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Jornal de Estudos Espíritas 8, 010208 (2020) - (9 pgs.) Volume 8 – 2020

A vida e obra de H. L. D. Rivail e Allan Kardec


Raul Franzolin Neto1
1
Fundador e editor do Grupo de Estudos Avançados Espíritas (GeaE), Pirassununga, SP, Brasil.
e-mail: 1 raulfranzolin@gmail.com
(Recebido em 30 de Agosto de 2020 e publicado em 08 de Outubro de 2020).

R ESUMO
Hippolyte Léon Denizard Rivail tem a sua vida e obra
em duas fases distintas. Na primeira, estudando e tra-
balhando como educador na qual contribuiu com pu-
blicações relevantes para o sistema educacional fran-
cês. Na segunda, a partir de 1857, quando adota o
pseudônimo Allan Kardec e passa a se dedicar inte-
gralmente a decifrar as relações entre o mundo visí-
vel e invisível, a chamada codificação espírita. Biógra-
fos têm envidado esforços para registrar os momentos
significantes desse incansável trabalho desenvolvido
com sucesso. Muitas informações disponíveis na in-
ternet são replicadas de poucas fontes, principalmente
da biografia escrita por Henri Sausse, em 1909. Esta
revisão bibliográfica aborda a vida e obra do professor
Rival e de Allan Kardec agregando dados de documentos históricos recentemente divulgados, visando contribuir
para o conhecimento do Espiritismo, com informações destacadas sobre o trabalho do seu codificador.
Palavras-Chave: Espiritismo; Espírita; Kardec; Rivail.
DOI: 10.22568/jee.v8.artn.010208

I I NTRODUÇÃO o conhecimento da vida e obra do professor Rival e Allan


Kardec com informações disponíveis na literatura, como
O marco histórico da codificação do Espiritismo é a livros editados, artigos em periódicos, obras originais de-
publicação de O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec, positadas na BnF, dissertações e teses acadêmicas
em 18 de abril de 1857 em Paris, na França. Entretanto,
manifestações de espíritos já eram relatadas durante o
século XVIII e todo século XIX, adotando-se o termo es- II A FAMÍLIA
piritualismo, com médiuns que utilizavam a mediunidade
de efeitos físicos, em apresentações de espetáculos reali- A Revolução Francesa ocorrida em 22 de setembro de
zados em hotéis, teatros, casas particulares, etc., prin- 1792 pôs fim à monarquia com a decapitação do rei Luis
cipalmente na América do Norte e Inglaterra (CONAN XVI na guilhotina, instaurando-se a República Francesa.
DOYLE, 2013). Todavia, coube a Allan Kardec o traba- Dois grupos com o mesmo ideal de derrubar a monarquia
lho de esclarecimento sobre as relações existentes entre o trabalharam com visões diferentes para definir o período
mundo visível e invisível, desmistificando o sobrenatural. pós-reinado. Um adotava o lema “liberdade, igualdade
Desse trabalho dedicado de Allan Kardec de estudos ou morte” impondo a violência como forma de apagar
e pesquisas aprofundados com base em atividades práti- qualquer resquício da monarquia e estabelecer a ordem a
cas mediúnicas, realizadas na França e em várias partes qualquer custo. O outro grupo, mais moderado, que ado-
do mundo, resultou numa série de obras literárias publi- tava o lema “liberdade, igualdade e fraternidade” votou
cadas. Assim, é de fundamental importância no avanço pela não condenação de Luis XVI à morte. Entretanto,
mundial do Espiritismo, o conhecimento da vida e obra pela diferença de apenas um voto, a sentença de morte
de Allan Kardec, na demarcada duas fases de sua vida: do rei foi proferida. Embora vitorioso em seu objetivo,
como educador laico e como revelador da doutrina espí- o grupo mais violento impetrou severa perseguição aos
rita (MAIOR, 2013), desde as características de sua per- membros do outro grupo taxando-os de traidores da Re-
sonalidade, estado de espírito, particularidades, passando pública, sendo condenados e presos (DE FIGUEIREDO,
pela sua atividade profissional até sua perseverança, co- 2016).
ragem e firmeza no enfrentamento de inimigos e precon- O advogado Benôit Marie Duhamel (avô materno do
ceituosos, num ambiente ainda inóspito para o tema sobre futuro Allan Kardec), casado com Charlotte Bochard,
a vida após a morte e que, infelizmente, perdura até os possuía vasta experiência na política como influente ad-
dias de hoje. O presente artigo tem por objetivo explorar ministrador público junto ao departamento de Ain, cuja

Seção 02: Artigos Regulares 010208 – 1 ©Autor(es)


A vida e obra de H. L. D. Rivail e Allan Kardec

capital era uma pequena, mas imponente cidade cultural tual e moral, com aulas de diversas disciplinas incluindo
da região, Bourg-en-Bresse. A liderança de Benôit foi vi- história, geografia, literatura, botânica, zoologia, anato-
brante até o fim de suas forças no combate às injustiças mia comparada, fisiologia, psicologia, física, química, lín-
e à violência, sendo sacrificado na guilhotina junto a ou- guas italiana, inglesa, francesa e alemã, línguas mortas
tras 16 mil pessoas em toda França. Em 5 de fevereiro de (grego e latim), matemática (cálculo, álgebra, geometria,
1793, a filha de Benôit e Charlotte, Jeanne-Louise Duha- trigonometria), astronomia, belas-artes, música e canto,
mel (19 anos), casou-se com Jean-Baptiste Antonie Rivail além de instrução religiosa e moral. Após grande pe-
(34 anos) e o casal foi morar em Belley, cidade situada ríodo de frutífera edificação educacional, o Instituto fe-
aos arredores de Ain (DE FIGUEIREDO, 2016). chou suas portas 20 anos depois, em decorrência de crises
financeiras ao longo dos últimos anos. O mestre Pesta-
lozzi faleceu em Brugg dois anos depois (WANTUIL &
III A INFÂNCIA THIESEN, 1980a).
Hippolyte Léon Denizard Rival nasceu no dia 3 de
outubro de 1804, na cidade de Lyon (França), às 19h e IV A VIDA PESSOAL E PROFISSIONAL EM
foi batizado cerca de nove meses depois na paróquia de
PARIS
Saint-Denis em Bresse na igreja Saint-Denis de la Croix-
Rousse (WANTUIL & THIESEN, 1980a). Antes do seu H. L. D. Rivail deixou o Instituto Pestalozzi por volta
nascimento, seus pais tiveram mais dois filhos, que in- de 1822 com a conclusão de seus estudos e o agravamento
felizmente, morreram devido a problemas de saúde no da crise em Yverdon, mudando-se para Paris. Logo após,
parto. com a idade de 20 anos (1824) lançou o seu primeiro li-
O seu nome civil apresenta-se de diferentes grafias. vro. No ano seguinte, fundou a sua primeira escola sendo
Hypolite Léon Denizard Rivail foi escrito de próprio pu- o diretor da “École de premier degré” em Paris à rua de
nho em seu testamento, sendo este possivelmente o de Sèvres, 35 e depois o Instituto Rivail (1826), adotando o
sua preferência. O Poder Judiciário francês em 1869, método empregado no Instituto de Pestalozzi. O empre-
confirmou erros na grafia de seu nome e definiu como endimento contou com a participação de um tio materno
correto Denisard Hippolyte Léon Rivail (GOIDANICH, como sócio (WANTUIL & THIESEN, 1980a).
2018). Entretanto, em suas publicações, aparece como Com as atividades acadêmica e cultural, Rivail conhe-
autor H. L. D. Rivail. Em seu livro sobre gramática para ceu Amélie Gabrielle Boudet, uma mulher culta e inteli-
primeira e segunda idades ele cita exemplos de nomes gente com três importantes publicações: Contos prima-
próprios franceses, entre eles, Hippolyte e Léon (RIVAIL, veris (1825), Noções de desenho (1826) e O essencial em
1850a). Dessa forma, o nome mais adequado para sua in- belas-artes (1928). Ela era nascida na comuna de Thiais,
dicação na literatura é Hippolyte Léon Denizard Rival. do departamento de Val-de-Marne, localizado a apenas 9
Quando H. L. D. Rivail tinha entre dois e três anos, km do centro de Paris, em 23 de novembro de 1795. Era,
seu pai, advogado de profissão, em função militar como portanto, nove anos mais velha que ele. Filha de Julien
magistrado de campanha, participou de guerras de Na- Louise Boudet, proprietário e tabelião e Julie Louise Seig-
poleão. Durante a invasão de Portugal pelas tropas fran- neat de Lacombe. Os dois casaram-se em 6 de fevereiro
cesas, milhares morreram ou foram vítimas em meio às de 1832 e Amélie Gabrielle ajudou e incentivou o profes-
dificuldades enquanto atravessavam o rio Tejo, dentre es- sor Rivail em seu trabalho até a sua morte (WANTUIL
ses, Jean-Baptiste. Assim, ele foi criado pela sua mãe & THIESEN, 1980a).
Jeanne-Louise com a ajuda de sua avó Charlotte, tendo O Instituto Rivail se manteve com intensas atividades
uma infância agradável numa região bucólica em meio à educacionais até 1834, quando problemas financeiros se
exuberante natureza da zona rural (DE FIGUEIREDO, agravaram com os gastos pessoais de seu tio em jogati-
2016) Rivail, portanto, não viveu em Lyon (KARDEC, nas e diversões, levando a insustentabilidade do Instituto,
1862e). mesmo com a ajuda financeira de sua esposa. A insolvên-
Aos dez anos de idade, H. L. D. Rivail foi encami- cia do empreendimento aportou 45 mil francos para cada
nhado ao Instituto de Educação em Yverdon, na Suíça, sócio. Lamentavelmente, novo infortúnio se sucedeu com
para realizar seus estudos. O Instituto, instalado num recurso recebido entregue a um negociante amigo íntimo
belo castelo construído no ano de 1135, teve suas ati- da família. Com a falência do negócio, Rivail perdeu todo
vidades educacionais iniciadas em 1805 pelo professor o investimento (WANTUIL & THIESEN, 1980a).
filantropo Johann Heinrich Pestalozzi (1746-1827). O H. L. D. Rivail teve uma vida profissional muito
método de ensino de Pestalozzi, a pedagogia como dis- produtiva na área acadêmica publicando mais de 20 li-
ciplina acadêmica, era reconhecido em muitos países e vros didáticos relevantes que contribuíram para o sistema
por figuras ilustres do mundo da cultura, ciência, mate- educacional francês, adotados por escolas e universida-
mática, filosofia, entre outras. Seu pensamento abrangia des (MAIOR, 2013) (livros esses assinados como Rivail,
a essência humana, independentemente do nível social como mostrado na Fig. 1 - superior). Dedicou-se tam-
ou de circunstâncias externas (BRETTAS, 2012). Nos bém a traduzir obras clássicas de educação e moral para a
tempos iniciais, o Instituto Pestalozzi abrigava cerca de língua alemã, a qual tinha profundo conhecimento, prin-
150 alunos, a maioria internos. O método consistia em cipalmente as de Fénelon por uma afinidade especial (FÉ-
atividades teóricas e práticas no preparo físico, intelec- NELON & RIVAIL, 1830; RÉDACTEUR, 1869a).

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Neto, R. F.

com curiosidades inúteis:


Isto, retruquei eu, já é uma outra questão. Só acre-
ditarei vendo, e quando me provarem que a mesa
tem cérebro para pensar, nervos para sentir e que
pode tornar-se sonâmbula. Até lá, permita-me que
considere isso um conto para fazer-nos dormir em
pé (KARDEC, 1890b).

Figura 1: Assinaturas de H. L. D. Rivail (superior) e Al-


lan Kardec (inferior). Fonte: Bibliothèque nationale de
France: https://www.bnf.fr/fr.

Entre as obras pedagógicas surgiram: Curso prático


e teórico de aritmética conforme o método de Pesta-
lozzi (RIVAIL, 1824); Plano proposto para melhoria da
educação pública (RIVAIL, 1828); Gramática francesa
clássica em um novo nível. Parte 1 (RIVAIL, 1831a);
Memorando sobre educação pública dirigido a MM. mem-
bros da comissão responsável pela revisão da legislação Figura 2: Allan Kardec. Fonte: https://gallica.
universitária (RIVAIL, 1831b); Programa de estudos de bnf.fr/ark:/12148/btv1b8529782x.r=kardec?
acordo com o plano de instruções de H.-L.-D. Rivail. 1o . rk=21459;2.
caderno. Educação primária (RIVAIL, 1838); Soluções
fundamentadas das questões e problemas da geometria Em maio do ano seguinte, Rivail foi convencido pelos
aritmética e usual propostos nos exames da prefeitura e amigos Carlotti e Pâtier a presenciar os trabalhos espi-
da Sorbonne (RIVAIL, 1846); Soluções dos exercícios e rituais realizados na casa da Sra. Plainemaison. Ficou
problemas do Tratado Completo de Aritmética (RIVAIL, convencido da autenticidade dos fenômenos presenciados,
1847c); Projeto de reforma referente a exames e centros ainda inexplicáveis, e passou a estudá-los a fundo com en-
educacionais para jovens, seguido de uma proposta rela- tusiasmo, graças ao grande interesse despertado. Esses
tiva à adoção de obras clássicas pela Universidade, re- estudos se intensificaram em diversas reuniões espíritas
ferente ao novo projeto de lei sobre educação (RIVAIL, semanais realizadas na casa da família Baudin, em pre-
1847b); Curso teórico-prático completo em aritmética, sença de frequentadores habituais e curiosos. O profes-
contendo cerca de 3000 exercícios e problemas graduados, sor Rivail aplicou o método de experimentação científica
inúmeros questionários, um tratado sobre pesos e medi- a que estava habituado, sem jamais utilizar de teorias
das, o método adotado no comércio para o cálculo de ju- preconcebidas, observando, comparando e deduzindo as
ros e vários outros documentos completamente não publi- consequências. Com a avançar do tempo, inicialmente
cados (RIVAIL, 1847a); Catecismo gramatical da língua na condição de apenas um observador de comunicações
francesa (RIVAIL, 1848); Ditados da primeira e segunda frívolas e inúteis, aprofundou-se na busca de soluções aos
idade (RIVAIL, 1850b). problemas de interesses filosóficos, psicológicos com ín-
tima relação com o mundo espiritual. A cada reunião,
levava amplo material devidamente preparado com per-
V N ASCE A LLAN K ARDEC
guntas das mais variadas formas, simples e complexas,
Em 1854, H. L. D. Rivail em conversa informal com consistindo em estratégia adequada ao conhecimento da
um amigo de longa data, o sr. Fortier, ficou ciente de origem, destino e relações dos espíritos entre os mundos
experiências realizadas por pessoas sérias e responsáveis visível e invisível. Todas as respostas dadas pelos diversos
com as chamadas mesas girantes. De imediato, recusou Espíritos eram posteriormente analisadas, classificadas e
um convite do seu amigo para participar de uma reunião estruturadas de acordo com diferentes temas e aborda-
mediúnica, devido aos seus princípios científicos em não gens. Assim, depois de cerca de dois anos de trabalho
aceitar nada mais que uma possível ação magnética pro- com a ajuda de duas médiuns, Catherine Caroline Baudin
duzida por alguma fonte desconhecida capaz de mover (28 anos) e Pélagie Baudin (30 anos) (BASTOS, 2019)
objetos. Entretanto, algum tempo depois, seu amigo in- se formalizou o manuscrito de O Livro dos Espíritos, que
sistiu dizendo-lhe que as mesas não só podiam se mover após que ter sido cuidadosamente revisado, sempre com a
como também responder perguntas através de batidas orientação direta e indireta da equipe espiritual responsá-
previamente definidas por uma simples codificação. A vel pela implantação do Espiritismo na Terra, surge a sua
resposta do prof. Rivail ficou marcada na história, de- publicação à 18 de abril de 1857, em cerimônia de lança-
monstrando a sua preocupação em não se perder tempo mento na Galeria Orlean, Palais Royale em Paris. Nasce,

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A vida e obra de H. L. D. Rivail e Allan Kardec

assim, Allan Kardec, um pseudônimo obtido do mundo • O Que É O Espiritismo (KARDEC, 1859);
espiritual, representado pelo próprio nome do professor
• O Livro dos Médiuns (KARDEC, 1861b);
Rivail de uma vivência em tempos dos druidas (KAR-
DEC, 1890b) (Fig. 2). • O Espiritismo em sua expressão mais sim-
Após o início dos estudos sobre as mesas girantes, ples (KARDEC, 1862b);
Allan Kardec passa a se dedicar de corpo e alma à dou-
• Viagem espírita em 1862 (KARDEC, 1862f);
trina espírita. No ano seguinte, funda a Revista Espírita,
Jornal de Estudos Psicológicos com a publicação do pri- • O Espiritismo (KARDEC, 1862a);
meiro número em 1o de janeiro de 1858, um periódico
destinado a atender a intensa demanda de informações • Resposta aos espíritas de Lyon por ocasião do
que obtinha sobre a nova doutrina. Sem conseguir um Ano Novo. (Assinado: Allan Kardec) (KARDEC,
capitalista, ou mesmo um assinante, ele próprio bancou 1862d);
todas as despesas iniciais. Com o sucesso do primeiro • O Evangelho Segundo o Espiritismo (KARDEC,
número, os assinantes apareceram, o problema financeiro 1864a);
foi solucionado e as publicações mensais se seguiram, sem
interrupções, até o ano de 1869, sob sua direção. • Resumo da lei dos fenômenos espiritistas, ou pri-
As reuniões para estudos espíritas prosseguiram se- meira iniciação, para o uso de pessoas não famili-
manalmente na própria casa de Kardec, à rua dos Már- arizadas com o Espiritismo (KARDEC, 1864b);
tires em Paris com um público já numeroso. Um novo • O Céu e o Inferno (KARDEC, 1865);
local, especificamente dedicado à doutrina era necessário
e assim, ele funda a Sociedade Parisiense de Estudos Es- • Coleção de orações espíritas, extrato de O Evange-
píritas (SPEE), devidamente regulamentada nos órgãos lho Segundo o Espiritismo (KARDEC, 1866);
oficiais do governo francês. No início a SPEE funcio- • A Gênese, os Milagres e as Predições Segundo o
nou no Palais Royale e depois à rua e Galeria Sant’Ana, Espiritismo (KARDEC, 1868b);
59 (KARDEC, 1890b).
Com o senso da dedicação, seriedade e responsabi- • Os Caracteres da Revelação Espírita (KARDEC,
lidade, Allan Kardec trabalhou intensamente até com 1868a);
prejuízo da própria saúde, considerando as condições de • Resumo da Lei dos Fenômenos Espíritas (KAR-
vida e tecnológicas da segunda metade do século XIX. DEC, 1869);
Empenhou-se no preparo manual dos manuscritos, lei-
tura e respostas a centenas de correspondências recebi- • Obras Póstumas2 (KARDEC, 1890c);
das de várias partes do mundo, correções, logística de • Além dessas obras, Kardec atuou como editor-chefe
impressões e distribuição do material produzido, além de do periódico, Revista Espírita - Jornal de Estudos
outros reveses rotineiros, sempre contando com o apoio Psicológicos, publicando um volume mensal com
direto de sua esposa Amélie e de vários amigos fiéis e textos, comentários, artigos de jornais, revistas,
dedicados. A revelação espírita surgiu com a colabora- etc, no período de 1858 a 1869, ou seja, durante
ção de muitos médiuns e pessoas de diferentes locais e 11 anos e quatro meses, deixando o último volume
da equipe dos Espíritos superiores sob a coordenação do pronto antes de sua morte. Foram 136 volumes3 .
Espírito da Verdade. A doutrina espírita está definida
nas obras publicadas por Allan Kardec, constituindo-se O relevante acervo da codificação espírita é consti-
na codificação espírita, uma vez que o termo dá a ideia tuído, portanto, de 153 obras literárias, além de outras,
de fazer-se compreender algo desconhecido ou codificado. não catalogadas.

VI P UBLICAÇÕES DE A LLAN K ARDEC VII A PERSONALIDADE DE K ARDEC


Allan Kardec era portador de uma fisionomia bene-
Allan Kardec deixou várias publicações como resul-
volente e austera, com tato perfeito, justeza e de aprecia-
tado do seu trabalho com a codificação espírita (agora
ção com uma lógica superior e incomparável (LEVENT,
assinados com o nome Kardec, como mostrado na Fig. 1
1869). Foi considerado “o bom senso encarnado”, apre-
– inferior). As seguintes estão catalogadas na Bibliothè-
sentando o raciocínio reto e judicioso aplicando em suas
que nationale de France1 :
obras as indicações íntimas do senso comum (FLAMMA-
• O Livro dos Espíritos (KARDEC, 1857a); RION, 1869).
Segundo o biógrafo Henri SAUSSE (2008), Kardec
• Instrução prática sobre manifestações espíritas, foi um pensador tão arrojado quão metódico, filósofo sá-
contendo a exposição completa das condições neces- bio, clarividente e um trabalhador obstinado. Para DE-
sárias para a comunicação com os Espíritos (KAR- LANNE (1910), ele foi um grande missionário, um ho-
DEC, 1858); mem simples, justo e bom. Nada de vagas especulações
1 Bibliothèque nationale de France: https://www.bnf.fr/fr.
2 Obra publicada após a morte de Kardec.
3 Revue Spirite - Journal d’études psychologiques: http://geae.net.br/revue-spirite.

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Neto, R. F.

metafísicas em suas obras, mas deduções imediatas, tan- que eram traços distintos de seu caráter. Nem provo-
cava nem evitava a discussão, mas nunca fazia volun-
gíveis, ao alcance de todas as inteligências.
tariamente observações sobre o assunto a que havia
A personalidade descontraída de Allan Kardec foi tes- devotado toda a sua vida; recebia com afabilidade os
temunhada por um grande admirador seu, Léon Denis, inúmeros visitantes de toda a parte do mundo que vi-
nos jardins de uma casa em Tours durante um ciclo de nham conversar com ele a respeito dos pontos de vista
conferências em 1867. Ele o viu no alto de pequena es- nos quais o reconheciam um expoente, respondendo
cada colhendo cerejas que atirava à sua esposa Madame às perguntas e objeções, explanando as dificuldades,
Rival. Segundo ele, essa cena bucólica e encantadora e dando informações a todos os investigadores sérios,
contrastava com a seriedade das personagens (DENIS, com os quais falava com liberdade e animação, de
1927). rosto ocasionalmente iluminado por um sorriso ge-
nial e agradável, com quanto tal fosse a sua habitual
Allan Kardec apresenta-se como sempre foi, de acordo
seriedade de conduta que nunca se lhe ouvia uma gar-
com seu principal biógrafo (SAUSSE, 2008): galhada. Entre as milhares de pessoas por quem era
visitado, estavam inúmeras pessoas de alta posição
Bom, generoso e benevolente com todos, mesmo com social, literária, artística e científica.
os inimigos. Por mais que o atacassem, o desacre-
ditassem e caluniassem, ele se mostrava sempre tole- Desde a mocidade, Hippolyte Rival apreciava peças
rante e calmo, contestando com argumentos irrefutá- teatrais. Victorien Sardou, um dos mais famosos dra-
veis os ataques dirigidos contra a Doutrina Espírita, maturgos franceses tornou-se seu amigo e espírita, tendo
mas ignorando as injúrias e maldades que lhe che- inclusive atuado como médium produzindo desenhos que
gavam de todas as partes. Pensador profundo, leal, foram publicados na Revista Espírita de 1858 (WAN-
metódico, escritor vigilante e preciso, espírita esclare-
TUIL & THIESEN, 1980a).
cido e convicto, afável e tolerante, esforçando-se sem-
pre por regular sua conduta de conformidade com os
princípios que professava, praticando-os ele mesmo ao VIII A DESENCARNAÇÃO
ensiná-los aos outros.
Em Paris, no dia 31 de março de 1869, quarta-feira,
Ao se tornar um homem público com o sucesso de entre 11 e 12 horas da manhã, na rua Sainte-Anne, n. 59,
suas publicações, requisitado por visitas, conferências, Allan Kardec faleceu fulminado pelo rompimento de um
reuniões públicas e particulares, inúmeras correspondên- aneurisma. Desencarnou trabalhando na preparação de
cias de várias partes do mundo, Allan Kardec mantinha a mudança do escritório de assinaturas da Revista Espírita
sua conduta de simplicidade; homem reservado que evi- para a Livraria Espírita na rua de Lille, n. 7, onde tam-
tava o estardalhaço público de suas atividades (KAR- bém seria a sede provisória da Sociedade Parisiense de Es-
DEC, 1863); atuava com discrição em confidências ín- tudos Espíritas. Ao entregar um número da Revista Espí-
timas daqueles que lhe procuravam para conforto espiri- rita a um comprador de livraria, sentiu-se mal, curvou-se
tual (KARDEC, 1862c); trabalhava com consciência, per- sobre o corpo e caiu. Com os gritos da empregada e do
severança (KARDEC, 1857b) e com o espírito de buscar o comprador, chegou ao local, seu amigo Alexandre De-
conhecimento da verdade e não aceitar qualquer informa- lanne (pai de Gabriel Delanne), que procurou reanimá-lo
ção sem passar pelo crivo da razão (KARDEC, 1861a). com fricções e magnetismo, mas em vão. Seu amigo, Mul-
Entretanto, mantinha a postura de seriedade, respeito ler, encontrou a Madame Kardec e Delanne sentados no
e firmeza ao defender a doutrina espírita de inimigos e sofá em frente ao corpo estendido na sala sobre dois col-
perseguidores de todos os tipos e formas que usaram da chões e à lareira. Tudo muito triste, mas um sentimento
intolerância e do abuso de consciência para tentar dene- de quietude pairara no ar; missão cumprida. O Sr. Mul-
grir e impedir o desenvolvimento do Espiritismo que, pelo ler providenciou de imediato um telegrama informando o
contrário, tornou-se cada vez mais em evidência (WAN- ocorrido para os amigos de Lyon. O sepultamento ocor-
TUIL & THIESEN, 1980b; BAIO, 2019). reu na sexta-feira após o modesto féretro ser seguido por
Anna Blackwell, tradutora das obras de Allan Kar- todos os médiuns e membros da SPEE junto com cerca de
dec para o inglês, assim descreveu as suas características 1200 pessoas no cemitério Montmartre, onde outra mul-
físicas e a sua personalidade (CONAN DOYLE, 2013): tidão se juntou no sepultamento. Discursos foram pro-
feridos, Sr. LEVENT (1869) (vice-presidente da SPEE),
Pessoalmente Allan Kardec era de estatura média. o astrônomo Camille FLAMMARION (1869), Alexan-
Compleição forte, com uma cabeça grande, redonda, dre DELANNE (1869) em nome dos espíritas da França
maciça, feições bem marcadas, olhos pardos, claros, e do exterior e E. MULLER (1869) em nome da família
mais se assemelhando a um alemão do que a um fran- e amigos. Jornais de Paris e outras cidades noticiaram
cês. Enérgico e perseverante, mas de temperamento o fato (WANTUIL & THIESEN, 1980c; GOIDANICH,
calmo, cauteloso e não imaginoso até a frieza, incré- 2018).
dulo por natureza e por educação, pensador seguro e Em sua primeira reunião após a morte de Kardec, a
lógico, e eminentemente prático no pensamento e na
SPEE aprovou por unanimidade a proposta da constru-
ação. Era igualmente emancipado do misticismo e do
ção de um dólmen buscando inspiração na simplicidade
entusiasmo. Grave, lento no falar, modesto nas ma-
neiras, embora não lhe faltasse uma certa calma digni- dos monumentos em pedra dos celtas e druidas. Posteri-
dade, resultante da seriedade e da segurança mental, ormente, tal proposta foi submetida a uma verificação de

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A vida e obra de H. L. D. Rivail e Allan Kardec

uma possível consideração sobre tal assunto deixada por trava simpatia pelo Brasil. Três anos após a publicação
Kardec (RÉDACTEUR, 1869c). Um ano depois, com de O Livro dos Espíritos, ele se empenha pessoalmente
a autorização da Amélie Boudet, no dia 31 de março junto ao seu editor, Sr Didier, para liberar os direitos
de 1870, o corpo exumado de Allan Kardec foi transfe- autorais na tradução do livro em português requerida
rido para o dólmen definitivo, no cemitério Père-Lachaise, pelo Dr Francisco A. Pereira Rocha (KARDEC, 1860).
em Paris. Algum tempo depois, foi grafado na pedra da Mantém intensa correspondência com pioneiros do Es-
parte frontal superior a frase que, embora não tenha sido piritismo no Brasil, entre eles, Manuel José de Araújo
escrita por Kardec, resume a doutrina espírita, aquela Porto-Alegre (DE FIGUEIREDO, 2016). A revista espí-
que foi a sua dedicação de vida: “Nascer, morrer, renas- rita dá as boas-vindas ao primeiro periódico espírita bra-
cer ainda e progredir sem cessar. Tal é a lei” (WANTUIL sileiro, O Echo d’Além-Túmulo, fundada por Luiz Olym-
& THIESEN, 1980c). Desde então, o dólmen recebe vi- pio Telles de Menezes em 08/03/1869 junto ao Grupo de
sita constantemente e é destacado pelo colorido das flores Estudos Espiríticos da Bahia. O periódico espírita cir-
depositadas por admiradores (Fig. 3). culou no Brasil, Paris e algumas capitais europeias por
pouco tempo (um ano) devido às inúmeras dificuldades
da época (RÉDACTEUR, 1869b; ARRIBAS, 2008). En-
tretanto, o caminho se ampliou com a criação de outros
grupos espíritas, como o Grupo Confúcio no Rio de Ja-
neiro em 1873, a Sociedade de Estudos Espíritas Deus,
Cristo e Caridade por Bittencourt Sampaio em 1876 e a
Federação Espírita Brasileira em 1884 (ROCHA & TO-
LEDO, 2013). Em janeiro de 1883, surge o mais consis-
tente periódico espírita brasileiro e mundial, o Reforma-
dor, editado por A. Elias da Silva na Rua da Carioca,
n.120, Rio de Janeiro, como “Orgam Evolucionista”:

Abre caminho, saudando os homens do presente, que


também o fôram do passado e ainda hão de ser os do
futuro, mais um batalhador da paz: – o REFORMA-
DOR (REDACÇÃO, 1883).

Figura 3: Dólmen de Allan Kardec no cemitério Père- O periódico Reformador passa a ser editado pela Fe-
Lachaise, Paris, em 1988: busto de bronze (esquerda) deração Espírita Brasileira, a partir da edição n. 27, de
e vista frontal com o autor (direita) Fonte: https: janeiro de 1884, perdurando até hoje4 .
//www.geae.net.br/o-geae/galeria. O farmacêutico, médico, advogado, teólogo, diplo-
mata, autodidata, poliglota brasileiro e pesquisador do
IX O E SPIRITISMO PÓS -K ARDEC Espiritismo, Silvino Canuto Abreu (1892 – 1980), produ-
ziu um imenso acervo cultural com milhares de documen-
Uma doutrina planejada pelo plano superior não po- tos históricos da época de Kardec, com milhares de pági-
deria ser disponibilizada para a humanidade para ficar nas manuscritas de próprio punho e datilografadas com
no esquecimento. Novas fases minuciosamente estabele- comentários de obras originais em robusta literatura espí-
cidas foram desenvolvidas pós-Kardec e seguirão conti- rita e espiritualista, contribuindo para o estabelecimento
nuamente na Terra. Nada será possível impedir tão bela das bases espíritas para o futuro da humanidade (DE FI-
doutrina de amor designada pela bondade e sabedoria GUEIREDO, 2019). Todo esse acervo, com documentos
de Deus. Entretanto, com o desencarne de Allan Kar- inéditos, encontra-se agora em recuperação, restauração e
dec em franca atividade, o Espiritismo na França pas- digitalização pelo Centro de Documentação de Obras Ra-
sou por uma fase obscura em seu prosseguimento fiel ao ras (CDOR) da Fundação Espírita André Luiz (FEAL)5
codificador, apesar dos esforços incansáveis de sua es- com a parceria do NUPES da Universidade Federal de
posa Amélie-Gabrielle Boudet (CALSONE, 2017; GOI- Juiz de Fora6 .
DANICH, 2018). A falta de liderança sucessora de Kar- O Espiritismo avança com a reencarnação de gran-
dec foi fortemente sentida, mas seguidores fiéis à causa des médiuns que utilizam a psicografia para a comu-
espírita se mantiveram firmes em defesa da verdade, en- nicabilidade entre os mundos terreno e espiritual. Em
tre eles, Gabriel Delanne e Léon Denis denominados de 1910, nasce na pequena cidade de Pedro Leopoldo, em
“Os Apóstolos do Espiritismo” (MOREIRA, 2017). Minas Gerais, aquele que pode ser considerado o maior
O Espiritismo não prosperou na América do norte médium que o mundo já teve, Francisco Cândido Xa-
e Europa, mas foi no Brasil que ele encontrou acolhida vier (02/04/1910 – 30/06/2002). Com 75 anos de-
e desenvolvimento. Allan Kardec não teve essa revela- dicados a mediunidade, Chico publicou 412 livros em
ção quando encarnado, mas sua sensibilidade já demons- vida, vendendo cerca de 25 milhões de exemplares, com
4 Reformador:
http://www.sistemas.febnet.org.br/acervo/index.php/reformador/.
5 Centro
de Documentação e Obras Raras: https://espirito.org.br/noticias/documentacao-e-obras-raras/.
6 NUPES-UFJF “Projeto Kardec”: https://projetokardec.ufjf.br/.

J. Est. Esp. 8, 010208 (2020). 010208 – 6 JEE


Neto, R. F.

toda a renda doada, em cartório, a instituições de ca- ção de mestrado, 226p. https://www.teses.usp.br/teses/
ridade (MAIOR, 2003; SANTI & SCHRÖDER, 2016). disponiveis/8/8132/tde-05012009-171347/pt-br.php.
Muito material psicografado inédito deixado por Chico BAIO, M. 2019. Allan Kardec em Revista - A personalidade e os
Xavier continua sendo catalogado e publicado como livros testemunhos do codificador na Revista Espírita. Casa Editora O
Clarim, 1a ed., Matão, SP.
e outros. Em 1927, em Feira de Santana, na Bahia, nasce
Divaldo Pereira Franco, médium e o maior tribuno espí- BASTOS, C. S. 2019. “A verdadeira identidade das primeiras mé-
diuns utilizadas por Kardec”, Jornal de Estudos Espíritas 7,
rita do mundo. Popularizou o Espiritismo no mundo, ini- 010202. DOI: 10.22568/jee.v7.artn.010202.
ciando sua primeira palestra internacional em Buenos Ai-
BRETTAS, A. C. F. 2012. Hippolyte Leon Deniard Rivail,
res, na Argentina, em 1962 e não parando mais (LANDI, ou Allan Kardec - Um professor pestalozziano na França
2015). Foram mais de 20 mil palestras e conferências do tempo das revoluções. Universidade Federal de Uberlân-
proferidas em 70 países, quase 300 livros publicados e dia, Faculdade de Educação, Uberlândia-MG. Tese de dou-
traduzidos para 17 idiomas com mais de 10 milhões de torado, 219p. https://repositorio.ufu.br/bitstream/
123456789/13662/1/HippolyteLeonDenizard.pdf.
exemplares vendidos (PUGLIESE et al., 2017).
O grande projeto da divulgação do Espiritismo pós- CALSONE, A. 2017. “As mulheres fortes do Espiritismo
francês”, Jornal de Estudos Espíritas 5, 010204. DOI:
Kardec pelo mundo tem início na rede mundial de com- 10.22568/jee.v5.artn.010204
putadores, a internet, com a fundação do primeiro grupo
CONAN DOYLE, A. 2013. A história do espiritualismo - de Swe-
espírita eletrônico, o Grupo de Estudos Avançados Espí- denborg ao início do século XX. Tradução de José Carlos da
ritas (GeaE) em 15 de outubro de 19927 e avança a todo Silva Silveira, 1a ed. FEB Editora, Brasília, DF.
o vapor com os inúmeros grupos e atividades individuais DELANNE, A. 1869. “Discours pronuncés sur la tombe. Au
em todo o planeta, como era previsto: nom des spirites des centres éloignés”, Revue spirite -
Journal d’études psychologiques 12, 5, 142-143. https://
Sabemos que a missão desses espíritos será múltipla: geae.net.br/RevueSpirite/RS1869/RS1869_5.pdf (aces-
que pertencerão a todos os graus da escala e estarão sado em 28/08/2020).
nos vários ramos da economia social, onde cada qual DELANNE, G. 1910. Prefácio de Gabriel Delanne à edição de 1910.
exercerá sua influência em proveito das ideias novas, in: Henri Sausse. Biografia de Allan Kardec. 2008. Tradução de
segundo a sua posição. Todos trabalharão, portanto, Evandro Noleto Bezerra. FEB Editora, Brasília, DF.
pelo estabelecimento da Doutrina, seja numa ou ou- DENIS, L. 1927. Prefácio de Léon Denis à edição de 1927. in: Henri
tra parte; uns como chefes de Estados, outros como Sausse. Biografia de Allan Kardec. 2008. Tradução de Evandro
legisladores, outros como magistrados, sábios, litera- Noleto Bezerra. FEB Editora, Brasília, DF.
tos, oradores, industriais, etc.; cada um dentro da sua FÉNELON, F. D. e RIVAIL, H. L. D. 1830. Les trois premiers li-
missão tendo as provas por passar, do proletário ao vres de Télémaque en allemand. Paris. Acesso na Bibliothèque
soberano, sem que nada mais, além de suas obras, o nationale de France: FRBNF300110170000009
distinga do comum dos homens (KARDEC, 1890a). DE FIGUEIREDO, P. H. 2016. Revolução espírita - A teoria es-
quecida de Allan Kardec. Editora MAAT, 1a ed., São Paulo,
SP.
X C ONCLUSÃO
DE FIGUEIREDO, P. H. 2019. Autonomia: A história jamais con-
tada do espiritismo. Feal-Fundação Espírita André Luiz, 1a ed.,
É inegável o grande exemplo de vida deixado por Al- São Paulo, SP.
lan Kardec em favor do bem comum para a humanidade,
FLAMMARION, C. 1869. “Discours pronuncés sur la
fruto de seu trabalho dedicado, sério e competente rea- tombe. Le spiritisme et la science”, Revue spirite -
lizado durante muitas horas, sacrificando a sua própria Journal d’études psychologiques 12, 5, 137-142. https:
saúde física. Esse trabalho jamais teria tido o sucesso //geae.net.br/RevueSpirite/RS1869/RS1869_5.pdf
(acessado em 28/08/2020).
que teve se não fosse a ajuda espiritual de muitos Espí-
ritos superiores, coordenados pelo Espírito da Verdade. GOIDANICH, S. P. 2018. O legado de Allan Kardec. Tradução de
Entretanto, Allan Kardec foi um ser humano como mui- 1a ed. USE, CCDPE-ECM, São Paulo, SP.
tos outros, que aceitou o grande desafio de produzir um KARDEC, A. 1857a. Le Livre des esprits, contenant les
marco para o conhecimento humano. Foi, assim, um hu- principes de la doctrine spirite... par Allan Kardec. E.
Dentu, Paris. Acesso na Bibliothèque nationale de France:
manista a serviço da espiritualidade maior. O Espiri- FRBNF300109550000004
tismo, portanto, não tem dono, não se personaliza em
KARDEC, A. 1857b. “Lettre au Monsieur Pâtier”. https://www.
qualquer pessoa ou Espírito, pois é, única e exclusiva- geae.net.br/movimento-espirita/cartas-de-kardec/
mente, uma eterna obra de Deus. 537-kardec-a-monsieur-patier-1857 (acessado em
28/08/2020).
KARDEC, A. 1858. Instruction pratique sur les manifestations spi-
rites, contenant l’exposé complet des conditions nécessaires pour
R EFERÊNCIAS communiquer avec les esprits... par Allan Kardec. bureau de la
Revue spirite, Paris. Acesso na Bibliothèque nationale de France:
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ARRIBAS, C. G. 2008. Afinal, espiritismo é religião? A dou-
trina espírita na formação da diversidade religiosa brasi- KARDEC, A. 1859. Qu’est-ce que le spiritisme. Introduction à
leira. Universidade de São Paulo, Faculdade de Filosofia, Le- la connaissance du monde invisible ou des esprits, contenant
tras e Ciências Humanas, Departamento de Sociologia, Pro- les principes fondamentaux de la doctrine spirite et la ré-
grama de Pós-graduação em Sociologia, São Paulo. Disserta- ponse à quelques objections préjudicielles, par Allan Kardec.
7 Grupo de Estudos Avançados Espíritas: https://geae.net.br.

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obra. As polêmicas. Editora abril, São Paulo, SP.
RIVAIL, H. L. D. 1847a. Cours complet théorique et pratique
d’arithmétique contenant près de 3000 exercices et problèmes SAUSSE, H. 2008. Biografia de Allan Kardec. FEB Editora. Bra-
gradués, de nombreux questionnaires, un traité des poids et me- sília, DF.
sures, la méthode adoptée dans le commerce pour le calcul des
WANTUIL, Z. e THIESEN, F. 1980a. Allan Kardec. Meticulosa
intérêts et divers autres documents entièrements inédits. Pillet
pesquisa bibliográfica. Volume I. Federação Espírita Brasileira,
aîné, Quatrième éd., Paris. Acesso na Bibliothèque nationale de
1a ed., Rio de Janeiro, RJ.
France: FRBNF300109220000003
WANTUIL, Z. e THIESEN, F. 1980b. Allan Kardec. Meticulosa
RIVAIL, H. L. D. 1847b. Projet de réforme concernant les
pesquisa bibliográfica. Volume II. Federação Espírita Brasileira,
examens et les maisons d’éducation des jeunes personnes,
1a ed., Rio de Janeiro, RJ.
suivi d’une proposition touchant l’adoption des ouvrages clas-
siques par l’Université, au sujet du nouveau projet de loi sur WANTUIL, Z. e THIESEN, F. 1980c. Allan Kardec. Meticulosa
l’enseignement ; par H.-L.-D. Rivail. l’auteur, Paris. Acesso na pesquisa bibliográfica. Volume III. Federação Espírita Brasileira,
Bibliothèque nationale de France: FRBNF300109860000000 1a ed., Rio de Janeiro, RJ.

Title and Abstract in English

The life and work of H. L. D. Rivail and Allan Kardec

Abstract: Hippolyte Léon Denizard Rivail has his life and work in two distinct phases. In the first, studying and working as
an educator in which he contributed with relevant publications to the French educational system. In the second, from 1857,
when he adopted the pseudonym Allan Kardec and started to dedicate himself entirely to deciphering the relations between the
visible and invisible world, the so-called spiritist codification. Biographers have made efforts to record the significant moments
of this tirelessly successful work. Much information available on the internet is replicated from a few sources, mainly from
the biography written by Henri Sausse, in 1909. This bibliographic review addresses the life and work of Professor Rival and
Allan Kardec, adding data from recently released historical documents, in order to contribute to knowledge of Spiritism, with
highlighted information about the work of its coder.
Keywords: Kardec; Rivail; Spiritism; Spiritist.

JEE 010208 – 9 J. Est. Esp. 8, 010208 (2020).

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