
c) Nossos objetos pouco contribuem para mostrar a nossa sociedade quem nós
somos, nossos gostos e preferências.
d) As compras são um exemplo de como o vestuário não faz parte da análise das
Ciências Sociais sobre a identidade.
e) A identidade leva em consideração fatores estudados nas sociedade primiti-
vas, longe da globalização.
105

5. Douglas e Isherwood (2004, p. 26) afirmam que os bens são materiais mediado-
res no processo de comunicação. Um dos exemplos trazidos pelos autores são
a comida, hospitalidade, flores e roupas, que sinalizam alegrias; ou, em outras
vezes, vestes de luto para compartilhar a tristeza nas relações sociais. Após essa
leitura, é correto afirmar que:
a) Os pertences de uma pessoa pouco contribuem para contar ao outro quem
ela é.
b) Nossos objetos comunicam constantemente quem somos, os grupos que
pertencemos ou desejamos pertencer.
c) Os alimentos que ingerimos estão deslocados dos fatores culturais, visto que
nos alimentamos para nossa sobrevivência.
d) As flores na cultura nacional simbolizam ora amor, ora perdão, principalmen-
te entre os namorados, e não são utilizadas em funerais.
e) Os bens possuem significados fixos dentro de cada cultura. Uma roupa preta
sempre comunica que a pessoa está em luto.
MATERIAL COMPLEMENTAR

Trecos, troços e coisas: estudos antropológicos sobre a


cultura material
Daniel Miller
Editora: Zahar
Sinopse: O livro apresenta o estudo da cultura material na esperança de demonstrar que uma
análise mais profunda sobre os artefatos leva a uma compreensão mais profunda das próprias
pessoas. Os temas abordados são variados: desde a indumentária em Trinidad, o sári indiano,
até uma interpretação do vestuário londrino. Retrata ainda as relações entre tipos de moradia e
formas de poder e uma síntese das teorias sobre as nossas coisas ou objetos.

O diabo veste Prada - 2006


Nesse filme estrelado por Meryl Streep, a atriz interpreta Miranda,
personagem que está a frente da Revista Runway. A chefe humilha todos
a sua volta no mundo Fashion. Quando sua vida encontra Andrea, sua
assistente, observamos a riqueza de detalhes que envolvem o universo
profissional, os bastidores e os holofotes da indústria da moda e como
o vestuário comunica a identidade tanto profissional quanto pessoal de
cada personagem.

Daspu
Segundo Hilaine Yaccoub o consumo vai muito além da mera aquisição de bens. É um processo
social que nos identifica no mundo por meio de classificações que estabelecemos por intermédio
de expressões de gosto e estilo de vida. Através da cultura material e imaterial podemos avaliar
uns aos outros de acordo com nossas escolhas, pois por meio delas enviamos mensagens. Nesse
site na parte das publicações, caro(a) aluno(a), você encontra diversas pesquisas como a da marca
Daspu. Vale a pena conferir!
Para saber mais, acesse o link disponível em: <http://hilaineyaccoub.com.br/
antropologia-do-consumo-2/>.

Teias do Consumo
Hilaine Yaccoub ainda possui um blog chamado “teias do consumo” com o resumo de
diversos livros na área e com críticas interessantes. Leitura obrigatória para os acadêmicos em
Antropologia.
Para saber mais, acesse o link disponível em: <http://teiasdoconsumo.blogspot.com.br/2009/04/
uma-aula-de-consumo.html>.
107
REFERÊNCIAS

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ral. Niterói: Ed. UFF, 2008.
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DOUGLAS, M.; ISHERWOOD, B. O mundo dos bens: uma antropologia do consumo.
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GEERTZ, C. A interpretação das culturas. Rio de Janeiro: LTC, 1989.
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GODART, F. Sociologia da moda. São Paulo: Senac São Paulo, 2010.
GOLDENBERG, M. O corpo como capital: estudos sobre gênero, sexualidade e
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Revista de Antropologia. São Paulo, v. 39, n. 1, p. 83-109, 1996.
HARVEY, J. Homens de preto. São Paulo, UNESP, 2010.
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MARCONI, M. A.; PRESOTTO, Z. M. N. Antropologia: uma introdução. São Paulo:
Atlas, 2011.
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www.revistas.usp.br/ra/article/viewFile/27343/29115> Acesso em: 25 abr. 2017.
109
GABARITO

1. A.
2. A.
3. C.
4. A.
5. B.
Professora Me. Patrícia Rodrigues da Silva

SIMBOLISMO NAS

IV
UNIDADE
ORGANIZAÇÕES

Objetivos de Aprendizagem
■■ Conhecer os elementos da cultura organizacional.
■■ Apresentar a perspectiva simbólica para estudo da cultura
organizacional.
■■ Compreender as organizações como um conjunto de construções
metafóricas da realidade.

Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■■ Cultura organizacional
■■ Organizações vistas como sistemas simbólicos
■■ Produção de sentidos e representação
113

INTRODUÇÃO

Olá, seja bem-vindo(a)! Na quarta unidade de nosso livro didático, vamos tratar
sobre um assunto que traz à tona evidências que vão além da abordagem fun-
cionalista para os estudos organizacionais, ampliando o escopo de análise das
práticas que acontecem na organização, o simbolismo.
Nesse sentido, iniciaremos as nossas discussões tomando como ponto de par-
tida o entendimento acerca da Cultura Organizacional. Partiremos do pressuposto
de que a cultura organizacional é uma dimensão que precisa ser compreendida
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

em sua totalidade, considerando os seus componentes visíveis e invisíveis. Como


tratado por Saraiva e Carrieri (2007), quando ampliamos as formas de estudo das
organizações, reconhecemos que não existem apenas dimensões formalmente
estabelecidas, mas também, elementos que precisam ser captados, interpretados.
Nesta unidade, teremos uma lente de interpretação para a cultura ampa-
rada no simbolismo. Uma metáfora para estudar e compreender os fenômenos
organizacionais, amparada na dimensão dos significados, ou seja, na natureza
socialmente construída e compartilhada das organizações.
Dessa forma, as organizações serão vistas como sistemas simbólicos com-
postos por representações, sistemas de símbolos criados a partir das percepções
dos indivíduos e dos grupos que compõem a sua estrutura. Trataremos sobre a
produção de sentidos, sobre as interpretações das ações, objetos, situações etc.,
e das representações geradas a partir destas percepções. Estudaremos sobre os
símbolos organizacionais, sobre o poder simbólico, e conheceremos algumas
perspectivas de um dos grandes teóricos sobre o simbolismo, Pierre Bourdieu.
O intuito, caro(a) aluno(a), é levá-lo(a) para além das instâncias formalizadas
e objetivas do meio organizacional, permitindo um “mergulho” nas complexida-
des subjetivas que se passam nas organizações, interpretando-as não como uma
realidade posta, objetiva, mas amparada em percepções, olhares, representações.
Será muito bom passar esse tempo com você! Vamos lá!

Introdução
114 UNIDADE IV

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
CULTURA ORGANIZACIONAL

Caro(a) aluno(a), como tratado na Unidade I, vimos que a cultura tem um signi-
ficado complexo, pois se constitui em sentimentos, sentidos, técnicas, tradições,
costumes, e nas mais diversas formas de comportamento do ser humano, como
indivíduo, e também enquanto integrante de um grupo social.
Vimos ainda que os nossos comportamentos, emoções e sentimentos são
“carregados” da influência de fatores externos, como de nossos espaços sociais,
tipo de trabalho que executamos, pessoas com as quais convivemos etc. É nessa
linha de pensamento que daremos continuidade às discussões propostas nesta
disciplina, buscando compreender os elementos simbólicos que nos rodeiam,
os quais compartilhamos, e como no mundo das organizações estes símbolos
ganham vida e passam a constituir a cultura organizacional.
A cultura organizacional se constitui em um todo complexo e dinâmico.
Frente às inúmeras definições existentes para a cultura organizacional, é um
grande desafio escolher uma única que abarque todo o seu sentido, mesmo
assim, vamos a este desafio.

SIMBOLISMO NAS ORGANIZAÇÕES


115

Não podemos confundir cultura organizacional com estrutura organiza-


cional. De acordo com Barbieri (2012), a estrutura define e delimita como as
tarefas estão alocadas e como devem ser coordenadas, levando em conta depar-
tamentalização, especialização do trabalho, cadeia de comando, centralização e
descentralização do controle, tomada de decisão e formalização.
Já a cultura organizacional abarca não só esses elementos, mas também
envolve todos os aspectos implícitos da organização, nos quais, considerando o
propósito dessa unidade, se constitui o simbólico em uma organização. Conforme
abordado por Chiavenato (2004, p. 121), “a cultura organizacional não é algo que
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

se possa tocar”. Assim sendo, enquanto membros de uma organização, “senti-


mos” e percebemos a cultura existente, mas nem sempre ela é “visível aos olhos”.
Entendemos por cultura organizacional o conjunto de elementos que deli-
neiam e permeiam uma organização, sendo compartilhados por seus membros.
Mas de que elementos estamos falando? São as normas, valores, diretrizes, com-
portamentos, regras, manuais, linguagem, formas de comunicação, práticas do
dia a dia etc.
Quando esse tema é mencionado em sala de aula, continuamente escuta-
mos a seguinte fala: “Mas, minha empresa é tão pequena, mesmo assim ela tem
cultura?” Quando a resposta é que sim, que todas as organizações têm cultura; é
comum notar um olhar de: “Como isso é possível? ”. Cabe aqui estender o ques-
tionamento: “Toda organização tem um sistema simbólico?”. A resposta continua
sendo uma afirmativa, caro(a) aluno(a).
É importante que compreendamos que a cultura organizacional e seus ele-
mentos simbólicos envolvem uma série de aspectos que refletem a identidade
da organização. Toda organização tem a sua identidade, ou seja, o seu conjunto
de características que permite que ela seja como é.
Vamos conhecer alguns conceitos de cultura organizacional que se ali-
nham com a perspectiva das discussões aqui propostas. Para Chiavenato (2004,
p. 121), é “[...] conjunto de hábitos e crenças estabelecidos por meio de nor-
mas, valores, atitudes e expectativas compartilhados por todos os membros da
organização. A cultura espelha a mentalidade que predomina na organização”.
De acordo com Barbieri (2012, p. 19), “[...] é uma percepção comum comparti-
lhada pelos membros de uma organização; um sistema de valores compartilhado.

Cultura Organizacional
116 UNIDADE IV

É uma compreensão clara, ou deveria ser, de ‘como as coisas são feitas aqui’”.
Para Johann (2013, p. 153), “[...] é considerada uma espécie de personalidade
coletiva [...], advém da sua interação com o macroambiente, resultando em uma
biografia – ou história de vida”.
Ao nos ampararmos nos conceitos apresentados, podemos dizer que a cul-
tura organizacional forma todo o escopo do comportamento organizacional,
que é constituído pelas práticas, o cotidiano das organizações. Quando falamos
das práticas nos estudos culturais, estas são caracterizadas como representações,
sentimentos, valores, formas de comportamento, relações afetivas etc., de um

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
grupo social. Burke (2005, p. 69) sugere para a análise das práticas uma ênfase
em “[...] mentalidades, suposições e sentimentos e não em ideias ou sistemas de
pensamento”.
Percebe, caro(a) aluno(a), que ao partirmos desta perspectiva antropoló-
gica, interpretativa, para o estudo da cultura, esta se mostra constantemente
dinâmica, visto que as pessoas se transformam todo o tempo? Outrossim, a
aproximação com a antropologia permite o estudo do habitus, da cultura a partir
do comportamento dos sujeitos enquanto membros e determinantes de grupos
sociais. Torna-se possível estudar as representações coletivas dos grupos sociais
(CHARTIER, 1991), e assim compreender o social e o cultural da realidade por
meio da representação - individual e coletiva -, do sentido que é dado pelo sujeito.

Para Bourdieu (2005), habitus corresponde às disposições incorporadas pe-


los sujeitos sociais ao longo de seu processo de socialização, fazendo com
que as ações sociais aconteçam de maneira mecânica, quase que automáti-
ca, regidas por um princípio estruturando as ações, percepções e compor-
tamentos dos sujeitos.
Fonte: Bordieu (2005).

SIMBOLISMO NAS ORGANIZAÇÕES


117

Continuando as nossas discussões, vemos que a cultura organizacional abarca


valores, crenças, percepções, diretrizes, normas e outros elementos que compõem
o todo da organização. Estes elementos tanto influenciam, quanto são influen-
ciados pelos indivíduos que fazem parte deste grande grupo social.
Barbieri (2012) ressalta que a cultura organizacional:
■■ Se torna definidora de fronteiras, criando distinção entre uma organiza-
ção e outras;
■■ Proporciona senso de identidade aos membros da organização;
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

■■ Facilita o comprometimento com a empresa;


■■ Mantém a organização coesa;
■■ Serve como sinalizador de sentido e mecanismo de orientação;
■■ Dá forma às atitudes e comportamentos dos colaboradores.

Como exemplo de elementos da cultura organizacional, a partir das perspecti-


vas de Johann (2013) e Chiavenato (2004), temos:
■■ HISTÓRIAS: contos e histórias orais, contados e recontados entre os
membros, sobre sagas e incidentes dramáticos na vida da organização.
■■ HERÓIS: as pessoas destacadas para atenção especial, cujas realizações
são reconhecidas, louvadas e admiradas pelos membros; incluem os fun-
dadores e os papéis modelares.
■■ CERIMÔNIAS, RITOS e RITUAIS: as solenidades e reuniões, planeja-
das ou espontâneas, que celebram ocasiões importantes e realizações de
desempenho. Reforçam os valores organizacionais, os laços entre os fun-
cionários e o senso de identidade comum.
■■ SÍMBOLOS: o uso especial da linguagem e outras expressões não verbais
para comunicar temas importantes da vida organizacional.

Outro ponto que merece ser mencionado é o de que, simbolicamente, a cul-


tura pode ser explícita e implícita. Neste sentido, Chiavenato (2004) categoriza
os elementos da cultura realizando a analogia do iceberg, apresentada a seguir.

Cultura Organizacional
118 UNIDADE IV

Figura 1: o iceberg da cultura organizacional

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Fonte: Chiavenato (2004, p. 122).

Por meio da análise da figura, notamos a quantidade de elementos implíci-


tos existentes no contexto de uma organização e como estes podem afetar o
seu funcionamento. Quando incorporados pelas pessoas que fazem parte da
organização, estes elementos delineiam e podem até mesmo definir os seus
comportamentos, nos levando ao conceito de habitus, de Pierre Bourdieu, apre-
sentado anteriormente.
Denominamos cultura forte, quando os valores da cultura dominante são
fortemente compartilhados pelos membros da empresa; enquanto na cultura
fraca isso não acontece (BARBIERI, 2012; CHIAVENATO, 2010). Assim, a cul-
tura representa os valores compartilhados pelos membros da organização, levando
à necessidade de avaliar a influência das subculturas na cultura organizacional.
Observamos, assim, que a cultura de uma organização é forte quando o seu
conjunto de valores, normas, procedimentos, paradigmas etc. é compartilhado
entre as pessoas. Em contrapartida, se as pessoas que trabalham na organização
não compartilham de sua cultura, deixando a cultura individual ou do grupo
sobrepô-la, diz-se que a cultura é fraca.

SIMBOLISMO NAS ORGANIZAÇÕES


119

Assim sendo, quando o indivíduo incorpora a cultura de uma organização,


ele tende a agir de maneira específica, de forma automática, ele cria o hábito
dessa ação. “A incorporação progressiva dessas práticas faz com que elas percam
a sua condição de práticas estruturadas e comecem a parecer práticas naturais”
(MARTINO, 2003).
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Os valores, rituais, normas entre outros elementos, delineados pela cultura,


são pertinentes a cada sociedade existente no mundo. Os autores Motta e
Caldas (1997) destacam que, para analisar os valores das organizações bra-
sileiras, é fundamental considerar alguns traços essenciais de nossa cultura.
Para eles são traços brasileiros para um análise organizacional:
Hierarquia: tendência à centralização do poder dentro dos grupos sociais.
Distanciamento nas relações entre diferentes grupos sociais. Passividade e
aceitação por parte dos grupos inferiores. Personalismo: sociedade basea-
da em relações pessoais. Busca de proximidade e afeto nas relações. Pater-
nalismo: domínio moral e econômico. Malandragem: flexibilidade e adap-
tabilidade como meio de navegação social. Jeitinho. Sensualismo: gosto
pelo sensual e pelo exótico nas relações sociais. Aventureiro: mais sonhador
do que disciplinado. Tendência à aversão ao trabalho manual e metódico.
Fonte: adaptado de Motta e Caldas (1997, p. 44).

Agora que conhecemos os elementos que compõem e delineiam a cultura organi-


zacional, caro(a) aluno(a), conheceremos um pouco mais sobre sua perspectiva
simbólica. Continue nos acompanhando nesta caminhada!

Cultura Organizacional
120 UNIDADE IV

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
ORGANIZAÇÕES VISTAS COMO
SISTEMAS SIMBÓLICOS

Vamos aprofundar um pouco mais as nossas discussões, caro(a) aluno(a). A


proposta deste tópico, é “dissecar” um pouco mais o entendimento da cultura
organizacional como um sistema simbólico, para então conseguirmos chegar
bem perto de decifrá-la. Para isso, vamos conhecer alguns conceitos novos, de
autores renomados, que nos auxiliarão nesta jornada de ampliação do conhe-
cimento. Vamos lá?!
Segundo Bourdieu (2011), os sistemas simbólicos são representações de prá-
ticas, formas de funcionamento de grupos ou classes, posições sociais, de modo
que, para aderir ao sistema de símbolos, é necessário partilhar de seus significados.
Dessa forma, caro(a) aluno(a), é preciso que compreendamos duas característi-
cas dos sistemas simbólicos na concepção do autor: (1) estruturas estruturadas;
e (2) estruturas estruturantes.

SIMBOLISMO NAS ORGANIZAÇÕES


121

Enquanto estruturas estruturadas, os sistemas simbólicos se constituem em


instrumento metodológico que permite apreender a lógica específica de cada uma
das formas simbólicas, permitindo isolar a estrutura imanente a cada produção
simbólica. Saussure, fundador dessa tradição, traz como exemplo a língua: “[...]
sistema estruturado que se deve constituir para se explicar a relação constante
entre o som e o sentido” (SAUSSURE apud BOURDIEU, 2011, p. 9).
Os sistemas simbólicos enquanto estruturas estruturantes, segue a tradi-
ção de que os diferentes universos simbólicos – mito, arte, língua, ciência – se
constituem instrumentos de conhecimento e construção de mundo dos obje-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

tos simbólicos, promovendo formas de construção da realidade (BOURDIEU,


2011). Tomando emprestado o exemplo de Saussure – a língua –, notamos que
quando uma pessoa nasce, ela é inserida em um grupo social, e um dos elemen-
tos do sistema simbólico deste grupo é a sua língua – que já é posta, estruturada.
Este novo indivíduo será influenciado por este objeto simbólico, sendo então
moldado por ele, ou seja, ele deverá aprender aquela língua para se integrar ao
sistema social – o sistema é estruturante.

Quem foi Ferdinand de Saussure?


Um linguista e filósofo suíço, cujas elaborações teóricas propiciaram o de-
senvolvimento da linguística enquanto ciência autônoma. Investigou a
construção lógica da linguagem. Professor de Línguas Indo-europeias e
Sânscrito em Genebra desde 1891, estabeleceu as bases do estruturalismo
linguístico (Curso de Linguística Geral, publicado postumamente em 1916).
Saussure diferenciava o sistema da linguagem ou “língua”, articulado numa
série de leis gerais, da utilização individual e concreta ou “fala”. Estabeleceu
ainda a distinção entre métodos de investigação sincrônicos, que estudam
a língua num determinado ponto de sua evolução, e diacrônicos, que a ana-
lisam no decurso da história. Definiu o signo linguístico como a união da
forma física ou “significante” com a imagem psíquica ou “significado”.
Fonte: adaptado de Klick Educação ([2017], on-line)1.

Organizações Vistas como Sistemas Simbólicos


122 UNIDADE IV

Buscando uma análise do contexto organizacional, vamos tomar como exemplo


a analogia do iceberg apresentada no tópico anterior. Nela temos os denomina-
dos “aspectos formais e abertos”, dos quais se destacam: estrutura organizacional,
títulos e descrições de cargos, objetivos e estratégias, métodos e procedimen-
tos, políticas e diretrizes de pessoal etc. Tais elementos foram apresentados
como componentes visíveis e publicamente observáveis, orientados para aspec-
tos operacionais e de tarefas, representam as instâncias formalizadas do meio
organizacional.
Contudo, se retomarmos a Figura 1, veremos que esses elementos represen-

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
tam somente a ponta do iceberg. Os elementos dispostos “abaixo da linha da água”
representam elementos que permitem ir além apenas da dimensão formalmente
estabelecida, da racionalidade técnica em que se sustentam os sistemas de ges-
tão. Assim, os componentes invisíveis e cobertos, afetivos e emocionais, que se
orientam para aspectos sociais e psicológicos, como os padrões de influenciação
e de poder, por exemplo, são elementos simbólicos que se entrecruzam, influen-
ciam e delineiam o escopo organizacional. Logo, são estruturados e estruturantes.
Percebemos assim, que ao considerar o simbólico nas organizações, não
estamos negando as dimensões formalmente estabelecidas nas organizações, até
mesmo porque elas são necessárias. O que se pretende com o reconhecimento e
estudo dos sistemas simbólicos, é ampliar a noção para a complexidade em que
se dá a dinâmica organizacional, e com isso reconhecer que a organização é tam-
bém uma invenção humana, muitas vezes fruto do imaginário de cada agente.
Esta concepção para estudo das organizações não é aceita sem resistências.
Como afirmam Saraiva e Carrieri (2008), as diferentes nuances apresentadas pelo
reconhecimento do simbolismo nas organizações, acaba por representar um pro-
blema em potencial aos olhos funcionalistas, que detêm de uma visão amparada
na racionalidade, no que se pode controlar. E, quando se abre a lente da orga-
nização para além da racionalidade, permite-se uma visão organizacional mais
humanizada, fugindo assim, do padrão em que tudo é planejado.
Tentando manter um pouco da racionalidade que conduziu – e ainda conduz
– a forma de pensar as organizações, acabaram por se desenvolver mecanismos
para controlar e/ou manipular os símbolos organizacionais. Assim como des-
taca Girin (1996):

SIMBOLISMO NAS ORGANIZAÇÕES


123

A evolução dos produtos [organizacionais] cede um lugar cada vez


maior aos bens imateriais, como a informação ou as produções cultu-
rais, enquanto, com a automação, a informatização, a robotização dos
meios de produção, uma parte cada vez mais importante da atividade
desenvolvida pelos homens nas empresas consiste na manipulação de
signos e símbolos (GIRIN, 1996. p. 24).

Contudo, caro(a) acadêmico(a), frente as discussões aqui propostas, notamos


que mesmo com a resistência em reconhecê-lo, o simbolismo é um elemento pre-
sente nos grupos sociais, como as organizações. Conforme destacam Saraiva e
Carrieri (2008, p. 5) “[...] porque são os indivíduos, e suas diferenças que confe-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

rem vida ao projeto organizacional. Seu universo simbólico é parte do cotidiano


organizacional, queiram os gestores ou não”.
Voltando a Bourdieu (2011, p. 9), ele ressalta que “os sistemas simbólicos,
como instrumentos de conhecimento e de comunicação, só podem exercer um
poder estruturante porque são estruturados”. O poder simbólico, por exemplo,
é um poder de construção da realidade que acaba por estabelecer um sentido
imediato do mundo, que reside “[...] em uma relação determinada entre os que
exercem o poder e os que lhe são sujeitos na estrutura de um campo em que se
produz e reproduz a crença” (FARIA, 2007, p. 72).
Mas quem dá força aos objetos que constituem o sistema simbólico? Os
indivíduos (agentes) que fazem parte desses sistemas, que pela força dos pró-
prios objetos simbólicos existentes, partilham do sentimento e dos significados
que compõem a estrutura, fortalecendo o sentido dado ao mundo social ao qual
pertencem.
Para Bourdieu (2011), isso se sustenta pela crença na legitimidade das pala-
vras e daquele que as pronuncia, crença cuja produção não é da competência das
palavras, mas sim de quem as emite. Essa noção de crença também se estende
aos símbolos do poder, por exemplo, o cetro, o traje, que se constituem em capi-
tal simbólico objetivado e sujeito a crença e legitimação. “O símbolo de poder
não se constrói por si mesmo, mas é construído pelos sujeitos de maneira que,
se o mesmo tem significado, é porque este possui o mesmo sentido para todos
os sujeitos da relação de poder” (FARIA, 2007, p. 73).

Organizações Vistas como Sistemas Simbólicos


124 UNIDADE IV

Os símbolos são os instrumentos por excelência da integração social:


enquanto instrumentos de conhecimento e de comunicação, eles tor-
nam possível o consensus acerca do sentido do mundo social que con-
tribui fundamentalmente para a reprodução da ordem social: a integra-
ção lógica é a condição da integração moral (BOURDIEU, 2011, p. 10).

Partindo do pressuposto de que a cultura organizacional pode ser descrita a par-


tir dos elementos que a constituem, como os valores, crenças, ritos, cerimônias,
histórias, normas, processos de trabalho etc., vemos que ela pode ser entendida
como um sistema simbólico. A organização como um sistema estruturado que
“absorve” os seus agentes – os indivíduos –, estruturando-os, inserindo-os em

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seus espaços sociais, de modo que passem a partilhar dos objetos simbólicos e
sejam integrados ao sistema.

O capital simbólico, um dos conceitos de Pierre Bourdieu, diz respeito ao


prestígio ou honra e que permite identificar os agentes no espaço social.
Para Bourdieu a classe dominante é detentora do capital simbólico, pois, de-
tém o poder social sobre outrem. Este poder social é produzido de forma
interativa.
Fonte: adaptado de Bourdieu (2011).

Como falamos em espaços sociais, cabe tratar sobre o conceito de campo. Segundo
Bourdieu (1996) a noção de campo pode ser compreendida como um espaço
estruturado de posições que são ocupadas por agentes em competição, mas que
independe deles. Tomando por exemplo o meio organizacional, em empresas
que elegem o “funcionário do mês”, podemos dizer que esta é uma posição que
existe independentemente de quem a ocupa, constituindo assim, um espaço
social na estrutura organizacional. Espaço este que, para Martino (2003, p. 33)
se constitui em um lugar abstrato “[...] onde age o pessoal especializado no jogo
pela conquista da hegemonia, prerrogativa de determinar as práticas legítimas
em cada campo”.

SIMBOLISMO NAS ORGANIZAÇÕES


125

Bourdieu (1980) destaca a existência de três leis que se aplicam a qualquer


campo: (1) o reconhecimento de um objeto de luta comum; (2) necessidade haver
pessoas para jogar o jogo, e que conheçam as regras existentes; (3) a unidade mani-
festada pelos agentes contra todo ataque que tente denunciar os interesses reais
em jogo, feito por aqueles que pretendem adentrar neste espaço desrespeitando
as regras, impondo novos objetos, ou tentando deslegitimar o que é legítimo.
Complementando as nossas discussões sobre o campo, Martino (2003, p.
34) diz que:
Um campo qualquer se fundamenta na circulação de um capital sim-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

bólico reconhecido por todos os concorrentes, de modo que a acumu-


lação desse capital pode levar um determinado agente a conquistar a
hegemonia dentro de um campo. A estruturação de um espaço social,
por sua vez, só é plenamente atingida quando se pode estabelecer um
contraste entre as formas específicas de circulação do capital, partici-
pantes e prêmios. Dessa maneira, o reconhecimento externo do campo
é uma premissa sine qua non para o desenvolvimento de relações in-
ternas.

Nas organizações com as quais você tem contato e/ou que está inserido(a),
como se estabelecem os espaços sociais, e quais símbolos você consegue
identificar?

Perceba, caro(a) aluno(a), que ao estudar a cultura organizacional em sua perspec-


tiva simbólica, uma série de elementos começam a emergir, nos permitindo fazer
analogias com as organizações que conhecemos e/ou temos contato. Com isso,
é possível trazer um novo olhar para os territórios organizacionais, produzindo
novos sentidos e significados, e, principalmente, concebendo as organizações
também como espaços simbólicos.

Organizações Vistas como Sistemas Simbólicos


126 UNIDADE IV

Assim, torna-se possível fazer essa análise da cultura organizacional pautada


na Antropologia Cultural, mais especificamente na antropologia simbólica, cujo
fundamento está nos significados compartilhados. Vale ainda ressaltar que os
sistemas simbólicos se distinguem uns dos outros conforme vão sendo produ-
zidos, ao mesmo tempo em que são apropriados, seja pelo conjunto do grupo,
por agentes específicos ou por um campo de produção e de circulação relativa-
mente autônomo (BOURDIEU, 2011).
Outrossim, “o sistema simbólico, portanto, não apenas participa da orien-
tação das ações como da orientação e elevação das energias coletivas, ao fazer

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
agir, fazer crer e fazer amar” (FARIA, 2007, p. 66).
Percebemos até então que nos estudos sobre a cultura organizacional, os
símbolos e os valores compartilhados pelo grupo são enfatizados e dotados de
significados. Por isso a importância dos significados na construção e compre-
ensão da realidade organizacional.
Agora que conhecemos um pouco mais sobre essa vertente de estudo da cul-
tura organizacional, vamos adentrar um pouco mais no universo do simbólico,
tratando sobre a produção de sentidos e as representações. Vamos lá?!

SIMBOLISMO NAS ORGANIZAÇÕES


127
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

PRODUÇÃO DE SENTIDOS E REPRESENTAÇÃO

Neste momento, caro(a) aluno(a), vamos começar a nos aprofundar acerca


de elementos que se mostram fundamentais para o estudo da cultura e a sua
dimensão simbólica. Trataremos sobre os significados, os códigos, a produção
de sentidos e as representações dos indivíduos diante do universo que os rodeia,
no qual estão inseridos.
Você perceberá que nessa perspectiva de estudo (dimensão simbólica da
cultura), as percepções dos indivíduos e a produção de sentidos se desdobram
nas formas de enxergar uma realidade, podendo modificá-la e ser modificados
por ela. Assim, o mundo no qual estamos inseridos deixa de ser percebido como
uma realidade posta, objetiva, e passa a ser concebido como uma representação,
uma interpretação dotada de sentidos produzidos pelos indivíduos.
Vamos lá para as nossas discussões!
Jean-François Chanlat, destacado professor e pesquisador da École des Hautes
Études Commerciales, nos traz uma proposta de discussão sobre o universo
humano dizendo o seguinte: “[...] é um mundo de signo, de imagens, de metáfo-
ras, de emblemas, de símbolos, de mitos e de alegorias” (CHANLAT, 1996, p. 30).

Produção de Sentidos e Representação


128 UNIDADE IV

Faz-se importante refletir sobre esta concepção de Chanlat, pois ela guiará
as nossas reflexões dentro desta concepção do simbólico. Este entendimento
nos proporciona compreender o universo que nos cerca como um mundo em
constante construção e reconstrução a partir e por meio de nossas mentes, nos-
sos entendimentos.
No ambiente das organizações, estas construções não acontecem de forma
diferente. Quantas vezes construímos “esquemas” de pensamento a respeito de
algo que acontece em nosso ambiente de trabalho, e estes esquemas acabam por
guiar os nossos comportamentos e também o comportamento de outras pes-

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
soas? Quase sempre não é mesmo?!
Esta é a concepção central no que diz respeito a entender o indivíduo como
um ser simbólico, que, inserido em um grupo social, executa continuamente tro-
cas simbólicas com outros indivíduos, construindo assim o universo que o rodeia.
Conforme descrito por Chanlat (1996, p. 28): “[...] a compreensão do ser humano
nas organizações permanecerá sempre em construção. Apreender a essência
dos indivíduos se torna um exercício que jamais irá se esgotar completamente”.
Vemos assim, caro(a) aluno(a), que ao adentrar no ambiente organizacional,
nesSa perspectiva do simbólico, é necessário captar os elementos, que podem ser
comportamentos, símbolos, ações etc., para então compreendê-los. Assim, será
possível romper com a visão de totalidade e entender melhor o “movimento” que
se estabelece no ambiente organizacional. Nos dias de hoje, não é aconselhável
que nos prendamos na visão funcionalista, estruturalista, para análise e estudo
da organização, mas sim conceber os indivíduos, suas percepções, apropriações
e comportamentos como influenciadores delineadores do escopo organizacional.
De acordo com essa linha de pensamento, que considera o fundo e a trama
cultural de cada grupo humano, os holofotes se colocam sobre o fato humano
nas organizações, de modo a estudá-lo, compreendê-lo, por meio do rompimento
de perspectivas mecânicas, utilitaristas, simplistas e/ou universalistas de conce-
ber o ser humano nas organizações (CHANLAT, 1996).
Nessa mesma ordem, destaca Bourchard (1996) que, como um produtor
de símbolos, o homo simbolicus procura emergir a todo o tempo de um mundo
organizacional que, ao mesmo tempo que é um emaranhado de sistemas sim-
bólicos, tem a tendência a fazer com que a imaginação simbólica seja reduzida

SIMBOLISMO NAS ORGANIZAÇÕES


129

a cinzas, condenada pela razão e pela ciência. Precisamos, assim, considerar


novas formas de conceber as organizações, propondo novos objetos de estudo
e explorar novas categorias que façam vir à tona elementos até então não consi-
derados e/ou não explorados.
Então, a organização enquanto espaço de experiência humana, torna-se
um lugar propício para a emergência do simbólico. E não pense que isso é algo
novo, na verdade sempre existiu. O que ocorre é que os olhares eram outros, as
formas de estudar o contexto organizacional eram outras. As formas de estudo
continuam a existir, mas, ao se acrescentar essa nova perspectiva, temos novos
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

caminhos, novas descobertas, novas interpretações e revelações acerca do mundo


organizacional e dos indivíduos que dela fazem parte.
Dessa forma, conforme tratado por Chanlat (1996), a gestação do simbó-
lico torna-se característica de uma vida coletiva. E existe uma densa e intensa
vida coletiva nos espaços organizacionais, não é mesmo? Pare só para pensar um
segundo, e perceba o quanto de vida coletiva existe dentro das organizações, e o
quanto de produção simbólica acontece todos os dias nestes ambientes.
Sobre o símbolo, Bouchard (1996, p. 256) diz que: “refere-se à imagem, e a
imagem vale mil palavras, enquanto uma palavra esconde mil imagens”. Tendo
este ponto de vista como base, podemos dizer que os símbolos representam e
conferem sentido àquilo que desejamos transmitir. Assim, os símbolos:
[...] constroem significados e os transmitem [...] operam como signos,
que são representações de nossos conceitos, ideias e sentimentos que
permitem aos outros “ler”, decodificar ou interpretar seus sentidos de
maneira próxima à que fazemos (HALL, 2016, p. 24).

Desta forma, os sons, os gestos, as palavras, as roupas, a linguagem em si, são


parte de um sistema representacional que transmite sentido a respeito de um
indivíduo, um grupo, uma organização, um acontecimento etc. Um exemplo de
prática simbólica citada por Hall (2016), que nos ajuda a compreender mais essa
ideia do que é o símbolo, é o de estádios de futebol em dias de jogos, quando
estão repletos de cartazes, bandeiras, slogans, rostos pintados, escritos e mar-
cados. Essa é uma prática simbólica que transmite uma mensagem e concede
significado e também uma ideia de pertencimento e identificação com um grupo,
com uma cultura.

Produção de Sentidos e Representação


130 UNIDADE IV

Percebe, caro(a) aluno(a), como o símbolo é algo presente e constante em


nossas vidas? No mundo das organizações por exemplo, o uso de uniformes, os
cartazes afixados, os layouts desenhados, as linguagens utilizadas, e tantos outros
elementos, são símbolos que objetivam transmitir uma mensagem dentro de um
sistema representacional.
Complementando, o sistema exibe sinais utilizando-se de códigos, enquanto
os símbolos engendram o universo da consciência dos indivíduos, ou seja, pro-
duzem significado para aquilo que é transmitido, segundo Bouchard (1996).
Assim, significar e representar tornam-se fenômenos da mesma ordem, dentro

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
de um escopo que envolve indivíduos, grupos, fatos, contextos etc.
“O símbolo pertence ao imaginário do indivíduo. O símbolo é um pro-
cedimento ativo da consciência que, por meio da representação, procura sem
cessar dar mais sentido tanto à ordem da percepção quanto à da imaginação”
(BOUCHARD, 1996, p. 258). É o símbolo que caracteriza a cultura por meio do
sentido que é construído pelo sistema representacional.

Se o homem abstrato existe enquanto representação e categoria intelec-


tual, em troca ele aparece sempre na realidade cotidiana sob uma forma
concreta particular, numa situação de fato.
(Jean-François Chanlat)

Dessa forma, a produção de sentidos acontece quando um indivíduo interpreta


uma ação, um objeto, uma situação, um fato etc., gerando uma representação
sobre ele. Produzimos sentido todo o tempo, de maneira individual, mas tam-
bém como membros de um grupo. Assim, o sentido pode ser entendido como
a percepção que um indivíduo ou grupo detém sobre algo.

SIMBOLISMO NAS ORGANIZAÇÕES


131

Segundo Hall (2016), a produção de sentidos é algo intrinsecamente ligado


à cultura, visto que se entrelaça com o compartilhamento de significados em um
grupo e/ou sociedade. “[...] a cultura depende de que seus participantes interpre-
tem o que acontece ao seu redor e ‘deem sentido’ às coisas de forma semelhante”
(HALL, 2016, p. 20). Ou seja, em toda cultura haverá diversidade de significa-
dos a respeito de objetivos, temas, fatos, e também diferentes interpretações e
representações.
Assim, conforme Bouchard (1996), a representação trata-se, talvez, de uma
espiral que se desenvolve em uma espécie de círculo sem fim, visto que os obje-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

tos são mutáveis, e na medida em que se decompõem se refazem segundo as


situações que ocorrem.

Em coisas do seu cotidiano, quantas vezes você mudou a sua percepção e


opinião acerca de uma mesma situação, artefato, pessoa ou objeto? Quan-
tas novas representações foram geradas?

Quando exploramos os objetos dos estudos culturais, como o espaço organiza-


cional, podemos dizer que não sabemos “o que vamos encontrar” ao mergulhar
no universo a ser estudado, ficando então, à deriva de sentidos. Sob esta perspec-
tiva, para que cheguemos ao entendimento dos sentidos produzidos, é preciso
submergir, afundar-se no que Chartier (1991) chama de meadas das relações e
das tensões.
Se admitirmos que o ser humano é posto em ação pelo sentido, quer di-
zer pelo sentido atribuído (a alguma coisa), recebido, incessantemente
criado e recriado, então o ser humano é totalmente prisioneiro daquilo
que vê. Não nos referimos à visão física da coisa, mas a visão interior,
onde justamente se localiza o sentido, ele mesmo produzido pelo jogo
complexo e incessante das representações (BOUCHARD, 1996, p. 262).

Produção de Sentidos e Representação


132 UNIDADE IV

Daí a expressão visão de mundo, que nos convida a construir uma teoria da cul-
tura e, em especial, uma teoria da relatividade cultura. Notamos a necessidade
de adentrar profundamente no universo simbólico das organizações, embeber-
-se dele, para assim compreender as suas práticas e estruturas, os sentidos dados
aos objetos, às pessoas, aos eventos, ao mundo ao qual os indivíduos e grupos
pertencem, e às representações produzidas por eles.
Eis um dos grandes desafios ao se estudar o universo simbólico: captar essa
essência dos sujeitos/agentes (que são as principais fontes de pesquisa), suas
memórias, seus pensamentos; e construir as suas concepções, que são também

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
uma representação do próprio sujeito. Para isso, Chartier (1991) sugere que
comecemos a pensar nas clivagens culturais partindo dos grupos, dos sujeitos,
dos sentidos, das percepções e, não dos objetos, das formas, dos códigos.
Talvez essa seja uma estratégia dada por Chartier para estudar as práticas
culturais e a representação criada pelo indivíduo (que está ligada ao seu grupo
social) e suas apropriações. Ao começar a elencar as clivagens culturais partindo
do sujeito, do lugar social em que ele fala, por exemplo, se privilegia o estudo
aprofundado de sua subjetividade, podendo fazer interpretações aprofundadas
acerca de suas apropriações e representações.
Assim, pensar a cultura, os sentidos e os artefatos, é pensar em como as prá-
ticas circulam, e que quando circulam, elas e os indivíduos se modificam, novos
sentidos são atribuídos. Daí um dos princípios abordados por Chartier (1991),
de que a percepção do real não é objetiva e transparente, mas sim, uma repre-
sentação da forma como os sujeitos veem (percepção) o mundo. Um conjunto
de sentidos dados e partilhados pelos grupos sociais, de modo a regular e orga-
nizar as suas práticas, suas condutas e seus comportamentos.

SIMBOLISMO NAS ORGANIZAÇÕES


133

Vemos, assim, que estudar a cultura e as práticas culturais, sob esta pers-
pectiva, é estudar também sentimentos, emoções, conceitos, ideias e o senso de
pertencimento do indivíduo em relação ao seu grupo social. Quando interpre-
tamos e fazemos uso do pensamento de Chartier para os nossos estudos sobre a
cultura organizacional, percebemos primeiramente que é necessário adentrar os
espaços organizacionais, “estar” neste universo, nos colocar lá, sentir as percep-
ções dos sujeitos, conhecer as suas memórias, compreender as suas apropriações.
Alcançado isso, precisamos não somente usar essas informações, mas interpretá-
-las, dissecá-las, de modo que consigamos trazer à tona a suas mais verdadeiras
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

representações. Verdadeiras, mas não estáticas.


Complementando a nossa discussão, caro(a) aluno(a), segundo Bouchard
(1996, p. 259) “[...] é preciso reconhecer que o sentido não se encontra, nunca,
definitivamente, estabelecido. Ele é sustentado apenas por um fio, o fio de nos-
sos pensamentos”. Ou seja, o sujeito é o principal agente na produção de sentido
e interpretação dos artefatos organizacionais.
Este processo acontece então à força de representações, de alusões, de suges-
tões e de aproximações, nas quais o símbolo acaba por traduzir um processo
ativo da consciência, produzindo uma representação do mundo que o cerca,
conferindo significação. A imaginação simbólica então, calca a sua existência
nas relações com o mundo, participando de sua construção e de significações
inerentes ao ser humano (BOUCHARD, 1996).
Vale ainda ressaltar que sem esses sistemas de significação, seríamos incapazes
de adotar (ou rejeitar) identidades, e, consequentemente, incapazes de fomentar
ou manter essa realidade existencial que chamamos de cultura (HALL, 2016).
Assim, caro(a) aluno(a), como essa construção de significados acontece
continuamente, não somente a identidade e a memória dos indivíduos se transfor-
mam, mas os próprios ambientes sociais, organizacionais, que são influenciados
por seus atores.

Produção de Sentidos e Representação


134 UNIDADE IV

Sobre essa questão, na concepção de Hall (2011) pelo fato de projetarmos a


“nós próprios” nas identidades culturais, ao mesmo tempo em que tornamos os
seus significados e valores partem de nós, internalizando-os, contribuímos para
o alinhamento de nossos sentimentos subjetivos com os lugares objetivos que
ocupamos no mundo social e cultural, ou seja, damos novos sentidos e cons-
truímos novas representações. Pois, como reforça Bouchard (1996), a cultura
é esboço de propensões imaginárias e pertencentes a ordem simbólica de um
sistema aberto de representações que são compartilhadas entre os indivíduos.
Esperamos, caro(a) aluno(a), que os assuntos aqui tratados, mesmo que bre-

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
vemente, tenham contribuído para o entendimento da dimensão simbólica das
organizações, que mesmo sendo uma perspectiva de análise que ainda encontre
resistências, nos possibilita enxergar as organizações também como um grupo
social engajado em transformações metafóricas da realidade.
Continue empenhado(a) em suas leituras, estudos e pesquisas, pois, é dessa
forma que teorias são questionadas e desenvolvidas e novos resultados são alcan-
çados. É assim que o processo de desenvolvimento do conhecimento acontece.
Foi muito bom compartilhar desse tempo com você! Até mais!

SIMBOLISMO NAS ORGANIZAÇÕES


135

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nesta unidade estudamos os principais elementos que nos levam a uma noção
interpretativa das organizações. Podemos dizer assim que os estudos sobre o sim-
bolismo organizacional nos permitem uma nova visão para além da totalidade
e racionalidade. É possível dizer, inclusive, que permite uma visão mais huma-
nizada do mundo das organizações.
Compreendemos nesta unidade, que a cultura organizacional, em sua dimen-
são interpretativa, é vista como um sistema simbólico no qual os seus agentes
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

– os indivíduos – influenciam e são influenciados. Neste sistema simbólico estão


elementos que mesmo “submersos”, acabam por influenciar as relações entre as
pessoas, os entendimentos acerca de fatos, a organização como um todo.
Aprendemos ainda que a representação se trata da produção de sentidos por
meio da interpretação de indivíduos ou grupos sociais, sendo então, uma espécie
de círculo sem começo ou fim, que obterá diferentes formas conforme as situa-
ções forem acontecendo. Ou seja, sempre novas representações são produzidas.
Podemos dizer, que quando concebida nesta dimensão interpretativa e sim-
bólica, as organizações se constituem em redes imaginárias, que se formam
entre os sujeitos e os grupos, delineando os seus pensamentos, os seus compor-
tamentos, as suas ações. Nessas redes estão presentes elementos como o poder
simbólico, por exemplo, que influencia diretamente o contexto organizacional.
Por fim, ao reconhecer essas estruturas subjetivas do campo organizacional,
podemos chegar a conclusão de que o ser humano tem as suas ações movidas
pelo sentido que dá ao mundo que o cerca, e assim sendo, torna-se prisioneiro
daquilo que vê e sente, dando-lhe um sentido próprio, e, contribuindo para a
grande espiral das representações.
Tenha boas reflexões sobre o assunto!

Considerações Finais
136

SIMBOLISMO E DINÂMICA NAS ORGANIZAÇÕES


O artigo de Saraiva e Carrieri (2008) foi uma publicação no V Encontro de Estudos Orga-
nizacionais da ANPAD, Eneo, realizado em junho de 2008 na cidade Belo Horizonte-MG.
Os autores buscaram discutir o simbolismo nas organizações sob o prisma da proces-
sualidade. O estudo se baseou no pressuposto de que o cotidiano da organização é
permeado por inúmeros elementos de ordem não formal que se entrecruzam, fazendo
com que no meio organizacional existam, necessariamente, inúmeras dimensões além
da formalidade.
Na estrutura do texto são apresentadas seções nas quais se discute o simbolismo e sua
presença no contexto organizacional, a processualidade simbólica nas organizações e
uma análise dos limites processuais da produção simbólica. Vale destacar que os princi-
pais aspectos discutidos se referem à presença crescente do simbolismo na gestão das
organizações, além de que, a esfera simbólica, que sempre fez parte das organizações,
só recentemente ascendeu como temática de interesse dos gestores.
Os autores procuraram no âmbito organizacional, criar e sustentar uma versão simbólica
oficial, de acordo com as estratégias e práticas vigentes, o que não significa que haverá
um consumo simbólico tão unívoco quanto sua produção, pois as diferenças existentes
entre os homens garantem a existência de múltiplas possibilidades simbólicas. Para isso,
utilizaram-se de quatro ilustrativos em suas discussões.
O primeiro exemplo trata do Resort, localizado em Florianópolis; o segundo trata sobre a
tecnologia japonesa e o fenômeno da miniaturização, o terceiro da indústria farmacêu-
tica e a qualidade de vida, e o quarto sobre o motel e a sutileza promocional. Composto
de 15 (quinze) páginas, o artigo trata de uma fonte de leitura para aqueles que desejam
compreender um pouco mais sobre o simbolismo e os estudos organizacionais.
Para ler o material na íntegra, acesse o link disponível em: <http://www.anpad.org.br/
admin/pdf/EnEO91.pdf >.

Fonte: Saraiva e Carrieri (2008).


137

1. Vimos em nossas discussões que a cultura tem um significado complexo. Consi-


derando esta ideia, analise as afirmações a seguir:
I. A cultura se constitui de sentimentos, sentidos, técnicas, tradições e costu-
mes de cada ser humano, como indivíduo e também como integrante de um
grupo social.
II. A cultura organizacional em sua dimensão simbólica, se ampara nas significa-
ções dadas pelos indivíduos em relação ao universo que os rodeia.
III. Entendemos por cultura organizacional o conjunto de elementos que deli-
neiam e permeiam uma organização, sendo compartilhados por seus mem-
bros.
IV. A cultura organizacional e seus elementos simbólicos envolvem uma série de
aspectos que refletem a identidade da organização.
Com base nas assertivas apresentadas, está correto o que se afirma em:
a) I e II.
b) II e III.
c) I, II e III.
d) II, III e IV.
e) I, II, III e IV.
2. Partindo da perspectiva antropológica, interpretativa para estudo da cultura,
qual a importância de se estudar as representações coletivas dos grupos sociais?
3. Explique o que são os sistemas simbólicos.
138

4. Vimos que simbolismo é um elemento presente nos grupos sociais, como as or-
ganizações. Sobre este assunto, marque V (verdadeiro) ou F (falso) nas propo-
sições a seguir, e assinale a alternativa que apresente a sequência correta.
( ) Os indivíduos e suas diferenças conferem vida ao projeto organizacional.
( ) Os gestores podem optar por deixar ou não o universo simbólico fazer parte
do cotidiano organizacional.
( ) Os sistemas simbólicos também são instrumentos de conhecimento e de
comunicação.
( ) Alguns símbolos, como o cetro e o traje, por exemplo, se constituem em ca-
pital simbólico.
( ) A cultura organizacional pode ser entendida como um sistema simbólico.
( ) A noção de campo, de Bourdieu, pode ser compreendida como um espaço
estruturado de posições ocupadas por agentes e que depende deles para existir.
a) V-F-V-V-V-F.
b) V-V-V-V-V-V.
c) F-F-V-V-V-V.
d) F-V-V-F-F-F.
e) V-F-V-F-V-F.
5. Jean-François Chanlat, destacado professor e pesquisador da École des Hautes
Études Commerciales, nos traz uma proposta de discussão sobre o universo hu-
mano dizendo o seguinte: “[...] é um mundo de signo, de imagens, de metáforas,
de emblemas, de símbolos, de mitos e de alegorias” (CHANLAT, 1996, p. 30). Qual
a importância de refletir sobre essa concepção?
6. Quando exploramos os objetos dos estudos culturais, como o espaço organiza-
cional, podemos dizer que não sabemos “o que vamos encontrar” ao mergulhar
no universo a ser estudado, ficando então, à deriva de sentidos. O que isso quer
dizer? Assinale a alternativa correta.
a) Que não é possível analisar o espaço organizacional.
b) Que é necessário submergir afundar-se nas meadas das relações e tensões.
c) Que o universo organizacional é complexo, mas determinado, constante.
d) Que o universo organizacional deve ser estudado sem considerar a cultura.
e) Que os indivíduos são seres complexos e impossíveis de serem estudados.
139

7. Segundo Bouchard (1996, p. 259) “[...] é preciso reconhecer que o sentido não se
encontra, nunca, definitivamente, estabelecido. Ele é sustentado apenas por um
fio, o fio de nossos pensamentos”. A partir dessa afirmação, assinale alterna-
tiva que apresente o principal agente na produção de sentido e interpreta-
ção dos artefatos organizacionais.
a) Os elementos da cultura.
b) A estrutura organizacional.
c) A cultura forte.
d) O sujeito.
e) Não existe um agente de produção de sentido.
MATERIAL COMPLEMENTAR

Simbolismo Organizacional no Brasil


Alexandre de Pádua Carrieri e Luiz Alex Silva Saraiva (orgs)
Editora: Atlas
Sinopse: Ao considerar o que está além da racionalidade
propriamente dita, o simbolismo se habilita como sendo a porta para
o ingresso no mundo do não-racional, do não-quantitativo, e do
não-lógico nas organizações. Em um contexto que se afirma cada vez
mais pautado pela descontinuidade e pela necessidade de repensar
as estratégias e as práticas de atuação das organizações, investir no
sentido de conhecer o simbolismo se mostra não apenas importante, mas também essencial para
compreender melhor como as organizações reagem à realidade que lhes é apresentada. O conjunto
de textos reunidos neste livro fornece aos leitores possibilidades efetivas de analisar as organizações
sob prismas pouco (ou quase nada) explorados habitualmente. Em outras palavras, este livro se
apresenta como uma obra de referência para que se trabalhe com material teórico, e também
empírico, sobre o mundo das organizações, sejam elas públicas, privadas, ou do terceiro setor.

Despachado para Índia (Outsourced) - 2007


Sinopse: Todd Anderson dirige um call center de apoio ao cliente em
Seattle, nos Estados Unidos, quando o seu chefe lhe dá uma má notícia:
será substituído por empregados contratados em outsourcing na Índia.
Pior ainda, ele terá de ir até a Índia para treinar o seu substituto. Todd
espera a pior experiência da sua vida e é assim que as coisas começam.
O caos de Bombaim assalta os seus sentidos e o seu novo escritório está paralisado devido a
equívocos culturais. Mas, à medida que vai conhecendo melhor os seus colegas de trabalho,
descobre que não é fácil odiá-los, a começar pelo seu amistoso substituto Puro e o adorável e
teimoso Asha. Rapidamente descobre que tem muito a aprender - acerca da Índia, da América e
dele próprio.

Comentário: O filme trata da importância da compreensão da cultura para a venda de


produtos, mas, principalmente, traz as dificuldades de adaptação de um novo colaborador em
um ambiente e país que não conhece. Além das formas de recepção desse novo colaborador,
são destacados também os seus desconfortos e surpresas com a nova cultura em que se está
inserindo, possibilitando reflexões acerca do sistema simbólico em que ele é inserido e as suas
representações construídas. O filme originou um seriado com o mesmo nome, transmitido na TV
fechada.
141
REFERÊNCIAS

BARBIERI, U. F. Gestão de Pessoas nas organizações: práticas atuais sobre o RH


estratégico. São Paulo: Atlas, 2012.
BOUCHARD, S. Simples símbolo: eficácia prática dos sistemas simbólicos da organi-
zação. In: CHANLAT, J. F. (org). O indivíduo na organização: dimensões esquecidas.
Volume III. São Paulo: Atlas, 1996.
BOURDIEU, P. Questões de Sociologia. Rio de Janeiro: Marco Zero, 1980.
BOURDIEU, P. As regras da arte. São Paulo: Cia das Letras, 1996.
BOURDIEU, P. Razões Práticas. Campinas: Papirus, 2005.
BOURDIEU, P. O poder simbólico. 15. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2011.
BURKE, P. O que é história cultural. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005.
CHANLAT, J. F. Por uma antropologia da condição humana nas organizações. In:
CHANLAT, J. F. (org). O indivíduo na organização: dimensões esquecidas. Volume
I. São Paulo: Atlas, 1996.
CHARTIER, R. O mundo como representação. Estudos avançados, v. 11, n. 5, p. 173-
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CHIAVENATO, I. Comportamento organizacional: a dinâmica de sucesso das orga-
nizações. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004.
CHIAVENATO, I. Gestão de pessoas: o novo papel dos recursos humanos nas orga-
nizações. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010.
FARIA, J. H. Poder Real e Poder Simbólico: o mundo das intrigas e tramas nas organi-
zações. In.: CARRIERI, A. P.; SARAIVA, L. A. S. Simbolismo Organizacional no Brasil.
São Paulo: Atlas, 2007.
GIRIN, J. A. Linguagem nas organizações: Signos e símbolos. In: CHANLAT, J. F. (Co-
ord.). O indivíduo na organização. Dimensões esquecidas. São Paulo: Atlas, 1996.
v. 3.
HALL, S. A identidade cultural na pós modernidade. Rio de Janeiro: DP&A, 2011.
HALL, S. Cultura e Representação. Rio de Janeiro: Ed. PUC-Rio/Apicuri, 2016.
JOHANN, S. L. Comportamento organizacional: teoria e prática. São Paulo: Saraiva,
2013.
MARTINO, L. M. S. Mídia e poder simbólico: um ensaio sobre comunicação e cam-
po religioso. São Paulo: Paulus, 2003.
MOTTA, F. C. P; CALDAS, M. P. Cultura organizacional e cultura brasileira. São Pau-
lo: Atlas, 1997.
REFERÊNCIAS

SARAIVA, L. A. S; CARRIERI, A. P. Simbolismo e Dinâmica nas organizações. In: En-


contro de Estudos Organizacionais da ANPAD, 5, 2008, Belo Horizonte-MG. Anais...
ENEO: Belo Horizonte: 2008., p. 1-15. Disponível em: <http://www.anpad.org.br/ad-
min/pdf/EnEO91.pdf>. Acesso em: 26 abr. 2017.

REFERÊNCIAS ON-LINE

1
Em:<https://educacao.uol.com.br/biografias/ferdinand-de-saussure.htm>. Acesso
em: 27 abr. 2017
143
GABARITO

1. E.
2. O estudo das representações coletivas dos grupos sociais permite compreender
o social e o cultural da realidade por meio da representação - individual e coleti-
va -, do sentido que é dado pelo sujeito.
3. Os sistemas simbólicos são representações de práticas, de formas de funciona-
mento de grupos ou classes, de posições sociais, de modo que, para aderir ao
sistema de símbolos é necessário partilhar de seus significados.
4. A.
5. Faz-se importante refletir sobre esta concepção de Chanlat, pois ela guiará as
nossas reflexões dentro desta concepção do simbólico. Este entendimento nos
proporciona compreender o universo que nos cerca como um mundo em cons-
tante construção e reconstrução a partir e por meio de nossas mentes, nossos
entendimentos.
6. B.
7. D.
Professora Me. Patrícia Rodrigues da Silva

MUNDO DO TRABALHO E

V
UNIDADE
CONTEXTO SOCIAL

Objetivos de Aprendizagem
■■ Conjecturar sobre as principais mudanças que repercutiram sobre o
mundo do trabalho nos últimos tempos.
■■ Conhecer as novas formas de organização do trabalho surgidas ao
final do século XX e início do século XXI.
■■ Compreender os principais aspectos referentes à emancipação
humana e a sua conexão com o mundo do trabalho.

Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■■ Transformação e mudança constantes
■■ O trabalho atípico ou diferenciado
■■ Emancipação humana no mundo do trabalho
147

INTRODUÇÃO

Caro(a) aluno(a), bem-vindo(a)!


Vamos iniciar as discussões da nossa última unidade do livro didático. O
tema que apresentaremos vem fechar os conteúdos que planejamos para a dis-
ciplina de Ciências Sociais, tão importante para o seu processo de formação e
aprendizagem.
Nesta unidade, vamos conhecer os principais aspectos que circunscrevem
o mundo do trabalho em seu contexto social. Perceberemos que estamos embe-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

bidos em um processo de transformações constantes, que nas últimas décadas


foram ainda mais aceleradas, impulsionadas pelas próprias mudanças, como a
ascensão da tecnologia.
A reflexão que propomos desde o início da unidade é que possamos pen-
sar sobre o impacto e a repercussão dessas mudanças no mundo do trabalho,
e, principalmente, nos indivíduos que o compõem. Precisamos pensar sobre os
modelos de produção que permanecem desde o século passado, e sobre as novas
formas de organização do trabalho e o seu impacto sobre o trabalhador.
Será possível falar atualmente em sujeito emancipado? Vivemos um momento
em nossa sociedade em que somos “controlados” das mais diversas maneiras,
somos sujeitos adaptados e adaptáveis, isso faz parte, e é necessário para a vida
em sociedade e no mundo do trabalho. Mas, na busca por uma perspectiva para
a possibilidade de emancipação, conheceremos os principais pontos da Teoria
do Agir Comunicativo, de Jurgen Habermas (1990), e as suas proposições sobre
a emancipação humana. O ato da fala, por meio da ação dialógica, servirá de
esteio para esta discussão, proposição de Habermas.
Meu desejo é que você, aluno(a), possa conhecer novos contextos, novas
teorias e abordagens, que possam lhe possibilitar não somente enriquecimento
em sua vida profissional, mas, principalmente, uma nova visão de mundo, uma
nova forma de interpretar o universo do qual faz parte.
Boa leitura! Bons estudos!

Introdução
148 UNIDADE V

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
TRANSFORMAÇÃO E MUDANÇA CONSTANTES

Caro(a) aluno(a), a proposta desta unidade consiste em levá-lo(a) à reflexão sobre


as mudanças ocorridas na sociedade e na vida das pessoas enquanto parte de
um corpo social, e com isso, permitir a compreensão sobre como tais mudan-
ças influenciam/repercutem sobre as pessoas e o ambiente das organizações.
Dentro de uma perspectiva das Ciências Sociais, é necessário cumprir com
este papel, visto que estamos imersos e engajados em um sistema, uma teia de
relações interdependentes todos os dias de nossas vidas. Assim, vamos come-
çar as nossas discussões abordando – se não resgatando – alguns pontos sobre
as transformações ocorridas no mundo do trabalho.
Vamos lá!

MUNDO DO TRABALHO E CONTEXTO SOCIAL


149

AS TRANSFORMAÇÕES NO MUNDO DO TRABALHO

Algo que se intensificou ao final do século XX e vem se incrementando no século


XXI foram as profundas transformações da sociedade, de ordem econômica,
social, política e ideológica. Quando nos referimos aos meios de produção, as
mudanças foram intensificadas e impulsionadas pelo avanço tecnológico, e esse
impulso impactou diretamente na subjetividade dos trabalhadores, modificando
principalmente a sua forma de inserção na estrutura produtiva, e a sua forma de
desenvolvimento do trabalho.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Basta fazermos um resgate para conceber esse processo de transformação.


Conforme abordado por Antunes (2006), ao longo do século XX, sobretudo
a partir da segunda década, o taylorismo e o fordismo dominaram o sistema
produtivo e os processos de trabalho nas grandes indústrias. Para o autor, tais
sistemas, calcados na produção em massa, tinham algumas características espe-
cíficas que merecem ser relembradas,:
■■ Linha de montagem e fabricação de produtos mais homogêneos.
■■ Controle dos tempos e movimentos, pelo cronômetro e produção em série.
■■ Trabalho parcelar e fragmentação das funções.
■■ Existência de unidades fabris concentradas e verticalizadas.
■■ Constituição/consolidação do operário-massa, do trabalhador coletivo
fabril entre outras dimensões.

As características anteriormente mencionadas referem-se a um período fortemente


marcado pelas técnicas de organização, gestão do trabalho e da produção. Esse
foi um período no qual os trabalhadores passaram a ser quase um componente
da máquina. Isso porque os seus movimentos eram mecânicos, padronizados e
desprovidos de conhecimento profissional. Além disso, o trabalho era realizado
sem a interferência de sua mente (intelectual), em um ambiente que não focava
a intelectualidade, mas, somente homens apropriados para o tipo de trabalho
exigido (FLEURY; VARGAS, 1983).

Transformação e Mudança Constantes


150 UNIDADE V

Ao longo do tempo, os modelos taylorista e fordista de produção evoluí-


ram, impulsionados, principalmente ao grande salto tecnológico vivenciado
na sociedade. Segundo Antunes (2005), elementos como: a automação, a robó-
tica e a microeletrônica ocuparam o espaço fabril e levaram a um conjunto de
experimentos nos processos de trabalho. Com este movimento, surgiu um novo
processo produtivo, o toyotismo.
Antunes (2005) salienta que o modelo toyotista emergiu no sentido de atender
com melhor tempo e qualidade às exigências mais individualizadas do mercado,
era um processo de trabalho inovador. O enfoque estava em ser um processo

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
produtivo flexível, pois permitia ao trabalhador operar com várias máquinas ao
mesmo tempo em que combinava diferentes tarefas. Dessa forma, os trabalha-
dores tornavam-se multifuncionais, trabalhavam em equipe e rompiam com o
caráter parcelar do processo de produção anterior. O que não se modificavam,
eram as formas de controle sobre o trabalhador.
Assim sendo, caro(a) aluno(a), compreendemos que o toyotismo pode ser
concebido como um modelo de produção que se ampara em um “receituário”,
diferenciando-o do taylorismo e do fordismo, ao mesmo tempo em que suscita
intensificação da exploração do trabalho, impulsionada seja pela tecnologia ou
pelo aceleramento da cadeia produtiva.

Toyotismo foi um modelo de administração japonesa desenvolvido sobre


as bases do Sistema Toyota de Produção, que surgiu no Japão logo após o
final da Segunda Guerra Mundial. Ao final da década de 1950 o modelo de
produção se disseminou nas organizações ao redor do mundo, tornando-se
um dos pilares que sustenta a competitividade na economia global. O en-
foque do Sistema Toyota de Produção está no aumento da eficiência e da
produtividade, e em evitar desperdícios como superprodução e gargalos no
processo.
Fonte: adaptado de Portal Administração ([2017], on-line)1.

MUNDO DO TRABALHO E CONTEXTO SOCIAL


151

Complementando as nossas discussões, o professor Paulo Roberto Motta (2000),


destaca que estes modelos de processos de trabalho que se instauraram a partir
da segunda metade do século XX, levaram a novas conquistas da organização
do trabalho e estilo de vida dos indivíduos, algo que nas décadas anteriores era
inimaginável para o sistema de produção e vida social vigente na sociedade.
Motta (2000) ainda complementa que se tratou de uma revolução organiza-
cional, na forma de ser do trabalhador e no processo produtivo. O que significou
uma nova concepção do ambiente de trabalho e de organização social da pro-
dução. Observou então que o trabalhador muda a forma de desenvolver o seu
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

trabalho e passa a assumir tarefas especializadas, algo que não era anteriormente
uma preocupação em suas operações diárias. Esta nova forma de desenvolver o
trabalho, acabou por reduzir o trabalho manual e o esforço físico, tornando as
estruturas organizacionais descentralizadas.
Salienta Motta (2000) que os processos de produção passaram a se ampa-
rar então em uma perspectiva de inovação e flexibilidade. Deu-se início a um
período de mudanças radicais, em que se destacavam a multiplicidade dos pro-
cedimentos, a flexibilidade estrutural, a ambiguidade na definição de tarefas, a
descentralização de controles e dualidade nas fronteiras de responsabilidade.
Percebe quantas transformações em um curto período de tempo foram
vivenciadas? Estas mudanças dos meios de produção e processos de trabalho
repercutem até hoje, não somente nas grandes indústrias e organizações, mas
em toda a sociedade. Cada vez mais, a cada dia, somos cobrados e embebidos
em um contexto que exige multifuncionalidade, agilidade no desenvolvimento
do trabalho, inovação, flexibilidade dentre outros tantos elementos.
Temos que lidar também com a diversidade, multiculturas, jornadas de tra-
balho estendidas – muitas vezes pela tecnologia – que nos colocam em um ritmo
desenfreado no que diz respeito às atividades de trabalho. Essas características
não são somente importantes, mas imprescindíveis para “sobreviver” no novo
mundo do trabalho, e são cada dia mais incutidas na vida das pessoas.
Vamos pensar sobre isso!

Transformação e Mudança Constantes


152 UNIDADE V

NOVAS PERSPECTIVAS SÃO DELINEADAS

Podemos observar, caro(a) aluno(a), por meio das discussões aqui propostas,
que as transformações que ocorrem no mundo do trabalho suscitaram também
novas formas de pensar as relações estabelecidas entre indivíduos e organiza-
ções. Assim, o papel do trabalhador se modificou e novas formas de organização
do trabalho foram constituídas.
Nesta linha de pensamento, Morin (2001) nos descreve que houve um desa-
parecimento de empregos permanentes, que aconteceu ao mesmo tempo em que

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
apareceram novas tecnologias e inovações. Este movimento na dinâmica do tra-
balho fez surgir novas formas de atividade laboral, como também a modificação
da natureza das formas existentes.
Complementando esta ideia, Antunes (2005) salietna que com esta mudança
se amplia a inter-relação entre: as atividades produtivas e improdutivas, as ati-
vidades fabris e de serviços, a produção e o conhecimento científico. Fato que
acabou por acentuar a expansão e descoberta de novas formas de produção,
impactando diretamente os contextos organizacional e social.

O cenário do início do novo milênio mostra um grande aumento no nú-


mero de desemprego. Em novas condições, uma parte dos trabalhadores
trabalhará mais e uma outra estará desempregada em busca de trabalho.
Mostrando que no século XX ocorreu a diminuição da jornada de trabalho,
não sendo necessário o trabalho de todas as pessoas. Estamos na segunda
década deste milênio, como está este cenário hoje?
(adaptado de Ermelio Rossato)

MUNDO DO TRABALHO E CONTEXTO SOCIAL


153

Podemos dizer ainda que ao impactar na satisfação e produtividade dos indiví-


duos, o trabalho modifica seus comportamentos, conduzindo-os a desenvolver
atitudes consideradas positivas em relação a suas funções executadas, a empresa
que os emprega e a eles próprios, tendo dessa forma o comprometimento, que
atua como indicador da organização eficaz (MORIN, 2001).
Então, estamos diante de um contexto em que o próprio indivíduo é quem se
assegura de seu desenvolvimento profissional, desenvolvendo suas habilidades e
competências. A capacidade de adaptação reforça a ligação desses indivíduos com
a organização, envolvendo-os cada vez mais na estrutura organizacional que os
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

define de acordo com seus padrões e requisitos necessários (SCHMITT, 2003).


Ricardo Antunes (2005) salietna que as novas formas de produção da nova
sociedade do trabalho se relacionam a transformações tanto nas formas de mate-
rialidade, quanto na esfera de subjetividade do trabalho. Começam assim emergir
formas desregulamentadas de trabalho, reduzindo o número de pessoas que tra-
balham em empregos estáveis ou formais (ANTUNES, 2005).
Podemos dizer, ainda, que nesse contexto, aumenta o número de trabalha-
dores em tempo parcial, temporários, subcontratados, terceirizados, e outras
formas de trabalho informal.
Vamos tratar um pouco mais sobre isso. Continue conosco!

Transformação e Mudança Constantes


154 UNIDADE V

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
O TRABALHO ATÍPICO OU DIFERENCIADO

Diante da metamorfose vivenciada no mundo do trabalho, houve um esgotamento


das formas de trabalho existentes, fazendo surgir novas formas de organização
do trabalho, e fortalecer o que os estudiosos da área como Marques (1997) e
Vasapollo (2005) denominaram trabalho atípico ou diferenciado.
O trabalho atípico ou diferenciado se caracteriza, segundo Vasapollo (2005),
por ser uma nova forma de organização do trabalho, fortemente marcada pela fle-
xibilização e abandono do modelo de trabalho estável por tempo indeterminado.
Dessa forma, os processos de trabalho denominados formais, são convertidos
em trabalho atípico, com forte conteúdo de precariedade.
Vasapollo (2005) salienta que a precariedade é percebida como um processo
no qual o trabalhador se encontra em uma situação limítrofe entre a ocupação
e não ocupação, e, consequentemente, diante de menos reconhecimento jurí-
dico e garantias sociais.
Para nos ajudar nesse entendimento, caro(a) aluno(a), Marques (1997) afirma
que no trabalho caracterizado como atípico ou diferenciado, os trabalhadores
que antes estavam em seus empregos formais perdem seus antigos direitos e
atribuições. Passam a constituir um contexto fortemente marcado pela compe-
titividade, no qual se destacam: a necessidade de novas formas de qualificação
(constantes) e novas formas de organização do trabalho.

MUNDO DO TRABALHO E CONTEXTO SOCIAL


155

Assim, vemos desaparecer algumas características do trabalho tradicional,


padrão, como: horário de tempo integral, trabalho efetivo, integração orga-
nizativa da empresa, garantias formais e contratuais (VASAPOLLO, 2005). O
trabalhador passa a ter mais autonomia e flexibilidade, com jornadas de traba-
lho também atípicas e flexíveis.
Notamos assim, que as novas formas de organização do trabalho têm aspec-
tos positivos e negativos. Mas, uma coisa que não podemos negar é que este
contexto surge e se fortalece a cada momento na sociedade.
Uma realidade também destacada por Vasapollo (2005), nesse novo processo
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

de produção, é aquela cujos trabalhadores passíveis de ser “alugados” podem tra-


balhar por algumas poucas horas ao dia ou por alguns dias da semana. Assim,
os contratos podem ser de curta duração, fortalecendo o trabalho temporário,
que também é marcado por ser instável e difícil de prever, mas que representa
o atual mundo do trabalho.
Podemos notar então, caro(a) aluno(a), que estas mudanças representam
também uma a fragmentação do trabalho, nos levando para além do modelo
taylorista/fordista de organização. Surgem, assim, novas figuras profissionais que
podem trabalhar dentro da organização ou fora dela. O mercado e o mundo do
trabalho se modificam e deixam de ser marcados pelas categorias tradicionais
de trabalho, e passam a ser marcados pela autonomia (VASAPOLLO, 2005).

A origem etimológica da palavra autonomia é: auto = a si mesmo + “nomos”


que, em grego, significa lei, ordem. A autonomia ocorre quando um grupo
ou indivíduo está suscetível a determinar por si mesmo suas ações, ou seja,
suas próprias leis. Contudo, não se trata de uma negação absoluta do meio
físico e sociocultural, mas sim da capacidade de tomar decisões enquanto
ser ou grupo de forma racional e consciente.
(Antonio David Cattani)

O Trabalho Atípico ou Diferenciado


156 UNIDADE V

Vasapollo (2005) salienta que os novos trabalhadores se distinguem entre espe-


cializados e com maior nível de conhecimento e os com pouca especialização.
Os primeiros ocupam postos de trabalho com alta atividade cognitiva, desen-
volvem atividades técnicas em postos de trabalho flexíveis, do tipo executivo,
enquanto os segundos desenvolvem atividades e ocupam os postos de trabalho
mais operacionais.
Os trabalhadores do mundo contemporâneo são caracterizados ainda, por
um alto grau de adaptabilidade às mudanças de ritmo e função, o que é neces-
sário para que estejam em compasso com o mercado. O que pode ser também

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
uma realidade preocupante, principalmente diante de índices das taxas de desem-
prego, além do medo e angústia dos próprios trabalhadores.
Contudo, podemos nos valer da percepção de Laranjeira (2000, p. 14) de que
As novas tecnologias podem ser exploradas em suas dimensões positi-
vas como na eliminação das funções rotineiras, repetitivas e degradan-
tes, fonte de doenças e de insatisfação, tanto na esfera do trabalho fabril
quanto na esfera dos serviços; ou como na realização de um trabalho
polivalente, multifuncional, favorecendo a utilização do pensamento
abstrato, permitindo uma maior interação do trabalhador com a má-
quina, já que o trabalho informático supõe essa interação. Sobretudo,
haveria a possibilidade de reduzir ainda mais o tempo de trabalho ne-
cessário ao ganho para sobrevivência.

Vemos, assim, caro(a) aluno(a), que a modificação da natureza e formas de


organização do trabalho exigem também novas ações e comportamentos dos
trabalhadores. Morin (2001) diz que diante dessa necessidade, as organizações
passam a desafiar os trabalhadores, oferecendo possibilidades de desenvolver
competências, exercer julgamentos, bem como conhecer a evolução de seus
desempenhos e se ajustar conforme requisitado.
O trabalhador é colocado diante da possibilidade de descobrir e formar a
sua identidade quando a organização lhe propõe atividades e tarefas com signi-
ficado, clareza de objetivos e resultados esperados. Por meio dessas atividades,
os trabalhadores passam a desenvolver novos atributos, que se materializam em
sua capacidade de participar, trabalhar em equipe, se relacionar, colocar-se no
lugar do outro, cooperar e ser flexível (PEREIRA et al., 2006).

MUNDO DO TRABALHO E CONTEXTO SOCIAL


157

Em contrapartida, Harman e Hormann (1997) destacam que as motivações para


o desenvolvimento do trabalho também se modificam. Enquanto no empregado tra-
dicional, a estabilidade, salários elevados e benefícios adicionais são suficientes para
motivar o trabalhador, nas novas categorias de trabalho estes não são mais suficientes.
Os novos trabalhadores, segundo Harman e Hormann (1997), são estimulados
por outros elementos, como: oportunidades de crescimento e aquisição de novos
conhecimentos, autonomia e reconhecimento pelo seu trabalho dentre outras. Ou
seja, o trabalho precisa ser ou se tornar significativo para o indivíduo.
Dessa forma, cada vez mais as organizações precisam oferecer benefícios
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

que atraiam e preservem os seus profissionais mais competentes. É impor-


tante,ainda, estimular o autodesenvolvimento, preservar a qualidade dos
relacionamentos, oferecer atividades significativas e fortalecer o trabalho
cooperativo (HARMAN; HORMANN, 1997).
Podemos dizer que trabalhadores e organizações se encontram diante de um
período transformações e adaptações constantes. Nada mais é permanente como em
épocas anteriores. Estamos diante de uma necessidade constante de ajuste, inova-
ção, recriação e novos valores, tanto para as organizações quanto para o trabalhador.

Estamos diante de aspectos que evidenciam mudanças que configuram


uma nova figura do trabalhador e a construção de novas relações com a
organização. Embora suas atividades ainda se identifiquem como operacio-
nais, no mundo contemporâneo, o trabalho se caracteriza principalmente
pelos requisitos intelectuais exigidos do trabalhador. Como lidamos com
esta realidade?

Para ajudar a elucidar sobre este processo de mudança, caro(a) aluno(a), no


próximo tópico vamos falar sobre a Emancipação Humana, que para nós é um
assunto muito pertinente quando falamos sobre as transformações e mudanças
no atual mundo do trabalho.

O Trabalho Atípico ou Diferenciado


158 UNIDADE V

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
EMANCIPAÇÃO HUMANA NO
MUNDO DO TRABALHO

Como compreendemos a emancipação? Propositalmente, caro(a) aluno(a),


começamos este tópico com uma pergunta, pois, precisamos pensar na emanci-
pação dentro de um contexto do mundo do trabalho.
Jovino Pizzi ([2017], on-line)2 afirma que a emancipação (do latim emanci-
pare) significa declarar alguém como independente, pois representa o processo
histórico, ideológico, educativo e formativo de emancipar indivíduos, grupos
sociais e países da tutela política, econômica e cultural. Sendo assim, o ideal
libertador se apoia na possibilidade (e necessidade) dos indivíduos se liberta-
rem de obstáculos e alienações impostas sobre eles.
Segundo o Dicionário das Ciências Sociais (1986, p. 389), “emancipação é o
ato simples ou complexo pelo qual uma pessoa, classe ou País se liberta do estado
de sujeição em que se encontrava anteriormente”. Podemos dizer então que a
emancipação se caracteriza como um novo estado no qual a pessoa se encontra,
pois passa a compreender os mecanismos de controle aos quais era submetida
e a partir de então se livra deles, se emancipa.

MUNDO DO TRABALHO E CONTEXTO SOCIAL


159

O Dicionário do Pensamento Social do Século XX (1996) apresenta as ciências


emancipatórias como aquelas que tratam da identificação e remoção de obstá-
culos impostos sobre os indivíduos, tais como blocos psicológicos e ideologias
sociais dominantes. A remoção desses obstáculos ocorre a partir do momento
em que o indivíduo transforma a maneira de compreender a si próprio rom-
pendo as barreiras - sociais, políticas e culturais - impostas sobre ele.
Para complementar nossa discussão, Silva (2007) destaca que a possibilidade
real de emancipação toma a feição concreta numa prática transformadora que
leva à constituição de uma sociedade de homens e mulheres livres e iguais. O
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

projeto emancipatório busca identificar a liberdade dos indivíduos, se opondo


ao conformismo e a manipulação destes pelo trabalho ou pela realidade que os
domina e pela imutabilidade da forma social.
Sendo assim, cabe destacar que para a concretização do projeto emancipa-
tório citado por Silva (2007), o indivíduo deve tornar-se um sujeito consciente
e determinar ativamente a sua própria forma de vida. O fato de emancipar-se
não limita o indivíduo à simples compreensão das complexas relações de seus
poderes humanos, mas sim da apropriação de sua essência total.
Por outro lado, Pizzi (2005) salienta que a emancipação não pode ser enten-
dida como independência completa dos elementos que cercam o indivíduo,
pois não se trata somente de libertar o sujeito do sistema social, isentando-o de
suas responsabilidades sociais e/ou morais, mas sim, da compreensão das rela-
ções de elementos e diretrizes que envolvem os indivíduos.
Nestes termos em que os indivíduos compreendem os elementos que os
envolvem, os estudos da emancipação humana possuem dimensões que expres-
sam formas não somente na vida organizacional, mas também na vida social,
política cultural e econômica.
Pizzi (2005) reforça que o desenvolvimento emancipatório aborda dois aspectos:
a) um aspecto endógeno, particular, interno, cuja meta é o reconhecimento das
obrigações e da responsabilidade individual; b) outro aspecto exógeno, que se
associa a fatores externos, ou seja, na competência em assumir e agir de acordo
com normas sociais e morais, vinculadas a padrões mínimos exigíveis para qual-
quer ser humano.

Emancipação Humana no Mundo do Trabalho


160 UNIDADE V

Fazemos parte de uma grande engrenagem – a sociedade, o mundo do tra-


balho – e, na maioria das vezes, não temos controle sobre ela.

Assim, tais aspectos – endógeno e exógeno – fundamentam o desenvolvimento


emancipacionista dos indivíduos, pois, relacionam valores do sujeito com as
normas da sociedade, não limitando a emancipação a um movimento político,
econômico ou social, mas sim, a uma inter-relação do indivíduo com o con-
texto que o envolve.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Sob esta perspectiva de inter-relação do indivíduo com o meio que o cerca,
cabe a afirmação de Luiz (2005) de que a emancipação humana é construída por
diferentes sujeitos sociais, e, principalmente por vários elementos que dão materia-
lidade a estes sujeitos.
Agora que nos familiarizamos com a emancipação, pensando-a em um con-
texto de vida social e organizacional, vamos conhecer alguns aspectos de uma de
suas abordagens de estudo. Trata-se da Teoria do Agir Comunicativo, de Jurgen
Habermas (2003), uma abordagem para a emancipação humana impulsionada por
meio do ato da fala, pela ação dialógica.

A AÇÃO COMUNICATIVA DE HABERMAS

Jurgen Habermas, filósofo e sociólogo alemão e membro da Escola de Frankfurt, na


Alemanha. Considerado um dos mais importantes intelectuais contemporâneos, se
dedicou ao estudo da democracia, utilizando para isso de suas teorias: do agir comu-
nicativo, da política deliberativa e da esfera pública.
Neste momento, pretendemos expor os principais pontos de sua teoria do Agir
Comunicativo, na qual a emancipação é tratada como contida no ato da fala, a partir
da ação dialógica e do entendimento dos sujeitos em meio a comunicação adequada
e livre de qualquer tipo de coerção. O intuito, caro(a) aluno(a), é tornar mais claro o
sentido dessa teoria de Habermas, validando-a para a compreensão do mundo atual.
De acordo com Habermas (2003) toda expressão dotada de sentido, seja um
proferimento (verbal ou não verbal), um artefato qualquer, como um utensílio,

MUNDO DO TRABALHO E CONTEXTO SOCIAL


161

uma instituição ou um documento, pode ser identificada em uma perspectiva


bifocal, ou seja, tanto como ocorrência observável, quanto como a objetivação
inteligível de um significado.
Esta concepção de Habermas quer dizer que é possível descrever e expli-
car um elemento ou artefato sem saber seu real significado, fazendo-o somente
pelo que se observa deste. Para captar e formular seu significado, é preciso um
envolvimento e entendimento das partes envolvidas, que pode ocorrer por meio
do agir comunicativo.
Sob a perspectiva do agir comunicativo, a emancipação resulta do paradigma
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

do agir orientado para o entendimento mútuo, de modo que a descoberta da razão


é propiciada pela atividade dos indivíduos que se comunicam por meio da lingua-
gem, tendo por objetivo a ação orientada pelo entendimento (HABERMAS, 2003).
Este pensamento é o que constitui o conceito de agir comunicativo.
No intuito de compreender o agir comunicativo, caro(a) aluno(a), cabe trazer a
diferença entre o agir e o falar, apresentada por Habermas (1990). Para ele o agir está
para atividades corporais do dia a dia, tais como, correr, fazer entregas, pregar, serrar;
e o falar está para “lançar mão” de atos de fala, como ordens, confissões, constatações.
Em sua teoria, o autor aborda dois tipos de razões que delineiam as ações dos
indivíduos: (1) a razão orientada para um fim; e (2) a razão orientada para o enten-
dimento. A primeira, segundo ele, tem como foco o fator de efetividade, a eficiência
técnica no uso dos meios, ou seja, seu foco principal é o êxito no alcance de objeti-
vos (eficácia), denominada ação estratégica. Já a segunda, que tem como ponto de
partida o uso comunicativo em atos de fala, suscita a ideia de razão orientada para
o entendimento, ou seja, ação comunicativa.
Segundo Habermas (2003) as ações dos indivíduos podem ainda ser interpreta-
das como o agir orientado para o sucesso e o agir da orientação para o entendimento
mútuo, sucessivamente. No agir orientado para o sucesso, os atores tendem a alcan-
çar os objetivos de sua ação por meio de armas ou bens, ameaças ou seduções sobre
a definição da situação ou sobre as decisões ou motivos de seus adversários, o grau
de cooperação e estabilidade resulta das faixas de interesses dos participantes. Já no
agir orientado para o entendimento mútuo, os atores perseguem suas respectivas
metas sob a condição de um acordo existente alcançado comunicativamente por
meio do ato da fala.

Emancipação Humana no Mundo do Trabalho


162 UNIDADE V

A razão comunicativa para Habermas (2003), é o tipo de ação pela qual os


agentes são considerados competentes linguisticamente ao empregarem o uso
de argumentos válidos e capazes de fundamentar suas proposições na interação
comunicativa. Este tipo de ação ocorre por meio de uma orientação dialógica e
coordenação mútua desses agentes, suscitando assim, a ação dialógica em fun-
ção da sua capacidade comunicativa.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
O agir comunicativo pode ser compreendido como um processo circular no
qual o ator é as duas coisas ao mesmo tempo: ele é o iniciador, que domina
as situações por meio de ações imputáveis; ao mesmo tempo, ele é também
o produto das tradições nas quais se encontra, dos grupos solidários aos
quais pertence e dos processos de socialização nos quais se cria.
Fonte: Habermas (2003, p. 166).

Habermas salienta ainda que no agir comunicativo, as interpretações cognitivas,


as expectativas morais, as expressões e valorações dos indivíduos têm de qual-
quer modo que se interpenetrar. Ao fazer uso do agir comunicativo, baseado na
linguagem dirigida ao entendimento, os atores levam em conta uns aos outros
e definem cooperativamente os seus planos de ação por meio dos processos de
entendimento mútuo e em uma perspectiva de visão compartilhada na base de
interpretações comuns da situação (HABERMAS, 2003; 1990).
Assim, o entendimento por meio da linguagem ocorre quando os atores se unem,
por intermédio da validade pretendida de suas ações de fala, levando em considera-
ção os dissensos constatados que, por intermédio das ações de fala, são levantadas
as pretensões de validade criticáveis, apontando para um reconhecimento inter-
subjetivo, e empregam o tipo correto de argumentos para que assim cheguem ao
entendimento mútuo (HABERMAS, 1990).
Dessa forma, ao se entenderem mutuamente, os sujeitos – falante e ouvinte –
estão envolvidos nas funções que as ações comunicativas realizam, e como ambas
as partes empenham-se em um processo de entendimento mútuo, minimizam-se as

MUNDO DO TRABALHO E CONTEXTO SOCIAL


163

distorções acerca do contexto abordado, destaca Habermas (2003). Podemos dizer


que o agir comunicativo se torna o epicentro das relações sociais, que ao se volta-
rem ao entendimento, tornam-se capazes de produzir novos resultados.
Nesta perspectiva, Baumgarten (1998) salienta que para a situação ideal de
fala ser atingida é necessário que todos os interessados participem do discurso,
tendo oportunidades idênticas de argumentar, dentro dos sistemas conceituais
existentes ou transcendendo-os. As chances destes indivíduos que participam
do discurso com afirmações, interpretações e recomendações têm de ser simé-
tricas e livres de qualquer tipo de coerção.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Assim, o ato de fala é explicitado com a comunicação linguística, e se conecta


com a reprodução das estruturas simbólicas do mundo da vida, revelando aquilo
que o indivíduo tem em mente ao comunicar-se um com outrem. Deste modo,
os indivíduos tornam-se sujeitos da ação e sua natureza interna, tais como, as
intenções que ele pode expressar enquanto vivências próprias, são manifestadas
por suas atitudes, conhecimento da linguagem e na interação com outros sujei-
tos (BOUFLEUER, 1997; STIELTJES, 2001).
Esta situação ideal da fala conduz a busca pela suposta condição de um ideal
de emancipação humana a qual se realiza, conforme Stieltjes (2001), a partir de
três áreas de interesse: (1) o interesse instrumental técnico, que procura eman-
cipar o homem das forças da natureza e das contingências econômicas; (2) o
interesse prático, que procura emancipar o homem das forças históricas e das
tradições culturais coercitivas impostas pela dominação política ou passivamente
aceitas por ingenuidade; (3) o interesse pela emancipação por meio da reflexão
crítica, o que exige formas não distorcidas de comunicação.
Portanto, na concepção de Habermas (2003), o que caracteriza o agir comu-
nicativo são os atos de entendimento mútuo que vinculam os planos de ação
dos diferentes participantes e reúnem as ações dirigidas para objetivos em uma
conexão interativa, possibilitando a emancipação.
O acordo não pode ser imposto à outra parte, e sim ocorrer por meio de um
processo de entendimento mútuo, onde os atores tratam de harmonizar interna-
mente seus planos de ação, e de só perseguir suas respectivas metas mediante um
acordo existente ou uma negociação sobre a situação e as consequências esperadas.

Emancipação Humana no Mundo do Trabalho


164 UNIDADE V

Espero que os pontos apresentados tenham contribuído para o seu processo de


aprendizagem caro(a) aluno(a). Sei que são novas informações e dúvidas podem
surgir, para isso é importante continuar as suas pesquisas e explorar ainda mais
o conteúdo a respeito deste tema.
Desejo que você tenha uma jornada de muito sucesso e desenvolvimento
de conhecimento!

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

MUNDO DO TRABALHO E CONTEXTO SOCIAL


165

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Chegamos ao final de mais uma unidade de estudo! Tivemos a oportunidade


de tratar sobre elementos e perspectivas que repercutem diretamente a vida do
indivíduo no mundo do trabalho e na sociedade como um todo. Quando reali-
zamos este tipo de observação em uma perspectiva das ciências sociais, temos
a oportunidade de perceber o quão nossos comportamentos são influenciados
pelo universo que nos rodeia.
Pudemos ver em nossas discussões nesta unidade, que as transformações
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

que aconteceram nos processos de produção e na organização do trabalho, se


intensificaram ao final do século XX e continuam cada vez mais aceleradas até
os dias atuais. Com isso, notamos o surgimento de novas formas de organização
do trabalho, antes não vistas e/ou percebidas, que modificaram a vida do traba-
lhador e definiram para este um novo papel em sociedade.
O denominado trabalho atípico, diferenciado, torna-se cada vez mais pro-
eminente e presente na sociedade, e não podemos deixar de reconhecer esta
realidade. Ao mesmo tempo, as pessoas estão cada vez mais informadas, intelectu-
alizadas e conscientes do seu papel na sociedade, influenciando comportamentos
e mobilizando ações.
Considerando esta realidade, discutimos alguns elementos da emancipação
humana, buscando compreender não somente o seu significado, mas principal-
mente promover a reflexão acerca do tema. Nesta perspectiva da emancipação
humana, tivemos a oportunidade de conhecer alguns elementos da Teoria do
Agir Comunicativo de Jurgen Habermas, que busca compreender que por meio
da ação dialógica o sujeito também pode emancipar-se.
Destacamos, caro(a) aluno(a), que este assunto não se esgota em nossas
discussões. É importante que você continue a pesquisar, gerar novas reflexões e
indagações, pois é assim que o conhecimento se transforma e gera novas desco-
bertas, novos caminhos, novas teorias. Continue empenhado(a) em sua jornada
de descobertas!

Considerações Finais
166

CARREIRA E MUNDO CONTEMPORÂNEO DO TRABALHO.


O trechos a seguir trazem algumas conjecturas sobre os conceitos de carreira, desta-
cando as modificações da concepção de tal elemento no mundo do trabalho, tendo
por base a perspectivas de alguns autores. São recortes e pensamentos que compuse-
ram também parte da minha dissertação e que podem nos trazer reflexões acerca deste
tema ao ser tratado no viés das ciências sociais.
A idéia de carreira nasce com a sociedade industrial capitalista liberal, que está fundada
sob idéias de igualdade, liberdade de êxito individual e progresso econômico e social.
A gestão de carreira é um tema discutido nas empresas ao se tratar do caminho percor-
rido pelo indivíduo na estrutura organizacional, configurando-se em um contexto de
profissionalização da gestão de Recursos Humanos e de uma forma geral da renovação
dos discursos gerenciais, que de uma estrutura rígida com foco na organização, passam
a destacar os funcionários como essenciais para a sobrevivência da organização (CHAN-
LAT, 1995).
Este destaque dos funcionários na estrutura organizacional foi decorrente da mobiliza-
ção das pessoas, as quais se tornaram ponto central nas sociedades industrializadas. As
organizações, face à concorrência nacional e internacional e aos novos valores sociais,
para sobreviver, tiveram de levar em consideração seu quadro de pessoal como recurso
fundamental, observando-se os desejos, as necessidades e as motivações de cada fun-
cionário (CHANLAT, 1995).
Assim, a gestão de carreira surge nas organizações diante desta necessidade de geren-
ciar seu capital humano, buscando melhor administrar os interesses de seu quadro de
pessoal e seus próprios interesses. A gestão de carreira tornou parte da estrutura política
da organização e essencial para a sua sobrevivência, pois, se constituiu como uma for-
ma de assegurar que as pessoas recrutadas permanecessem na organização (CHANLAT,
1995).
Na concepção de Robbins (1998), as mudanças no conceito de carreira são amplamente
observadas atualmente. O paternalismo, onde as organizações assumiam a responsabi-
lidade de gerenciar as carreiras de seus funcionários, dá lugar às carreiras autodirigidas,
onde o funcionário tem a responsabilidade sobre sua trajetória na organização, tornan-
do-se mais interessados em manter suas habilidades, capacidades e conhecimentos
atualizados, preparando-se para as tarefas que lhes são designadas.
Com a diminuição dos empregos da forma tradicional, onde a estabilidade prevalece
diante um grupo de políticas ou práticas da organização, observa-se uma transforma-
ção do mundo do trabalho, em que novas práticas e concepções são agregadas, modifi-
cando as características do trabalhador no contexto organizacional e suscitando novas
formas de organização do trabalho.
Fonte: a autora (Prof. Me. Patrícia Rodrigues da Silva).
167

1. Considerando as discussões propostas sobre as mudanças no mundo do traba-


lho, responda:
a) Qual a relação das transformações da sociedade ao final do século XX e início
do século XXI sobre os trabalhadores?
b) Quais eram as características dos sistemas taylorista e fordista de produção?
2. A automação, a robótica e a microeletrônica ocuparam o espaço fabril e levaram
a um conjunto de experimentos nos processos de trabalho. Com base nessa afir-
mação, assinale a alternativa que corresponda ao nome processo produtivo
surgido a partir deste impulso:
a) Fordismo.
b) Taylorismo.
c) Toyotismo.
d) Just in time.
e) Anacronismo.
3. O professor Paulo Roberto Motta (2000) destaca que os novos modelos de pro-
cessos de trabalho levaram a novas conquistas da organização do trabalho e es-
tilo de vida dos indivíduos, tratados também como uma revolução organizacio-
nal. O que isso significa?
168

4. Sobre o trabalho atípico ou diferenciado, marque V (verdadeiro) e F (falso) nas


proposições a seguir e assinale a alternativa que apresente a sequência cor-
reta:
( ) O trabalho atípico ou diferenciado surge diante da necessidade das pessoas
em fortalecer as formas de trabalho existentes.
( ) O trabalho atípico ou diferenciado é caracterizado por novas formas de orga-
nização do trabalho estabelecidas na sociedade.
( ) Nesta forma de organização do trabalho os trabalhadores precisam se inserir
de forma competitiva no novo paradigma econômico e social.
( ) Nesta forma de organização do trabalho, as características como horário de
tempo integral, trabalho efetivo, garantias formais e contratuais tendem a desa-
parecer.
( ) Os trabalhadores do mundo contemporâneo são fortemente caracterizados
por desenvolverem tarefas com baixo grau de adaptabilidade, meramente repe-
titivas e sem controle de ritmo ou função.
a) V-V-V-F-V.
b) F-F-V-F-V.
c) F-V-V-F-F.
d) V-V-F-F-F.
e) F-V-V-V-F.
5. A emancipação humana pode ser entendida somente como como independên-
cia completa dos elementos que cercam o indivíduo? Justifique a sua resposta.
6. Considerando os elementos apresentados sobre o agir comunicativo de Jurgen
Habermas, assinale a alternativa que apresente a principal característica
desta teoria como uma possibilidade de emancipação:
a) A mudança do modelo de produção.
b) A comunicação mesmo que sob coerção.
c) O poder de um sujeito sobre o outro.
d) O entendimento mútuo por meio da ação dialógica.
e) O entendimento mútuo pelo uso do poder.
MATERIAL COMPLEMENTAR

Os sentidos do trabalho: Ensaio sobre a afirmação


e a negação do trabalho
Ricardo Antunes
Editora: Boitempo
Sinopse: Nesse livro, Ricardo Antunes demonstra que a
sociedade do trabalho abstrato possibilitou, por meio da
constituição de uma massa de trabalhadores expulsos do
processo produtivo, a aparência da sociedade fundada
no descentramento da categoria trabalho e na perda de
centralidade do ato laborativo no mundo contemporâneo.
Porém, o autor também alerta para o fato de que o
entendimento das mutações em curso no mundo operário nos obriga a ir além das aparências. Ao
fazer isso, lembra que o sentido dado ao trabalho pelo capital é completamente diverso do sentido
atribuído pela humanidade.

Programa Roda Viva: Domênico de Masi.


O pensador e sociólogo italiano vem ao centro do Roda Viva falar sobre suas teorias, como o
ócio criativo. As discussões propõem reflexões acerca de suas teorias e também sobre a crise da
sociedade do trabalho.
Para saber mais, acesse o link disponível em: <https://www.youtube.com/
watch?v=MSEUPqHnv14>.

Tempos Modernos
No filme Tempos Modernos, com Charlie Chaplin, notamos esta concepção do trabalho
minimamente controlado, no qual os trabalhadores executavam tarefas repetitivas e exaustivas.
Esse trabalho era percebido como parte da engrenagem, inclusive, explicitado em uma cena
do filme. Vale realmente compreender um pouco mais das características deste período para
interpretá-las à luz dos tempos atuais. No link abaixo você pode assistir ao filme:
Para saber mais, acesse o link disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=ieJ1_5y7fT8>.

Material Complementar
REFERÊNCIAS

ANTUNES, R. Adeus ao Trabalho?: ensaio sobre as metamorfoses e a centralidade


do mundo do trabalho. São Paulo: Cortez, 2005.
ANTUNES, R. Os sentidos do trabalho: ensaio sobre a afirmação e a negação do
trabalho. São Paulo: Boitempo Editorial, 2006.
BAUMGARTEN, M. Habermas e a emancipação: rumo à democracia discursiva? In:
Cadernos de Sociologia, n. 10, p. 137-178. Porto Alegre: PPGS, 1998.
BOUFLEUER, J. P. Pedagogia da ação comunicativa: uma leitura de Habermas. Ijuí:
Editora Unijuí, 1997.
CHANLAT, J-F. Quais Carreiras e para qual sociedade (I). RAE – Revista de Adminis-
tração de Empresas, v. 35, n. 6, p. 67-75, 1995. São Paulo: FGV.
FLEURY, A. C. C.; VARGAS, M. (org). Organização do trabalho: uma abordagem in-
terdisciplinar – sete casos brasileiros para estudo. São Paulo: Atlas, 1983.
HABERMAS, J. Pensamento Pós-metafísico: estudos filosóficos. Rio de Janeiro:
Tempo Brasileiro, 1990.
HABERMAS, J. Consciência moral e agir comunicativo. Rio de Janeiro: Tempo Bra-
sileiro, 2003.
HARMAN W.; HORMANN J. O trabalho criativo. São Paulo: Cultrix, 1997.
LARANJEIRA, S. M. G. As transformações do trabalho num mundo globalizado. In: So-
ciologias, n. 4, p. 14-19, dez. 2000. Porto Alegre. Disponível em: <http://www.scielo.
br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1517-45222000000200002&lng=en&nrm=i-
so>. Acesso em: 28 abr. 2017.
LUIZ, D. E. C. Emancipação, v. 5, n.1, 2005. Universidade Estadual de Ponta Grossa.
Departamento de Serviço Social. Ponta Grossa - PR: Editora UEPG.
MARQUES, R. M. A proteção social e o mundo do trabalho. São Paulo: Bienal, 1997.
MARTÍNEZ, E. M. In.: SILVA, B. (coord.) Dicionário de Ciências Sociais. Rio de Janei-
ro: Fundação Getúlio Vargas – FGV, 1986.
MORIN, E. M. Os sentidos do trabalho. In: Revista de Administração de Empresas,
v. 4, n. 3, Jul./Set. 2001. São Paulo.
MOTTA, P. R. Transformação Organizacional: a Teoria e Prática de Inovar. Rio de
Janeiro : Qualitymark, 2000.
ROBBINS, S. P. Comportamento organizacional. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e
Científicos, 1998.
OUTHWAITE, W.; BOTTOMORE, T. Dicionário do Pensamento Social do Século XX.
Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editora, 1996.
171
REFERÊNCIAS

PEREIRA, M. C. et al. O Fenômeno do Stress no Trabalho Sob a Ótica Sócio-Constru-


cionista: a produção de sentidos em uma organização militar. In: ENANPAD – Encon-
tro Anual dos Programas de Pós-Graduação em Administração, 30, 2006, anais...
Salvador: ANPAD, 2006.
SCHMITT, E. C. Controle Social, vínculo e subjetividade: estudo de caso em uma
organização multinacional. 2003. 180 f. Dissertação (Mestrado) - Programa de Pós-
-Graduação em Administração, Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2003.
SILVA, V. A. Adorno e Horkheimer: a teoria crítica como projeto de emancipação.
2007. 131 f. Dissertação (Mestrado) - Programa de Pós-Graduação em Filosofia, Uni-
versidade Federal da Bahia, Salvador, 2007.
STIELTJES, C. Jurgen Habermas: A Desconstrução de uma teoria. São Paulo: Germi-
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VASAPOLLO, L. O trabalho atípico e a precariedade. São Paulo: Expressão Popular,
2005.

REFERÊNCIAS ON-LINE

1
Em: <http://www.portal-administracao.com/2013/12/sistema-toyota-de-produ-
cao.html>. Acesso em: 28 abr. 2017.
2
Em: <https://www.yumpu.com/pt/document/view/12892914/o-desenvolvimen-
to-e-suas-exigencias-morais>. Acesso em: 28 abr. 2017.
GABARITO

1.
a) Este impulso impactou diretamente na subjetividade dos trabalhadores, mo-
dificando principalmente a sua forma de inserção na estrutura produtiva, a sua
forma de desenvolvimento do trabalho.
b) Estes sistemas, que eram calcados na produção em massa tinham algumas ca-
racterísticas específicas que merecem ser relembradas:
■■ Linha de montagem e fabricação de produtos mais homogêneos.
■■ Controle dos tempos e movimentos, pelo cronômetro e produção em série.
■■ Trabalho parcelar e pela fragmentação das funções.
■■ Existência de unidades fabris concentradas e verticalizadas.
■■ Constituição/consolidação do operário-massa, do trabalhador coletivo fa-
bril entre outras dimensões.
2. C.
3. Significa uma mudança na forma de ser do trabalhador e no processo produti-
vo, uma nova concepção do ambiente de trabalho e de organização social da
produção. No novo processo produtivo, o trabalhador passou a assumir tarefas
especializadas antes ausentes de suas preocupações diárias, o que reduziu dras-
ticamente o trabalho manual e esforço físico, com estruturas organizacionais al-
tamente descentralizadas.
4. E.
5. Não. Porque não se trata somente de libertar o sujeito do sistema social, isentan-
do-o de suas responsabilidades sociais e/ou morais, mas sim, da compreensão
das relações de elementos e diretrizes que envolvem os indivíduos.
6. D.
173
CONCLUSÃO

Chegamos ao final das discussões de nosso livro. Esperamos que a sensação aqui
seja de um grande novo começo. Temos certeza de que você, caro(a) aluno(a), tem
em mente novas concepções, novos entendimentos, novas formas de enxergar o
mundo que o(a) cerca.
Apresentamos em nosso livro de Ciências Sociais aspectos diversos, por meio de
conceitos, teorias, ideias de autores, além, é claro, de nossas próprias concepções.
Esperamos que por meio de tais elementos você tenha podido construir um novo
olhar sobre a cultura, a identidade do indivíduo, a cultura organizacional, o simbo-
lismo nas organizações, as representações construídas pelos indivíduos.
Queremos que saiba que, da primeira a quinta unidade, nosso intuito foi levá-lo(a) a
um processo de reflexão, a um despertar para o conhecimento acerca de elementos
comuns ao nosso cotidiano que precisam ser pensados, discutidos. Esperamos que
você tenha novas concepções sobre o mundo do trabalho, sobre as mudanças dos
processos de produção e a repercussão sobre a vida das pessoas, dos trabalhadores.
Esperamos que tenhamos gerado reflexão acerca da ascensão da tecnologia, tam-
bém como impulsionadora das mudanças sentidas e percebidas no contexto do
mundo contemporâneo do trabalho.
Concluímos com o desejo de que você tenha refletido e que continue a refletir so-
bre a emancipação humana, sobre as necessidades de entendimento mútuo nos
mais diversos contextos organizacionais, de modo que você tenha adquirido uma
bagagem de conhecimento que contribua não somente para o seu processo de for-
mação, mas, para toda a sua vida.
Por fim, esperamos que você continue a estudar, a pesquisar e ampliar o seu conhe-
cimento sobre estas temáticas que tanto influenciam o cotidiano do trabalho e toda
a vida em sociedade. Grande abraço!
Professoras: Rízia, Patrícia Bernardo, Patrícia Rodrigues
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