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PROFESSORA CAMILLA MENDES - MATERIAL COMPLEMENTAR 3

ENEM (2022) ENEM (2018)

“Acuenda o Pajubá”: conheça o “dialeto secreto”


Gírias das redes sociais caem na boca do
utilizado por gays e travestis
povo
Com origem no iorubá, linguagem foi adotada por
Nem adianta fazer a egípcia! Entendeu? Veja o travestis e ganhou a comunidade
glossário com as principais expressões da
internet “Nhaí, amapô! Não faça a loka e pague meu acué, deixe
de equê se não eu puxo teu picumã!” Entendeu as
Lacrou, biscoiteiro, crush. Quem nunca palavras dessa frase? Se sim, é porque você manja
se deparou com ao menos uma dessas palavras alguma coisa de pajubá, o “dialeto secreto” dos gays e
não passa muito tempo nas redes sociais. Do dia travestis. Adepto do uso das expressões, mesmo nos
para a noite, palavras e frases começaram a ambientes mais formais, um advogado afirma: “É claro
definir sentimentos e acontecimentos, e o que eu não vou falar durante uma audiência ou numa
sucesso desse tour foi parar no vocabulário de reunião, mas na firma, com meus colegas de trabalho, eu
muita gente. O dialeto já não se restringe só à falo de ‘acué’ o tempo inteiro”, brinca. “A gente tem que ter
web. O contato constante com palavras do cuidado de falar outras palavras porque hoje o pessoal já
ambiente on-line acaba rompendo a barreira entende, né? Tá na internet, tem até dicionário...”,
entre o mundo virtual e o mundo real. Quando comenta. O dicionário a que ele se refere é o Aurélia, a
menos se espera, começamos a repetir, em dicionária da língua afiada, lançado no ano de 2006 e
conversas do dia a dia, o que aprendemos na escrito pelo jornalista Angelo Vip e por Fred Libi. Na obra,
internet. A partir daí, juntamos palavras já há mais de 1 300 verbetes revelando o significado das
conhecidas do nosso idioma às novas palavras do pajubá. Não se sabe ao certo quando essa
expressões. linguagem surgiu, mas sabe-se que há claramente uma
relação entre o pajubá e a cultura africana, numa costura
Glossário de expressões iniciada ainda na época do Brasil colonial.

Disponível em: www.midiamax.com.br. Acesso em:


Biscoiteiro: alguém que faz de tudo para ter 4 abr. 2017 (adaptado).
atenção o tempo inteiro, para ter curtidas.
Chamar no probleminha: conversar no privado. Da perspectiva do usuário, o pajubá ganha status de
Crush: alguém que desperta interesse. dialeto, caracterizando-se como elemento de patrimônio
Divou: estar muito produzida, sair bem em uma linguístico, especialmente por
foto, assim como uma diva.
Fazer a egípcia: ignorar algo. a) ter mais de mil palavras conhecidas.
Lacrou/sambou: ganhar uma discussão com b) ter palavras diferentes de uma linguagem secreta.
bons argumentos a ponto de não haver c) ser consolidado por objetos formais de registro.
possibilidade de resposta. d) ser utilizado por advogados em situações formais.
Stalkear: investigar sobre a vida de alguém nas e) ser comum em conversas no ambiente de trabalho
redes sociais.
ENEM (2021)
Disponível em: https://odia.ig.com.br. Acesso em: 19 jun.
2019 (adaptado).

Embora migrando do ambiente on-line para o


vocabulário das pessoas fora da rede, essas
expressões não são consideradas como
característica do uso padrão da língua porque

a) definem sentimentos e acontecimentos


O Globo, 12 fev. 2012 (adaptado).
corriqueiros na web.
b) constituem marcas específicas de uma
determinada variedade. Considerando-se os contextos de uso de “Todas chora”,
c) passam a integrar a fala das pessoas em essa expressão é um exemplo de variante linguística
conversas cotidianas.
d) são empregadas por quem passa muito a) típica de pessoas despreocupadas em seguir as
tempo nas redes sociais. regras de escrita.
e) complementam palavras e expressões já b) usada como recurso para atrair a atenção de
conhecidas do português. interlocutores e consumidores.
c) transposta de situações de interação típicas de Essa estrutura caracteriza-se pelo(a)
ambientes rurais do interior do Brasil.
d) incompatível com ambientes frequentados por a) uso de uma marcação temporal.
usuários da norma-padrão da língua. b) imprecisão do referente de pessoa.
e) condenável em produtos voltados para uma clientela c) organização interrogativa da frase.
exigente e interessada em novidades. d) utilização de um verbo de ação.
e) apagamento de uma preposição.
(ENEM 2021)

Policarpo Quaresma, cidadão brasileiro, funcionário


público, certo de que a língua portuguesa é emprestada (ENEM 2011)
ao Brasil; certo também de que, por esse fato, o falar e o
escrever em geral, sobretudo no campo das letras, se Diz-se, em termos gerais, que é preciso "falar a
veem na humilhante contingência de sofrer mesma língua": o português, por exemplo, que é a
continuamente censuras ásperas dos proprietários da língua que utilizamos. Mas trata-se de uma língua
língua; sabendo, além, que, dentro do nosso pais, os portuguesa ou de várias línguas portuguesas? O
autores e os escritores, com especialidade os gramáticos, português da Bahia é o mesmo português do Rio
não se entendem no tocante à correção gramatical, Grande do Sul? Não está cada um deles sujeito a
vendo-se, diariamente, surgir azedas polêmicas entre os influências diferentes — linguísticas, climáticas,
mais profundos estudiosos do nosso idioma — usando do ambientais? O português do médico é igual ao do seu
direito que lhe confere a Constituição, vem pedir que o cliente? O ambiente social e o cultural não
Congresso Nacional decrete o tupi-guarani como língua determinam a língua? Estas questões levam à
oficial e nacional do povo brasileiro. BARRETO. L Triste constatação de que existem níveis de linguagem. O
fim de Policarpo Quaresma. vocabulário, a sintaxe e mesmo a pronúncia variam
segundo esses níveis.
Disponível em www.dominiopúblico.gov.br Acesso em
26 jun. 2012 VANOYE, F. Usos da linguagem. São Paulo:
Martins Fontes, 1981 (fragmento).
Nessa petição da pitoresca personagem do romance de
Lima Barreto, o uso da norma-padrão justifica-se pela Na fala e na escrita, são observadas variações de
uso, motivadas pela classe social do indivíduo, por
a) situação social de enunciação representada. sua região, por seu grau de escolaridade, pelo
b) divergência teórica entre gramáticos e gênero, pela intencionalidade do ato comunicativo,
literatos. ou seja, pelas situações linguísticas e sociais em que
c) pouca representatividade das línguas a linguagem é empregada. A variedade linguística
indígenas. adequada à situação específica de uso social está
d) atitude irônica diante da língua dos expressa
colonizadores.
e) tentativa de solicitação do documento
demandado. a) na fala de um professor ao iniciar a aula no
ensino superior: "Fala galerinha do mal! Hoje vamos
(ENEM 2020) estudar um negócio muito importante".
b) na leitura de um discurso de uma autoridade
pública na inauguração de um estabelecimento
educacional: “Senhores cidadões do Brasil, com
alegria, inauguramos mais uma escola para a melhor
educação de nosso país".
c) no memorando da diretora da escola ao
responsável por um aluno: "Responsável pelo aluno
Henrique, dê uma chegadinha na diretoria da escola
para saber o que o seu filhinho anda fazendo de
besteira”.
d) na fala de uma criança, na tentativa de
convencer a mãe a entregar-lhe a mesada: "Mãe,
assim não dá para ser feliz! Dá pra liberar minha
mesada? Prometo que só vou tirar notão nas
próximas provas".

e) na fala de uma mãe em resposta ao filho que


solicitou a mesada: "Caro descendente, por
obséquio, antecipe a prestação de suas contas, a fim
de fazer jus ao solicitado".
(ENEM 2011) No trecho, em que o narrador relembra um
episódio de sua infância, revela-se a
Foi sempre um gaúcho quebralhão, e despilchado possibilidade de a língua se realizar de
sempre, por ser muito de mãos abertas. Se numa mesa formas diferentes. Com base no texto, a
de primeira ganhava uma ponchada de balastracas, passagem em que se constata uma marca
reunia a gurizada da casa, fazia pi! pi! pi! como pra de variedade linguística pouco prestigiada é:
galinhas e semeava as moedas, rindo-se do formigueiro
que a miuçada formava, catando as pratas no terreiro. a) “O livro tinha numa página a figura de
Gostava de sentar um laçaço num cachorro, mas desses um bicho carcunda ao lado da qual, em
laçaços de apanhar da palheta à virilha, e puxado a valer, letras graúdas, destacava-se esta
tanto que o bicho que o tomava, de tanto sentir dor, e palavra: ESTÔMAGO”.
lombeando-se, depois de disparar um pouco é que b) “'Gilberto!’. Estremeci. 'Estomágo? Leia
gritava, num caim! caim! caim! de desespero. de novo, soletre’. Soletrei, repeti:
'Estomágo’”.
LOPES NETO, J. S. Contrabandista. In: SALES, H. c) “Eu havia pronunciado bem as duas
(org). Antologia de contos brasileiros. Rio de Janeiro: Ediouro,
2001 (adaptado). primeiras palavras que li, camelo e
dromedário”.
d) “Jamais tinha ouvido, ao que me
lembrasse então, a palavra estômago”.
A língua falada no Brasil apresenta vasta diversidade, que e) “A cozinheira, o estribeira, os criados,
se manifesta de acordo com o lugar, a faixa etária, a Bernarda, diziam 'estambo’”.
classe social, entre outros elementos. No fragmento do
texto literário, a variação linguística destaca-se
(ENEM 2014)

Só há uma saída para a escola se ela quiser ser


a) por inovar na organização das estruturas mais bem-sucedida: aceitar a mudança da língua
sintáticas. como um fato. Isso deve significar que a escola
b) pelo uso de vocabulário marcadamente deve aceitar qualquer forma da língua em suas
regionalista. atividades escritas? Não deve mais corrigir? Não!
c) por distinguir, no diálogo, a origem social dos Há outra dimensão a ser considerada: de fato, no
falantes. mundo real da escrita, não existe apenas um
d) por adotar uma grafia típica do padrão culto, português correto, que valeria para todas as
na escrita. ocasiões: o estilo dos contratos não é o mesmo
e) pelo entrelaçamento de falas de crianças e do dos manuais de instrução; o dos juízes do
adultos. Supremo não é o mesmo do dos cordelistas; o
dos editoriais dos jornais não é o mesmo do dos
(ENEM 2016) cadernos de cultura dos mesmos jornais. Ou do
de seus colunistas.
Um menino aprende a ler
POSSENTI, S. Gramática na cabeça. Língua Portuguesa,
ano 5, n. 67, maio 2011 (adaptado).
Minha mãe sentava-se a coser e retinha-me de livro
na mão, ao lado dela, ao pé da máquina de costura. O Sírio Possenti defende a tese de que não existe
livro tinha numa página a figura de um bicho carcunda um único “português correto”. Assim sendo, o
ao lado da qual, em letras graúdas, destacava-se esta domínio da língua portuguesa implica, entre
palavra: ESTÔMAGO. Depois de soletrar “es-to-ma-go”, outras coisas, saber
pronunciei “estomágo”. Eu havia pronunciado bem as
duas primeiras palavras que li, camelo e dromedário. a) Descartar as marcas de informalidade do
Mas estômago, pronunciei estomágo. Minha mãe, bonita texto.
como só pode ser mãe jovem para filho pequeno, o rosto
b) Reservar o emprego da norma padrão aos
alvíssimo, os cabelos enrolados no pescoço, parou a
textos de circulação ampla.
costura e me fitou de fazer medo: “Gilberto!”. Estremeci.
“Estomágo? Leia de novo, soletre”. Soletrei, repeti: c) Moldar a norma padrão do português pela
“Estomágo”. Foi o diabo. linguagem do discurso jornalístico.
Jamais tinha ouvido, ao que me lembrasse então, a
palavra estômago. A cozinheira, o estribeira, os criados, d) Adequar as formas da língua a diferentes
Bernarda, diziam “estambo”. “Estou com uma dor na tipos de texto e contexto.
boca do estambo...”, “Meu estambo está tinindo...”.
e) Desprezar as formas da língua previstas
Meus pais teriam pronunciado direito na minha
presença, mas eu não me lembrava. E criança, como o
povo, sempre que pode repele proparoxítono.
AMADO, G. História da minha infância. GABARITO
Rio de Janeiro: José Olympio, 1958.

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