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Profº Diovani Silva

HISTÓRIA DO AMAPÁ II
AMAZÔNIA POMBALINA
1750 – Com a morte de Dom João V, ascendeu ao trono português Dom José I (1750 –
1777) e, com ele, Sebastião José de Carvalho e Melo – o Marquês de Pombal – que como seu 1º
ministro dirigiu os destinos de Portugal e de seu império colonial.
Decidido a colocar Portugal à altura dos “novos tempos”, Pombal realizou uma série de
reformas, que iam desde a reorganização econômica do reino até o reordenamento da cultura, através
de reformas na educação. Em relação à Amazônia o governo Pombalino estabeleceu uma ação
específica que, podem ser assim definidas:
1. Nomeação de Francisco Xavier de Mendonça Furtado (irmão de Pombal) para o governo
do Estado do Grão-Pará e Maranhão (1751 – 1759);
2. Incentivar o desenvolvimento agrícola e o povoamento da região;
3. Modificar a política referente à mão-de-obra indígena, com a conseqüente substituição do
poder temporal dos missionários sobre as comunidades indígenas;
4. Criação da companhia de comércio do Grão-Pará e Maranhão (1755), para atender às
necessidades monopolistas metropolitanas;
5. Estimular a fortificação militar na região, como forma de defesa.

Essas medidas tinham por objetivos estabelecer um controle mais efetivo do estado sobre
a Amazônia, como forma de defendê-la de estrangeiros invasores, ainda mais depois da assinatura do
tratado de Madri em 1750; A defesa eficaz da Amazônia dependia de sua efetiva ocupação.
AMAZÔNIA PRÉ-POMBALINA (séc. XVII – XVIII)
Os primeiros tempos da colonização portuguesa na Amazônia caracterizaram-se pelo
extrativismo das chamadas “drogas do sertão” (cacau, baunilha, salsaparrilha, urucú, andiroba,
pimenta, cravo, canela, etc...) e, pela presença das ordens religiosas, que além da catequese também
exerciam o controle sobre a mão-de-obra indígena na região.
A ação dos missionários na Amazônia era regulamentada por um conjunto de leis e
normas, chamadas de regimento das missões, estabelecido em 1686, pela coroa portuguesa, como
forma de regular a organização e a utilização do trabalho indígena na Amazônia.
O regimento das missões contribuiu para consolidar o poder político das missões
religiosas na Amazônia; As missões representaram o primeiro passo no processo de ocupação
territorial dos portugueses na Amazônia.
A catequese era justificada como um instrumento de cristianização dos povos nativos, que
eram considerados selvagens e inferiores aos europeus. A relação índios e missionários deu-se através
da ideologia cristã (seriam cristãos convertidos) que gradativamente foi provocando o processo de
distribalização das comunidades indígenas, ou seja, formalizou-se nos aldeamentos missionários, um
trabalho de aculturação dos índios.
A partir da segunda metade do século XVIII, com o início do governo de Marquês de
Pombal, ocorreu uma redefinição das políticas coloniais portuguesas na região amazônica.
AMAZÔNIA POMBALINA (séc. XVIII)
1- QUESTÃO INDÍGENA
As instruções revelam que o governo pombalino tinha definido o controle da bacia
hidrográfica da Amazônia como um de seus objetivos principais em relação à América portuguesa, e
ao mesmo tempo delineava-se a substituição da mão-de-obra escrava indígena pela do negro africano.
Com o objetivo de dar cumprimento às instruções régias, o governador Mendonça
Furtado, convocou uma reunião com a junta das missões, onde sugeriu que fosse concedida a
liberdade a todos os indígenas, com isso tendo os religiosos de imediato, se colocado desfavoráveis a
essa preposição.
Em 1753, Mendonça Furtado foi nomeado comissário português para demarcação das
fronteiras ao norte pelo tratado de Madri. Naquele contexto o governador passou a acusar a companhia
de Jesus de promover um boicote à efetivação do tratado. Para tanto, a ordem estava sonegando índios
necessários ao serviço da comissão demarcadora, fazendo-os sistematicamente desertarem das aldeias
quando a chegada da expedição.
Mendonça Furtado queixou-se às autoridades portuguesas da falta de cooperação e da
desobediência dos missionários. Em correspondência datada de 14 de março de 1755, o Marquês de
Pombal impediu os missionários de interferir na jurisdição real, e lhe restringiu o monopólio do
controle dos índios e do comércio interno e externo do Estado do Grão-Pará e Maranhão.
Em 1755, o rei Dom José I sancionou 03 leis relativas à integração dos indígenas na
sociedade luso-brasileira:
 O Alvará de 04 de abril de 1755, que permitia o casamento entre brancos e índias;
 A Lei de 06 de junho de 1755, que restituiu os índios “a liberdade de suas pessoas, bens e comércio”;
 O Alvará de 07 de junho de 1755, que negava às ordens religiosas o exercício da jurisdição temporal
sobre os indígenas e aprovando a secularização das respectivas aldeias.
As leis provocaram reações e protestos por parte dos Jesuítas, e em 1759 a coroa
portuguesa expulsa os mesmos do Brasil. Mas qual seria a verdadeira intenção de Pombal com essa
política indigenista na Amazônia colonial?
A resposta relaciona-se diretamente a necessidade de se garantir a posse e a efetiva
ocupação do território amazônico, principalmente ao norte, onde a presença de portugueses era pouco
significativa. Só a ocupação de fato através do povoamento, garantiria a Portugal o domínio dessa
vasta região, ainda mais porque, o tratado de Madri fundamentou-se mo princípio do uti possidetis,
estabelecendo que cada parte (Espanha e Portugal), deteria os territórios que havia até então ocupado e
povoado.
Nessa perspectiva o Estado português, durante o período pombalino redefiniu o papel a
ser exercido pelos índios na região amazônica, ou seja, para a metrópole a população indígena deveria
ser transformada em colonos ou súditos a serviço do rei, e o ponto culminante dessa política
pombalina foi à criação do diretório, que representou um conjunto de normas com a regularizar a vida
nas comunidades indígenas.
Os antigos aldeamentos missionários foram gradativamente elevados à condição de vilas,
que ostentavam nomes portugueses, em cada vila seria escolhido um principal (chefe dos índios), um
diretor, juízes de vereadores, nas mesmas deveriam conviver brancos e índios, para acabar com a
“odiosa separação” e ao mesmo tempo seria estimulado o casamento entre brancos e índios com a
finalidade de se aumentar a população da região, os índios deveriam construir moradias no estilo das
dos brancos, foi estabelecido à obrigatoriedade do uso da língua portuguesa, em substituição à língua
geral amplamente difundida na Amazônia (o nheengatu) e os índios seriam estimulados ao trabalho
agrícola, ao comércio à vida “civilizada”, a não andarem nus.
Ao instituir o regime do diretório, Pombal pretendia, na prática emancipar os índios para
serem transformados em colonos, assim eles garantiriam à ocupação da região e consequentemente a
consolidação do domínio português na área. Tal esforço demonstrou ser infrutífero, pois a laicização
das povoações indígenas facilitou a ação dos colonos portugueses no que dizia a respeito à exploração
do trabalho indígena, fazendo, na prática, os artigos do diretório, letra morta. Por outro lado o diretório
representou o aprofundamento do processo de distribalização das comunidades indígenas, na medida
em que provocou a introdução “de novos costumes” sobre as sociedades nativas.
2 – A REORGANIZAÇÃO ECONÔMICA DA AMAZÔNIA NO PERÍODO POMBALINO
A partir da segunda metade do século XVIII, parte da Amazônia articula uma
organização produtiva diversificada, incluindo além do extrativismo, a pecuária e o extrativismo
animal. Economicamente a agricultura, principalmente a cultura do arroz, passou a ser meta principal
nas reformas pombalinas para a região.
Em 1755 foi criada a Companhia de Comércio do Grão-Pará e Maranhão, que deteve o
monopólio por vinte anos; com o objetivo de transformar a Amazônia num grande celeiro agrícola, o
governo pombalino, entre 1750 – 1755 promoveu a transformação das estruturas missionárias para
vilas e povoados destinados à produção agrícola; e a fundação das vilas de Macapá e Mazagão estão
inseridas nesse contexto das políticas pombalinas.
FUNDAÇÃO DE MACAPÁ
O nome Macapá é uma variação de Maca-Paba, que na língua dos índios quer dizer
estância das Macabas ou lugar de abundância da bacaba. Bacaba é um fruto gorduroso originário da
"bacabeira", palmeira nativa da região, de onde se extrai um vinho de cor acinzentada, típica e muito
saboroso. O primeiro nome oficial dado a estas terras foi "ADELANTADO DE NUEVA
ANDALUZIA" em 1544 pelo então Rei da Espanha Carlos V, numa concessão a Francisco Orellana,
navegador espanhol.
A história da cidade de São José de Macapá remonta os idos coloniais e está relacionado
com a defesa e fortificação das fronteiras do Brasil e com a preocupação em garantir a fixação do
homem às terras brasileiras. Assegurando, assim, a soberania de Portugal nas terras conquistadas.
No extremo norte do Brasil formou-se o primeiro núcleo de colonização portuguesa em
1738, após sérios conflitos com os franceses de Caiena. Este primeiro núcleo pertencia a então
província do Maranhão e Grão-Pará, cujo Governador João de Abreu Castelo Branco, enviou um
destacamento militar para o local onde se encontra hoje a Fortaleza de São José de Macapá.
Periodicamente, um destacamento substituía o outro e assim foi garantida a colonização desta região.
Mas alertou ao rei de Portugal sobre a urgência de implementação de povoamento e fortificação da foz
do Amazonas. Francisco Pedro Gurjão, seu sucessor, reiterou essas reivindicações. Apesar disto, o
único mérito de D. João V, foi o de haver em 1748, oficialmente denominado a região de Província
dos Tucujus ou Tucujulândia, mantendo, portanto, inalterada sua condição administrativa.
Mendonça Furtado (irmão de Marquês de Pombal - ministro de D. José I), continuou a
colonização trazendo alguns casais de colonos das Ilhas de Açores para a ocupação do povoado, com o
objetivo de iniciar uma pequena povoação e construir barracos para servirem de alojamento aos
soldados que viriam para Macapá.
O povoado rapidamente progrediu, mas a insalubridade do local vem a ser um grave problema para os
colonos. Em 1.752, alastra-se no povoado uma epidemia de cólera. A notícia chegou à Belém em 07
de março daquele mesmo ano. Inesperadamente, Mendonça Furtado aporta na povoação, trazendo,
além de medicamentos, o único médico que havia na capital e consegue controlar a epidemia.
Constituem as origens do Amapá, portanto, esses colonos degredados de Portugal (bandidos,
prostitutas, presos políticos etc, negros africanos ou oriundos da Bahia e do Rio de Janeiro, além dos
índios que já habitavam o local). Em 1.761 inaugurava-se o mais antigo monumento da cidade de
Macapá: a Igreja de São José de Macapá. Foi o governador do Grão-Pará e Maranhão, Mendonça
Furtado que elevou Macapá, antes povoado, à categoria de Vila de São José de Macapá, em 04 de
fevereiro de 1758, na presença do povo tucujuense, precisamente na praça denominada de São
Sebastião, nascendo assim a Vila de São José de Macapá.
A construção da Fortaleza de São José de Macapá e consequentemente a sua inauguração
em 19 de março de 1.782, foi o marco definitivo na histórica Colonização de Macapá. Em sua volta, a
vila foi-se expandindo e prosperando cada vez mais.
Tão logo acontece à fuga da família real de Portugal para o Brasil, logo, por volta de 1.808, D. João VI
determinou a integração da Fortaleza de Macapá ao seu plano denominado Fronteiras do Reino Unido
de Portugal, Brasil e Algarves.
A Fortaleza e a Vila, pelas suas posições geográficas, precisavam ser governadas por quem
dispusesse de poderes amplos. E de Lisboa, começaram a serem nomeadas autoridades, denominadas
de Governadores de Macapá. Entre outros, exerceram o cargo: Coronel Nuno de Ataíde Verona; Cel.
João Wilkens; Cel. Manuel da Gama Lobo D'Almada; Sargento-Mor João Vasco Braum. Estes
homens se distinguiram pelos trabalhos que executaram, pelas soluções que deram aos vários
problemas que foram encontrados.
Em 07 de janeiro de 1.835 eclode a Cabanagem, revolta armada encabeçada basicamente
por humildes habitantes ribeirinhos que moravam em cabanas, daí o nome do movimento; A notícia da
eclosão desta revolta chega à Macapá, através do subcomandante da Fortaleza de São José, Francisco
Pereira Brito, que se encontrava em Belém.
A cabanagem, sendo um movimento reformista composto por mestiços, não conseguiu a
adesão dos macapaenses, descendentes de antigos colonos portugueses (não miscigenados). O temor
da perda de privilégios os levou a formar uma frente de reação aos cabanos com o apoio das Vilas de
Gurupá, Monte Alegre, Santarém e Cametá. Providências militares foram tomadas para conter o
avanço da região. Em Macapá, a defesa da Vila e seus domínios foram organizados pelo presidente da
Câmara Municipal, Manoel Antônio Picanço, pelo Juiz de Direito Manoel Gonçalves de Azevedo,
pelo Promotor Público Estevão José Picanço e pelos capitães Francisco Valente Barreto e José
Joaquim Romão. Este último comandante da Fortaleza de São José.
A luta entre cabanos e tropas imperiais intensificou-se. Perseguidos no baixo-Amazonas,
os cabanos refugiaram-se no Município de Macapá, nas ilhas de Santana e Vieirinha bem como na
localidade de Furo de Beija-flor. Em 20 de dezembro de 1.835, foram atacados por tropas
macapaenses e expulsos da região. Em 1841 foi criada a Comarca de Macapá e em 06 de setembro de
1.856 foi elevado à categoria de cidade pela lei n.º 281 do Estado do Pará.
Em 1.862, um novo panorama demonstrava progresso. Macapá contava com 2.780
habitantes, dos quais 2.058 eram livres e 722 escravos. Sua população reclamava seus direitos de
autonomia política. No governo de Getúlio Vargas, através do decreto-lei n.º 5.812, de 13 de setembro
de 1.943, foi criado o Território Federal do Amapá. A partir desta data o Amapá passou a Ter governo
próprio, embora nomeado pelo Governo Federal.
FUNDAÇÃO DE MAZAGÃO
Desativada a cidade de Mazagão na África pela carta régia de 10 de março de 1769,
decretada pelo rei D. José I, o Marquês de Pombal toma as providências necessárias para transferir as
340 famílias portuguesas sediadas no último reduto lusitano. Em janeiro de 1770, desembarcaram na
capital paraense três navios: São Francisco, São Joaquim e Santana trazendo um total de 1022 pessoas,
que fugiam do castelo da Mazagão Africana em conseqüência da "Guerra Santa" travada entre
católicos e muçulmanos ao Norte da África. Quando deixaram a região marroquina - Mauritânia, os
mazaganistas - assim chamados na desativada Mazagão - retiraram seus objetos de valor atearam fogo
nas minas, destruindo-as completamente. Mas assim mesmo, por ordem do rei, os mouros ocuparam-
nas. Foi sem dúvida, nessa região setentrional africana, que se teve a exata dimensão do espírito
ambicioso dos portugueses, iniciado nos embates contra os seguidores do islamismo e sacramentado
nas célebres batalhas entre cristãos e moura. Belém recebe com entusiasmo os bravos mazaganenses
africanos, os hospeda até junho de 1771. Nesse ínterim, o governador do Grão-Pará e Maranhão,
Ataíde Teive, já estava providenciando a construção da nova Mazagão em plena região amazônica, ou
seja, do atual Município de Mazagão. Esta ordem foi dada no mês de janeiro de 1770. A construção
teve início em 23 de janeiro de 1770, pelo oficial português, capitão Inácio de Castro Sarmento, que
traçou a planta da futura Vila e foi encarregado de administrar as obras. A vila estava sendo levantada
à margem esquerda do rio Mutuacá. As casas que abrigariam as famílias lusitanas foram construídas
de taipa e cobertas com palha. Das 340 famílias mazaganistas, 163 foram transferidas para Mazagão
amazônico em 1771. Outras ficaram nas regiões de Belém, na vila vistosa de Madre de Deus e
algumas em Macapá, compostas na sua maioria por oficiais. Em 14 de maio de 1833, Mazagão Velho
perde sua categoria de vila e até mesmo seu nome de origem, passando a denominar-se Regeneração,
ficando sua jurisdição administrativa subordinada ao município de Macapá. Esta situação vigorou por
8 anos. Somente em 30 de abril de 1841, através da lei provincial do Pará n.º 88, Mazagão Velho é
restaurada, tanto com relação à autonomia administrativa, quanto em sua denominação. Pela lei
provincial n.º 87 da mesma data, Mazagão volta a funcionar como Comarca, sendo-lhe, portanto,
restituído o poder. Em 16 de fevereiro de 1842, em sessão solene, tomam posse os membros da
Primeira Comarca.

FUNDAÇÃO DA ATUAL MAZAGÃO NOVO

A antiga cidade de Mazagão Amazônica, apesar do grande prestígio que gozou no início
de sua povoação, não logrou o mesmo êxito, principalmente a partir dos últimos anos do século
passado, tendo até mesmo sido rebaixada à antiga categoria de povoado. O governo do Estado do Pará,
após analisar relatórios que constantemente lhe eram enviados descrevendo a situação política,
econômica e social de Mazagão Velho, resolveu, por volta de 1915, autorizar que fosse esse burgo
incorporado ao de Macapá. Os mazaganistas acharam a medida arbitrária ao de inúmeros prejuízos a
sua cultura. Por outro lado, queriam continuar politicamente autônomos. As autoridades decidiram
então, que se deveria escolher um novo local para a instalação da sede do Município. A escolha recaiu
sobre uma área que fica ao Norte da antiga Mazagão Velho, mais próxima da cidade de Macapá, entre
o rio Vila Nova e o braço esquerdo do Amazonas. Ergueram-se as primeiras casas na nova localidade
e para lá se transferiram algumas famílias, indignadas com o fato da vila haver perdido status de
cidade. O que se deu através da lei estadual do Pará - n.º 46. Foi criada, então, a nova cidade de
Mazagão, cuja instalação se deu no dia 15 de novembro de 1915. Para evitar equívocos em relação à
primeira, onde funciona atualmente a sede desse município do Estado do Amapá.

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