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O nascimento da psicaná lise está

intrinsecamente ligado a histeria e sobretudo


a figura de Sigmund Freud.

Com a Psicaná lise, o que Freud fez,


basicamente, foi mudar para sempre a
maneira como entendemos as relaçõ es
humanas.
CONTEXTO HISTÓ RICO
DOENÇAS MENTAIS – NERVOSAS

Como nossos ancestrais entendiam e enfrentavam as doenças mentais:

•Existem registros arqueoló gicos no antigo Egito que comprovam a prá tica
de trepanaçõ es cranianas.

•Na bíblia sagrada, transparece a existência e a preocupaçã o com uma


série de quadros psicopatoló gicos que hoje denominaríamos de transtorno
psiquiá trico, como é o caso do cará ter sá dico-destrutivo de Caim, a inveja
dos irmã os de José, o alcoolismo de Noé, a psicose maníaco-depressiva de
Saul, e assim por diante.

•Predominava na época uma mentalidade voltada para a magia e a


demonologia, de sorte que, junto à prá tica de cruéis rituais de exorcismo,
também empregavam o uso de benzeduras, poçõ es má gicas e até diversas
formas de curandeirismo.
CONTEXTO HISTÓ RICO
DOENÇAS MENTAIS – NERVOSAS

•Os rituais de “cura” eram praticados por bruxos, xamã s, sacerdotes e


faraó s. Na escala social da sociedade primitiva, o xamã s gozavam de alto
prestígio e ocupavam o topo da hierarquia social.

•Em meados do século XVIII, Anton Mesmer, em Viena, empregava o


recurso má gico do que ele chamava de “magnetismo animal”, que todo
individuo seria possuidor em estado potencial. Praticava com grupos por
meio de uma forte sugestionabilidade – mesmerismo- Pode-se considerar
o precursor (um século antes) do hipnotismo.
CONTEXTO HISTÓ RICO
DOENÇAS MENTAIS – NERVOSAS

Coube a Pinel (1772 -1826) e a seu discípulo Esquirol


(1772-1840), em Bicêtre, promover uma inovadora
reforma hospitalar (1793) que ficou conhecida como
tratamento moral – Conjunto de medidas que nã o de
contençã o física vigente na é poca, mas sim, daqueles que
mantivessem o respeito pela dignidade do enfermo mental
e aumentasse a sua moral e auto-estima. Ideais libertá rios
da Revoluçã o Francesa, revolucionaram a filosofia da
assistência hospitalar asilar. Estamos no século XVIII.
CONTEXTO HISTÓ RICO...

...e na época de Freud.


A medicina desta época era quase que inteiramente assentada em bases
bioló gicas, muito pouco interessada na psicologia que entã o era entregue aos
filó sofos, sendo que a nascente psiquiatria nã o passava de um ramo da
neurologia.

Os neuropsiquiatras de entã o prestavam um atendimento mais humanista


que os métodos anteriores, embora os recursos de que dispunham
consistissem unicamente no emprego de ervas medicinais, clinoterapia
(repouso no leito), hidroterapia, massagens, estímulos elétricos (ainda nã o
era eletrochoques), além do uso da eletroconvulsoterapia, também veio a ser
empregada a induçã o de um estado de coma pela açã o do cardiazol ou da
insulina, assim como se iniciava o emprego de calmantes.
CONTEXTO HISTÓ RICO...
...e na época de Freud.
Contemporaneamente, também já estava havendo a
utilizaçã o da hipnose, nã o só dirigida para espetá culos
teatrais, como era comum na época, mas já como uma busca
por fundamentos científicos.

O grande nome no campo da hipnose empregada para fins


científicos era o do eminente neurologista Charcot, que
professava na famosa Salpetrière, em Paris, e cujos ecos das
espetaculares descobertas chegaram aos ouvidos de Freud,
que conseguiu fundos de uma bolsa para estagiar e
acompanhar de perto a forma de trabalho de Charcot.
FREUD E CHARCOT
Sem dú vida, o contato de Freud com as idéias de Charcot foi
bastante frutífero e importantíssimo para que nosso criador da
psicaná lise transferisse seu interesse da neuropatologia para a
psicopatologia.

A forma como Charcot tratava seus pacientes histéricos foi ponto


crucial para que Freud começasse a caminhar em direçã o a criaçã o
de sua metapsicologia.
A HISTERIA
A histeria tornou-se um diagnó stico para
pacientes, que apresentavam uma gama de
sintomas físicos e problemas de fala, sem
nenhuma causa médica conhecida – Era
considerada incurá vel- Charcot discordava.
Entendia que era de origem psicoló gica. Esse foi o
começo para Freud
Charcot acreditava que a histeria nã o se tratava de uma
enfermidade imaginá ria, como os mé dicos da é poca afirmavam,
mas, sim, de uma neurose; acreditava ainda que esta neurose
nã o era restrita ao pú blico feminino, como a pró pria origem do
nome histeria (hystera – ú tero) indicava.
CHARCOT E A HISTERIA
Na época de Charcot, a histeria era a mais enigmá tica de todas as
doenças nervosas, e, nã o só os pacientes histéricos, como, também, os
médicos que se interessavam por tratá -la, eram desacreditados.  Charcot
contribuiu decisivamente para reversã o deste quadro, restaurando a
dignidade de seus pacientes, ouvindo-os e encarando a histeria como
mais um tó pico da neuropatologia.
A HIPNOSE E FREUD
Dos estudos de Charcot sobre a histeria, usando o recurso
da hipnose, dois aspectos impressionaram Freud:

-A existência da histeria em homens;


-A dissociaçã o da mente, induzida pela hipnose.

Freud percebeu que pessoas em hipnose podem se tornar


cientes de pensamentos, sentimentos, fantasias, questõ es
das quais normalmente nã o tem consciência. E isso
permitiu com que ele começasse a sentir a mente
inconsciente.
A HIPNOSE E FREUD
Tã o logo voltou a Viena, Freud decidiu apresentar as idé ias
de Charcot acerca da histeria masculina a Sociedade de
Medicina de Viena, mas os mé dicos vienenses nã o deram
crédito a suas palavras.
O NASCIMENTO DA PSICANÁ LISE
Decidido a estudar mais profundamente a hipnose no tratamento da histeria, Freud
começou a trabalhar com o Dr. Joseph Breuer, um neurologista vienense que também
investigava a histeria e utilizava a hipnose como tratamento. Método catartico.

Caso Anna O. (Berta Papenheim)

Freud só veio usar o método catá rtico em 1889, quando começou a utilizar a hipnose
nã o só para, através da sugestã o, suprimir os sintomas histéricos, mas para descobrir
quais suas causas, qual a origem destes sintomas.

Freud sempre convidava Breuer a publicar a respeito de suas descobertas sobre a


origem dos sintomas histéricos, mas este sempre exitava; somente em 1895 é que
Freud e Breuer vieram a publicar suas idéias, na obra intitulada Estudos Sobre a
Histeria.
O NASCIMENTO DA PSICANÁ LISE
Entre essas idéias estava a de que a origem da histeria está ligada a lembranças
traumá ticas da vida da pessoa; estas lembranças teriam sido reprimidas por algum
mecanismo do plano inconsciente da vida mental, deixando a carga de afeto ligada a
ela sufocada e, consequentemente, causando os sintomas histéricos; a liberaçã o desta
carga emocional pela rememoraçã o da cena traumá tica resultaria no
desaparecimento do sintoma correspondente.

Mas Freud nã o se deu por satisfeito com essas descobertas, ele não acreditava que os
sintomas histéricos eram originados de qualquer cena desagradá vel; percebeu que
estas cenas traumá ticas estavam ligadas à sexualidade. Para Freud a neurose
provinha de traumas sexuais que teriam realmente acontecido na infâ ncia por
seduçã o de homens mais velhos, mais precisamente os pró prios pais.

Breuer começou a discordar da orientaçã o de Freud, cada vem mais dirigida para a
sexualidade da criança, e eles romperam. Freud prosseguiu sozinho com vigor
redobrado, enfrentando as criticas mordazes e desdenhosas de todos os seus colegas.
PRIMEIRA TEORIA SOBRE O PROCESSO DE FORMAÇÃO DO SINTOMA

Os sintomas sã o formados por resíduos de experiências emocionais que


foram denominadas de traumas psíquicos. Cada sintoma possui uma
relaçã o particular com a cena traumá tica; Trauma psíquico:
“acontecimento definido pela sua intensidade, pela incapacidade do sujeito
em reagir de forma adequada, pelo transtornos e pelos efeitos patogênicos
duradouros que provoca no psíquismo.”(Laplanche & Pontalis)
Especificidades da teoria do trauma

Muitas vezes os sintomas nã o eram originados por uma ú nica cena


traumá tica, mas por uma sucessã o de traumas. A investigaçã o começa pelos
traumas mais aparentes até chegar aos traumas mais profundos; Para que
haja uma situaçã o traumá tica, precisa haver uma pré-disposiçã o para tal;
Primeira síntese freudiana: os histéricos sofrem de reminiscências. Eles nã o
se desembaraçam do passado e acabam ficando alheios do período presente;
A neurose envolve energia psíquica represada que nã o
pode ser descarregada em forma de emoçõ es na
situaçã o psíquica traumá tica. A excitaçã o acumulada no
psíquico em parte é dirigida para a manutençã o dos
processos psíquicos e em parte se desvia para inibiçõ es
e inervaçõ es somá ticas (conversã o histérica); A
recordaçã o da cena traumá tica só se mostra efetiva para
a remissã o sintomá tica quando devidamente
acompanhada da descarga emocional respectiva;
A situaçã o traumá tica supõ e a existência de dois
acontecimentos:
Primeira cena: a cena de seduçã o na qual a criança sofre
uma tentativa sexual por parte de um adulto, sem que esta
dê origem a qualquer excitaçã o sexual;

Segunda cena: aparentemente anó dina, ocorrida pó s


puberdade, vem evocar a primeira cena por qualquer traço
associativo. É a lembrança da primeira cena que vem a
desencadear um afluxo de excitaçõ es sexuais que vem a
exceder as defesas do ego;
Emmy Von N

foi a primeira paciente a ser avaliada por Freud utilizando o método catá rtico
e empregando outros recursos que sã o vá lidos até hoje na psicaná lise.

Freud, que utilizou o método catá rtico (sugestã o hipnó tica) mas já numa
transiçã o de técnicas que depois formariam o método da associaçã o livre e
a psicaná lise propriamente dita.
SOBRE A PACIENTE O CASO
Alemanha Central Paciente apresentava tiques no
13ª de 14 filhos rosto e pescoço
Casou-se aos 23 anos Primeira investigaçã o por hipnose
Teve duas filhas de Freud
Ficou viú va precocemente Esporadicamente produzia sons
Passou a adoecer indecifraveis
frequentemente Quando nervosa, interrompia a fala
40 anos gritando "fique quieto! nã o diga
nada! nã o me toque"
m Maio de 1889, Freud sugere que Freud, em uma sessã o de hipnose,
Emmy interne-se em uma casa de saú de desvenda que Emmy tem trauma de
Sua primeira sessã o de hipnose foi bem infâ ncia com ratos
sucedida Durante a adolescência Emmy sofreu
Queixava-se de frio e dores na perna um grande trauma: encontrou a pró pria
esquerda que se iniciavam nas costas mã e morta
Freud ordena que ela receba banhos Aos 19 anos, perdeu a fala por horas
quentes e massagens apó s encontrar um sapo debaixo de
Apó s apresentar melhora, Emmy passa uma rocha
a ter alucinaçõ es com animais Emmy sente dores gá stricas durante
visita das filhas e Freud as delimita à
2:30hrs
Sua filha apresenta piora no quadro de
As alucinaçõ es e ilusõ es eram
saú de
facilitadas até o mais alto grau e
Como consequência, a personalidade de
faziam-se inferências tolas
Emmy muda drasticamente
No delírio, havia uma limitaçã o da
Um ano depois, Emmy volta ao
consciência e uma compulsã o a
tratamento com Freud
associar, semelhante a que
Sua principal queixa eram as confusõ es
predomina nos sonhos
mentais pelas quais estava passando, as
A aná lise desses estados delirantes
quais chamava de "tempestade na
nã o foi realizada de forma
cabeça"
completa, pela rapidez com que sua
condiçã o melhorou
Lembrar de seus traumas a levavam a
um estado de delírio
Sofria de insô nia e chorava por horas à
fio
Na primeira tentativa de ser
hipnotizada, teve um ataque e
lembranças associadas a hipnoses
anteriores
Sempre se entristecia quando precisava
ver sua filha
Assim, o caso Emmy Von N. trouxe importantes insights para a Psicaná lise:

O passado está presente, pelo menos como sintoma; isto é, o sintoma é a prova
presente de um evento de outra natureza, ocorrido no passado.
No inconsciente, passado e presente convivem livremente, pois o inconsciente não
tem temporalidade.
A fala do paciente é importante e é a essência do tratamento, mais do que a
sugestã o do analista.
​Emmy deu o insight para Freud iniciar a associaçã o livre.
De certa forma, Emmy Von N. é co-autora da Psicaná lise, o que mostra a incrível
importâ ncia do par analítico (analista – paciente).
“Nã o somos apenas o que
pensamos ser. Somos mais,
somos também o que nos
lembramos e aquilo de que nos
esquecemos”
Sigmund Freud

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