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A dimensão discursiva da linguagem e a constru- d) das sequências narrativas como recurso de progressão textual.
ção de sentido e) do processo de contraposição argumentativa para conseguir a adesão do
leitor.

3. O complexo de falar difícil


1. Mandioca, macaxeira, aipim e castelinha são nomes diferentes da mesma O que importa realmente é que o(a) detentor(a) do notável saber jurídico
planta. Semáforo, sinaleiro e farol também significam a mesma coisa. O que saiba quando e como deve fazer uso desse português versão 2.0, até porque
muda é só o hábito cultural de cada região. A mesma coisa acontece com a não tem necessidade de alguém entrar numa padaria de manhã com aquela
Língua Brasileira de Sinais (Libras). Embora ela seja a comunicação oficial da cara de sono falando o seguinte: “Por obséquio, Vossa Senhoria teria a hipo-
comunidade surda no Brasil, existem sinais que variam em relação à região, à tética possibilidade de estabelecer com minha pessoa uma relação de compra
idade e até ao gênero de quem se comunica. A cor verde, por exemplo, possui e venda, mediante as imposições dos códigos Civil e do Consumidor, para que
sinais diferentes no Rio de Janeiro, Paraná e São Paulo. São os regionalismos seja possível a obtenção de 10 pãezinhos em temperatura estável para que a
na língua de sinais. relação pecuniária no valor de R$ 5,00 seja plenamente legítima e capaz de
Essas variações são um dos temas da disciplina Linguística na língua de saciar minha fome matinal?”.
sinais, oferecida pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) ao longo do se- O problema é que temos uma cultura de valorizar
gundo semestre. “Muitas pessoas pensam que a língua de sinais é universal, o quem demonstra ser inteligente ao invés de valorizar quem é. Pela nossa
que não é verdade”, explica a professora e chefe do Departamento de Linguís- lógica, todo mundo que fala difícil tende a ser mais inteligente do que quem
tica, Literatura e Letras Clássicas da Unesp. “Mesmo dentro de um mesmo valoriza o simples, e 99,9% das pessoas que estivessem na padaria iriam ficar
país, ela sofre variação em relação à localização geográfica, à faixa etária e boquiabertas se alguém fizesse uso das palavras que eu disse acima em ple-
até ao gênero dos usuários”, completa a especialista. nas 7 da manhã em vez de dizer: “Bom dia! O senhor poderia me vender cinco
Os surdos podem criar sinais diferentes para identificar lugares, objetos e reais de pão francês?”
conceitos. Em São Paulo, o sinal de “cerveja” é feito com um giro do punho Agora entramos na parte interessante: o que realmente é falar dificil? Sim-
como uma meia-volta. Em Minas, a bebida é citada quando os dedos indicador plesmente fazer uso de palavras que a maioria não faz ideia do que seja é um
e médio batem no lado do rosto. Também ocorrem mudanças históricas. Um ato de falar difícil? Eu penso que não, mas é assim que muita gente age. Falar
sinal pode sofrer alterações decorrentes dos costumes da geração que o uti- dificil é fazer uso do simples, mas com coerência e coesão, deixar tudo amar-
liza. radinho gramaticalmente falando. Falar difícil pode fazer alguém parecer in-
Disponível em: www.educacao.sp.gov.br. Acesso em: 1 nov. 2021 (adaptado). teligente, mas não por muito tempo. É claro que em alguns momentos não te-
Nesse texto, a Língua Brasileira de Sinais (Libras) passa por fenômenos de mos como fugir do português rebuscado, do juridiquês propriamente dito,
variação linguística como qualquer outra língua. como no caso de documentos jurídicos, entre outros.

a) apresenta variações regionais, assumindo novo sentido para algumas pa- ARAVJSO, H. Oisponvel em. wwny disriojurista.com Acesso em. 20 nov 2021
lavras. (adaptado).
b) sofre mudança estrutural motivada pelo uso de sinais diferentes para al- Nesse artigo de opinião, ao fazer uso de uma fala rebuscada no exemplo da
gumas palavras. compra do pão, o autor evidencia a importância de(a)
c) diferencia-se em todo o Brasil, desenvolvendo cada região a sua própria
língua de sinais. a) se ter um notável saber jurídico.
d) é ininteligível para parte dos usuários em razão das mudanças de sinais b) valorização da inteligência do falante.
motivadas geograficamente. c) falar difícil para demonstrar inteligência.
d) coesão e da coerência em documentos jurídicos.
2. Preconceito: do latim prae, antes, e conceptus, conceito, esse termo pode e) adequação da linguagem à situação de comunicação.
ser definido como o conjunto de crenças e valores aprendidos, que levam um
indivíduo ou um grupo a nutrir opiniões a favor ou contra os membros de de- 4. Papos
terminados grupos, antes de uma efetiva experiência com eles. Tecnicamente, — Me disseram...
portanto, existe um preconceito positivo e um negativo, embora, nas relações — Disseram-me.
raciais e étnicas, o termo costume se referir ao aspecto negativo de um grupo — Hein?
herdar ou gerar visões hostis a respeito de um outro, distinguível com base — O correto é “disseram-me”. Não “me disseram”.
em generalizações. Essas generalizações derivam invariavelmente da infor- -- Eu falo como quero. E te digo mais... Ou é “digo-te”?
mação incorreta ou incompleta a respeito do outro grupo. — O quê?
— Digo-te que você...
CASHMORE, E. Dicionário de relações étnicas e raciais. São Paulo: Selo Negro, — O “te” e o “você” não combinam.
2000 (adaptado). — Lhe digo?
Nesse verbete de dicionário, a apropriação adequada do uso padrão da língua — Também não. O que você ia me dizer?
auxilia no estabelecimento — Que você está sendo grosseiro, pedante e
chato. [...]
a) da precisão das informações veiculadas. — Dispenso as suas correções. VÊ se esquece-me.
b) da linguagem conotativa característica desse gênero. Falo como bem entender. Mais uma correção e eu...
c) das marcas do interlocutor como uma exigência para a validade das ideias. — O quê?

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— Q mato. 6. Falso moralista


— Que mato? Você condena o que a moçada anda fazendo
— Mato-o. Mato-lhe. Mato você. Matar-lhe-ei-te. e não aceita o teatro de revista
Ouviu bem? Pois esqueça-o e para-te. Pronome arte moderna pra você não vale nada
no lugar certo é elitismo! e até vedete você diz não ser artista
— Se você prefere falar errado...
— Falo como todo mundo fala. O importante é me entenderem, Ou entende- Você se julga um tanto bom e até perfeito
rem-me? Por qualquer coisa deita logo falação
Mas eu conheço bem o seu defeito
VERISSIMO, L. F. Comédias para se ler na escola. Rio de Janeiro: Objetiva, e não vou fazer segredo não
2001 (adaptado)
Nesse texto, o uso da norma-padrão defendido por um dos personagens torna- Você é visto toda sexta no Joá
se inadequado em razão do(a) e não é só no Carnaval que vai pros bailes se acabar
Fim de semana você deixa a companheira
a) falta de compreensão causada pelo choque entre gerações. e no bar com os amigos bebe bem a noite inteira
b) contexto de comunicação em que a conversa se dá.
c) grau de polidez distinto entre os interlocutores. Segunda-feira chega na repartição
d) diferença de escolaridade entre os falantes. pede dispensa para ir ao oculista
e) nível social dos participantes da situação. e vai curar sua ressaca simplesmente
Você não passa de um falso moralista
5. Cuidadora humilhada por erros de português ao enviar currículo para asilo
recebe ofertas de emprego NELSON SARGENTO Sonho de um sambista São Paulo Etriorado, 1979
As letras de samba normalmente se caracterizam por apresentarem marcas
informais do uso da língua.
Nessa letra de Nelson Sargento, são exemplos dessas marcas

a) “falação” e “pros bailes”.


b) “você” e “teatro de revista”.
c) “perfeito” e “Carnaval”.
d) “bebe bem” e “oculista”.
e) “curar e "falso moralista”.

7. As ruas de calçamento irregular feito com pedras pé de moleque e o casa-


rio colonial do centro histórico de Paraty, município ao sul do estado do Rio
de Janeiro, foram palco de uma polêmica encerrada há pouco mais de dez
anos: o nome da cidade deveria ser escrito com “y” ou com “i"?
Tudo começou após mudanças nas regras ortográficas da língua portu-
guesa no Brasil terem determinado a substituição do “y” por “i” em palavras
como “Paraty”, que então passou a figurar nos mapas como “Parati”. Revol-
tados com a alteração, os paratienses se mobilizaram para que o “y” retor-
nasse ao seu devido lugar na grafia do nome da cidade, o que só ocorreu de-
pois da aprovação de uma lei pela Câmara de Vereadores, em 2007.
No caso de “Paraty”, uma das argumentações em favor do uso do “y” teve
por base a origem indígena da palavra. “Foi percebido que existem várias to-
nalidades para a pronúncia do '' para os indígenas. E cada uma delas tem um
significado diferente. O 'y' é mais próximo à pronúncia que eles usavam para
significar algo no território. É como se fosse 'Paratii', que significa água que
Nessa conversa por aplicativo, em que se evidencia uma forma de preconceito, corre. Ai o linguista achou por bem utilizar o 'y' para representar essa pro-
a atendente avaliou a candidata a uma vaga de emprego pelo(a) núncia, o 'í longo, o '' dobrado”, esclarece uma técnica da coordenação de
cartografia do IBGE.
a) ausência de autocorreção durante um diálogo.
b) desleixo com a pontuação adequada durante um bate-papo. BENEDICTO, M.; LOSCHI, M. Nomes geográficos. Retratos: a revista do IBGE,
c) desprezo pela linguagem utilizada em entrevistas de emprego. fev. 2019.
d) descuido com os padrões linguísticos no contexto de busca por emprego. A resolução da polêmica, com a permanência da grafia da palavra “Paraty”,
e) negligência com a correção automática de palavras pelo corretor de textos revela que a normatização da língua portuguesa foi desconsiderada por
do celular.
a) conveniência político-partidária.
b) motivação de natureza estética e lúdica.
c) força da tradição e do sentimento de pertença.

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d) convenção ortográfica de alcance geral distintos como o de Adoniran Barbosa, que eternizou em suas composições o
e) necessidade de sistematização dos usos da língua. sotaque típico de um filho de imigrantes italianos, ou o chamado erre retro-
flexo, aquele erre dobrado que, junto com a letra i, resulta naquele jeito de
8. falar “cairne” e “poirta” característico do interior de São Paulo.

MARIUZZO, P. Disponível em: www.labjor.unicamp.br. Acesso em: 30 jul. 2012


(adaptado).
A partir desse breve histórico da língua portuguesa no Brasil, um dos elemen-
tos de identidade nacional, entende-se que a diversidade linguística é resul-
tado da

a) imposição da língua do colonizador sobre as línguas indígenas.


b) interação entre os falantes de línguas e culturas diferentes.
Considerando-se os contextos de uso de “Todas chora”, essa expressão é um
c) sobreposição das línguas europeias sobre as africanas e indígenas.
exemplo de variante linguística
d) heterogeneidade da língua trazida pelo colonizador.
e) preservação dos sotaques característicos dos imigrantes.
a) típica de pessoas despreocupadas em seguir as regras de escrita.
b) usada como recurso para atrair a atenção de interlocutores e consumido-
11. Entrei numa lida muito dificultosa. Martírio sem fim o de não entender na-
res.
dinha do que vinha nos livros e do que o mestre Frederico falava. Estranheza
c) transposta de situações de interação típicas de ambientes rurais do inte-
colosso me cegava e me punha tonto. Acho bem que foi desse tempo o mal que
rior do Brasil.
me acompanha até hoje de ser recanteado e meio mocorongo. Com os meus,
d) incompatível com ambientes frequentados por usuários da norma-padrão
em casa, conversava por trinta, tinha ladineza e entendimento. Na rua e na
da língua.
escola — nada; era completamente afrásico. As pessoas eram bichos do ou-
e) condenável em produtos voltados para uma clientela exigente e interes-
tromundo que temperavam um palavreado grego de tudo.
sada em novidades.
Já sabia ajuntar as sílabas e ler por cima toda coisa, mas descrencei e perdi
a influência de ir à escola, porque diante dos escritos que o mestre me pas-
9.
sava e das lições marcadas nos livros, fiquei sendo um quarta-feira de marca
– Famigerado? [ ... ]
maior. Alívio bom era quando chegava em casa.
– Famigerado é “inóxio”, é “célebre”, “notório”, “notável” ...
– Vosmecê mal não veja em minha grossaria no não entender. Mais me diga:
BERNARDES, C. Rememórias dois. Goiânia: Leal, 1969.
é desaforado? É caçoável? É de arrenegar? Farsância? Nome de ofensa?
O narrador relata suas experiências na primeira escola que frequentou e uti-
– Vilta nenhuma, nenhum doesto. São expressões neutras, de outros usos ...
liza construções linguísticas próprias de determinada região, constatadas
– Pois ... e o que é que é, em fala de pobre, linguagem de em dia de semana?
pelo
– Famigerado? Bem. É: “importante”, que merece louvor, respeito ...
a) registro de palavras como “estranheza” e “cegava”.
ROSA, G. Famigerado. In: Primeiras estórias. Rio de Janeiro: Nova Fronteira,
b) emprego de regência não padrão em “chegar em casa”.
2001.
c) uso de dupla negação em “não entender nadinha”.
Nesse texto, a associação de vocábulos da língua portuguesa a determinados
d) emprego de palavras como “descrencei” e “ladineza”.
dias da semana remete ao
e) uso do substantivo “bichos” para retomar “pessoas”.
a) local de origem dos interlocutores.
12. Nuances
b) estado emocional dos interlocutores.
Euforia: alegria barulhenta. Felicidade: alegria silenciosa.
c) grau de coloquialidade da comunicação.
Gravar: quando o ator é de televisão. Filmar: quando ele quer deixar claro que
d) nível de intimidade entre os interlocutores.
não é de televisão.
e) conhecimento compartilhado na comunicação.
Grávida: em qualquer ocasião. G estante: em filas e assentos preferenciais.
Guardar: na gaveta. Salvar: no computador. Salvaguardar: no Exército.
10. Uma língua, múltiplos falares
Menta: no sorvete, na bala ou no xarope. Hortelã: na horta ou no suco de aba-
caxi.
Desde suas origens, o Brasil tem uma língua dividida em falares diversos.
Peça: quando você vai assistir. Espetáculo: quando você está em cartaz com
Mesmo antes da chegada dos portugueses, o território brasileiro já era mul-
ele.
tilíngue. Havia cerca de 1,2 mil línguas faladas pelos povos indígenas. O portu-
guês trazido pelo colonizador tampouco era uma língua homogênea, havia va-
DUVIVIER, G. Folha de S. Paulo, 24 mar. 2014 (adaptado).
riações dependendo da região de Portugal de onde ele vinha. Há de se consi-
O texto trata da diferença de sentido entre vocábulos muito próximos. Essa
derar também que a chegada de falantes de português acontece em diferentes
diferença é apresentada considerando-se a(s)
etapas, em momentos históricos específicos. Na cidade de São Paulo, por
exemplo, temos primeiramente o encontro linguístico de portugueses com ín-
a) alternâncias na sonoridade.
dios e, além dos negros da África, vieram italianos, japoneses, alemães, ára-
b) adequação as situações de uso
bes, todos com suas línguas. “Todo este processo vai produzindo diversidades
c) marcação flexional das palavras.
linguísticas que caracterizam falares diferentes”, afirma um linguista da Uni-
d) grafia na norma-padrão da língua.
camp. Daí que na mesma São Paulo pode-se encontrar modos de falar

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e) categorias gramaticais das pâlavras. c) “Essa certeza dava-lhe forças para protestar mais, para gritar até, se lhe
apetecesse.”
13. Naquela manhã de céu limpo e ar leve, devido à chuva torrencial da noite d) “Se calhar estava a falar de tratar da cabra: nunca esqueças de tratar da
anterior, saí a caminhar com o sol ainda escondido para tomar tenência dos cabra.”
primeiros movimentos da vida na roça. Num demorou nem um tiquinho e o e) “O Ilídio não gostava que a mãe o mandasse tratar da cabra.”
cheiro intenso do café passado por Dona Linda me invadiu as narinas e fez a
fome se acordar daquela rema letárgica derivada da longa noite de sono. Levei 15. PINHÃO sai ao mesmo tempo que BENONA entra.
as mãos até a água que corria pela bica feita de bambu e o contato gelado foi BENONA: Eurico, Eudoro Vicente está lá fora e quer
de arrepiar. Mas fui em frente e levei as mãos em concha até o rosto. Com o falar com você.
impacto, recuei e me faltou o fôlego por alguns instantes, mas o despertar foi EURICÃO: Benona, minha irmã, eu sei que ele está lá
imediato. Já aceso, entrei na cozinha na buscação de derrubar a fome e me fora, mas não quero falar com ele.
acercar do aconchego do calor do fogão à lenha. Foi quando dei reparo da BENONA: Mas Eurico, nós lhe devemos certas atenções.
figura esguia e discreta de uma senhora acompanhada de um garoto aparen- EURICÃO: Você, que foi a noiva dele. Eu, não !
tando uns cinco anos de idade já aboletada na ponta da mesa em proseio ín- BENONA: Isso são coisas passadas.
timo ,com a dona da casa. Depois de um vigoroso "Bom dia!", de um vaporoso EURICÃO: Passadas para você, mas o prejuízo foi
aperto de mãos nas apresentações de praxe, fiquei sabendo que Dona Flor de meu. Esperava que Eudoro, com todo aquele dinheiro,
Maio levava o filho Adão para tratamento das feridas que pipocavam por seu se tornasse meu cunhado. Era uma boca a menos e um
corpo, provocando pequenas pústulas de 'bordas avermelhadas. patrimônio a mais. E o peste me traiu. Agora, parece
que ouviu dizer que eu tenho um tesouro. E vem louco
GUIÃO, M. Disponível em: www.revistaecologico.com.br. Acesso em: 10 mar. atrás dele, sedento, atacado de verdadeira hidrofobia.
2014 (adaptado}. Vive farejando ouro, como um cachorro da molest’a,
A variedade linguística da narrativa é adequada à descrição dos fatos. Por como um urubu, atrás do sangue dos outros. Mas ele
isso, a escolha de determinadas palavras e expressões usadas no texto está está enganado. Santo Antônio há de proteger minha
a serviço da pobreza e minha devoção.

a) localização dos eventos de fala no tempo ficcional. SUASSUNA, A. O santo e a porca. Rio de Janeiro: José Olympio, 2013 (frag-
b) composição da verossimilhança do ambiente retratado. mento).
c) restrição do papel do narrador à observação das cenas relatadas. Nesse texto teatral, o emprego das expressões " o peste " e " cachorro da
d) construção mística das personagens femininas pelo autor do texto. molest\\'a " contribui para
e) caracterização das preferências linguísticas da personagem masculina.
a) marcar a classe social das personagens.
14. Pela primeira vez na vida teve pena de haver tantos assuntos no mundo que b) caracterizar usos linguísticos de uma região.
não compreendia e esmoreceu. Mas uma mosca fez um ângulo reto no ar, de- c) enfatizar a relação familiar entre as personagens.
pois outro, além disso, os seis anos são uma idade de muitas coisas pela pri- d) sinalizar a influência do gênero nas escolhas vocabulares.
meira vez, mais do que uma por dia e, por isso, logo depois, arribou. Os as- e) demonstrar o tom autoritário da fala de uma das personagens.
suntos que não compreendia eram uma espécie de tontura, mas o Ilídio era
forte.
Se calhar estava a falar de tratar da cabra: nunca esqueças de tratar da
cabra. O Ilídio não gostava que a mãe o mandasse tratar da cabra. Se estava
ocupado a contar uma história a um guarda-chuva, não queria ser interrom-
pido. Às vezes, a mãe escolhia os piores momentos para chamá-lo, ele podia
estar a contemplar um segredo, por isso, assustava-se e, depois, irritava-se.
Às vezes, fazia birras no meio da rua. A mãe envergonhava-se e, mais tarde,
em casa, dizia que as pessoas da vila nunca tinham visto um menino tão ve-
lhaco. O Ilídio ficava enxofrado, mas lembrava-se dos homens que lhe chama-
vam reguila, diziam ah, reguila de má raça. Com essa memória, recuperava o
orgulho. Era reguila, não era velhaco. Essa certeza dava-lhe forças para pro-
testar mais, para gritar até, se lhe apetecesse.

PEIXOTO, J. L. Livro. São Paulo: Cia. das Letras, 2012.


No texto, observa-se o uso característico do português de Portugal, marca-
damente diferente do uso do português de Portugal, marcadamente diferente
do uso do português do Brasil.
O trecho que confirma essa afirmação é:

a) “Pela primeira vez na vida teve pena de haver tantos assuntos no mundo
que não compreendia e esmoreceu.”
b) “Os assuntos que não compreendia eram uma espécie de tontura, mas o
Ilídio era forte.”

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