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DESCRIÇÃO

A história da Psicologia, os importantes autores e suas contribuições, as principais


abordagens
teóricas e sua aplicação nas diferentes áreas clínicas ou métodos
terapêuticos.

PROPÓSITO
Compreender as diferentes áreas da Psicologia para o conhecimento das teorias e dos
métodos empregados no processo terapêutico na Psicanálise, na Gestalt e na Psicologia
humanista.

OBJETIVOS
MÓDULO 1

Reconhecer a fundação da Psicanálise e o nascimento da


Psicologia clínica

MÓDULO 2

Identificar outros psicanalistas importantes: Jung, Horney e


Adler

MÓDULO 3

Identificar a Gestalt como abordagem da Psicologia

MÓDULO 4

Reconhecer a Psicologia humanista

INTRODUÇÃO
Estamos iniciando uma trajetória que nos levará a alguns dos principais teóricos que
construíram a Psicologia como a conhecemos atualmente. Você verá os impactos dos
conceitos de Sigmund Freud, considerado Pai da Psicanálise, para o tratamento
de pessoas
com transtornos mentais, além de sua influência para uma Psicologia clínica e o
surgimento de
outras abordagens.

Seguindo em frente, você conhecerá três psicanalistas dissidentes que romperam com a
lógica
ortodoxa freudiana para fundar suas próprias abordagens: Carl Gustav Jung, Karen
Horney e
Alfred Adler. Cada um, à sua maneira, apresentou novos olhares sobre as obras
escritas por
Freud.
Por fim, você será apresentado a duas escolas diferentes: a Gestalt e o Humanismo. Ambas
romperam diversos paradigmas clínicos adotados pelos terapeutas ortodoxos, e foram
revolucionárias no panorama científico do século XX.

MÓDULO 1

 Reconhecer a
fundação da psicanálise e o nascimento da psicologia clínica

FREUD: FUNDAÇÃO DA PSICANÁLISE E


NASCIMENTO DA PSICOLOGIA
CLÍNICA
A fundação da Psicanálise está intrinsecamente ligada à busca pela origem da histeria, ou
seja:
pessoas acometidas por problemas nos nervos, que a medicina convencional
não
conseguia
resolver.

Inicialmente, acreditava-se que poderia encontrar uma parte no cérebro responsável pelos
sintomas histéricos. A fisiologia se empenhou durante décadas para encontrar o que mais
tarde seria nomeado por Sigmund Freud, o criador da Psicanálise, de
inconsciente.
Entretanto,
antes de chegar a Freud, precisamos entender Jean-Martin Charcot, o Hospital
de Salpêtrière, o
método indutivo e o longo caminho percorrido pela Psicanálise, até sua
formação como
conhecemos, atualmente.

CHARCOT, LA SALPÊTRIÈRE E A HIPNOSE


La Salpêtrière foi um hospital projetado em Paris, França, para alojar marginais, pobres,
pessoas em situação de rua e qualquer um que pudesse atrapalhar a ordem da alta
sociedade
parisiense. Entretanto, pouco a pouco foi se tornando também o lar de qualquer
um que
padecesse de alguma doença mental, sendo aproximadamente três mil acometidos por
esses
transtornos e cinco mil o número total de internos. Construído no século XVII,
atualmente é
centro hospitalar universitário, que engloba a maioria das especialidades
médicas.

Foto: Vaughan / Wikimedia Commons/ Domínio público.


 Entrada
Mazarin para o Hospital Pitié-Salpêtrière, Paris, França.

AFINAL, O QUE É A HISTERIA?


Inicialmente, acreditava-se que a histeria era uma condição exclusiva de mulheres, pois o
termo
hystérie, em francês, advém do grego ὑστέρα, útero. Entretanto,
ao descobrir-se
que a histeria
vinha do cérebro e não do útero feminino, uma nova gama de contribuições
médicas pôde ser
dada ao tratamento dessa tão controversa doença dos nervos.

Para os conceitos da época, o termo englobava uma série de doenças e transtornos, tais
como:
epilepsia, paralisia de membros, fobias, distúrbios de linguagem, amnésia e afins.

Basicamente, tudo que fugisse à saúde normal do ser humano e que não tivesse explicação
médica/fisiológica acabava entrando no espectro da histeria. Principalmente, se a pessoa
fosse uma mulher, claro. Isso causava uma grande indagação sobre qual a etiologia de
tais
doenças, pois não se encontravam em lugar corpóreo nenhum. O termo tornou-se até
pejorativo, pois passaram a acreditar que tudo não passava de atuação para àquelas
pessoas
receberem atenção.

Após estudar inúmeros casos de histeria, Charcot concluiu que a histeria era proveniente
de um
trauma. Não necessariamente lembrado em detalhes pela pessoa, pois poderia ter
passado por
um extenso período de latência, às vezes, remontando à infância. O médico
passou a usar o
recurso da hipnose, para tentar fazer com que, nesse estado indutivo, a
pessoa lembrasse o
que a teria afligido a ponto de ocasionar um sintoma em seu corpo.

Imagem: André Brouillet / Wikimedia Commons/ Domínio público.


 Uma
lição
clínica na Salpêtrière, de André Brouillet, 1887.

Podemos dizer que o diferencial de Jean-Martin


Charcot foi olhar humanamente para seus
pacientes, em vez
de só observar
fisiologicamente e ignorar o sofrimento de todos aqueles
internados de
Salpêtrière. Sua
técnica foi muito desacreditada por seus colegas de trabalho,
pois para muitos
aquilo
não passava de encenação.

JEAN-MARTIN CHARCOT (1825-1893)

Foi um médico psiquiatra e neurologista francês, que realizou grandes pesquisas e pode
ser considerado o fundador da moderna neurologia. Mais conhecido como Charcot (ou
Dr.
Charcot), esse médico realizou diversas investigações sobre a histeria e sobre o
tratamento dos sintomas por meio do método hipnótico. Fonte: adaptado de Spsicologos
(2017).
SIGMUND FREUD
Médico formado na Universidade de Viena em 1881, especializou-se em Psiquiatria e
conseguiu uma bolsa de estudos em Paris, onde trabalhou e aprendeu com Charcot. A
temporada em Paris foi fundamental para consolidar sua carreira no tratamento dos
transtornos mentais. Em 1886, ao retornar à Viena, começou a clinicar em sua cidade
natal e
seu principal método até então era a sugestão hipnótica.

Foto: Max Halberstadt/Wikimedia Commons/ Domínio público.


 Sigmund
Freud, médico e fundador da Psicanálise,

fotografado por Max Halberstadt,


1921.

Grande parte do advento da Psicanálise é devida à trajetória pessoal de Freud. Sua


história de
vida está indubitavelmente mesclada com os conceitos psicanalíticos. Se não
fossem suas
experiências, muito provavelmente sua reflexão teórica não seria tão
precisa. E era necessário
um olhar aguçado e crítico para enxergar as comprovações de
suas teses até mesmo nas
expressões humanas mais sutis.

TERAPEUTA, MAS AO MESMO TEMPO PACIENTE:


ESSE É
O TERMO QUE DEFINE SIGMUND FREUD.
Em Viena, Freud fez a parceria que mudaria para sempre a história dos transtornos mentais
e,
sobretudo, da histeria. Josef Breuer, médico
e cientista, aliou-se
a Freud e
suas
investigações,
ainda sobre a etiologia da histeria. No tratamento da paciente
Anna O.,
que era atendida por
Breuer, ambos descobriram que os sintomas histéricos de sua
doença
tratavam de questões
mal resolvidas e de repressões sofridas ao longo de sua
vida.

JOSEF BREUER (1842-1925)

Médico e fisiologista austríaco que foi reconhecido por Sigmund Freud e outros como o
principal precursor da Psicanálise. Breuer descobriu, em 1880, que havia aliviado os
sintomas de histeria em uma paciente, Bertha Pappenheim, chamada Anna O., em seu
estudo
de caso, depois que a induziu a recordar experiências desagradáveis do passado
sob
hipnose. Ele concluiu que os sintomas neuróticos resultam de processos
inconscientes e
desaparecerão quando esses processos se tornarem conscientes.

Fonte: adaptado de britannica.com

O CASO DE ANNA O.

Em tal caso, especificamente, a paciente possuía um conjunto de sintomas:

Paralisia com contrações musculares

Inibições

Dificuldade de pensamento

Entretanto, em seu estado de vigília, a paciente não conseguia se lembrar da origem


desses
sintomas.

Já no estado hipnótico, porém, ela relatava a origem deles e o conteúdo reprimido era
expressado; tudo começara com a doença e morte de seu pai. Durante o período da
enfermidade dele, no qual ela era responsável por todos os cuidados, às vezes,
pensamentos
para que ele morresse vinham em sua mente, pois os cuidados eram um fardo
difícil de
sustentar. Esses pensamentos foram reprimidos e transformados em sintoma.

O CASO EMMY VON N. E A ASSOCIAÇÃO LIVRE

O caso Emmy é um interessante episódio na história da Psicanálise. A paciente (FREUD;


BREUER, 2016) se recusava a comer e beber nem que fosse água mineral, evocando dores
gástricas. Sendo forçada a se alimentar, ela acabava rejeitando a hipnose. Tendo
desistido de
hipnotizá-la, Freud anunciou que daria 24 horas para que ela se convencesse
de que suas dores
decorriam apenas dos seus temores.

Aparentemente, a estratégia funcionou. Um dia


depois, Emmy voltou a se alimentar e a ingerir
líquidos, e admite de modo ambíguo que
Freud estava com a razão. Nas palavras de Emmy
(ASSOUN, 1993, p.54): “Acho que elas (as
dores gástricas) provêm de minhas apreensões só
porque o senhor o diz”. O mais
importante a perceber aqui é que ela não declara que a
afirmação era verdadeira, mas
afirma que no dizer de Freud há uma verdade.

Emmy diz sim à interpretação freudiana, confirmando o seu valor de verdade (no
sentido
quase
lógico), mas no seu assentimento é como se ela se colocasse à margem de si mesma.

Em um segundo momento (ASSOUN, 1993), tendo Freud perguntado de quando datavam os


sintomas gástricos, Emmy respondeu que não sabia. Freud tentou novamente a estratégia da
intimidação e deu até o dia seguinte para ela responder. Foi nesse momento que Emmy, em
um
tom ríspido, respondeu que ele não deveria ficar perguntando de onde provinha isso ou
aquilo,
mas sim que a deixasse falar ou contar o que tinha a dizer.

Essa réplica de Emmy permitiu que Freud elaborasse a regra de ouro da psicanálise, ou
seja: a
associação livre. O analista, consequentemente, deve servir de
quadro em branco
para que o
analisando possa pintar o setting como bem entender, falando sobre o
que lhe
vem à mente e
sem o risco das repressões que ocorrem na vida em sociedade.
A FUNÇÃO MAIS NOBRE DO SETTING
CONSISTE NA
CRIAÇÃO DE UM NOVO ESPAÇO ONDE O ANALISANDO
TERÁ A OPORTUNIDADE DE REEXPERIMENTAR
COM SEU
ANALISTA A VIVÊNCIA DE ANTIGA E DECIDIDAMENTE
MARCANTES EXPERIÊNCIAS
EMOCIONAIS
CONFLITUOSAS QUE FORAM MAL COMPREENDIDAS,
ATENDIDAS E SIGNIFICADAS PELOS
PAIS DO PASSADO E,
POR CONSEGUINTE, MAL SOLUCIONADAS PELA CRIANÇA
DE ONTEM, QUE
HABITA A MENTE DO PACIENTE ADULTO
DE HOJE.

(ZIMMERMAN, 1999, p. 302)

AS FASES DO DESENVOLVIMENTO E A EVOLUÇÃO


DA LIBIDO

Outra concepção importante posta à tona por Freud foi a descrição dos estágios da
evolução
da libido. A formação clássica das fases do desenvolvimento psicossexual (oral,
anal, fálica,
latência e genital) causou revolta na comunidade científica, que se
mostrou inflexível e incapaz
de associar que as pulsões humanas existem desde a mais
tenra infância.

Freud usava uma analogia do mito de Édipo-Rei, para explicar a relação forçada de
renúncia da
criança ao seu objeto de desejo, os pais. Com essa ocorrência, a criança
passa a deixar tal lado
pulsional em segundo plano e a pertencer aos parâmetros da ordem
social. A publicação, em
1913, de Totem e Tabu mostrou que o conceito de horror
ao
incesto influencia o inconsciente
do indivíduo por toda sua vida. Podemos considerar,
assim, a adequação ao parâmetro social
como um forte exemplo de repressão que acaba por
marcar o psíquico do indivíduo até mesmo
décadas depois, quando este já é adulto.

Saiba mais sobre o Mito de Édipo-Rei.

CLIQUE AQUI
“Um rapazinho está fadado a amar e a admirar o pai, que lhe parece ser a mais
poderosa,
bondosa e sábia criatura do mundo. O próprio Deus, em última análise, é
apenas uma exaltação
dessa imagem do pai, tal como é representado na mente durante a
mais tenra infância. Cedo,
porém, surge o outro lado da relação emocional. O pai é
identificado como o perturbador
máximo da nossa vida instintiva; torna-se um modelo
não apenas a ser imitado, mas também a
ser eliminado para que possamos tomar o seu
lugar. Daí em diante, os impulsos afetuosos e
hostis para com ele persistem lado a
lado, muitas vezes, até o fim da vida, sem que nenhum
deles seja capaz de anular o
outro. É nessa existência concomitante de sentimentos contrários
que reside o
caráter essencial daquilo que chamamos de ambivalência emocional” (FREUD,
2013, p.
162).

A Antropologia também trata de seus estudos em relação à moral sexual, o


tabu e o desejo
pelo amor dos progenitores. Freud analisa diversas sociedades e como
a lei moral do horror ao
incesto está presente em todas as civilizações, mesmo que a
barreira nem sempre inclua o
triângulo sujeito-mãe-pai, podendo ser transferida para
sujeito-primo e afins. Em sequência,
Freud diz que até mesmo algumas sociedades mais
instintivas, que nunca conheceram os
valores morais do Ocidente, fazem jus à sua
teoria – como alguns povos da Oceania e da
África, por exemplo.

 RESUMINDO

Podemos concluir que a entrada do indivíduo em uma


cultura pressupõe renúncias
impactantes; porém, é o que permite a vida em
sociedade e a própria existência de uma
sociedade humana.

Confira abaixo a tabela com as fases do desenvolvimento:

Estádio Idade Zona erógena Conflito

Estádio 0 – 18
Boca Desmame
Oral meses

Estádio 18 meses
Ânus Controle da defecação
Anal – 3 anos
Estádio Idade Zona erógena Conflito

Estádio 3 anos – 6
Órgãos genitais Complexo de Édipo
Fálico anos

Estádio Centra-se no mundo A interação com o mundo que


6 anos –
de físico e social e não o cerca e aprendizadocom as
11 anos
Latência no corpo frustrações.

Estádio Após a
Órgãos genitais Preocupação com o bem-estar
Genital puberdade
sexual

Fonte: Mário Bruno.


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AS DUAS TÓPICAS FREUDIANAS

Tópica é um termo derivado do grego topos (lugar). Freud utilizou o termo para
definir o
aparelho psíquico em duas etapas essenciais de sua elaboração teórica.

Confira abaixo:

Primeira Tópica

Na primeira concepção tópica, chamada de primeira tópica freudiana (1900-1920), Freud


distingui o inconsciente, o pré-consciente e o consciente.

INCONSCIENTE
PRÉ-CONSCIENTE
CONSCIENTE

INCONSCIENTE
Para Freud, o inconsciente é constituído por conteúdos recalcados aos quais foi
recusado o
acesso aos sistemas pré-consciente e consciente. É indissoluvelmente uma
noção tópica e
dinâmica que brotou da experiência do tratamento. Este mostrou que o
psiquismo não é
redutível ao consciente e que certos conteúdos só
se tornam
acessíveis à consciência depois
de superadas certas resistências. O que Freud
percebeu (LAPLANCHE; PONTALIS, 1983) é que
a vida psíquica estava cheia de
pensamentos eficientes, embora inconscientes, e que era
destes que emanavam os
sintomas.

PRÉ-CONSCIENTE

Em A Interpretação dos Sonhos (LAPLANCHE; PONTALIS, 1983), Freud nomeia de


pré-
consciente o sistema que está entre o inconsciente e a consciência, separado
pela censura que
procura barrar aos conteúdos inconscientes o caminho para o
pré-consciente. Há uma segunda
censura que deforma menos do que seleciona os
conteúdos que chegam à consciência. A
função do pré-consciente é evitar que
preocupações perturbadoras cheguem à consciência.

CONSCIENTE

Para Freud, a consciência é um dado da experiência individual que se oferece à


intuição
imediata. A consciência fornece para a psicanálise não mais do que uma
versão lacunar dos
nossos processos psíquicos, pois são na maioria inconscientes

Segunda Tópica

Já na segunda tópica (1920-1939), Freud fez intervir três instâncias ou três lugares:
id
(isso),
ego (eu) e superego (supereu).

ID (ISSO)
SUPEREGO (SUPEREU)
EGO (EU)

ID (ISSO)
A expressão Es (id) Freud foi buscar em Nietzsche e Groddeck, e passou a
ocupar um
lugar
equivalente ao sistema inconsciente na primeira tópica. A principal
diferença
é que na segunda
tópica, o ego e suas operações defensivas são
inconscientes, sendo
o id o que abrange os
conteúdos precedentes abrangidos pelo inconsciente,
mas não o
conjunto do psiquismo
inconsciente.

SUPEREGO (SUPEREU)

O termo Über-Ich (superego) põe em evidência uma instância que se separou do


ego e
parece
dominá-lo. É uma parte do ego que se opõe a ele e o julga de maneira crítica.
Essa noção
(LAPLANCHE; PONTALIS, 1983) aparece na segunda tópica como uma instância
que encarna
uma lei e proíbe a sua transgressão.

EGO (EU)

O ego representa o polo defensivo da personalidade no conflito neurótico; ele expõe


mecanismos de defesa motivados pela percepção de afetos desagradáveis (sinais de
angústia). Do ponto de vista da economia da libido, o ego surge como um fator de
ligação dos
processos psíquicos.

Para a teoria psicanalítica, o ego aparece de duas maneiras diferentes: como aparelho
que
surge do contato do id com a realidade externa e como produto de
identificações
na formação,
no âmago da pessoa, como objeto de amor investido pelo id. É o
que
percebemos no quadro a
seguir:

GRODDECK

“Georg Walther Groddeck (1866-1934), por influência do pai, que também era médico, e
por
contingências de sua vida infantil, seguiria a carreira médica, especializando-se no
tratamento de doenças crônicas. Em 1900, funda um sanatório na cidade de Baden-
Baden,
onde trabalharia até o fim da vida. Groddeck fica relativamente conhecido no meio
médico
e psicanalítico a partir do final da década de 1910, quando inicia sua
correspondência
com Sigmund Freud e adere ao movimento psicanalítico” (SANTOS;
MARTINS, 2013).

ID EGO SUPEREGO

Herdeiro do Complexo de
Pulsional Formado a partir do Id
Édipo

Regido pelo princípio do Regido pelo princípio da Regido pelo princípio do


prazer realidade dever

Amoral Moral, pragmático Hipermoral

Fonte: Mário Bruno.


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AS TÓPICAS FREUDIANAS
Vamos aprofundar um pouco mais sobre a Primeira e Segunda
Tópicas de Freud.

VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. UM DOS MARCOS NA HISTÓRIA DA PSICOLOGIA FOI O CASO DA PACIENTE
ATENDIDA POR SIGMUND FREUD, EMMY VON N. ESTA PACIENTE SE
RECUSAVA A COMER OU ATÉ MESMO BEBER ÁGUA E POSSUÍA GRANDE
RESISTÊNCIA AO TRATAMENTO QUE FREUD PROPUNHA A ELA, SEMPRE
INDAGANDO COM QUESTÕES E, COM ISSO, DEIXANDO-A IRRITADA. EM
DETERMINADO MOMENTO DO TRATAMENTO, EMMY DIZ A FREUD
GROSSEIRAMENTE QUE A DEIXE FALAR APENAS O QUE TEM A DIZER. TAL
FATO MUDOU PARA SEMPRE A HISTÓRIA DA PSICOLOGIA E DA
PSICANÁLISE, POIS ORIGINOU O MÉTODO DE TRATAMENTO CONHECIDO
COMO:

A) Hipnose

B) Foraclusão livre

C) Método catártico

D) Associação livre

E) Método ID

2. LEIA O TEXTO A SEGUIR E PREENCHA AS LACUNAS. DEPOIS, ASSINALE A


ALTERNATIVA QUE REPRESENTA AS PALAVRAS E ORDENS CORRETAS.

NASCIDO EM VIENA EM 1856 _______________ SE FORMOU EM MEDICINA NA


UNIVERSIDADE DE SUA CIDADE NATAL E ESPECIALIZOU-SE EM PSIQUIATRIA.
POR DIFICULDADES FINANCEIRAS, NÃO PÔDE SE DEDICAR
EXCLUSIVAMENTE A VIDA DE PESQUISADOR, TENDO, ENTÃO, COMEÇADO A
CLINICAR PESSOAS QUE SOFRIAM DE PROBLEMAS NERVOSOS. OBTEVE, AO
FINAL DE SUA RESIDÊNCIA MÉDICA, UMA BOLSA DE ESTUDOS PARA PARIS,
ONDE TRABALHOU NO _____________________ JUNTAMENTE A SEU MENTOR,
_____________. APÓS A TEMPORADA NA CAPITAL FRANCESA, ________________
RETORNOU À CAPITAL AUSTRÍACA E PASSOU A CLINICAR ATRAVÉS DO/DA
___________________, JUNTAMENTE A _______________.
A) Sigmund Freud – Hospital parisiense – Josef Breuer – Sigmund Freud – Interpretação dos
sonhos – Jean Charcot

B) Sigmund Freud – Hospital da Salpêtrière – Jean Charcot – Sigmund Freud – Método


hipnótico – Josef Breuer

C) Jean Charcot – Hospital da Salpêtrière – Sigmund Freud – Jean Charcot – Associação livre
– Josef Breuer

D) Sigmund Freud – Hospital Parisiense – Jean Charcot – Sigmund Freud – Interpretação dos
sonhos – Josef Breuer

E) Sigmund Freud – Hospital da Salpêtrière – Jean Charcot – Josef Breuer – Método hipnótico
– Josef Breuer

GABARITO

1. Um dos marcos na história da Psicologia foi o caso da paciente atendida por Sigmund
Freud, Emmy Von N. Esta paciente se recusava a comer ou até mesmo beber água e possuía
grande resistência ao tratamento que Freud propunha a ela, sempre indagando com questões
e, com isso, deixando-a irritada. Em determinado momento do tratamento, Emmy diz a Freud
grosseiramente que a deixe falar apenas o que tem a dizer. Tal fato mudou para sempre a
história da Psicologia e da Psicanálise, pois originou o método de tratamento conhecido
como:

A alternativa "D " está correta.

O caso de Emmy Von N. foi responsável para Freud perceber que a Psicanálise deveria se tratar
de uma cura pela fala. Para isso acontecer, o médico passou a adotar métodos cada vez mais
eficientes para o sujeito se sentir livre para falar qualquer coisa que viesse a mente, como o uso
do divã, por exemplo.

2. Leia o texto a seguir e preencha as lacunas. Depois, assinale a alternativa que representa as
palavras e ordens corretas.

Nascido em Viena em 1856 _______________ se formou em Medicina na universidade de sua


cidade natal e especializou-se em Psiquiatria. Por dificuldades financeiras, não pôde se
dedicar exclusivamente a vida de pesquisador, tendo, então, começado a clinicar pessoas que
sofriam de problemas nervosos. Obteve, ao final de sua residência médica, uma bolsa de
estudos para Paris, onde trabalhou no _____________________ juntamente a seu mentor,
_____________. Após a temporada na capital francesa, ________________ retornou à capital
austríaca e passou a clinicar através do/da ___________________, juntamente a _______________.

A alternativa "B " está correta.

Sigmund Freud obteve uma bolsa de estudos no Hospital da Salpêtrière, com o mentor e
hipnólogo Jean Charcot. Após uma temporada na França, retornou à Viena e passou a clinicar
fazendo uso do método hipnótico, com Josef Breuer.

MÓDULO 2

 Identificar
outros psicanalistas importantes: Jung, Horney e Adler

CARL GUSTAV JUNG


Carl Gustav Jung (1875-1961) foi um psiquiatra e terapeuta suíço, inicialmente conhecido
como o mais promissor discípulo de Freud e a quem o Pai da Psicanálise desejava
deixar
seu
legado em mãos.

Imagem: Sarawut Itsaranuwut / Shutterstock.com.


 Carl Gustav
Jung foi um psiquiatra e psicanalista

suíço que fundou a psicologia


analítica.

Em 1907, Jung visitou Sigmund Freud em Viena e a aliança entre os dois começou incluindo
uma viagem aos Estados Unidos em 1909 para levar a Psicanálise às Américas e para fundar
a
Associação Psicanalítica Internacional, da qual Jung foi presidente. Entretanto, após
diversos
anos de parceria, a colaboração de ambos começou a romper por divergências
extremas
quanto ao caráter da libido:

Freud ligava a libido à


sexualidade humana.


Jung enxergava na libido a energia
corpórea como um
todo.

A ruptura definitiva entre os dois ocorreu em 1912, quando Jung publicou seus livros
Psicologia
do Inconsciente e Transformações e Símbolos da Libido. Com
essa dissidência,
Jung criou sua
própria abordagem: a Psicologia Analítica.

Vamos conhecer alguns dos principais conceitos dessa teoria. Para Jung, uma concepção
plena da personalidade humana (HALL; NORDBY, 2020) fornece respostas para três séries de
questões:

QUESTÃO ESTRUTURAL
QUESTÃO DINÂMICA
QUESTÃO DESENVOLVIMENTISTA

QUESTÃO ESTRUTURAL

Quais os constituintes que compõem a estrutura da personalidade e de que modos esses


componentes interagem uns com os outros?

QUESTÃO DINÂMICA

Quais as fontes de energia que ativam a personalidade e de que modo essa energia se
distribui
pelos diversos componentes?

QUESTÃO DESENVOLVIMENTISTA

Como se origina a personalidade e que mudanças nela ocorrem ao longo da existência do


indivíduo?

PERSONALIDADE E SUA ESTRUTURA NA


PSICOLOGIA ANALÍTICA

A psique

De acordo com Jung, a Psicologia não é Biologia nem Fisiologia, mas um conhecimento da
psique. A psique é a personalidade como um todo; e, como um todo, é composta de sistemas
e
níveis interatuantes. São eles: a consciência, o inconsciente
pessoal e o inconsciente
coletivo.
Veja abaixo cada um deles:
CONSCIÊNCIA

Imagem: Shutterstock.com.

A consciência aparece cedo na vida e cresce diariamente por força da aplicação das quatro
funções mentais: pensamento, sentimento,
sensação e intuição. Fora essas quatro funções,
existem as atitudes que orientam a mente consciente em relação ao mundo externo ou
interno:
atitude extrovertida e atitude introvertida.
Existe também o processo por meio
do qual o
indivíduo busca conhecer tão completamente quanto possível a si mesmo. Jung
denomina
esse processo de individuação.

Quando falamos em individualização, é importante destacar o ego. Veja


abaixo:

EGO
É denominado de ego a organização da mente consciente composta de
percepções
conscientes, recordações, pensamentos e sentimentos. O ego é seletivo
e filtra as experiências
que temos: a maioria não se torna consciente.

O ego fornece identidade de continuidade em vista de seleção e de eliminação do


material
psíquico. Nesse sentido, a individuação e o ego estão intimamente
interligados. Fora isso, pelo
caráter seletivo do ego, lembranças e percepções
que provoquem angústia estão sujeitas a não
se tornar conscientes.

INCONSCIENTE PESSOAL

Imagem: Shutterstock.com.

Nada do que foi experimentado desaparece da psique; fica armazenado no que Jung
denominou
de inconsciente pessoal. Um nível da psique contíguo ao ego. Nesse receptáculo,
ficam
todas as atividades ou conteúdos que não se harmonizam com a individuação ou função
consciente. Os conteúdos do inconsciente pessoal têm fácil acesso à consciência, quando
surge tal necessidade.

Sobre inconsciente pessoal, é importante entender sobre complexos. Confira:

COMPLEXOS
Jung denominou de complexos a reunião dos conteúdos para formar
um aglomerado ou
constelação. Ele chegou à primeira comprovação da existência dos complexos com o
teste de
associação das palavras. Eles formam quase uma personalidade separada
na personalidade
total; são autônomos e possuem uma força propulsora própria.
Certos complexos podem ser
compreendidos em um jargão atual como
manias. A
maioria dos complexos tem a ver de modo
acentuado com a condição neurótica do
paciente. Influenciado por Freud, Jung considerava
que os complexos têm origem
nas experiências traumáticas da primeira infância.

INCONSCIENTE COLETIVO

Imagem: Shutterstock.com.

O conceito de inconsciente coletivo foi a parte da pesquisa de Jung que mais o projetou
no
mundo científico. Desde 1860, a Psicologia científica havia surgido como disciplina
independente da Filosofia e da Fisiologia e os estudos sobre o inconsciente, em
Psicologia, já
haviam sido iniciados por Freud na década de 1890. A consciência e o
inconsciente eram tidos
como originados da experiência. Por outro lado, Jung, rompendo
com os determinismos
relativos à mente demostrou que a evolução e a hereditariedade dão
linhas de ação para a
psique. Nesse sentido, a descoberta do inconsciente coletivo foi
um marco decisivo para a
história da Psicologia. Para Jung, a psique deve ser pensada
dentro do processo evolutivo: a
mente do homem é prefigurada pela evolução da espécie.

Por isso, nos últimos 40 anos, Jung se dedicou ao estudo dos arquétipos, escrevendo sobre
eles. Veja:

ARQUÉTIPOS
Existem tantos arquétipos quanto situações típicas na vida. Uma
repetição infinita gravou
essas experiências em nossa constituição psíquica,
não sob a forma de imagens saturadas de
conteúdos, mas somente como
formas
sem conteúdo.

Alguns arquétipos têm enorme importância na formação de nossa


personalidade e de nosso
comportamento, são eles: persona, sombra,
anima e
animus, e o self. Os arquétipos são
universais; todos
herdamos as imagens
arquetípicas básicas.

Persona

Refere-se ao que é esperado socialmente do indivíduo e como este


deseja ser
visto pelo outro.
É a máscara social utilizada em público para impor uma
imagem agradável de nós mesmos.
Ainda que o sujeito diga que não possui
nenhuma máscara ou persona, somos obrigados a
adotá-las nas diferentes
esferas da vida, seja na vida profissional ou até mesmo familiar,
representando diferentes papéis. O resultado de uma persona inflada é a
sobreposição de uma
vida pautada no parecer em vez de
ser.

Sombra

É o arquétipo que se desenvolve em oposição à persona. Nós o


escondemos em
relação aos
outros, mas também a nós mesmos. É também tudo que se encontra
no inconsciente,
manifestando-se, muitas vezes, de forma instintiva e
emocional, no qual atribuímos ao outro
nossos defeitos como mecanismo de
defesa para, assim, não encarar as falhas que residem
em nossa sombra.

Anima/Animus

Para Jung, temos uma minoria de características do sexo oposto


que habita
nosso psiquismo,
mesmo que seja na forma de um ideal ao qual desejamos. Ou
seja: em toda mulher há a
imagem de um homem ideal e em todo homem há a
imagem de uma mulher ideal. Tais
arquétipos vão se reproduzindo ao longo da
vida em diferentes objetos e, muitas vezes, podem
ser fonte de decepção,
tendo em vista que são meras projeções e não necessariamente a
realidade
concreta.

Self

É o principal arquétipo descrito pelo teórico; é o símbolo da


ordem. Segundo
Jung, o self é a
soma de tudo que somos agora, de tudo que já fomos
e de
tudo que poderemos ser. É o ponto
de nossa personalidade da direção da
autorrealização e da totalidade. Ao sermos honestos
conosco e ao propor a
mudar nossas realidades, o ego pode encontrar a força interior
necessária
para se unir ao self e consequentemente atingir a consciência plena
de tudo
aquilo
que estava nas sombras.

DINÂMICA DA PERSONALIDADE

Na abordagem analítica, a personalidade (tratado por Jung como psique) é como um sistema
unitário em si mesmo, relativamente fechado, com uma energia mais ou menos
autocomandada, distinta de qualquer outro sistema de energia.

A psique abrange todos os pensamentos, sentimentos


e comportamentos, tanto os
conscientes como os inconscientes, o que possibilita a
adaptação do sujeito ao ambiente
social e físico.
Consiste em vários sistemas isolados, mas que atuam uns sobre os outros de forma
dinâmica.
Enquanto afetado por energias externas e internas, o sistema psíquico se
mantém em estado
de mudança contínua e nunca pode atingir um estado perfeito de
equilíbrio; apenas lhe é dado
uma estabilidade relativa. Quanto aos estímulos recebidos,
o que importa são os resultados
que podem provocar.

ENERGIA PSÍQUICA

A energia graças a qual se efetiva o trabalho da personalidade é chamada de energia


psíquica.
Jung também a denominou de libido, mas não reduz a libido à energia sexual.

SÃO AS EXPERIÊNCIAS CONSUMIDAS PELO


INDIVÍDUO
QUE
SE TRANSFORMAM EM ENERGIA PSÍQUICA.

Jung considerava impossível estabelecer uma equivalência precisa entre energia física e
energia psíquica, mas acreditava em uma espécie de ação recíproca entre esses dois
sistemas.

A EXPRESSÃO ENERGIA PSÍQUICA VEM SENDO USADA



DESDE MUITO TEMPO. A DIFERENCIAÇÃO ENTRE
ENERGIA E FORÇA É CONCEITUALMENTE
NECESSÁRIA,
POIS A ENERGIA É, PROPRIAMENTE FALANDO, UM
CONCEITO QUE NÃO EXISTE
OBJETIVAMENTE NO
FENÔMENO COMO TAL, MAS SE ACHA PRESENTE NO
FUNDAMENTO DA
EXPERIÊNCIA ESPECÍFICA. EM
OUTRAS PALAVRAS: NA EXPERIÊNCIA, A ENERGIA É
SEMPRE
ESPECÍFICA, MANIFESTADA NO MOMENTO
COMO MOVIMENTO E FORÇA; VIRTUALMENTE É
SITUAÇÃO,
É CONDIÇÃO. QUANDO EM ATO, A ENERGIA
PSÍQUICA SE MANIFESTA NOS FENÔMENOS DINÂMICOS
DA ALMA, TAIS COMO AS TENDÊNCIAS, OS DESVIOS, O
QUERER, OS AFETOS, A ATUAÇÃO, A
PRODUÇÃO DE
TRABALHO ETC. (QUE SÃO JUSTAMENTE FORÇAS
PSÍQUICAS).

(JUNG, 2002, p.12)

VALORES PSÍQUICOS

O valor é uma medida da quantidade de energia consagrada a um elemento psíquico


particular,
ou seja, são avaliações de quantidade energética (energia psíquica). Como
exemplo, podemos
citar a beleza e o poder, enquanto elementos psíquicos. Determinada
pessoa pode atribuir alto
(ou baixo) valor em relação a esses elementos, sendo possível
comparar nossos valores
psíquicos com os outros. Importante destacar que, como elemento
na dinâmica da
personalidade, envolve tanto aspectos conscientes quanto inconscientes.

A psicodinâmica diz respeito ao estudo da distribuição da energia pelas estruturas da


psique e
à transferência da energia de uma estrutura para outra. Em termos junguianos, a
psicodinâmica
vale-se de dois princípios extraídos da Física: o princípio de
equivalência e o princípio de
entropia.

PRINCÍPIO DE EQUIVALÊNCIA
PRINCÍPIO DE ENTROPIA

PRINCÍPIO DE EQUIVALÊNCIA

De acordo com o princípio de equivalência, não há perda de energia na psique. Segundo


a
primeira lei da termodinâmica, ou lei da conservação de energia, Jung afirma que
se uma
quantidade de energia desaparecer de um determinado elemento psíquico, igual
quantidade de
energia aparecerá em outro elemento psíquico.

PRINCÍPIO DE ENTROPIA

De acordo com Jung, o princípio de equivalência descreve o intercâmbio de energia no


interior
de um sistema, mas não explica a direção em que a energia flui. Na Física,
a direção para qual a
energia flui é explicada pela segunda lei da termodinâmica, ou
princípio de entropia. Em termos
da psique, a distribuição da energia visa a
obtenção de equilíbrio em todas as estruturas
(JUNG, 2002, p.58-59).

DESENVOLVIMENTO DA PERSONALIDADE

Tendo como alicerce a sua vasta experiência clínica, Jung apresentou conceitos básicos
referentes ao desenvolvimento da personalidade. Vejamos um pouco sobre isso:

INDIVIDUAÇÃO

No início da vida, o indivíduo começa em um estado de totalidade


indiferenciada. O
desenvolvimento o conduz a uma personalidade diferenciada,
unificada e equilibrada, embora
essas metas raramente sejam atingidas por
completo. De qualquer modo, a meta é sempre
atingir maior individuação que
se diferencie dos outros e se diferencie dentro de si mesmo,
indo de uma
estrutura mais simples em direção a uma estrutura cada vez mais complexa.
Plenamente individualizado, o ego passa a captar de modo mais tênue e mais
profundo o
significado dos fenômenos objetivos.

TRANSCENDÊNCIA E INTEGRAÇÃO
A integração da personalidade é um dos temas dominantes na Psicologia
junguiana. A
integração é a individuação de todos os aspectos da
personalidade. Porém, não pode ser
pensada sem levarmos em consideração a
função transcendente. Esta é dotada da capacidade
de unir todas as
tendências contrárias da personalidade e de trabalhar para que se atinja a
meta da totalidade. Sendo assim, a função transcendente é um instrumento da
realização da
unidade ou arquétipo do self. Ela é a produção e
desdobramento
da totalidade potencial
original.

KAREN HORNEY
Karen Horney (1885-1952) foi uma psicanalista prussiana que questionou diversas das
perspectivas tradicionais freudianas. Inicialmente, Horney e suas ideias se alinhavam à
perspectiva psicanalista ortodoxa; entretanto, a teórica levava em consideração os
fatores
sociais, que considerava tão importantes quanto as experiências infantis.

Foto: İsmail0747/Wikimedia Commons, CC BY-SA 4.0.


 Karen
Horney.

Segundo Karen, a Psicanálise deveria ir além das


fases do desenvolvimento e considerar as
influências culturais na formação da
personalidade. Em sua teoria, o ser humano não é
orientado apenas pelo princípio do
prazer, mas também por dois outros princípios: a segurança
e a
satisfação.

Para ela, as neuroses resultam das tentativas de nos encontrar em meio à


sociedade. E a
soma
de todas as primeiras experiências do ser humano faz emergir sua personalidade. No
início da
vida, portanto, todos temos potenciais, mas precisamos de um ambiente adequado
para
desenvolvê-los. A base primária do desenvolvimento pode ser saudável ou neurótica,
depende
da influência cultural e ambiental.

UMA MUDANÇA DE ÊNFASE TEVE LUGAR NO CONCEITO


PSICANALÍTICO DE NEUROSE. ORIGINALMENTE, O
INTERESSE CENTRALIZAVA-SE NO QUADRO
SINTOMÁTICO DRAMÁTICO, ATUALMENTE DÁ-SE CONTA
CADA VEZ MAIS DE QUE A REAL FONTE
DESSAS
DESORDENS PSÍQUICAS REPOUSA EM DISTÚRBIOS DO
CARÁTER [...]. ÀS MENTES ABERTAS
À IMPORTÂNCIA DE
IMPLICAÇÕES CULTURAIS, ELAS APONTAM PARA A
QUESTÃO SOBRE “SE” E “EM
QUE MEDIDA” AS NEUROSES
SÃO MOLDADAS POR PROCESSOS CULTURAIS,
ESSENCIALMENTE DA
MESMA MANEIRA QUE A
FORMAÇÃO DO CARÁTER “NORMAL” É DETERMINADA
POR ESSAS
INFLUÊNCIAS. E, CASO ISSO SEJA
VERDADEIRO, O QUANTO TAL CONCEITO NECESSITARIA
DE
CERTAS MODIFICAÇÕES NA VISÃO FREUDIANA SOBRE
A RELAÇÃO ENTRE CULTURA E
NEUROSE.

(HORNEY, 2007)
Sendo assim, caso não se tenha tal ambiente de potencialidades, as influências adversas e
externas podem admitir neuroses.

Duas das mais primitivas dessas influências são a


inabilidade e a má
vontade dos pais de
oferecer amor às crianças, por causa de suas
próprias neuroses.
Um ambiente com pais
autoritários, negligentes, superprotetores e afins, faz com que
os filhos desenvolvam um
sentimento de hostilidade básica. Entretanto, tal
hostilidade não é expressa pela raiva, mas sim
pela repressão de seus sentimentos,
levando em consideração uma insegurança que se
manifesta ao longo da vida.

UMA PSICANÁLISE FEMINISTA

Outro aspecto importante de sua carreira, é que por vezes ela é incluída como parte de um
movimento neopsicanalítico, que questiona a importância que Freud atribui ao pênis e
discorda
sobre as diferenças entre o sexo biológico da forma como Sigmund propôs.

A PARTIR DE UMA PERSPECTIVA DA


PSICOLOGIA
FEMINISTA, A AUTORA ENFATIZA QUE AS DIFERENÇAS
ENTRE HOMENS E MULHERES SÃO CULTURAIS E
NÃO
MERAMENTE BIOLÓGICAS.

Na contramão do enaltecimento fálico, Horney afirma que os homens, com a incapacidade de


engravidar e dar à luz, tentam, como forma de compensação, se voltar para avanços em
trabalhos externos.

Na obra Gender and Envy (Gênero e Inveja), da autora Nancy Burke,


Horney fala sobre a
obviedade do enaltecimento fálico que ocorre no meio psicanalítico, dizendo que isso se
deve à
sua criação ter sido feita por um homem. Pois, mesmo que Sigmund Freud fosse um
gênio, ele
ainda assim continuava sendo homem; e seu trabalho foi perpetuado, na época,
majoritariamente por outros homens, detentores da erudição.
ALFRED ADLER
Alfred Adler (1870-1937), psicanalista austríaco, fez parte do primeiro círculo
psicanalítico da
história, tendo sido convidado pelo próprio Freud para fazer parte,
mesmo sendo 14 anos mais
jovem do que o Pai da Psicanálise. Tais reuniões
começaram em
1902 e serviram
posteriormente para delinear todas as diversas sociedades psicanalíticas
que surgiriam ao
redor do mundo.

Foto: Isidoricaaa7/Wikimedia Commons, CC BY-SA 4.0.


 Alfred
Adler.

No entanto, em 1911, o teórico deixou a Sociedade Psicanalítica Vienense por divergências


sobre concepções teóricas; Adler não aceitava a importância do papel do recalque e da
libido
no funcionamento psíquico. Sua ruptura com Freud não ocorreu de maneira amigável,
sobretudo, por Adler acrescentar novas ideias ao meio psicanalítico e criar sua própria
teoria,
chamada Psicologia Individual. Tal separação foi a primeira
cisão importante do
movimento
psicanalítico; fundou um grupo chamado Sociedade para a Pesquisa
Psicanalítica
Livre.

Sua teoria conciliava a influência do ambiente social com o consciente. Um dos pilares de
sua
pesquisa era sobre autoestima e como esta se desenvolve perante o mundo.
PARA ELE, SENTIR-SE INFERIOR É UMA
EXPERIÊNCIA
HUMANA UNIVERSAL, POIS RELACIONA-SE COM A
INFÂNCIA.

Segundo o autor, crianças sempre se sentem inferiores por estarem rodeadas de pessoas
mais
fortes e que obtêm poder sobre elas. Esse sentimento pode acompanhar o sujeito pelo
resto da
vida.

Como estudo de caso, Adler utilizou a história de Theodore Roosevelt, que era um jovem
acanhado e doente até a adolescência e que, depois, passando por intensas
transformações,
chegou a ser o presidente mais jovem dos Estados Unidos, em 1901.

O SELF CRIATIVO E A PSICOTERAPIA

Adler desenvolve o conceito de poder criativo do self. O


teórico austríaco propôs que,
apesar
da hereditariedade e da experiência, o ser humano faz sua própria personalidade
lapidando o
material bruto que lhe foi dado biologicamente e ambientalmente, em um
processo de criação
de si.

Tal criação ocorre dentro e fora do


setting
terapêutico, onde o terapeuta deve conduzir o
paciente a perceber seu estilo de vida e a
orientá-lo e reeducá-lo para uma melhor situação na
vida real, sem conflitar
dolorosamente qualquer aspecto inconsciente.

Por fim, um aspecto revolucionário do método de Adler é que a relação entre terapeuta e
paciente passou a ser igualitária, face a face e empática. Esse fator influenciou uma
série de
teóricos, como por exemplo Karen Horney, Abraham Maslow, Carl Rogers e muitos
outros.

UMA OUTRA PSICANÁLISE


Quais os principais conceitos psicanalíticos posteriores
romperam com o pensamento de
Freud?
VERIFICANDO O APRENDIZADO

1. CARL GUSTAV JUNG (1875-1961), RENOMADO PSICOTERAPEUTA SUÍÇO,


INICIALMENTE ERA VISTO COMO O MAIOR DISCÍPULO FREUDIANO E O
PSICANALISTA QUE CARREGARIA SEU LEGADO. OS DOIS TIVERAM UMA
PARCERIA DE PESQUISAS QUE DUROU ANOS E RESULTOU EM DIVERSOS
TRABALHOS IMPRESCINDÍVEIS PARA A HISTÓRIA DA PSICANÁLISE.
ENTRETANTO, JUNG NÃO CONCORDAVA COM UM DOS PRINCIPAIS
CONCEITOS FREUDIANOS, O QUE CAUSOU UMA RUPTURA NESSA ALIANÇA.
ESSE CONCEITO ERA O/A:

A) Superego

B) Instinto

C) Libido

D) Pulsão

E) Id

2. KAREN HORNEY (1885-1952) FOI UMA PSICANALISTA PRUSSIANA QUE


QUESTIONOU DIVERSOS CONCEITOS DE SIGMUND FREUD (1856-1939). UMA
DE SUAS PRINCIPAIS COLABORAÇÕES FOI A RESPEITO DO PAPEL DA
MULHER NA PSICANÁLISE. A PARTIR DE SEUS CONHECIMENTOS SOBRE
HORNEY, ANALISE AS AFIRMAÇÕES A SEGUIR E DEPOIS MARQUE A
ALTERNATIVA CORRETA:

I. HORNEY ACREDITAVA NA INFERIORIDADE DA MULHER MARCADA NO REAL


DEVIDO À AUSÊNCIA DE PÊNIS, FATO QUE EXEMPLIFICA A HISTERIA COMO
UM FENÔMENO FEMININO.

II. HORNEY QUESTIONAVA A IMPORTÂNCIA QUE FREUD DAVA AO PÊNIS NO


DESENVOLVIMENTO PSÍQUICO, CRIANDO UMA TEORIA FEMINISTA QUE IA NA
CONTRAMÃO DO ENALTECIMENTO FÁLICO.

III. HORNEY AFIRMAVA A OBVIEDADE DO ENALTECIMENTO FÁLICO NA


PSICANÁLISE, TENDO EM VISTA QUE TODA A CRIAÇÃO DA TEORIA FOI FEITA
POR HOMENS.

IV. HORNEY AFIRMAVA QUE AS MULHERES ENGRAVIDAVAM COMO FORMA


DE COMPENSAÇÃO FÁLICA NA SOCIEDADE, MOSTRANDO QUE O CORPO
BIOLÓGICO FEMININO TAMBÉM ERA FONTE DE PODERIO.

V. HORNEY AFIRMAVA QUE OS HOMENS, COM A INCAPACIDADE DE


ENGRAVIDAR E DAR À LUZ, TENTAM COMO FORMA DE COMPENSAÇÃO SE
VOLTAR PARA AVANÇOS EXTERNOS.

A) I, II e IV.

B) III e IV.

C) III e V.

D) II, III e V.

E) I e IV.

GABARITO

1. Carl Gustav Jung (1875-1961), renomado psicoterapeuta suíço, inicialmente era visto como
o maior discípulo freudiano e o psicanalista que carregaria seu legado. Os dois tiveram uma
parceria de pesquisas que durou anos e resultou em diversos trabalhos imprescindíveis para a
história da Psicanálise. Entretanto, Jung não concordava com um dos principais conceitos
freudianos, o que causou uma ruptura nessa aliança. Esse conceito era o/a:

A alternativa "C " está correta.

Enquanto Freud ligava a libido “apenas” à sexualidade humana, Jung a considerava uma
energia corpórea como um todo, valendo-se de diversos impulsos e forças psíquicas.

2. Karen Horney (1885-1952) foi uma psicanalista prussiana que questionou diversos
conceitos de Sigmund Freud (1856-1939). Uma de suas principais colaborações foi a respeito
do papel da mulher na Psicanálise. A partir de seus conhecimentos sobre Horney, analise as
afirmações a seguir e depois marque a alternativa correta:

I. Horney acreditava na inferioridade da mulher marcada no real devido à ausência de pênis,


fato que exemplifica a histeria como um fenômeno feminino.

II. Horney questionava a importância que Freud dava ao pênis no desenvolvimento psíquico,
criando uma teoria feminista que ia na contramão do enaltecimento fálico.

III. Horney afirmava a obviedade do enaltecimento fálico na psicanálise, tendo em vista que
toda a criação da teoria foi feita por homens.

IV. Horney afirmava que as mulheres engravidavam como forma de compensação fálica na
sociedade, mostrando que o corpo biológico feminino também era fonte de poderio.

V. Horney afirmava que os homens, com a incapacidade de engravidar e dar à luz, tentam
como forma de compensação se voltar para avanços externos.

A alternativa "D " está correta.

Karen Horney criou uma teoria psicanalítica feminista. A teórica, mesmo considerando
Sigmund Freud um gênio e seguindo a Psicanálise, afirmava que ele continuava a ser homem, o
que explicava diversos aspectos de seu trabalho, sobretudo o enaltecimento fálico.
MÓDULO 3

 Identificar a
gestalt como abordagem da psicologia

IMAGENS GESTÁLTICAS
Você já deve ter se deparado com imagens que desafiam nossa percepção. Neste módulo,
vamos compreender as diferentes percepções com as quais a nossa mente é capaz de lidar.

Para entender melhor, confira as imagens abaixo.

Imagem: Alan De Smet/Wikimedia Domínio Público.

VASO DE RUBIN

O Vaso de Rubin é um dos mais conhecidos exemplos de Gestalt. Nele, pode-se


ver tanto uma
taça quanto dois rostos de perfil se encarando.

Imagem: Alan De Smet/Wikimedia Domínio Público.

CUBO DE NECKER.

O Cubo de Necker demonstra as diferentes formas com as quais tais linhas


formam um cubo,
tanto com proeminência para o lado esquerdo e abaixo quanto
para o direito e acima.

Imagem: Shutterstock.com.

ELEFANTE DA GESTALT

Nesta ilustração, é possível ver o elefante formado por cabeças humanas.

GESTALTISMO

O conceito de Gestalt surgiu como uma reação Associacionismo. Para compreender melhor,
entretanto, é importante que antes saibamos o significado do termo. A famosa frase que
define
os gestálticos é:

O TODO É MAIS QUE A SOMA DAS PARTES.

Gestalt é um termo alemão que não tem uma exata tradução em português. O correspondente
mais próximo em nossa língua seria forma ou configuração. Essa teoria defende que as
experiências devem ser consideradas mais em sua totalidade do que em acontecimentos
separados. A Gestalt-Terapia, entretanto, é diferente da Gestalt. Veja:

GESTALT-TERAPIA

Utiliza as artes como recurso terapêutico.


GESTALT

Utilizado em diversas áreas, como as artes visuais

Surgida na sociedade alemã e tendo Fritz


Perls
como
principal teórico, a Gestalt-terapia
tem
como foco o aqui e agora, sobrepondo-se a abordagens que focavam no
passado
e
destacando a responsabilidade de si mesmo na atual experiência individual. É um
modo de
psicoterapia que não se concentra na doença, mas em gerar mais saúde mental a
partir das
potencialidades que todo indivíduo possui. Tem grande diálogo com teorias
humanistas,
que
exploram as potências individuais como o meio de atingir a autorrealização.
Além
disso, a
abordagem foca no conceito de percepção como chave para a compreensão
da atual
experiência individual.

Outro dos principais conceitos dessa abordagem é o de insight, ou seja: o


indivíduo obtém
uma
reestruturação súbita em seu campo perceptual e, a partir disso, pode se compreender
melhor
e, consequentemente, mudar o que não se encontra em ressonância com o resto de
sua vida. É
a apreensão verdadeira de uma coisa, livre dos conteúdos que podem deturpar
as percepções
do ser sobre as coisas em sua volta e sobre si mesmo.

FRITZ PERLS
Frederick Salomon Perls (1893-1970), conhecido como Fritz Perls, é considerado o
fundador
da Gestalt-terapia. Desde 1936, em um movimento de dissidência com a
Psicanálise
freudiana, insatisfeito com as proposições adotadas até então no método
clínico
psicanalítico, rumou em direção ao desenvolvimento de um projeto terapêutico
que, em
1951, passaria a denominar-se Gestalt-terapia.

A PERCEPÇÃO E A BOA FORMA

Os gestaltistas estavam preocupados em compreender quais eram os processos psicológicos


envolvidos na percepção. Ou, como cada sujeito tem uma forma diferente de
perceber a
realidade.

A percepção, portanto, é o ponto de partida e um


dos temas centrais dessa teoria. Isso fez com
que houvesse um embate com o movimento
comportamentalista, pois para a Gestalt existe um
processo entre o estímulo e a resposta
do indivíduo. Esse processo é a própria percepção, que
se mostra única para cada ser
humano.

É importante, portanto, saber o que o sujeito percebe e como o percebe.

NEM O PACIENTE NEM O TERAPEUTA ESTÃO


LIMITADOS
PELO QUE O PACIENTE DIZ E PENSA: AMBOS PODEM
AGORA LEVAR EM CONSIDERAÇÃO O
QUE ELE FAZ. O QUE
ELE FAZ FORNECE INDÍCIOS PARA O QUE PENSA, ASSIM
COMO O QUE ELE
PENSA FORNECE INDÍCIOS PARA O QUE
FAZ OU GOSTARIA DE FAZER. ELE PRÓPRIO SABERÁ O
QUE
SIGNIFICA SEUS ATOS, SUAS FANTASIAS, SUAS
REPRESENTAÇÕES, SE NOS LIMITARMOS A CHAMAR
SUA
ATENÇÃO. ELE MESMO FORNECERÁ SUAS PRÓPRIAS
INTERPRETAÇÕES.

(PERLS, 1988, p. 30)

Outro fator importante do movimento gestáltico é a concepção de pregnância das


formas (ou
lei da boa forma). Tal aspecto diz que sempre enxergamos a composição
visual geral das
coisas antes de nos aprofundarmos nos detalhes. O ser humano, em sua busca por
autorrealização, está sempre procurando encontrar a boa forma em seu psiquismo e
trajetória
pessoal; esse é um dos motivos que nos mantém em uma incessante busca por nós
mesmos.

Usando como analogia um exemplo de obras de arte, quando observamos inicialmente um


quadro, não vemos linhas, pontos ou pinceladas isoladas, mas um conjunto completo. E é
disso
que se trata a experiência gestáltica.

Imagem: Georges Seurat/Wikimedia Commons/ Domínio público.


 Tarde
de Domingo na Ilha de Grande Jatte, França, 1884 – 1886.

Para entender melhor esse método terapêutico ao qual chamamos de Gestalt-Terapia, é


necessário conhecer suas origens filosóficas. Discorreremos a seguir sobre todo o
contexto
que mesclou a Filosofia gestáltica com a Psicologia.
AS ORIGENS FILOSÓFICAS

Tendo uma origem que remete de forma contrária aos estudos de Hume, no século XVIII, o
Associacionismo pretendia encontrar “elementos constituintes”. Uma conduta, por
exemplo,
pode ser considerada como composta por elementos existentes em si mesmos que se
associam, formando os conjuntos aditivos que caracterizam a experiência.

O confronto com esse modo de pensar teve início com o filósofo Locke, mas em 1890, com
Ehrenfels, com um trabalho sobre a
qualidade das formas
(Gestaltqualitäten), ganhou uma
nova
configuração. Com esse trabalho, Ehrenfels pretendia mostrar que existem
características da
experiência que não podem ser explicadas pelas propriedades
das
sensações consideradas
como elementos constituintes.

O que Ehrenfels procura mostrar (GARCIA-ROZA, 1974) é que tanto o ponto de vista
fisiológico
quanto o ponto de vista psicológico não podem ser explicados pela associação
dos elementos
constituintes.

HUME

David Hume (1711-1776), filósofo e historiador, tinha uma perspectiva empirista que
partia das impressões singulares e se opunha a filosofias teológicas-metafísicas.

JOHN LOCKE (1632-1704)

Filósofo inglês empirista considerado Pai do liberalismo.


EHRENFELS

Christian von Ehrenfels (1859-1932) foi um filósofo e psicólogo austríaco. Ele provou ser
um pensador altamente independente, formulando a noção das qualidades da Gestalt,
elaborando uma nova teoria do valor e desenvolvendo novas ideias em ética sexual e
cosmologia. Ehrenfels também criticou seus vários mentores em uma série de questões.
Embora fosse um teórico, ele não se mostrava indiferente aos problemas sociais e
culturais de sua época. Assim, ele também tentou responder a esses problemas traçando
novos caminhos para suas soluções.

Fonte: adaptado de Rollinger; Ierna (2019).

 EXEMPLO

Uma melodia pode ser transposta para outro tom e tocada


por outro instrumento e continua
sendo a mesma melodia mesmo tendo todos os seus
elementos alterados. A adição de
unidades isoladas não explica isso.

A conclusão a partir de Ehrenfels é que as melodias são formas. Isso serviu de base para
os
estudos de Wertheimer, Köhler e
Koffka. Estava
nascendo a
Psicologia da forma, ou
Gestalt.

A questão de Köhler e Koffka, em termos de estrutura, é que existem no mundo físico


“todos”
cujas propriedades não ocorrem por adição, por soma de suas partes. Para eles,
existem
diferentes formas de subordinação parte/todo. Entretanto, é importante mencionar
que o
gestaltismo não pretende de modo algum que toda realidade seja gestáltica.

WERTHEIMER, KÖHLER E KOFFKA


Max Wertheimer (1880-1943), Wolfgang Köhler (1887-1967) e Kurt Koffka (1886-1941),
pesquisadores alemães, que foram contemporâneos e conviveram na chamada Escola de
Berlim.

MAS QUAL A DIFERENÇA DA GESTALT,


ENQUANTO
ESTRUTURA, E A IDEIA DE ESTRUTURA PARA O
PENSAMENTO ESTRUTURALISTA?

Uma possível resposta (GARCIA-ROZA, 1974) considera a estrutura ou a forma não como parte
da realidade empírica, mas como modelo construído em relação a ela. No caso do
gestaltismo,
a estrutura é uma característica da própria realidade. Uma outra
possiblidade de estruturalismo
afirma que para o estruturalismo a estrutura é um modelo
como um sistema de diferenças que
pode ser transposto de fenômeno para fenômeno.

Os exemplos da Gestalt como estrutura são retirados da realidade física:

 EXEMPLO

Em um condutor de carga elétrica homogêneo, se exercemos


uma modificação em uma das
partes haverá uma alteração na totalidade dos pontos
de distribuição. Assim é a base da
terapia da Gestalt: se modificarmos um ponto
específico, podemos, a partir deste, mudar o
todo.

Na perspectiva de Köhler, se o mundo físico apresenta características gestálticas, não há


por
que não as encontrar nos fenômenos fisiológicos. O autor, ao recusar o método
introspectivo
em Psicologia, mantém um contato com o comportamentismo, mas a sua
Gestalttheorie
(Teoria da Forma) apresenta aspectos muito específicos.

Para ele (BONOMI, 1974), a constituição do objeto parte da modalidade perceptiva


“construída”.
Em outras palavras, a Psicologia da Gestalt abandona a ideia do dado
sensorial elementar,
comum ao Associacionismo, e procura dar conta da “estrutura do
campo”.

A organização do conjunto perceptivo é o dado primário para Köhler. A essa interpendência


funcional das sensações, ele nomeará de Togetherness (união) dos estímulos.
Nessas
configurações globais, o problema central será o sentido (Sinn) inerente à
experiência
perceptiva.

O que caracteriza a Gestalt (BONOMI, 1974) é a “consideração imanente” do campo


perceptivo
como a determinação de uma estrutura que atua na percepção. Para a Gestalt, o
campo
sensorial não é um mosaico de estímulos, mas organizado desde o início,
originalmente
estruturado. O que Köhler considera como imanente são as formações
perceptivas, tais como
ocorrem na experiência concreta, por isso, não importa a
decomposição analítica em “dados”.

Quanto à constituição do objeto, a Gestalt, por sua irredutibilidade à


localização, tratará de
conjuntos e subconjuntos a partir da ideia de
figura e
fundo. Apoiado na fenomenologia e se
distanciando dela, Köhler
propõe uma homologia
entre as organizações do mundo perceptivo e
os processos nervosos que o subentendem.

 Céu e Água
I, de
M.C. Escher, 1938.

Ao pensar os aspectos fisiológicos, Köhler abandona o mecanicismo, e procura pensar a


autorregulação dinâmica própria de um “fisicalismo autêntico”. Logo, a proposta da
Gestalt
obedece a suposição de um paralelismo psicofísico. Para Köhler, o caminho da
Psicologia tem
como rumo esses aspectos: o abandono do modelo máquina – ou mecânico – e
o
direcionamento para uma física desapegada de todas as instâncias mecanicistas. Mas
existem
críticas a Köhler, pelo fato de se referir sempre a
articulações extremamente
simples do campo
perceptivo.

KURT LEWIN
Kurt Lewin (1890-1947), psicólogo e professor alemão, trabalhou durante dez anos com
Köhler
e Koffka na Universidade de Berlim. Dessa colaboração, o teórico
alemão originou
sua Teoria
de Campo, talvez o método mais importante de seu legado.

Imagem: Natata / Shutterstock.com.


 Kurt Lewin

Entretanto (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 1999), não podemos considerá-lo um genuíno


gestaltista, pois ele acabou seguindo outro rumo de acordo com seus próprios princípios
desenvolvidos. Isso acontece, principalmente, quando Lewin abandona os limiares de
percepção e os aspectos psicofisiológicos da Gestalt para buscar na Física as bases
metodológicas de sua Psicologia.

Para o autor, o indivíduo e seu entorno não devem ser vistos como instâncias a parte,
pois
ambos interagem e consequentemente se modificam no espaço que habitam. Uma de suas
principais contribuições é o conceito de espaço vital, ao qual define
como “a totalidade
dos
fatos que determinam o comportamento do indivíduo num certo momento”.

A PSICOLOGIA DE LEWIN TRABALHA COM A


EFEMERIDADE, POIS A VIDA É SEMPRE CONSIDERADA
DINAMICAMENTE E O CAMPO NÃO DEVE SER TIDO
COMO
UMA REALIDADE FÍSICA ESTÁTICA, MAS SIM
FENOMÊNICA.
Nas palavras do próprio Lewin: o campo deve ser representado tal como ele existe para o
indivíduo em questão, em determinado momento, e não como ele é em si. Para a
constituição
desse campo, as amizades, os objetivos conscientes e inconscientes, os
sonhos e os medos
são tão essenciais como qualquer ambiente físico (GARCIA-ROZA, 1974,
p.136).

Ou seja, o campo é uma realidade fenomênica, não necessariamente física. Transpondo para
a
fórmula gestáltica, a realidade fenomênica é a maneira particular como se interpreta
determinada situação e, também, componentes emocionais ligados às próprias situações já
vividas.

 RESUMINDO

O campo psicológico é representado pelas linhas


de força,
o que atrai a percepção e lhe dá
significado. As situações, muitas vezes, tendem
a ser interpretadas pelos seus aspectos
fenomenológicos e não pelo o que ocorre
de fato. As experiências, a todo o momento, podem
ganhar novos significados se
sobrepostas a fatos anteriores. E o comportamento, para sua real
compreensão,
deve ser visto em sua totalidade, não por fragmentos incompletos.

ASSOCIACIONISMO OU GESTALTISMO
Vamos, agora, compreender um pouco mais porque a Psicologia
da Gestalt é uma superação
da Filosofia Associacionista:
VERIFICANDO O APRENDIZADO

1. (FGV - 2018 - AL-RO) A GESTALT É UM CAMPO TEÓRICO QUE OFERECEU


INESTIMÁVEIS CONTRIBUIÇÕES AO ESTUDO DA PERCEPÇÃO E DA
INTELIGÊNCIA. SEGUNDO OS AUTORES CLÁSSICOS, A SOLUÇÃO DE
IMPASSES OCORRE POR MEIO DA REESTRUTURAÇÃO PERCEPTIVA. SENDO
ASSIM, OCORRE UM FENÔMENO NO QUAL A APREENSÃO GLOBAL DA
SITUAÇÃO-PROBLEMA É SEGUIDA PELO AJUSTE DOS FATORES RELEVANTES
EM RELAÇÃO AO TODO. ESSE FENÔMENO É CHAMADO DE

A) Figura e fundo

B) Simetria

C) Proximidade

D) Insight

E) Associacionismo

2. A PARTIR DE SEUS CONHECIMENTOS SOBRE ESTÍMULO E PERCEPÇÃO NA


TEORIA DA GESTALT, ASSINALE A ALTERNATIVA CORRETA EM RELAÇÃO À
IMPORTÂNCIA DA PERCEPÇÃO DO ESTÍMULO PARA A COMPREENSÃO DO
COMPORTAMENTO HUMANO.

A) A percepção dos momentos passados, sobretudo da primeira infância, é a base da fórmula


gestáltica de terapia. Só assim o paciente pode ter insights sobre quem ele é.

B) Para a Gestalt, existe um processo entre o estímulo e a resposta do indivíduo. Esse processo
se mostra único para cada indivíduo, não ocorrendo de forma universal.

C) Para a Gestalt, o processo de percepção intitulado boa forma é universal, basta o


psicoterapeuta induzir ao caminho que o paciente deve seguir.

D) Os gestaltistas não se preocupam em compreender os processos psicológicos envolvidos


na percepção. Para eles, a visualização das boas formas é mais importante.
E) No processo terapêutico, é mais relevante saber somente o que o sujeito percebe.

GABARITO

1. (FGV - 2018 - AL-RO) A Gestalt é um campo teórico que ofereceu inestimáveis


contribuições ao estudo da percepção e da inteligência. Segundo os autores clássicos, a
solução de impasses ocorre por meio da reestruturação perceptiva. Sendo assim, ocorre um
fenômeno no qual a apreensão global da situação-problema é seguida pelo ajuste dos fatores
relevantes em relação ao todo. Esse fenômeno é chamado de

A alternativa "D " está correta.

Insight é o nome que se dá a quando o indivíduo passa a possuir uma apreensão verdadeira de
uma coisa, livre dos conteúdos e das crenças que podem deturpar a percepção das coisas à
sua volta.

2. A partir de seus conhecimentos sobre estímulo e percepção na teoria da Gestalt, assinale a


alternativa correta em relação à importância da percepção do estímulo para a compreensão
do comportamento humano.

A alternativa "B " está correta.

A percepção é o ponto de partida dessa teoria. Isso faz com que exista um embate entre
gestaltistas e comportamentalistas, pois para a Gestalt existe um processo no meio do
estímulo e da resposta do indivíduo. Esse processo é a percepção, que deve ser considerada
como o alicerce da Gestalt-terapia. Sendo o processo perceptivo único para cada ser humano, é
importante saber o que o sujeito percebe e como o percebe.

MÓDULO 4

 Reconhecer a
psicologia humanista
A PSICOLOGIA HUMANISTA
A Psicologia humanista tem seus primórdios datados no final da década de 1950 e início
dos
anos 1960. Entretanto, desde a década de 1940 já se pensavam novas formas de
clinicar. Tal
perspectiva filosófico-psicológica surge como uma resposta ao domínio que
se tinha na
Psicologia entre o Comportamentalismo e a Psicanálise, consideradas teorias
rivais e que
repercutiam a lógica estadunidense e a europeia, respectivamente. Neste
módulo falaremos,
além dos aspectos que permeiam essa abordagem, sobre dois de seus
principais
representantes: Carl Rogers e Abraham Maslow.

CARL ROGERS
Foi em 11 de dezembro de 1940 que Carl Rogers (1902-1987) deu sua famosa conferência e
expôs pontos que trilhavam um caminho para além da lógica psicólogo (senhor do suposto
saber) e paciente. Sua proposta terapêutica dava mais ênfase na situação atual do
indivíduo e
defendia a tendência à autorrealização que toda vida humana tem.

Imagem: Didius / Wikimedia Commons/ CC BY-SA 2.5.


 Carl Rogers
definiu o conceito de autoimagem (ou autoconceito)

como o conjunto de
todos
os pensamentos, ideais e julgamentos

que você tem sobre si mesmo.

A terapia deixava de ser um lugar de tratar doenças e tornava-se um lugar de


autocompreensão
para os indivíduos perceberem os vastos recursos que possuem dentro de
si para modificação
de seus comportamentos e atitudes. Para tal mudança, entretanto, era
necessário haver um
clima facilitador de crescimento para o ser.

Sua forma de terapia foi se desenvolvendo cada vez


mais ao longo das décadas, até ser
nomeada como Abordagem Centrada na
Pessoa (ACP).
Nessa psicoterapia, por exemplo, o
indivíduo que frequenta não é chamado de “paciente”
(assim como em outras) mas sim de
“cliente”; pois, entende-se que ele está passando por
um aconselhamento não diretivo para
explorar suas potencialidades.

Para que a modificação dos autoconceitos ocorra (ROGERS, 1983), deve haver três condições
para que se crie um clima facilitador de crescimento pessoal:

O PRIMEIRO ELEMENTO

“Pode ser chamado de autenticidade, sinceridade ou congruência. Quanto mais o


terapeuta for
ele mesmo na relação com o outro e puder remover as barreiras
da lógica profissional, mais
isso significa que ele está vivendo a essência
daquele momento. O terapeuta se faz
transparente para o cliente. E, do mesmo
modo, o que o cliente vive pode se tornar consciente e
ser vivido na relação
terapeuta-cliente, e assim comunicado se for de seu desejo. Tudo isso
demonstra uma correspondência que se dá em um nível profundo, influenciando
a consciência
do cliente” (ROGERS, 1983, p.39).

ACEITAÇÃO INCONDICIONAL

“Isto ocorre quando o terapeuta tem uma atitude ‘positiva e aceitadora’ em


relação ao que quer
que o cliente seja naquele momento. Quando a postura
terapêutica se demonstra dessa forma,
a possibilidade de ocorrer uma mudança
positiva é maior. Nesse aspecto, é importante que o
cliente expresse
qualquer sentimento que esteja sentindo: ressentimento, raiva, medo,
orgulho,
amor etc. O terapeuta deve ter uma consideração integral e não
condicional pelo cliente”
(ROGERS, 1983, p.39).

COMPREENSÃO EMPÁTICA

“Para que isto ocorra é necessário que o terapeuta tenha uma escuta sensível
e ativa ao que
chega até a ele. Quando está em sua melhor forma, o terapeuta
pode entrar tão profundamente
no mundo interno do paciente que se torna
capaz de esclarecer não só o significado daquilo
que o cliente está
consciente como também do que se encontra abaixo do nível de
consciência”
(ROGERS, 1983, p.39).

Uma das questões mais interessantes na proposta de Rogers é que ela parece poder ser
aplicada a relações humanas cotidianas – e não necessariamente terapêuticas – desde a
relação entre as pessoas que convivem muito tempo em um mesmo espaço, como uma
família,
por exemplo; até estruturas mais tecnicamente elaboradas, como o Ensino
Institucional.

É nesse sentido que encontra a


Aprendizagem
Centrada no Aluno ou, como é chamada
comumente, a Tendência
Pedagógica chamada Liberal
Renovadora Não diretiva. Claramente
inspirada no pensamento de Rogers, será
a base para
a Escola Nova, que influenciará tanto o
ensino no Brasil a partir dos anos 1930.

MAS POR QUE ROGERS TERIA ESSA INFLUÊNCIA


EM
TANTAS ÁREAS, ALÉM DA PSICOLOGIA?

 RESPOSTA

Talvez a resposta esteja em uma de suas famosas obras –


Tornar-se Pessoa – e no que ele
apresenta como sua aprendizagem pessoal
ao longo
de sua vida como terapeuta. Essa
aprendizagem pessoal, longe de ser apresentada
como receita, mostra a base que sustenta
toda sua teoria.
Clique no botão abaixo para ler algumas reflexões importantes de
Rogers.

LEIA AQUI

Rogers (1997, p. 19-25) afirma:

“Na minha relação com as pessoas, descobri que não ajuda, a longo prazo, agir
como se
eu fosse alguma coisa que não sou.

Descobri que sou mais eficaz quando posso ouvir a mim mesmo, aceitando-me; e
assim
posso ser eu mesmo.

Atribuo um enorme valor ao fato de poder permitir compreender uma outra


pessoa.

Verifiquei ser enriquecedor abrir canais dos quais os outros possam comunicar
os seus
sentimentos, seus mundos perceptivos particulares.

É sempre altamente enriquecedor aceitar outra pessoa.

Quanto mais aberto estou às realidades em mim e nos outros, menos me vejo
procurando, a todo custo, remediar as coisas.

E conclui:

“Não posso fazer mais nada do que tentar viver segundo minha própria
interpretação da
presente significação de minha existência, e tentar dar aos outros a permissão e a
liberdade de
desenvolverem a sua própria liberdade interior para que possam atingir
uma interpretação
significativa de sua própria existência.”

(ROGERS, 1997, p. 32)

ABRAHAM MASLOW
Abraham Maslow (1908-1970), também conhecido como o Pai da Psicologia humanista
foi,
sobretudo, um estudioso e observador aficionado pelo comportamento humano. Filho de pais
imigrantes judeus, Maslow nasceu no Brooklyn e sofreu discriminação durante diversos
momentos de sua vida. Isso o fez, talvez como uma força motriz, tentar entender o ser
humano
e devotar-se aos livros e às bibliotecas. Inicialmente, estudava Direito, mas
posteriormente
assumiu sua paixão pela Psicologia, até obter seu Ph.D. em 1934 e começar
a lecionar em
1937.

Imagem: Yuliya Darafei / Shutterstock.com.


 Abraham
Maslow

Mesmo Maslow sendo um pesquisador exímio e docente notável, a pouca afinidade com tais
teorias vigentes tendiam a levá-lo a um isolamento profissional e intelectual. Seus
artigos, por
consequência, não encontravam ressonância para publicação na maior parte
das revistas
técnicas de Psicologia. Entretanto, foi no final da década de 1950 que
Maslow decidiu fundar
sua própria revista de Psicologia humanista.

AFINAL, O QUE SERIA O HUMANISMO?

Indo na contramão dos saberes psicanalíticos (que coloca a satisfação das pulsões como
aspecto central da teoria) e dos comportamentalistas (que procuram satisfazer as
necessidades fisiológicas do ser humano), o Humanismo trata de descobrir os propósitos
do
indivíduo na busca de sua autorrealização.
EM SUMA, A FILOSOFIA HUMANISTA SE
EXPRESSA
ATRAVÉS DA FIDELIDADE CONSIGO MESMO, PARA
DESCOBRIR QUEM REALMENTE SOMOS E PARA, A
PARTIR
DISSO, TRABALHAR NOSSA PSIQUE.

Para melhor compreensão de como seria a autorrealização humana por essa perspectiva, é
necessário observar a esquematização criada por Maslow, de uma pirâmide de necessidades
humanas, também conhecida como Pirâmide de Maslow ou Hierarquia de necessidades
de
Maslow:

Imagem: J. Finkelstein (traduzido por Felipe Sanches) / Wikimedia Commons/ CC BY-SA 3.0.
 Diagrama da
hierarquia das necessidades de Maslow

O HOMEM CRIATIVO NÃO É O HOMEM COMUM AO QUAL


SE ACRESCENTOU ALGO; O HOMEM CRIATIVO É O
HOMEM COMUM DO QUAL NADA SE TIROU.
(MASLOW apud PREDEBON, 1998, p. 34)

O EXISTENCIALISMO É UM HUMANISMO

Um dos aspectos mais importantes do Humanismo é a aliança dessa teoria à Filosofia


Existencialista. Terapeuticamente, fez-se a junção das duas linhas teóricas e criou-se a
Terapia
Existencial-Humanista. Tal fato pode ser ilustrado pelo célebre livro do autor
Jean-Paul Sartre,
que, em 1946,
publicou a
obra O
Existencialismo é um
Humanismo.

JEAN-PAUL SARTRE

Sartre (1905-1980) foi filósofo e escritor francês, um dos maiores representantes do


pensamento existencialista na França.

Tais teorias se complementam em um viés


psicoterápico devido à forma como enxergam o ser
humano, sempre digno de se
autorrealizar por meio de suas possibilidades de liberdade. A
clássica frase de Sartre:
“O ser humano está condenado a ser livre”, dimensiona os aspectos
que tal liberdade
(sempre atrelada a uma responsabilidade de si) trazem ao indivíduo, que se
depara com a
angústia de ser livre perante as possibilidades que o permeiam.

Para Sartre (FERREIRA, 2010, p.79), o homem é o que se faz por si próprio, ou seja: o
homem
nada mais é do que seus atos. O homem primeiro existe e se projeta conscientemente
no
futuro. Consequentemente, outro conceito chave para tal abordagem é que “a existência
precede a essência”, portanto, quem molda a essência de nossas vidas somos nós, fato que
se
atrela ao conceito de caminhar sempre para a autorrealização defendida pelo
Humanismo.
Somos passíveis de encontrar a nós mesmos e só posteriormente de nos definir,
pois somos e
sempre seremos aquilo que fizermos de nós mesmos.

É necessário ir um pouco mais fundo nessa afirmação de Sartre e perceber seu impacto
frente
ao pensamento comumente aceito acerca da existência humana.

Clique no botão abaixo para ler uma reflexão importante de Sartre sobre esse
assunto.
LEIA AQUI

“O existencialismo ateu, que eu represento, é mais coerente [que a visão teísta de


mundo].
Afirma que, se Deus não existe, há pelo menos um ser no qual a existência
precede a essência,
um ser que existe antes de poder ser definido por qualquer
conceito:
este ser é o homem, ou,
como diz Heidegger, a realidade humana. O que significa,
aqui,
dizer que a existência precede a
essência? Significa que, em primeira instância, o
homem
existe, encontra a si mesmo, surge no
mundo e só posteriormente se define. O homem,
tal
como o existencialista o concebe, só não é
passível de uma definição porque, de
início,
não é nada: só posteriormente será alguma coisa e
será aquilo que ele fizer de si
mesmo.
Assim, não existe natureza humana, já que não existe um
Deus para concebê-la. O
homem é
tão somente, não apenas como ele se concebe, mas
também como ele se quer; como ele
se
concebe após a existência, como ele se quer após esse
impulso para a existência. O
homem
nada mais é do que aquilo que ele faz de si mesmo: é
esse o primeiro princípio do
existencialismo.”

(SARTRE, 1970, p. 10)

Assim, para o existencial-humanismo, ao afirmar que existência precede a essência, temos


uma responsabilidade por nós mesmos e pelo outro, tendo em vista que o outro também se
afeta de acordo com o que fazemos de nós.

Sartre diz que sua doutrina não é desesperadora ou


pessimista, mas pelo contrário: devemos
enxergar o destino em nossas próprias mãos como
possibilidades e projetos. Além de que,
isso nos traz uma exaltação do ser humano tal
como no Humanismo, em que somos livres para
criar um projeto de ser-no-mundo e
nos
reinventar todos os dias.

RESPONSABILIDADE, ESCOLHA E ANGÚSTIA

No existencial-humanismo, há também três noções fundamentais: as de responsabilidade,


escolha e angústia. Esses aspectos se relacionam entre si e são indissociáveis
ESCOLHER ALGO É, AO MESMO TEMPO, ESCOLHER O
VALOR DAQUILO QUE FOI ESCOLHIDO. POR ISSO, A
RESPONSABILIDADE ABRANGE TODA A
HUMANIDADE.
DESSA FORMA, O EXISTENCIALISMO HUMANISTA
AFIRMA QUE O HOMEM ESTÁ
CONDICIONADO A UMA
PERSISTENTE ANGÚSTIA.

(FERREIRA, 2010, p.79)

Consequentemente, qualquer ato, por menor que seja, é uma renúncia. A responsabilidade
mediante as ações humanas – ao fazer jus à lógica sartreana –, independe de um Deus ou
de
uma força superior. E, a respeito de tais escolhas, temos a inclusão de um valor
moral
particular de cada um.

Por fim, as ações de um ser humano repercutem em todos e não só a ele isoladamente. Como
seres sociais, tudo que fazemos é norteado por uma conduta que mescla as escolhas, as
angústias e as responsabilidades da humanidade. O ser humano se compromete com o que
quer ser e também com o que quer que seja o seu meio.

A PSICOLOGIA HUMANISTA
Vamos conhecer uma pouco mais, agora, sobre Rogers e Maslow.
VERIFICANDO O APRENDIZADO

1. (FGV - 2013 - SEDUC-SP) EM O EXISTENCIALISMO É UM HUMANISMO,


JEAN PAUL SARTRE AFIRMOU: “O HOMEM NADA MAIS É DO QUE AQUILO
QUE ELE FAZ DE SI MESMO”, MOSTRANDO QUE A LIBERDADE:

A) É uma escolha incondicional, por ser independente de qualquer desejo concreto que possa
orientar a ação humana.

B) É uma atitude subjetiva de engajamento que depende da descoberta, para cada um, da
essência universal que o define como ser humano.

C) É uma sabedoria que consiste em discernir quando é possível escolher e quando é mais
prudente ceder à fortuidade da existência.

D) É uma opção baseada nos valores materiais da existência, que rompe com toda
transcendência e restaura a dimensão propriamente existencial do homem.

E) É uma condenação que lança o homem no desamparo de não poder escapar da solidão e da
responsabilidade por seus atos.

2. A SEGUIR, HÁ UMA PIRÂMIDE DAS NECESSIDADES HUMANAS, CRIADA


POR ABRAHAM MASLOW, SEM OS RESPECTIVOS ESTÁGIOS ATRIBUÍDOS
PELO AUTOR. ANALISE AS LACUNAS E ASSINALE A ALTERNATIVA COM OS
RESPECTIVOS NÚMEROS E ORDENAMENTO CORRETOS.
A) a) V – Fisiologia / IV – Segurança / III – Social / II – Estima / I – Realizações pessoais

B) V – Segurança / IV – Fisiologia / III – Social / II – Realizações pessoais / I – Estima

C) V – Segurança / IV – Fisiologia / III – Realizações pessoais / II – Social / I – Estima

D) V – Fisiologia / IV – Segurança / III – Estima / II – Realizações pessoais / I – Social

E) V – Social / IV – Fisiologia / III – Segurança / II – Realizações pessoais / I - Estima

GABARITO

1. (FGV - 2013 - SEDUC-SP) Em O existencialismo é um humanismo, Jean Paul Sartre afirmou:


“O homem nada mais é do que aquilo que ele faz de si mesmo”, mostrando que a liberdade:

A alternativa "E " está correta.

No existencial-humanismo, há três noções indissociáveis por si só: a responsabilidade, a


escolha e a angústia. Consequentemente, qualquer ato, por menor que seja, é uma renúncia; e o
ser humano deve se preparar e aprender a lidar com isso.

2. A seguir, há uma pirâmide das necessidades humanas, criada por Abraham Maslow, sem os
respectivos estágios atribuídos pelo autor. Analise as lacunas e assinale a alternativa com os
respectivos números e ordenamento corretos.
A alternativa "A " está correta.

Para o funcionamento do indivíduo no humanismo, o ser deve estar: 1. Fisiologicamente bem


(com comida, água, abrigo, sono); 2. Integramente seguro (com segurança do próprio corpo, da
família e propriedade); 3. Socialmente ativo (com amor, amizade, comunidade, família); 4.
Estimadamente elevado (com reconhecimento, status e autoestima); 5. Pessoalmente
realizado (com desenvolvimento pessoa, criatividade e talento estruturados).

CONCLUSÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
No decorrer desses módulos, as conclusões que pudemos chegar são a de encerramento de
uma
rede de significações que já foram tecidas no percurso de um trabalho. Aristóteles diz
que
quando algo nos espanta, causa perplexidade, começamos a pensar. Sim, e não há como
não
ficar perplexo frente ao que cada um desses teóricos e clínicos, aqui estudados de
forma
introdutória, traz de inesgotável.
O que nos propusemos a realizar, aqui, foi percorrer caminhos da Psicologia clínica e da
Psicanálise. Em nosso itinerário, buscamos apresentar uma visão abrangente e sistemática
de
alguns conceitos, possibilitando que você possa encontrar um universo referencial que
permita
ler e começar a compreender os autores que abordamos.

AVALIAÇÃO DO TEMA:

REFERÊNCIAS
BOCK, Ana B.; FURTADO; Odair; TEIXEIRA, M. de L. Psicologias: uma introdução ao
estudo de
psicologia. 13. ed. reform. e ampl. São Paulo: Saraiva, 1999.

BONOMI, Andrea. Fenomenologia e Estruturalismo. São Paulo: Perspectiva,


1974.

FERREIRA, Danilo Gomes. O Existencialismo é um Humanismo: a Escolha, a


Responsabilidade
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a Angústia em Sartre. Cadernos da Graduação, Campinas, n. 8, 2010.

BRITANNICA, T. Editors of Encyclopaedia. Josef Breuer. Encyclopedia


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Consultado em meio eletrônico em: 26 fev. 2021

FREUD, S. Totem e tabu. São Paulo: Cia das Letras, 2013.

FREUD, S.; BREUER, J. Estudos sobre a histeria. São Paulo: Companhia das
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GARCIA-ROZA, Luiz Alfredo. Psicologia Estrutural em Kurt Lewin.


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17. ed. São Paulo:
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HORNEY, K. Cultura e neurose. Revista da abordagem Gestáltica. Goiânia,
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JUNG, K. A energia psíquica. Petrópolis: Vozes, 2002.

LAPLANCHE, J.; PONTALIS, J. B. Vocabulário de Psicanálise. 7. ed. São


Paulo: Livraria
Martins
Fontes, 1983.

PERLS, F. A abordagem gestáltica. Rio de Janeiro: LTC, 1988.

PREDEBON, José. Criatividade: abrindo o lado inovador da mente: um


caminho para o
exercício
prático dessa potencialidade, esquecida ou reprimida quando deixamos de ser
crianças. 2. ed.
São Paulo: Atlas, 1998.

ROGERS, Carl. Um Jeito de Ser. São Paulo: EPU, 1983.

SANTOS, L.; MARTINS, A. A originalidade da obra de Georg Groddeck.


Interface, vol. 17 n.
44
Botucatu, jan./mar. 2013.

SARTRE, J. O existencialismo é um humanismo. Paris: Les Éditions Nagel,


1970.

SOCIEDADE DOS PISCÓLOGOS. Quem Foi Charcot? (Sobre a Histeria). Blog


Spsicólogos, 2017.
Consultado em meio eletrônico em: 03 de marc. 2021.

ROLLINGER, Robin; IERNA, Carlo. Christian von Ehrenfels. The Stanford


Encyclopaedia of
Philosophy, 2019. Consultado em meio eletrônico em: 26 fev. 2021.

ZIMMERMAN, D. Fundamentos Psicanalíticos. Porto Alegre: ARTMED, 1999.

EXPLORE+
Para saber mais sobre os assuntos tratados neste tema, pesquise:

Didatics, no YouTube, canal que apresenta uma abordagem leve, mas bem
fundamentada,
do conteúdo apresentado aqui, entre outros da área da Psicologia e
Filosofia.

Conhecendo Jung, no YouTube, canal que apresenta a Psicologia Analítica em


lives
semanais.
Site oficial da Federação Brasileira de Psicanálise (FEBRAPSI). Fique atento ao
que
acontece no meio psicanalítico brasileiro.

Leia os artigos:

Psicologias: uma introdução ao estudo de psicologia, de Ana Bock,


Odair Furtado e
Maria
de Lourdes Teixeira.

Édipo e seus enigmas, de Anchyses Jobim Lopes, para melhor


compreensão desse ponto
fundamental da psicanálise freudiana;

Feminismo, psicanálise, gênero: viagens e traduções, de Mara Coelho


de Souza Lago,
para aprofundar o pensamento de Karen Horney.

A Fenomenologia de Köhler e o conceito de experiência direta, de


Sávio Passafaro
Peres,
que apresenta críticas à teoria de Köhler.

Assista:

Freud, além a aula (1962), o filme de John Huston apresenta uma


interessante
biografia do
psicanalista austríaco.

CONTEUDISTA
Mário Bruno

 CURRÍCULO LATTES

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