Elisée Reclus foi um geógrafo anarquista francês que viveu no século XIX. Ele revolucionou a geografia colocando o ser humano no centro e compreendendo as relações espaciais de forma holística. Reclus visitou o Brasil em 1893 e elogiou a beleza do Rio de Janeiro, mas também criticou a abolição tardia da escravidão. Sua obra influenciou intelectuais e operários brasileiros e ajudou a difundir o pensamento anarquista.
Descrição original:
Ótima introdução ao pensamento de Elisée Reclus.
Título original
Elisée Reclus - Um Geógrafo Anarquista No Rio de Janeiro
Elisée Reclus foi um geógrafo anarquista francês que viveu no século XIX. Ele revolucionou a geografia colocando o ser humano no centro e compreendendo as relações espaciais de forma holística. Reclus visitou o Brasil em 1893 e elogiou a beleza do Rio de Janeiro, mas também criticou a abolição tardia da escravidão. Sua obra influenciou intelectuais e operários brasileiros e ajudou a difundir o pensamento anarquista.
Elisée Reclus foi um geógrafo anarquista francês que viveu no século XIX. Ele revolucionou a geografia colocando o ser humano no centro e compreendendo as relações espaciais de forma holística. Reclus visitou o Brasil em 1893 e elogiou a beleza do Rio de Janeiro, mas também criticou a abolição tardia da escravidão. Sua obra influenciou intelectuais e operários brasileiros e ajudou a difundir o pensamento anarquista.
Boletim do Ncleo de Pesquisa Marques da Costa . Ano V . No16 . Junho de 2010
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ELISE RECLUS
UM GEGRAFO ANARQUISTA NO RIO DE JANEIRO
Nascido em 1830, na pequena cidade de Sainte-Foy-la-Grande, na Frana, filho de um pastor e de uma professora primria, Elise Reclus foi um militante anarquista que lutou dos anos de sua juventude at a sua morte pela transformao social. Foi um gegrafo de prestgio, aluno de Karl Ritter, com quem teve contato na Universidade de Berlim. Renegado pela historiografia da cincia estatal por ser militante anarquista, Reclus revolucionou a forma de pensar e fazer geografia no sculo XIX, pondo como questo primordial em seus estudos o papel do homem como principal ser transformador das paisagens e territrios, compreendendo de forma holstica as relaes e as aes do homem no espao, tidas por ele como um movimento de progressos e regressos, sendo esse movimento a fora-motriz da histria, materializada no espao. Para Reclus, a geografia e o anarquismo eram uma unidade. Uma vez que os homens se organizam e re-organizam no espao, nele tambm poderiam atravs da evoluo das qualidades individuais e do esforo coletivo da revoluo social transformar a fome, a misria e as injustias em po, trabalho e felicidade. Compreendeu a geografia no como fsica ou humana, mas como social. Na sua geografia social, Reclus enfatizava trs ordens de fatos principais: a luta de classes, a procura do equilbrio e a deciso soberana do indivduo. Salientava que a compreenso e o aprendizado da geografia social parte fundamental dos estudos que visam gerncia comum da sociedade. E que a partir da observao da Terra e dos homens que compreendemos e construmos a histria e o espao. Seu pensamento, e suas consequentes tentativas de realizao, custaram caro Reclus, que foi preso e exilado em diversos pases, inclusive na Frana, de onde foi expulso aps lutar contra o golpe de Napoleo III em 1852. Tais tentativas de sufocar a militncia de Reclus no campo do pensamento e da ao direta no conseguiram por abaixo o seu prestigio como gegrafo da poca. Produtor de uma obra seminal, que abrange diversos folhetos, manuscritos e
livros, dos quais podemos destacar a extensa Nouvelle Geographie
Universalle, onde faz um enorme esforo de pr em mapas e textos a histria e a geografia de todos os continentes, e a sua magistral obra LHomme et la Terre - de que encarregou seu sobrinho Paul de editar aps a sua morte - em que funde a sua viso anarquista e sua interpretao da evoluo dos homens no espao, compreendendo no os grandes feitos de poucos homens mas sim os grandes movimentos dos povos. Viajando por quase toda Europa e Amrica coletando informaes e dados para seus livros, nunca deixou de estar entre os trabalhadores. Sempre aonde ia, tratava de se alojar em acomodaes modestas, de preferncia em sindicatos e em associaes de trabalhadores. Autodidata e poliglota, em suas horas de descanso traduzia textos anarquistas de Bakunin, Kropotkin, Proudhon entre outros, para a circulao entre os operrios, o que para ele era uma das funes primordiais de sua militncia. Em suas andanas pelo mundo, aqui destacamos a sua passagem pelo Brasil, em 1893, parte de sua ltima grande viagem de campo para coleta de dados, na qual tambm percorreu Chile, Uruguai e Argentina. Foi homenageado como um dos maiores gegrafos da poca em sesso solene na Sociedade Geogrfica Brasileira, no Rio de Janeiro, no dia 18 de julho de 1893. Reclus recebeu das mos do ento presidente da SGB, o Marqus de Paranagu, o ttulo de scio honorrio da instituio. Discursando na homenagem, Reclus elogiou a cidade do Rio, enaltecendo a beleza de suas paisagens e o sistema virio da cidade, mas tambm criticou o fato de o Brasil ter sido o ltimo pas na Amrica do Sul a abolir a escravido e o fato dos brasileiros no reconhecerem a sua fora e capacidade de transformao social. Fruto de sua vinda ao Brasil, em 1900 editado no Rio de Janeiro pela editora Garnier o livro Estados Unidos do Brasil - parte integrante da Nouvelle Geographie Universelle, no caso um dos tomos da obra sobre a Amrica do Sul que foi referncia durante muito tempo
para os intelectuais do ministrio do exterior, tais como o Baro
de Rio Branco. O livro, apesar da edio luxuosa e de problemtica aquisio para operrios em vista de seu custo no deixava de veicular tpicos do pensamento libertrio de Reclus. Das observaes de Elise Reclus sobre o Brasil neste livro interessante destacar seu comentrio de que os negros revoltados de Palmares no seguiam tradies religiosas para o batismo dos que ali nasciam e os seus casamentos eram livres e regidos pelas leis da natureza. O amor livre constitua aspecto importante do pensamento e da prpria prtica de Reclus. Seu primeiro casamento foi realizado apenas no civil e desafiando os preconceitos de raa, j que uniuse a 14 de dezembro de 1858 com Clarisse Brian, nativa como ele, da cidade de Sainte-Foy-la-Grande e filha de um capito de navio e de uma mulher peul do Senegal e com quem teve duas filhas.Vivo em 1869, Reclus une-se novamente com a inglesa Fanny Lherminez. Este segundo enlace tem como formalidade apenas a declarao dos dois interessados perante as filhas de Reclus, seu irmo Elias, sua irm Lusa e seu genro Dumesnil de que se consideravam esposos. Em 1882 lhe caber pronunciar discurso por ocasio da unio livre de suas filhas, Magali e Jeanie. Por outro lado movimentos sociais e populares da histria do Brasil tambm chamam a ateno de Elise Reclus como a Cabanada, por ele prprio definida como uma guerra social de escravos contra senhores, de pobres contra ricos. A Reclus tambm no escaparam os vnculos da nascente repblica com a escola positivista de Augusto Comte. Ainda em Estados Unidos do Brasil Reclus daria notcia da fundao da Colnia Ceclia no Paran. Ele j havia anteriormente emitido sua opinio a respeito das colnias libertrias em 1889 quando escrevera um apndice a esse respeito para o livro de Charles Malato A Filosofia do Anarquismo. Embora condenando a idia de os anarquistas se apartarem da sociedade para a fundao de parasos fechados, admitia que no decorrer da luta social os anarquistas se agrupassem temporariamente, praticando um novo modo de respeito mtuo e de completa igualdade. Retornando Europa, Reclus escreve a Paul Rgnier durante a travessia entre Recife e Dacar a 5 de agosto de 1893 ao cabo de oito dias de viagem. Em sua mensagem afirma estar levando espigas de milho para pipoca (ento curiosidade para os europeus) para Rgnier, uma vez que acredita que a que expediu para o amigo no Rio de Janeiro no lhe deve chegar s mos por fora de legislao alfandegria. Comentando a extenso dos cafezais paulistas e de fazenda de 300 hectares que visitou em Minas, Reclus observa que a abundncia de riquezas naturais leva os habitantes do pas indolncia. Conclui dizendo que h tanto, tanto para fazer neste pas que farei uso certamente de meu crdito, se que o h, para enviar para c trabalhadores e pessoas de idias, se a ocasio se me apresenta, e nada h de impossvel neste sentido. Outra publicao feita aps a sua vinda foi o texto A Meu irmo, o Campons, pelo primeiro jornal anarquista editado no Rio de Janeiro, O Despertar em 1898. Apesar de tal publicao, e de diversas citaes de Reclus que eram postas em panfletos que circulavam entre os operrios, no final do sculo XIX o movimento anarquista ainda incipiente - no Rio de Janeiro era sufocado pela polcia, resultando em prises de agitadores revolucionrios, tratados como criminosos devido s notcias que chegavam da Europa, onde anarquistas executavam atos de propaganda pela ao, deixando as burguesias europias e brasileira da poca em polvorosa. A publicao de mais textos de Reclus se daria poucos anos depois, com a publicao em 1904 do livro A Evoluo, a Revoluo e o Ideal Anarquista editado pelo jornal La Tribuna Espaola em So Paulo e traduzido por Neno Vasco. Consequentemente a isso, diversas publicaes de Reclus foram traduzidas e editadas. No devemos esquecer que a produo de Reclus editada em Portugal tambm tinha ampla circulao no Brasil, como o folheto, A Anarquia e a Igreja (1907 e 1924) e novas edies de A Meu Irmo, o Campons (1909 e 1913).
Com a publicao de seus textos anarquistas, Reclus influenciou
tanto a classe operria - onde se destaca a fundao em 1906 da Escola Elise Reclus, em Porto Alegre, nos moldes da Escola Moderna de Ferrer y Guardia - como os intelectuais anarquistas, dos quais podemos citar Avelino Foscolo cujo pensamento apresentava vrios pontos de contato com o de Reclus, Maria Lacerda de Moura, que o cita em seus livros, Lima Barreto (em seu conto O Moleque) e Edgar Leuenroth, que incluiu em sua coletnea Anarquismo, Roteiro de Libertao Social os textos Tudo Muda, na Vida Fsica e na vida Social e Palavra que fere Preconceitos, de autoria de Reclus. Elise Reclus veio a falecer em Torhout, na Blgica, aos 75 anos. Apesar de seu grandioso empenho e militncia por toda a vida, o pensamento de Reclus ainda renegado pela histria do pensamento geogrfico oficial, sendo apenas citado e muitas vezes interpretado equivocadamente pela maioria dos gegrafos (e tambm no-gegrafos), que insistem em confundir e denegrir a sua teoria atravs de leituras indiretas e segundas opinies, rejeitando a leitura dos textos originais, negando compreender quem realmente foi e o que realmente fez Elise Reclus. Quanto a ns anarquistas, o pensamento de Reclus segue vivo, sempre atual e transformador, pois ainda para ns o homem a natureza tomando conscincia de si prpria. Armando M.Martinez Bibliografia ANDRADE, Manuel Correia de. (1985) Elise Reclus. So Paulo:tica.. CARDOSO, Lucienne P. Carris.(2006) A Visita de Elise Reclus Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro. In: Revista da Sociedade Brasileira de Geografia, Vol.I,no 1. GIBLIN, Batrice. (1986) Elise Reclus El Hombre y la Tierra. Mxico: Fondo de Cultura Economica. LOPES, Milton. (2004) Crnica dos Primeiros Anarquistas no Rio de Janeiro (1888-1900). Rio de Janeiro: Achiam. LOPES, Milton (2006) Elise Reclus e o Brasil. In Letra Livre, Ano 11, nmero 44. RECLUS, Eliseo (sem data) El Hombre y la Tierra, Barcelona, Alberto Martin Administrador. Atas das sesses do IHGB, Tomo LVI - Parte II, 1893 - http://www.ihgb.org. br/rihgb/rihgb1893t00562.pdf
100 ANOS DE CNT
E REVOLUO ESPANHOLA Em comemorao aos cem anos da fundao da CNT - Confederao Nacional do Trabalho da Espanha, e ainda na esteira do 1 de Maio, realizou-se na noite de 4 de maio o evento 100 Anos de CNT e a Revoluo Espanhola. Organizado em conjunto pelo Ncleo de Pesquisa Marques da Costa NPMC e pelo SINDIPETRO-RJ, aquela atividade contou com a presena basicamente de afiliados quele sindicato, reunidos em seu auditrio, Avenida Passos 34, para ouvir a palestra de Miguel Suarez, mestrando em Histria pela Universidade Federal Fluminense, sobre a Revoluo Espanhola. Sua exposio foi antecedida pela exibio do documentrio Guerra Civil Espanhola: preldio Tragdia. O evento contou ainda com a participao de Alexandre Samis da Federao Anarquista do Rio de Janeiro - FARJ como comentarista. Houve um animado debate ao final, que se revelou bastante produtivo, j que serviu para esclarecer diversos pontos da doutrina e da histria do anarquismo, a partir da experincia espanhola. Vale lembrar que o SINDIPETRO-RJ foi, em dezembro de 1990, o primeiro sindicato, depois de muitas dcadas, a receber anarquistas para exporem suas idias, em atividade que contou com a presena do militante Ideal Peres, personalidade histrica e seminal do movimento anarquista contemporneo do Rio de Janeiro.
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