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Análise do filme Quando Nietzsche Chorou

Quando Nietzsche chorou

1. Primeira Parte

Ficha técnica

Diretor: Pinchas Perry

Idioma: inglês

País: Estados Unidos, 2007, cor

Duração: 105 minutos

Roteiro: Pinchas Perry/Irvin D. Yalom (livro)

Elenco original :

* Armand Assante: Friedrich Nietzsche

* Ben Cross: Josef Breuer

* Katheryn Winnick: Lou Salome

* Jamie Elman: Sigmund Freud

* Rachel O'Meara: Frau Becker

* Joanna Pacula: Mathilda

* Michal Yannai: Bertha

* Andreas Beckett: Zaratustra

Trilha Sonora: excertos de óperas. Foram citadas A Valquíria, de Wagner; Carmen, de Bizet;
foram citadas também as composições Danúbio Azul e Assim Falou Zaratustra, de Strauss.
Gênero: drama

O filme é uma adaptação do romance Quando Nietzsche Chorou, por sua vez uma abordagem
ficcional de um encontro que nunca aconteceu, mas poderia ter acontecido: Freud e
Nietzsche. A ação situa-se na Viena do século XIX, na primavera de 1882. Lou Salomé é a
mulher que faz essa ligação, pois na realidade ela foi amante de Breuer (no tempo em que
estava casada com o professor Andreas) e chegou a conhecer Freud e formar-se psicanalista.
Alguns anos antes, Lou tinha se envolvido com Nietzsche e, embora isso seja controverso, Lou
chegou a insinuar ter tido relações sexuais com ele em artigos de jornal publicados após sua
morte em 1900. O filme concentra-se na relação possível entre Joseph Breuer e Friedrich
Nietzsche, um representando a nascente psicologia e Nietzsche, os lampejos de sua filosofia
sobre a mente e o comportamento, que adiantam muito da psicologia que lhe foi
contemporânea sem que nunca houvesse efetivo diálogo. O romance e o filme fornecem,
através da ficção, esse diálogo.

O filme se vale de episódios reais para criar a narrativa. De fato, Lou e Nietzsche foram
apresentados e Nietzsche comentou que ambos haviam caído de uma mesma estrela; no
filme, tal acontece numa sala de aula onde ele ensina que Deus está morto. Tal não poderia
acontecer, pois Nietzsche era professor de Filologia Grega e não de sua própria filosofia, que
não chegou a ser estudada em universidades antes de seu enlouquecimento (effondrement).

Diálogo do filme: Breuer tenta convencer Nietzsche a tratar-se.

Breuer: minha sugestão é que vá à Clínica Lauzon, para curar o estresse. Eu vou te visitar
diariamente.

Nietzsche: Não estou apto a pagar por esses serviços.

Breuer: Eu o farei gratuitamente.

Nietzsche: Isso nada tem a ver com a motivação humana. Quais são suas motivações, doutor?

Breuer: O sapateiro faz sapatos, o médico medica. Por que você filosofa, se não ganha
dinheiro?

Nietzsche: Eu não filosofo para você. Diga-me quais são suas motivações!

Breuer: Você é um grande filósofo, quero fazer com que você se torne o que é!
Nietzsche: E assim se engrandecer, sendo meu salvador.

Breuer: Eu trato as pessoas mais famosas de Viena.

Nietzsche: e quer me usar os nomes deles para ganhar poder sobre mim.

Breuer: Seu nome não será revelado!

(Nietzsche lhe vira as costas e sai, negando-se a tomar parte no tratamento).

2. Segunda parte

Protagonista: Friedrich Nietzsche é um filósofo em crise por ter tido negados os seus pedidos
de casamento junto de Lou Salomé, escritora que busca ajudá-lo a se tratar, uma vez que ele
se encontra rompido com ela, doente de enxaquecas e desesperado. Salomé procura Breuer
para ajudar Nietzsche a tratar seu desespero e parar de mandar as cartas angustiadas que ele
está mandando para ela.

Tensão principal, culminância e conclusão: a tensão principal é que Nietzsche, mesmo estando
pobre, marginalizado, doente e desesperado, não aceita o tratamento de cura pela fala que
Breuer lhe propõe, ainda mais que tal tratamento está seria gratuito. Ele desconfia que está
sendo traído por Breuer, por já ter sido traído por Wagner (que o ofendeu com comentários
maldosos), Paul Rée e Lou Salomé (que, sendo amigos dele, relacionavam-se secretamente,
mas para consolá-lo, estavam lhe propondo morar os três numa mesma casa).

Características dos personagens: Nietzsche é um filósofo brilhante que está vivendo uma
grande crise em sua vida, estando em desespero, pois rompeu com seu melhor amigo e com a
mulher por quem se apaixonou. Buscando tratamento médico para sua enxaquecas violentas e
outros problemas de saúde, ele se encontra com Breuer, que é médico e também estava
vivendo a crise de seu casamento com Mathilda. A crise com Mathilda foi motivada
principalmente por ter se apaixonado por Bertha Pappenhein, uma de suas pacientes, que teve
um ataque histérico e disse à sua mulher, Mathilda, que estava grávida de um filho do Dr.
Breuer. Lou Salomé é uma mulher sedutora, inteligente, mas também uma mulher de gênio
forte, dominadora e manipuladora. Bertha Pappenhein é caricaturada como uma histérica
delirante, a quem não falta até mesmo o tapa na cara. Ela é o objeto de desejo obsessivo de
Breuer, o que lhe traz enorme sofrimento. Sigmund Freud é um jovem médico e ex-aluno de
Breuer que auxilia o médico no caso.
Ironia dramática: Nietzsche nunca conheceu Breuer nem a psicanálise, assim como Freud
alegou conhecer posteriormente, mas não ter lido Nietzsche, mas de fato sua filosofia e a
psicanálise têm muito em comum. Na realidade, Breuer chegou a ser amante de Lou Salomé,
fato que está insinuado em um dos sonhos de Breuer (fantasia onde Bertha e Lou Salomé o
disputam). No entanto, dificilmente Nietzsche aceitaria a psicanálise sem muitas críticas, dado
o seu temperamento. O próprio filme demonstra reconhecer isso. E o filme mostra Nietzsche,
ironicamente, sendo enganado por Lou Salomé e Breuer, o que seria mais uma grande traição
em sua vida, se ele soubesse (fora as traições de Wagner, Paul Rée e Lou Salomé).

3. Terceira parte: Observações especiais e conclusão

O filme cita o livro de Nietzsche A Gaia Ciência (Die Frohliche Wissenschaft), que é mostrado
em algumas cenas, que Nietzsche terminara de escrever e publicar, estando então planejando
Assim Falou Zaratustra. A obra de Nietzsche costuma ser dividida em três fases: a primeira
fase, aparentada ao romantismo; a segunda fase, com uma simpatia pela ilustração; uma
terceira fase, já no final da vida, de retorno ao romantismo. Essa obra é uma das mais lidas do
autor. A fase é uma das mais bem aceitas e inclui Humano, Demasiado Humano e Aurora. Em A
Gaia Ciência, Zaratustra faz sua primeira aparição como personagem de Nietzsche, tendo sido
retomado posteriormente. Nesse livro, Nietzsche também aborda dois temas-chave em sua
obra: a morte de Deus e o eterno retorno. Ambos os temas são abordados no filme. Nietzsche
fala sobre a morte de Deus na universidade, Lou ouve a aula atenta e vem até ele dizer que o
que ele está dizendo não é que Deus nasceu e deixou de existir, mas sim que Deus é uma força
que não pode mais ser levada em conta. E Nietzsche diz a ela, beijando sua mão: “de que
estrela caímos juntos?” É o começou de um amor que terminará mal. A figura de Paul Rée, que
foi quem realmente passou a morar com Lou (embora se diga que esse amor foi uma amizade),
aparece sem muita relevância no filme, com poucas falas. Mas o médico judeu Paul Rée era
seu melhor amigo e também era filósofo. Anos depois, aliás como comentou Nietzsche para
Lou, Rée separou-se dela e terminou cometendo suicídio. Lou carregou o peso, socialmente,
de ter sido a perdição não só de Paul Rée, mas também de Tarski, discípulo de Freud que
também matou-se por ela. O eterno retorno, que para Nietzsche seria o oposto à dialética e à
causa e efeito, seria um continuum, um ciclo eterno. Para preparar-se para ele, é preciso viver
com autenticidade essa vida e seus momentos, pois eles se repetirão. Lou Salomé também
chegou a ser namorada de Rilke e viajar com ele à Rússia. Também foi muito benquista nos
círculos wagnerianos e freudianos. Mulher muito livre e controversa, escritora de talento, de
origem nobre, casou-se, mas não ser relacionava com seu marido (que conquistou-a após
também ameaçar o suicídio), o professor Carl Friedrich Andreas; Lou teve, então, vários
amantes e o professor Andreas teve um filho com a governanta. No final da vida vivia reclusa
e, após sua morte em 1937, sua biblioteca foi requisitada e queimada pelos nazistas, que não
aceitavam a psicanálise, que chamavam “a ciência judia”.

Postado por Revistacidadesol às 08:51 2 comentários:


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quarta-feira, 9 de novembro de 2011

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