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Resumo
Esse ensaio busca investigar a adaptação realizada por Gerald Thomas da peça
Doroteia de Nelson Rodrigues. Gerald fez uma releitura onde sobressai o seu estilo,
mais do que o de Nelson. Doroteia, mais do objeto de uma montagem, é “montada”
por uma personagem travesti, Doroteia é um homem trans. A encenação de Gerald
Thomas, altamente autoral, retoma apenas fiapos narrativos do texto e atêm-se ao
entorno. Gerald faz de Doroteia uma obra em progresso. O que é detalhe no texto de
Nelson, como o leque, é um signo hipertrofiado e hiperbólico no “ensaio” de Gerald.
Gerald toma Duchamp e o ready made com um caminho para tornar ampliar e tornar
hiperbólicas as tendências vanguardistas contidas nesse texto de Nelson Rodrigues.
1.Introdução
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Graduado em Filosofia (UFMG) e Letras (FASF/UNISA) e mestre em Estudos Literários (UFMG).
pouco, houve a repetição colonizada da invasão do Capitólio por militantes de
extrema-direita, causando quase uma guerra civil entre PM e exército, bem
como milhões de prejuízo ao patrimônio público.
Muitos anos atrás, ao tempo de Flash and Crash Days, o crítico de teatro
norte-americano David George já tinha observado a relação existente entre a
peça com a mãe e a filha e as peças de Nelson Rodrigues. E tinha sugerido a
Gerald adaptar uma peça de Nelson ao seu estilo, sem palavras, numa
“antropofagia wagneriana”. Gerald, no entanto, não obteve, nos anos 90,
direitos sobre Doroteia e, agora, ao obtê-los, adaptou a peça com ajuda do
mesmo David George.
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Graduado em Filosofia (UFMG) e Letras (FASF/UNISA) e mestre em Estudos Literários (UFMG).
Caetano Veloso contou que, no exílio, escutava a canção Hapiness is a
Warm Gun, dos Beatles, da seguinte forma: Nelson Rodrigues jumps the gun.
Podemos dizer que Gerald faz um processo semelhante, é como a lagosta
alucinatória da qual Nelson Rodrigues fala.
Gerald Thomas traz o tema do feto e de um Brasil que parece ainda não
ter nascido numa conjuntura histórica em que o Brasil pautou o tema do aborto,
em campanha eleitoral, da pior maneira possível, ou seja, o pânico moral. E
pior: possivelmente, a extrema-direita brasileira está imitando os extremistas
norte-americanos, cuja agenda conservadora avança, mesmo sem Trump, ao
conseguir ilegalizar o aborto em alguns estados norte-americanos.
De fato, Gerald Thomas fez uma adaptação que vai além de uma mera
distorção de Nelson Rodrigues, é bem uma sobreposição por parte do
autor/encenador. Tanto Nelson Rodrigues como Gerald Thomas utilizam a voz
em off. No texto Teatro Desagradável, Nelson Rodrigues comentou o choque
que causou, em Mulher Sem Pecado, a ousadia vanguardista de colocar uma
atriz que não utilizava palavras em cena, bem como apenas enrolando um
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paninho. Gerald Thomas, em seu teatro, levou esses procedimentos ao
máximo: movimentos repetitivos e nervoso dos atores, ações sem palavras.
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A peça constitui-se de várias cenas que não se ligam necessariamente
em termos de ação ou narrativa: a primeira, um monólogo feminino; a seguir,
na segunda a imagem do feto, inspirada em Iberê Camargo. Na terceira, surge
Lisa Giobbi pendura no teto e a voz em off de Gerald Thomas dizendo um texto
sobre a ave psicológica que foi morta e a falta de paz para o mundo trans, o
que possivelmente justifica a ideia de uma Doroteia representada por Rodrigo
Pandolfo, ou seja, um homem. A cena alonga-se, com Lisa fazendo acrobacias
e danças. A quarta cena já é a das imagens da guerra, com sons de tiros e a
imagem de uma bomba que sobrevoa o palco, acompanhada do choro de uma
criança.
A sétima é marcada pelos gritos de Fabi Gugli com uma ave de cabeça
decepada no colo e o choro de bebê que perpassa toda a peça. A sétima
aparenta ser um ensaio da própria obra onde o diretor chama os nomes dos
atores, que estão lendo textos. Volta a música dramática. A oitava é o choque
metafórico entre Doroteia e Fabi Gugli, tendo ao fundo suas irmãs tensas. A
nona é o diálogo entre a voz off de Gerald e Rodrigo, Gerald e Beatrice.
Rodrigo apresenta-se como Doroteia e é interrompido pelo diretor. O diretor
corrige Rodrigo, pois explica que não é aquilo, ele está saindo do texto. No
entanto, é humor, pois o texto da peça não é o texto de Nelson Rodrigues.
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Na décima cena, Doroteia/Rodrigo é possuído pelo espírito da volúpia,
depois de que todas as mulheres (e homens) sentem a náusea do homem.
Quando Rodrigo/Doroteia avisa que seu texto acabou, entra a voz off de Gerald
Thomas explicando que naquela peça não existirá sexo, dentre outras
especulações e citações.
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Uma das melhores cenas do espetáculo envolve um monólogo hilário (e
improvisado) da atriz Ana Gabi sobre esse arsenal de ferramentas do
encenador, nascido em Nova York e criado entre a metrópole estadunidense,
Rio e Londres (NEVES, 2022)
Na verdade, quis olhar para Nelson como uma criança. Tem vassoura
passando em cena, um zepelim, um palhaço. É como se fosse Alice in
Wonderland (Alice no país das maravilhas), só que em Auschwitz. Uma
criança vendo Nelson Rodrigues em Auschwitz, no meio de uma guerra. Esse
é o setting, o ponto de partida. Como uma criança não lida tanto com
palavras, surgem essas imagens encantadas e macabras. E o humor vem do
fato de o teatro ser uma bobeira, uma bobagem, séria, mas ainda assim
bobagem (THOMAS, 2022).
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Aqui acima temos um enfoque curioso: Gerald deseja, com essa peça
com tantos estilemas de vanguarda, apenas entreter, como se fosse um certo
tipo de teatro infantil ou “besteirol de luxo”.
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Além da provocativa postura de colocar um travesti no papel de Doroteia
e confrontar a moral patriarcal do texto de Nelson Rodrigues, o figurino também
acompanhou essa linha de pensamento, rompendo com a ideia de vestir as
personagens com roupas pretas e que escondem a sensualidade. A
sensualidade, mantidas as roupas pretas, apresenta as formas voluptuosas de
Fabiana Gugli.
A peça constituiu-se de quinze cenas que não são interligadas por uma
narrativa propriamente dita. São ações organizadas em torno dos seis
personagens da peça original, mas não são as ações do texto de Nelson
Rodrigues e sim outras, organizadas conforme cenas em um circo, tendo não
necessariamente uma ligação entre uma e outra. A passagem de uma cena
em geral é feita por luz ou música, mais do que dos entrecortados monólogos,
uma vez que há mais monólogos superpostos do que diálogos.
A peça finalizou com uma carta que é uma canção de amor ao teatro,
por parte do diretor Gerald Thomas. De fato, o teatro possibilita a ele realizar
entregar-se a fantasias vanguardistas, expor e impor sua subjetividade extrema
de forma por vezes autoritária (como se impôs como autor sobre o texto do
autor Nelson Rodrigues) e assim mesmo ser visto, consumido, ouvido,
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Graduado em Filosofia (UFMG) e Letras (FASF/UNISA) e mestre em Estudos Literários (UFMG).
entrevistado, celebrado. Fez, incrivelmente, teatro não-dramatúrgico a partir de
uma dramaturgia e mesmo assim foi aceito. Sem dúvida, é um vitorioso.
3.Conclusão
NEVES, Lucas. A Saída Tem que Ser a Mulher, Diz Gerald Thomas.
<<https://elle.com.br/cultura/geraldthomas>>.<<Acesso em 15/02/2023>>.
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Graduado em Filosofia (UFMG) e Letras (FASF/UNISA) e mestre em Estudos Literários (UFMG).
doroteia-nua-descendo-a-escada-por-marcio-tito/>>.<<Acesso em
15/02/2023>>.
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