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Vivalde Brandão lançou o livro Mínimo Campos (ed Sete Letras, 2023)
em Bom Despacho no dia 18 de novembro de 2023. Anos atrás, conheci o
Vivalde como letrista de belas canções populares, em parceria com Ronniere
Menezes e agora conheço a musicalidade de sua prosa: Canção do Copo Azul
de Araújos, Primeira Moda de Viola, Segunda Moda de Viola. A canção é a
canção da vida cotidiana e a morte está no bicabornato, ao fisgar uma sucuri
como se fisga um peixe. Vivalde, como a coruja, domina com sabedoria o
espaço poético. Ele está em volta das cruzes, em meio às igrejas e as estrelas.
São palavras assim que ele saboreia. Saborosa é a prosa de Vivalde ao falar
do bar Flor de Liz: “O Flor de Lis pertencia ao Seu Ari que naquela época
andava ganhando dinheiro com cristal. Em frente ao Flor de Lis onde tem a
pracinha arborizada com um largo grande cascalhado com muita pedrinha de
cristal que brilhava quase o dia inteiro”.
O livro pode ser analisado em três polos a partir dos quais ele
estruturou-se: o olhar da criança, o do poeta e o olhar do “Juca Doido”, o olhar
do louco. Há um Juca sábio, Juca Rufino, a quem o livro é dedicado, e o seu
duplo, o Juca Doido. O Juca Doido é um personagem apresentado em meio a
um mundo mágico que aparentemente opera fora da lógica comum: “Juca
Doido deu um tiro no ouvido. A bala entrou numa orelha e saiu na outra”. É um
universo em que a criança, o doido e o poeta têm mãos “tão poderosas quanto
rosas”. Sérvulo fez um prefácio e Tadeu Teixeira fez o texto de apresentação
que ficou nas “orelhas” do livro. Sérvulo destacou a fusão de poesia e prosa, de
forma feérica (mágica), Vivalde desenvolve. Tadeu notou a presença da
oralidade em um registro de vanguarda, tal como no poema Interlúdio. Para
poder evocar imagens poéticas de sonho e fantasia, recriando a sensibilidade
da infância, o poeta Vivalde enumera loucamente substantivos sem vírgula e
ponto final para criar um clima onírico, um ambiente de sonho onde o louco
sábio, o poeta e a criança convivem.
Vivalde nos faz, como adultos, rir lendo sua “desconversa” sobre
a chuva, a luz na varanda. O poeta é como a criança, a felicidade está ao
alcance dos olhos e do coração, algo tão difícil para nós, adultos: basta ver
besouros enterrando a bosta das vacas. É fácil “virar Jesus”. Jesus está em
meio às crianças, da cachorrada, do cotidiano. Mergulhemos então nesse
universo feérico de Vivalde Brandão. Olhemos os lírios do campo e do
contracampo.