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Bom dia! Hoje venho falar-vos sobre o livro A peste, de Albert Camus.

Albert Camus foi


um notável escritor, filósofo, e jornalista franco-argelino, que nasceu em 1913 e morreu 1960.
Tem uma vasta e aclamada obra, que inclui livros como O Estrangeiro, O Mito de Sísifo, O
Homem Revoltado e A Peste. Durante a segunda guerra mundial, participou na resistência
francesa e ganhou o Prémio Nobel da Literatura em 1957. O seu contributo no campo da
filosofia é inegável e destacou-se, sobretudo, na corrente filosófica do absurdismo, que vos
falarei adiante.

O enredo do livro passa-se na década de 1940 em Orão, uma cidade da Argélia, que é
afetada por uma epidemia de peste. A história é contada sob o ponto de vista da personagem
principal, que é o Doutor Bernard Rieux, o médico que primeiro detetou a doença e alertou as
autoridades. A epidemia começa quando inúmeros ratos são encontrados mortos por toda a
cidade, o que inicialmente não preocupa as pessoas, mas rapidamente várias pessoas
começam a apresentar sintomas semelhantes aos da Peste Negra e um crescente sentimento
de inquietação e medo instala-se na cidade. A situação vai-se agravando, até que é
oficialmente declarado um estado de peste e a cidade é encerrada, sendo proibida a entrada
ou saída de pessoas ou correio. Essa situação, descrita como um exílio, impediu os habitantes
da cidade de verem ou falarem os seus entes queridos que haviam saído da cidade nessa
altura, provocando neles uma sensação de solidão e desamparo. Esta primeira consequência
da peste é caracterizada pelo narrador num excerto, que vos vou agora mostrar: “Esta
separação brutal, sem meio-termo, sem futuro previsível, deixava-nos perturbados, incapazes
de reagir contra a lembrança dessa presença, ainda tão próxima e já tão distante, que ocupava
os nossos dias. Na verdade, sofríamos duas vezes: o nosso sofrimento, em primeiro lugar e em
seguida, aquele que imaginávamos aos ausentes. […] Sabíamos então que a nossa separação
estava destinada a durar e que devíamos tentar entender-nos com o tempo. A partir de então,
reintegrávamo-nos na nossa condição de prisioneiros, estávamos reduzidos ao nosso passado,
e, ainda que alguns de nós tivessem a tentação de viver no futuro, rapidamente renunciavam,
tanto pelo menos quando lhes era possível ao experimentarem as feridas que a imaginação
inflige àqueles que nela confiam”. Penso que este excerto é autoexplicativo e evidencia muito
bem a angústia da separação forçada entre os parentes, que não sofrem apenas com o
presente, mas também com as recordações do passado e a imaginação de um futuro que, por
lhes ser inalcançável, lhes deprime ainda mais.

Outro fator que afetava o quotidiano dos personagens é a constante convivência com
a morte e o medo de poder ser contagiado a qualquer altura. Muitos dos doentes eram
levados de casa à força e, dado o elevado número de mortos, muitas vezes já não havia tempo
para funerais e os corpos eram incinerados ou postos em valas comuns. O excerto que agora
vos irei apresentar retrata o processo de retirar o doente de sua casa. “Diagnosticar a febre
epidémica equivalia a mandar retirar rapidamente o doente. Então começava, com efeito, o
sofrimento e a dificuldade, pois a família do doente sabia que não voltaria a vê-lo senão
curado ou morto. «Piedade, senhor doutor!», dizia a senhora Loret. Que significava isso?
Evidentemente, ele tinha piedade. Mas isso não curava ninguém. Era preciso telefonar. Em
breve se ouvia a campainha da ambulância. […] Começavam então as lutas, as lágrimas, a
persuasão. Nestas casas sobreaquecidas pela febre e pela angústia desenrolavam-se cenas de
loucura. Gritos, invetivas, intervenções da polícia e, mais tarde, da força armada, e o doente
era tomado de assalto.”

Nesta passagem é demonstrada a crueldade do processo, contudo, o narrador


considera ser necessário este tratamento, ao interrogar sarcasticamente o que é ter piedade e
ao afirmar qua a piedade não curava ninguém. O médico que geralmente liderava a operação
de retirar os doentes de casa era o Doutor Bernard Rieux. Estes momentos consumiam-no e
eram esmagadores para ele. Curiosamente, ele repara mais à frente que a sua tarefa foi
facilitada quando ele se começou a tornar indiferente ao sofrimento das outras pessoas e se
começou a fechar sobre si próprio. Penso que esta atitude espelha um grande problema da
sociedade atual, em que muitas vezes pensamos apenas em nós e não olhamos a meios para
atingir os nossos objetivos e perdemos a capacidade de empatia.

E porque é que se considera este livro uma obra absurdista? Vou-vos agora falar um
pouco sobre o absurdismo e de seguida explicarei porque é que este é um livro absurdista. O
absurdismo é uma corrente filosófica que se caracteriza pelo conflito entre o desejo do ser
humano em procurar um sentido para a sua vida e a sua incapacidade em encontrá-lo ou a
falta de sentido provida pelo universo. Simplificando, o absurdismo defende que a vida e
existência humana não têm nenhum sentido. Esta visão rejeita a existência de Deus ou outra
força transcendente e nega a dimensão espiritual do ser humano. Camus considera a religião
uma ilusão e uma tentativa de preencher esta falta de sentido.

Neste livro, encontramos várias ideias concordantes com esta teoria, como o
ridicularizar do discurso do Padre Panelloux, que é um personagem importante na história,
questionando, por exemplo, porque é que ele recorre a ajuda médica, se ele refere que a única
força capaz de os salvar é a oração. Esta personagem também defende que tudo é um desígnio
de Deus, o que conflitua na sua mente quando ele presencia o agonizar de criança até à morte,
mesmo com ele a suplicar a Deus que a salvasse aquela criança. Também é criticado por ele
próprio não acreditar no que diz, quando afirma que a peste é um castigo divino e que o povo
devia depositar as suas esperanças em Deus.

Não estou de maneira nenhuma a dizer que esta visão está certa e que a devem seguir,
mas estou apenas a apresentá-la e aos argumentos usados por quem a defende. Para não
ficarem apenas a ouvir, gostaria que respondessem voluntariamente a uma destas perguntas
que vou mostrar. E não se esqueçam que não há respostas certas ou erradas, por isso podem
dar a vossa opinião livremente.

Concluindo, escolhi este livro porque não relata apenas acontecimentos, mas também
explora a condição humana e muitas questões profundas. Além disso, levou-me a questionar e
a pensar em temas que não havia ainda tido em consideração.

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