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Caso Dora

Fragmento da análise de um caso de histeria

Coordenação: Tânia Nara Carvalhal Israel


Membros associados: Gustavo Teixeira e Michel Carrard
A paciente
18 anos, bonita, feições inteligentes
e agradáveis.

tosses nervosas.

fadiga, falta de concentração,


desanimada, tédio

evita contatos sociais, alteração de caráter,


insatisfações consigo e com a família

atitude inamistosa com o pai


e relação difícil com a mãe.
O motivo da busca
Apresentada aos 16 anos a Freud por ex-paciente:
Philip, pai de Dora.

Inicia tratamento aos 18.

Em anos recentes, enxaquecas, tosses,


crises com afonia.

Tratamentos médicos infrutíferos: hidroterapia,


aplicação local de eletricidade, resistente a novas
tentativas.

Carta com intenção suicida.

Insistência autoritária do pai.


Resumo:
-é um caso de identificações e
triangulações.

-contexto de vida de “mudanças”

-sintomas via conversão e fixação oral

-análise se dá pelos sonhos


-interrupção
Evolução do Caso
Freud conhece Dora aos 16 anos, propõe
tratamento psicanalítico para as dores de
cabeça e tosse, mas ela não aceita

Os sintomas de dores de cabeça


desaparecem. Aos 18 anos inicia
tratamento com Freud por insistência do
pai (que já fora paciente de Freud)

Apresenta desânimo, “alteração de


caráter”, insatisfeita consigo e com a
família, inamistosa com o pai e não se
entendia com a mãe, fadiga e falta de
concentração.
Evolução do Caso
Recentemente, os pais encontraram uma
carta em que ela se despedia por não suportar
mais a vida. No dia seguinte, ela teve um
episódio de perda de consciência
O pai relata a mudança de cidade, os cuidados
de sua saúde e a relação com Sra. K.,
assim como a proximidade de Sr. K e Dora.
Conta ainda a acusação de Dora através da
mãe: fora cortejada por ele.
Nas sessões, ela demonstra grande incômodo
com a descrença do pai quanto ao assédio do
Sr. K. Se sentiria, acredita Freud, como moeda
de troca.
Família “K” (Zellenka)
Peppina e Hans Zellenka
Evolução do Caso
Freud relata dois sonhos de Dora, que são
parte central da análise.

Primeiro sonho: ela acorda e vê seu pai ao lado


da cama. Ele a salva de um incêndio na casa
onde estão dormindo. Para garantir que seus
filhos sobrevivam, não deixa que a esposa
salve sua caixa de jóias.

“O primeiro sonho denotava o afastamento do


homem amado em direção ao pai, ou seja, a
fuga da vida para a doença”
(p.320, Cia das Letras)

“Onde há fumaça, há fogo” - transferência


Evolução do Caso
Segundo sonho: ela está em uma cidade
estranha onde mora. Ao chegar em sua
casa, encontra uma carta em que a mãe lhe
comunica que o pai está muito doente. Não
a avisara antes porque ela foi embora sem
eles saberem. Ela busca com dificuldade
pela estação, viaja até a casa da família,
onde o pai já está morto.

Freud interpreta que a cidade simboliza um


pretendente que expressava interesse por
ela. Seria uma vingança do pai, que não
desistira da Sra. K. como ela queria.
História de Vida
IMPORTÂNCIA: contrapor Teoria do Trauma.
Os sintomas no corpo eram anteriores ao Sr. K.

Nasce em 1882.

Família: pai, mãe, irmão mais velho.

Ternura pelo pai: 50 anos, grande industrial,


inteligente, talentoso. Ao longo da infância de
Dora, ele sofre por diversas doenças.
História de Vida

Aos 6 anos de Dora, ele fica tuberculoso.


Eles se mudam para pequena cidade de
clima mais propício chamada de “B_____.”,
onde conhecem a família K

Recuperado, o pai viaja para visitar as fábricas,


se ausenta. Na época do verão, vão às águas na
montanha.

7 anos: enurese

8 anos: dispnéia
História de Vida
10 anos: pai com descolamento da pupila.
Tratamento em quarto escuro. Tem visão
reduzida.
12 anos: pai em crise confusional, paralisias,
perturbações psíquicas. Freud o trata para
sífilis. Ela tem enxaquecas unilaterais junto de
tosses.

14 anos: desfile religioso e beijo na loja.


Depois, a proposta amorosa no lago.
História de Vida
16 anos: apresentada a Freud, que afirma
que nos 4 anos anteriores ao tratamento,
ela ficara neurótica.
Tosse e rouquidão, que cessam naturalmente.

17 anos: mudam de B____ para cidade da


fábrica.

Inverno seguinte: morte de tia, febres e


apendicite.
História de Vida

18 anos: tratamento com Freud por 11 semanas.


(Ano de 1900)

5 semanas depois: atrapalhação e então


melhora dos ataques e ânimo

Maio: morte de filho dos K e confrontação


História de Vida
15 meses após fim do tratamento:
retorna a Freud com novo ataque
de afonia e nevralgia facial.
Testemunhara atropelamento
do Sr. K. (Ano de 1902)
21 anos: casa com Ernest Adler (1903),
engenheiro que trabalhava nas indústrias
têxteis da família dela.
23 anos: tem um filho
40 anos: nova análise com Félix Deutsch.
Crises de angústia e sentimento
de perseguição por homens
História de Vida
aprox. 50 anos: viúva.
aprox 50 aos 56:
Reconecta-se com Sra. K.,
essa já separada do marido.

dá aulas de bridge a mulheres de classe média


em suas casas. Sua parceira é Sra. K.
1938: anexação da Áustria pelos nazistas.
Parte para Paris, depois Nova Iorque.
63 anos: morre de câncer no cólon.
Ansiedades e Fantasias
Com a possibilidade de concretização da
relação sexual

Fantasia com o encontro sexual (sonhos


remetem a elementos sexuais e genitais,
como a caixinha de joias)

Fantasia de sucção do órgão masculino


Cócega na garganta e tosse nervosa
como sintoma conversivo relacionado
ao sexo oral. (Imago, p.54)

Erotização da zona bucal.


(QUINODOZ, 2007)
Ansiedades e Fantasias
Com a possibilidade de concretização da
relação sexual

Fantasia com o encontro sexual (sonhos


remetem a elementos sexuais e genitais,
como a caixinha de joias)

Fantasia de sucção do órgão masculino


Cócega na garganta e tosse nervosa
como sintoma conversivo relacionado
ao sexo oral. (Imago, p.54)

Erotização da zona bucal.


(QUINODOZ, 2007)
Ansiedades e Fantasias
“Aquilo por que mais
intensamente anseia
em sua fantasia
é justamente aquilo
do que foge quando
lhe é apresentado
na realidade”
Mecanismos de Defesa

REPRESSÃO
do desejo pelo pai, que retorna
associado ao Sr. K

SUBLIMAÇÃO
do desejo do pai, vivido como
ternura na primeira infância
Mecanismos de Defesa

NEGAÇÃO
do desejo e do sentimento pelo Sr. K.,
manifesto nas amnésias

CONVERSÃO
desejo de relação sexual
que se converte em tosse nervosa
e afonia
Mecanismos de Defesa

PROJEÇÃO
projeta os desejos pelo pai na Sra. K.;
pensamento hiperintenso, hipervalente
pela Sra. K.

FORMAÇÃO REATIVA
atração e desejo pelo beijo se expressa
por evitação de contato e repugnância
O Sentido dos Sintomas
Os sintomas parecem surgir pela ansiedade
frente ao desejo sexual, na tentativa de
suprimir os mesmos.
Nas palavras de Freud, “a invocação do
amor infantil pelo pai como proteção contra
a tentação atual” (Freud, p.87, Imago)
“A fantasia de defloração é o segundo
componente dessa situação. A ênfase na
dificuldade de seguir adiante e a angústia
sentida no sonho aludem à virgindade, por
ela destacada de bom grado”
(nota de rodapé 67, p.292, Cia das Letras)
Descobertas

Fenômeno da transferência (exemplificada


na situação da fumaça do primeiro sonho)

Ilustra a expressão da Histeria

Complacência somática

Elaboração da bissexualidade
Impressões Gerais
Caso rico, complexo, com muitos elementos

Sonhos como elementos centrais da análise

Mãe de Dora voltada para o lar, risco de não


interdição do afeto com o pai;
Sra. K voltada para o pai de Dora, novo risco
de não interdição com o Sr. K

Sexo como algo arriscado/perigoso (pai


adoecera de sífilis)
Impressões Gerais
História de Dora: busca de interdição do
afeto paterno para se abrir a afetos do
presente

Idade do Sr. K remete ao seu pai

Transferência da relação com o pai para a


figura de Freud, que percebe a atração

Foco da análise no desejo de Dora pela


figura paterna e não na sua busca por
limites nessas relações

Abandono do tratamento
Referências
FREUD, Sigmund. (1905[1901]). Fragmento da análise de um
caso de histeria. Edição standard brasileira das obras
completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago,
1996. Obras Completas Volume VII.

FREUD, Sigmund. (1905[1901]). Análise fragmentária de uma


histeria (“O Caso Dora”). Companhia das Letras: São
Paulo, 2016. Obras Completas Volume 6.

QUINODOZ, Jean-Michel. Ler Freud: guia de leitura da obra de


S. Freud. Porto Alegre: Artmed, 2007.

https://pt.frwiki.wiki/wiki/Ida_Bauer
https://appoa.org.br/correio/edicao/249/a_dora_de_cada_u
m/251

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