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O caso Schreber foi publicado por Sigmund Freud, em 1911, no artigo “NOTAS PSICANALÍTICAS SOBRE
acesso, em 1909, às suas memórias publicadas, cujo o livro foi intitulado ”Memórias de um doente nos
nervos”, publicado pelo próprio Schreber em 1903. Por meio, da análise desta publicação, sistematizou
três importantes aspectos da teoria psicanalítica: Teoria das Pulsões, Narcisismo e Teorização da psicose.
BIOGRAFIA
de Schreber, segundo Freud (2002):
Momento da
Data Acontecimento
doença
1842
Nascimento
25 de julho
1861
Morte do pai aos 53 anos
Novembro
1878 Casamento
1884
Apresenta-se como candidato ao Reichstag Primeira doença
Outono
1884
Passa algumas semanas no Asilo de Sonnenstein. Primeira doença
Outubro
1884
Dezembro
1885
Alta Primeira doença
01 de Junho
1893
É informado da nomeação próxima para o Tribunal de Apelação. Segunda doença
Junho
1893
Toma posse como juiz presidente Segunda doença
Outubro
1893
É internado novamente na Clínica de Leipzig Segunda doença
Novembro
1894
É transferido para o Asilo de Sonnenstein Segunda doença
Junho
1900-1902 Escreve as Memórias e impetra ação judicial para ter alta Segunda doença
1911
Morte de Schreber
14 de Abril
A análise do caso Schreber veio de encontro com a busca de Sigmund Freud pela compreensão do
mecanismo da psicose. Segundo Quinodoz (2007), Freud, ficou impressionado, ao examinar alguns relatos
de pacientes com traços paranóides, principalmente, no que tange as analogias entre os conteúdos
psicossociais e os delírios produzidos por eles. O contato com o estudo autobiográfico do Juiz Presidente
Schreber possibilitou a Freud realizar uma da compreensão do delírio paranóico e de suas angústias e
Visto que o estudo sobre o Presidente Schreber constitui a principal exposição teórica-
clínico de Freud sobre a psicose (...)
A primeira doença do Dr. Schreber caracterizou-se como "uma crise hipocondríaca grave". Vale lembrar que
não há muitos registros na literatura sobre este momento da vida do paciente. O próprio Freud em seu
texto narra a "História clínica" do paciente e enfatiza esta questão. Assinala que o Juiz Presidente, após a
alta da clínica de Leipzig, onde fora tratado pelo médico Professor Flechsig, viveu os oito anos seguintes
bem ao lado de sua esposa. O casal viveu cercado de honrarias, devido ao prestígio do cargo do Dr.
Schreber, entretanto, sentiam-se frustrados pelo fato de não serem abençoados por filhos. (FREUD, 2002)
A segunda doença de Schreber teve início em 1893, em Julho do mesmo ano foi informado de sua indicação
´Duas vezes sofri de distúrbios nervosos’, escreve o Dr. Schreber, ‘e ambas resultaram de
excessiva tensão mental. Isso se deveu, na primeira ocasião, à minha apresentação como
na segunda, ao fardo muito pesado de trabalho que me caiu sobre os ombros quando
A segunda doença de Schreber teve início em 1893, em Julho do mesmo ano foi informado de sua indicação
para o cargo de Juiz Presidente da Corte de Apelação. Em Outubro assumiu o cargo, mas entre estas duas
datas, teve dois ou três sonhos com a doença anterior, o que o deixou muito aflito. E um dia durante o
processo de sono e vigília teve um pensamento " afinal seria bom ser mulher e submeter-se ao ato da
cópula"(FREUD,2002, p.14). Mas, o paciente, em suas mémórias, refere ter rejeitado tal ideia na ocasião.
(MOCELIN; SIGLER, 2015)
1. Insônia;
2. Ideias hipocondríacas;
3. Ideias de perseguição;
4. Ilusões sensoriais;
5. Hiperestesia;
6. Distúrbios cinestésicos;
7. Ideias de grandeza;
8. Estupor alucinatório;
Após descrever estes sintomas em seu texto, Freud assinala o sofirmento de Schreber, como a citação abaixo
enfatiza:
O paciente estava tão preocupado com estas experiências patológicas, que era inacessível
a qualquer outra impressão e sentava-se perfeitamente rígido e imóvel durante horas
(estupor alucinatório).
FREUD, 2002, P.15.
Outro aspecto importante sobre o caso Schreber refere-se a relação do paciente com o médico que o tratara
na primeira doença, o professor Flechsig. A princípio, ele foi extremamente valorizado e reconhecido por
Schreber e sua esposa pelo fato de ter restituído a sua saúde mental.
Sabemos que o Dr. Schreber já estava casado há muito tempo, antes da época de sua
‘hipocondria’. ‘A gratidão de minha esposa’, escreve ele, ‘foi talvez ainda mais sincera,
pois reverenciava o Professor Flechsig como o homem que lhe havia restituído o marido;
daí ter ela, durante anos, mantido o retrato dele sobre a escrivaninha.’
FREUD, 2002, P.13.
Porém, esta relação acaba assumindo um novo caráter na segunda doença e de, certo modo, a proximidade
com o professor Flechsig agrava o quadro do doente, havendo necessidade de transferência para outra
instituição.
Como ressalta Freud (2002):
Pode-se acrescentar que havia certas pessoas por quem pensava estar sendo perseguido e
prejudicado, e a quem dirigia vitupérios. A mais proeminente delas era seu médico
vezes: ‘Pequeno Flechsig!’, dando nítida ênfase à primeira palavra (383.). Foi removido
para Leipzig e, após breve intervalo passado noutra instituição, foi trazido em junho de
1894 para o Asilo Sonnenstein, perto de Pirna, onde permaneceu até que o distúrbio
assumiu o aspecto final.
FREUD, 2002, P.15.
O Juiz Presidente Schreber esforçou-se por inúmeras vezes resgatar sua liberdade junto aos tribunais, e de
modo algum não repudiou seus delírios ou fez qualquer segredo da intenção de publicar as
paranóico reconhecido, seus esforços coroaram-se de sucesso. Em julho de 1902, os direitos civis do Dr.
Schreber foram restabelecidos e, no ano seguinte, suas memórias apareceram, mas foram censuradas e
muitas partes valiosas omitidas (FREUD, 2002).
Tentativas de interpretação:
Nesta parte do texto de Freud tece várias considerações sobre o caso Schreber e principalmente baseado em
sua investida de compreender o mecanismo paranóide.
Na fase aguda da doença, a essência do delírio persecutório muito angustiante, era centrado na ideia de que
ele seria imperiosamente emasculado e transformado em mulher, não podendo escapar do abuso sexual.O
delírio persecutório de base sexual transformou-se em delírio de redenção, de modo que a fantasia
angustiante emasculação vinculou-se à ideia de que havia agora uma missão divina a ser cumprida.
(QUINODOZ, 2002)
A ideia persistente de ser transformado em mulher passava a fazer parte então de um projeto místico, de
ser fecundado por raios divinos a fim gerar novos seres humanos. Associa essa ideia a Deus, uma mistura
de revolta e admiração. (MOCELIN; SIGLER, 2015)
As suas justificativas para seu delírio, pode ser entendido pelo processo de racionalização.
DEFININDO
Racionalização
Processo pelo qual o sujeito procura apresentar um explicação coerente do ponto de vista
lógico, ou aceitável do ponto de vista moral, para uma atitude, uma ação, uma idéia, um
sentimento, etc., cuja os verdadeiros motivos não percebe.
LAPLANCHE; PONTALIS, 1999, P.493.
VOCê SABIA...
Que a racionalização sistematiza o delírio
A paranóia no caso Schreber, segundo Freud, era uma
defesa contra um desejo homossexual.
Logo em seguida Freud examina conteúdos das perseguições de Schreber e conclui que o médico que
cuidara do paciente, na primeira doença, Dr. Flechsig, que era adorado e admirado no início, passa a ser
odiado. O próprio Schreber o nomeou, na segunda doença, de "Assassino de Alma", além de dirigir insultos
recorrentes a pessoa do médico (FREUD, 2002). Pode-se observar que há uma reversão de amor em ódio,
Freud, assinala que existia um apego erótico intenso em relação à pessoa do médico, e foi, justamente, isto
que fez Schreber desejar se transformar em mulher, como destaca seu pensamento no início da doença “
como seria bom ser mulher e submetida a uma cópula”. (QUINODOZ, 2002)
Outro ponto assinalado por Freud em sua análise refere-se ao que denominou de Complexo Paterno,
considerando que a relação de Flechsig e Deus estaria fundada em um conflito infantil com seu pai, de
modo que determinou seu delírio. Freud postula que o pai do Schreber era visto como uma figura severa e
imponente e que, possivelmente, proibiu a satisfação sexual autoerótica do menino e ameaçou puní-lo pela
Na sequência, Freud, destaca que a homossexualidade situa-se na fase de evolução infantil qualificada
como fase narcísica.
Para Freud, segundo Quinodoz (2002), nos casos patológicos análogos ao caso Schreber, a fase narcísica do
desenvolvimento infantil pode constituir um ponto de fixação ou de regressão, como se fosse um ponto de
fragilidade da personalidade, o que faz com que o paciente retorne a este ponto, e como resultado, temos as
angústias paranóides.
IMPORTANTE...
Vou lembrá-lo de dois conceitos importantes...
Narcisismo primário: designa um estado precoce em que a criança investe toda a sua
libido em si mesma. E o Narcisismo secundário: é caracterizado pelo o retorno ao ego da
libido retirada dos seus investimentos objetais.
LAPLANCHE; PONTALIS, 1999, P. 289-290.
Por meio do caso Schreber Freud segue em busca de determinar um mecanismos de defesa específico da
psicose, o que inseriu-se com uma linha pesquisa permanente , de certo modo, forneceu subsídios para a
comprensão dos aspectos da transferência na organização psicótica, principamente no que tange a relação
Para encerrar...
Vale salientar que os teóricos contemporâneos a Freud, ampliaram as concepções de psicose do ponto de
vista psicanalítico, entre eles destaco: Melaine Klein, Jacques Lacan e Wilfred Bion.
Destacando Melaine Klein por meio da Psicanálise da Criança apresentou contribuições valiosas sobre o
desenvolvimento e análise dos quadros psicóticos, uma vez que conseguiu de forma brilhante descrever os
mecanismos de defesa primitivos, a autora acreditava que o estado mentais iniciais ou primitivos eram
análogos aos dos psicóticos.
E você pode entender estes aspectos, estudando a Posição Esquizoparanóide por exemplo postulada por
Klein em sua obra, fica a dica...
Espero que você tenha compreendido um pouco da riqueza deste caso e que seja um convite para leitura na
ATIVIDADE FINAL
Qual é base do delírio de Shreber?
A. Místico
B. Sexual
C. Culpa religiosa
D. Sobrecarga de trabalho
A. Racionalização
B. Formação reativa
C. Conversão
D. Regressão
A. Primário
B. Autoerótico
C. Secundário
REFERÊNCIA
FREUD, S. O caso Schreber. Notas Psicanalíticas sobre um Relato autobiográfico de um Caso de Paranóia
(Dementia Paranoides). Trad. José Octavio de Aguiar Abreu. Rio de Janeiro: Imago, 2002, p. 9-72.
MOCELIN, V.L.; SIGLER, R. O caso Schreber.Material didático- EAD. São Paulo: Universidade Nove de Julho.
2015.
QUINODOZ, J.M. Ler Freud. Guia de leitura da obra de S. Freud. Trad. Fatima Murad. Porto Alegre: Artmed,
2007, p. 117- 124.