O texto narrativo é aquele em que a ação é enunciada a partir de uma referência
temporal e espacial, geralmente através de verbos de mudança no passado. Predomina
esse texto ao contar e transmitir histórias, reais ou imaginárias, pelos mais diferentes meios. Esse tipo textual expressa acontecimentos com um ator (o personagem) em determinado tempo. Possui uma estrutura própria, que além do começo meio e fim (chamado de apresentação, desenvolvimento e desfecho) conta também com um clímax, onde se encontra a maior tensão do enredo. O enredo é entendido pela sucessão de fatos narrados, a história contada, que se dá em um tempo e em um local. Nos livros de Sherlock Holmes, escritos por Arthur Conan Doyle, por exemplo, o enredo é a sucessão de fatos contadas, enquanto que o clímax é o momento em que um mistério é revelado pelo investigador. A característica fundamental que diferencia os textos narrativos encontra-se na posição em que o locutor assume em relação à locução. Nessa forma de texto, a verdade e o discurso é mediada pelo narrador, que pode possuir diferentes características. A distinção entre narração e história (entendida como simples sucessão de fatos contados) reside na maneira que o narrador se interpõe na transmissão do texto. O narrador pode ser narrador- personagem, que participa da história e a conta em primeira pessoa, narrador observador, que narra o que vê, e o narrador onisciente, que conta a história em terceira pessoa, apresentando total conhecimento dos fatos e personagens. Narradores-personagens podem ser inclusive não confiáveis, como em Dom Casmurro de Machado de Assis. Exemplos de narrador onisciente podem ser encontrados nas obras de Dostoievski, como Os Irmãos Karamazov e Crime e Castigo. Essas características de narração alteram a forma do discurso, que podem ser discurso direto, em que o narrador não participa das falas enunciadas, adquirindo assim uma presença limitada no discurso, o discurso indireto, em que todas as falas são enunciadas por intermédio do narrador e o discurso indireto livre, que é um híbrido entre os dois. José Saramago em seu livro Ensaio Sobre a Cegueira utiliza integralmente o discurso indireto. No caso do narrador em terceira pessoa, a forma predominante é o discurso direto, enquanto que quando o narrador é em primeira pessoa, o discurso predominante é o indireto livre. A distinção entre autor e narrador no texto narrativo não é clara pois, de acordo com o crítico literário Davi Arrigucci Júnior, a escrita opera a mediação entre autor e o mundo. A arte narrativa, como utilizada pelo escritor argentino Jorge Luis Borges ou o escritor italiano Umberto Eco, adquire novas características na literatura moderna ou contemporânea, estabelecendo a mediação entre o autor e a linguagem. Novas formas de narradores, como o narrador borgeano, que transita entre diferentes formas textuais, nos faz refletir sobre a nossa relação com a verdade e a ficção. O livro Ficciones explora essas possibilidades quando narra histórias de histórias que ora incidem na realidade ficcional narrada, ora na realidade imediata do narrador (e não do autor). A obra prova que as possibilidades da arte narrativa são tão vastas e ricas como cada mundo de cada narrador de cada autor. As formas de texto narrativo tradicionais materializam-se no discurso pois estabelecem uma gama rica de gêneros e modos de construção literária. A narração possui a capacidade tanto de mostrar-se no discurso mais factual e realista quanto no mais subjetivo e pessoal. Não é, todavia, o objetivo deste trabalho tratar dos gêneros da construção literária, mas é necessário reconhecer no texto narrativo a capacidade de se estender pelas mais amplas formas de expressão literária. É também importante ter em mente as dimensões de um texto narrativo, que é uma construção de universo própria que respeita uma cronologia temporal própria. Os diferentes modos cronológicos são tão vastos como a própria construção do texto: um livro como A Morte de Artemio Cruz, de Carlos Fuentes, estabelece uma cronologia inversa, começando do fim para o começo, assim como fez Machado de Assis em Memórias Póstumas de Brás Cubas. Já Gabriel Garcia Márquez fez uma construção literária que estendia-se por centenas de anos em Cem Anos de Solidão. O supramencionado Carlos Fuentes fez uma obra narrativa com premissa similar e ainda mais ambiciosa; Terra Nostra conta a história de uma família por milênios, algo que é refletido na extensão de mil páginas da história. Proust, um dos gênios da arte narrativa, utilizou de fluxos de consciência e descrições complexas para narrar toda uma vida na sua obra Em Busca do Tempo Perdido. A não menos talentosa Virginia Woolf em Mrs Dalloway trata em toda a extensão do livro de um mero dia. O tempo também é um recurso criativo do texto narrativo na literatura, que em vez de meramente através de sua forma cronológica, é estabelecido através da sucessão de fatos e ações retratadas. O texto narrativo está presente em gêneros dos mais variados, como piadas, romances, relatos e anúncios. Sendo uma das tipologias textuais mais complexas e abrangentes, sua função, a de contar histórias, é enriquecida por cada locutor e cada locutário, possuindo a possibilidade de se constituir como forma artística.