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FREUD A L ACAN
O que será que será?
Que dá dentro da gente e não devia
Que desacata a gente, que é revelia
Que é feito uma aguardente que não sacia
Que é feito estar doente
FREUD E A HISTERIA
Na época em que cuidou de Dora, Freud tem claro todo este conjunto
de processos. A teoria da sexualidade se encontra num estágio avança-
do de construção (...). Entre os elementos já firmemente estabelecidos,
figuram o conceito de zonas erógenas, a capacidade da libido de se des-
locar tanto de uma área do corpo para outra quanto entre representa-
ções mentais, seu papel como alvo privilegiado da repressão, e outros, a
que vemos Freud recorrer quando interpreta os sintomas da paciente.
(Mezan, 2014, p. 391).
Que o Sr. K. tivera a audácia de lhe fazer uma proposta amorosa, duran-
te uma caminhada depois de um passeio pelo lago. Chamado a pres-
tar contas de seu comportamento ao pai e ao tio da moça quando do
encontro seguinte entre eles, o acusado negou do modo mais enfático
qualquer atitude de sua parte que pudesse ter dado margem a essa
interpretação e começou a lançar suspeitas sobre a moça, que segun-
do soubera pela Sra. K., só mostrava interesse pelos assuntos sexuais
(Freud, 1905/1996, p. 35).
Segundo Freud (1905/1996, p. 52), “nenhum ato do pai parecia
irritá-la tanto quanto sua presteza em tomar a cena do lago como
produto da fantasia dela. Dora ficava fora de si ante a ideia de se
pensar que ela simplesmente imaginara algo naquela ocasião”. A
partir daí, sem meios de explicar o que se passava, tentava espe-
cular buscando o que se escondia entre a cena descrita por Dora
e a descrença do pai. Para Freud:
Era justificável suspeitar de que houvesse algo oculto, pois uma censura
que não acerta o alvo, tampouco ofende em termos duradouros. Por ou-
tro lado, cheguei à conclusão de que o relato de Dora deveria correspon-
der à verdade em todos os aspectos. Mal ela percebera a intenção do Sr.
K., não deixara que ele terminasse de falar, esbofeteara-o no rosto e se
afastara às carreiras. Seu comportamento, depois que ela se foi, deve ter
parecido tão incompreensível para o homem quanto para nós, pois ele
já deveria ter depreendido desde muito antes, por pequenos indícios,
que tinha assegurada a afeição da moça. (Freud, 1905/1996, p. 52).
Cheguei então a uma casa onde eu morava, fui até meu quarto e ali
encontrei uma carta de mamãe. Dizia que, como eu saíra de casa sem
o conhecimento dos pais, ela não quisera escrever-me que papai estava
doente. Agora ele morreu e, se quiser, você pode vir. Fui então para es-
tação (Bahnhof) e perguntei umas cem vezes: Onde fica a estação? Re-
cebia sempre a mesma resposta: Cinco minutos (Freud, 1905/1996, p. 93).
Freud estava muito atento à relação da jovem com as figuras
masculinas – o pai e o Sr. K. A mãe, antes tão desprezada, ago-
ra é a pessoa a quem pede ajuda e que aparece no sonho como
aquela que tem a chave. Não seria a chave do feminino? – uma
vez que ele interpretou, fazendo a ligação do pedido da chave na
língua alemã com relação ao feminino. E a Sra. K.? Tão adorada e
depois da cena do lago desprezada e odiada por ela. Todo o tra-
balho interpretativo para entender os sintomas histéricos de Dora
e a razão da bofetada estava ligado à interpretação de um amor
recalcado pelo pai e pelo Sr. K., e ao desejo de se vingar de ambos
– as mulheres não aparecem na sua interpretação.
Freud concluiu – graças ao material do segundo sonho e do sin-
toma de arrastar o pé – que Dora teria “dado um passo em falso”
na cena do lago, e sofria de arrependimento por ter dado uma
bofetada no Sr. K., pois ainda seguia gostando dele.
O conteúdo da cena: “Sabe, não tenho nada com minha mu-
lher” foi explorado após Dora comunicar seu desejo de parar a
análise. E a jovem ouviu sem concordar com Freud, e também
sem contradizê-lo, como costumava fazer, quando ele disse:
LACAN E A HISTERIA
Onde queres descanso, sou desejo
E onde sou só desejo, queres não
E onde não queres nada, nada falta
(O Quereres, Caetano Veloso)
O quatrilho formado por Dora, seu pai, o Sr. e a Sra. K. tem fun-
ção importante para a jovem, na medida em que ela quer saber o
que seu pai e o Sr. K. amam naquela mulher.
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