Você está na página 1de 35

0

Sumário

1. Biografia....................................................................................................................1
2. Cronologia de vida e da obra de Freud..................................................................18
Bibliografia...................................................................................................................32
1

SIGMUND FREUD

1. Biografia

Sigmund Freud (Viena,1856 – Londres, 1939), médico austríaco e fundador da


psicanálise. Nascido em Freiberg, na Moravia (ou Pribor, na República Tcheca), em
6 de maio de 1856, e chamado Schlomo (Salomo) Sigismund, Sigmund Freud era
filho de Amália Freud e de Jacob Freud, e filho mais velho do terceiro casamento de
seu pai.

Circuncidado ao nascer, o jovem Sigmund recebeu uma educação judaica não


tradicionalista e aberta à filosofia do Iluminismo. Era adorado pela mãe, que o
chamava “meu Sigi de ouro”, e amado pelo pai, que lhe transmitiu os valores do
judaísmo clássico. Tinha uma afeição especial por sua governanta tcheca e católica,
Monika Zajic, apelidada Nannie, que o levava para visitar igrejas, falava-lhe do “bom
Deus” e lhe revelou outro mundo além do judaísmo e da judeidade. Talvez ela
também tenha desempenhado um papel em sua aprendizagem da sexualidade.

Freud nasceu em uma família de abastados comerciantes judeus. Sempre se


destaca a complexidade das relações intrafamiliares. Seu pai, Jakob Freud, que
exercia o ofício de comerciante de lã e têxteis, casou-se, pela primeira vez, aos 17
anos e teve dois filhos (Emmanuel e Philippe). Viúvo, casa-se novamente com
Amália Nathanson, de 20 anos, idade do segundo filho de Jakob. Freud será o mais
velho dos oito filhos do segundo casamento de seu pai, e seu companheiro preferido
de brinquedos foi seu sobrinho, que tinha um ano a mais do que ele. Do casamento
de Jacob e Amália nasceram os seguintes irmãos de Freud: Julius, Anna, Débora
(Rosa), Marie (Mitzi), Adolfine (Dolfi), Pauline (Paula) e Alexander.

Quando tinha 3 anos, em outubro de 1859, Jacob e a família deixaram


Freiberg, onde seus negócios não prosperavam em virtude da introdução do
maquinismo e do desenvolvimento da industrialização o que provocou uma queda
dos rendimentos familiares . Instalou-se então em Leipzig, esperando encontrar
nessa cidade melhores condições para o comércio de têxteis. Para Freud, essa
partida permanecerá sempre dolorosa.
2

Merece ser lembrado um ponto que ele próprio menciona: o amor sem
desfalecimentos que sua mãe sempre lhe votou, ao qual atribui a confiança e a
segurança que demonstrou em todas as circunstâncias.

Por sua vez, Emanuel e Philipp emigraram para Manchester. Um ano depois,
não tendo conseguido modificar sua má situação econômica, Jacob decidiu
estabelecer-se em Leopoldstrasse, o bairro judeu de Viena.

Entre 1865 e 1873, o jovem Sigmund freqüentou o Realgymnasium e depois o


Obergymnasium, onde ficou conhecendo Eduard Silberstein, com quem manteve
sua primeira grande correspondência intelectual, notadamente a respeito de Franz
Brentano. Nessa época, apaixonou-se por Gisela Fluss, filha de um negociante
amigo do seu pai. Mais tarde, fez amizade com Heinrich Braun (1854-1927), que
despertaria seu interesse pela política e depois se orientaria para o socialismo.

Foi um aluno muito bom em seus estudos secundários, e foi sem uma vocação
especial que no outono de 1873, Freud começou seu estudo de medicina. Devem se
destacar duas coisas, uma ambição precocemente formulada e reconhecida e “o
desejo de contribuir com alguma coisa, durante sua vida, para o conhecimento da
humanidade” (“Psicologia dos Estudantes”,1914).

Sua curiosidade, “que visava mais às questões humanas do que às coisas da


natureza” (“Um Estudo Autobiográfico” [Selbstdarstellung],1925) leva-o a
acompanhar, ao mesmo tempo, durante três anos, as conferências de F. Brentano,
várias delas dedicadas a Aristóteles. Em 1880, publicou a tradução de vários textos
de J.S.Mill: “Sobre a emancipação da mulher”, “Platão”, “A questão operária”, “O
socialismo”.

Em setembro de 1886, depois de um noivado de vários anos, desposa Martha


Bernays, com quem terá cinco filhos. Em 1883, é nomeado docente-privado (que
equivale, na França, ao título de mestre conferencista) e professor honorário em
1902. Apesar de todos os tipos de hostilidade e dificuldades, Freud sempre se
recusará a abandonar Viena. Foi somente pela pressão de seus alunos e amigos e
depois do “Anschluss” de março de 1938 que irá finalmente se decidir, dois meses
mais tarde, a partir para Londres.

Apaixonou-se pela ciência positiva, e principalmente pela biologia darwiniana


(que serviria de modelo para todos os seus trabalhos). Em 1874, pensou em ir a
Berlim, para freqüentar os cursos de Hermann von Helmholtz. Um ano depois, com o
estímulo de Carl Claus, seu professor de zoologia, obteve uma bolsa de estudos que
lhe permitiu ir a Trieste estudar a vida das enguias (machos) de rio. Sua primeira
publicação data de 1877: “Sobre a Origem das Raízes Nervosas Posteriores da
Medula Espinhal dos Amoceta” (Petromyzon planeli), enquanto a última, referente às
Paralisias cerebrais infantis, de 1897, esse texto mostra que Freud trabalhava na
elaboração de uma teoria do funcionamento específico das células nervosas (os
futuros neurônios), como se veria em seu “Projeto para uma psicologia científica” de
1895. Durante esses 20 anos, pode-se reunir 40 artigos (fisiologia e anátomo-
histologia do sistema nervoso).
3

Freud entrou no Instituto de Fisiologia, dirigido por E. Brücke, após três anos de
estudos médicos, em 1876. Depois dessa experiência, Freud passou do instinto de
zoologia para o de fisiologia, tornando-se aluno de Ernst Wilhelm von Brucke,
eminente representante da escola antivitalista fundada por Helmholtz. Foi nesse
instituto, onde ficou seis anos, que fez amizade com Josef Breuer. Entre 1879 e
1880, forçado a uma licença para cumprir o serviço militar, enganava o tédio
traduzindo quatro ensaios de John Stuart Mill (1806-1873), sob a direção de Theodor
Gomperz (1832-1912), escritor e helenista austríaco, responsável pela publicação
alemã das obras completas desse filósofo inglês, teórico do liberalismo político.

O trabalho de Freud sobre a afasia (Uma concepção da afasia, estudo crítico


[Zur Auffassung der Aphasien], 1891) permanecerá na sombra, embora ofereça a
mais aprofundada e notável elaboração da afasiologia da época. Suas esperanças
de notoriedade tampouco foram satisfeitas por seus trabalhos sobre a cocaína,
publicados de 1884 a 1887. Havia descoberto as propriedades analgésicas dessa
substância, negligenciando as propriedades anestésicas, que seriam utilizadas com
sucesso por K.Koller. A lembrança desse fracasso vai ser um dos elementos que
originaram a elaboração de um sonho de Freud, a “monografia botânica”.

Freud se encontrava, no início da década de 1880, na posição de pesquisador


em neurofisiologia e de autor de trabalhos de valor, mas que não lhe permitia, por
falta de assegurar a subsistência de uma família. Apesar de suas reticências, a única
oferecida era abrir um consultório de neurologista na cidade, o que fez, de forma
surpreendente, no domingo de Páscoa, 25 de abril de 1886.

Em 1882, depois de obter seu diploma, ficou noivo de Martha Bernays (Martha
Freud), que se tornaria sua mulher. Por razões financeiras, renunciou então à
carreira de pesquisador e decidiu tornar-se clínico. Nos três anos seguintes,
trabalhou no Hospital Geral de Viena, primeiro no serviço de Hermann Nothnagel,
depois no de Theodor Meynert. Ali, ficou conhecendo Nathan Weiss (1851-1883), e
quando esse novo amigo se suicidou por enforcamento, Freud ficou transtornado.
“Sua vida, escreveu a Martha, parece ter sido a de um personagem de romance, e
sua morte uma catástrofe inevitável.”

Pensando em tornar-se célebre e libertar-se da pobreza para poder se casar,


acreditava ter descoberto as virtudes da cocaína e administrou-a a seu amigo Ernst
von Fleischl-Marxow, que sofria de uma doença incurável. Não percebia a
dependência induzida pela droga e ignorava tudo sobre sua ação anestesiante, que
seria descoberta por Carl Koller.

Em 1885, nomeado “Privatdozent” de neurologia, Freud obteve uma bolsa de


estudos graças à qual pudera realizar um de seus sonhos, ir a Paris. Queria muito
encontrar-se com Jean Martin Charcot, cujas experiências sobre a histeria o
fascinavam. Foi assim que teve um encontro determinante, na Salpêtrière, com
Charcot. Deve-se observar que Charcot não se mostrou interessado nem pelos
cortes histológicos que Freud lhe levou, como prova de seus trabalhos, nem pelo
relato do tratamento de Anna O., cujos elementos clínicos principais seu amigo J.
Breuer lhe tinha comunicado, a partir de 1882.
4

Charcot quase não se interessava pela terapêutica, preocupando-se em


descrever e classificar os fenômenos para tentar explica-los de forma racional.

Essa primeira permanência na França marcou o início da grande aventura


científica que o levaria à invenção da psicanálise. No Teatro Saint-Martin, Freud
assistiu maravilhado à representação de uma peça de Victorien Sardou, interpretada
por Sarah Bernhardt: “Nunca uma atriz me surpreendeu tanto; eu estava pronto a
acreditar em tudo o que ela dizia.” Depois de Paris, foi a Berlim, onde fez os cursos
do pediatra Adolf Baginsky.

De volta a Viena, instalou-se como médico particular, abrindo um consultório na


Rathausstrasse. Freud também trabalhava, três tardes por semana, como
neurologista na Clínica Steindlgasse, primeiro instituto público de pediatria, dirigido
pelo professor Max Kassowitz (1842-1913). Em setembro de 1886, casou-se com
Martha, e no dia 15 de outubro fez uma conferência sobre a histeria masculina na
Sociedade dos Médicos, onde teve uma acolhida glacial, não em razão de suas
teses (etiológicas), como diria depois, mas porque atribuía a Charcot a paternidade
de noções que já eram conhecidas pelos médicos vienenses.

Em 1887, um mês depois do nascimento de sua filha Mathilde (Hollitscher),


Freud ficou conhecendo Wilhelm Fliess, brilhante médico judeu berlinense, que fazia
amplas pesquisas sobre a fisiologia e a bissexualidade. Era o início de uma longa
amizade e de uma soberba correspondência íntima e científica. Apesar de várias
tentativas, Fliess não conseguiria curar Freud de sua paixão pelo fumo:

“Comecei a fumar aos 24 anos, escreveu em 1929, primeiro cigarros,


e logo exclusivamente charutos [...]. Penso que devo ao charuto um
grande aumento da minha capacidade de trabalho e um melhor
autocontrole.”

Freud começa a utilizar os meios de que dispunha, a eletroterapia de W.H. Erb,


a hipnose e a sugestão. As dificuldades encontradas levam-no a se ligar a A.A.
Liébault e H. M. Bernheim, em Nancy, durante o verão de 1889. Traduz, aliás, as
obras deste último para o alemão. Encontra nelas a confirmação das reservas e
decepções que ele próprio sentia por tais métodos.

Em setembro de 1891, Freud mudou-se para um apartamento situado no


número 19 da rua Berggasse. Ficou ali até seu exílio em 1938, cercado por seus
seis filhos (Mathilde, Martin, Oliver, Ernst, Sophie Halberstadt, Anna) e de sua
cunhada Minna Bernays. Como clínico, tratava essencialmente de mulheres da
burguesia vienense, qualificadas como “doentes dos nervos” e sofrendo de
distúrbios histéricos. Abandonando o niilismo terapêutico, tão comum nos meios
médicos vienenses da época, procurou, ante de tudo, curar e tratar de suas
pacientes, aliviando os seus sofrimentos psíquicos. Durante um ano, utilizou os
métodos terapêuticos aceitos na época: massagens, hidroterapia, eletroterapia. Mas
logo constatou que esses tratamentos não tinham nenhum efeito. Assim começou a
utilizar a hipnose, inspirando-se nos métodos de sugestão de Hippolyte Bernheim, a
quem fez uma visita por ocasião do primeiro congresso internacional de hipnotismo,
que se realizou em Paris em 1889.
5

Em 1891, publicou uma monografia, “Contribuição à concepção das afasias”,


na qual se baseava nas teorias de Hughlings Jackson para propor uma abordagem
funcional, e não mais apenas neurofisiológica, dos distúrbios de linguagem. A
doutrina das “localizações cerebrais” era substituída pelo associacionismo, que abria
caminho para a definição de um “aparelho psíquico” tal como se encontraria na
metapsicologia: ele faz sua primeira formulação em 1896 e estabelece seus
fundamentos no capítulo VII da “Interpretação dos Sonhos”.

Em 1890, consegue convencer seu amigo Breuer a escrever com ele uma obra
sobre a histeria. Seu trabalho em comum dará lugar à publicação, em 1893, de
“Sobre o mecanismo psíquico dos fenômenos histéricos: comunicação preliminar”,
que irá abrir caminho para “Estudos sobre a histeria”; já se encontra nele a idéia
freudiana de defesa, para proteger o sujeito de uma representação “insuportável” ou
“incompatível”. No mesmo ano, em um texto intitulado “Algumas Considerações para
um Estudo Comparativo das Paralisias Motoras Orgânicas e Histéricas”, publicado
em francês em “Archives neurologiques”, Freud afirma que “a histeria se comporta,
nessas paralisias e outras manifestações, como se a anatomia não existisse, ou
como se ela não tomasse disso nenhum conhecimento”.

Os “Estudos sobre a histeria”, obra comum de Breuer e Freud, são publicados


em junho de 1895. A obra comporta, além da Comunicação Preliminar, cinco
observações de doentes: a primeira – de Anna O (Bertha Pappenheim) – é redigida
por Breuer e é nela que se encontra a expressão tão feliz “Talking Cure”, proposta
por Anna O; as quatro seguintes devem-se a Freud. A obra conclui com um texto
teórico de Breuer e um outro sobre a psicoterapia da histeria, de Freud, onde se
pode ver o início do que irá separar os dois autores no ano seguinte.

Em “L’ Hérédité et l’Étiologie dês Névroses”, publicado em francês, em 1896, na


“Revue neurologique”, Freud de fato afirma: “Experiência de passividade sexual
antes da puberdade; é essa, pois, a etiologia específica da histeria”. No artigo, é
empregado pela primeira vez o termo “psicanálise”. Foi também durante esses anos
que a reflexão de Freud sobre a súbita interrupção feita for Breuer no tratamento de
Anna O levou-o a conceber a transferência.

Finalmente, deve-se assinalar a redação, em poucas semanas, no final de


1895, de “Projeto para uma Psicologia Científica” (Entwurf einer Psychologie), que
Freud nunca irá publicar e que constitui, no começo, sua última tentativa de apoiar a
psicologia sobre os dados mais recentes da neurofisiologia.

Trabalhando ao lado de Breuer, Freud abandonou progressivamente a hipnose


pela catarse, inventou o método da associação livre, e enfim a psico-análise. Essa
palavra foi empregada pela primeira vez em 1896, e sua invenção foi atribuída a
Breuer. Em 1897, com um relatório favorável de Nothnagel e de Richard von Krafft-
Ebing, o nome de Freud foi proposto para receber o prestigioso título de professor
extraordinário. Sua nomeação foi ratificada pelo imperador Francisco-José no dia 5
de março de 1902.
6

Ao contrário de muitos intelectuais vienenses marcados pelo “ódio de si judeu”,


Freud, judeu infiel e incrédulo, hostil a todos os rituais e à religião, nunca negaria
sua judeidade. Como enfatizou Manès Sperber, ele continuaria sendo “um judeu
consciente, que não dissimulava a ninguém sua origem, proclamando-a, ao
contrário, com dignidade e freqüentemente com orgulho. Muitas vezes, afirmou que
detestava Viena e que se sentia como que libertado a cada vez que se afastava
dessa cidade, onde crescera e à qual ficaria ligado, entretanto, por laços
indestrutíveis. Sua consciência da identidade judaica permaneceria assim, pois sua
origem nunca foi para ele uma fonte de sentimentos de inferioridade, embora ela lhe
causasse problemas e dificuldades suplementares, principalmente em sua vida
profissional”.

Sua posição doutrinária está centrada na teoria do núcleo patogênico,


constituído na infância, por ocasião de um trauma sexual real, decorrente da
sedução por um adulto. O sintoma é a conseqüência do recalcamento das
representações insuportáveis que constituem esse núcleo, e o tratamento consiste
em trazer a consciência os elementos, como se extrai um “corpo estranho” , sendo a
conseqüência do levantamento do recalque o desaparecimento do sintoma.

Durante alguns dos anos que antecederam a publicação de “A interpretação de


sonhos”, Freud introduz na nosografia, à qual não é indiferente, alguma entidade
nova.

Descreve a neurose de angústia, separando-a da categoria bastante heteróclita


da neurastenia. Isola, pela primeira vez, a neurose obsessiva (alem.
Zwangsneurose) e propõe o conceito de psiconeurose de defesa, no qual é
integrada a paranóia. Porém, sua principal tarefa é a auto-análise, termo que irá
empregar por pouco tempo. Eis o que diz sobre isto, na carta a W.Fliess, de 14 de
novembro de 1887: “Minha auto-análise continua sempre em projeto, agora
compreendi o motivo. É porque não posso analisar a mim mesmo a não ser me
servindo de conhecimentos adquiridos objetivamente (como para um estranho). Uma
verdadeira auto-análise é realmente impossível, de outro modo não haveria mais
doença”.

No âmbito de sua amizade com Fliess, ocorreram vários acontecimentos


maiores na vida de Freud: sua auto-análise, um intercâmbio de caso (Emma
Eckstein), a publicação de um primeiro grande livro, “Estudos sobre a histeria”, no
qual são relatadas várias histórias de mulheres (Bertha Pappenheim, Fanny Moser,
Aurélia Öhm, Anna von Lieben, Lucy, Elisabeth von R., Mathilde H., Rosalie H.), e
enfim o abandono da teoria da sedução segundo a qual toda neurose se explicaria
por um trauma real. Essa renúncia, fundamental para a história da psicanálise,
ocorreu em 21 de setembro de 1897. Freud comunicou-a a Fliesse em tom enfático,
em uma carta que se tornaria célebre: “Não acredito mais na minha Neurótica.”

O encontro com Fliess remonta a 1887. Freud começa a analisar


sistematicamente seus sonhos, a partir de julho de 1895. Tudo se passa como se
Freud, sem antes se dar conta disso, tivesse utilizado Fliess como intérprete, para
efetuar sua própria análise. Seu pai morreu em 23 de outubro de 1896. Poder-se-ia
pensar que tal acontecimento não foi estranho à descoberta do complexo de Édipo,
7

do qual se encontra, um ano mais tarde, na carta a Fliess de 15 de outubro de 1897,


a seguinte primeira formulação esquemática:

“Acorreu-me ao espírito uma única idéia, de valor geral. Encontrei


em mim, como em todo lugar, sentimentos de amor para com minha
mãe e de ciúme para com meu pai, sentimentos que são, acho eu,
comuns a todas as crianças pequenas, mesmo quando seu
aparecimento não é tão precoce como nas crianças que se tornaram
histéricas (de uma forma análoga à da romantização original nos
paranóicos, heróis e fundadores de religiões). Se isso for assim,
pode-se compreender, apesar de todas as objeções racionais que se
opõem à hipótese de uma fatalidade inexorável, o efeito percebido
em ‘Édipo rei’. Também se pode compreender por que todos os
dramas mais recentes do destino deveriam acabar
miseravelmente...mas a lenda grega percebeu uma compulsão que
todos reconhecem, pois todos a”. sentiram. Cada ouvinte foi, um dia,
em germe, em imaginação, um Édipo, e espanta-se diante da
realização de seu sonho, transportado para a realidade,
estremecendo conforme o tamanho do recalcamento que separa seu
estado infantil de seu estado atual”.

Começou então a elaborar sua doutrina da fantasia, concebendo em seguida


uma nova teoria do sonho e do inconsciente , centrada no recalcamento e no
complexo de Édipo. Seu interesse pela tragédia de Sófocles foi contemporâneo de
sua paixão por Hamlet.

Freud era um grande leitor de literatura inglesa, alimentando-se especialmente


da obra de Shakespeare:

“Uma idéia atravessou o meu espírito, escreveu a Fliess em 1897, de


que o conflito edipiano encenado em ‘Édipo rei’ de Sófocles poderia
estar também no cerne de Hamlet. Não acredito em uma intenção
consciente de Shakespeare, mas, antes, que um acontecimento real
levou o poeta a escrever esse drama, tendo seu próprio inconsciente
lhe permitido compreender o inconsciente do seu herói.”

A ruptura definitiva com Fliess ocorrerá em 1902. Depois de 1926, e a despeito


de uma longa discussão com James Strachey, Freud acabaria cedendo à crença
segundo a qual Shakespeare não era o autor de sua obra. Aliás, esse tema do
deslocamento da atribuição de uma paternidade ou de uma identidade se
encontraria por várias vezes em sua obra, principalmente em “Moisés e o
monoteísmo”, na qual fez de Moisés um egípcio.

Da nova teoria do inconsciente nasceria um segundo grande livro, publicado


em novembro de 1899, “A Interpretação dos Sonhos” (Die Traumdeutung), no qual é
relatado o sonho da “Injeção de Irmã”, ocorrido quando Freud estava em Bellevue,
em julho de 1895, em um pequeno castelo na floresta vienense:

“Você acredita, (escreveu a Fliess no dia 12 de julho de 1900), que


haverá um dia nesta casa uma placa de mármore com esta
inscrição: Foi nesta casa que, em 24 de julho de 1895, o ministério
do sonho foi revelado ao doutor Sigmund Freud? Até agora, tenho
pouca esperança.”
8
9

O postulado inicial introduz uma ruptura radical com todos os discursos


anteriores. O absurdo, a incongruência dos sonhos não é um acidente de ordem
mecânica; o sonho tem um sentido, esse sentido está escondido e não decorre das
figuras utilizadas pelo sonho, mas de um conjunto de elementos pertencentes ao
próprio sonhador, fazendo com que a descoberta do sentido oculto dependa das
“associações” produzidas pelo sujeito. Exclui-se, portanto, que esse sentido possa
ser determinado sem a colaboração do sonhador.

Aquilo com que estamos lidando é um texto; sem dúvida, o sonho é constituído
principalmente de imagens, mas o acesso a elas só pode ser obtido pela narrativa
do sonhador, que constitui seu “conteúdo manifesto”, que é preciso decifrar, como
Champollion fez com os hieróglifos egípcios, para descobrir seu “conteúdo latente”.
O sonho é constituído como os “restos diurnos”, aos quais são transferidos os
investimentos afetados pelas representações de desejo. O sonho, ao mesmo tempo
em que protege o sono, assegura, de uma forma camuflada, uma certa “realização
de desejo”. A elaboração do sonho é feita por técnicas especiais, estranhas ao
pensamento consciente, a condensação (um mesmo elemento representava vários
pensamentos do sonho) e o deslocamento (um elemento do sonho é colocado no
lugar de um pensamento latente).

Resultam dessa concepção do sonho uma estrutura particular do aparelho


psíquico, que foi objeto do sétimo e último capítulo.

Mais do que a divisão em três instâncias, consciente, pré-consciente e


inconsciente, que especifica o que se chama de primeira tópica, convém conservar a
idéia de uma divisão do psiquismo em dois tipos de instâncias, obedecendo a leis
diferentes e separadas por uma fronteira que só pode ser ultrapassada em
determinadas condições, consciente-pré-consciente, por um lado, inconsciente, por
outro. Esse corte é radical e irredutível, nunca poderá haver “síntese”, mas apenas
“tendência à síntese”. O sentimento próprio ao eu da unidade que constitui nosso
mental não é mais do que uma ilusão. Um aparelho desse tipo torna problemática a
apreensão da realidade, que deve ser constituída pelo sujeito. A posição de Freud,
aqui, é a mesma expressa no “Projeto”:

“O inconsciente é o próprio psíquico e sua realidade essencial. Sua


natureza íntima nos é tão desconhecida como a realidade do mundo
exterior, e a consciência nos ensina sobre ela de uma maneira tão
incompleta como nossos órgãos dos sentidos sobre o mundo
exterior”.

Para Freud, o sonho se encontra em uma espécie de encruzilhada entre o


normal e o patológico, e as conclusões concernentes ao sonho serão consideradas
por ele como válidas para explicar os estados neuróticos.

“A psicopatologia da vida cotidiana” (Zur Psychopathologie dês Alltagslebens) é


publicado no ano seguinte, em 1901. Ela começa, por exemplo, com um
esquecimento de nome, o de Signorelli, análise já publicada por Freud em 1898; o
esquecimento associa, em sua determinação, tanto com motivos sexuais como a
idéia de morte.
10

A obra reúne toda uma série de pequenos acidentes, aos quais quase não se
dá, via de regra, nenhuma atenção, como os esquecimentos de palavras, as
“lembranças encobridoras”, os lapsos da palavra ou escrita, os erros de leitura e
escrita, os equívocos, os atos falhos, etc.

Esses fatos podem ser considerados como manifestações do inconsciente, nas


seguintes três condições:

1. não deve ultrapassar um certo limite fixado por nosso juízo, isto é, aquilo que
chamamos de “os limites do ato normal”;

2. devem ter caráter de um distúrbio momentâneo;

3. não podem ser caracterizados assim a não ser que os motivos nos escapem
e que fiquemos reduzidos a invocar o “acaso” ou a “falta de atenção”.

“Ao colocar os atos falhos na mesma categoria das manifestações


das psiconeuroses, damos um sentido e uma base a duas
afirmativas que ouve repetir com freqüência, a saber, que entre o
estado nervoso normal e o funcionamento nervoso anormal, não
existe um limite claro e marcado (...). Todos os fenômenos em
questão, sem nenhuma exceção, permitem que se chegue aos
materiais psíquicos reprimidos incompletamente e que, embora
recalcados pela consciência, não perderam toda a possibilidade de
se manifestar e se exprimir”.

O terceiro texto, “Os chistes e sua relação com o inconsciente” (Der Witz und
seine Beziehung zum Unbewuften), é publicado em 1905. Diante desse material logo
e difícil, alguns se perguntaram por que Freud tinha julgado necessário acumular
uma quantidade tão grande de exemplos, com uma classificação complicada. Sem
dúvida, porque suas teses eram difíceis de pôr em evidência. Eis as principais. “O
espírito reside apenas na expressão verbal”. Os mecanismos são os mesmos do
sonho, a condensação e o deslocamento. O prazer que o espírito engendra está
ligado à técnica e à tendência satisfeita, hostil ou obscena. Porém, um terceiro
ocupa sobretudo nele um papel principal, e é isso o que o distingue do cômico.

“O espírito em geral precisa da intervenção de três personagens:


aquele que faz a palavra, aquele que se diverte com a verve hostil ou
sexual e, enfim, aquele no qual é realizada a intenção do espírito,
que é a de produzir prazer”.

Finalmente: “Só é espirituoso aquilo que é aceito como tal”. Compreende-se


então a dificuldade para traduzir a palavra alemã “Witz”, que não tem equivalente em
francês, mas também a dificuldade de seu manejo em alemão, por aquilo que acaba
de ser lembrado e pela diversidade dos exemplos utilizados, histórias engraçadas,
chistes, trocadilhos, etc. A especificidade do “Witz” explica a atenção que Freud tem
em distingui-lo do cômico, distinção assim resumida: “O espírito é, por assim dizer,
para o cômico, a contribuição que lhe vem do domínio do inconsciente”.
11

No mesmo ano, surgem os “Três ensaios sobre a teoria da sexualidade” (Drei


Abhandlungen zur Sexualtheorie), onde é afirmada e ilustrada a importância da
sexualidade infantil e proposto um esquema da evolução da libido, por suas fases
caracterizadas pela sucessiva dominância das zonas erógenas bucal, anal e genital.
Nesse texto a criança, em relação à sexualidade, é definida como um “perverso
polimorfo”, e a neurose é situada como “o negativo da perversão”.

Mais ou menos entre 1905 e 1918, irão se suceder um grande número de


textos referentes à técnica e, para ilustra-la, apresentações de casos clínicos. Entre
estes últimos estão as “Cinco psicanálises”:

Em 1905, “Fragmento da análise de um caso de histeria”: observação de uma


paciente chamada Dora, centrada em dois sonhos principais, cujo trabalho de
interpretação ocupa sua maior parte.

Em 1909, “Análise de uma fobia em um menino de cinco anos” (o pequeno


Hans): Freud verifica a exatidão das “reconstituições” efetuadas no adulto. Também
em 1909, “Notas sobre um caso de neurose obsessiva” (O Homem dos Ratos): a
análise é dominada por um voto inconsciente de morte, e Freud se espanta ao
verificar, “ainda mais” em um obsessivo, as descobertas feitas no estudo da histeria.

Em 1911, “Notas psicanalíticas sobre um relato autobiográfico de um caso de


paranóia” (Dementia paranoides) (o presidente Schreber): a particularidade dessa
análise se prende ao fato de que Freud nunca encontrou o paciente, contentando-se
em trabalhar com as “Memórias” nas quais este descrevera sua doença, dando a
elas um interesse científico.

Finalmente, em 1918, “História de uma neurose infantil” (O Homem dos Lobos):


a observação foi para Freud de particular importância. Ela fornecia a prova da
existência, na criança, de uma neurose perfeitamente constituída, seja ela aparente
ou não, nada mais sendo a do adulto do que uma exteriorização e repetição da
neurose infantil; ela demonstrou a importância dos motivos libidinais e a ausência de
aspirações culturais, ao contrário de C. Jung; ela forneceu uma exata ilustração da
constituição do fantasma e do lugar da cena primitiva.

Em 1902, com Alfred Adler, Wilhelm Stekel, Max Kahane (1866-1923) e Rudolf
Reitler (1865-1917), fundou a Sociedade Psicológica das Quartas-Feiras, primeiro
círculo da história do freudismo. Durante os anos que se seguiram, muitas
personalidades do mundo vienense se juntaram ao grupo: Paul Federn, Otto Rank,
Fritz Wittels, Isidor Sadger. Foi durante essas reuniões que se elaborou a idéia de
uma possível aplicação da psicanálise a todas as áreas do saber: literatura,
antropologia, história, etc. O próprio Freud defendeu a noção de psicanálise
aplicada, publicando uma fantasia literária: “Delírios e sonhos na Gradiva de Jensen
(1907)”.

Em 1907 e 1908, o círculo dos primeiros discípulos freudianos se ampliou


ainda mais, com a adesão à psicanálise de Hanns Sachs, Sandor Ferenczi, Karl
Abraham, Ernest Jones, Abraham Arden Brill e Max Eitingon.
12

Durante o primeiro quarto do século, a doutrina freudiana se implantou em


vários países: Grã-Bretanha, Hungria, Alemanha, costa leste dos Estados Unidos.
Na Suíça produziu-se um acontecimento maior na história do movimento
psicanalítico : Eugen Bleuler, médico-chefe da clínica do Hospital Burghölzli de
Zurique, começou a aplicar o método psicanalítico ao tratamento das psicoses,
inventando ao mesmo tempo a noção de esquizofrenia. Uma nova “terra prometida”
se abriu assim à doutrina freudiana: ela podia a partir de então investir o saber
psiquiátrico e tentar dar uma solução para o enigma da loucura humana.

No dia 3 de março de 1907, Carl Gustav Jung, aluno e assistente de Bleuler, foi
a Viena para conhecer Freud. Depois de várias horas de conversa, ficou encantado
com esse novo mestre. Seria o primeiro discípulo não-judeu de Freud.

Em 1909, a convite de Grandville Stanley Hall, Freud foi, em companhia de


Jung e de Ferenczi, à Clark University de Worcester, em Massachusetts, para dar
cinco conferências, que seriam reunidas sob o título de “Cinco lições de psicanálise”.
Apesar de um encontro produtivo com James Jackson Putnam e de um sucesso
considerável, Freud não gostou do continente americano. Durante toda a vida,
desconfiaria do espírito pragmático e puritano desse país que acolhia suas idéias
com entusiasmo ingênuo e desconcertante.

Temendo o anti-semitismo e que a psicanálise fosse assimilada a uma “ciência-


judaica”, Freud decidiu “desjudalizá-la”, pondo Jung à frente, como presidente, do
movimento. Depois de um primeiro congresso, que reuniu em Salzburgo em 1908
todas as sociedades locais, criou com Ferenczi, em Nuremberg, em 1910, uma
associação internacional, a Sociedade Psicanalítica de Viena “Internationale
Psychoanalytische Vereinigung” (IPV).

Em 1933, a sigla alemã seria abandonada. A IPV se tornaria então a


Associação Internacional de Psicanálise “International Psychoanalytical Association”
(IPA).

Entre 1909 e 1913, Freud publicou mais duas obras: “Leonardo da Vinci e uma
lembrança da sua infância” (1910) e “Totem e tabu” (1912-1913). A partir de 1910, a
expansão do movimento se traduziu por dissidências, tendo como motivo
simultaneamente quer elas pessoais e questões teóricas e técnicas. Às rivalidades
narcísicas se acrescentaram críticas sobre a duração dos tratamentos, a questão da
transferência e da contratransferência, o lugar da sexualidade e a definição da
noção de inconsciente.

Inicialmente, está a questão do pai, tratada com uma excepcional amplidão, em


“Totem e tabu”, e retomada a partir de um exemplo particular, em “Moisés e o
monoteísmo” (1932-1938). Ela constitui um dos pontos mais difíceis da doutrina de
Freud, devido ao polimorfismo da função paterna em sua obra. Mais tarde, foi o
conceito de narcisismo que foi objeto do grande artigo em 1914, “Sobre o
narcisismo: uma introdução”, necessária para levantar as dificuldades encontradas
na análise de Schreber e tentar explicar as psicoses, mas também para esboçar
uma teoria do eu. “O estranho” (Das Unheimliche), publicado em 1919, refere-se
especialmente à problemática da castração.
13

Porém, a maior alteração decorreu da conceitualização do automatismo de


repetição e do instinto de morte, que são o assunto de “Além do princípio de prazer”
(Jenseits dês Lustprinzips, 1920). A teoria do eu e da identificação serão os temas
centrais de “Psicologia de grupo e análise do ego” (Massenpsychologie umd Ich-
Analyse, 1921).

Finalmente, “A Negativa” (Die Verneinung, 1925) irá sublinhar a primazia da


palavra, na experiência psicanalítica, ao mesmo tempo em que define um modo
particular de presentificação do inconsciente.

Freud nunca deixou de tentar reunir, em uma visão que chama de


metapsicologia, as descobertas que sua técnica permitiu e as elaborações que
nunca deixaram de acompanhar sua prática, mesmo afirmando que esse esforço
não deveria ser interpretado como uma tentativa de constituição de uma nova “visão
do mundo” (Weltanschauung).

Certos remanejamentos valem como correções de posições anteriores. Este é


o caso da teoria do fantasma que, por volta de 1910, irá substituir a primeira teoria
traumática da sedução precoce (Leonardo da Vinci e uma lembrança de sua
infância, 1907; Formulações sobre os dois princípios do funcionamento mental,
1911; “O Homem dos Lobos”, 1918).

Esse também foi o caso do masoquismo, considerado, num primeiro momento,


como uma inversão do sadismo. As teses de “Além do princípio do prazer” permitirão
a concepção de um masoquismo primário, que Freud será levado a tornar
equivalente, em “O problema econômico do masoquismo” (1925), ao instinto de
morte e ao sentimento de culpa irredutível e inexplicado, revelado por certas
análises.

De forma sem dúvida arbitrária, pode-se classificar, nos remanejamentos


tornados necessários devido ao desgaste dos termos (embora muitos outros motivos
o justifiquem), a introdução da segunda tópica, constituída pela três instâncias, isso,
eu e supereu (O ego e o id [Das Ich und das Es], 1923), as novas considerações
sobre a angústia, como sinal de perigo (Inibições, sintomas e ansiedade/angústia
[Hemmung, Symptom und Angst], 1926) e, finalmente, o último texto, inacabado, “A
divisão do ego no processo de defesa (Die Ichspaltung im Abwehvorgang, 1938), no
qual Freud anuncia que, apesar das aparências, o que irá dizer, referindo-se à
observação do artigo de 1927, sobre o fetichismo, também era então totalmente
novo. E, de fato, as formulações nele propostas apresentem-se como um esboço de
uma remodelagem de toda a economia de sua doutrina.”

Na obra de Freud, dois textos possuem, aparentemente, um estatuto um tanto


especial. São eles “O futuro de uma ilusão” (Die Zukunft einer Illusion), publicado em
1927, que examina a questão da religião, e “O mal-estar na civilização” (Das
Unbehagen in der Kultur, 1929), dedicado ao problema da felicidade, considerada
pro Freud inatingível, e às exigências exorbitantes da organização social ao sujeito
humano. De fato, trata-se da consideração de fenômenos sociais, à luz da
experiência psicanalítica. Na realidade, como sempre acontece com Freud, o ângulo
escolhido para tratar de qualquer questão serve-lhe, antes de tudo, para dar
esclarecimentos ou indicações sobre aspectos importantes da experiência.
14

Isso ocorre, em “O Futuro”, com a questão do pai e a de Deus, como seu


corolário; em “O mal-estar”, a maldade fundamental do ser humano e a constatação
paradoxal de que quanto mais o sujeito satisfaz os imperativos morais, os do
supereu, mais este se mostra exigente.

Em 1911, Adler e Stekel se separaram do grupo freudiano. Dois anos depois,


Jung e Freud romperam todas as suas relações. Não suportando desvios em
relação à sua doutrina, Freud publicou, às vésperas da Primeira Guerra Mundial, um
verdadeiro panfleto, “A história do movimento psicanalítico”, no qual denunciou as
traições de Jung e Adler. Depois, criou um Comitê Secreto, composto de seus
melhores paladinos, aos quais distribuiu um anel de fidelidade.

Longe de evitar as dissidências, essa iniciativa levou a novas querelas.


Apoiados por Jones, os berlinenses (Abraham e Eitingon) preconizava a ortodoxia
institucional, enquanto os austro-húngaros (Rank e Ferenczi) se interessavam mais
pelas inovações técnicas. Uma nova dissidência marcou ainda a história desse
primeiro freudismo: a de Wilhelm Reich.

Por volta de 1930, o fenômeno da dissidência deu lugar às cisões,


característica da transformação da psicanálise em um movimento de massa. A partir
daí eram os grupos que se enfrentavam, não mais os discípulos ou os pioneiros em
rivalidade com o mestre. Isolado em Viena, mas célebre no mundo inteiro, Freud
prosseguiu sua obra, sem conseguir controlar a política de seu movimento. Entre
1919 e 1933, a IPA se transformou em uma verdadeira máquina burocrática, com a
responsabilidade de resolver todos os problemas técnicos relativos à formação dos
psicanalistas.

No fim da Primeira Guerra Mundial, a discussão sobre o caráter traumático das


afecções psíquicas foi relançada, com o aparecimento das neuroses de guerra.
Freud foi então confrontado com seu velho rival Julius Wagner Jauregg, acusado de
ter submetido soldados julgados simuladores a inúteis tratamentos elétricos. Nesse
debate, Freud interveio de maneira magistral para demonstrar a superioridade da
psicanálise sobre todos os outros métodos.

Com o desmoronamento do império austro-húngaro, Berlim se tornou a capital


do freudismo, como provou a criação do Berliner Psychoanalytisches Institut (BPI), e
as numerosas atividades do instituto de Frankfurt em torno de Otto Fenichel e da
“esquerda freudiana”. Enquanto os americanos afluíam a Viena para se formar no
divã do mestre, este analisava a própria filha, Anna Freud. Esta não tardaria a
tornar-se chefe de escola e opor-se a Melanie Klein, sua principal rival no campo da
psicanálise de crianças. Nesse aspecto, a oposição entre a escola vienense, que se
desenvolveu na IPA a partir de 1924 e que girava em torno da questão da
sexualidade feminina, mostrou o lugar cada vez mais importante das mulheres no
movimento psicanalítico. No centro dessa polêmica, Freud manteve sua teoria da
libido única e do falocentrismo, sem com isso mostrar-se misógino. Ligado em sua
vida particular a uma concepção burguesa da família patriarcal, adotava todavia, em
suas amizades com mulheres intelectuais, uma atitude perfeitamente cortês,
moderna e igualitária. Por sua doutrina e por sua condição de terapeuta,
desempenhou um papel na emancipação feminina.
15

Nos anos 1920, Freud publicou três obras fundamentais, através das quais
definiu sua segunda tópica e remanejou inteiramente sua teoria do inconsciente e do
dualismo pulsional: “Mais-além do princípio do prazer” (1920), “`Psicologia das
massas e análise do eu” (1921), “O eu e o isso” (1923). Esse movimento de
reformulação conceitual já começara em 1914, quando da publicação de um artigo
dedicado à questão do narcisismo. Confirmou-se, em 1915, com a elaboração de
uma metapsicologia e a publicação de um ensaio sobre a guerra e a morte, no qual
Freud sublinhava a necessidade para o sujeito de “organizar-se em vista da morte, a
fim de melhor suportar a vida”. Dessa reformulação, centrada na dialética da vida e
da morte e em uma acentuação da oposição entre o eu e o isso, nasceriam as
diferentes correntes do freudismo moderno: kleinismo, Ego Psychology, Self
Psychology, lacanismo, annafreudismo, Independentes.

Para postular a existência de uma pulsão de morte, Freud revalorizou duas


figuras da mitologia grega: Eros e Tânatos. Essa revisão da doutrina original se
produziu em um momento em que a sociedade vienense, já preocupada com a sua
própria morte desde o fim do século, se confrontava com a negação absoluta de sua
identidade: a Áustria dessa época, como enfatizou Stefan Zweig, era, no mapa da
Europa, apenas “uma luz crepuscular”, uma “sombra cinzenta, difusa e sem vida, da
antiga monarquia imperial”.

Em fevereiro de 1923, Freud descobriu, do lado direito de seu palato, um


pequeno tumor, que devia ser logo extirpado. Em um primeiro tempo, Felix Deutsch,
seu médico, lhe ocultou a natureza maligna desse tumor. Freud se indispôs com ele.

Seis meses depois, Hans Pichler, cirurgião vienense, procedeu a uma


intervenção radical: a ablação dos maxilares e da parte direita do palato. Trinta e
uma operações seriam feitas posteriormente, sob a supervisão de Max Schur. Freud
foi obrigado a suportar uma prótese, que ele chamava de “monstro”.

“Com seu palato artificial, escreveu Zweig, ele tinha visivelmente


dificuldade para falar [...]. Mas não abandonava seus interlocutores.
Sua alma de aço tinha a ambição particular de provar a seus amigos
que sua vontade era mais forte que os tormentos mesquinhos que o
seu corpo lhe infligia [...]. Era um combate terrível, e cada vez mais
sublime à medida que se estendia. Cada vez que eu o via, a morte
jogava mais distintamente sua sombra sobre seu rosto [...]. Um dia,
quando de uma de minhas últimas visitas, levei comigo Salvador
Dali, a meu ver o pintor mais talentoso da jovem geração, que
devotava a Freud uma veneração extraordinária. Enquanto eu falava,
ele desenhou um esboço. Nunca tive coragem de mostrá-lo a Freud,
pois Dali, em sua clarividência, já representara o trabalho da morte.”

A doença não impedia Freud de prosseguir com suas atividades, mas o


mantinha afastado das questões do movimento psicanalítico, e foi Jones quem
presidiu os destinos da IPA a partir de 1934, data na qual Max Eitingon foi obrigado a
deixar a Alemanha.
16

Apaixonado por telepatia, Freud não hesitou em se dedicar, com Ferenczi,


entre 1921 e 1933, a experiências ditas “ocultas”, que iam contra a política
jonesiana, que visava dar à psicanálise uma base racional, científica e médica. Em
1926, depois de um processo intentado contra Theodor Reik, tomou vigorosamente
a defesa dos psicanalistas não-médicos, publicando “A questão da análise leiga”. No
ano seguinte, deflagrou com seu amigo Oskar Pfister uma polêmica ao publicar “O
futuro de uma ilusão”, obra na qual comparava a religião a uma neurose. Enfim, em
1930, com “O mal-estar na cultura”, questionava a capacidade das sociedades
democráticas modernas de dominar as pulsões destrutivas que levam os homens à
sua perda. Dois anos depois, em um intercâmbio com Albert Einstein (1879-1955),
enfatizou que o desenvolvimento da cultura era sempre uma maneira de trabalhar
contra a guerra.

Entre 1929 e 1939, manteve uma crônica de seus encontros (Kürzeste Chronik,
Crônica brevíssima), que seria publicada por Michael Molnar em Londres, em 1992.
Cada vez mais pessimista quanto ao futuro da humanidade, Freud não tinha
nenhuma ilusão sobre a maneira como o nazismo tratava os judeus e a psicanálise:
“Como homem verdadeiramente humano, escreveu Zweig, ele estava
profundamente abalado, mas o pensador não se surpreendia absolutamente com a
espantosa irrupção da bestialidade.” Entretanto, no dia seguinte ao incêndio do
Reichstag, decidiu com Eitingon manter a existência do BPI. Embora não aprovasse
a política de “salvamento” da psicanálise, preconizada por Jones, cometeu o erro de
privilegiar a luta contra os dissidentes (Reich e os adlerianos), ao invés de recusar
qualquer compromisso com Matthias Heinrich Göring, o que teria levado à
suspensão de todas as atividades psicanalíticas, logo que Hitler chegou ao poder.

Mas em março de 1938, no momento da invasão da Áustria pelas tropas


alemãs, Richard Sterba agiu em sentido contrário, decidindo recusar a política de
Jones e não criar em Viena um instituto “arianizado” como o de Göring, em Berlim.
Tomou-se então a decisão de dissolver a Wiener Psychoanalytische Vereinigung
(WPV) e transportá-la “para onde Freud fosse morar”. Graças à intervenção do
diplomata americano William Bullitt (1891-1967) e a um resgate pago por Marie
Bonaparte, Freud pôde deixar Viena com sua família. No momento de partir, foi
obrigado a assinar uma declaração na qual afirmava que nem ele nem seus
próximos haviam sido importunados pelos funcionários do Partido Nacional-
Socialista. Em Londres, instalou-se em uma bela casa em Maresfield Gardes 20,
futuro Freud Museum. Ali, redigiu sua última obra, “Moisés e o monoteísmo”. Nunca
saberia do destino dado pelos nazistas às suas quatro irmãs, exterminadas em
campos de concentração.

No começo do mês de setembro de 1939, escutava o rádio todos os dias. Aos


seus familiares, que lhe perguntavam se aquela seria a última guerra, respondia:
“Será minha última guerra.” Iniciou então a leitura de “Peau de chagrin” de Honoré
de Balzac (1799-1850): “É exatamente disso que preciso, disse, este livro fala de
definhamento e de morte por inanição.” Em 21 de setembro, pegou a mão de Max
Schur e lembrou o primeiro encontro dos dois: “Você prometeu não me abandonar
quando chegasse a hora. Agora é só uma tortura sem sentido.” Depois, acrescentou:
“Fale com Anna; se ela achar que está bem, vamos acabar com isso.” Consultada,
Anna quis adiar o instante fatal, mas Schur insistiu e ela aceitou a decisão. Por três
vezes, ela deu a Freud uma injeção de três centigramas de morfina.
17

Em 23 de setembro, às três horas da manhã, depois de dois dias de coma,


Freud morreu tranqüilamente: “Foi a sublime conclusão de uma vida sublime,
escreveu Zweig, uma morte memorável em meio à hecatombe, daquela época
mortífera. E quando nós, seus amigos, enterramos seu caixão, sabíamos que
confiávamos à terra inglesa o que a nossa pátria tinha de melhor.” As cinzas de
Freud repousam no crematório de Golders Green.

Centenas de obras foram escritas no mundo sobre Freud e algumas dezenas


de biografias lhe foram consagradas, de Fritz Wittels a Peter Gay, passando por Lou
Andréas Salomé, Thomas Mann, Siegfried Bernfld, Ernest Jones, Ola Andersson,
Henri F. Ellenberger, Max Schur, Kurt Eissler, Didier Anzieu, Carl Schorske. Sua
obra, traduzida em cerca de 30 línguas, é composta de 24 livros propriamente ditos
(dos quais dois em colaboração, um com Josef Breuer, outro com William Bullitt) e
de 123 artigos. Freud também escreveu prefácios, necrológios, intervenções
diversas em congressos e contribuições para enciclopédias.

Acredita-se geralmente que a psicanálise renovou o interesse tradicionalmente


atribuído aos eventos da existência para compreender ou interpretar o
comportamento e as obras dos homens excepcionais. Isso não é verdade, e Freud,
sobre isso, é categórico: “Quem quiser se tornar biógrafo deve se comprometer com
a mentira, a dissimulação, a hipocrisia e até mesmo com a dissimulação de sua
incompreensão, pois a verdade biográfica não é acessível e, se o fosse, não serviria
de nada” (carta a A. Zweig, de 31 de maio de 1936).

Kurt Eissler avaliou em 15 mil o número de cartas escritas por Freud e em


cerca de 10 mil as que estão depositadas na Biblioteca do Congresso, em
Washington ou seja uma perda de aproximadamente cinco mil peças. O historiador
alemão Gerhard Fichtner propôs outras cifras. Segundo ele, Freud teria escrito cerca
de 20 mil cartas. Dez mil teriam sido destruídas ou perdidas, cinco mil estão
conservadas e cinco mil ainda poderiam ser encontradas no século XXI, ou seja dez
mil no total. Observe-se que Freud destruiu ou perdeu uma parte das cartas que
seus correspondentes lhe enviaram, particularmente as de Wilhelm Fliess.

Três mil e duzentas cartas de Freud foram publicadas, entre as quais as


dirigidas a Eduard Silberstein, Wilhelm Fliess, Lou Andréas-Salomé, Ernest Jones,
Carl Gustav Jung, Sandor Ferenczi, Romain Rolland, Arnold Zweig, Stefan Zweig,
Edoardo Weiss, Oska Pfister (expurgadas), Karl Abraham (expurgadas).

Duas edições completas da obra de Freud em alemão foram realizadas: uma


durante sua vida, os “Gesammelte Schriften”, a outra depois em sua morte, as
“Gesammelte Werke (GW)”, publicadas primeiro em Londres, depois em Frankfurt.
As GW se tornaram, universalmente, a edição de referência. Foram completadas por
dois outros volumes, um “Índice” e um volume de suplementos (Nachtragsband),
realizado por Ângela Richards e Ilse Grubrich-Simitis. A estes se acrescentam uma
edição dita de estudos, a Studienausgabe, elaborada por Alexander Mitscherlich e
composta de uma seleção de textos. Apesar de todos os esforços de Mitscherlich e
de Ilse Grubrich-Simitis, nenhuma edição dita crítica das GW (notas, comentários,
apresentações, etc.) foi publicada na Alemanha.
18

A edição inglesa, realizada por James Strachey sob o título “Standard Edition of
the Complete Psychological Works of Sigmund Freud (SE)”, é a única edição crítica
da obra de Freud. É por isso que, mais ainda do que as “Gesammelte Werke”, é uma
obra de referência no mundo inteiro.

Em razão da oposição dos herdeiros nenhum dos textos de Freud anterior ao


ano de 1886 foi integrado às diversas obras completas. Ora, durante esse período,
dito pré-psicanalítico, que se estendeu de 1877 a 1886, Freud publicou 21 artigos
sobre temas diversos: neurologia, medicina, histologia, cocaína, etc. Esses artigos
foram recenseados em 1973 por Roger Dufresne.

Em 1967, Jean Laplanche e Jean-Bertrand Pontalis isolaram cerca de 90


conceitos estritamente freudianos no interior de um vocabulário psicanalítico
composto de 430 termos. Esses conceitos foram objeto de múltiplas revisões,
efetuadas pelos grandes teóricos e clínicos do freudismo: Sandor Ferenczi, Melanie
Klein, Jacques Lacan, Donald Woods Winnicott, Heinz Kohut, etc.

Observe-se que Freud publicou cinco grandes casos clínicos, que foram
comentados ou revistos por seus sucessores: Ida Bauer (Dora), Herbert Graf (O
Pequeno Hans), Ernst Lanzer (O Homem dos Ratos), Daniel Paul Schreber, Serguei
Constantinovitch Pankejeff (O Homem dos Lobos). Segundo o quadro das filiações
estabelecido por Ernst Falzeder em 1994, Freud formou na análise didática mais de
60 práticos, na maioria alemães, austríacos, ingleses, húngaros, neerlandeses,
americanos, suíços, aos quais se acrescentam os pacientes cuja identidade se
ignora.

Foi talvez Stefan Zweig, em 1942, quem redigiu um dos relatos mais realistas
de Freud: “Não se podia imaginar um indivíduo de espírito mais intrépido. Freud
ousava a cada instante expressar o que pensava, mesmo quando sabia que
inquietava e perturbava com suas declarações claras e inexoráveis; nunca
procurava tornar sua posição menos difícil através da menor concessão, mesmo de
pura forma. Estou convencido de que Freud poderia ter exposto, sem encontrar
resistência por parte da universidade, quatro quintos de suas teorias, se estivesse
disposto a vesti-las prudentemente, a dizer “erótico” em vez de “sexualidade”, “Eros”
em vez de “libido” e a não ir sempre até o fundo das coisas, mas limitar-se a sugeri-
las. Mas, desde que se tratasse de seu ensino e da verdade, ficava intransigente;
quanto mais firme era a resistência, tanto mais ele se afirmava em sua resolução.
Quando procuro um símbolo da coragem moral- o único heroísmo no mundo que
não exige vítimas – vejo sempre diante de mim o belo rosto de Freud, com sua
clareza viril, com seus olhos sombrios de olhar reto e viril”.
19

2. Cronologia de vida e da obra de Freud

1815

- Nascimento do pai de Sigmund, Jakob Freud, negociante de lã em Freiberg,


na Moravia, a cerca de 30km sudeste de Dresden. De um primeiro casamento,
Jakob teve dois filhos, Emmanuel e Philipp. Este último terá um filho, John, um ano
mais velho que Sigmund.

1855

- Jakob Freud se casa em segundas núpcias com Amália Nathansohn, que


morreu aos 95 anos, originária de Brody, cidade situada no noroeste da Galícia,
próximo da fronteira russa, e cujo primeiro filho, Julius, morreu aos oito meses; a ele
se seguiram Sigmund, depois cinco mulheres e mais um homem; a filha mais velha,
Anna (nome que será também o da filha mais velha de Freud), era dois anos e meio
mais nova que Sigmund e outro rapaz, dez anos mais novo.

1856

- Em 6 de maio nasce Sigmund Freud, o fundador da psicanálise e autor da


obra A Interpretação dos Sonhos, na cidade Freiberg, Morávia (hoje Pribor), na atual
República Tcheca, então parte do Império Austríaco.

- Filho de Jacob Freud, e de Amalia Nathanson, sua terceira esposa, é


registrado com o nome Schlomo Sigismund.

- Aos 22 anos ele muda o prenome para Sigmund. Segundo o costume de


certas famílias judaicas, ele teria recebido também um segundo prenome: Schlomo.

- Quando Freud nasceu, já tinha dois meio-irmãos de 20 e 24 anos, vindos do


primeiro casamento do pai. Esses meio-irmãos tinham mais ou menos a mesma
idade da mãe de Freud.

1860

- A família se instala em Viena.

1865

- Entrada de Sigmund no Gymnasium (escola secundária) com um ano de


antecedência.
20

1873

- Aprovado, brilhantemente, nos exames de conclusão dos estudos


secundários, Freud ingressa na Universidade de Viena para estudar medicina.
Forma-se oito anos depois.

- Freud descobre o anti-semitismo. Lê Goethe.

- Nasce o psiquiatra e psicanalista húngaro Sandor Ferenczi, que virá a ser o


discípulo preferido de Freud e também o clínico mais talentoso da história do
freudismo.

- Nasce também Juliano Moreira, médico baiano que, depois de se formar em


psiquiatria dinâmica na Europa, será um dos introdutores das idéias freudianas no
Brasil.

1874

- Publicação por Brücke de suas conferências sobre fisiologia, no espírito


fisicalista de Helmholtz e de seu grupo.

1875

- Freud viaja a Manchester, onde encontra o meio-irmão Philipp e a sobrinha


Pauline.

- Nasce o psiquiatra suíço e fundador da psicologia analítica Carl Gustav Jung.


Fundador da escola de psicoterapia, especialista em psicoses e interessado pelo
orientalismo, sua obra será tão abundante quanto à de Freud.

1876

- Freud desenvolve trabalhos em neurologia e fisiologia. Pesquisas em Trieste


sobre as glândulas sexuais das enguias.

- Entra para o laboratório de Brücke para estudar o sistema nervoso dos


peixes.

- Acompanha seu curso sobre a fisiologia da voz e da linguagem.

- Assiste também em Viena às aulas de Brentano, curso de filosofia obrigatório


para os estudantes de medicina (teórico do conceito de consciência).

1878

- Conhece Josef Breuer.

- Estudos de neuropsiquiatria infantil


21

1879

- Freud freqüenta os cursos de psiquiatria de Theodor Meynert, cuja tendência


teórica reflete-se no subtítulo de sua obra Psychiatrie, publicada em Viena em 1890:
“Conferências clínicas sobre a psiquiatria segundo fundamentos científicos, para
estudantes de medicina, juristas e psicólogos”.

- Nasce o psiquiatra e psicanalista inglês Ernest Jones, de grande importância


para a história política do freudismo. Será o fundador da psicanálise na Grã-
Bretanha e criador do Comitê Secreto, círculo formado por discípulos de Freud para
discussões de temas ligados à psicanálise. Pioneiro da historiografia psicanalítica e
da tradução inglesa da obra freudiana. Terá uma longa correspondência de 671
cartas com Freud. Fará um grande trabalho de implantação das idéias freudianas no
Canadá e nos EUA.

1880

- Breuer inicia o tratamento de Bertha Pappenheim, que, sob o pseudônimo de


Anna O., será também a primeira paciente histérica de Freud.

- Por iniciativa do filósofo e helenista Theodor Gomperz, que coordena a edição


alemã de John Stuart Mill, Freud traduz quatro ensaios deste autor sobre a questão
operária, a emancipação das mulheres, o socialismo e Platão.

1881

- Freud conclui o curso de medicina.

1882

- É criada uma cátedra de clínica de doenças nervosas, da qual o médico e


fisiologista francês Jean Martin Charcot é o titular. A neurologia passa assim a ser
reconhecida como uma disciplina autônoma pela primeira vez. Charcot, ligado à
história da histeria, da hipnose e das origens da psicanálise, é o último grande
representante da psiquiatria dinâmica.

- Freud conhece a sua futura esposa, Martha Bernays, da família de um


comentador da Poética de Aristóteles, Jacob Bernays, interessado sobretudo na
reconstituição dos textos antigos sobre a catarse.

- Breuer fala com Freud sobre o caso de Anna O.

1883

- Freud ingressa no serviço de psiquiatria de Meynert.


22

1884

- Freud realiza pesquisas sobre a cocaína e descobre as propriedades


analgésicas. Faz experiências consigo mesmo e com o amigo Fleischl.

1885

- Freud é nomeado “Privatdozent” e ganha uma viagem de estudos,


escolhendo Paris para iniciar um estágio com Charcot na Salpêtrière. Este terá papel
fundamental na formação do jovem Sigmund. As várias cartas que trocaram estão
traduzidas no livro "Lições da terça-feira".

1886

- Freud volta a Viena, onde se estabelece como médico e dirige o


Departamento de Neurologia, primeiro instituto público para crianças. Entre 1886 e
1890 exerce medicina como especialista em doenças nervosas.

- Em setembro, Freud se casa com Martha Bernays, com quem terá 6 filhos.

- Em 15 de outubro fez uma conferencia sobre histeria masculina na Sociedade


dos Médicos.

- Traduz as “Lições de terça-feira de Charcot”.

- Estudos de neuropsiquiatria infantil.

1887

- Conhece Fliess.

- Pratica hipnose.

- Reside na França, em Nancy, para trabalhar com Bernheim.

1888

- Publica a tradução das “Leçons sur lês maldadies du système nerveux”, de


Charcot.

1889

- Freud inicia estudos com hipnose e publica a tradução de “De la suggestion et


de sés applications à la thérapeutique”, de H. Bernheim.
23

1890

- Escreve “Tratamento psíquico (ou mental)”.

- Pratica com seus pacientes o método catártico.

1891

- Instala seu consultório na Berggasse, em Viena. Freud ficaria ali por quase
cinqüenta anos, até sua partida para a Inglaterra.

1892

- Freud elabora o método das associações livres (técnica usada pela


psicanálise na qual o paciente deve esforçar-se a dizer tudo que lhe vier à cabeça,
principalmente aquilo que ele se sinta tentado a omitir).

1893

- Início da correspondência entre Freud e Wilhelm Fliess, seu amigo íntimo e


médico voltado a estudos relacionados à sexualidade. A correspondência entre eles
terá uma enorme importância no desenvolvimento de teoria psicanalítica de Freud.

- Redação, com Breuer, a “Comunicação preliminar” aos “Estudos sobre a


histeria”.

- Artigo necrológico sobre Charcot, que faleceu em 16 de agosto deste ano.

- Publicação em francês, na “Revue Neurologique”, do artigo “Alguns pontos


para um estudo comparativo da paralisia motoras orgânicas e histéricas”.

- Descoberta dos conceitos de defesa e recalcamento ou repressão.

1894

- Publica “As psiconeuroses de defesa” e sua tradução das “leçons du mardi”,


de Charcot.

- Rompimento com Breuer.

- Descoberta do conceito de transferência.

1895

- Freud faz a primeira interpretação de um sonho seu: "A injeção de Irma", que
parece ser a encenação de um romance familiar das origens e da história da
psicanálise.
24

- Publica originalmente em francês “Obsessões e fobias”.

- Nasce em dezembro seu quinto filho, Anna Freud, a filha mais velha, que se
tornará psicanalista e fundará sua própria corrente. Se tornará uma célebre
psicanalista de crianças.

- Concepção do “Projeto para uma psicologia científica”.

1896

- Surge pela primeira vez o termo psicanálise, para nomear um método


específico da psicoterapia.

- No mesmo ano, a correspondência entre Fliess e Freud apresenta a


expressão "aparelho psíquico" e seus três componentes: consciente, pré-consciente
e inconsciente.

- Publicação de “Novos comentários sobre as psiconeuroses de defesa”.

- Morre o pai de Freud, Jakob Freud.

- Entre 1896 e 1907, Freud viaja à Itália muitas vezes, para passar suas férias
de verão.

1897

- Através de correspondência com Wilhelm Fliess, Freud inicia o que ele


chamaria de sua auto-análise.

- Freud escreve a Fliess dizendo que está abandonando a teoria da sedução,


segundo a qual a principal causa das neuroses são os traumas causados nas
crianças pelos adultos.

- Freud começa a redigir A Interpretação dos Sonhos. Primeira teoria do


aparelho psíquico como um aparelho reflexo. Descobre o inconsciente como um
sistema.

- Descobre o conceito do Édipo, tendo a primeira interpretação de Freud da


tragédia de Édipo Rei, de Sófocles.

1898

- Realiza uma conferência sobre “A sexualidade na etiologia das neuroses”.

1899

- Publicação de A Interpretação dos Sonhos, de Freud (sua edição, porém, é


datada de 1900).
25

1900

- Em outubro inicia a análise de Dora (Caso de histeria e a questão da


transferência).

- Nasce o médico fundador da Sociedade Brasileira de Psicanálise, Durval


Ballegardi Marcondes. Marcondes toma conhecimento das obras de Freud aos 20
anos.

1901

- Nasce o psiquiatra e psicanalista francês Jacques Lacan, responsável por


reformular a obra freudiana, dando-lhe um caráter mais filosófico e tirando-lhe o
substrato biológico. Lacan elaborará inúmeros conceitos (imaginário, simbólico, real,
significante, sujeito, psicologia dos povos) que enriquecerão as formulações clínicas.
Será considerado o único verdadeiro mestre psicanalista da França.

- Freud publica: “A psicopatologia da vida cotidiana”, “Sobre os sonhos” e faz


uma viagem a Roma.

1902

- Criada a primeira sociedade psicanalista do mundo, em Viena, com o nome


de Sociedade Psicológica das Quartas-Feiras.

- Freud faz uma viagem à Nápoles.

- Steckel, um discípulo de Freud, começa a praticar a psicanálise.

1903
- Freud analisa uma criança de 5 anos. É a primeira psicanálise feita em
crianças.

- Descoberta da primeira teoria das pulsões: pulsão sexual e pulsão do Eu.

1904

- Faz uma viagem a Atenas, Grécia e a Acrópole.

- Inicia correspondência com Eugen Bleuler em Zurique e escreve “Sobre a


psicoterapia”.

1905

- Freud publica: “Três ensaios sobre a teoria da sexualidade”, “Fragmento da


análise de um caso de histeria” (caso Dora), “Os chistes e sua relação com o
inconsciente”, “A psicanálise e a determinação dos fatos nos processos jurídicos”
26

(baseado em conferência feita em Viena em junho de 1905 para estudantes de


direito).

- Conhece Jung.

- Descoberta dos estádios de desenvolvimento da sexualidade infantil.

1906

- Início das correspondências entre Freud e Jung. Amigo e discípulo de Freud


até 1913, Jung estabelece com ele uma forte correspondência que chegou a 359
cartas. Jung já tinha uma concepção de inconsciente e do psiquismo quando decidiu
se aproximar de Freud. O que o levou ao pai da psicanálise foi o fascínio por uma
obra na qual acreditava encontrar a confirmação de suas hipóteses sobre as idéias
fixas subconscientes, as associações verbais e os complexos.

1907

- Jung cria a Sociedade Freud em Zurique. Mais tarde, esta se torna a


Associação Psicanalítica de Zurique.

- Freud publica: “O esclarecimento sexual das crianças”, “Delírios e sonhos na


Gradiva de Jensen” e “Atos obsessivos e práticas religiosas”.

- Visita Carl Gustav Jung. Conhece Karl Abraham.

1908

- Sandor Ferenczi visita Freud pela primeira vez, depois de ler A Interpretação
dos Sonhos. A partir deste encontro, trocam cerca de 1.200 cartas durante 25 anos.

- Acontece o Primeiro Congresso Internacional de Psicanálise em Salzburgo,


com o título: "Encontro dos psicólogos freudianos". Neste congresso, em que 42
membros de 6 países estiveram presentes, Freud encontra-se com Ernest Jones
pela primeira vez.

- Acontece também o Primeiro Congresso sobre Psicanálise em Salzburgo,


Áustria. Hermine von Hug-Hellmuth se torna a primeira mulher psicanalista de
crianças.

- Freud publica: “Sobre as teorias sexuais das crianças”, “Escritores criativos e


devaneio”, “Caráter e erotismo anal” e “Moral sexual civilizada e doença nervosa
moderna”.

- Visita de Sándor Ferenczi.

- Descoberta do complexo de castração.

1909
27

- Viagem aos Estados Unidos na companhia de Jung e Ferenczi.

- Realiza cinco conferências de iniciação na psicanálise, na Universidade Clark


(as Cinco lições de psicanálise).

- Freud publica : “Análise de uma fobia em um menino de cinco anos”


(Pequeno Hans), “Notas sobre um caso de neurose obsessiva” (Homem dos Ratos)
e “Romances familiares”.

1910

- Criada a International Psychoanalytical Association (IPA), no II Congresso


Internacional de Psicanálise de Nuremberg, sendo Carl Jung eleito seu primeiro
presidente. A IPA virá a ser uma organização internacional responsável por reunir as
sociedades de diferentes países. - O médico chileno German Greve apresenta as
teses freudianas pela primeira vez na América Latina, em um congresso de medicina
em Buenos Aires.

- Freud publica : “Um tipo especial de escolha de objeto feita pelos homens”,
“Psicanálise selvagem ou silvestre” , “As perspectivas futuras da terapia
psicanalítica”, “A significação antitética das palavras primitivas”, “Cinco lições de
psicanálise” e “Leonardo da Vinci e uma lembrança da sua infância” (inicio dos
estudos da neurose à psicose) .

- É realizado o Congresso de Weimar.

- Acontece a renúncia de Alfred Adler da Sociedade Psicanalítica de Viena.

1911

- Freud publica: “Formulações sobre os dois princípios do funcionamento


mental”, “Notas psicanalíticas sobre um relato autobiográfico de um caso de
paranóia” (Dementia paranoides, caso Schreber).

- Descobre o conceito de narcisismo, graças ao estudo da psicose paranóica.

1912

- Ernest Jones cria a American Psycoanalytic Association (APsaA).

- Freud publica : “O manejo da interpretação de sonhos na psicanálise”, “A


dinâmica da transferência”, “Recomendações aos médicos que exercem a
psicanálise”, “Totem e tabu”, “Sobre a tendência universal à depreciação na esfera
do amor” e “Uma nota sobre o inconsciente na psicanálise”.

1913

- Início do conflito entre Jung e Freud, após Jung tentar convencer Freud a
dessexualizar sua doutrina. O conflito resultará, na ruptura definitiva entre eles.
28

- É fundada a “Zeitschrift für Psychoanalyse”.

- Freud publica : “O interesse científico da psicanálise”, “Duas mentiras


contadas por crianças”, “O tema dos três escrínios” e “A disposição à neurose
obsessiva”.

- Ferenczi funda a Sociedade de Budapeste.

- Ernest Jones funda a Sociedade de Londres.

1914

- Jung deixa a presidência da Associação Internacional. Freud escreve : “A


história do movimento psicanalítico”, “Sobre o narcisismo: uma introdução” e “Moisés
de Michelangelo”.

1915

- Freud publica: “Um caso de paranóia que contraria a teoria psicanalítica da


doença”, “As pulsões e suas vicissitudes”, “Observações sobre o amor
transferencial” (Novas recomendações sobre a técnica da psicanálise III), “Reflexões
para os tempos de guerra e morte”, “O inconsciente” e “Recalcamento ou
Repressão”.

1916

- Freud publica: “Alguns tipos de caráter encontrados no trabalho psicanalítico”


e “Sobre a transitoriedade”.

1917
- Freud publica : “Conferências introdutórias sobre psicanálise”, “Luto e
melancolia”, “As transformações da pulsão exemplificadas no erotismo anal” (As
transformações do instinto exemplificadas no erotismo anal), “Suplemento
metapsicológico à teoria dos sonhos”, “Uma dificuldade no caminho da psicanálise”,
e “Tabu da virgindade”.

1918

- Freud publica : “História de uma neurose infantil” (Homem dos Lobos).

1919

- Freud publica: “O estranho”, “Bate-se numa criança” (Uma criança é


espancada), “Sobre o ensino da psicanálise nas universidades” e “Introdução a
psicanálise e as neuroses de guerra”.

1920
29

- A filha mais velha de Freud, Sofia, veio a falecer e depois o seu neto, filho de
Sofia.

- Freud publica: “Memorando sobre o tratamento elétrico dos neuróticos de


guerra”, escrito para o processo movido contra Wagner-Jauregg, “Mais-além do
princípio do prazer”.

- Fundação da policlínica de Berlim e do “International Journal of


Psychoanalysis”.

- Segunda teoria do aparelho psíquico: Isso (Id), Eu (Ego), Supereu (Superego)


e Mundo externo.

- Segunda teoria das pulsões: pulsão de vida e pulsão de morte.

- Além do princípio do prazer. Descobre o conceito de compulsão à repetição.

1921

- No Brasil, em São Paulo, Durval Marcondes começa a se orientar para a


psicanálise.

- Freud publica : “Psicologia das massas e análise do eu” (Psicologia de grupo


e a análise do ego).

1922-23

- Constata um câncer no maxilar de Freud, o que o leva a 33 cirurgias e a


perder o maxilar superior, tendo de instalar aí uma prótese para separar a boca.
Primeira difusão das obras de Freud em espanhol na América Latina.

- Freud publica “O eu e o isso” (O Ego e o Id), “Observações sobre a teoria e a


prática da interpretação de sonhos”, “Dois verbetes de enciclopédia” (“Psicanálise” e
“Teoria da libido”), “Uma breve descrição da psicanálise”, “A dissolução do complexo
de Édipo”.

- Surgem os primeiros sinais de câncer de boca (mandíbula). Primeira cirurgia.

- Instauração do conceito de falo.

- Morre o seu neto “mais amado”, Heinz.

- Importância do conceito do Isso (Id) como o campo mais impessoal e mais


estranho ao Eu (Ego).

1924

- A Sociedade Psicanalítica de Moscou passa a ser filiada à IPA, apesar de não


receber o apoio de Ernest Jones.
30

- A filiação é defendida por Freud desde 1922.

- Freud publica: “O problema econômico do masoquismo”, “As resistências à


psicanálise”.

1925

- Instauram-se as regras da psicanálise didática, que devem ser seguidas por


todos os integrantes da IPA.

- Freud publica a sua auto-biografia, “Uma nota sobre o Bloco Mágico”, “A


denegação”.

- Morre Karl Abraham.

1926

- Freud publica: “A questão da análise leiga”, “Inibições, sintomas e angústia”


(Inibições, sintomas e ansiedade) e “Psicanálise”.

- Fundação da Sociedade Psicanalítica de Paris.

1927

- Durval Marcondes e Franco da Rocha criam, em São Paulo, a Sociedade


Brasileira de Psicanálise, a primeira sociedade freudiana da América Latina.

- Inicia-se o conflito entre europeus e americanos quanto à admissão de não-


médicos na IPA. Freud publica: “Fetichismo”, “O futuro de uma ilusão”.

1928

- O conflito leva à fundação da Associação Médica de Psicanálise em Paris,


reservada apenas aos médicos. A Associação jamais se filiará à IPA.

- Publicação da primeira revista brasileira de psicanálise, sob responsabilidade


de Durval Ballegardi.

- Freud publica: “Dostoievski e o parricídio”.

1929

- A Sociedade Brasileira de Psicanálise é admitida na IPA. Freud publica: “O


mal-estar na cultura” (O mal-estar na civilização).

- Freud rompe com Ferenczi.

1930
31

- Morre a mãe de Freud.

1931

- Freud publica : “Sexualidade feminina”.

- Agravamento do câncer da mandíbula.

1932

- Freud publica : “Novas conferências introdutórias sobre a psicanálise”, “A


aquisição e o controle do fogo”, “Por que a guerra?”, carta a Einstein publicada em
1933, em alemão, inglês e francês pelo Instituto Internacional de Cooperação
Intelectual.

1933-1939

- A terminologia freudiana é banida do vocabulário da psiquiatria e da psicologia


da Alemanha. A psicanálise é considerada como uma ciência judaica. Neste período
há uma grande emigração de psicanalistas alemães para a Argentina, Inglaterra e
Estados Unidos.

- Os livros de Freud são queimados na Alemanha.

1934

- Jung é denunciado por excluir judeus de uma sociedade composta por


psiquiatras e psicoterapeutas. É o início da polêmica da adesão de Jung ao
nazismo.

1935

- Muitos titulares judeus de sociedades de psicanálise têm que se demitir para


"salvar a psicanálise na Alemanha".

1936

- Adelheid Lucy Koch vem ao Brasil. Ela é a primeira psicanalista didática,


responsável por iniciar Durval Marcondes e outros na psicanálise. Também
contribuirá para que a Sociedade Brasileira de Psicanálise seja reconhecida pela
IPA.

- Freud publica: “Um distúrbio de memória na Acrópole”.

- Em maio comemora 80 anos, bodas de ouro.

1937

- Freud publica: “Análise terminável e interminável”.


32
33

1938

- O Anschluss: Roosevelt e Mussolini intervêm em favor de Freud.

- Fugindo do nazismo, fixa residência em Londres com a esposa e filhos. Com


a ascensão do nazismo, os seus livros são queimados em praça pública.

- Os nazistas revistam sua casa e levam seus objetos de coleção de


antiguidades.

- Freud publica : “Construções em análise”, “Um esboço de psicanálise”.

1939

- Publicação do final de “Moisés e o monoteísmo”.

- Aos 83 anos, em 23 de setembro, Freud morre de um câncer de mandíbula,


do qual padeceu durante 16 anos.

1951

- Morre Martha Freud.


34

Bibliografia

FREUD, SIGMUND, Obras Psicológicas Completas versão 2.0.

ROUDINESCO, ELISABETH - Dicionário de Psicanálise, Jorge Zahar Editor, RJ -


1997.

CHEMAMA, ROLAND - Dicionário de Psicanálise Larousse, Artes Médicas, RS-


1995.

LAPLANCHE E PONTALIS – Vocabulário da Psicanálise, Martins Fontes, SP - 2000.

KAUFMANN, PIERRE – Primeiro Grande Dicionário Lacaniano, Jorge Zahar Editor,


RJ - 1996.

NASIO, J-D - Introdução às Obras de Freud, Ferenczi, Groddeck, Klein, Winnicott,


Dolto, Lacan, Jorge Zahar Editor, RJ - 1995.

Internet:

http://www.ebp.org.Br
http://www.freud.rg3.net/
http://fundamentosfreud.vilabol.uol.com.br/biografia.html

Você também pode gostar