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CENTRO UNIVERSITÁRIO DINÂMICA DAS CATARATAS

MISSÃO: FORMAR PROFISSIONAIS CAPACITADOS, SOCIALMENTE RESPONSÁVEIS E APTOS A


PROMOVEREM AS TRANSFORMAÇÕES FUTURAS

Nome: Keila de Oliveira Franco Ribeiro


Data: 20/06/2022
Disciplina: Teorias e Técnicas Psicoterápicas do Humanismo
Professora: Carina Freire
Trabalho: Fichamento do Capítulo 1 do Livro Em busca de Sentido de Viktor E.
Frankl.

Referência: FRANKL, Viktor E. Em Busca de Sentido: um psicólogo no campo de


concentração. 54 ed. – São Leopoldo: Sinodal;.Petrópolis: Vozes, 2021.

A obra foi escrita pelo médico psiquiatra Viktor Emil Frankl (1905 - 1997). Um
sobrevivente de quatro campos de concentração durante a segunda guerra mundial.
Já no prefácio, o autor revela que o teria escrito como obra literária anônima, com o
intento de transmitir ao leitor, através de um exemplo concreto que a vida tem um
sentido potencial sob quaisquer circunstâncias, mesmo as mais miseráveis. Porém
fora convencido por amigos de que uma publicação anônima comprometeria seu
próprio valor, visto que a coragem da confissão eleva o valor do testemunho. Depois
de tudo o que viveu, sentiu-se responsável por colocar no papel suas memórias que
poderiam ser úteis às pessoas que tem inclinação ao desespero. Ao longo de sua
obra, pode-se perceber o quanto este senso de responsabilidade o acompanha a
cada instante, orientando suas respostas ao que a vida lhe apresenta no período
narrado.
No livro, Frankl tenta responder à pergunta: "De que modo se refletia na
mente do prisioneiro médio a vida cotidiana no campo de concentração?". Ele traz
suas memórias com uma perspectiva psicológica a partir da observação de suas
próprias reações (e de seus companheiros de campo, dos guardas da SS, e de
todos com quem conviveu), sentimentos e comportamentos diante de tudo o que
viveu enquanto refém deste episódio hediondo que foi o nazismo, descrevendo,
desta forma, a experiência que o levou à confirmação de suas ideias já pré-
existentes ao campo e que mais tarde veio a se concretizar como logoterapia, a
terceira escola de psicoterapia de Viena.

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119.104, esse foi o número recebido por Frankl ao chegar no campo. Dali
para frente, seria esta sua denominação, e são os relatos deste prisioneiro sobre
não somente sua experiência, mas sua vivência no campo, que dão corpo à primeira
parte do livro, dividida em três fases: recepção no campo de concentração; a vida no
campo de concentração e, por último, após a libertação.
A primeira fase, na visão do autor, se caracteriza pelo choque de recepção
que, a depender das circunstâncias, poderia se dar antes da recepção formal. Em
seu caso, por exemplo, em que este choque se deu já no transporte que o conduzia
a Auschwitz. Um transporte para 1500 pessoas sem as mínimas condições de
acomodação. Os passageiros daquele trem tinham ainda a ilusão de serem
conduzidos a uma fábrica de armamentos, mas o terror já se estampa em seus
rostos quando ainda antes de chegar ao destino, viram a tabuleta em que estava
escrito: Auschwitz. Por menos que se soubesse sobre aquele campo, todos tinham
notícias de seus crematórios e câmaras de gás e que dificilmente sairia vivo dali.
Ainda assim, ao chegarem ao campo e se depararem com prisioneiros, cuja
aparência, à primeira vista não parecia de todo ruim, foram tomados ainda pelo que
a psiquiatria denomina como ilusão de indulto, ou seja, acreditavam que tudo ainda
podia acabar bem.
Nos vagões ficaram suas bagagens, por ordem da guarda. Uma fila de
homens, outra de mulheres. Uma vistoria rápida em cada um deles e um gesto ainda
desconhecido para eles: um balançar do dedo indicador do guarda ora para direita,
ora para esquerda, apontando a direção em que deveriam seguir os prisioneiros.
Mais tarde vieram a saber que naquele apontar de dedos, se deu a primeira seleção
e para cerca de 90% daquele transporte, indicados para o lado esquerdo,
a sentença foi a pena de morte. A minoria que sobreviveu à seleção foi
encaminhada
para o banho de desinfecção. Começaram por se desfazer de seus últimos
pertences. Naquele momento, Frankl ainda implora para preservar seu manuscrito
científico, ao que foi respondido com zombaria e o resultado já se pode imaginar. Só
puderam ficar com sapato, cinto, um par de óculos e no máximo o bragueiro para
quem tivesse hérnia. No mais, não ficaram com nada. Até os pelos do corpo foram
obrigados a raspar. Mais nada possuíam a não ser sua própria existência nua e
crua.

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As poucas ilusões que alguns ainda carregavam se desfaziam ali e a maioria
deles foi tomada de uma reação inesperada: o humor negro. Ainda no chuveiro,
faziam comentários que pretendiam ser engraçados sobre o fato de no chuveiro de
fato, sair apenas água de verdade. Sabiam ali que mais nada teriam a perder além
de uma vida ridiculamente nua. Uma outra reação que apresentam é a de
curiosidade, vontade de saber se escaparia com vida ou não, sobre o que
aconteceria agora e quais seriam as consequências. E outras curiosidades ainda
como não pegar um resfriado mesmo expostos com os corpos nus a temperaturas
negativas, ou ainda surpresos em como se conseguiam passar anos nos campos
sem escovar os dentes. Na primeira noite em Auschwitz, dormiram em beliches de
três andares, medindo em torno de 2x 2,5 m, em que dormiam 9 homens por andar.
Nesta mesma noite, o autor fez um pacto consigo mesmo, apertando suas mãos, de
não ir para o fio, ou seja, não cometer suicídio (nos fios das cercas elétricas que
cercava o campo).
A segunda fase é a vida no campo de concentração, em que, após de passar
pelo primeiro estágio de choque, passa para o segundo estágio de relativa apatia,
pois aos poucos, vai morrendo interiormente. Sobretudo, surge uma enorme
saudade de seus familiares também o nojo de toda a fealdade que o cerca interior
e exteriormente. A mortificação dos sentimentos normais continua avançando
instalando no prisioneiro. No segundo estágio de suas reações psíquicas, indiferente
e já insensível é capaz de observar, sem se perturbar, cenas que antes não poderia
suportar. O nojo, o horror, a revolta, já não se podem sentir neste momento.
O que mais dói, neste momento não é mais a dor física, mas a dor
psicológica, a revolta pela injustiça e o escárnio que dói mais que o próprio golpe. A
apatia, a insensibilidade emocional, o desleixo interior e exterior e a indiferença são
características do prisioneiro na segunda fase e essa insensibilidade constitui uma
couraça necessária à autopreservação da alma e psique dos prisioneiros que
passam a concentrar toda a sua atenção e sentimento em torno de pura e
simplesmente salva sua vida e a do outro.
Pressionado pela necessidade de se concentrar na preservação da vida, a
vida psíquica do prisioneiro baixa a um nível primitivo. O sonho mais frequente entre
eles por exemplo, era com comidas, ou com uma banheira quente. O principal
instinto primitivo era a fome. Cabe ressaltar que que a única alimentação que

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recebiam por dia era um pedaço de pão e uma porção de sopa rala, tão rala, que era
motivo de alegria quando sua concha era tirada do fundo da panela para ganharem
mais umas ervilhas. Em relação à sexualidade, o instinto sexual, de modo geral, não
se manifestava, pois o estado de subnutrição a que era submetido fazia com que
seu principal impulso fosse mesmo o de alimentação. Desta forma, também se
explica a ausência absoluta de sentimentos.
Em alguns momentos, quando surgia, o interesse religioso dos prisioneiros
era ardente, com cantos, preces e cultos improvisados. Também de improviso, vez
ou outra havia um teatro. Apresentavam-se canções, poemas, sátiras, tudo para
ajudar a esquecer e muitos trabalhadores, mesmo exaustos pela labuta do dia ou
mesmo perdendo a distribuição da sopa não perdiam esses momentos. Em outros
momentos também surgia ainda que um princípio de humor, que em si, também
constitui uma arma da alma na luta por sua autopreservação. Frankl, a este respeito,
certa vez propôs a um companheiro o compromisso de inventarem ao menos uma
piada por dia, ao considerar a vontade de humor como um truque útil para a arte de
viver. Tudo isso para citar sobre os interesses coletivos, mas havia momentos
também em que o prisioneiro optava pela fuga para dentro de si, em seu interior. O
autor observou que que pessoas sensíveis habituadas a uma vida intelectual e
culturalmente ativa, apesar de sua sensibilidade emocional, poderia passar pela
vivência no campo de forma não menos dolorosa, porém com menos danos em sua
existência espiritual, pois podiam ainda que por momentos, retirar-se daquele
ambiente terrível e se refugiar num domínio de liberdade espiritual e riqueza interior.
Motivo pelo qual surpreendentemente pessoas de constituição mais delicada
conseguiam suportar melhor do que uma de constituição mais robusta a vida no
campo de concentração. E quando nada mais importava, podia ainda se realizar na
contemplação amorosa da imagem espiritual que se tem da pessoa amada
Mentalmente, Frankl conversava com sua esposa e tinha ali também um refúgio.
Enquanto prisioneiro, Frankl, contraiu o tifo exantemático e para escapar dos
terríveis sintomas como delírios da alta febre, a repugnância por alimentação, o que
por si só constituía grave ameaça ao prisioneiro naquela situação de subnutrição,
ele passava noites em claro. Mentalmente, discursava por horas e foi quando com
rabiscos em escrita estenográfica, começou a reescrever, em minúsculos pedaços
de papel o manuscrito que havia perdido quando da recepção em Auschwitz.

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Imaginando que não mais sairia vivo do campo, já que iria morrer, queria que
ao menos sua morte tivesse sentido. Foi quando decidiu apresentar-se ao serviço
voluntário no setor do tifo exantemático, pois alguma ajuda que pudesse ainda
prestar, como médico, aos seus companheiros enfermos parecia ter mais sentido
que morrer como um trabalhador braçal. Ainda ali observa a despersonalização da
singular e irrepetível. E quando a vida lhe reserva algum sofrimento, também de
enxergar ali uma tarefa a ser cumprida de forma responsável. E na maneira como a
pessoa suporta este sofrimento, existe também uma possibilidade de realização
única e singular e, outra vez, nas palavras de Frankl (1984).

A pessoa que se deu conta dessa responsabilidade em relação à obra que


por ela espera ou perante o ente que a ama e a espera, essa pessoa jamais
conseguirá jogar sua vida fora. Ela sabe do "porquê" de sua existência e por
isso também conseguirá suportar quase tudo.

Com relação à psicologia dos guardas do campo, é dificil entender e por isso
a curiosidade em como seres humanos seriam capazes de infligir tamanho
sofrimento a um seu semelhante. Frankl observou que havia entre os guardas os
sádicos por natureza. E grande parte deles já estava insensibilizada após anos nos
campos. Havia também a seleção negativa feita entre a massa em que aqueles
sujeitos mais brutos eram escolhidos como capos. O autor revela que às vezes as
maiores crueldades vinham justamente destes que também eram prisioneiros como
ele. Por isso não se pode polarizar uma situação, de um lado (mau) os guardas e de
outro (bom) os prisioneiros. Há bondade e maldade em ambos os lados. Sendo
assim, Frankl define o homem como o ser que sempre decide o que ele é. "E o ser
que inventou as câmaras de gás; mas é também aquele ser que entrou na câmara
de gás, ereto, com uma oração nos lábios".
A terceira fase da psicologia do campo de concentração _ após a libertação
é a psicologia do prisioneiro recém-liberto. Os primeiros passos dados para fora dos
campos são dados sem entusiasmo ou comemoração. Arrastam-se se entreolhando
com uma curiosidade no olhar. Demoraram a acreditar que de fato estão libertos. É
que muitas vezes ao longo dos últimos anos foram iludidos e desiludidos, criaram
expectativas tendo sido todas frustradas, o que os faria acreditar que desta vez seria
diferente? Também não apresentaram logo de início o sentimento de felicidade. Há
tanto tempo imersos em profundo sofrimento, despersonificados e mortificados em

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seus mais simples sentimentos, tomados de insensibilidade e apatia desaprenderam
o sentimento de alegria.
Conta o autor que o corpo se desinibe mais facilmente que alma, cedendo a
que tem diante de si, o que fica demonstrado quando, pela primeira vez diante de
comida sem restrições, entram pela noite a comer até não poder mais. Comenta
também sobre aqueles que tendo sido convidados para um café com agricultores
que moravam nas proximidades do campo, falavam desenfreadamente, dando
impressão de estar sob compulsão psicológica, como forma de descarregar nas
palavras a pressão sofrida. E passam-se muitos dias até que se soltem não somente
as línguas, mas também as reações e emoções entre eles (libertos). De si, conta
que em meio a um campo aberto, sozinho, olha para o céu, caindo prostrado de
joelhos ao ouvir o salmo: "Na angústia gritei pelo Senhor e Ele me respondeu no
espaço livre". Tendo por ali, o recomeço de sua vida. Passo a passo, não de outro
modo que entra em sua nova vida e volta a ser pessoa.
Observa que o prisioneiro recém-liberto está ainda exposto a perigos como a
descompressão repentina, o que psicologicamente seria semelhante à doença do
mergulhador. A pessoa subitamente aliviada de enorme pressão psicológica pode
ter sua saúde mental e espiritual prejudicadas. Observou ainda que, principalmente
em pessoas de natureza mais primitiva um comportamento como se ainda estivesse
vivendo sob violência, figurando agora, não mais no pólo passivo, mas no ativo. E
somente aos poucos é que se consegue levar essas pessoas à compreensão de
que mesmo tendo sido alvo de tamanha violência, não em o direito de proceder
desta forma. Aponta que do ponto de vista caracterológico, há ainda duas outras
experiências capazes de colocar em perigo o prisioneiro recém-liberto, quais sejam
a amargura e a decepção que a pessoa vive ao voltar à sua vida antiga, pois nada é
mais como antes, além da reação das pessoas, tão pouco empáticas ao lidar com
elas, incapazes de um acolhimento, a compreensão e reconhecimento do sofrimento
por ele vivido. Houve também a desilusão de não reencontrar em sua antiga casa
seu ente querido esperando por ele, algo ainda mais difícil de superar. Apesar de
acreditarem (os prisioneiros) que nenhuma felicidade neste mundo fosse capaz de
compensar o sofrimento por eles vivido, constaram que também não estavam
preparados para a infelicidade.

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Apesar de tudo isso, porém, nas palavras de Frankl, as experiências do
libertado são coroadas pelo maravilhoso sentimento de que, depois de tudo o que
sofreu, nada mais precisa temer neste mundo, a não ser seu Deus.

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