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1.

CONSIDERAÇÕES SOBRE O QUE SE ENTENDE POR AUTORES E


ESTUDOS CLÁSSICOS
- Calvino afirma que os clássicos podem ser entendidos de diversas formas, mas
que não necessariamente nos ensina algo novo;
- Para Calvino, não há diferença entre ler ou reler um livro clássico pois este
exercem uma influência particular sobre nós, mimetizando-se como
inconsciente coletivo ou individual (1981:10);
- “Um clássico é um livro que nunca terminou de dizer aquilo que tinha para
dizer”;
- Calvino fala sobre a perpetuação do clássico através dos tempos; (ao ler a
Odisseia, lemos a história de Ulisses ao mesmo tempo que é possível pensar
em como a trajetória do herói se estende na literatura até os dias de hoje)
- “personagens continuaram a reencarnar-se até os nossos dias”
- “Os clássicos são livros que, quanto mais pensamos conhecer por ouvir dizer,
quando são lidos de fato mais se revelam novos, inesperados, inéditos”
- O clássico estabelece uma relação pessoal com quem o lê; Calvino diz que os
clássicos devem ser lidos por amor, jamais por dever ou por respeito;
EXCETO NA ESCOLA, ELE NÃO É NEGACIONISTA;
- “Chama-se de clássico um livro que se configura como equivalente do
universo, à semelhança dos antigos talismãs”;
- Ao mesmo tempo que um clássico pode ser de total identificação, ele deve
mover, ainda que em sentido contrário, algum tipo de entendimento e ação do
próprio leitor;
- “Para poder ler os clássicos, temos de definir “de onde”eles estão sendo lidos,
caso contrário tanto o livro quanto o leitor se perdem numa nuvem atemporal”
- Calvino afirma que ler os clássicos parece estar em contradição com o nosso
tempo de vida e que, portanto, denominar-se-á clássico aquele livro que for
capaz de deixar “de lado” os barulhos da vida cotidiana ao mesmo tempo que
ele mesmo persiste como atual;
- “Os clássicos servem para entender quem somos e aonde chegamos”;
- Borges irá dizer que um clássico torna-se clássico a depender do que decidem
as gerações de homens modernos anônimos - “Qualquer livro que uma nação
ou largo grupo de pessoas ao largo tempo tenham decido ler como se em suas
páginas tudo fosse fatal e profundo”
- Borges afirma que obras clássicas não necessariamente serão para sempre,
uma vez que que os meios que a precedem mudam constantemente;
- Para Borges “clássico não é um livro que possui esses ou aqueles méritos; é
um livro que as gerações de homens, movidas por diversas razões, leem com
fervor e misteriosa lealdade.”

2. ORALIDADE E ESCRITA NA POESIA ÉPICA GREGA E LATINA


- Peter Jones na Introdução à Ilíada menciona um “kit do poeta” que serve para
que ele construa as cenas da forma que melhor seja possível durante o recitar
do poema;
- Peter Jones fala sobre repetição em Homero - uma vez que os poetas orais não
contavam com o apoio do texto escrito para recitar seus versos, precisavam de
uma certa estrutura;
- Essa estrutura é conhecida como composição anular, ou seja, dentro de
uma cena é possível criar anéis: “repetições de palavras ou ideias que
levem o poeta de volta ao lugar em que começou”, desta forma sendo
possível inverter a ordem das ações de uma cena ao recitar o poema
sem perder seu valor em conteúdo.
- O fato de a poesia homérica ser oral nos mostra que ela era uma poesia
tradicional e feita por poetas profissionais;
- Knox em sua Introdução à Odisséia diz que a língua de Homero é uma língua
que ninguém nunca falou, por ser artificial e poética. Diz que o poeta faz um
“mix”de diferentes dialetos e estágios de desenvolvimento do idioma. No
entanto, isso não impede que seus poemas sejam populares entre todas as
pessoas devido a sua qualidade literária.
- Knox diz ainda que a “língua de Homero” é sua criação de verso épico, ou
seja, o hexâmetro, que, apesar de ser repetido ao longo de todo o poema,
jamais torna-o monótono pois há variedade interna no verso; (creio que esse
trecho dialogue com o acima citado, a variação interna do verso X a repetição
de palavras e a possibilidade de alternância entre ações na cena dão vivacidade
ao poema, seja ele escrito ou recitado)
- Knox fala sobre a escrita em termos materiais (pág 8 e 9), sobre as traduções
de Homero para o latim e sobre o uso do papiro e do pergaminho (aventando a
possibilidade de que cada canto tenha sido, na verdade, um rolo de
pergaminho - teoria refutada pelo fato de que cada canto é muito bem
estruturado em si mesmo para que a divisão seja apenas um “acaso”)
- Defende que Homero compôs seus poemas com o auxílio da escrita;
- Fala sobre a questão da oralidade X escrita dos poemas, chamando a
atenção para o fato de que em nenhum dos dois poemas os personagens
sabem escrever (salvo por aquela cena do recado que alguém leva pro
outro reino pra ser morto - Belerofonte leva para o rei da Lícia);
- Fala sobre diversos teóricos e estudiosos de Homero, contrapondo
opiniões - o poema pode ter sido composto através da escrita ou da
oralidade; entretanto, isso não modifica as características orais do
poema supracitadas;

3. ARISTÓTELES SOBRE HOMERO


- Aristóteles vai dizer que toda a produção poética é produção mimética e que
esta pode variar em três aspectos: meio, objeto e forma;
- A diferença segundo o meio:
todas as poesias efetuam mimese por meio do ritmo, da linguagem e da
melodia; podem ser usadas separadamente ou em
conjunto/combinatória;
- A diferença segundo o objeto:
mimese de personagens em ação; personagens podem ser de elevada
ou baixa índole, ou seja, melhores que nós, semelhantes a nós ou
piores que nós;
- A diferença segundo modo:
aqui Aristóteles trata da forma de enunciação, ou seja: “tornando-se
outro, como faz Homero, ou permanecendo em si mesmo sem se
transformar em personagens, ou pela via do conjunto das personagens
que atuam e agem mimetizando”; (aqui, Aristóteles está fazendo a
distinção entre os gêneros épico, lírico e dramático)
- Aristóteles afirma que a épica deve girar em torno de uma ação una, ou seja,
narrar um fato com começo, meio e fim, ainda que não se fale sobre o
acontecimento inteiro;
- Diz que Homero é divino ao selecionar uma parte da guerra de Tróia para
contar, já que se a contasse inteira, não seria possível condensá-la (ou se a
condensasse perderia em conteúdo); Portanto afirma que sua escolha de narrar
um trecho com começo, meio e fim é muito acertada;
- Epopéia como narrativa; a importância da métrica heróica (hexâmetro);
- Afirma que Homero é um poeta que “faz o que deve ser feito” ao introduzir as
personagens sem se colocar na história;
- Impossível verossímil; é preciso que o poeta dissimule o absurdo para dar
fruição ao texto;

4. A ORATÓRIA NA ÉPICA (DISCURSOS DO HERÓI E


ASSEMBLÉIAS)
- Peter Jones argumenta que Homero não nos diz como interpretar as cenas em
sua narração, apenas nos mostra os acontecimentos (ainda que ele mesmo
defina qual cena e sobre qual ângulo a mostrará, ele deixa que os personagens
falem por si)
- focalização - o poeta nos deixa “entrever” seus pensamentos e
julgamentos através das ações e falas que escolhe para os personagens,
dentro de determinada ótica;
- Na épica, as falas carregam o peso psicológico do poema;
- Jones vai dizer que Homero muitas vezes estende as falas nos momentos
críticos para revelar sua importância (ex.: Nestor fala por 148 para convencer
Pátroclo a voltar a combater);
- Homero não narra como os personagens se sentem, mas nos deixa saber
através do outro, ou seja, nos “mostra” como reagem uns aos outros e assim
sabemos se sentem medo, espanto ou alívio, por exemplo.
- “Homero se coloca em segundo plano e deixa os personagens agirem e
falarem por si”
- Jones afirma que Homero tem “total controle” de sua objetividade poética, ou
seja, apesar de “deixar” que os personagens falem por si, ainda é ele quem
escolhe o que irão dizer; ainda sim não direciona interpretações.
- Mais importante do que a quantidade de falas de um personagem é o peso de
suas falas, ou seja, o conteúdo (ex.: Andrômaca [mulher de Heitor] tem quatro
falas na Odisseia, todas importantíssimas);

5. HOMERO COMO ENCICLOPÉDIA


- Havelock defende que a épica de Homero é, antes de tudo, didática; acredita
que a narrativa está subordinada às questões educacionais;
- Defende (com base nos escritos de Hesíodo), que na poesia homérica o mundo
dos deuses espelha o mundo dos homens;
- ethea: costumes familiares, escondidos, pessoais; nomoi: costumes sociais,
abrange um campo de visão mais vasto; ambos os vocábulos aparecem em
Hesíodo; público X privado;
- Havelock propõe que olhemos para o poema como uma “compilação de
conhecimentos herdados”;
- “Adotaremos categoricamente a hipótese de que a própria narrativa
está destinada a ser uma espécie de utensílio, usado como uma espécie
de valise literária, que deve conter uma coleção variada de costumes,
convenções, prescrições e procedimentos.”;
- Afirma aqui, como exemplo, que o conflito entre Aquiles e
Agamêmnon não teria se dado não fossem os costumes, ou seja,
as leis dos homens de que, uma vez repartidos os espólios da
guerra, não se deveria desfazê-lo;
- Outro exemplo é quando Aquiles fala sobre o cetro como
símbolo de autoridade - em sua fala há uma digressão para
como e de que é feito um cetro;
- Mais um exemplo é quando Nestor afirma que não é porque
Aquiles é um semi-deus que “pode mais” que Agamêmnon,
uma vez que a este quem concedeu o poder foi Zeus, ou seja,
não se questiona um rei e sua autoridade deve ser mantida
porque essa é a vontade de Zeus; organização divina;
- O exemplo da súplica de Tétis a Zeus para que interceda por
Aquiles é a forma como ela age tal qual uma suplicante,
segundo Havelock: “Seu comportamento e o de Zeus
constituem um paradigma perfeito de como um solicitante
apresenta seu pedido em público e como o príncipe o recebe.”
- Havelock destaca que não há nenhum julgamento moral das ações, apenas a
descrição destas de acordo com ethea e nomoi; volta a defender o caráter
pedagógico dos escritos de Homero;
- Defende ainda que o mundo divino é que rege o mundo humano, de forma que
ainda que os homens decidam algo entre si, caso isso “viole” uma lei ou
vontade ou desígnio ou até mesmo capricho divino, a decisão dos homens de
nada valerá;
- Afirma que, ainda que Homero faça um registro indireto dos costumes/leis,
este registro está presente. (ex.: cena em que Crises chega ao acampamento
dos Aqueus para reaver sua filha Criseida pág 90 texto Havelock)
- “Dessa maneira, o poema é composto de modo que as situações específicas
necessárias a uma história sejam reunidas de acordo com os padrões de
comportamento típicos.”(pág 95)
- Fala ainda sobre o ethos para cada um dos sexos dentro do convívio familiar
(que na Ilíada aparece mais no mundo dos deuses);

6. ODISSÉIA COMO POEMA DE NÓSTOS


- SEGUNDO MATHEUS: “O nóstos é o retorno em si. Existiram outras
obras que contavam o retorno de outros heróis, logo, outras obras que
dividiam com a Odisseia esse tema (portanto, "nóstos" não é algo exclusivo
de Ulisses... suas provações é que são particularidades do nóstos desse
herói).
Infelizmente, poucas daquelas obras sobraram, mas só dando um exemplo: a
tragédia "Agamêmnon", de Sófocles, é ela também uma obra sobre o nóstos
do herói-título (conta sua chegada em casa e, depois, sua morte).
Provavelmente cada obra perdida também contava as dificuldades
enfrentadas no nóstos em questão.”

7. RELAÇÕES DE AMIZADE E HOSPITALIDADE NA POESIA ÉPICA


- As relações de amizade e hospitalidade permeiam tanto a Ilíada quanto a
Odisseia. Em diversas passagens isso fica claro, como quando Glauco e
Diomedes deixam de se enfrentar por reconhecerem em sua linhagem uma
relação de amizade (Ilíada) ou como quando Éolo, deus dos ventos, dá a
Ulisses todos os ventos presos num baú exceto aquele que o levaria
diretamente para Ítaca (Odisseia);
- Knox afirma que as aventuras de Ulisses conectam-se por um tema comum: a
hospitalidade; “a relação entre o anfitrião e o convidado, em especial a
obrigação moral de receber bem e proteger o forasteiro, obrigação imposta à
humanidade civilizada por Zeus, do qual muitos atributos é xeinios,
“hospitaleiro.”
- A boa hospitalidade é um código de conduta para os fiéis de Zeus,
tanto que Polifemo justifica suas ações dizendo “não dar a mínima para
Zeus”;
- Um dos componentes principais da hospitalidade é o presente quando o
hóspede vai embora; deve ser um bom presente e caso não agrade, o hóspede
pode pedir outra coisa - isso é considerado boa educação;
- Na Odisseia, Ulisses conta com a hospitalidade de muitos anfitriões que
tornam sua viagem possível (feácios, Éolo, Circe); ao mesmo tempo, encontra
“infiéis”, ou seja, locais em que o código de Zeus não significa nada e eles
agem de forma rude.
- Outra regra do código é respeitar sempre a vontade de partir do hóspede (o que
faz Menelau com Telêmaco, em oposição à Calipso);
- Já as relações de amizade são mais claras na Ilíada, na qual Aquiles só volta a
combater para vingar a morte de Pátroclo matando Heitor e Glauco e
Diomedes desistem de combater entre si; apesar disso, ainda é possível ver a
hospitalidade e suas regras quando Aquiles recebe Príamo e este lhe suplica
que lhe devolva o corpo do filho Heitor;

8. RELAÇÕES ENTRE HOMENS E DEUSES - OS DOIS MUNDOS:


HUMANO E DIVINO
- Peter Jones em sua Introdução à Ilíada afirma que Homero deu aos deuses
uma face individual e humana, “informando-nos acerca de seu nascimento,
suas relações familiares, seu caráter e suas atividades do dia a dia.”
- Afirma ainda que sua humanidade se evidencia quando eles brigam ou
trabalham ou banqueteiam após um longo dia de trabalho; seu trabalho,
segundo Jones, é justamente o de gerenciar a vida humana, decidindo a favor
ou contra dos mortais em situações específicas;
- “Em Homero, os deuses têm seus favoritos e interagem regularmente com os
humanos na Ilíada, em geral sem recorrer à disfarces”
- Jones ressalta que, apesar dos deuses terem seus favoritos e estarem
relativamente próximos aos mortais (tanto em sua descrição quanto em termos
físicos), eles ainda são seres superiores que jamais aceitam que um humano
questione ou ameace sua superioridade.
- Diz que são “seres extremistas. Amam ou odeiam, ajudam ou prejudicam,
aproximam-se ou se distanciam.”
- Jones afirma que para Homero, o destino é apenas um recurso literário, ou
seja, a responsabilidade das ações dos homens hora é divina, ora é devida ao
“impulso humano” (uma das cenas que penso aqui é justamente a que ocorre
durante a Assembleia, no primeiro canto da Ilíada, quando Aquiles está pronto
para matar Agamemnon e Atena o aconselha a não fazê-lo, ainda que diga que
pode fazê-lo)
- Para Knox, em sua introdução à Odisseia, os deuses estão próximos dos
humanos, segundo ele “na afeição ou na raiva”, que isso gerava desde
aparições em pessoa (de deuses para homens) a intervenções divinas na vida
humana;
- Na Odisseia, Zeus fala que os homens estão sempre acusando os deuses de
seus sofrimentos, mas afirma que são os próprios homens que, por suas
escolhas, acabam sofrendo “mais do que deveriam”; ou seja, apesar de todo o
bedelho divino, há o livre arbítrio dos humanos;
- “Os deuses podem proteger um herói ou uma cidade, mas, se essa proteção
ameaça gerar uma ruptura entre os grandes poderes, um deles pode bater em
retirada. Ou eles podem negociar (...)” (Knox)
- Knox conclui que em ambos os épicos os deuses estão próximos aos humanos,
desfrutando seus prazeres no Olimpo e decidindo a vida dos mortais; apesar
disso, sempre que é colocado em risco o prestígio de um deus, os deuses
tendem a proteger os seus, pouco importando a vida dos mortais. (Knox dá
como exemplo os feácios); (para mim aqui está claro que Homero aproxima os
deuses dos mortais ao lhes conferir personalidades, favoritos, ao deixá-los
brigar por humanos e fazer picuinhas, agindo uns pelas costas dos outros, mas
ao mesmo tempo distancia-os quando nos mostra que os deuses não hesitam
quando o assunto é proteger o prestígio ou superioridade divinos, e que diante
destes, os mortais se tornam irrelevantes)
- O mundo dos deuses é como um espelhamento do mundo humano; Havelock
afirma que a conduta dos deuses os modos de agir tem um motivo, seja ele um
costume social ou uma ética individual, e nesse ponto é possível ver a
aproximação entre os dois mundos; (ainda que seja meramente literária)

9. CARACTERIZAÇÃO DOS HERÓIS NOS TRÊS POEMAS


- Aquiles
- Na Ilíada, Aquiles é protagonista. Frederico Lourenço afirma que,
embora Aquiles seja o “herói bélico por excelência” (ou seja, Aquiles é
aquele que combate, sua definição é ser herói, alcançar a glória em
combate e morrer - nada mais é esperado e nem mesmo profetizado
para ele), por mais de 80% do poema não o vemos pegar em armas;
- Sua história na Ilíada é que, sendo o melhor dos Aqueus, é desonrado
quando Agamêmnon lhe toma Briseida, se enfurece, sai da guerra, fica
profundamente triste diante do desrespeito, a ponto de ir pedir à mãe
(deusa Tétis) que interceda por ele diante de Zeus; passa todo o poema
distante da guerra, voltando somente para vingar a morte de seu amado
amigo Pátroclo e matar Heitor.
- Esse distanciamento, segundo Lourenço, é intencional, pois
Homero quer dar o máximo de destaque possível para o
momento em que Aquiles volta a combater;
- Durante o primeiro canto, Aquiles tem uma postura justa (não quer que
seja desfeita a partilha dos prêmios) e debochada, pois acredita que
Agamêmnon o está desonrando;
- Para Lourenço, a tragédia de Aquiles é estar em descompasso com o
mundo que o cerca: ele e a mãe tem projetos diferentes para sua vida;
enquanto Aquiles quer morrer na batalha para alcançar a glória eterna,
sua mãe deseja que ele viva uma vida longa e sem prestígio, apenas
para que ele não morra (apesar de ela saber que isso não vai
acontecer);
- Quando Aquiles deixa a batalha, muitos tentam convencê-lo a voltar
(inclusive Ulisses), porém, tão desonrado que está, ele se recusa, pois
deixou de acreditar na própria guerra, no heroísmo e na glória; (pág
80) (inclusive, ele não volta para a guerra por glória, mas sim para
vingar Pátroclo - vingança essa que ainda sim não traz paz a seu
espírito)
- Lourenço conclui que “às vezes parece que morrer, na Ilíada, é muito
mais importante que viver”;
- Todo esse discurso muda completamente quando vemos Aquiles na
Odisseia, já morto, sendo visitado por Ulisses no Hades; aqui, Aquiles
diz que preferiria ser escravo do homem mais pobre a ser rei no reino
dos mortos.
- Ulisses
- Ulisses é caracterizado pela palavra polítropo, ou seja, aquele de
várias faces. Para Knox, a mentira é como se fosse sua segunda
natureza.
- Ulisses de mil ardis, como é comumente referido, é aquele que usa de
seus atributos para que sua viagem seja possível. Knox afirma que na
Odisseia, Ulisses deixa de ser um dos milhares de combatentes (Ilíada)
para se tornar o protagonista de sua própria história;
- Knox afirma que Ulisses só é um exímio enganador porque possui o
talento de ser um orador persuasivo;
- FUN FACT: Na Ilíada, quando Ulisses tenta convencer Aquiles
a voltar para o combate, Aquiles responde dizendo: “Como os
portões do Hades me é odioso aquele homem/que esconde uma
coisa na mente, mas diz outra”. Na Odisseia, enquanto Ulisses
conta mentiras, ele repete o que Aquiles lhe disse a seu público:
“pois é-me odioso como os portões do Hades aquele
homem/que cedendo à pobreza conta histórias inventadas”.
Knox afirma que ao mentir, Ulisses conta “mentiras
semelhantes a verdades”.
- Além disso, outra característica muito importante em Ulisses é sua
responsabilidade para com os companheiros. Claramente ele prefere
sair de uma situação de maneira ardilosa e inventiva, sempre que pode;
entretanto, “se necessário enfrentará perigos mortais sozinho e sem
medo”. Kno diz que Ulisses é um guerreiro fiel ao ideal marcial;
- Knox compara Aquiles e Ulisses e diz que ambos possuem “uma
sensibilidade espinhosa para o que considera falta de respeito da parte
dos outros”, o que fica claro quando Ulisses insiste em revelar sua
identidade a Polifemo.
- Ulisses também é teimoso - teima, insiste em seu objetivo, apesar de
todas as provações, de regressar à Ítaca;
- Eneias
- pius Aeneas, ou pio Eneias, é o herói da Eneida; seu epíteto vem de
pietas (piedade), que pouco tem a ver com a piedade que conhecemos
no mundo moderno; está mais relacionada a sua religiosidade e à sua
subserviência à vontade dos deuses;
- Eneias é uma espécie de herói sem presente. Seu passado é a guerra de
Tróia, seu futuro é fundar Roma, logo, tudo que ele faz no agora é um
elo entre passado e futuro - seu destino é um fardo que, por mais
pesado que seja, ele aceita, devido à sua pietá.
- Diferentemente de Aquiles e Odisseu, Eneias não aceita seu destino
feliz e contente. Quando tem que deixar Dido, por exemplo, ele o faz
por ser uma ordem divina, não porque o quer - muitas de suas acções,
embora condizentes com a vontade dos deuses, o deixam
profundamente triste e contrariado.
- Ainda sim, Eneias tem em si o ethos do guerreiro: quando a
tempestade de vento se abate sobre suas naus no Livro I, ele não quer
morrer, pois não há absolutamente nenhuma glória em morrer no mar;
- Oliva Neto afirma que a virtude de Eneias deve ser “uma fria e altiva
impersonalidade que faça dele não um homem, mas um instrumento
dos deuses.”

10.OS PROÊMIOS DOS TRÊS POEMAS


- Proêmio da Ilíada:
Canta, ó deusa, a cólera de Aquiles, o Pelida
(mortífera!, que tantas dores trouxe aos Aqueus
e tantas almas valentes de heróis lançou no Hades,
ficando seus corpos como presa para cães e aves
de rapina, enquanto se cumpria a vontade de Zeus),
desde o momento em que primeiro se desentenderam
o Atrida, soberano dos homens, e o divino Aquiles.
- Poder de síntese;
- O começo da obra se dá in media res, ou seja, a ação começa a ser
contada no meio da história, e não do início. Aristóteles diz que uma
boa narrativa deve conter começo, meio e fim; entretanto, isto não
significa que a história deva ser contada do começo, e sim que deve
haver começo, meio e fim do ponto específico do qual se fala;
Aristóteles elogia a escrita de Homero na Ilíada, dizendo que ele foi
divino ao escolher contar apenas sobre a cólera de Aquiles.
- Através da primeira estrofe é possível ver um “resumo” da história da
Ilíada; ora, se a Ilíada narra justamente da cólera de Aquiles, na
primeira estrofe temos já contado seu motivo - que também é o ponto
de partida da narrativa, ou seja, seu começo - (desde o momento em
que primeiro se desentenderam/o Atrida, soberano dos homens, e o
divino Aquiles), seus resultados (mortífera!, que tantas dores trouxe
aos Aqueus/e tantas almas de valentes heróis lançou no Hades), sua
justificativa (enquanto se cumpria a vontade de Zeus) e por fim, o
próprio tema (Canta, ó deusa, a cólera de Aquiles, o Pelida);

- Proêmio da Odisseia:
Fala-me, Musa, do homem astuto que tanto vagueou,
depois que de Troia destruiu a cidadela sagrada.
Muitos foram os povos cujas cidades observou,
cujos espíritos conheceu; e foram muitos no mar
os sofrimentos por que passou para salvar a vida,
para conseguir o retorno dos companheiros a suas casas.
Mas a eles, embora o quisesse, não logrou salvar.
Não, pereceram devido à sua loucura,
insensatos, que devoraram o gado sagrado de Hipérion,
o Sol - e assim lhes negou o deus o dia do retorno.
Destas coisas fala-nos agora, ó deusa, filha de Zeus.
- Poder de síntese; pode-se ver também nesta primeira estrofe, assim como na
Ilíada, uma “síntese” de toda a história da Odisseia. Homero caracteriza
Ulisses como polítropo (astuto, de várias faces) e responsável (para conseguir
o retorno dos companheiros a suas casas), característica digna de um líder do
homens na época; fala ainda de onde vem Ulisses, ou seja, do fim da guerra de
Troia, fala sobre seus perrengues no mar e diz que, embora tenha tentado, não
pode salvar os companheiros uma vez que eles desobedeceram a regra de não
comer o gado do Sol e portanto pereceram. Todos esses temas são detalhados
ao longo do poema, o que nos leva a concluir que novamente estamos diante
de uma estrofe que faz a síntese do poema;
- O começo também se dá in media res, entretanto, na Odisseia nota-se o fato de
que o poeta não pede à Musa que ela cante a partir de um ponto específico,
mas sim, que “destas coisas fala-nos agora”;
- Knox afirma que na tradição épica, o poeta sempre pede que a Musa cante a
partir de um ponto específico, como se dá na Ilíada; entretanto, afirma que na
Odisseia, Homero precisa renunciar a essa tradição e começar pelo vigésimo
ano de Ulisses longe de casa, quando Atena vai até Telêmaco para lhe insuflar
coragem; isso se dá porque, caso ele tivesse começado “do começo”, ou seja,
observando a ordem cronológica dos acontecimentos, “teria sido forçado a
interromper a sequência narrativa assim que seu herói houvesse voltado à
Ítaca, a fim de explicar a situação extremamente complicada com a qual ele
teria de lidar na própria casa.”

- Proêmio da Eneida:
As armas canto e o varão que, fugindo das plagas de Troia
por injunções do Destino, instalou-se na Itália primeiro
e de Lavínio nas praias. A impulso dos deuses por muito
tempo nos mares e em terras vagou sob as iras de Juno,
guerras sem fim sustentou para as bases lançar da cidade
e ao Lácio os deuses trazer - o começo da gente latina,
dos pais albanos primevos e os muros de Roma altanados.
Musa!, recorda-me as causas da guerra, a deidade agravada;
por qual ofensas a rainha dos deuses levou um guerreiro
tão religioso a enfrentar sem descanso esses duros trabalhos?
Cabe tão fero rancor no imo peito dos deuses eternos?
- in media res??
- é uma síntese do poema? parece que sim

11.MITO E HISTÓRIA NA ENEIDA


- Comparações entre a história contemporânea dos leitores de Virgílio com o
que está escrito e profetizado na Eneida
- A Eneida é escrita durante um período conhecido como Pax Augusta, posterior
à morte de Júlio César, o Triunvirato e a coroação de Otávio como imperador;
apesar disso, a história da Eneida se passa num período muito anterior e fala
sobre quando Eneias, filho de Anquiles (que é amado por Zeus) e Vênus,
escapa de Tróia com vida e embarca numa viagem para fundar uma cidade -
cidade essa que será a futura Roma;
- Virgílio escreveu 12 livros (metade do que Homero escreveu na Ilíada e na
Odisseia) - estética alexandrina: tudo que é breve é mais belo;
- Virgílio se inspira abertamente na Odisseia e na Ilíada para compor a Eneida,
sendo os primeiros seis livros sua “Odisseia” e os últimos seis sua “Ilíada”;
- No primeiro livro da Eneida, Júpiter revela para Vênus tudo que está previsto
na vida de Eneias, relacionando sua linhagem com a linhagem de Júlio César,
e consequentemente com a de Otávio, seu sobrinho; através disso, Virgílio
quer nos dizer que Otávio tem parentesco com os deuses e portanto seu
império é nada menos do que justo;
- Eneias é pai de Ascânio, cujo outro nome é Iulo (Iulo → Júlio);
- De onde vem Rômulo e Remo????

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