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Língua Portuguesa

Professora Isabel Vega


Módulo Hera
Aula 01
CARACTERÍSTICAS DA LÍNGUA

1) Dinamismo: praticidade e variabilidade


2) Arbitrariedade-Convenção
3) Logicidade
4) Representação social
5) Norma e Uso
6) Erro X Adequação
Exemplo 1:
Tenho pagado as contas em dia.

Tenho pago as contas em dia.

O bandido foi pego em flagrante.

O bandido foi pegado em flagrante.

Tenho trago o material sempre.


Emprego dos verbos auxiliares com duplo particípio

1) Voz ativa – sujeito agente da ação

→ ter e haver + particípio regular (-do)

2) Voz passiva – sujeito paciente da ação

→ ser ou estar + particípio irregular (curto)


Tenho pagado as contas em dia. C

Tenho pago as contas em dia. E

O bandido foi pego em flagrante. E>C

O bandido foi pegado em flagrante. C > em desuso

Tenho trago o material sempre. E


Exemplo 2:

Todas as meninas foram ao baile.

Todas as meninas foram no baile.

As meninas todas foram para o baile.


Exemplo 2:

Todas as meninas foram ao baile. → registro formal

Todas as meninas foram no baile. → registro informal

As meninas todas foram para o baile. → registro formal


Exemplo 3:

As menina tudo foi no baile.


Exemplo 3:

As menina tudo foi no baile.


Diz a lenda que Rui Barbosa, ao chegar em casa, ouviu um barulho
estranho vindo do seu quintal. Foi averiguar e constatou haver um ladrão
tentando levar seus patos de criação. Aproximou-se vagarosamente do
indivíduo e, surpreendendo-o ao tentar pular o muro com seus patos, disse-
lhe:
— Oh, bucéfalo anácrono!!!... Não o interpelo pelo valor intrínseco dos
bípedes palmípedes, mas sim pelo ato vil e sorrateiro de profanares o recôndito
da minha habitação, levando meus ovíparos à sorrelfa e à socapa. Se fazes isso
por necessidade, transijo; mas se é para zombares da minha elevada
prosopopeia de cidadão digno e honrado, dar-te-ei com minha bengala
fosfórica, bem no alto da tua sinagoga, e o farei com tal ímpeto que te
reduzirei à quinquagésima potência que o vulgo denomina nada.
E o ladrão, confuso, diz:
— Dotô, rezumino... Eu levo ou dêxo os pato???...
Reservo a denominação de português hodierno para as mudanças
características do falar atual criadas ou fixadas recentemente, ou recebidas do século
XIX, ou que por ventura remontam ao século XVIII.
Limites entre os diversos períodos não podem ser traçados com rigor. Ignoram-
se a data ou o momento exato do aparecimento de qualquer alteração linguística.
Neste ponto, nunca será a linguagem escrita, dada a sua tendência conservadora,
espelho fiel do que se passa na linguagem falada. Surge a inovação, formulada acaso
por um ou poucos indivíduos; se tem a dita de agradar, não tarda a generalizar-se o
seu uso no falar do povo. A gente culta e de fina casta repele-a, a princípio, mas, com
o tempo, sucumbe ao contágio. Imita o vulgo, se não escrevendo com meditação, em
todo o caso no trato familiar e falando espontaneamente. Decorrem muitos anos, até
que por fim a linguagem literária, não vendo razão para enjeitar o que todo o mundo
diz, se decide a aceitar a mudança também. Tal é, a meu ver, a explicação não
somente de fatos isolados, mas ainda do aparecimento de todo o português moderno.
(Said Ali) - CACD 2015
Examinemos um exemplo, quanto ao significado das palavras nas
línguas. Temos, em português, a palavra dedo, que nos parece muito
concreta; diríamos que é simplesmente o nome que damos, em nossa
língua, a um objeto que nos é dado pelo mundo real: um dedo é uma coisa,
ou seja, uma parte definida do corpo, e o que pode variar é a maneira de
designar essa coisa. No entanto, em inglês há duas palavras para “dedo”:
finger e toe, que não são a mesma coisa. Um finger é um dedo da mão, e
um toe é um dedo do pé; para nós são todos dedos, mas para um inglês
são coisas diferentes.
(Mário Perini) - CACD 2007
“O que é o que é?”

Se recebo um presente dado com carinho por pessoa de quem não


gosto — como se chama o que sinto? Uma pessoa de quem não se gosta mais
e que não gosta mais da gente — como se chama essa mágoa e esse rancor?
Estar ocupado, e de repente parar por ter sido tomado por uma desocupação
beata, milagrosa, sorridente e idiota — como se chama o que se sentiu? O
único modo de chamar é perguntar: como se chama? Até hoje só consegui
nomear com a própria pergunta. Qual é o nome? e é este o nome.

(Clarice Lispector) - CACD 2009


O português do Brasil (...) enriqueceu-se de uma variedade de
antagonismos que falta ao português da Europa. Um exemplo, e dos mais
expressivos, que nos ocorre, é o caso dos pronomes. Temos no Brasil dois
modos de colocar pronomes, enquanto o português só admite um — o “modo
duro e imperativo”: diga-me, faça-me, espere-me. Sem desprezarmos o modo
português, criamos um novo, inteiramente nosso, caracteristicamente
brasileiro: me diga, me faça, me espere. Modo bom, doce, de pedido. E
servimo-nos dos dois. Ora, esses dois modos antagônicos de expressão,
conforme necessidade de mando ou cerimônia, por um lado, e de intimidade
ou de súplica, por outro, parecem-nos bem típicos das relações psicológicas
que se desenvolveram através da nossa formação patriarcal entre os senhores
e os escravos: entre as sinhás-moças e as mucamas; entre os brancos e os
pretos. “Faça-me”, é o senhor falando, o pai, o patriarca; “me dê”, é o escravo,
a mulher, o filho, a mucama. (Gilberto Freyre, in: Casa Grande e senzala)
Na visão preconceituosa dos fenômenos da língua, a transformação de L
em R nos encontros consonantais como em Cráudia, chicrete, praca, broco, pranta
é vista como um “defeito de fala”, e às vezes até como um sinal do “atraso mental”
das pessoas que falam assim. Ora, estudando cientificamente a questão, é fácil
descobrir que não estamos diante de um “defeito de fala”, muito menos de um
traço de “atraso mental” dos falantes “ignorantes” do Português, mas
simplesmente de um fenômeno fonético que contribuiu para a formação da própria
Língua Portuguesa padrão.

Norma-padrão Origem
branco blank (germânico)
escravo sclavu (latim)
fraco flaccu (latim)
grude gluten (latim)
CACD 2005 – Questão discursiva – 1ª fase
A necessidade de superar as noções de competência ideal e de comunidade
homogênea de fala surgiu na pesquisa teórica linguística a partir da compreensão de
que há, na linguagem, dependência de fatores socioculturais. Os falantes são
multilíngues: usam variedades funcionais de uma língua, de acordo com sua
experiência, seus propósitos e necessidades. Em um continuum que vai das
variedades mais restritas às menos restritas, desenvolvem um diferencial de
competência na adequação comunicativa.
A competência para produzir e também para compreender é desenvolvida
juntamente com a noção de adequação: o que, quando, com quem, onde e de que
maneira falar, levando-se em consideração também a internalização de atitudes,
julgamentos, habilidades mentais, valores, motivações a respeito da língua. A
experiência social, as necessidades e as motivações alimentam a aquisição da língua,
e a língua promove uma renovação das experiências, das necessidades e das
motivações, num círculo infinito. (Lucília H. do C. Garcez.)
Discriminar alguém por ser negro, índio, nordestino, mulher, deficiente físico,
homossexual etc. já começa a ser considerado “publicamente inaceitável” e
“politicamente incorreto”, fazer essa mesma discriminação com base no modo de falar
da pessoa é algo que passa com muita “naturalidade” (...). É que a linguagem, de
todos os instrumentos de controle e coerção social, talvez seja o mais complexo e
sutil.
Assim, alguém das camadas privilegiadas da população vê erro na língua dos
cidadãos das outras camadas, as menos favorecidas. Frequentemente esses
acusadores, por atribuírem a si mesmos um conhecimento linguístico superior, acima
da média, denunciam também erros cometidos por membros de sua própria classe
social e lamentam o “descaso”, até mesmo dos falantes “cultos”, pela “língua de
Camões”.
Há erros mais “errados” (ou mais “crassos”) do que outros — a escala de
“crassidade” é inversamente proporcional à escala do prestígio social. (Marcos Bagno)
Considerando os textos acima apenas como motivadores, discorra sucintamente
a respeito de norma e uso, focalizando, em especial, a variação linguística e a noção
de erro linguístico.

CACD 2008
As opções a seguir descrevem marca(s) linguística(s) contida(s) no texto. Assinale
a opção em que a(s) marca(s) apontada(s) não corresponde(m) a traço(s) de
oralidade do texto.

( A ) Emprego do vocativo “Mariano” e uso do pronome você, para construir o


discurso direto.
“Estas cartas, Mariano, não são escritos. São falas. Sente-se, se deixe em
bastante sossego e escute. Você não veio a esta Ilha para comparecer perante um
funeral. Muito ao contrário, Mariano. Você cruzou essas águas por motivo de um
nascimento. Para colocar o nosso mundo no devido lugar.”
( B ) Flexibilidade na colocação de pronomes átonos, como em “Sente-se, se deixe
em bastante sossego e escute” e “Lhe explico”.
( C ) O emprego do vocábulo “Pois” como marcador discursivo no trecho “Pois lhe
digo”.
“Entre no seu coração, entenda aquela rezinguice dele, amoleça os medos dele.
Ponha um novo entendimento em seu velho pai. Às vezes, seu pai lhe tem raiva?
Pois lhe digo: aquilo não é raiva, é medo. Lhe explico: você despontou-se, saiu da
Ilha, atravessou a fronteira do mundo.”

( D ) Ocorrência de interrogações em discurso direto, como em “Às vezes, seu pai


lhe tem raiva?” ou “Seu velhote passou a destratá-lo?”.
( E ) Não contração da preposição “de” com o pronome “ele”, que é sujeito de
infinitivo, conforme ocorre em “Você nunca lhe ensinou modos de ele ser pai”.
( B ) Flexibilidade na colocação de pronomes átonos, como em “Sente-se, se deixe
em bastante sossego e escute” e “Lhe explico”.
( C ) O emprego do vocábulo “Pois” como marcador discursivo no trecho “Pois lhe
digo”.
“Entre no seu coração, entenda aquela rezinguice dele, amoleça os medos dele.
Ponha um novo entendimento em seu velho pai. Às vezes, seu pai lhe tem raiva?
Pois lhe digo: aquilo não é raiva, é medo. Lhe explico: você despontou-se, saiu da
Ilha, atravessou a fronteira do mundo.”

( D ) Ocorrência de interrogações em discurso direto, como em “Às vezes, seu pai


lhe tem raiva?” ou “Seu velhote passou a destratá-lo?”.
( E ) Não contração da preposição “de” com o pronome “ele”, que é sujeito de
infinitivo, conforme ocorre em “Você nunca lhe ensinou modos de ele ser pai”.

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