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Poesia lírica e indianista, de Gonçalves Formalmente, o poema apresenta três quartetos e dois

sextetos, com versos de sete sílabas (redondilha maior)


Dias e rimas apenas nos versos pares de cada estrofe. A
simplicidade da linguagem (predominância da ordem
O AUTOR direta, vocabulário comum, ausência total de adjetivos)
O poeta Antônio Gonçalves Dias, que se orgulhava intensifica o caráter intimista da expressão lírica e,
de ter no sangue as três raças formadoras do povo brasileiro juntamente com as repetições, contribui para a riqueza,
(branca, indígena e negra), nasceu no Maranhão em 10 de o colorido e a melodia da versificação.
agosto de 1823. Em 1840 foi para Portugal cursar Direito na
Faculdade de Coimbra. Ali, entrou em contato com os AINDA UMA VEZ – ADEUS
principais escritores da primeira fase do Romantismo Este belo poema de temática amorosa foi composto em
português.Em 1843, inspirado na saudade da pátria, Lisboa, depois de um encontro casual do poeta com Ana
escreveu "Canção do Exílio". Amélia, que se havia casado em São Luís com um
No ano seguinte graduou-se bacharel em Direito. De negociante que se retirara para Portugal. Neste poema,
volta ao Brasil, iniciou uma fase de intensa produção o locutor nos fala sobre seus sentimentos que o fizeram
literária. Em 1849, junto com Araújo Porto Alegre e Joaquim a renunciar à própria felicidade.
Manuel de Macedo, fundou a revista "Guanabara".
Em 1862 retornou à Europa para cuidar da saúde.
LEITO DE FOLHAS VERDES
Em 1864, durante a viagem de volta ao Brasil, o navio Ville
de Boulogne naufragou na costa brasileira. Salvaram-se Neste belíssimo poema indianista, temos um eu-lírico
todos, exceto o poeta que, por estar na cama em estado feminino que se dirige a um interlocutor (seu amado),
agonizante, foi esquecido em seu leito. Jatir, perguntando-lhe o motivo de sua demora em
Se por um lado deve-se a Gonçalves de Magalhães a chegar.
introdução do Romantismo no Brasil, por outro, deve-se a A preocupação do eu-lírico deve-se ao fato que já é noite
Gonçalves Dias a sua consolidação. Isso porque o poeta e a cama do casal já está preparado “sob a copa da
trabalhou com maestria todas as características iniciais da mangueira altiva”.
primeira fase do Romantismo brasileiro. De sua obra, Nesta belíssima declaração de amor, o sujeito poético
geralmente dividida em lírica, medieval e nacionalista, tece o seu discurso – assim como seu leito – com
destacam-se "I-juca Pirama", "Os Tibiramas" e "Canção do inúmeros elementos da flora brasileira (bogari,
Tamoio". tamarindo), além de se referir aos vales, aos montes na
espera do amado que não vem.
OS POEMAS
I-JUCA-PIRAMA
CANÇÃO DO EXÍLIO
A saudade indígena, de que fala Cassiano Ricardo, é um Neste poema narrativo, temos um "eu narrador" conta
sentimento de nostalgia, mais espacial do que temporal. O as lembranças de um velho índio Timbira que, também
fato é que essa pequena composição tornou-se o mais com status de narrador, num clima trágico e lírico, narra
popular poema de Gonçalves Dias e o mais famoso poema a história do último guerreiro tupi l-Juca-Pirama –
brasileiro. Sua unânime aceitação pelo provo brasileiro está remanescente de sua tribo em conjunto ao pai, um velho
relacionada à temática bastante nacionalista, e à forma, de chefe guerreiro cego e doente.
uma simplicidade ímpar. O herói tupi é feito prisioneiro pelos Timbiras, guerreiros
Os dois primeiros quartetos apresentam a exuberância ferozes e canibais. Antes de ser morto, do guerreiro tupi
natural do Brasil, que se confunde com a própria vida e com é exigido que entoe o seu canto de morte, cantando seus
o sentimento brasileiro. Tudo isso recheado de comparações leitos, sua bravura e suas aventuras, pois a sua coragem
que atestam a insuficiência das maravilhas naturais e de guerreiro e a sua honra - acreditavam os Timbiras –
humanas do solo lusitano. passariam para todos que, depois do rito de morte,
No terceiro quarteto, o locutor apresenta seus próprios comessem as partes do seu corpo.
sentimentos diante da distância em que ele se encontra do I-Juca-Pirama conta sua história, fala de sua bravura,
objeto amado, sua pátria. Nos sextetos finais, o eu-lírico das tribos inimigas, das suas andanças, de lutas contra
reitera seu sentimento de nostalgia e saudade pelo confronto Aimorés, mas, pensando no pai cego e doente, velho e
entre a realidade presente e não satisfatória, e o ideal faminto, sem guia, pede que o deixem viver. ("Deixai-
ausente e ardentemente desejado, terminando por invocar a me viver! - canto IV).
interferência de Deus para que lhe seja dado rever a pátria Seu ato é interpretado como covardia e o chefe dos
amada antes de morrer. Timbiras ordene que o soltem (Soltai-o – canto V ) e
A valorização do elemento nacional, uma constante na obra depois de ouvir o guerreiro, ordena-lhe: "És livre;
de Gonçalves Dias, é um reflexo da identificação imediata do parte.".
poeta com a sentimentalidade do povo brasileiro e fornece
um exemplo fecundo de brasilidade à nossa criação literária, O guerreiro tupi promete-lhe que voltará depois da
atestado pela presença de alguns versos desta canção, de morte do pai.
1843, na letra do “Hino Nacional Brasileiro”, de Osório No canto VI, de volta ao pai, o herói, que foi preparado
Duque Estrada, adotada oficialmente em 06 de setembro de para o ritual, conversa com o pai cego que sente o cheiro
1922. Além disso, o tom meditativo, de religiosa nostalgia, forte das tintas que haviam sido passadas no corpo do
de pungente saudosismo, reflete a voz do coração do eu- prisioneiro, tintas próprias dos rituais de sacrifício.
lírico através do subjetivismo da inspiração. Destarte pergunta ao filho: "Tu prisioneiro, tu?". E ao
ficar sabendo pelo próprio filho o que acontecera,
desconhecendo o verdadeiro motivo de sua volta (zelar pelo CANTO IX: Quando o velho tupi já se retirava da tribo
pai doente), o velho leva-o de volta aos Timbiras e o maldiz, Timbira, ouve o grito de guerra de seu filho, que, num
rogando-lhe pragas e desejando-lhe que nem a morte o acesso de fúria, enfrenta todos os timbiras, desferindo
receba. golpes a esmo, mostrando, assim, sua bravura. O velho
O filho reage e resolve mostrar que não é covarde. Grita Timbira é, então, convencido da fúria do jovem Tupi, o
"Alarma! alarma" o seu grito de guerra. qual é também reconhecido pelo pai como sendo seu
filho amado e honrado.
O velho escuta, tomado de súbito pela reação do filho que
luta bravamente, golpeando inimigos e destruindo a tribo CANTO X: O velho Timbira afirma ter sido testemunha
timbira até que o chefe lhe ordena "Basta!". dos acontecimentos narrados: “meninos, eu vi”.
A honra do herói é então recuperada. Chorou pelo pai o
moço guerreiro. E o chefe Timbira guarda a memória dos SEUS OLHOS
feitos do jovem tupi. Esses versos foram escritos em 1846, inspirados por Ana
Amélia Ferreira do Vale, que Gonçalves Dias conhecera
Eis uma apresentação sintética de cada canto de “I-Juca-
no ano anterior, em São Luís do Maranhão, quando a
Pirama”:
moça tinha apenas 14 anos.
CANTO I: Apresentação e descrição da tribo dos Timbiras. O O poema, a partir de um intenso lirismo amoroso,
guerreiro tupi é o centro da festa que lhe tirará a vida. constitui um sistema expressivo organizado a partir da
Descrevem-se os ritos do corte de cabelo e da pintura do repetição (com ou sem variações) de estruturas
corpo. As estrofes de seis versos apresentam versos sintáticas e rítmicas, traço que o aproxima do canto
eneassílabos. (musicalidade) e da dança (coreografia). “Seus olhos”
CANTO II: Narração do festival antropófago, o rito de apresenta um esquema regular no que se refere aos
sacrifício do guerreiro tupi que não chegará ao final. Nota-se aspectos formais de sua composição, em que se
que o guerreiro tupi está melancólico. Perguntam-lhe o que evidencia um jogo de simetrias que lhe conferem um
ele teme. Os versos são dispostos em quadras que alternam caráter nitidamente popular.
versos decassílabos brancos e tetrassílabos rimados. Os aspectos formais do poema reproduzem o jogo do
CANTO III: Neste breve canto, narra-se a apresentação do amor, que lhe constitui o tema. Sendo assim, tanto a
guerreiro tupi, a quem se solicita que se apresente e cante temática amorosa quanto o próprio fazer literário
os seus feitos. A ele também é permitido que se defenda. O adquirem aqui uma dimensão lúdica.
Tupi comove. Este canto é composto por três estrofes, uma O jogo amoroso é caracterizado pela exploração de
de treze versos, uma quadrilha e uma sextilha. Todos os estados emotivos típicos, que se encadeiam e se
versos são decassílabos e há versos brancos e rimados. desdobram em lenta progressão até o final do poema.
CANTO IV: O tupi, num dos momentos mais belos da Num primeiro momento, há a configuração da mulher
literatura brasileira, canta seus feitos, fala quem é, das (olhos) como sujeito e do eu-lírico como objeto do jogo
guerras que participara, de como fora capturado pelos amoroso; num segundo momento, há uma identificação
timbiras enquanto procurava por comida na selva. Por das posições da mulher e do eu-lírico, ambos objeto do
último, fala do pai fraco e cego que só tinha aquele filho para jogo amoroso; finalmente, num terceiro estágio, há a
guiá-lo no que lhe restava da vida. Então, pede ao chefe configuração do eu-lírico como sujeito e da mulher
Timbira para que o deixe ir para cuidar de seu pai. Este (olhos) como objeto do amor.
canto é composto de 12 estrofes com versos de cinco sílabas
métricas. 1. (UEM/PR) Leia o texto:
CANTO V: Narra-se a reação dos timbiras que, depois de (...)
ouvirem o canto de morte do guerreiro tupi, acusa-o de Amor é vida; é ter constantemente
covarde e, por isso, abdicam do ritual antropofágico porque Alma, sentidos, coração – abertos
não querem “enfraquecer os fortes” com a “carne vil” do tupi Ao grande, ao belo; é ser capaz d’extremos,
que chorou diante da morte. D’altas virtudes, até capaz de crimes!
CANTO VI: Rompidos os laços que prendiam o tupi na taba Compreender o infinito, a imensidade,
dos timbiras, o nosso herói parte em busca do pai. O velho, E a natureza e Deus; gostar dos campos;
ao perceber que o filho tivera sido prisioneiro dos timbiras D’aves, flores, murmúrios solitários;
pergunta como o guerreiro se livrara do ritual de Buscar tristeza, a soledade, o ermo,
antropofagia. O filho, então, narra a “cortesia” dos E ter o coração em riso e festa;
adversários que o libertaram ao saber da existência do velho E à branda festa, ao riso da nossa alma
tupi, o qual, ao ouvir a história contada por seu filho decide Fontes de pranto intercalar sem custo;
conhecer a tribo timbira. Conhecer o prazer e a desventura
CANTO VII: O velho tupi chega à taba Timbira e pede ao No mesmo tempo, e ser no mesmo ponto
chefe que faça cumprir o ritual antropofágico, ao que o líder O ditoso, o misérrimo dos entes;
dos timbiras se recusa alegando que o Tupi é fraco. Isso é o amor, e desse amor se morre!
(...)
CANTO VIII: Noutro belíssimo momento da poesia de
(Gonçalves Dias. “Se se morre de amor!” – In
Gonçalves Dias, o pai amaldiçoa o filho. O velho fala que Poesias completas . Rio de Janeiro, Ed. De
aquele tupi não era seu filho porque ele havia chorado em Ouro, 1968)
presença de morte. O pai deseja ao filho as piores ofensas Com base no texto acima, pode-se afirmar que o
que um nobre guerreiro possa sofrer: não encontre amor nas Romantismo é um movimento estético-literárioque tem,
mulheres, não tenha onde dormir, não encontre amigos, entre outras, a(s) seguinte(s) característica(s). Julgue-as
nada, sequer possa beber água ou descansar. colocando V (verdadeiro) e F (falso) :
( ) Enfocar e descrever as realidades cotidianas ( o ser, a supera os limites da abordagem puramente indianista e
vida e o comportamento dos indivíduos e grupos humanos) e ganha universalidade.
os elementos da natureza (campos, flores, rios, aves, etc) 04) O índio de Gonçalves Dias diferencia-se do de
como são, objetivamente. Joaquim Norberto e Gonçalves Magalhães, não pela
( ) Enfocar e expressar, de forma sugestiva, com imagens questão de autenticidade do índio, mas por ser mais
vagas e indefinidas (símbolos), os sentimentos profundos e poético, como vemos em "I-Juca-Pirama". O
indefinidos (o inconsciente) do ser humano. deslumbramento sem vulgaridade do herói indígena
( ) Utilizar as ações e atitudes das pessoas, as realidades da traduz a poesia do poeta, malabarista de ritmos nos
vida urbana e social e os elementos da natureza (aves, sentimentos de heroísmo, dignidade, generosidade,
campos, flores, rios, montanhas, etc) como expressão bravura, maldição e tradição.
subjetiva da visão e sentimento estéticos do poeta frente ao 08) Quanto aos aspectos formais, em "I-Juca-Pirama"
homem e à natureza; Gonçalves Dias variou a métrica de trecho em trecho.
( ) Expressar a visão e o sentimento estéticos do poeta em Teoricamente, o poeta teria desprezado a metrificação.
poemas compostos de versos e estrofes rigorosamente No entanto, do ponto de vista expressivo, a va-riação
metrificados e ritmo totalmente uniforme, enfatizando a métrica utilizada produz a iconicidade sonora do texto,
beleza formal (vocabulário erudito, sintaxe rebuscada, rima construindo plasticamente o poema como um significante
rica, etc); rítmico do ritual narrado.
( ) O amor é o maior sentimento humano, e tanto pode 16) I Juca Pirama significa "aquele que é digno de ser
tornar o homem feliz e capaz de praticar as maiores virtudes morto"; o poema conta a história de um guerreiro tupi,
e o heroísmo, como levá-lo à fuga ou aos maiores crimes; aprisionado pelos Timbiras, que vai morrer em um festim
( ) Foi um movimento que se implantou no Brasil, na canibal.
primeira metade do século XVII, e teve, entre seus maiores
expoentes, os poetas Tomás Antônio Gonzaga, Cruz e Sousa 4 - Assinale o que for correto em relação a Gonçalves
e Gonçalves Dias, e os romancistas Monteiro Lobato, José de Dias.
Alencar e Mário de Andrade; (01) Introdutor do Romantismo, sua obra Suspiros
a) V V V F V F b) F F V F V F c) V V V V V V Poéticos e Saudades reforça a estética de reação ao
d) F V V F V F e) F V V F F V Arcadismo.
(02) Sua poesia indianista pode ser entendida como
2. (PUC-RS) Para responder à questão, analisar as “antevisão lírica e épica das nossas origens, revigorando
afirmativas que seguem, sobre o texto Canção do Exílio as intenções nacionalistas do Romantismo.”
(04) Sua obra Os Timbiras “compõe-se de dez cantos,
I. Através do texto, o poeta realiza uma viagem introspectiva observando-se o uso da linguagem mitológica e o
a sua terra natal - idéia reforçada pelo emprego do verbo maravilhoso pagão e cristão, rigorosamente nos moldes
"cismar". camonianos”.
II. A exaltação à pátria perdida se dá pela referência a (08) Consagrou-se com vários poemas, entre os quais
elementos culturais. Leito de Folhas Verdes, Marabá, Canção do Exílio e
III. "Cá" e "lá" expressam o local do exílio e o Brasil, Canto do Piaga.
respectivamente. (16) Destacou-se no gênero teatral através das obras
IV. O pessimismo do poeta, característica determinante do Patkull, Beatriz Cenci e Leonor de Mendonça.
Romantismo, expressa-se pela saudade da sua terra. (32) Na prosa, foi autor de romances indianistas como
Ubirajara e Iracema.
Pela análise das afirmativas, conclui-se que estão corretas: (64) Sua obra, de cunho social, enfatiza a temática
a) a I e a II, apenas; b) a I e a III, apenas; abolicionista
c) a II e a IV, apenas; d) a III e a IV, apenas;
e) a I, a II, a III e a IV.

3 - Canto IX – I Juca Pirama


O guerreiro parou, caiu nos braços
Do velho pai, que o cinge contra o peito,
Com lágrimas de júbilo bradando:
"Este, sim, que é meu filho muito amado!
E pois que o acho enfim, qual sempre o tive,
Corram livres as lágrimas que choro,
Estas lágrimas, sim, que não desonram".
(Gonçalves Dias. Poesias Americanas)

Com relação à obra indianista de Gonçalves Dias, e sobre


este poema em particular, assinale o que for correto.
01) O herói do poema não é apenas um índio tupi:
representa todos os índios brasileiros ou ainda todos os
brasileiros, uma vez que o índio foi durante o Romantismo o
representante de nossa nacionalidade.
02) O poeta, ao pôr em discussão profundos valores e
sentimentos humanos, como a bondade filial e a honra,

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