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Resumo:
Este artigo analisa a contribuição da descrição enquanto tipologia textual nos três
gêneros literários aristotélicos: narrativo, lírico e dramático. Apresenta-se a estrutura
da descrição na literatura, suas causas e consequências tomando como exemplos
romances, poemas e textos teatrais. Notamos a importância e essencialidade que a
descrição provoca nas obras literárias.
PONTO DE PARTIDA
Disse Pablo Picasso que “a arte é uma mentira que nos habilita a perceber a
verdade.” Fazer Literatura é produzir a arte da palavra de sua época. Poetas
cantaram suas dores e a dor de seu tempo; contadores narraram histórias que
continham valores; atores representaram emoções que não eram só do dramaturgo
mas também de uma era.
1
Professor de Língua Portuguesa na Prefeitura Municipal de Santo André. Fundador e Diretor do
Picnic Vitoriano São Paulo, clube revivalista e de Living History na cidade de São Paulo. Graduado em
Letras (Português/ Inglês) pelo Centro Universitário Paulistano. Universidade Metodista de São
Paulo. Pós Graduando em Língua Inglesa. E-mail: rommel_dickens@hotmail.com
hoje relembrar leitores, escritores, docentes e discentes da importância da dita
transpiração na produção de um texto. Este artigo objetiva estudar a relevância da
descrição e o modo como ela se manifesta na atividade literária. Como ocorre a
modalidade descritiva no conto? Como isso acontece nas poesias? Seria possível
encontrar o tipo descritivo nas peças teatrais? Ao fim do presente trabalho
espera-se que tais perguntas tenham sido respondidas.
1. TIPOLOGIA TEXTUAL
Todo texto tem uma função, apresenta uma estrutura e uma intenção ao ser
confeccionado. E é baseado nessas particularidades que podemos classificar os
textos em tipos. Primeiramente, convém separar o assunto tipologia textual de
gêneros textuais para facilitar a atividade docente na linguística textual como elucida
Silva.
Por fim apareceu o comandante abotoando a luva branca de camurça, teso na sua farda
nova, o ar autoritário, solta a espada num abandono elegante, as dragonas tremulando sobre
os ombros em cachos de ouro, todo ele comunicando respeito. (CAMINHA, 1895: 4)
A visão talvez seja o sentido que mais se destaca. Bearzoti Filho considera
importante o uso de cores na descrição para que ela seja viva, chamativa e
interessante e atraia o leitor. O autor também estabelece uma conexão entre cores e
emoções indicando que as cores vivas representam as emoções alegres e um
quadro pálido apresenta, por sua vez, emoções neutras etc. Analisemos dois
fragmentos de Oscar Wilde, escritor altamente descritivo:
SALOMÉ: [...] É pela tua boca que estou apaixonada, Iokanan. A tua boca é como uma fita de
escarlate sobre uma torre de marfim. É como uma romã cortada por uma faca de marfim. As
flores da romãzeira, que florescem nos jardins de Tiro e que são mais vermelhas do que as
rosas, não são tão vermelhas. Os rubros gritos das trombetas que anunciam a chegada dos
reis, e metem medo ao inimigo, não são tão rubros. A tua boca é mais vermelha do que os
pés daqueles que pisam as uvas nos lagares. É mais vermelha do que os pés daquele que
volta de uma floresta onde matou um leão e viu tigres dourados. A tua boca é como um ramo
de coral achado pelos pescadores no crepúsculo marinho e guardado para os reis...! É como
o vermelhão encontrado pelos moabitas nas minas de Moab e tomado pelos reis. É como o
arco do rei dos persas, pintado de vermelhão e com cornos de coral. Não há nada no mundo
tão vermelho como a tua boca... Deixa-me beijar a tua boca.[WILDE]
Era um dia abafadiço e aborrecido. A pobre cidade de São Luís do Maranhão parecia
entorpecida pelo calor. Quase que se não podia sair à rua: as pedras escaldavam; as
vidraças e os lampiões faiscavam ao sol como enormes diamantes, as paredes tinham
reverberações de prata polida; as folhas das árvores nem se mexiam; as carroças d’água
Mais uma vez a visão não foi eliminada, mas a audição ganha destaque e se
evidencia no gemido dos armadores enferrujados de uma rede, em uma mulher
tuberculosa cantando e uma vendedora de carne, alimento este que não é provado
por nenhuma personagem, mas a presença de moscas sobre a carne, o calor
corruptor e o estado de higiene do tabuleiro sugerem o tipo de sabor. Enfim, Temos
como referência olfativa a abertura de The Picture of Dorian Grey e notemos
também a presença da light summer (visão) e o wind (tato novamente):
The studio was filled with the rich odour of roses, and when the light summer wind stirred
amidst the trees of the garden, there came through the open door the heavy scent of the lilac,
or the more delicate perfume of the pink−flowering thorn. (WILDE)
3. ANCILLA NARRATIONIS
[...]a descrição é, funcionalmente, o décorum para a realização do evento. Por outro lado, a
díade narração/descrição é inseparável, ela é um ser híbrido, vegetal e animal, que pertence
às belas letras e que se completa em si mesma, não surtindo o efeito estético se for separado
em diferentes segmentos[..] (ALVES)
A carruagem parou ao pé de uma casa amarelada, com uma portinha pequena. Logo à
entrada um cheiro mole e salobre enojou-a. A escada, de degraus gastos, subia
ingrememente, apertada entre paredes onde a cal caía, e a umidade fizera nódoas. No
patamar da sobreloja, uma janela com um gradeadozinho de arame, parda do pó acumulado,
coberta de teias de aranha, coava a luz suja do saguão. E por trás de uma portinha, ao lado,
sentia-se o ranger de um berço, o chorar doloroso de uma criança.
[...]
Empurrou uma cancela, fê-la entrar num quarto pequeno, forrado de papel às listras azuis e
brancas. Luísa viu logo, ao fundo, uma cama de ferro com uma colcha amarelada, feita de
remendos juntos de chitas diferentes; e os lençóis grossos, de um branco encardido e mal
lavado, estavam impudicamente entreabertos...
Fez-se escarlate, sentou-se, calada, embaraçada. E os seus olhos muito abertos, iam-se
fixando — nos riscos ignóbeis da cabeça dos fósforos, ao pé da cama; na esteira esfiada,
comida, com uma nódoa de tinta entornada; nas bambinelas da janela, de uma fazenda
vermelha, onde se viam passagens; numa litografia, onde uma figura, coberta de uma túnica
azul flutuante, espalhava flores voando... Sobretudo uma larga fotografia, por cima do velho
canapé de palhinha, fascinava-a: era um indivíduo atarracado, de aspecto hílare e alvar, com
a barba em colar, o feitio de um piloto ao domingo; sentado, de calças brancas, com as
pernas muito afastadas, pousava uma das mãos sobre um joelho, e a outra muito estendida
assentava sobre uma coluna truncada; e por baixo do caixilho, como sobre a pedra de um
túmulo, pendia de um prego de cabeça amarela, uma coroa de perpétuas! (QUEIRÓS)
[…], and the animals crept silently away. But they had not gone twenty yards when
they stopped short. An uproar of voices was coming from the farmhouse. They rushed
back and looked through the window again. Yes, a violent quarrel was in progress.
There were shoutings, bangings on the table, sharp suspicious glances, furious
denials. The source of the trouble appeared to be that Napoleon and Mr. Pilkington
had each played an ace of spades simultaneously. Twelve voices were shouting in
anger, and they were all alike. No question, now, what had happened to the faces of
the pigs. The creatures outside looked from pig to man, and from man to pig, and from
pig to man again; but already it was impossible to say which was which.(ORWELL,
1945)
Acima temos outro trecho narrativo: a cena final de Animal Farm, de George
Orwell. A atividade descritiva nos mostra um confronto entre os homens e as
lideranças suínas da granja. Numa leitura simples, contemplamos que homens e
porcos estão lutando, brigando e discutindo um jogo de cartas. É necessário
contextualizar a descrição e fazer leituras mais profundas, todo elemento descritivo
deve ser lembrado e associado ao resto da obra. Do mesmo modo como a escolha
dos nomes, os comportamentos, vestimentas e posturas devem ser estudadas na
formação de um conjunto. O confronto no jogo entre Mr. Pilkington e Napoleão não é
apenas um confronto de jogo, homens e porcos carregam agora as mesmas
características, os animais que assistem à cena não conseguem mais fazer
distinção. Mais do que uma briga, há uma união de atributos e ao mesmo tempo a
decadência dos socialistamente corretos porcos. Esse é o papel da descrição:
oferecer à narrativa coesão e coerência; ao leitor, a análise profunda da obra.
4. DESCRIÇÃO E POESIA
[...]
5. GÊNERO DRAMÁTICO
Brízida — Seiscentos virgos postiços e três arcas de feitiços que nom podem mais
levar.
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS.
Abstract:
This article analyzes the contribuition of description while textual typology in the three
aristotelic literary genders: epic, lyric and dramatic. It presents the structure of
description in literature, its causes and consequences taking as examples novels,
poems and theatrical texts. We notice the importance and essenciality that the
description causes in literary works.
BEARZOTI FILHO, Paulo. A descrição: teoria e prática. São Paulo: Atual, 1992 2ª
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