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Em 1730, no reinado de D. João V (1706-1750), a maior parte dos grandes prazos estava em decadência
ou tinha sido abandonada. Entre as causas do declínio aponta-se: a fraqueza estrutural da instituição,
pela falta de legitimidade tradicional do prazeiro; o baixo nível de produção agrícola e as elevadas
necessidades de consumo, sendo para o senhor do prazo suficiente a coleta do mussoco; a
obrigatoriedade da comercialização interna de todos os produtos produzidos no prazo e importados; a
competição entre os prazeiros e os povos vizinhos; a ausência de uma força militar e administração
portuguesa eficiente; o envolvimento dos prazeiros no tráfico de escravos nos finais do século XVIII e no
século XIX, quando começaram a escravizar os colonos que viviam nos prazos; o crescimento do
absentismo por parte dos prazeiros; as secas e as fomes; as invasões, de que é exemplo significativo a
dos ngunis (1815-1840), com a formação do reino de Gaza e a sua expansão. Referindo-se ao decreto de
adaptação dos prazos, por António Enes, em 1890, Amélia Souto chama a atenção para o facto de este
ser o primeiro diploma legal "a recusar a propriedade aos indígenas". Segundo Enes, os prazos "deviam
ser adaptados aos preceitos da civilização e às necessidades e fins do domínio português".
Interpretando o segundo regime deste tipo de concessões, Rita-Ferreira mostrou como foram passando
para a posse de grandes companhias agrícolas e agroindustriais e comerciais a partir de 1890. Assim, a
ocupação de grande parte do território da Colónia de Moçambique, na rica região da Zambézia, foi
entregue a grandes companhias agrícolas e agroindustriais, constituindo empresas privadas, cujos
capitais eram maioritariamente estrangeiros, como aconteceu, por exemplo, com a Companhia de
Boror.
Em termos da articulação e dos vestígios materiais dos prazos, quer no território em análise quer nos
núcleos urbanos ali implantados, deve referir-se que a secular existência das instalações agrícolas que,
com os seus equipamentos de apoio, habitações e conjuntos de edificações várias, suportavam a
exploração das terras dos prazos, gerou inúmeros vestígios materiais com valor histórico e patrimonial,
espalhados por todo o Vale do Zambeze. Mais tarde, quando a maioria dos prazos "feudais" passou para
a posse das companhias de exploração agroindustrial, levada a cabo na transição dos séculos XIX-XX,
apareceram novas instalações, e até estruturas pré-urbanas e mesmo urbanas, decorrentes do
crescimento das estruturas anteriores, aproveitadas e/ou ampliadas. Neste quadro, os diversos
aglomerados rurais evoluíram para povoações (ou instalações agroindustriais), com carácter pelo menos
pré-urbano. Em 1921, em todo o distrito de Quelimane, dos vinte e três prazos existentes, vinte tinham
passado à posse daquelas companhias (não majestáticas, mas arrendatárias).
Podem exemplificar-se as diferentes tipologias desses vestígios, em diversos casos concretos, muitos
deles ainda hoje com toponímia localizável na vasta região do Zambeze. Os prazos definiam "estações",
ou os lugares que organizavam a produção, normalmente com uma casa central e as instalações de
apoio e de habitação dos trabalhadores envolvendo-a num amplo quadrângulo, tendo a toda a volta as
plantações agrícolas. Essas estruturas podem ter sido a base para posteriores desenvolvimentos de
espaços mais edificados, eventualmente gerando povoações, entre as quais algumas que estão referidas
em documentação do último quartel do século XIX, e são as seguintes: Nhandôa (na província de Tete,
na margem esquerda dos rios Zambeze e Aroenha; e/ou, na área de Quelimane, uma "estação" do Prazo
Marral); Marral/Campo, "estação" do concelho de Mopeia (Quelimane), na margem esquerda do Rio
Lualua; a povoação sucessora foi criada pela portaria n.o 1.974 de 27 de maio de 1933, como sede do
posto administrativo de Campo (atualmente a cerca de cinquenta quilómetros a oeste de Quelimane);
Guengue, na margem do Zambeze, província de Tete, constituindo um prazo e uma povoação fortificada
com uma aringa de duzentos e dez por oitenta e dois metros; Maindo/Mahindo, prazo ao longo da
costa, confinando a oeste com o de Marral e o Luabo, tinha nos anos 1920 cerca de 7.800 habitantes;
Luabo, a sudoeste de Quelimane, povoação criada possivelmente a partir das instalações agrorurais da
antiga Luão, em terras muito produtivas no século XVII, mas ao abandono em Setecentos; foi sede da
Sena Sugar Estates/Sena Sugar Factory desde 1911. A povoação local veio a exercer as funções de posto
administrativo, pela portaria n.o 15.156 de 8 de julho de 1961, no concelho de Chinde. Em 1921, muitos
pontos na área do Zambeze (de Quelimane a Tete), eram referenciados como tendo sido sedes de
prazos (ou povoados vizinhos e relacionados), que foram integrados nas diversas companhias, como
Maindo/ Mahindo (desde 1904 na Société du Madal); Luabo e Marral, desde 1911 na Sena Sugar
Estates, antes Companhia do Luabo. Hoje identifica-se ainda uma série de povoados, como Milange (da
Companhia de Lugela, em terras de produção de chá desde 1906), ou Inhassunge (a sul de Quelimane),
da Societé du Madal, desde 1916.
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