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GRADUAÇÃO
Unicesumar
Reitor
Wilson de Matos Silva
Vice-Reitor
Wilson de Matos Silva Filho
Pró-Reitor Executivo de EAD
William Victor Kendrick de Matos Silva
Pró-Reitor de Ensino de EAD
Janes Fidélis Tomelin
Presidente da Mantenedora
Cláudio Ferdinandi
CIÊNCIAS SOCIAIS
SEJA BEM-VINDO(A)!
É com grande satisfação que apresentamos a você, caro(a) aluno(a), o livro que servirá
de suporte para os seus estudos na disciplina de Ciências Sociais. Preparamos este livro
com muito cuidado, trabalhando com autores clássicos que dão subsídio suficiente para
o desenvolvimento do conhecimento desta disciplina para cursos da grande área de
Ciências Sociais Aplicadas.
Inicialmente, precisamos esclarecer que as Ciências Sociais correspondem a uma grande
área de estudo sob a qual podem estar as mais diversas perspectivas e linhas de pes-
quisas. Quando pensamos neste livro, tentamos trazer os recortes que oferecessem um
conhecimento aprofundado e ao mesmo tempo direcionado para você, aluno(a), dentro
da linha de formação que você escolheu. Assim sendo, apresentaremos, sucintamente,
os conteúdos com os quais você terá contato. Vamos lá!
Na primeira unidade, sob o título “Introdução às Ciências Sociais”, trabalharemos os con-
teúdos de maneira a familiarizar você estudante no que diz respeito a esta disciplina.
Nesta unidade serão trabalhados alguns aspectos referentes à natureza e cultura, tipos
de sociedade, aspectos da vida em grupo, bem como as diferentes concepções da socie-
dade. Tais pontos se mostrarão importantes para ajudar na compreensão dos conteúdos
seguintes, e também para compreender um pouco mais sobre a vida social e a influên-
cia das instituições sociais.
Na segunda unidade, intitulada “Clássicos de Ciências Sociais”, apresentaremos os prin-
cipais autores clássicos das Ciências Sociais, trazendo as suas percepções, ideias centrais
sobre a sociedade e os seus elementos. Você conhecerá os ideais de Émile Durkheim,
Max Weber e Karl Marx, e as suas contribuições para o entendimento da sociedade.
Quando chegar a terceira unidade, “Identidade, Cultura e Consumo”, você conhecerá
alguns elementos que circundam o nosso cotidiano e influenciam o nosso comporta-
mento. Será tratado sobre as subculturas e os grupos sociais, sobre a construção do
indivíduo, sobre os significados do consumo no mundo contemporâneo. São assuntos
muito atuais, que são discutidos nas mais diversas linhas de pesquisa.
A quarta unidade, sob o título “Simbolismo nas Organizações”, trazemos elementos que
dão continuidade à linha de discussão que vinha se estabelecendo em nosso livro, par-
tindo dos elementos da cultura organizacional, passando pelo processo de apropriações
e construção de representações por parte dos indivíduos, e, chegando às construções
metafóricas da realidade. O intuito foi levá-lo(a) à reflexão da concepção do mundo e da
vida social como uma representação, e não como uma realidade objetiva e totalmente
clara.
APRESENTAÇÃO
UNIDADE I
15 Introdução
38 Considerações Finais
45 Referências
46 Gabarito
UNIDADE II
49 Introdução
67 Considerações Finais
74 Referências
75 Gabarito
10
SUMÁRIO
UNIDADE III
79 Introdução
85 A Noção do Eu
93 O Consumo da Contemporaneidade
105 Referências
109 Gabarito
UNIDADE IV
113 Introdução
141 Referências
143 Gabarito
11
SUMÁRIO
UNIDADE V
147 Introdução
170 Referências
172 Gabarito
173 CONCLUSÃO
Professora Me. Rizia Ferrelli Loures Loyola Franco
INTRODUÇÃO ÀS
I
UNIDADE
CIÊNCIAS SOCIAIS
Objetivos de Aprendizagem
■■ Diferenciar a natureza da cultura.
■■ Informar aspectos da vida em grupo.
■■ Apresentar diferentes concepções de sociedade.
■■ Introduzir o estudo das Ciências Sociais
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■■ Diferenças entre natureza e cultura
■■ Aspectos da vida em grupo
■■ Apresentação dos tipos de sociedades
■■ Introdução ao estudo das Ciências Sociais
15
INTRODUÇÃO
Caro(a) aluno(a), você já parou para pensar que vivemos constantemente em con-
tato com o outro? Interagimos com os membros de nossa família, no ambiente
de trabalho e também acadêmico. Até mesmo nos espaços de lazer praticamos
atividades em grupo.
Nesse sentido, observamos que a humanidade aprendeu a conviver com os
demais membros de seu grupo e a buscar padrões nas diversas relações estabe-
lecidas, e que viver em isolamento total é algo quase que impossível no mundo
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Introdução
16 UNIDADE I
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
DIFERENÇAS ENTRE NATUREZA E CULTURA
Muitas vezes, prezado(a) acadêmico(a), nos deparamos com situações que nos
fazem pensar se alguma atitude seria própria da humanidade. Em outras ocasiões
observamos como somos parecidos com os demais seres vivos. Contudo, nossa
inteligência e habilidades, como a linguagem e a produção de diversos artefa-
tos, nos diferenciam dos demais animais. O que produzimos afeta diretamente
o nosso próprio meio. Desse modo, estudaremos o que compreende o universo
natural que, por sua vez, é modificado pela cultura.
A NATUREZA
A CULTURA
Desse modo, o homem sabe chorar, mas desenvolve o hábito de não chorar,
ao longo da construção de sua identidade, para ser aceito em seu grupo social
pela cultura. Como em nossa sociedade brasileira, na qual muitos homens ainda
são educados para não chorarem, uma vez que o choro pode significar, dentro
de algumas culturas, fraqueza.
Diante do exposto, Costa (2010, p. 190) afirma que “[...] a cultura não é
um conjunto de determinações rígido e acabado; ao contrário, ela integra de
maneira dinâmica os padrões das ações e reações humanas.” Apesar de exercer
pressão sobre a formação do caráter e da personalidade do indivíduo, a cultura
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é elaborada numa relação dupla na qual aquele que sofre suas influências ajuda
a produzir novas relações.
Nesse sentido, nem tudo é genético, não se desenvolve automaticamente
da natureza. Para se tornar um humano, o homem tem que aprender com seus
semelhantes uma série de atitudes que lhe seriam impossíveis serem desenvol-
vidas no isolamento.
NATUREZA CULTURA
Tudo o que existe no Universo sem a Tudo que existe com a intervenção
Intervenção da ação humana humana
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Obras da natureza como o céu, o mar, a Obras do homem como edifícios,
terra navios e ruas
Reino da repetição Reino da transformação
Não elabora significados abstratos Elabora significados abstratos ou
simbólicos
Alimenta-se por sobrevivência Alimenta-se por sobrevivência e
prazer
Fonte: adaptado de Chauí (2000).
Desse modo, caro(a) aluno(a), observamos que ao mesmo tempo em que a cultura
modifica o homem, este por sua vez também tem a capacidade de transformá-
-la, na medida que também produz a cultura. Assim, de acordo com a cultura
que estamos inseridos, vamos aprendendo a reproduzir e a produzir os elemen-
tos que nos fazem relacionar com os outros e com o meio.
Por mais que adestremos os animais e os façamos se aproximar de comporta-
mentos semelhantes aos humanos, eles jamais conseguirão transpor o limite que
separa a natureza da cultura. Para prosseguirmos com o nosso estudo, tratamos
agora sobre os termos empregados anteriormente: grupos sociais e o universo
simbólico, interação social e valores.
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“A socialização é o processo através do qual o ser humano começa a apren-
der o modo de vida de sua sociedade, adquire [...] a capacidade de funcionar
como indivíduo e como membro do grupo”. Os principais agentes de sociali-
zação são a família, a escola, os amigos e os meios de comunicação.
Por outro lado, a linguagem humana, dentro de cada grupo social, exprime
pensamentos, sentimentos e valores diferentes; possui uma função de conheci-
mento e de expressão, ou função conotativa. Uma mesma palavra pode exprimir
sentidos ou significados diferentes. Isso depende, caro(a) aluno(a), do sujeito que
a emprega, do sujeito que a ouve ou lê, das condições ou circunstâncias em que
foi empregada ou do contexto em que é usada.
Conforme Giddens e Netz (2005, p. 22), “as normas e os valores são as regras
de comportamento que refletem ou incorporam os valores de uma cultura”. Nesse
sentido, valorizamos alguma coisa em detrimento a outra. O que é valorizado
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por determinado grupo social, considerado uma atitude boa ou má, tido como
sagrado ou profano, perigoso ou seguro, depende dos valores.
De acordo com Chauí (2000), em cada cultura existe uma atribuição de
valor. Vejamos a seguir:
1) Valores às coisas e aos homens - bom, mau, justo, injusto, verdadeiro,
falso, belo, feio, possível, impossível, perigoso, sagrado.
2) Valores a humanos e suas relações - diferença sexual e proibição de
incesto, virgindade, fertilidade, puro-impuro, virilidade.
3) Valores a humanos e suas relações entre as diferenças etárias - forma
de tratamento dos mais velhos e dos mais jovens).
4) Valores a humanos e suas relações entre diferença de autoridade - for-
mas de relação com o poder.
5) Valores econômicos - relativos ao capital econômico.
6) Valores estéticos - as diferenças para considerarmos o que é belo ou feio.
Desse modo, a cultura é vista como tudo que o homem produz ao construir
sua existência: práticas, teorias, instituições, valores materiais e espirituais.
Entretanto, o que é valorizado hoje pode não ser o mesmo valorizado amanhã,
ou seja, esses padrões podem sofrer alterações.
Pensamos no hábito do café da manhã, prezado(a) aluno(a). Em nosso país,
por exemplo, temos o costume de iniciar o dia com o café da manhã, que geral-
mente é composto por café, leite, pão, manteiga. Às vezes, frutas e bolos. Em
outros lugares, o café da manhã compreende bacon e ovos cozidos. Observamos,
portanto, diferenças culturais conforme a sociedade.
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APRESENTAÇÃO DOS TIPOS DE SOCIEDADES
Já Dias (2010, p. 148) observa a sociedade como “um grupo autônomo de pes-
soas que ocupam um território comum, têm uma cultura comum e possuem a
sensação de identidade compartilhada”.
Em outras palavras, sociedade caracteriza-se por um conjunto de pessoas
com a mesma cultura, que por sua vez, novamente recebe destaque para ajudar
a interpretar o social. Outra característica da sociedade é que ela é estruturada
de modo desigual. Essa estratificação social ou divisão da sociedade apresenta
as desigualdades relativas à riqueza, poder ou até mesmo prestígio entre os gru-
pos sociais que compõem a sociedade (GIDDENS; NETZ, 2005).
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grupos de caçadores coletores, que pouco interesse têm em incrementar
a riqueza material [...]. Suas principais preocupações, por norma pren-
dem-se com valores religiosos, atividades rituais e cerimoniais. [...] a
divisão de trabalho entre homens e mulheres é muito importante: os ho-
mens tendem a dominar as posições públicas e cerimoniais (GIDDENS;
NETZ; 2005, p.30).
Outras formas de sociedade são as pastoris, que vivem principalmente de seu reba-
nho, e as sociedades agrárias, que praticam a agricultura. Algumas ainda vivem
numa economia mista, com ambas as atividades conforme o meio. No mundo oci-
dental, estão presentes em algumas regiões da África, do Médio Oriente e da Ásia
Central (GIDDENS; NETZ, 2005).
Além dessas já apresentadas, há a forma de sociedade escravista, na qual parte
dos indivíduos escravizados são os próprios meios de produção, ou seja, os escra-
vos são considerados como objetos e ferramentas. Essa sociedade é baseada na
agricultura e a produção é artesanal. Infelizmente existe a exploração e a domi-
nação de um grupo sobre o outro, e como exemplo disso, temos ainda, as cidades
Gregas no século V a. C., nas quais o trabalho era imposto aos escravos enquanto
os filósofos se dedicavam às demais atividades.
Já na sociedade feudal, a principal característica são os feudos que perten-
ciam aos senhores. Os servos trabalhavam nesses feudos ou terras e parte de sua
produção era destinada ao proprietário. Mesmo não sendo escravos, os servos
pertenciam ao senhor feudal. Tais servos trabalhavam de modo artesanal e com
a agricultura. Esse tipo de sociedade existiu na Idade Média (MEKSENAS, 2001).
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Conforme a industrialização cresceu na Groelândia, alguns padrões ainda
são diferentes ao nosso olhar. Um dos valores do capitalismo é que sorrir e
ser gentil é de sua importância para o relacionamento com os clientes. Para
Giddens (2010), os clientes que são atendidos com um sorriso e com pala-
vras gentis acabam, com mais probabilidade, por se tornar clientes habitu-
ais. Hoje em dia, em muitos supermercados da Groelândia, são mostrados
aos empregados vídeos educativos sobre técnicas de atendimento cortês.
Fonte: adaptado de Giddens e Netz (2005).
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Industrial, na Inglaterra, caracterizada pelo “[...] conjunto amplo de transforma-
ções econômicas e sociais que acompanharam o surgimento de novos avanços
tecnológicos como a máquina a vapor e a mecanização” (GIDDENS; NETZ,
2005, 2008, p.7).
Esse processo de mecanização das máquinas industriais, como o uso do tear
a vapor, possibilitou a aceleração do ritmo de trabalho e fez com que surgisse
um novo grupo social, os trabalhadores. Sem terras e desprovidos de máquinas
manuais, os camponeses e artesãos começaram a vender a força de trabalho para
os burgueses em troca de um salário (MEKSENAS, 2001).
Nesse sentido, o avanço da industrialização favoreceu a migração de cam-
poneses para as áreas urbanas. Ao deixar suas terras, transformaram-se em mão
de obra barata nas indústrias e aceleraram o crescimento urbano, produziram
“novas formas de relacionamento social” (GIDDENS, 2008, p.7).
Entretanto, na medida em que os empresários enriqueciam, os trabalhado-
res, nada possuindo, passavam fome, pois o salário recebido era muito pouco.
Os pais colocavam as crianças para trabalharem nas fábricas e trabalhavam entre
14 a 16 horas diariamente. Geralmente, as casas que habitavam eram cortiços
sujos, pequenos e sem ventilação, ou seja, as condições da vida na cidade eram
péssimas para a maioria dos trabalhadores. Assim, o capitalismo, a partir do
final do século XIX, desenvolvia-se como nova forma de organização da socie-
dade e das relações de trabalho (MEKSENAS, 2001).
Até hoje essas mudanças nos afetam, pois muito do que consumimos, como
o café, por exemplo, é produzido por meio de processos industriais.
INSTITUIÇÕES SOCIAIS
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não o sistema econômico; vemos o funcionário público ao aplicar uma multa,
mas não o sistema político. Nesse sentido, a bandeira e o hino nacional repre-
sentam a instituição pública; a catedral ou a cruz podem representar a instituição
religiosa; e uma aliança a instituição do casamento (DIAS, 2010).
Ao viver em sociedade, observamos que por mais que o indivíduo possa
apresentar características, gostos individuais, ele é influenciado pelo meio em
que vive. Existem regularidades em nosso comportamento, nos modos de agir
e pensar que variam geralmente conforme o sexo, idade, nacionalidade e grupo
social que a pessoa convive (COSTA, 2010, p. 11).
[...] As sociedade são unidas por meio de relações sociais, não só entre
pessoas, mas também entre as instituições sociais (família, educação,
religião, política, economia). E, por estarem interconectadas, invaria-
velmente a mudança em uma conduz à mudança em outras. As ins-
tituições sociais estabelecem vínculos entre o passado, o presente e o
futuro: elas dão continuidade à vida social (DIAS, 2010, p. 148).
Nesse sentido, refletir sobre a sociedade com base nas teorias sociológicas nos auxi-
lia na compreensão da vida social e do comportamento de um grande número de
pessoas. O diálogo entre a sociologia e diversas outras áreas, como antropologia
e economia política, permite que cada um de nós, cidadãos, nos comprometa-
mos com a sociedade em que vivemos (COSTA, 2010).
Isso quer dizer que as diferenças existentes no comportamento modelado
em sociedade resultam da maneira pela qual são organizadas as relações entre
os indivíduos. É por meio delas que se estabelecem os valores e as regras de con-
duta que nortearão a construção da vida social, econômica e política.
A SOCIOLOGIA
Estuda a vida social formada por grupos e sociedades. O simples ato de tomar
café ou compartilhar uma refeição possibilita um estudo rico em interpretações
sociológicas, na medida em que ocorrem as interações sociais. Um sociólogo
pode estudar, por exemplo, os motivos pelos quais o café e o álcool são dro-
gas socialmente aceitáveis, enquanto que o consumo de maconha ou cocaína é
repudiado em determinadas sociedades (GIDDENS; NETZ, 2005). Retomando
o exemplo do café, podemos dizer que o indivíduo está
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Observamos, caro(a) aluno(a), que nossos valores e comportamentos estão for-
temente influenciados pelo meio social mais do que se imagina. “É tarefa da
Sociologia investigar as relações entre o que a sociedade faz de nós e o que nós
fazemos de nós próprios” (GIDDENS; NETZ, 2005, p. 6).
Em suma, essa área analisa as forças sociais que influenciam nosso compor-
tamento. Desse modo, a sociologia nos permite uma compreensão de pontos de
vista e atitudes diferentes das nossas. Cabe a nós conhecê-las e respeitá-las como
exercício da cidadania.
ANTROPOLOGIA
tamento. Esse estudo relaciona-se tanto com as chamadas ciências biológicas quanto
as culturais. A Antropologia e a Sociologia buscam a “compreensão do caráter glo-
bal do homem, enquanto reunido em sociedade” (MARCONI; PRESOTTO, 2013,
p.8). Por fim, a Antropologia também estuda a Política, uma vez que “toda socie-
dade se organiza politicamente através de um complexo de instituições que regula
o poder, a ordem e a integridade do grupo.” (MARCONI; PRESOTTO, 2013, p.9).
CIÊNCIA POLÍTICA
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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Além disso, vivemos sobre a influência das instituições sociais: o indiví-
duo nasce numa família, entra numa escola, pertence geralmente a uma igreja
e, em nossa sociedade, ao completar 18 anos é obrigado a exercer sua cidadania
e votar. Somente os costumes mais importantes para o grupo são comunicados
e repetidos por muito tempo, são considerados instituições sociais, que por sua
vez, dirigem o comportamento em sociedade.
Assim, o estudo da relação e interação entre diferentes grupos sociais, cul-
turais, econômicos e políticos são de interesse das Ciências Sociais. Essa ciência
estuda a vida social dos grupos e das sociedades. Desse modo, prezado(a) alu-
no(a), é importante que em sua graduação você tenha acesso às questões sociais
para sua formação pessoal e profissional. Vimos que as Ciências Sociais abor-
dam diversas áreas como Antropologia, Sociologia, Política, Filosofia, História
entre outras.
Esperamos que esse estudo possibilite a você olhar para a vida social sob
uma nova ou outra perspectiva com relação aos diferentes comportamentos
em sociedade. Em outras palavras, que esse estudo seja posto em prática, pro-
porcionando a compreensão de que cada cultura possui suas próprias regras de
convivência e que cabe ao(a) acadêmico(a), pesquisador(a) e profissional res-
peitá-las para uma boa convivência.
[...] Na hierarquia dos mágicos profissionais, logo abaixo dos médicos-feiticeiros no que
diz respeito ao prestígio, estão os especialistas cuja designação pode ser traduzida por
“sagrados-homens-da-boca”. Os Nacirema tem um horror quase que patológico, e ao
mesmo tempo uma fascinação, com relação à cavidade bucal, cujo estado acreditam ter
uma influência sobrenatural em todas as relações sociais. O ritual de corpo executados
por cada Nacirema diariamente inclui um rito bucal. Apesar de serem tão escrupulosos
no cuidado bucal este rito envolve uma prática que choca o estrangeiro não iniciado,
que só pode considerá-lo como revoltante. Foi-me relatado que o ritual consiste na in-
serção de uma pequeno feixe de cerdas de porco na boca, juntamente com certos pós
mágicos e então em movimentá-lo numa série de gestos altamente formalizados.
Além do ritual bucal privado, as pessoas procuram o mencionado sacerdote-da-boca
uma ou duas vezes ao ano. Estes profissionais têm uma impressionante coleção de ins-
trumentos consistindo de brocas, furadores, sondas e agulhões. O uso destes objetos
no exorcismo dos demônios bucais envolve para o cliente, uma tortura ritual quase
inacreditável.
[...] Na vida cotidiana o Nacirema evita a exposição de seu corpo e das suas funções
naturais. As atividades excretoras e o banho, enquanto parte dos ritos corporais, são
realizados apenas no segredo do santuário doméstico. Da perda súbita do segredo do
corpo quando da entrada no “latipso”, podem resultar traumas psicológicos.
[...] Como conclusão, deve-se fazer referências a certas práticas que têm suas bases na
estética nativa, mas que decorrem da aversão perversiva ao corpo natural e suas fun-
ções. Existem jejuns rituais para tornar as magras pessoas gordas, e banquetes cerimo-
niais para tornar gordas pessoas magras. Outros ritos são usados para tornar maiores
os seios das mulheres que os têm pequenos, e torná-los menores quando são grandes.
A insatisfação geral com o tamanho do seio é simbolizada no fato da forma ideal estar
virtualmente além da escala de variação humana. Umas poucas mulheres, dotadas com
um desenvolvimento hipermamário, são tão idolatradas que podem levar uma boa vida
indo de cidade em cidade e permitindo aos embasbacados nativos, em troca de uma
taxa, contemplarem-nos.
[...] Nossa análise da vida ritual dos Nacirema certamente demonstrou ser este povo do-
minado pela crença na magia. É difícil compreender como tal povo conseguiu sobrevi-
ver por tão longo tempo sob a carga que impôs sobre si mesmo.
Fonte: MINER (1976).
41
1. C.
2. C.
3. B.
4. D.
5. D.
Professora Me. Patrícia Bernardo
CLÁSSICOS DAS
II
UNIDADE
CIÊNCIAS SOCIAIS
Objetivos de Aprendizagem
■■ Apresentar os principais autores clássicos das Ciências Sociais.
■■ Expor, sucintamente, os conceitos de Émile Durkheim sobre estudos
acerca da sociedade.
■■ Apresentar a visão de Max Weber sobre os fatos sociais.
■■ Apresentar as ideias centrais da percepção de Karl Marx sobre a
sociedade capitalista e as lutas de classes sociais.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■■ Percepções de David Émile Durkheim sobre a sociedade
■■ As análises de Max Weber sobre a ação social
■■ Perspectivas de Karl Marx e a sociedade capitalista
49
INTRODUÇÃO
No cotidiano, em nossa sociedade, nos deparamos com situações que não con-
seguimos compreender se olharmos somente para a situação isolada, para
compreendê-las é necessário analisarmos as relações que os indivíduos ou gru-
pos de indivíduos estabelecem entre si. Tais situações ocorrem em nosso cotidiano
particular e organizacional, e são as chamadas situações sociais (TOMAZI;
ALVAREZ, 1995). Elas são de interesse primordial das Ciências Sociais, pois
suas causas não estão relacionadas à natureza ou a vontade humana, mas pos-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
suem relação direta com a sociedade, com os grupos sociais e nas ações sociais.
O autor Guerreiro Ramos (1966) afirma que dentro do campo da Gestão as
pessoas precisam desenvolver um senso sociológico forte e crítico, pois é nas orga-
nizações que passamos boa parte da nossa vida. Devido ao percurso já trilhado
pelos pesquisadores da sociologia, podemos recorrer às teorias já formuladas e
legitimadas no meio das Ciências Sociais para compreender situações vivencia-
das na sociedade moderna e nas organizações.
Assim, nas páginas que seguem trataremos sobre os autores clássicos das
Ciências Sociais: David Émile Durkheim (1858-1917), Karl Heinrich Marx
(1818-1883) e Max Weber (1864-1920). Como os trabalhos destes autores são
vastos e de conteúdo denso, abordaremos somente os principais pensamentos
que contribuíram para a compreensão da sociedade, das relações sociais e no
estudo sobre as organizações.
Com relação a Durkheim, apresentaremos os principais conceitos que são base
de seus estudos, como: fatos sociais, consciência coletiva, solidariedade mecânica
e orgânica. Ao abordar os pensamentos de Weber, faremos um recorte especial
sobre os conceitos de ação social e as formas de dominação e poder. Referente
a Karl Marx, apresentaremos os pressupostos para a construção de suas teorias
sobre a sociedade capitalista e as lutas de classes sociais.
Introdução
50 UNIDADE II
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
PERCEPÇÕES DE DAVID ÉMILE DURKHEIM
SOBRE A SOCIEDADE
Olá, caro(a) aluno(a)! Vamos iniciar nosso estudo sobre os principais autores
das Ciências Sociais?
O primeiro grande autor que iremos trabalhar é David Émile Durkheim (1858-
1917), sociólogo e filósofo francês que também ficou conhecido como o “pai
da sociologia” por contribuir com seus pensamentos no fortalecimento desta
como Ciência e ao propor um método científico para os pesquisadores sociais.
Trabalharemos neste tópico apresentando um pouco sobre seus principais pen-
samentos e contribuições em relação aos estudos sobre a sociedade e a sua
organização.
Em 1893, Durkheim publicou a primeira edição do livro “Da divisão do tra-
balho social”, fruto da sua pesquisa de doutorado. O tema central do livro é a
relação entre os indivíduos e a coletividade. O autor buscou compreender como
diversos indivíduos conseguem constituir uma sociedade e como se constrói o
consenso que compartilham sobre a existência social. Dentre as considerações
que Durkheim (1999) traz nesse livro, temos a apresentação e clara defesa do
autor sobre a ideia de que a sociedade prevalece sobre o indivíduo. Para ele, a
sociedade é formada por um conjunto de normas de procedimentos, pensamen-
tos e sentimentos que são construídos fora do indivíduo, que existiam antes dele
e existiram após ele.
Então, esse conjunto de normas que constitue a sociedade existe fora das
consciências individuais, e Durkheim (1972) ressalta que esse sistema é dotado
de poder imperativo e coercitivo, que se impõem, quer queira, quer não. Como
ele bem explica, o sistema de linguagem que é utilizado para expressar senti-
mentos e pensamentos, ou o sistema de moedas que é utilizados nas transações
comerciais, ou ainda, as normas que regem as práticas profissionais, entre outras
práticas cotidianas, foram construídas fora do indivíduo e existirão mesmo que
ele não se utilize delas.
Assim, de acordo com os pensamentos de Durkheim (1972), em toda socie-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
dade existem regras, e estas são responsáveis pela organização da vida social.
Tais regras são criadas e reformuladas por gerações de homens e transmitidas
às próximas como decretos a serem seguidos, e aquele que as transgredir sofrerá
castigos. Com isso, o autor define o que para ele é o objeto de estudo da socio-
logia, os fatos sociais. Dessa forma, cabe a sociologia estudar as regras e normas
coletivas que regem a vida dos indivíduos em sociedade, pois esses fatos têm sua
origem na sociedade e não na natureza (objeto de estudo das ciências naturais)
ou no indivíduo (objeto da psicologia).
Vejamos então o conceito de fatos sociais nas palavras do próprio Durkheim
(1972, p. 11):
É fato social toda maneira de agir fixa ou não, suscetível de exercer
sobre o indivíduo uma coerção exterior; ou então ainda, que é geral
na extensão de uma sociedade dada, apresentando uma existência pró-
pria, independente das manifestações individuais que possa ter.
Assim, vale frisar que de acordo com o conceito trabalhado por Durkheim (1972
apud TOMAZI; ALVAREZ, 1995), existem duas principais características que
precisam estar presentes para que se identifique um fato social: exterioridade
e coercitividade. Exterioridade está relacionada ao fato de que as normas são
estabelecidas fora da consciência dos indivíduos e que elas existem indepen-
dentemente da aceitação particular deles, questão que vimos anteriormente.
Esta característica está relacionada à coercitividade, como dito, os fatos sociais
são permeados de normas que são impostas aos indivíduos que integram uma
sociedade, sendo que o descumprimento destas provoca punições, que podem
ser físicas e, especialmente, morais.
O indivíduo não nasce sabendo destas normas sociais, ele as aprende. Por
isso, a educação é sempre um dos meios mais utilizados por Durkheim (1972)
para explicar os aspectos que envolvem o fato social. O autor explica que a socie-
dade educa os seus membros para que aprendam desde crianças as regras que
regem a vida social. Isso ocorre por meio da transmissão de conhecimento entre
as gerações, os mais velhos explicando aos mais novos; e também, nas escolas e
instituições de um modo geral.
Ao expor os aspectos relacionados aos fatos sociais, Durkheim também apre-
senta o conceito de consciência coletiva ou comum, que é caracterizado como
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um conjunto de crenças e sentimentos compartilhados por grupos formados
por membros de uma sociedade. Este conjunto forma um sistema que possui
vida própria, pois esta consciência é diferente das consciências particulares ou
individuais, ela forma o psíquico da sociedade. Ainda que de maneira diferente
do que acontece nos sujeitos, essa consciência coletiva forma as características
e condições de existência de uma sociedade.
Durkheim resume a análise sobre a consciência coletiva explicando que é
possível afirmar que um ato é criminoso quando este ofende as condições con-
solidadas e definidas da consciência coletiva estabelecida em uma sociedade em
determinada época. Como, por exemplo, a consciência coletiva contemporânea
criminaliza o trabalho escravo, todavia, houve um grande período da história
que o trabalho escravo era aceito porque para a consciência coletiva da época
a prática estava dentro da normalidade da sociedade e era moralmente aceita.
Durkheim (1981) ainda explica que existem em nós duas consciências. Uma
contém elementos que são pessoais e particulares, que nos caracterizam, ela
representa e constitui a nossa personalidade individual, ele a denomina como
consciência individual. A outra consciência, já apresentada brevemente, abrange
os elementos que são comuns a toda a sociedade, ela representa o tipo coletivo;
e quando os elementos que constituem essa consciência influenciam nossa con-
duta, não estamos agindo em busca de interesses pessoais, mas visando fins
coletivos. Estas duas consciências estão ligadas uma à outra, coexistindo no
sujeito durante toda a sua existência.
A consciência coletiva nos impõe, por meios dos atos sociais e dos rituais
realizados na sociedade, o que devemos tomar como base para crermos (ARON,
1993), e, com isso, orienta nossas escolhas e a maneira organizar nossa vida e nos
assemelhar. No entanto, o autor explica que, historicamente, as pessoas foram
descobrindo a sua individualidade e isso foi enfraquecendo as relações coleti-
vas, que foram perdendo o poder quase totalitário que tinham sobre a existência
individual. Com isso, houve um fortalecimento da solidariedade orgânica, na
qual há uma maior margem para interpretações sobre as normas sociais e dife-
renciação nas decisões e preferências pessoais.
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Todavia, dentro da percepção durkheimiana, esses tipos de solidariedade
não se anulam, mas existem em maior ou menor intensidade, dependendo
da sociedade, e por meio da compreensão do estado da coletividade, podemos
compreender a divisão do trabalho. Para Durkheim (1981), a solidariedade foi pro-
duzida com a divisão do trabalho. Uma parte da consciência do sujeito não está
totalmente submetida à consciência coletiva, e com isso, permite-se a construção
de uma sociedade em que o trabalho é mais dividido e as atividades desenvolvi-
das por cada um são mais pessoais quanto mais especializadas ela forem.
(1981), cada um dos indivíduos passa a colaborar com alguma coisa que lhe é
particular ou em algum ponto específico para a vida de todos da sociedade.
Por meio da diferenciação social é possível dizer que há a criação de uma
liberdade individual na sociedade. Isso porque em sociedades que há a dife-
renciação social, como a sociedade moderna, a consciência coletiva perdeu um
pouco a sua rigidez e o sujeito consegue adquirir maior autonomia em seus jul-
gamentos e ações (DURKHEIM, 1981).
Mas, é válido ressaltar que na percepção de Durkheim, mesmo com esse aumento
da autonomia individual na sociedade moderna, o coletivo predomina sobre o indi-
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vidual, a sociedade predomina sobre o indivíduo. Por que ressaltamos em vários
momentos essa relação? Porque esse é um dos pensamentos centrais nos conceitos
trabalhados pelo autor, tanto que também está presente no método científico que
ele propôs para a sociologia. O cientista social só consegue explicar as ações indi-
viduais se compreender os fatos sociais; e para compreendê-los o pesquisador deve
analisá-los como se fossem coisas, como se fossem objetos que existem de maneira
independente de nossas ideias e vontades pessoais, ou seja, deve analisar sem se
deixar influenciar pela sua visão pessoal. Com isso, Durkheim propõe um método
científico em que o pesquisador mantém uma posição de neutralidade e objetivi-
dade em relação à sociedade.
Nestas páginas realizamos somente uma pequena apresentação de alguns pensa-
mentos do sociólogo Durkheim, que tiveram influência na construção do pensamento
sobre a sociedade e no desenvolvimento de estudos nessa área. Isso porque estes
conceitos também influenciaram na construção do pensamento de várias teorias
de outras áreas. A seguir continuaremos conhecendo os principais autores clássi-
cos das Ciências Sociais.
Vamos agora conhecer um pouco sobre as contribuições que Max Weber trouxe
para os estudos sobre a sociedade?
Seu nome completo era Karl Emil Maximilian Weber, alemão, nascido na
cidade de Erfurt, em 1864, faleceu em Munique no ano de 1920. É considerado
um dos fundadores do estudo moderno da sociologia, sendo perceptível a sua
influência também na economia, filosofia, direito, ciência política e administração.
Possui uma vasta obra que jamais conseguiríamos abordar em poucas pági-
nas, mas, para Aron (1993), é possível classificar as obras de Weber em quatro
categorias:
I. Estudos epistemológicos e filosóficos – foram desenvolvidos na área da
metodologia, crítica e filosofia, abordando o espírito, o objeto e os méto-
dos das ciências humanas, da história e da sociologia. Conduziram a uma
filosofia do homem na história, concebendo a relação entre ciência e ação.
II. Obras históricas – formadas por um estudo sobre as relações de produção
na agricultura no mundo antigo, apresenta uma história econômica geral,
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principalmente sobre a Alemanha e a Europa em seu tempo.
III. Trabalhos sobre a sociologia da religião – Weber iniciou esses estudos
com o seu livro “A ética protestante e o espírito do capitalismo” e conti-
nuou estabelecendo um comparativo das grandes religiões, analisando a
relação entre as condições econômicas, as situações sociais e as convic-
ções religiosas.
IV. A relação entre economia e sociedade – Weber estava desenvolvendo estu-
dos na busca da compreensão desta relação quando ficou adoentado com
a gripe espanhola. Após a sua morte foi publicado o livro “Economia e
sociedade”, uma importante obra-prima que influenciou diversos campos
do conhecimento. Será sobre esta sua última categoria e os pensamentos
por ela apontados que trataremos neste tópico.
a ação de outras pessoas. Por exemplo: andar de bicicleta é uma simples ação
em si, mas se ao andar de bicicleta eu encontrar outra pessoa vindo em minha
direção e eu desviar para a direita e a outra pessoa desviar para a esquerda com
a intenção de não batermos, então estará acontecendo uma ação social. Minha
ação, estando repleta de intenção, influenciou o comportamento e a ação de outro
sujeito. Assim, podemos entender que a ação social se desenvolve e se organiza
em relações sociais.
Para melhor compreendermos a visão de Weber sobre a sociedade e as ações
que desempenhamos nela, precisamos entender alguns conceitos, como o de
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atores sociais, que são pessoas da sociedade que praticam ações sociais. Outros
conceitos que precisam ser abordados, são aqueles que nos faz entender que as
ações praticadas são regulamentadas dentro das relações sociais e que há uma
regularidade nestas. Para Weber há dois conceitos que podem definir essas regu-
laridades das ações: o costume e o hábito. O costume é quando há a regularidade
na relação social, e isso influencia diretamente a vida do indivíduo. Já o hábito
acontece quando a regularidade tem origem em uma longa tradição que chega
ao ponto de se tornar espontânea no agir. Mas a regularidade, tanto de um cos-
tume como de um hábito, não é absoluta, é possível ocorrer variações.
Além da regularidade existem fatores que podem influenciar nas práticas
e na legalidade que envolvem as relações sociais, como é o caso das convenções
sociais e do direito. Quando falamos que uma prática aprovada pela sociedade
foi estabelecida pela convenção, temos que a violação dessa ordem provocará
uma desaprovação coletiva. E quando tratamos de uma ordem estabelecida pelo
direito, a violação poderá incitar uma coerção física (WEBER, 1963). Ou seja, se
realizarmos ações que não estão de acordo com o que o grupo social considera
conveniente, seremos desaprovados pelo grupo e sentiremos as consequências
dessa desaprovação; já quando nossas ações são contrárias ao que o direito esta-
belece como correto, podemos sofrer coerções físicas.
Outros dois conceitos muito importantes trabalhados por Weber são: poder
e dominação. Para ele, o poder pode ser definido como a probabilidade que um
ator (uma pessoa) tem de impor sua vontade a outra, mesmo que sofra resistên-
cia. O poder está presente nas relações sociais e pode ser exercido por grupos
ou por uma única pessoa, demarcando situações de desigualdade e dominação.
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Weber (1967 adaptado por ETZIONI) definiu que o indivíduo pode se basear
em três motivos para obedecer a uma ordem: conveniência, hábito ou afeição.
Sendo que os motivos que levam à obediência determinam como é estabelecida
a relação entre dominante e dominado e, assim, a estrutura do poder e domina-
ção. Dessa maneira, o autor classifica as formas de dominação em: burocrática,
tradicional e carismática.
Na forma de dominação burocrática, a obediência se deve às regras, e não
especificamente ao detentor de poder; ao cargo que desempenha e não à pessoa
que está ocupando o cargo. A legitimação do poder se dá pela regra, pela lei. A
obediência é fundamentada em leis e normas, bem como, as ordens proferidas
pelo dominante são baseadas em uma estrutura de regras já existente. Ou seja,
existem regras e normas que dão direito ao dominante de exercer poder, mas
ele o exerce baseado em regras já estabelecidas, muitas vezes antes de assumir
o poder; já o dominado obedece as ordens por causa das regras e não devido a
pessoa que ordena.
Em contrapartida, na dominação tradicional o poder é instituído porque
existe uma obediência à tradição do grupo e às regras estabelecidas. Max Weber
(1967 adaptado por ETZIONI, p.20) explica que
Todos obedecem diretamente ao ‘senhor’, desde que sua dignidade seja
consagrada pela tradição; a obediência baseia-se na devoção. Substan-
cialmente, as ordens são vinculadas pela tradição – e a violação im-
prudente da tradição pelo ‘senhor’ exporia ao perigo da legitimidade
de seu domínio pessoal, que se baseia apenas na santidade da tradição.
Como explicado no início deste tópico, Max Weber possui estudos, em várias
áreas, que buscam compreender as ações sociais, mas os desenvolve partindo de
pressupostos diferentes de Durkheim. Para Weber as regras e normas sociais não
são exteriores aos indivíduos, elas são resultados de conjuntos de ações individu-
ais que os atores sociais realizam constantemente, mas com condutas diferentes.
Outro ponto que difere os pensamentos dos dois autores está relacionado
ao método científico. Para Weber, o pesquisador tem papel ativo na sociedade e
suas construções teóricas são dependentes das escolhas pessoais, por isso não é
possível falar de uma total neutralidade do pesquisador em relação à sociedade.
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Ressaltamos que os conceitos trabalhados neste tópico tiveram grande influ-
ência na construção das organizações e nas formas de estruturação do poder
dentro das empresas. Isto dará base para a construção do conhecimento sobre
as demais teorias relacionadas à sociedade e às formas de dominação.
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histórico representativo, e que com a evolução do capitalismo a tendência é que
ocorra uma cristalização das relações somente entre os dois maiores grupos.
A partir desta compreensão apresentada sobre os grupos sociais, há o desen-
volvimento de duas concepções que são fundamentais para a construção teórica
de Marx: conceito de mais-valia e a luta de classes sociais.
Os capitalistas detêm os meios de produção e pagam ao trabalhador pela
sua mão de obra, ele compra o direito de utilizar a mão de obra do trabalhador
para a sua produção de bens. No contrato entre as partes é especificado o perí-
odo da utilização da mão de obra e o valor. O lucro e os benefícios gerados ao
final da produção pertencem ao capitalista, isso será a geração da mais-valia.
Por exemplo, um capitalista contrata um trabalhador para utilizar a sua mão de
obra por 8 horas, ao final de 4 horas o trabalhador já produziu o equivalente ao
valor que foi contratado, o que produzir a mais será para benefício do capita-
lista, isso será a produção de mais-valia. A busca pelo aumento da produção e,
consequente, aumento da mais-valia, segundo Marx, faz com que se estabeleça
uma relação de exploração do capitalista sobre o trabalhador, e esta relação pro-
vocará um conflito entre as classes.
Todavia, para Marx não é o conflito provocado pela mais-valia que determina a
luta de classes. Em seu livro “Manifesto comunista” o autor expõe que toda a his-
tória da sociedade é marcada por lutas entre classes, por exemplo, entre o homem
livre e o escravo, entre o patrício e o plebeu, entre o barão e o servo. Para ele,
toda a história da sociedade é marcada pela relação entre opressor e oprimido,
e tais conflitos podem ocorrer de maneira declarada, ou de modo disfarçado,
mas sempre existiram.
Mas, o que são essas classes? De acordo com os pensamentos de do autor,
classe é um grupo de indivíduos que ocupam a mesma posição nas relações de
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
social o desejo pela tomada do poder e transformação das relações sociais irão se
intensificar, até que a classe chegue a luta declarada e tomada do poder. Essa revo-
lução teria peculiaridades que garantiriam o seu sucesso, a maior ênfase é dada
ao fato de que, pela história da sociedade, as revoluções ocorreram por mino-
rias em favor desta minoria, mas neste caso ela ocorreria pela maioria em favor
desta e, por isso, seria possível a total eliminação do capitalismo e das classes.
Marx teve como objetivo do seu trabalho o estudo dessa crise revolucioná-
ria, mas não buscou estruturar o processo para o estabelecimento da sociedade
após tal crise. O autor dedicou especial esforço em explicar cientificamente a
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
sociedade capitalista, sua evolução e suas contradições, no modo como eram
estabelecidas as relações sociais da sociedade da sua época, tendo sempre a pro-
dução como a base para a estruturação da sociedade capitalista.
O autor acreditava que a ciência não deveria buscar somente a compreensão
da sociedade capitalista, mas exercer um papel político e crítico a fim de promo-
ver também uma transformação da realidade. Por isso, em relação a termos de
procedimentos metodológicos, ele expõe que o pesquisador irá descrever a rea-
lidade social, mas também analisar como essa realidade se produz e reproduz
ao longo da história. Assim, o pesquisador tem a possibilidade de desempenhar
um papel revolucionário por meio de seus trabalhos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Considerações Finais
68
Durkheim defende que o melhor método para se explicar a função do “fato social”
na sociedade, seria através da observação, de maneira semelhante ao adotado pelos
cientistas naturais, levando-se em conta, entretanto, que o objeto do estudo dentro da
Sociologia tem peculiaridades próprias, distintas dos fenômenos naturais. No entanto,
acreditava ele que investigando-se as relações de causa e efeito e regularidade, poderia
se chegar a descoberta de leis, que determinassem a existência de um “fato social” qual-
quer e que por conseguinte, determinaria, este, a ação dos indivíduos.
[...]
O conflito antagônico, resultante das desigualdades econômicas destas duas classes
(opressores e oprimidos) é para Marx o ponto chave das sociedades industriais moder-
nas, onde esses setores opostos, em seu processo de interação, buscam uma solução
para as tensões resultantes de suas diferenças, ainda que exista uma manipulação de
idéias com o único intuito de engrupir o povo, através da alienação política e cultural,
para que este não perceba o vínculo entre o poder econômico e o poder político que irá
influenciar na qualidade de vida de todos.
Desse conflito, podemos destacar o antagonismo existente entre a evolução da indús-
tria moderna e das ciências, com a criação ou incentivo à criação de máquinas e/ou tec-
nologias cada vez mais avançadas, patrocinadas pelos meios de produção (capitalistas),
e em contrapartida a essas novas criações o aumento da miséria e da decadência do
proletariado.
[...]
Aos detentores dos meios de produção, interessa, sempre, aumentar os lucros para ga-
rantir a manutenção do poder e seu padrão de vida. Os lucros advindos das novas tecno-
logias não são traduzidos em renda para os que continuam em seus postos de trabalho,
aumentando, assim, cada vez mais, as diferenças entre as classes sociais. O trabalhador
comum, alienado do pensamento político, através da negação, a ele, da educação esco-
lar, por exemplo, não é mais dono do produto de seu trabalho, transformando-se em as-
salariado da propriedade privada, determinando, assim, o crescimento dos dependen-
tes proletários e sua miséria. Enfim, o crescimento dos meios de produção não se traduz
em melhoria de vida dos trabalhadores. A alienação, econômica e cultural, produz no
trabalhador a alienação política, que só interessa à classe dominante, para manutenção
do status quo.
70
[...]
Finalizando essa exposição, entendo ser a sociedade de hoje uma conjugação do pensa-
mento tanto de Durkheim quanto de Marx, tendo em vista que a vida do indivíduo em
muito é determinada pelos padrões sociais ditados pela classe dominante (detentora
do poder), embasada em dogmas morais, religiosos e de condutas que são passados de
geração para geração, como descreve Durkheim e, de uma forma branda, como descre-
veu Marx, posto que o povo continua alienado, alijado dos seus direitos básicos, como
comer, por exemplo, numa luta de classes desleal, tal qual Davi e Golias, haja vista o de-
semprego crescente como inibidor de tomada de ações por aqueles que continuam em
seus postos de trabalho, sendo este, cada vez mais degradado, espoliado, vilipendiado,
tornando-se, cada vez mais meio de sobrevivência para a classe do proletariado, que é
obrigado a sustentar os lucros, sempre maiores, solicitados pelo capitalista, eternizando
o conflito entre as classes.
Material Complementar
74
REFERÊNCIAS
REFERÊNCIAS ON-LINE
1
Em: <http://www.egov.ufsc.br/portal/conteudo/o-pensamento-de-durkheim-e-
-marx>. Acesso em: 24 abr. 2017.
75
REFERÊNCIAS
GABARITO
1. B.
2. C.
3. E.
4. Orientação de resposta: Formam o grupo dos capitalistas aquelas pessoas que
detêm os meios de produção necessários para a produção de mercadorias (as
máquinas, ferramentas, o capital, recursos de modo geral). Por outro lado, o gru-
po denominado de proletariado possui um número significativamente mais ex-
pressivo de membros, são aqueles que por não possuírem os meios de produção
ofertaram a força de trabalho.
5. Orientação de resposta: Na dominação burocrática a obediência se deve as re-
gras, e não especificamente ao detentor de poder; ao cargo que desempenha
e não a pessoa que está ocupando o cargo. A legitimação do poder se dá pela
regra, pela lei. A obediência é fundamentada em leis e normas, bem como, as
ordens proferidas pelo dominante são baseadas em uma estrutura de regras já
existente. Ou seja, existem regras e normas que dão direito ao dominante de
exercer poder, mas ele o exerce baseado em regras já estabelecidas, muitas ve-
zes antes de assumir o poder; já o dominado obedece às ordens por causa das
regras e não devido a pessoa que ordena.
IDENTIDADE, CULTURA
III
UNIDADE
E CONSUMO
Objetivos de Aprendizagem
■■ Identificar subculturas e grupos sociais em nossa sociedade.
■■ Observar a construção de quem é o indivíduo.
■■ Relacionar os objetos e os ciclos de vida.
■■ Verificar os significados do consumo na contemporaneidade.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■■ Subculturas e grupos sociais
■■ A noção do eu
■■ Os objetos e os ciclos de vida
■■ O consumo da contemporaneidade
79
INTRODUÇÃO
Nosso desafio iniciará você a um novo universo, com uma série de novos con-
ceitos e ideias sobre as coisas à nossa volta. Cada cultura ou subcultura possui
elementos distintos entre elas. O objetivo principal, neste momento, é que você,
a partir de então, tenha uma maior sensibilidade ao observar as pessoas e seus
pertences.
Caro(a) aluno(a), daremos início, nesse momento, a uma discussão, dife-
rente da visão do senso comum ou de outras teorias que conhecerão ao longo
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Introdução
80 UNIDADE III
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
SUBCULTURAS E GRUPOS SOCIAIS
Até agora, caro(a) aluno(a), estudamos como a cultura está inserida em comple-
xas relações sociais. Vimos que a cultura, na verdade, forma-se por diversos e
diferentes grupos sociais. Cabe lembrar que as nossas atitudes estão atreladas a
cultura ou a subculturas de nossa sociedade, mas que podemos refletir sobre novas
e melhores formas de conviver com o outro pelo respeito à diversidade cultural.
Dentro de cada cultura existem inúmeras subculturas com caracterís-
ticas específicas. Pode-se falar em cultura francesa, brasileira, japonesa
que são subculturas da cultura humana. Dentro de cada subcultura,
por sua vez, iremos encontrar inúmeras e indeterminadas outras cul-
turas, por exemplo, na cultura brasileira iremos encontrar a subcultura
feminina, masculina, baiana, xavante, caipira, gaúcha etc (DIAS, 2010,
p. 65).
Prezado(a) aluno(a), o termo “grupo social” é empregado tanto para pessoas que
estão juntas no mesmo tempo e lugar, momentaneamente, como também pode
se referir a pessoas que estão juntas por dividirem características em comum que
“compartilham uma consciência de membros e que têm expectativas comuns de
comportamento” (DIAS, 2010, p. 162).
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Nesse momento abordaremos um pouco mais sobre os grupos sociais. Outro
conceito que iremos estudar é o de grupo de referência, que acontece quando existe
um modelo a ser seguido ou um padrão aceito para nos auto avaliar. Podemos pen-
sar nos grupos de bandas famosas, algum ídolo do esporte, um ator conhecido ou
mesmo um parente que se queira espelhar comportamentos, atitudes e aparência.
Por sua vez, o estereótipo “é a imagem que um grupo compartilha de um
outro grupo” (DIAS, 2010, p. 166). Em muitos casos são impressões distorcidas
das características reais desses outros grupos.
Em outras palavras, o estereótipo é uma imagem distorcida que um
grupo tem de outro grupo social. A sociedade norte-americana, por
exemplo, apresenta-nos, por meio do cinema, muitos de seus estereóti-
pos em relação a outros povos: podemos observar nos filmes de modo
em geral, os italianos como mafiosos; os irlandeses, como brigões; os
mexicanos, como indolentes; os ingleses, como conservadores; os co-
lombianos, como traficantes; e assim por diante (DIAS, 2010, p.166).
Ainda para que você inicie seus estudos nas Ciências Sociais, é interessante neste
momento diferenciar grupos sociais e categorias. A categoria é um conjunto de
pessoas que possuem características em comum, contudo, não podemos con-
siderar como categoria as pessoas do mesmo sexo, ocupação, faixa etária etc.,
por não ocorrer interação entre elas. Para que essas categorias se transformem
em grupos sociais basta que ocorram interações entre seus membros e que esta-
beleçam um sentimento em comum (DIAS, 2010, p. 162). As categorias sociais
podem ser úteis na medida que forneçam dados interpretáveis à sociedade:
remuneração, tipo de residência, propriedade de casa, número de
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Em alguns casos, temos pessoas que para nós são importantes e que quere-
mos nos assemelhar, seja pelo simples corte de cabelo ou o sapato que está em
evidência, são as pessoas do grupo de referência. Contudo, cabe ressaltar que mui-
tas vezes somos enganados ou no mínimo temos uma má impressão das pessoas
por causa dos estereótipos, que muitas vezes não são condizentes com a reali-
dade do grupo social, seria dizer, grosso modo, a “fama” do grupo, por exemplo.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Você já passou por um grupo de motociclistas e pensou em suas caracterís-
ticas veiculadas pela mídia como “rebeldes”? Essa seria uma característica
baseada no estereótipo de quem possui motos, mas que muitas vezes não é
a realidade do usuário da motocicleta.
A NOÇÃO DO EU
A Noção do Eu
86 UNIDADE III
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
e reputações. Isso quer dizer que o kula representa um sistema muito complexo
da dimensão das biografias de pessoas e coisas (APPADURAI, 2008, p. 33).
A partir dessas considerações, Miller (2013) afirma que o conceito de pessoa,
a percepção do eu, são diferentes em tempos e lugares. Nesse aspecto, segundo
Seeger, Da Matta, De Castro (1979, p. 4-6), ao estudarem as sociedades indíge-
nas do Brasil, verificaram que a noção de pessoa está atrelada à produção física,
que é um grande instrumento para analisar a experiência social e oferecer sig-
nificado à existência.
ção e a sua camisa do time preferido. Lá no campo, age de forma diferente, com
uma linguagem mais informal, e mostra outras habilidades corporais. Após o
jogo, retorna a sua casa e tem um outro papel social, agora de pai e marido zeloso.
Dias (2010) nos auxilia na compreensão do conceito de status. Esse termo significa
para os cientistas sociais qualquer posição social na sociedade, independente-
mente do prestígio que ela simboliza. Além disso, os status podem ser atribuídos
ou adquiridos.
Os status adquiridos são aqueles obtidos por meio do esforço, capacidade
ou escolha individual como pai, mãe, delegado, professor, cantor, escritor. Já os
status atribuídos, o indivíduo o possui independente de sua escolha como sexo,
idade, filho, irmão, etnia, raça, nacionalidade, parentesco... (DIAS, 2010, p. 121).
A Noção do Eu
88 UNIDADE III
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
o papel profissional dos médicos, independentemente dos indivíduos
específicos que ocupam as posições (GIDDENS, 2005, p. 43).
Sobre isso, Hoebel e Frost (1976) se referem aos shoshones e outros povos da
planície colombiana. Uma menina, conforme sua cultura, ao menstruar, perma-
nece um tempo reclusa, ocupada com afazeres “de mulher” para que não fique
preguiçosa para o resto da vida. Após esse processo, recebe um novo vestuário,
um vestuário de mulher.
Prezado(a) aluno(a), observe que esse vestuário significa o ciclo de vida nessa
determinada cultura. Logo, a jovem deixa de ser criança e passa a ser, agir e pare-
cer adulta, e uma das provas são a mudança de seu corpo, que passa a ser vestido
por um vestuário considerado adequado para uma mulher, esse vestuário além
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
de ritualizar essa nova fase do ciclo de vida, representa seu novo papel social.
De fato, a vida consiste numa sucessão de etapas, a saber, nascimento, puber-
dade social, casamento, paternidade/maternidade, progressão de grupo social,
especialização de ocupação e morte. Algumas dessas etapas da vida são relacio-
nadas com cerimônias que passam a pessoa de uma situação a outra, igualmente
determinada (VAN GENNEP, 1977).
Diante disso, ao longo da vida do indivíduo, ele recebe status de criança,
jovem ou adulto. Ao passar pelo casamento, a moça passa a ser uma mulher
casada, considerada na idade adulta, ao mesmo tempo em que ocorre a mudança
de seu vestuário.
Miller (2013) ilustra o caso da mulher indiana e seu sári, ela o veste após o
período escolar com cerca de dezessete anos na cerimônia “despedida da
escola”. Ao aprender a usá-lo, marca uma mudança na percepção a respeito
da própria idade; há um sentimento de se tornar adulta, com todas as novas
liberdades, capacidades e medos que isso implica. Ambos são acontecimen-
tos públicos e a competência da pessoa - ou a falta dela - está aberta ao
exame e à crítica de terceiros.
Fonte: adaptado de Miller (2013)
Como afirma Peirano (2002), esses rituais são eventos considerados especiais,
ressaltam uma sequência repetida, formalizada e convencional, e servem para
entender os valores pensados e vividos.
Nas sociedades em que as idades e as ocupações dos indivíduos estão
relacionadas, ao longo da vida de um indivíduo, muitas dessas passagens são
acompanhadas por cerimônias. O ritual é uma oportunidade para afirmar e
renovar os significados da ordem cultural, e sob a forma do rito de passagem,
é usado para mover um indivíduo de uma categoria cultural para outra (VAN
GENNEP, 1977; MCCRACKEN, 2003). Portanto, os rituais marcam a vida em
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
apenas pela posição social, mas pelos ciclos de vida. Por esse lado, as mudanças
no vestuário marcaram algumas fases da vida de muitas mulheres, para se sen-
tirem integradas e aceitas em diversos grupos já definidos socialmente.
O CONSUMO DA CONTEMPORANEIDADE
O Consumo da Contemporaneidade
94 UNIDADE III
Pense quantas vezes foi ao mercado essa semana. Veja a sua lista de com-
pras e se nela consta pequenos “regalos” para algum parente próximo.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Diferente do consumidor passivo, inserido no consumo de massa ou na produção
em massa, estudamos o consumidor ativo, com identidade coletiva e individual,
associado a estilos de vida presentes na contemporaneidade. É interessante des-
tacar, sobretudo, as discussões frequentes sobre os sinais e símbolos que ajudam
a ligar o consumo com a identidade das pessoas, como a criação de subculturas;
e, além disso, destacar como a cultura material separa diversos grupos sociais
(TRENTMANN, 2005).
A cultura material consiste em coisas materiais, incluindo artefatos, ins-
trumentos gerados pelos homens. “Abrange produtos concretos, técnicas,
construções, normas e costumes que regulam o seu emprego” (MARCONI;
PRESOTTO, 2011, p. 26).
Notamos que esse mundo material (artefatos, mercadorias ou objetos) faz
parte da vida social e é componente de qualquer sociedade humana (MILLER,
2007b, p. 47; MILLER, 2013; SLATER, 2002, p. 104; VIANNA, RIBEIRO, 2009).
Podemos acrescentar que nossos objetos também são um “elo simbólico com o
dono ou com os relacionamentos envolvidos em sua aquisição e materializam a
identidade social” (MILLER, 2007b, p. 145).
O Consumo da Contemporaneidade
96 UNIDADE III
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
social é a condição física das pessoas. O comentário “você está mais
magro” tem um valor importante em determinadas faixas de status na
sociedade brasileira. Na verdade, a identidade social está sempre asso-
ciada à identificação com um grupo particular e à diferenciação com
outros grupos. O fato de o indivíduo querer ser mais magro é querer
se identificar com um determinado grupo que é mais bem aceito na
sociedade em que vive. [...] Desse modo, o processo de formação da
identidade social tem dois momentos importantes: o primeiro é a dife-
renciação do grupo mais geral e o segundo momento é a procura pelos
semelhantes que constituirão um grupo, o qual se identificará como tal
perante os outros (DIAS, 2010, p. 111).
Este estudo relaciona as máscaras sociais que vimos no começo com a identi-
dade. Observe, caro(a) aluno(a), que os objetos que nos rodeiam também podem
ser pensados como máscaras ou utensílios para reforçar nossos papéis sociais e
a construir quem nós somos.
A sensação de ser verdadeiramente a entidade ou a personagem, vivida
pelo xamã ou pelo ator durante o ritual ou espetáculo teatral, é o que
chamamos de identidade, ou seja, uma sensação de completude em re-
lação a alguma coisa que vem a somar àquilo que nós somos, nossa vida
pessoal e social está cheia desses momentos em que incorporamos per-
sonagens. São os chamados papéis sociais [...] (COSTA, 2010, p. 286).
A citação nos faz refletir que o consumo de bens faz parte do sistema social por
meio da criação de vínculos entre o indivíduo e seu grupo. A prática de com-
prar é geralmente de um sujeito para outro, pode ser para uma namorada, por
exemplo. Quando se gasta dinheiro com presentes, certamente há o consumo
de outras fontes de recursos, como tempo (procura, gosto, aprovação) e dedica-
ção para escolher o melhor.
Nesse sentido, Miller (2007b) conceitua o ato de comprar como sendo inti-
mamente ligado ao amor, fundamento ideológico para as complexas relações
entre os membros da mesma moradia, uma vez que “[...] suas compras são tele-
guiadas pelo que você acha dos outros, pelo que você acha que eles querem de
você e como reagem a você. É sobre relacionamento com quem tem importân-
cia” (MILLER, 2007b, p. 18).
Com base nesses pressupostos, prezado(a) aluno(a), Douglas e Isherwood
(2004, p. 26) afirmam que os bens são materiais mediadores no processo de
comunicação. Alguns exemplos trazidos pelos autores são a comida, hospitali-
dade, flores e roupas, que sinalizam alegrias; ou, em outras vezes, vestes de luto
para compartilhar a tristeza nas relações sociais. Dentro do tempo e dos espa-
ços disponíveis, o indivíduo usa o consumo para dizer algo sobre si, sua família,
sua localidade e suas preferências.
O Consumo da Contemporaneidade
98 UNIDADE III
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
e, desde pequenas, mais vinculadas à delicadeza, ao afeto e aos valores familiares.
A Antropologia é algo construído, cuja análise não deve ser elaborada como
uma ciência experimental em busca de leis, mas como uma ciência inter-
pretativa em busca de significados, os quais estão intrínsecos dentro de um
grupo social. Define o objeto da antropologia como interesse nas formas
simbólicas na vida humana orientadas por outros. “O homem precisa de
símbolos para encontrar apoio no mundo e que sem tais padrões culturais
estaria no caos de atos e emoções”.
Para compreender essa análise antropológica, deve-se compreender o que
os antropólogos fazem: a etnografia. Praticar a etnografia é estabelecer re-
lações, selecionar informantes, transcrever textos, levantar genealogias, ma-
pear campos, manter um diário, dentre outras atividades, as quais requerem
um esforço intelectual específico que consiste na descrição densa.
Fonte: adaptado de Geertz (1989).
Prezado(a) acadêmico(a), por outro lado, Miller (2013, p. 145) acrescenta que
ao cortar relações com outras pessoas, são descartados os objetos que as lem-
bram. Logo, se as mulheres em algum momento quiserem se desvincular de uma
amizade ou casamento, supostamente não irão querer os objetos que lembrem
essa relação. Isso se dará pelo descarte dos objetos que lembram a amizade e os
momentos passados juntos.
O Consumo da Contemporaneidade
100 UNIDADE III
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
aprofundado.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Caro(a) aluno(a), essa unidade teve como objetivo, a partir da noção de pessoa,
sociedade e consumo, direcioná-lo(a) a uma reflexão mais rica sobre as nossas
coisas. Assim, entendemos o consumo abordado como sendo parte do sistema
social, que ocorre por meio da criação de vínculos e relações de identidades.
Portanto, a noção de pessoa e o lugar do corpo humano, na visão que a sociedade
faz de si mesma, auxilia na compreensão do social. Vimos o casamento como
exemplo, este marca a trajetória do indivíduo, principalmente das mulheres. A
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Considerações Finais
102
3. Diversos estudos sociológicos afirmam que a relação com o outro é uma das
bases para a construção de nossa identidade (COSTA, 2010). Assinale qual al-
ternativa possui os conceitos que auxiliam nessa construção da identidade:
a) Nossa identidade leva em consideração as preferências e a desorientação
sexual.
b) A sociedade se tornou mais complexa após a globalização e diminuiu os
grupos sociais.
c) Está ligada na interação do público e do privado, do mundo interior com o
mundo exterior.
d) A globalização fez com que nossas identidades se tornassem unifacetadas e
conectadas.
e) A identidade leva em consideração apenas nosso papel social familiar e pro-
fissional desconexos com a globalização.
4. Miller (2013, p. 215) nos elucida que, ao estudar o papel dos objetos, contro-
lamos como nos despedimos ou guardamos os objetos deixados por um ente
querido que faleceu Guardar a memória e os objetos da família é uma função
principalmente feminina, pois as mulheres são as guardiãs do afeto, dos rela-
cionamentos, são, desde pequenas, mais vinculadas à delicadeza, ao afeto e aos
valores familiares e esses elementos entre outros, constituem sua identidade. A
partir da leitura do texto, assinale a alternativa correta:
a) As aparências são construídas com base nos papéis sociais definidos previa-
mente pela sociedade.
b) A visão do consumo exibicionista ou conspícuo explica a identidade na atu-
alidade pela Antropologia.
c) Nossos objetos pouco contribuem para mostrar a nossa sociedade quem nós
somos, nossos gostos e preferências.
d) As compras são um exemplo de como o vestuário não faz parte da análise das
Ciências Sociais sobre a identidade.
e) A identidade leva em consideração fatores estudados nas sociedade primiti-
vas, longe da globalização.
105
5. Douglas e Isherwood (2004, p. 26) afirmam que os bens são materiais mediado-
res no processo de comunicação. Um dos exemplos trazidos pelos autores são
a comida, hospitalidade, flores e roupas, que sinalizam alegrias; ou, em outras
vezes, vestes de luto para compartilhar a tristeza nas relações sociais. Após essa
leitura, é correto afirmar que:
a) Os pertences de uma pessoa pouco contribuem para contar ao outro quem
ela é.
b) Nossos objetos comunicam constantemente quem somos, os grupos que
pertencemos ou desejamos pertencer.
c) Os alimentos que ingerimos estão deslocados dos fatores culturais, visto que
nos alimentamos para nossa sobrevivência.
d) As flores na cultura nacional simbolizam ora amor, ora perdão, principalmen-
te entre os namorados, e não são utilizadas em funerais.
e) Os bens possuem significados fixos dentro de cada cultura. Uma roupa preta
sempre comunica que a pessoa está em luto.
MATERIAL COMPLEMENTAR
Daspu
Segundo Hilaine Yaccoub o consumo vai muito além da mera aquisição de bens. É um processo
social que nos identifica no mundo por meio de classificações que estabelecemos por intermédio
de expressões de gosto e estilo de vida. Através da cultura material e imaterial podemos avaliar
uns aos outros de acordo com nossas escolhas, pois por meio delas enviamos mensagens. Nesse
site na parte das publicações, caro(a) aluno(a), você encontra diversas pesquisas como a da marca
Daspu. Vale a pena conferir!
Para saber mais, acesse o link disponível em: <http://hilaineyaccoub.com.br/
antropologia-do-consumo-2/>.
Teias do Consumo
Hilaine Yaccoub ainda possui um blog chamado “teias do consumo” com o resumo de
diversos livros na área e com críticas interessantes. Leitura obrigatória para os acadêmicos em
Antropologia.
Para saber mais, acesse o link disponível em: <http://teiasdoconsumo.blogspot.com.br/2009/04/
uma-aula-de-consumo.html>.
107
REFERÊNCIAS
1. A.
2. A.
3. C.
4. A.
5. B.
Professora Me. Patrícia Rodrigues da Silva
SIMBOLISMO NAS
IV
UNIDADE
ORGANIZAÇÕES
Objetivos de Aprendizagem
■■ Conhecer os elementos da cultura organizacional.
■■ Apresentar a perspectiva simbólica para estudo da cultura
organizacional.
■■ Compreender as organizações como um conjunto de construções
metafóricas da realidade.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■■ Cultura organizacional
■■ Organizações vistas como sistemas simbólicos
■■ Produção de sentidos e representação
113
INTRODUÇÃO
Olá, seja bem-vindo(a)! Na quarta unidade de nosso livro didático, vamos tratar
sobre um assunto que traz à tona evidências que vão além da abordagem fun-
cionalista para os estudos organizacionais, ampliando o escopo de análise das
práticas que acontecem na organização, o simbolismo.
Nesse sentido, iniciaremos as nossas discussões tomando como ponto de par-
tida o entendimento acerca da Cultura Organizacional. Partiremos do pressuposto
de que a cultura organizacional é uma dimensão que precisa ser compreendida
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Introdução
114 UNIDADE IV
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
CULTURA ORGANIZACIONAL
Caro(a) aluno(a), como tratado na Unidade I, vimos que a cultura tem um signi-
ficado complexo, pois se constitui em sentimentos, sentidos, técnicas, tradições,
costumes, e nas mais diversas formas de comportamento do ser humano, como
indivíduo, e também enquanto integrante de um grupo social.
Vimos ainda que os nossos comportamentos, emoções e sentimentos são
“carregados” da influência de fatores externos, como de nossos espaços sociais,
tipo de trabalho que executamos, pessoas com as quais convivemos etc. É nessa
linha de pensamento que daremos continuidade às discussões propostas nesta
disciplina, buscando compreender os elementos simbólicos que nos rodeiam,
os quais compartilhamos, e como no mundo das organizações estes símbolos
ganham vida e passam a constituir a cultura organizacional.
A cultura organizacional se constitui em um todo complexo e dinâmico.
Frente às inúmeras definições existentes para a cultura organizacional, é um
grande desafio escolher uma única que abarque todo o seu sentido, mesmo
assim, vamos a este desafio.
Cultura Organizacional
116 UNIDADE IV
É uma compreensão clara, ou deveria ser, de ‘como as coisas são feitas aqui’”.
Para Johann (2013, p. 153), “[...] é considerada uma espécie de personalidade
coletiva [...], advém da sua interação com o macroambiente, resultando em uma
biografia – ou história de vida”.
Ao nos ampararmos nos conceitos apresentados, podemos dizer que a cul-
tura organizacional forma todo o escopo do comportamento organizacional,
que é constituído pelas práticas, o cotidiano das organizações. Quando falamos
das práticas nos estudos culturais, estas são caracterizadas como representações,
sentimentos, valores, formas de comportamento, relações afetivas etc., de um
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
grupo social. Burke (2005, p. 69) sugere para a análise das práticas uma ênfase
em “[...] mentalidades, suposições e sentimentos e não em ideias ou sistemas de
pensamento”.
Percebe, caro(a) aluno(a), que ao partirmos desta perspectiva antropoló-
gica, interpretativa, para o estudo da cultura, esta se mostra constantemente
dinâmica, visto que as pessoas se transformam todo o tempo? Outrossim, a
aproximação com a antropologia permite o estudo do habitus, da cultura a partir
do comportamento dos sujeitos enquanto membros e determinantes de grupos
sociais. Torna-se possível estudar as representações coletivas dos grupos sociais
(CHARTIER, 1991), e assim compreender o social e o cultural da realidade por
meio da representação - individual e coletiva -, do sentido que é dado pelo sujeito.
Cultura Organizacional
118 UNIDADE IV
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Fonte: Chiavenato (2004, p. 122).
Cultura Organizacional
120 UNIDADE IV
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
ORGANIZAÇÕES VISTAS COMO
SISTEMAS SIMBÓLICOS
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
tam somente a ponta do iceberg. Os elementos dispostos “abaixo da linha da água”
representam elementos que permitem ir além apenas da dimensão formalmente
estabelecida, da racionalidade técnica em que se sustentam os sistemas de ges-
tão. Assim, os componentes invisíveis e cobertos, afetivos e emocionais, que se
orientam para aspectos sociais e psicológicos, como os padrões de influenciação
e de poder, por exemplo, são elementos simbólicos que se entrecruzam, influen-
ciam e delineiam o escopo organizacional. Logo, são estruturados e estruturantes.
Percebemos assim, que ao considerar o simbólico nas organizações, não
estamos negando as dimensões formalmente estabelecidas nas organizações, até
mesmo porque elas são necessárias. O que se pretende com o reconhecimento e
estudo dos sistemas simbólicos, é ampliar a noção para a complexidade em que
se dá a dinâmica organizacional, e com isso reconhecer que a organização é tam-
bém uma invenção humana, muitas vezes fruto do imaginário de cada agente.
Esta concepção para estudo das organizações não é aceita sem resistências.
Como afirmam Saraiva e Carrieri (2008), as diferentes nuances apresentadas pelo
reconhecimento do simbolismo nas organizações, acaba por representar um pro-
blema em potencial aos olhos funcionalistas, que detêm de uma visão amparada
na racionalidade, no que se pode controlar. E, quando se abre a lente da orga-
nização para além da racionalidade, permite-se uma visão organizacional mais
humanizada, fugindo assim, do padrão em que tudo é planejado.
Tentando manter um pouco da racionalidade que conduziu – e ainda conduz
– a forma de pensar as organizações, acabaram por se desenvolver mecanismos
para controlar e/ou manipular os símbolos organizacionais. Assim como des-
taca Girin (1996):
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
seus espaços sociais, de modo que passem a partilhar dos objetos simbólicos e
sejam integrados ao sistema.
Como falamos em espaços sociais, cabe tratar sobre o conceito de campo. Segundo
Bourdieu (1996) a noção de campo pode ser compreendida como um espaço
estruturado de posições que são ocupadas por agentes em competição, mas que
independe deles. Tomando por exemplo o meio organizacional, em empresas
que elegem o “funcionário do mês”, podemos dizer que esta é uma posição que
existe independentemente de quem a ocupa, constituindo assim, um espaço
social na estrutura organizacional. Espaço este que, para Martino (2003, p. 33)
se constitui em um lugar abstrato “[...] onde age o pessoal especializado no jogo
pela conquista da hegemonia, prerrogativa de determinar as práticas legítimas
em cada campo”.
Nas organizações com as quais você tem contato e/ou que está inserido(a),
como se estabelecem os espaços sociais, e quais símbolos você consegue
identificar?
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
agir, fazer crer e fazer amar” (FARIA, 2007, p. 66).
Percebemos até então que nos estudos sobre a cultura organizacional, os
símbolos e os valores compartilhados pelo grupo são enfatizados e dotados de
significados. Por isso a importância dos significados na construção e compre-
ensão da realidade organizacional.
Agora que conhecemos um pouco mais sobre essa vertente de estudo da cul-
tura organizacional, vamos adentrar um pouco mais no universo do simbólico,
tratando sobre a produção de sentidos e as representações. Vamos lá?!
Faz-se importante refletir sobre esta concepção de Chanlat, pois ela guiará
as nossas reflexões dentro desta concepção do simbólico. Este entendimento
nos proporciona compreender o universo que nos cerca como um mundo em
constante construção e reconstrução a partir e por meio de nossas mentes, nos-
sos entendimentos.
No ambiente das organizações, estas construções não acontecem de forma
diferente. Quantas vezes construímos “esquemas” de pensamento a respeito de
algo que acontece em nosso ambiente de trabalho, e estes esquemas acabam por
guiar os nossos comportamentos e também o comportamento de outras pes-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
soas? Quase sempre não é mesmo?!
Esta é a concepção central no que diz respeito a entender o indivíduo como
um ser simbólico, que, inserido em um grupo social, executa continuamente tro-
cas simbólicas com outros indivíduos, construindo assim o universo que o rodeia.
Conforme descrito por Chanlat (1996, p. 28): “[...] a compreensão do ser humano
nas organizações permanecerá sempre em construção. Apreender a essência
dos indivíduos se torna um exercício que jamais irá se esgotar completamente”.
Vemos assim, caro(a) aluno(a), que ao adentrar no ambiente organizacional,
nesSa perspectiva do simbólico, é necessário captar os elementos, que podem ser
comportamentos, símbolos, ações etc., para então compreendê-los. Assim, será
possível romper com a visão de totalidade e entender melhor o “movimento” que
se estabelece no ambiente organizacional. Nos dias de hoje, não é aconselhável
que nos prendamos na visão funcionalista, estruturalista, para análise e estudo
da organização, mas sim conceber os indivíduos, suas percepções, apropriações
e comportamentos como influenciadores delineadores do escopo organizacional.
De acordo com essa linha de pensamento, que considera o fundo e a trama
cultural de cada grupo humano, os holofotes se colocam sobre o fato humano
nas organizações, de modo a estudá-lo, compreendê-lo, por meio do rompimento
de perspectivas mecânicas, utilitaristas, simplistas e/ou universalistas de conce-
ber o ser humano nas organizações (CHANLAT, 1996).
Nessa mesma ordem, destaca Bourchard (1996) que, como um produtor
de símbolos, o homo simbolicus procura emergir a todo o tempo de um mundo
organizacional que, ao mesmo tempo que é um emaranhado de sistemas sim-
bólicos, tem a tendência a fazer com que a imaginação simbólica seja reduzida
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
de um escopo que envolve indivíduos, grupos, fatos, contextos etc.
“O símbolo pertence ao imaginário do indivíduo. O símbolo é um pro-
cedimento ativo da consciência que, por meio da representação, procura sem
cessar dar mais sentido tanto à ordem da percepção quanto à da imaginação”
(BOUCHARD, 1996, p. 258). É o símbolo que caracteriza a cultura por meio do
sentido que é construído pelo sistema representacional.
Daí a expressão visão de mundo, que nos convida a construir uma teoria da cul-
tura e, em especial, uma teoria da relatividade cultura. Notamos a necessidade
de adentrar profundamente no universo simbólico das organizações, embeber-
-se dele, para assim compreender as suas práticas e estruturas, os sentidos dados
aos objetos, às pessoas, aos eventos, ao mundo ao qual os indivíduos e grupos
pertencem, e às representações produzidas por eles.
Eis um dos grandes desafios ao se estudar o universo simbólico: captar essa
essência dos sujeitos/agentes (que são as principais fontes de pesquisa), suas
memórias, seus pensamentos; e construir as suas concepções, que são também
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
uma representação do próprio sujeito. Para isso, Chartier (1991) sugere que
comecemos a pensar nas clivagens culturais partindo dos grupos, dos sujeitos,
dos sentidos, das percepções e, não dos objetos, das formas, dos códigos.
Talvez essa seja uma estratégia dada por Chartier para estudar as práticas
culturais e a representação criada pelo indivíduo (que está ligada ao seu grupo
social) e suas apropriações. Ao começar a elencar as clivagens culturais partindo
do sujeito, do lugar social em que ele fala, por exemplo, se privilegia o estudo
aprofundado de sua subjetividade, podendo fazer interpretações aprofundadas
acerca de suas apropriações e representações.
Assim, pensar a cultura, os sentidos e os artefatos, é pensar em como as prá-
ticas circulam, e que quando circulam, elas e os indivíduos se modificam, novos
sentidos são atribuídos. Daí um dos princípios abordados por Chartier (1991),
de que a percepção do real não é objetiva e transparente, mas sim, uma repre-
sentação da forma como os sujeitos veem (percepção) o mundo. Um conjunto
de sentidos dados e partilhados pelos grupos sociais, de modo a regular e orga-
nizar as suas práticas, suas condutas e seus comportamentos.
Vemos, assim, que estudar a cultura e as práticas culturais, sob esta pers-
pectiva, é estudar também sentimentos, emoções, conceitos, ideias e o senso de
pertencimento do indivíduo em relação ao seu grupo social. Quando interpre-
tamos e fazemos uso do pensamento de Chartier para os nossos estudos sobre a
cultura organizacional, percebemos primeiramente que é necessário adentrar os
espaços organizacionais, “estar” neste universo, nos colocar lá, sentir as percep-
ções dos sujeitos, conhecer as suas memórias, compreender as suas apropriações.
Alcançado isso, precisamos não somente usar essas informações, mas interpretá-
-las, dissecá-las, de modo que consigamos trazer à tona a suas mais verdadeiras
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
vemente, tenham contribuído para o entendimento da dimensão simbólica das
organizações, que mesmo sendo uma perspectiva de análise que ainda encontre
resistências, nos possibilita enxergar as organizações também como um grupo
social engajado em transformações metafóricas da realidade.
Continue empenhado(a) em suas leituras, estudos e pesquisas, pois, é dessa
forma que teorias são questionadas e desenvolvidas e novos resultados são alcan-
çados. É assim que o processo de desenvolvimento do conhecimento acontece.
Foi muito bom compartilhar desse tempo com você! Até mais!
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nesta unidade estudamos os principais elementos que nos levam a uma noção
interpretativa das organizações. Podemos dizer assim que os estudos sobre o sim-
bolismo organizacional nos permitem uma nova visão para além da totalidade
e racionalidade. É possível dizer, inclusive, que permite uma visão mais huma-
nizada do mundo das organizações.
Compreendemos nesta unidade, que a cultura organizacional, em sua dimen-
são interpretativa, é vista como um sistema simbólico no qual os seus agentes
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Considerações Finais
136
4. Vimos que simbolismo é um elemento presente nos grupos sociais, como as or-
ganizações. Sobre este assunto, marque V (verdadeiro) ou F (falso) nas propo-
sições a seguir, e assinale a alternativa que apresente a sequência correta.
( ) Os indivíduos e suas diferenças conferem vida ao projeto organizacional.
( ) Os gestores podem optar por deixar ou não o universo simbólico fazer parte
do cotidiano organizacional.
( ) Os sistemas simbólicos também são instrumentos de conhecimento e de
comunicação.
( ) Alguns símbolos, como o cetro e o traje, por exemplo, se constituem em ca-
pital simbólico.
( ) A cultura organizacional pode ser entendida como um sistema simbólico.
( ) A noção de campo, de Bourdieu, pode ser compreendida como um espaço
estruturado de posições ocupadas por agentes e que depende deles para existir.
a) V-F-V-V-V-F.
b) V-V-V-V-V-V.
c) F-F-V-V-V-V.
d) F-V-V-F-F-F.
e) V-F-V-F-V-F.
5. Jean-François Chanlat, destacado professor e pesquisador da École des Hautes
Études Commerciales, nos traz uma proposta de discussão sobre o universo hu-
mano dizendo o seguinte: “[...] é um mundo de signo, de imagens, de metáforas,
de emblemas, de símbolos, de mitos e de alegorias” (CHANLAT, 1996, p. 30). Qual
a importância de refletir sobre essa concepção?
6. Quando exploramos os objetos dos estudos culturais, como o espaço organiza-
cional, podemos dizer que não sabemos “o que vamos encontrar” ao mergulhar
no universo a ser estudado, ficando então, à deriva de sentidos. O que isso quer
dizer? Assinale a alternativa correta.
a) Que não é possível analisar o espaço organizacional.
b) Que é necessário submergir afundar-se nas meadas das relações e tensões.
c) Que o universo organizacional é complexo, mas determinado, constante.
d) Que o universo organizacional deve ser estudado sem considerar a cultura.
e) Que os indivíduos são seres complexos e impossíveis de serem estudados.
139
7. Segundo Bouchard (1996, p. 259) “[...] é preciso reconhecer que o sentido não se
encontra, nunca, definitivamente, estabelecido. Ele é sustentado apenas por um
fio, o fio de nossos pensamentos”. A partir dessa afirmação, assinale alterna-
tiva que apresente o principal agente na produção de sentido e interpreta-
ção dos artefatos organizacionais.
a) Os elementos da cultura.
b) A estrutura organizacional.
c) A cultura forte.
d) O sujeito.
e) Não existe um agente de produção de sentido.
MATERIAL COMPLEMENTAR
REFERÊNCIAS ON-LINE
1
Em:<https://educacao.uol.com.br/biografias/ferdinand-de-saussure.htm>. Acesso
em: 27 abr. 2017
143
GABARITO
1. E.
2. O estudo das representações coletivas dos grupos sociais permite compreender
o social e o cultural da realidade por meio da representação - individual e coleti-
va -, do sentido que é dado pelo sujeito.
3. Os sistemas simbólicos são representações de práticas, de formas de funciona-
mento de grupos ou classes, de posições sociais, de modo que, para aderir ao
sistema de símbolos é necessário partilhar de seus significados.
4. A.
5. Faz-se importante refletir sobre esta concepção de Chanlat, pois ela guiará as
nossas reflexões dentro desta concepção do simbólico. Este entendimento nos
proporciona compreender o universo que nos cerca como um mundo em cons-
tante construção e reconstrução a partir e por meio de nossas mentes, nossos
entendimentos.
6. B.
7. D.
Professora Me. Patrícia Rodrigues da Silva
MUNDO DO TRABALHO E
V
UNIDADE
CONTEXTO SOCIAL
Objetivos de Aprendizagem
■■ Conjecturar sobre as principais mudanças que repercutiram sobre o
mundo do trabalho nos últimos tempos.
■■ Conhecer as novas formas de organização do trabalho surgidas ao
final do século XX e início do século XXI.
■■ Compreender os principais aspectos referentes à emancipação
humana e a sua conexão com o mundo do trabalho.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■■ Transformação e mudança constantes
■■ O trabalho atípico ou diferenciado
■■ Emancipação humana no mundo do trabalho
147
INTRODUÇÃO
Introdução
148 UNIDADE V
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
TRANSFORMAÇÃO E MUDANÇA CONSTANTES
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produtivo flexível, pois permitia ao trabalhador operar com várias máquinas ao
mesmo tempo em que combinava diferentes tarefas. Dessa forma, os trabalha-
dores tornavam-se multifuncionais, trabalhavam em equipe e rompiam com o
caráter parcelar do processo de produção anterior. O que não se modificavam,
eram as formas de controle sobre o trabalhador.
Assim sendo, caro(a) aluno(a), compreendemos que o toyotismo pode ser
concebido como um modelo de produção que se ampara em um “receituário”,
diferenciando-o do taylorismo e do fordismo, ao mesmo tempo em que suscita
intensificação da exploração do trabalho, impulsionada seja pela tecnologia ou
pelo aceleramento da cadeia produtiva.
trabalho e passa a assumir tarefas especializadas, algo que não era anteriormente
uma preocupação em suas operações diárias. Esta nova forma de desenvolver o
trabalho, acabou por reduzir o trabalho manual e o esforço físico, tornando as
estruturas organizacionais descentralizadas.
Salienta Motta (2000) que os processos de produção passaram a se ampa-
rar então em uma perspectiva de inovação e flexibilidade. Deu-se início a um
período de mudanças radicais, em que se destacavam a multiplicidade dos pro-
cedimentos, a flexibilidade estrutural, a ambiguidade na definição de tarefas, a
descentralização de controles e dualidade nas fronteiras de responsabilidade.
Percebe quantas transformações em um curto período de tempo foram
vivenciadas? Estas mudanças dos meios de produção e processos de trabalho
repercutem até hoje, não somente nas grandes indústrias e organizações, mas
em toda a sociedade. Cada vez mais, a cada dia, somos cobrados e embebidos
em um contexto que exige multifuncionalidade, agilidade no desenvolvimento
do trabalho, inovação, flexibilidade dentre outros tantos elementos.
Temos que lidar também com a diversidade, multiculturas, jornadas de tra-
balho estendidas – muitas vezes pela tecnologia – que nos colocam em um ritmo
desenfreado no que diz respeito às atividades de trabalho. Essas características
não são somente importantes, mas imprescindíveis para “sobreviver” no novo
mundo do trabalho, e são cada dia mais incutidas na vida das pessoas.
Vamos pensar sobre isso!
Podemos observar, caro(a) aluno(a), por meio das discussões aqui propostas,
que as transformações que ocorrem no mundo do trabalho suscitaram também
novas formas de pensar as relações estabelecidas entre indivíduos e organiza-
ções. Assim, o papel do trabalhador se modificou e novas formas de organização
do trabalho foram constituídas.
Nesta linha de pensamento, Morin (2001) nos descreve que houve um desa-
parecimento de empregos permanentes, que aconteceu ao mesmo tempo em que
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apareceram novas tecnologias e inovações. Este movimento na dinâmica do tra-
balho fez surgir novas formas de atividade laboral, como também a modificação
da natureza das formas existentes.
Complementando esta ideia, Antunes (2005) salietna que com esta mudança
se amplia a inter-relação entre: as atividades produtivas e improdutivas, as ati-
vidades fabris e de serviços, a produção e o conhecimento científico. Fato que
acabou por acentuar a expansão e descoberta de novas formas de produção,
impactando diretamente os contextos organizacional e social.
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O TRABALHO ATÍPICO OU DIFERENCIADO
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uma realidade preocupante, principalmente diante de índices das taxas de desem-
prego, além do medo e angústia dos próprios trabalhadores.
Contudo, podemos nos valer da percepção de Laranjeira (2000, p. 14) de que
As novas tecnologias podem ser exploradas em suas dimensões positi-
vas como na eliminação das funções rotineiras, repetitivas e degradan-
tes, fonte de doenças e de insatisfação, tanto na esfera do trabalho fabril
quanto na esfera dos serviços; ou como na realização de um trabalho
polivalente, multifuncional, favorecendo a utilização do pensamento
abstrato, permitindo uma maior interação do trabalhador com a má-
quina, já que o trabalho informático supõe essa interação. Sobretudo,
haveria a possibilidade de reduzir ainda mais o tempo de trabalho ne-
cessário ao ganho para sobrevivência.
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EMANCIPAÇÃO HUMANA NO
MUNDO DO TRABALHO
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Sob esta perspectiva de inter-relação do indivíduo com o meio que o cerca,
cabe a afirmação de Luiz (2005) de que a emancipação humana é construída por
diferentes sujeitos sociais, e, principalmente por vários elementos que dão materia-
lidade a estes sujeitos.
Agora que nos familiarizamos com a emancipação, pensando-a em um con-
texto de vida social e organizacional, vamos conhecer alguns aspectos de uma de
suas abordagens de estudo. Trata-se da Teoria do Agir Comunicativo, de Jurgen
Habermas (2003), uma abordagem para a emancipação humana impulsionada por
meio do ato da fala, pela ação dialógica.
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O agir comunicativo pode ser compreendido como um processo circular no
qual o ator é as duas coisas ao mesmo tempo: ele é o iniciador, que domina
as situações por meio de ações imputáveis; ao mesmo tempo, ele é também
o produto das tradições nas quais se encontra, dos grupos solidários aos
quais pertence e dos processos de socialização nos quais se cria.
Fonte: Habermas (2003, p. 166).
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Considerações Finais
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Tempos Modernos
No filme Tempos Modernos, com Charlie Chaplin, notamos esta concepção do trabalho
minimamente controlado, no qual os trabalhadores executavam tarefas repetitivas e exaustivas.
Esse trabalho era percebido como parte da engrenagem, inclusive, explicitado em uma cena
do filme. Vale realmente compreender um pouco mais das características deste período para
interpretá-las à luz dos tempos atuais. No link abaixo você pode assistir ao filme:
Para saber mais, acesse o link disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=ieJ1_5y7fT8>.
Material Complementar
REFERÊNCIAS
REFERÊNCIAS ON-LINE
1
Em: <http://www.portal-administracao.com/2013/12/sistema-toyota-de-produ-
cao.html>. Acesso em: 28 abr. 2017.
2
Em: <https://www.yumpu.com/pt/document/view/12892914/o-desenvolvimen-
to-e-suas-exigencias-morais>. Acesso em: 28 abr. 2017.
GABARITO
1.
a) Este impulso impactou diretamente na subjetividade dos trabalhadores, mo-
dificando principalmente a sua forma de inserção na estrutura produtiva, a sua
forma de desenvolvimento do trabalho.
b) Estes sistemas, que eram calcados na produção em massa tinham algumas ca-
racterísticas específicas que merecem ser relembradas:
■■ Linha de montagem e fabricação de produtos mais homogêneos.
■■ Controle dos tempos e movimentos, pelo cronômetro e produção em série.
■■ Trabalho parcelar e pela fragmentação das funções.
■■ Existência de unidades fabris concentradas e verticalizadas.
■■ Constituição/consolidação do operário-massa, do trabalhador coletivo fa-
bril entre outras dimensões.
2. C.
3. Significa uma mudança na forma de ser do trabalhador e no processo produti-
vo, uma nova concepção do ambiente de trabalho e de organização social da
produção. No novo processo produtivo, o trabalhador passou a assumir tarefas
especializadas antes ausentes de suas preocupações diárias, o que reduziu dras-
ticamente o trabalho manual e esforço físico, com estruturas organizacionais al-
tamente descentralizadas.
4. E.
5. Não. Porque não se trata somente de libertar o sujeito do sistema social, isentan-
do-o de suas responsabilidades sociais e/ou morais, mas sim, da compreensão
das relações de elementos e diretrizes que envolvem os indivíduos.
6. D.
173
CONCLUSÃO
Chegamos ao final das discussões de nosso livro. Esperamos que a sensação aqui
seja de um grande novo começo. Temos certeza de que você, caro(a) aluno(a), tem
em mente novas concepções, novos entendimentos, novas formas de enxergar o
mundo que o(a) cerca.
Apresentamos em nosso livro de Ciências Sociais aspectos diversos, por meio de
conceitos, teorias, ideias de autores, além, é claro, de nossas próprias concepções.
Esperamos que por meio de tais elementos você tenha podido construir um novo
olhar sobre a cultura, a identidade do indivíduo, a cultura organizacional, o simbo-
lismo nas organizações, as representações construídas pelos indivíduos.
Queremos que saiba que, da primeira a quinta unidade, nosso intuito foi levá-lo(a) a
um processo de reflexão, a um despertar para o conhecimento acerca de elementos
comuns ao nosso cotidiano que precisam ser pensados, discutidos. Esperamos que
você tenha novas concepções sobre o mundo do trabalho, sobre as mudanças dos
processos de produção e a repercussão sobre a vida das pessoas, dos trabalhadores.
Esperamos que tenhamos gerado reflexão acerca da ascensão da tecnologia, tam-
bém como impulsionadora das mudanças sentidas e percebidas no contexto do
mundo contemporâneo do trabalho.
Concluímos com o desejo de que você tenha refletido e que continue a refletir so-
bre a emancipação humana, sobre as necessidades de entendimento mútuo nos
mais diversos contextos organizacionais, de modo que você tenha adquirido uma
bagagem de conhecimento que contribua não somente para o seu processo de for-
mação, mas, para toda a sua vida.
Por fim, esperamos que você continue a estudar, a pesquisar e ampliar o seu conhe-
cimento sobre estas temáticas que tanto influenciam o cotidiano do trabalho e toda
a vida em sociedade. Grande abraço!
Professoras: Rízia, Patrícia Bernardo, Patrícia Rodrigues
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