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AULA 1
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experiência e como ela deu início a um afastamento progressivo de Freud da
neurologia para a Psicologia. Vale informar que esses relatórios foram
encontrados quase 70 anos após terem sido escritos e hoje se encontram na
Biblioteca da Universidade de Viena, guardados no acervo da instituição. Nesses
escritos, Freud relata suas experiências no Hospice de la Salpêtrière, um
hospício localizado em Paris. Segundo o autor, em Viena ele não tinha à sua
disposição um material clínico tão rico e vasto quanto na França, e seus
aprendizados durante esse período de seis meses foram significativos para
mudar suas concepções a respeito das psicopatologias recorrentes nos
consultórios médicos.
O Salpêtrière, na época, era um conjunto de prédios de dois andares
dispostos em formato de quadriláteros, com inúmeros pátios e jardins. Sua
estrutura era similar à de outros hospitais na Europa, pois assim como o hospital
de Viena, Sapêtrière também fora estabelecido em uma antiga fábrica de
material bélico desativada. O hospital francês abrigava muitas mulheres idosas,
além de homens com doenças nervosas, e como asilo chegava a ter quase cinco
mil pessoas. Charcot, que trabalhava nesse hospital desde seu internato,
conduzia um laboratório dedicado a estudar doenças nervosas crônicas, além
de ser professor responsável pela neuropatologia. Ele também tinha à sua
disposição outros departamentos dentro do próprio hospital, como o laboratório
de anatomia e fisiologia, o museu de patologia, um estúdio de fotografia para
preparação de moldes de gesso, um gabinete de oftalmologia e um instituto de
eletricidade e hidropatia.
O objetivo inicial de Freud ao viajar a Paris era estudar os problemas
anatômicos relacionados aos seus estudos sobre atrofias e degenerações
secundárias que se seguiam às afecções encontradas nos cérebros das
crianças. No laboratório de Viena ele não tinha condições para seguir com seus
estudos em anatomia; já na clínica de Salpêtrière havia uma quantidade de
material clínico bastante vasta, o que possibilitou a Freud ver muitos pacientes
enquanto aprendia com Charcot sobre seus métodos científicos. Freud, com
outros alunos estrangeiros e assistentes médicos, acompanhava Charcot
constantemente enquanto ele discutia com todos seus casos clínicos e as
manifestações sintomáticas mais complexas de seus pacientes. Freud
(1956[1886], p. 44):
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Podia-se verificar a maneira como ele [Charcot], inicialmente, ficava
indeciso em face de alguma nova manifestação difícil de interpretar;
podia-se seguir os caminhos pelos quais se esforçava por chegar a
uma compreensão; podia-se estudar o modo como avaliava as
dificuldades e as vencia; e podia-se observar, com surpresa, que ele
nunca se cansava de observar o mesmo fenômeno, até que seus
esforços repetidos e sem prevenções lhe permitissem chegar a uma
visão correta de seu significado. Quando, além de tudo isso, acode à
lembrança a total sinceridade manifestada pelo Professor durante
essas sessões, compreende-se por que o autor deste relatório, assim
como aconteceria com qualquer outro estrangeiro em situação
semelhante, deixou Salpêtrière com irrestrita admiração por Charcot.
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muscular progressiva, e posteriormente Freud fez a tradução em alemão dos
estudos e conferências de seu professor Charcot.
Além dos estudos em hipnose e histeria, Freud estudou epilepsia e outras
doenças nas articulações, coreia e diversas formas de “tiques” (como a doença
de Gilles de la Tourette), e acompanhou as preparações das células nervosas e
neróglia do professor Ranvier (1956[1886], p. 48). Ao todo, Freud permaneceu
cinco meses em Paris, e depois um mês em Berlim. Nesse último, Freud teve a
oportunidade de estudar crianças que sofriam de doenças nervosas nas clínicas
dos professores Mendel e Eulenburg e do Dr. Baginsky, e depois visitou o
laboratório de agricultura do professor Zuntz para estudar a localização do
sentido da visão no córtex cerebral. No laboratório de Munk, por fim, Freud pôde
estudar o trajeto do nervo acústico.
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TEMA 4 – ESBOÇOS PARA A COMUNICAÇÃO PRELIMINAR DE BREUER
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Se uma pessoa histérica intencionalmente procura esquecer uma
experiência, ou decididamente rechaça, inibe e suprime uma intenção
ou ideia, esses atos psíquicos, em consequência, entram no segundo
estado de consciência; daí produzem seus efeitos permanentes e a
lembrança deles retorna sob a forma de ataque histérico.
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Ademais, os ataques são “uma descarga periódica dos centros motores e
psíquicos do córtex cerebral” (Freud, 1892, p. 194).
Neste texto, Freud faz uma crítica à formação médica da época, e que
essa deficiência podia ser observada principalmente nos estudos sobre
neurastenia, pois o quadro clínico dos pacientes era estudado com mais
veemência pelos médicos que trabalhavam como terapeutas e nos sanatórios,
mas nas demais especialidades pouco se via a respeito. Para o autor (Freud,
1886, p. 71):
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Essa proposta com diferentes formas de tratamento, segundo Freud,
amplia os conhecimentos a respeito das estratégias terapêuticas e serviu de
base para o que Freud posteriormente propôs como método catártico.
Nesse terceiro grupo, Freud (1886) afirma que é possível induzir pela
sugestão inúmeros efeitos, pois a influência do julgamento fica reduzida e o
cérebro se acha vulnerável durante o estado hipnótico. Os fenômenos da
hipnose podem ser explicados por três teorias: de Messmer, que fala de uma
transmissão de fluído magnetizante; somática, com base em reflexos medulares
e na modificação do estado fisiológico do sistema nervoso; e a da sugestão, da
qual Forel e Freud compartilham. Essa última, criada por Liébeault e seus
discípulos (como Bernheim, Beaunis e Liégeouis), baseia-se na hipótese de que
é produzida por efeitos psíquicos internos, semelhante ao sono. No entanto, a
diferença aqui é que na hipnose há o relacionamento ativo entre a pessoa que
está hipnotizada e o hipnotizador, incluindo a permissão da paciente em estar
nessa condição.
Com relação ao hipnotizador, Freud (1886) afirma que não é uma
exclusividade médica e que não é qualquer pessoa que pode hipnotizar. O
hipnotizador deve estar imbuído de entusiasmo, paciência, criatividade e
determinação. Uma pessoa que tenta hipnotizar com base em um padrão
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preestabelecido e sem segurança terá pouco ou nenhum resultado satisfatório.
Além disso, algumas doenças apresentam boas respostas ao hipnotismo, assim
como ocorre com a digitalina. Doenças como vertigem, síndrome de Meniére
(que é um distúrbio do ouvido interno), tosse e tuberculose apresentam pouco
resultado. Já a histeria e certas doenças apresentaram excelentes resultados.
Por fim, o autor traz a importância forense da hipnose, uma vez que os
“crimes sugeridos” ainda são palco de estudo e preparação dos juristas, uma
que “deve permanecer em aberto até que ponto a consciência de se tratar
apenas de uma experiência facilita à pessoa a execução de um crime” (Freud,
1886, p. 140).
NA PRÁTICA
Após uma análise minuciosa do paciente, Freud (1886) conclui que todos
os distúrbios devessem ser atribuídos à anestesia geral do lado esquerdo. E
destaca ainda que, quando os olhos eram vendados, as reações motoras se
alteravam, o que não é comum em pacientes com doenças neurológicas. Por
fim, Freud (1886) descreve que o cordão espermático esquerdo também está
sensível, de forma semelhante a como a histeria se estabelece nas zonas
histerógenas nas mulheres.
Ainda que Freud não traga nesse texto sua análise sobre o caso, fica claro
que o tratamento desse paciente histérico, assim como o tratamento dos demais
pacientes que sofrem dessa mesma enfermidade, é o acompanhamento médico
seguido de uma compreensão mais profunda das experiências que geraram o
transtorno que, nesse caso, inicialmente aparenta ser o conflito do paciente com
seu irmão.
FINALIZANDO
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REFERÊNCIAS
MEZAN, R. Freud: a trama dos conceitos. São Paulo: Perspectiva, 1980. 350 p.
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